domingo, 7 de março de 2010

No debate sobre as cotas, o DEM mostra a sua verdadeira face

É como se fora algo da sua própria natureza: o DEM, em que pese a mudança de pelo, continua, em essência, o mesmo pefelê de sempre. Ou seja, um ajuntamento de arenistas. Talvez, quem sabe?, Bourdieu (sempre ele!) nos salve: o DEM tem o habitus da elite brasileira. A ojeriza a tudo que cheira a mudança substancial leva-os a combater qualquer abertura de espaço para aqueles setores identificados por Florestan Fernandes como os "de baixo". Pois o DEM foi ao STF contra as cotas. Está no seu direito, claro! E é preferível que as pessoas escolham o judiciário como arena do conflito do que apelar para outras saídas. E os avôs intelectuais dos demos têm história, não é mesmo? Em algum momento, já mandaram "às favas as questões de consciência" e nos empurraram um democraticida AI-5...
Pois bem, leia abaixo comentário do jornalista Elio Gaspari sobre como se poscionaram, no debate sobre as cotas promovido pelo STF, algumas das estrelas dos demos
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A TEORIA NEGREIRA DO DEM SAIU DO ARMÁRIO
Elio Gaspari

O senador Demóstenes Torres (DEM-GO) é uma espécie de líder parlamentar da oposição às cotas para estimular a entrada de negros nas universidades públicas. O principal argumento contra essa iniciativa contesta sua legalidade, e o caso está no Supremo Tribunal Federal, onde realizaram-se audiências públicas destinadas a enriquecer o debate.
Na quarta-feira o senador Demóstenes foi ao STF, argumentou contra as cotas e disse o seguinte:
"[Fala-se que] as negras foram estupradas no Brasil. [Fala-se que] a miscigenação deu-se no Brasil pelo estupro. Gilberto Freyre, que hoje é renegado, mostra que isso se deu de forma muito mais consensual".
O senador precisa definir o que vem a ser "forma muito mais consensual" numa relação sexual entre um homem e uma mulher que, pela lei, podia ser açoitada, vendida e até mesmo separada dos filhos.
Gilberto Freyre escreveu o seguinte:
"Não há escravidão sem depravação sexual. É da essência mesma do regime".
"O que a negra da senzala fez foi facilitar a depravação com a sua docilidade de escrava: abrindo as pernas ao primeiro desejo do sinhô-moço. Desejo, não: ordem."
"Não eram as negras que iam esfregar-se pelas pernas dos adolescentes louros: estes é que no sul dos Estados Unidos, como nos engenhos de cana do Brasil, os filhos dos senhores, criavam-se desde pequenos para garanhões. (...) Imagine-se um país com os meninos armados de faca de ponta! Pois foi assim o Brasil do tempo da escravidão."
Demóstenes Torres disse mais:
"Todos nós sabemos que a África subsaariana forneceu escravos para o mundo antigo, para o mundo islâmico, para a Europa e para a América. Lamentavelmente. Não deveriam ter chegado aqui na condição de escravos. Mas chegaram. (...) Até o princípio do século 20, o escravo era o principal item de exportação da economia africana".
Nós, quem, cara-pálida? Ao longo de três séculos, algo entre 9 milhões e 12 milhões de africanos foram tirados de suas terras e trazidos para a América. O tráfico negreiro foi um empreendimento das metrópoles europeias e de suas colônias americanas. Se a instituição fosse africana, os filhos brasileiros dos escravos seriam trabalhadores livres.
No início do século 20 os escravos não eram o principal "item de exportação da economia africana". Àquela altura o tráfico tornara-se economicamente irrelevante. Ademais, não existia "economia africana", pois o continente fora partilhado pelas potências europeias. Demóstenes Torres estudou história com o professor de contabilidade de seu ex-correligionário José Roberto Arruda.
O senador exibiu um pedaço do nível intelectual mobilizado no combate às cotas.

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