Ainda não tive acesso aos dados detalhados da pesquisa DATAFOLHA divulgada nesta tarde, mas vale a pena comentar rapidinho duas ou três coisas (ou mais um pouquinho...).
1) Dilma, na pesquisa, não vai além do que alcançou nas urnas (46,7% nas urnas vs 48 na pesquisa). É o esperado. Pelo menos para mim. Acho que esse é o mínimo da candidata. Eu disse "minimo"? Sim, mínimo. Não acho que ela baixe além disso. É a soma do eleitorado tradicional do PT (algo em torno de 25 a 30%) mais o reforço da base social lulista (reconhece o bom governo do presidente, mas não morre de amores pelo PT).
2) Serra abiscoita grande parte do eleitorado de Marina. Sair de 36% na eleição de domingo e chegar a 41% parece um crescimento desmesurado. Coisa para desesperar petista. Mas, analisando com sangue frio, não é, não. É o esperado. Quem duvidava que o voto conservador de Marina iria para Serra? Esse eleitorado estava meio orfão e percebeu na candidata do PV a chance de demonstrar a sua existência social. Agora, surfa na onda. Todos o querem, mas o seu coração já tem dono: Serra. Este pode subir ainda uns dois pontos nas próximas pesquisas? Acredito que sim. Mas, esse crescimento se dará em cima dos indecisos (eles são exagerados 11% neste momento).
3) Os eleitores agora indecisos serão o fiel da balança? Não exageremos, ok? Destes, menos de 04% se decidirão. O restante, como mostram os resultados de domingo, tenderão a não votar ou a anular conscientemente o voto. Aí, temos desde o sub-politizado ao crítico do sistema eleitoral. Ou, ainda, o completamente indiferente a esse mundo que tanto nos atrai (a política).
4) A eleição será decidida nos detalhes. Portanto, muito cuidado com os eventos sazonais (he, he, he). Dia 31 de outubro, um domingão, antecede (oh, Acácio!) uma segunda-feira impressada (terça é feriado). Muita gente boa simplesmente não irá votar. Irá viajar. Para homenagear os seus mortos, ou simplesmente curtir. E as conseqüências da alta abstenção serão regionalmente diferentes. No sudeste, prejudica o Serra. No nordeste, a Dilma. Aqui "prá cima", como dizem alhures, a abstenção não será muito maior do que foi no primeiro turno. O pessoal do interior que trabalha nas capitais nordestinas, com certeza, aproveitará o feriadão para rever os parentes e participar do Finados. Já o paulistano médio (existe?) tenderá a aproveitar o feriadão, especialmente se no Guarujá estiver fazendo um baita dum solão (ajuda aí, São Pedro!).
6) Nunca em uma eleição presidencial anterior, casada com eleições para governador, o voto será tão solteiro quanto no dia 31. O que isso quer dizer? Que na maioria dois estados, para o bem ou para o mal, a fatura já foi liquidada. As eleições já foram decididas. E essa realidade tem um grande impacto. Vejam só: a mobilização para as pessoas votarem, podem ter certeza, será menor. Aqui, como sempre, o eleitorado mais mobilizado do PT poderá fazer a diferença. Indo prá rua, fazer a campanha. Os caciques, vitoriosos ou derrotados, darão boas declarações, mas, tal como a governadora Rosalba Ciarline, irão se refugiar em algum cantinho... na Europa. Ninguém é de ferro, não é?
7) O voto nulo tenderá a ser menor no dia 31. Para presidente, em alguns estados nordestinos, os votos nulos e brancos, na eleição presidencial, alcançaram a casa dos dois dígitos. Como, com exceção da Paraíba, Piauí e Alagoas, a eleição será solteira, as pessoas terão uma maior facilidade para votar. Conseqüência? Menos votos nulos. Isso beneficia Dilma. No sudeste, o total de votos nulos foi, em média, menos da metade do índice alcançado aqui em cima.
Amanhã, de posse dos detalhes da pesquisa, postarei mais comentários.
Até lá!
Edmilson, como sempre me trás a razão e o bom senso de cientista em relação a pesquisa.Acredito nos detalhes como um antropologo interpretativista, mas tenho um pé no estruturalismo e tudo aquilo que essa corrente quer dizer em relação ao inconsciente coletivo.
ResponderExcluirÉ uma pena que a renovação partidária e a autocrítica só ocorra depois de algumas derrotas.
ResponderExcluirPara ganhar a eleição, Dilma deverá fazer uso da máquina do PMDB. A conta chegará na mesa de Dilma antes do 1° de janeiro.
Pano rápido: o Gonzáles deu hj de 10 a 0 no João Santana.
Valeu Edmilson,
ResponderExcluirmuito boa a tua análise.
abs
Daniel
Obrigado, pessoal. Valeu! Vou dar uma olhada na Folha e conferir por dentro a pesquisa.
ResponderExcluirBig abraço,
Edmilson.
Edmilson, tem uma avaliação de Fernando Rodsrigues que achei interessante, baseada na pesquisa DataFolha para o segundo turno e realizada na véspera da eleição, segundo a qual o placar do segundo turno seria de 52 a 40. Como Serra ficou essencialmente parado em 41, a conclusão natural é que os 4% de queda de Dilma,relativamente aos dado da pesquisa referida, estariam fazendo um pit stop em indecisos. O que me parece natural, ainda por cima levando em conta que o resultado da eleição deu um placar indicando um percentual de perda adicional de 3% dos votos de Dilma para Marina, a mais do que os registrados na referida pesquisa DataFolha. A boa notícia aí, é que se poderia interpretá-los como votos que foram de Dilma para Marina, mas que não cairam para Serra, embora imagine que a conta das abstenções complique esta aritmética um tanto ou quanto simplificada e que as ordens de grandeza dos erros nas pesquisas não autorizam a se apostar muitas fichas neste tipo de argumentação...
ResponderExcluirCaro Beto,
ResponderExcluirachei interessante esse elemento que trouxestes ao debate: o voto de Dilma que desliza para Marina e que, agora, está para indeciso ou nulo. Em estando correta essa análise, o "teto" de Serra está no limite. Agora, é esperar para analisar as próximas pesquisas.