Reproduzo abaixo artigo de autoria de Anthony Giddens, publicado orignalmente no jornal argentino CLARIN e traduzido para o português pelo Ex-Blog do César Maia, dando conta da recente derrota eleitoral do trabalhismo inglês. Vale a pena conferir!
ANTHONY GIDDENS, TEÓRICO DA TERCEIRA VIA, EXPLICA O TRABALHISMO APÓS SUA QUEDA!(Clarín, 20)
1. O trabalhismo conseguiu permanecer no poder por mais tempo do que qualquer outro partido de centro-esquerda nos últimos tempos, incluindo os países escandinavos. Foi um feito de grande importância, dado que o partido nunca antes tinha estado no poder durante dois mandatos completos em seus mais de cem anos de existência. As mudanças ideológicas associadas à criação do termo "Novo Trabalhismo" constituíram grande parte da razão de seu sucesso eleitoral.
2. O novo trabalhismo não era uma etiqueta vazia pensada para esconder um vácuo político. Pelo contrário, foi desde o início um forte diagnóstico do porque a inovação era algo necessário na política de centro-esquerda e também uma agenda política clara. Os valores da esquerda - solidariedade, redução das desigualdades, proteção dos menos favorecidos, somados a firme convicção do papel fundamental de um governo ativo para alcançá-los - permaneceram intactos, mas as políticas destinadas para alcançar esses fins tiveram que sofrer uma mudança radical devido às profundas alterações que ocorriam na sociedade.
3. Estas mudanças incluíam a intensificação da globalização, o desenvolvimento de uma economia pós-industrial ou de serviços e, na era da informação, o surgimento de um a cidadania mais volúvel e combativa, menos respeitadora das figuras de autoridade que no passado (um processo que logo o advento da internet expandiu ainda mais). A maioria das políticas trabalhistas derivou dessa análise. A era da gestão da demanda keynesiana, vinculada à direção estatal da economia, havia terminado.
4. Tinha que ser estabelecida uma relação diferente entre o governo e empresas, e reconhecer o papel fundamental das empresas na criação de riqueza, assim como os limites do poder estatal. Nenhum país, por maior e poderoso que fosse, poderia controlar esse mercado. O advento da economia de serviços ou baseada no conhecimento se juntou à redução da classe trabalhadora, reduto tradicional do Partido Trabalhista.
5. Para ganhar as eleições, portanto, um partido de centro-esquerda teria que chegar a um espectro muito mais amplo de eleitores, incluindo aqueles que nunca haviam apoiado o trabalhismo, que já não podia continuar sendo somente um partido de classes. Com Tony Blair, que não era exatamente um trabalhista da velha escola, o partido pareceu ter encontrado o líder perfeito para alcançar esse objetivo.
Anthony Giddens sempre foi uma referência respeitada na sociologia contemporânea, principalmente na sua capacidade de reflexão criativa na análise dos clássicos da sociologia, sempre extraindo o melhor deles. Mas como analista político, francamente, não se pode dizer o mesmo. Esse artigo, por exemplo, do olhar do sociologo inglês sobre a derrota do trabalhismo britânico é bastante lacunar: ao invés de tentar explicar ou pelo menos apreender os condicionantes da derrota histórica do "Partdido trabalhista", Giddens procura destacar (como justificativa) a pertinência das mudanças internas que teriam levado à ascensão do partido trabalhista como força política "inovadora" na Inglaterra. E ainda por cima, recorre à chavões do tipo "globalização", "sociedade do conhecimento", "sociedade pós-industrial" como fenômenos socialmente dados que serviram de horizonte de ação do Partido trabalhista; Giddens só faltou chamar o partido trabalhista de "partido de vanguarda" da esquerda mundial. Ao olhar apenas "para trás", Giddens esquece de tematizar
ResponderExcluiro que se processa no presente da Inglaterra e de toda a Europa.
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ResponderExcluirConcordo com a ressalva de Cadu sobre o Giddens "analista político".
ResponderExcluirGiddens, no exercício de intelectual público, pouco autônomo, por sinal, prefere quase sempre, em suas análises e posicionamentos, anuviar as questões mais importantes e mais problemáticas em favor da concentração por supostas melhorias conciliatórias, ou seja, que não tragam à luz a dureza dos conflitos, das desigualdades e das dominações e, principalmente, as conseqüências à longo prazo sobre parcelas da população mais vulneráveis. Para Giddens, “bem-estar social” e igualdade são perfeitamente compatíveis com a economia neoliberal e suas tendências. Nisso, como destacou Cadu, ele perde os elementos condicionantes do presente e os seus efeitos em um futuro próximo. Como intelectual público, Giddens é o avesso do Bourdieu dos anos noventa, que procurou desafiar, um tanto cega e ingenuamente talvez, as estruturas de dominação e os efeitos perversos e de desagregação das políticas neoliberais.