Há exatos oito anos, em maio de 2006, o Primeiro Comando da
Capital, organização criminosa surgida nos presídios paulistas e com controle
de áreas e atividades criminosas e ilegais não apenas em São Paulo, parou, com ataques ousados, a
cidade de São Paulo. Foi uma resposta à duras investidas policiais contra
supostos membros da organização. Naquela época, não sei se vocês lembram,
autoridades federais e estaduais tiveram
que adentrar uma prisão de segurança máxima para negociar com os chefes do PCC.
Muita água passou debaixo da ponte nos últimos anos. Os
ataques do PCC diminuíram de intensidade, embora a organização não tenha sido
enfraquecida. Muito pelo contrário. A novidade, entretanto, é a emergência, em
diversos estados da federação, de organizações inspiradas no PCC. Os ataques foram
disseminados por todo o país, contribuindo para o aumento da sensação de
insegurança.
Ataques a ônibus têm se multiplicado em todo o país. A
imprensa, em parte reproduzido os discursos das autoridades da área de
segurança pública, repetem a fórmula “ataques do crime organizado”. Quase todos
nos contentamos com o diagnóstico implícito. E aí, naturalizada a expressão,
deixamos de nos perguntar se não estaríamos, como sói ocorrer não poucas vezes
no mundo social, a usar uma noção velha para expressar algo novo e inusitado. E
dá-lhe ônibus queimado, alguns com algo mais do que o pavor de passageiros e a
destruição do patrimônio público e privado como testemunhamos com a morte de
uma criança quando desses ataques em São Luís (MA).
Penso que os fatos podem até ser parecidos, mas, sob as
nossas vistas, algo está sendo redefinido substancialmente. Dar conta desse “algo”,
compreendê-lo com profundidade, é importante para os gestores e para a
cidadania. Para as ciências sociais, o desafio é produzir narrativas,
empiricamente ancoradas, que possibilitam uma maior inteligibilidade do que, sob a aparência do mesmo, é novo e
desafiador.
E o que é esse novo? Acho que estamos vivenciado o que eu definiria,
com sentido obviamente provocativo, de “insurgência criminosa pré-política”. Ao
contrário das ações das organizações tradicionais, centradas no enfrentamento
do Estado, temos, com os ataques de agora, ações direcionadas difusamente à
sociedade.
Na sua forma, penso em especial nas destruições dos ônibus, essas
ações são apreendidas mais consistentemente como “insurreições criminosas” do
que propriamente ataques do “crime organizado”. Essa é uma discussão que necessita ser
aprofundada, e eu irei fazer isso mais adiante. Adianto que o chute (eu não
ousaria escrever “reflexão”) me veio de uma leitura apressada de um conjunto de
artigos publicados na revista TRENDS IN ORGANIZED CRIME. Logo mais, assim que
eu tiver os links, passo para vocês.