domingo, 31 de janeiro de 2010

Homicídios na Grande Natal e o debate sobre segurança pública nas próximas eleições

Quase todos os dias, quando abrimos as páginas dos jornais de Natal, defrontamo-nos com notícias sobre homicídios de jovens e adolescentes de alguma das áreas periféricas da cidade. Para a classe média local, problema de segurança pública é roubo e assalto, para a massa trabalhadora e desempregada dos bairros distantes, a morte ou envolvimento com drogas e assassinatos de filhos e irmãos. É necessário atar as duas pontas da percepção da (in)segurança e elevá-la à condição de objeto sério de reflexão e análise.

Se existisse disposição para debater alguma coisa relevante no processo eleitoral de 2010, o tema segurança pública na Grande Natal deveria ocupar o primeiro lugar nessa pauta imaginária (e, pelo andar da carruagem, pouco factível...).

Uma semana cansativa

Foi uma semana díficil para mim. Muito trabalho, na Capes em Brasília, e apreensão a respeito do estado de saúde de familiar. E este domingo é apenas o hiato para o rame-rame que começa amanhã, com o fim das férias. C'est la vie...

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Moda e sofrimento social

Há beleza na modelo? Sim, claro. E também nas suas vestes e no penteado. Mas, e essa é uma questão que não me sai da cabeça, que tipo de vida essa menina promove? Que tipo de comportamentos ela inspira? E mais: quanto sofrimento social alimenta (das meninas gordinhas, por exemplo)?

Ainda sobre moda...

Letras do alfabeto hebraico estampam a roupa (quase transparente) da modelo. Com que representações sociais contemporâneas a moda dialoga? Essa questão bem que merece uma análise sociológica. Georg Simmel, há mais de um século, apostava nesse filão como referência para pensar o mundo social.

Desfile de moda...


Acesse aqui um conjunto de fotos de um desfile de moda realizado em Paris. Vale a pena dar uma olhada...

Imagem e sofrimento social: a dor da gente na foto do jornal...

A tragedia do Haiti alimenta o fotojornalismo da miséria humana. As fotos são mercadeadas e se traduzem em aumento da vendagem de jornais impressos e do acesso a sites da internet. Leia aqui uma análise sobre essa questão, publicada na edição eletrônica de hoje do jornal espanhol El País.

Corrupção brasileira na mira dos EUA

Matéria publicada na edição eletrônica de hoje do jornal Valor Econômico dá conta do, digamos, interesse dos norte-americanos em relação à corrupção no Brasil. Acesse-o aqui.

Natal não pode deixar a Promotora Gilka da Mata só...

O enfrentamento da Promotora do Meio Ambiente, Gilka da Mata, com a especulação imobiliária não pode ser encarada como uma questão isolada e circunscrita ao judiciário. Nesse caso, vale a pena dizer: "não deixemos Gilka só...".

Entrevista com Axel Honneth

No site Fabrique de Sens, você encontrará, em francês, uma ótima entrevista com Axel Honneth.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Um trabalho prá viver, não uma vida para trabalhar...


Argh! Uma vida alicerçada só no trabalho é uma contradição em termos. Pode ser vida ainda quando está tomada (colonizada, talvez seja o mais correto) pelo que o poeta chamaria de a "lógica das coisas"?

A juventude espanhola parece refletir sobre essas coisas. E não está muito ligada nos esquemas reprodutores da mesma vida entediada de sempre. Confira aqui em uma matéria publicada na edição de hoje do jornal El País.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Novamente os americanos elegem o melhor


Pesquisa de opinião feita nos EUA indicou o ator preferido do público: Clint Eastwood. Justiça! O astro de Gran Torino, dentre outros, há tempos merece todas as condecorações e reconhecimentos.

Faxina na memória: um blog que é um biscoito fino

Cristina Barreto, professora de sociologia e estudiosa da cultura, pilota um blog que é tudo de bom. Análise críticas e provocativas sobre cinema e literatura, mas mais especialmente sobre cinema e TV, fazem do FAXINA DA MEMÓRIA uma referência obrigatória para quem quer ir além da mesmice.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Esse era o cara...

O chile, muito além de Piñera

Tá certo! Faz parte do jogo democrático. E ainda bem que a direita ganhou no voto, não é? É terrível quando ela quer ganhar, no voto ou no veto. E ela esteve por trás de muitas ações democraticidas neste sofrido continente, não podemos esquecer disso e nos contentarmos com o seu suposto apego às regras. Sua face de agora não nos comove e nem nos torna menos prevenidos. Com ela, com certeza, não nos enganamos nunca.

Por isso, em que pese a eleição do Piñera, o Chile continua sendo um bom retrato na parede da minha memória. Então, vale a pena relembrar as últimas frases pronunciadas por Salvador Allende, no seu último e memorável discurso transmitido pelas ondas da Radio Magallanes, quando do golpe de 1973:

"Sigan usted sabiendo que, mucho más temprano que tarde, se abrirán las grandes alamedas por donde pase el hombre libre para construir una sociedad mejor."

E esse frio...

Minhas férias!

Por favor! Gente! Parem com isso! Não, não estou passando as férias (que férias?) na Europa. A foto abaixo é só uma ilustração...

Classe social e terremoto

Em excelente matéria publicada na edição eletrônica do jornal O Estado de São Paulo de hoje, um foco sobre a clivagem de classe em uma catástrofe. Confira aqui.
A foto abaixo, podem apostar!, é de uma parte do Haiti.

Uma charge que vale por um artigo...


segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

No trabalho

Estou no trabalho. Pesado. Vou blogar pouco nesta semana. Nos vemos por aí. De quando em vez.

Avatar e a tecnologia

Leia aqui uma crítica inteligente ao filme que está fazendo mais sucesso nesta temporada. É de autoria de Daniel Piza, jornalista de O Estado de São Paulo e aborda, com competência, as contradições expressas pelo filme em relação à tecnologia. Vale a pena conferir!

domingo, 24 de janeiro de 2010

As eleições e a intenet

É possível controlar a rede? A judicialização da vida política ameaça a liberdade de informação, é o que podemos depreender de algumas das proposições formuladas por membros do judicário. Essa é uma discussão que ainda vai render. Por isso, transcrevo abaixo artigo do Alon Feurwerker abordando esta e outras questões. Confira!

O futuro esmurra a porta (24/01)
Alon Feurwerker

É passadismo tentar restringir o fluxo de informação na rede a partir de formas orgânicas de “controle”. A tendência é outra. É a disponibilidade “universal” de canais, banda e conexões

A transmissão pelo YouTube do Teleton “Hope for Haiti Now”, sexta à noite, foi uma antevisão do futuro, em meio à tragédia do presente. Talvez o terremoto tenha convertido o destroçado Haiti num ícone das dificuldades para universalizar o progresso e o bem-estar. No outro polo, a tecnologia permite a transmissão de um show daqueles pela internet, em alta definição, com qualidade excepcional.

Assim como é apenas questão de tempo as novidades de um Fórmula 1 chegarem ao carro zero que você vai comprar na concessionária, também tem data para chegar o mundo dominado pela convergência digital, que, batida, virou chavão. O que embute um risco: de tanto ouvir falar e nunca ver, você começa a achar que ela não virá mais. Pois ela chegou aos nossos computadores e celulares na sexta. Se você não viu, perdeu.

Toda inovação tende a universalizar-se, ainda que o processo não seja linear e sem buracos na estrada. Quais os principais obstáculos à convergência: a oferta de “banda”, o canal que conduz a informação distribuída em pequenos pacotes na rede, e a disponibilidade de conexões simultâneas ao servidor. No Teleton do Haiti, a conta de ambos foi para os veículos digitais e as empresas de tecnologia, que arcaram com os custos de oferecer uma infraestrutura “ilimitada” para que tudo corresse bem.

Foi um pool gigantesco, que virou conceitualmente a rede pelo avesso. Internet é pulverização, mas na sexta o “pool” inverteu a equação. Precisou apenas de massa crítica, atingida com a mobilização em torno do Haiti.

O que isso tem a ver conosco, com a política? Tudo. Se já éramos um país com milhões de técnicos de futebol, agora, além de milhões de cientistas políticos (Lula vai transferir os votos para Dilma ou não?), nos últimos tempos universalizamos também o debate sobre a democracia na comunicação.

Aqui há um problema: nossas discussões parecem focadas no passadismo, enquanto o futuro esmurra a porta pedindo desesperadamente para entrar. O que é o passadismo? Alguém imaginar que vai restringir o fluxo de informação na rede a partir de formas orgânicas de “controle social”, de restrições. O cenário do futuro é outro. É a disponibilidade “universal” de canais, banda e conexões. É a universalização da capacidade de dizer as coisas e ser ouvido.

A polícia e a Justiça irão adaptar-se para combater o crime na nova esfera, mas fora isso —e a não ser que se esteja a falar em censura— o controle será necessariamente distribuído, pulverizado. Não vai ser refém da esfera estatal, ou paraestatal, como acontecia na época em que predominava o broadcast, a radiodifusão. Ou em que era necessário um capital volumoso para bancar os custos fixos do impresso.

Talvez uma parte, a maior parte, da energia nacional investida no tema devesse então ser canalizada para encontrar meios de prover abundância tecnológica, para baixar radicalmente os custos de distribuição digital. Quem sabe não é um bom tema para a campanha eleitoral?

Brasileiro

Escrevi no passado que a fúria legiferante produziu entre nós algumas bizarrices, entre elas o estabelecimento de data oficial para o início das campanhas eleitorais. O Resultado prático? Violência contra os pequenos, impunidade para os grandes. Bem brasileiro.

Um candidatozinho a deputado pode ser punido pelo juiz se postar no Twitter que vai concorrer. Já os detentores das máquinas estatais usam-nas à vontade para buscar o voto.

Como escreveu ontem Fernando Rodrigues na Folha de S.Paulo, melhor acabar de vez com essa cláusula. Seria uma providência para a justiça social.

Rotina

Os arrufos entre brasileiros e americanos no Haiti só surpreendem quem não conhece a tradição de relações complicadas entre aliados nas guerras. Especialmente no campo de batalha.

O caso mais famoso envolveu o general americano Dwight Eisenhower e seu colega britânico Bernard Montgomery, parceiro no desembarque na Normandia e ao longo de toda a campanha subsequente contra a Alemanha nazista na Europa Ocidental. Como acabou a história? Ambos ganharam a guerra. Que é o que interessa.


Coluna (Nas entrelinhas) publicada neste domingo (24) no Correio Braziliense,

O novo esporte dos endinheirados de Natal

Dois dos jornais diários publicados em Natal, nas suas edições deste final de semana, deram destaque ao lazer dos endinheirados da esquina do Atlântico Sul: passear de lancha pelos parrachos de Pirangi. Segundo um dos jornais, tem gente gastando a bagatela de 500 mil reais para não fazer feio e aparecer na área com um barco potente.

Uma simples ida de barco ao local de encontro dos descolados, lá no mar de Pirangi, no litoral situado ao sul de Natal, pode custar, só em combustíveis, o equivalente a uma viagem, em um off-road, de Natal para Recife.

Levar em conta essas informações pode ser interessante para quem se dispõe a assumir o desafio de produzir análises sociológicas sobre o mundo social e cultural do pessoal do andar de cima.

O vestibular da UFRN: o argumento de inclusção começa a incomidar

Foi só um aluno de escola pública, egresso do IFRN, conquistar o primeiro lugar no vestibular para medicina da UFRN para o mundo cair. Pois é, a Tribuna do Norte de hoje ecoa a reação de "educadores" (sic) contra o argumento de inclusão porque, vejam só!, ele desequilibraria o processe seletivo.

Ora, ora, para a elite local, os egressos de escola pública podem até adentrar em cursos menos concorridos, mas em Medicina e Direito, não.

Voltarei ao tema...

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Pontos para uma sociologia do campo policial

O conjunto dos atores envolvidos com o trabalho policial – agentes da Polícia Civil, PMs, ministério público, juízes, jornalistas, gestores públicos e políticos – conformam um campo social. Com uma certa licenciosidade, poderíamos defini-lo como o campo policial. Em realidade, esse é um campo que se apresenta nos mais diversos países ocidentais. O desafio é apreender a sua configuração em cada contexto nacional.

O campo policial é, como todos os outros campos sociais na elaboração do cientista social francês Pierre Bourdieu, um espaço de conflito e disputa por ganhos (capital) e recompensas posicionais. No geral, esse campo tem alguns elementos básicos estruturais que necessitam ser levados em conta se quisermos produzir análises substantivas sobre a sua configuração.

Quais os elementos do campo policial no Brasil que devem ser destacados?

1) É um sub-campo em que, apesar das força e do enraizamento das redes sociais que lhe dão sustentação, ocupa uma posição subordinada no vasto campo do poder;

2) Os seus agentes, com as exceções daqueles que se situam na zona fronteiriça com o campo judiciário, ocupam posições de status relativamente baixas;

3) Os ganhos legítimos dos seus operadores, também com a exceção dos que se situam na zona fronteiriça acima mencionada, são relativamente baixos;

4) Contraditoriamente, trata-se de um campo no qual os recursos econômicos (em termos de salários legítimos, como mencionado acima) relativamente baixos coexistem com uma grande força junto aos atores propriamente políticos;

5) Trata-se de um campo com força simbólica decisiva na medida em que detém o poder de nomear a normalidade (ou não) de uma determinada ordem social;

6) A posição dos agentes no campo não é determinada apenas pelo capital expresso nos cargos formais (nas patentes dos PMs, por exemplo), mas do quantum de capital social acumulado (e esse é um capital, sabemos bem, diretamente relacionado ao lugar ocupado por cada agente em redes sociais detentores de acesso a recursos culturais e materiais centrais em um determinado contexto).

Em uma próxima postagem, postarei alguns insights sobre a pertinência de se mobilizar a noção de habitus para a análise do trabalho policial.

Uma quinta-feira leve para você...

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

O jornalismo e o PNDH

Transcrevo abaixo artigo de autoria de Marcos Rolim, ex-deputado federal pelo PT e um dos maores especialistas em segurança pública e direitos humanos do Brasil na atualidade. Ele toca, ao meu ver corretamente, na ferida no que diz respeito à discussão sobre o PNDH. Mais precisamente, aponta os limites (para não dizer a empulhação) de uma boa parte da cobertura feita pelo jornalismo pátrio a respeito da questão. Vale a pena conferir!


O jornalismo derrotado

Marcos Rolim*

A julgar pelos noticiários, um fantasma assola o Brasil: o Programa Nacional de Direitos Humanos em sua 3º versão (PNDH-III).

Todas as potências da Santa Aliança unem-se contra ele: setores da mídia, políticos conservadores, o agronegócio, os militares e a cúpula da Igreja. Os críticos afirmam que o programa propõe a “revisão da Lei de Anistia”, que é autoritário ao propor “controle sobre os meios de comunicação”, além de ser “contra o agronegócio”. Radicalizando, houve quem –fora dos manicômios - identificasse no texto disposição por uma “ditadura comunista”. É hora de denunciar esta farsa onde a desinformação se cruza com o preconceito e a manipulação política.

Auxiliei a redigir o texto final do Programa, juntamente com os professores Paulo Sérgio Pinheiro e Luiz Alberto Gomes de Souza. A parte que me coube foi a da Segurança Pública, mas participei de todos os debates. Assinalo, assim, que a 11ª Conferência Nacional de Direitos Humanos havia proposto uma “Comissão de Verdade e Justiça”; nome que traduzia a vontade de “investigar e punir” os responsáveis pelas violações durante a ditadura. O PNDH-III, entretanto, propôs uma “Comissão da Verdade”, porque prevaleceu o entendimento de que o decisivo é a recuperação das informações, ainda sonegadas, sobre as execuções e a tortura. O Programa não fala em “revisar a Lei da Anistia”; pelo contrário, afirma que a Comissão deve “Colaborar com todas as instâncias do Poder Público para a apuração de violações de Direitos Humanos, observadas as disposições da Lei nº 6.683, de 28 de agosto de 1979”. Para quem não sabe, a lei citada é a Lei de Anistia. A notícia, assim, era o afastamento da pretensão punitiva. O caminho escolhido, como se sabe, foi o oposto; o que não assinala informar mal, mas desinformar, simplesmente.

No mais, é interessante que os críticos nunca tenham se manifestado quando, no período do presidente Fernando Henrique Cardoso, propostas muito semelhantes foram apresentadas. Senão vejamos: no que diz respeito aos conflitos agrários, o PNDH-I (1996) já propunha “projeto de lei para tornar obrigatória a presença no local, do juiz ou do Ministério Público, no cumprimento de mandado de manutenção ou reintegração de posse de terras, quando houver pluralidade de réus, para prevenir conflitos violentos no campo, ouvido também o INCRA”. O PNDH-II, seis anos depois, repetiu a proposta. Qual a novidade, neste particular, do PNDH-III? Apenas a idéia de mediação dos conflitos; prática que tem sido usual e que seria institucionalizada por lei. A Senadora Kátia Abreu, então, pode ficar tranqüila. Se o governo apresentar o projeto, ela terá a chance de se posicionar contra a mediação de conflitos e exigir que o tema seja resolvido à bala, como convém a sua particular concepção de democracia.

Quanto à reação ao tal “ranking” de veículos comprometidos com os direitos humanos, o assombro é ainda maior, porque o primeiro PNDH trouxe a ideia de: “Promover o mapeamento dos programas de rádio e TV que estimulem a apologia do crime, da violência, da tortura, das discriminações, do racismo,(...) e da pena de morte, com vistas a (...) adotar as medidas legais pertinentes”. A mesma proposta foi repetida no PNDH-II. Assinale-se que o PNDH-II propôs, além disso: “Apoiar a instalação do Conselho de Comunicação Social, com o objetivo de garantir o controle democrático das concessões de rádio e TV (...) e coibir práticas contrárias aos direitos humanos” e “Garantir a fiscalização da programação das emissoras de rádio e TV, com vistas a assegurar o controle social (...) e a penalizar as empresas (...) que veicularem programação ou publicidade atentatória aos direitos humanos”. Uau! Não são estas as armas dos inimigos da “liberdade de expressão”? Mas, se é assim, porque os críticos não identificaram o “ovo da serpente” na época?

Mais uma vez, ao invés de aprofundar o debate sobre as políticas públicas, a maior parte da mídia se deliciou com a reação vexatória dos militares, com o oportunismo da direita e com o medievalismo da Igreja e o fez às custas da informação, para não variar.

* Jornalista e sociólogo, professor da Cátedra de Direitos Humanos do IPA e consultor em segurança pública e direitos humanos. Ex-presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados.

Segurança pública e as eleições de 2010 no RN

Qual a importância de um plano estadual de segurança pública para orientar a intervenção dos candidatos nas eleições para o governo do estado em 2010? Este post busca abordar, embora de forma um tanto quanto panorâmica, esta questão. Voltarei a bater mais vezes nesta tecla.

A demanda por segurança pública tende a ser abordada, nas eleições estaduais, especialmente aqui no Rio Grande do Norte, de forma superficial e, para dizer o mínimo, irresponsável. Uma parte dos políticos, dando eco à demanda irracional por punição impulsionada pelos programas policiais das rádios e tvs, clamam (e dizem que vão coloca) "mais polícia" nas ruas. À esquerda, repete-se aquela retórica vazia de enfrentar "a questão social".

Enquanto isso, em territórios vastos, a criminalidade aumenta, o consumo de crack alimenta uma máquina mortífera que devora jovens e adolescentes. E não apenas nas periferias de Natal e Mossoró. Não! O crack já devasta áreas rurais de municípios encravados no sertão. É o caso, só para tomar um exemplo, do município de Apodi, situado na região oeste do estado.

Diante desse quadro, há que se apresentar propostas consistentes e fundamentadas racionalmente. Um bom plano de governo estadual, para o RN, exige, como pré-condição, a elaboração de um plano estadual de segurança pública. Se possível, alicerçado em pesquisas de vitimização e no levantamento rigoroso das estatística da violência em todo o estado. Igualmente importante é a realização de pesquisas sobre a letalidade das forças policiais.

Esse plano de segurança pública deve propor uma nova estrutura organizacional para a segurança pública no RN. Para tanto, deve se fundamentar em um conhecimento realista da máquina policial atual (e, em especial, de suas deficiências estruturais em termos de pontos de apoio e bases de formação dos operadores da segurança). E, não menso importante, deve prever instrumentos de accountability da atividade policial e de participação cidadã no seu controle.

Devidamente articulado a uma política de direitos humanos, o plano estadual de segurança deve prever ações integradas dos órgãos do executivo com o Ministério Público e entidades da sociedade civil, especialmente àquelas dedicadas à defesa das vítimas da violência de gênero.

O plano deve ser concebido como algo "aberto" e que interage com todas as outras esferas de ação governamental. Assim sendo, ele deve ser uma baliza, por exemplo, para as políticas educacionais e de juventude.

E mesmo em campos aparentemente distantes, o plano estadual de segurança pública deve buscar impactar. Refiro-me, por exemplo, às políticas para a agricultura. Como é possível conceber uma ação do Governo do Estado no campo, por exemplo apoiando a pequena produção, sem tocar nos problemas da insegurança que ameaça a produtividade em muitas áreas (lembremo-nos dos roubos de máquinas agrícolas nas regiões produtoras de frutas...).

Bom dia!

Que este seja um dia leve. Para você e para quem de você gosta.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

O que as eleições chilenas nos ensinam

Transcrevo abaixo artigo de autoria Alon Feuerwerker, publicado na edição de hoje do jornal Correio Brasiliense (e republicado no seu blog). Confira!

Proprietários e funcionários (19/01)
Alon Feuerwerker

Quer saber o erro que não se pode cometer numa eleição? É o mesmo que se deve evitar numa entrevista de emprego

A eleição chilena serve para tirar conclusões a respeito da eleição brasileira que vem aí? Se as pitonisas do Oráculo de Delfos estivessem operacionais, seria uma pergunta a fazer. Ou então alguém ansioso além da conta pode colocar a coisa mais diretamente: a vitória da oposição no Chile é a demonstração definitiva de que voto não se transfere?

Dizem que o oráculo famoso reinou por um tempão na Grécia Antiga, e tinha muita credibilidade. Segundo consta, seu cacife resultava também de certa metodologia, sábia. Depois de aspirar uns gases (provavelmente alucinógenos) vindos das pedras, as pitonisas davam respostas indiretas, oblíquas, que exigiam interpretação. Não era preto no branco, era mais sofisticado.

Talvez o jornalismo político deva aprender com as pitonisas gregas. Da minha parte, estou pronto a colaborar com o método. Esta vai ser uma campanha longa, passional e verbalmente selvagem. A cada momento vocês exigirão previsões definitivas, diagnósticos irreversíveis. Por que o sujeito quer isso, mesmo quando cheira a charlatanismo? Para conforto próprio, para se agasalhar na “certeza” alheia e não sentir o frio incômodo da própria dúvida.

O resultado no Chile permite alguma conclusão definitiva sobre a eleição no Brasil? Não. A única verdade reafirmada ali é que voto não tem outro dono além do próprio. O que não chega a ser uma novidade. Tratei do tema duas semanas atrás em “Lula na praia”. Não existe o “lulismo”. A expressão é uma peça do populoso universo ficcional da política, é uma bengala que ajuda a manter intelectualmente de pé quem previu um governo do PT catastrófico, e naturalmente quebrou a cara.

A maioria dos brasileiros enxergam o presidente como um ativo seu, e o protegem. Se há relação de pertinência, é mais razoável dizer que Luiz Inácio Lula da Silva é do eleitor, e não o contrário. O cidadão quando vota está contratando um funcionário, não um proprietário. Daí por que o candidato quebra a cara quando se comporta de maneira senhorial, arrogante, autossuficiente fora da medida. Ou quando dá a impressão de estar mentindo. Quer saber o erro que não se pode cometer numa eleição? É o mesmo que se deve evitar numa entrevista de emprego.

O eleitor está atrás de soluções e eleição é sempre uma oportunidade de escolher alguém que pode providenciá-las. Na escolha de um empregado, as referências são importantes. Assim como o currículo. Mas a decisão final é sempre algo subjetiva, vem de um detalhe, de uma impressão, da segurança que o candidato transmitiu ao lidar com assuntos que o contratador julga importantes.

Por que a aliança entre democrata-cristãos e socialistas perdeu no Chile? Por causa da pasmaceira econômica e do cansaço popular com a politicagem. E porque o eleitor comum, não engajado, de vez em quando gosta de promover alternância no poder. Para evitar a “síndrome da panelinha”. Isso fez um punhado de votos migrar de um lado para o outro, invertendo a maioria.

Como vai ser aqui em outubro? Qual será a principal preocupação de sua excelência, o portador de título eleitoral, quando começar a dar tratos à bola sobre a necessidade de trocar o presidente da República?

Eu confesso que ainda não tenho a mínima ideia, e portanto não vou colocar meu modesto carro na frente dos boizinhos. O PT aposta que o eleitor sairá de casa no dia da eleição para “evitar a volta da turma do Fernando Henrique, que vai acabar com as coisas boas que o Lula fez pelos pobres e pelo Brasil”. É uma tese a verificar, até para descartar a possibilidade de o petismo estar colocando o desejo no lugar reservado à realidade. E os tucanos, apostam no quê? Pelo jeito, nem eles descobriram ainda.

(...)

Coluna (Nas entrelinhas) publicada nesta treça (19) no Correio Braziliense.

Terremotos em Porto Príncipe e Lisboa

Muito se tem comentado sobre o terremoto de Lisboa, agora que precisamos, de algum modo, dar vazão ao nosso sentimento de impotência diante da tragédia que se abateu sobre o Haiti. Por isso, transcrevo abaixo interessantes observações publicadas no Ex-Blog do César Maia. Confira!

O TERREMOTO DE LISBOA!

1. Em 1 de novembro de 1755, Lisboa foi destruída por um terremoto grau 9 na escala Richter, seguido de um tsunami com ondas de 20 metros de altura. Dos 275 mil habitantes de Lisboa, pelo menos 90 mil morreram. 85% das construções de Lisboa foram destruídas. Não faltaram os saqueadores.

2. Sebastião Melo, depois Marquês de Pombal, primeiro-ministro do Rei de Portugal D. José I, assumiu o comando total da situação com a frase que ficou famosa: "Enterram-se os mortos e cuidam-se os vivos". Abrigou a população sobrevivente em tendas, assistiu-a e convocou os que podiam para os trabalhos.

3. Realizou imediatamente um trabalho de levantamento detalhado da situação em cada bairro, incluindo as observações sobre o fenômeno... Reprimiu com pena de morte os saqueadores. Priorizou a saúde pública e com isso não houve nenhum surto de doenças em função do terremoto.

4. Convocou o arquiteto Eugenio dos Santos e os engenheiros Manuel da Maia e Carlos Manuel, para fazer o plano e executar a reconstrução de Lisboa. Lisboa era uma cidade moura, cheia de vielas, como hoje se pode ver em Alfama. Foi reconstruída a partir da Praça do Comércio com eixos ortogonais, num desenho de quadras no estilo espanhol.

5. Estabeleceu a polêmica com a Igreja, culminando com a pena de morte para o Padre jesuíta Gabriel Malagrida, que em 1756 publicou o livro "Juízo da verdadeira causa do terremoto", onde pregava ter sido o terremoto um castigo divino e que não se devia proteger os desabrigados, pois o infortúnio desses se consolava com procissões e orações.

6. A polêmica levou o filósofo Imanuel Kant ("O Terremoto de Lisboa de 1755") a se debruçar no assunto, levantando terremotos anteriores de forma a provar que se tratava de um fenômeno geológico, explicado cientificamente e não através de crenças. Os levantamentos detalhados feitos por Pombal e o questionamento de Kant abriram o estudo da sismologia.

7. Veja desenho da situação de Lisboa após o terremoto. Veja Lisboa antes do terremoto.

Qual o impacto das eleições sobre as polícias?

No Brasil, infelizmente, gastamos muito com uma produção acadêmica alicerçada em posicionamentos políticos e ideológicos pré-estabelecidos. Não é raro que, ao conversar como um aluno de pós-graduação das nossas ciências sociais, em momentos que se situam antes do início do jogo, ou seja, antes da elaboração da dissertação ou tese, a gente já desconfie de qual vai ser o resultado do trabalho. É a predominância da retórica sobre a pesquisa empírica. Em conseqüência avançamos pouco na pesquisa de aspectos pontuais de nossa realidade. Por que? Ora, porque não se enquadram nos modelos da moda ou porque fogem à apreensão das teorias que fazem sucesso em Paris.

Bueno, mas porque diabos esse chato está escrevendo isso e em que isso se relaciona com o título do post. Calma, pessoal. O que queria chamar a atenção é para o fato de que, dado esse traço, digamos cultural, acima mencionado, temos poucos trabalhos sobre o impacto dos processos eleitorais na formatação de nossas polícias. Ora, todos os candidatos falam sobre a questão. Quem está no governo, e busca re-eleição, faz mais do que isso: intervém e procura apresentar elementos (mais justo seria dizer “factóides”) que possam servir de referência para as intervenções televisivas.

Diante de tudo isso, salta aos olhos a ausência de trabalhos que estabeleçam a relação entre eleições e polícia. Por favor, se você conhece trabalhos sobre essa questão, envie-me a informação.

Em tempo: há uma literatura internacional significativa sobre o assunto. Logo, logo, postarei links sobre a mesma aqui.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

O drama haitiano sob as lentes do El País.

Transcrevo abaixo reportagem publicada na edição de hoje do jornal espanhol El País. Não tive tempo e nem condições de traduzi-la, mas, por favor, faça um esforço e tente lê-la mesmo assim.

Catástrofe en Haití
La escalada de la violencia frena el reparto de ayuda
Los tumultos, tiroteos, saqueos y hasta un linchamiento en Puerto Príncipe dificultan las labores de las organizaciones humanitarias
PABLO ORDAZ Puerto Príncipe (ENVIADO ESPECIAL) 18/01/2010

El terremoto ya mata en Haití con arma de fuego. A las 7.45, a la altura del número 31 de la calle Delmas, camino del aeropuerto, un grupo de gente se arremolina alrededor de dos muchachos jóvenes recién asesinados, cada uno con un tiro certero en la nuca. Aún sangran. Cuando se pregunta qué pasó, la respuesta es: "Ladrones". Y un gesto que quiere decir: "Ahora ya lo saben, lárguense de aquí".

La tarde anterior, otro joven fue ajusticiado por la policía tras participar en uno de los saqueos que ya son la moneda que más circula por Puerto Príncipe. Luego fue apartado y quemado en el arcén, no sin antes quitarle lo que de valor llevaba en los bolsillos. No habrá autopsia. Un muerto más achacable al terremoto.

En cuestión de 24 horas, la situación ha cambiado radicalmente. La ausencia de ayuda humanitaria, el hambre y la sed más rotunda han terminado por encender la llama y los saqueos se han generalizado en la ciudad. Varios cooperantes, atrincherados todavía en el aeropuerto con las cajas de ayuda sin abrir, reconocen: "No entraremos en la ciudad hasta que no lleguen los norteamericanos".

Ya están llegando, pero tampoco ellos han traspasado todavía las puertas del aeropuerto. Estaba previsto que entre ayer y hoy fueran llegando a Haití unos 10.000 soldados. Entre ellos, unos 3.500 pertenecientes a la 82ª División Aerotransportada y 2.200 marines, además del portaaviones Carl Vinson con dos decenas de helicópteros, un buque hospital y tres buques más para el desembarco de vehículos anfibios.

Será un desembarco propio de una guerra para un país que acaba de sufrir la peor derrota imaginable a manos de un enemigo pertinaz llamado pobreza e infortunio. Ya todo el mundo tiene asumido aquí que, hasta que los estadounidenses no pongan orden, las cajas de antibióticos y analgésicos que tanto necesita la doctora María Claudia Mallarino seguirán inútilmente cerradas junto a las pistas del aeropuerto de Puerto Príncipe.

Y lo que es peor: a menos de un kilómetro de donde la doctora llegada de Estados Unidos y un grupo más de médicos impotentes se desesperan ante el dolor que no pueden atajar. "Díganlo, por favor. Necesitamos urgentemente antibióticos intravenosos, analgésicos... Y también médicos ortopedistas, anestesiólogos... Por favor, venga conmigo, fíjese en qué situación estamos".

Lo que se ve a continuación es que, dentro del acuartelamiento de la misión de Naciones Unidas para Haití, a menos de un kilómetro del aeropuerto, unos 40 haitianos heridos por el terremoto, algunos de ellos rescatados en las últimas horas de las entrañas de sus casas, están tirados por el suelo. Algunos, los más afortunados, descansan sobre unos cartones, como si fueran vagabundos -o tal vez porque ya lo son-, quejándose de dolor por la falta de calmantes, curados chapuceramente a la vista de todos, rodeados de suciedad y con el mismo olor a muerte que se trajeron de la tumba unas horas antes.

A la salida del cuartel general de Naciones Unidas, la situación también ha cambiado radicalmente. El sábado, un soldado con su arma en bandolera se bastaba para mantener la seguridad. Ayer, dos decenas de cascos azules peruanos se las veían y deseaban ante una multitud desesperada en busca de algo que llevarse a la boca. Uno de los soldados intentaba convencer a un muchacho de que no está en su mano. "Esto se está poniendo muy feo", reflexiona, "incluso yo le diría que esto está a punto de explotar. Los negritos están empezando a tener mucha hambre...".

En la calle, decenas de personas cargadas con maletas buscan desesperadamente el modo de salir de la ciudad. En cuanto tienen ocasión se suben en camionetas tan llenas de gente que apenas pueden arrancar. Se van huyendo del hambre, pero también del clima de guerra que ya se cierne sobre Puerto Príncipe.

Sólo hace falta acercarse al centro para comprobar que el soldado peruano dio de lleno en la diana. Un paseo por las cercanías de la catedral de Puerto Príncipe, que el día anterior se podía hacer con relativa tranquilidad, se convierte en una encerrona. Decenas de personas, sin distinción de edad, atacan un supermercado en ruinas para, sin reparar en el peligro de derrumbe o considerándolo menor que el de morir de hambre, arrebatar de los escombros sacos de arroz y de patatas, botellas de aceite, latas de refrescos, galletas, queso y, ya puestos, cajas de cosméticos.

Un todoterreno con cascos azules aparece en escena, pero pasa de largo sin intervenir. Los soldados contemplan cómo la gente se pelea entre sí por un simple paquete de patatas fritas. Hay una mujer que placa por la espalda a un joven que ya estaba huyendo con una caja. Forcejean. Al rato, aparece una tanqueta blanca de Naciones Unidas pero también prefiere hacer la vista gorda. De pronto, como si en esta ciudad sin gobierno aún quedara un rescoldo de autoridad, aparecen varios policías haitianos bien pertrechados. Lo primero que disparan son bombas lacrimógenas, pero enseguida ya empiezan a sonar los primeros disparos.

Un sonido que ya se va haciendo familiar en Puerto Príncipe, junto al de los helicópteros que sobrevuelan la ciudad, junto al de la palabra ayuda gritada en todos los idiomas, junto a los niños que siguen llorando toda la noche.



Slavoj Zizek e o mundo pós-muro

O número da Revista Piauí que se encontra nas bancas, além das matérias e reportagens bem escritas de sempre, traz, na coluna "tribuna livre da luta de classes", um ótimo artigo de Slavoj Zizek sobre a vida social e política dos países do leste europeu. A análise que o polêmico pensador faz sobre o anti-comunismo que ali viceja é muito perspicaz. Vale a pena conferir! Acesse aqui.

domingo, 17 de janeiro de 2010

Tenha um ótimo domingo

A bruxa má tomou conta da terra da felicidade

A Islândia, antes conhecida como a terra na qual habitava um dos povos mais felizes (e ricos) do globo, lambe as feridas provocada pela crise financeira de 2008. Os islandeses agora lamentam os dias em que as suas elites acreditaram piamente no conto do vigário de que o cassino financeiro global era o melhor caminho para o desenvolvimento econômico do país.

Esse paraíso até que funcionou e o povo viveu feliz. Mas não para sempre, pois, nos contos de fadas neoliberais, assim como naqueles dos Irmãos Grimm, tem sempre uma bruxa má à espreita.

Em outubro de 2008, quando a crise financeira global provocou cataclimas em várias partes do mundo, a bruxa má atacou a terra da felicidade. E os islandeses acordaram para uma dura realidade. Claro! Claro que em nada parecida com a tragedia haitiana. Mas, mesmo assim, relevante e plena de lições (especialmente políticas e econômicas) a nos ensinar.

Queres saber mais sobre essa história? Clique aqui e leia uma ótima matéria a respeito publicada no El País (em espanhol, você sabe).

O Haiti não existe mais

Este o título de uma das melhores coberturas da tragédia que se abateu sobre o Haiti. Publicada no jornal espanhol El País, a matéria é de autoria de Pablo Ordaz. Acesse-a aqui (em espanhol).

Um documentário musical para ser visto

Não deixe de assitir ao documentário "O homem que engarrafa nuves", de Lírio Ferreira. Trata da vida e obra de Humberto Teixeira, parceiro de Luiz Gonzaga e autor, dentre outros clássicos da música brasileira, de "Asa Branca". Confira o trailer abaixo, mas corra ao cinema para se maravilhar...

Tempos Modernos, a novela

Que coisa mais sem pé e nem cabeça! Meu Deus! O que diabos é aquilo, hein? Estou me referindo à nova novela da Tv Globo, intitulado "Tempos Modernos". Mesmo que você seja um noveleiro fundamentalista, juro!, não conseguirá acompanhar o troço por um capítulo inteiro. Para complicar, a "obra" mistura atores e modelos sem nenhuma capacidade de representação em papéis centrais. E mesmo gente até boa, dada o cenário de ruindade, desce a ladeira. Nem cômica a novela é.

É hoje!!!

O segundo turno da eleição para presidente do Chile ocorre hoje. Se tudo correr conforme indicam as projeções dos institutos de pesquisa, teremos uma guinada à direita no continente. Sim, pois o provável vencedor, o mega-empresário Piñera, da oposição, representa os setores políticos e econômicos que mais se empenharam no apoio a Pinochet. Parte da responsabilidade pela vitória da direita, sejamos francos, deve-se ao pouco entusiasmo com o candidato da coalização que governa o país desde a redemocratização, o ex-presidente Eduardo Frei. Por outro lado, em que pese a grande popularidade da presidente Bachelet, há um certo cansaço com a mesmice governamental do bloco de centro-esquerda que está no poder.

Fato positivo, indicador da evolução da democracia no país, é que a disputa ocorre em um clima tranqüilo e, como diria minha prima leitora de Lyotard, "desdramatizado".

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

As bases do lulismo

Postei, na segunda-feira, um comentário sobre o artigo de André Singer, publicado na revista Novos Estudos CEBRAP, a respeito das bases sociais do lulismo. Intitulado Raízes Sociais e ideológicas do lulismo, o texto produzido por Singer é uma análise lúcida da difrenciação nas bases de sustentação entre o petismo e o lulismo.

Daniel Menezes, doutorando em Ciências Sociais pela UFRN, enviou-me um comentário a respeito. Faço questão de destacá-lo mais abaixo.

Edmilson,

O texto é bem interessante. Tal texto havia sido citado por Bresser Pereira em outro texto. Daí procurei ler também porque o etnocentrismo de classe aparecia no texto do Bresser Pereira e em outros textos que se destinavam a pensar a mudança do eleitorado de lula nas suas últimas eleições.

Penso que do ponto de vista local também seria interessante buscar conhecer as bases sociais e ideológicas dos novos fenômenos midiáticos, tais como Micarla de Sousa e Paulo Vagner. O gordinho, principalmente, é um verdadeiro fenômeno. Sei que está bastante longe da eleição e o critério da pesquisa é um pouco traiçoeiro neste momento. Porém, Paulo Vagner vem empatando com Vilma na corrida para o senado aqui em Natal e na grande Natal. Dada a correlação de forças, este fenômeno, mesmo que pontual, não pode ser enxergado com normalidade.Acho que os formadores, totalmente ofuscados pelo etnocentrismo de classe, não conseguem equacionar a real dimensão do fenômeno Paulo Vagner.

Os jornalistas locais sempre criticam o modo de falar, de vestir e de se expressar de Paulo Vagner, mas nunca as suas posições políticas. A ataque é direcionado contra o "estilo de vida" de uma pessoa com "baixo capital cultural". A sua atividade política e o modo como ele se relaciona com as bases sociais permanece intocada.Paulo Vagner parece ter força acentuada na fração de classe mencionada por André Singer para o caso do Lula. O voto dele é bastante forte entre os mais pobres e que residem na zona norte e oeste. O que mais me intrigava é que, mesmo levando paulada de tudo que é lado, o atual vereador continuava e se portar da mesma maneira. O que vem parecendo mais claro para mim é que eles, em certo sentido, atua corretamente, já que não está preocupado com o que o jornalista de classe média fala, mas com suas bases de sustentação.

Outro dado interessante é que, no momento em que aplicava questionários referentes a determinadas sondagens eleitorais, ouvi de algumas pessoas a seguinte expressão: "vou votar em Paulo Vagner porque quero ver mudança na política". Ou também: "Vou votar no gordinho porque quero animar a política".

Não estou aqui para defendê-lo. Longe de mim, mas sinto falta de uma análise menos etnocêntrica e mais sociológica acerca do gordinho, que não é o Ronaldo, mas já vem sendo chamado de fenômeno. Pois bem, penso que há muita coisa que pode ser pensada, a partir da análise desses novos fenômenos.

Um abraço.

Daniel Menezes - Natal/RN

A vitória da direita no Chile não é mais tão certa...

De uma hora para outra, o candidato da Concertacion, a frente política de centro-esquerda que governa o Chile desde o fim da ditadura, o ex-presidente Eduardo Frei, encostou no candidato favorito, o direitista Sebastian Pinera. É o que indica uma pesquisa realizada pelo Centro de Estudos Mori. As eleições ocorrerão no domingo próximo.

Pelo que indica a pesquisa, o cenário eleitoral chileno começa a ficar incerto. A Nova Direita pátria, que estava em estado de graça, poderá ter que adiar a celebração.

Música para um final de tarde...

Que esta seja uma tarde leve para você...

Angropólogo faz relato pungente da situação do Haiti

Na edição de hoje do jornal Folha de São Paulo, o antropólogo e professor da Unicamp, Omar Ribeiro Tomaz, que se encontra no Haiti, faz um relato vívido de um país que, de há muito, vem sendo destroçado. E não pela natureza, mas pela ação (e omissão) de todas as boas almas que, agora, dizem que vão ajudá-lo.

O Haiti já estava de joelhos; agora, está prostrado
OMAR RIBEIRO THOMAZ
ESPECIAL PARA A FOLHA, EM PORTO PRÍNCIPE (HAITI)

No dia 12 de janeiro de 2010, o mundo ruiu em Porto Príncipe. Um mundo já frágil e parcialmente em ruínas foi-se abaixo. O Haiti já estava de joelhos. Agora, com a destruição de sua capital, está prostrado.

Os principais edifícios desabaram, entre eles o palácio nacional, vários ministérios e a catedral; no segundo dia da volta às aulas, jovens estudantes de escolas e universidades procuravam seus amigos entre feridos e mortos nas calçadas e choravam aqueles soterrados.

(...)
Na hipótese da existência de ambulâncias ou veículos de resgate, não teriam como passar. Mortos e feridos se aglomeram nas calçadas, indivíduos correm horas e horas para chegar em sua casa e ver como se encontram os seus, outros parecem andar e correr sem destino.
Diante da falta absoluta de ação de qualquer instância para atender uma cidade subitamente transformada num campo de refugiados, os saques são inevitáveis, e escutamos tiroteios em distintas partes da cidade.

(...)
Ao embargo político e intelectual secular -como definir de outra forma o ostracismo ao qual foi relegado o Haiti após sua vitoriosa revolução que culminou com sua independência em 1804?- sucederam-se intervenções e ocupações que sempre procuraram negar aos haitianos o sentimento do orgulho dos seus feitos; e, por fim, o golpe de misericórdia, a imposição de uma agenda ditada pela Guerra Fria, que, entre os anos 1950 e 1980 destruiu o Estado haitiano (ao contrário do que pensam alguns, o Haiti possuía um Estado, nem melhor nem pior do que os seus congêneres latino-americanos e caribenhos), fragilizou suas instituições, criminalizou os movimentos sociais e arrebentou seu sistema econômico.

Não foi a interferência americana que destruiu o plantio de milho e interrompeu as conexões existentes entre o camponês, os fornos e os consumidores? Ou outra intervenção que promoveu a eliminação do porco crioulo, base econômica de famílias? Ou o embargo internacional que promoveu o golpe final nas reservas florestais impondo o uso indiscriminado de carvão vegetal?
Diante da fúria da natureza não cabe outro sentimento que o de uma frustração que deita raízes numa história profunda e que subitamente pode ganhar cor: o mundo dos brancos nos destruiu; o mundo dos brancos diz que quer fazer alguma coisa, mas o que faz, além de nutrir seus telejornais com fotos miseráveis que só fazem alimentar a satisfação autocentrada dos países ditos ocidentais?
Não são poucos os agentes das organizações internacionais que anunciam que a "comunidade internacional" estaria cansada do Haiti. Após escutar os haitianos ao longo de anos, de tentar entender o sentido de sua história, digo que são os haitianos que estão fartos das promessas daqueles que dizem representar a "comunidade internacional". Afinal, por que estão aqui? Após seis anos de ocupação, os hospitais e as escolas ruíram. Depois da tragédia de Gonaives -quando essa cidade foi soterrada na passagem de um furacão, em 2004-, não teríamos de estar minimamente preparados para a gestão de uma calamidade?

(...)

OMAR RIBEIRO THOMAZ, 44, é antropólogo e professor da Unicamp

Assinante UOL lê a matéria completa aqui.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Tome ciência...

Marcelo Leite, um dos principais nomes do jornalismo científico do país e um dos editores do jornal Folha de São Paulo, mantém um ótimo blog no qual escreve sobre ciência e política científica. Visite-o! Clique aqui e acesse o blog.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Um filme para ser visto

A revista Veja desancou tanto e com tanto denodo o filme que eu, que não estava muito disposto a vê-lo, fui assisti-lo. Fui, devo confessar, também porque minha mulher me pressionou para ir.

Esqueça tudo o que disseram sobre o filme. Vá lá! Confira! Mais do que um filme sobre o Lula, trata-se de um filme histórico sobre o Brasil. Sobre a condição dos migrantes nordestinos e sobre a condição da mulher no Brasil.

E tem Glória Pires, que interpreta Dona Lindu, a mãe do Lula, que está simplesmente ótima. Mais genial do que nunca. Compensa o ator que representa o Lula, que não está lá essas coisas.

Resumo da ópera: trata-se de uma obra mais sobre a condição feminina do que exatamente sobre o Lula. A mãe! Ela, sim, aparece. Com toda a justiça, diga-se de passagem. Veja abaixo o trailer.

Paciência!

Conto com a sua compreensão neste mês de janeiro. Estou blogando menos. Não, não estou de férias. Tenho cinqüenta zilhões de coisas pra resolver e fazer. Mas, logo, logo, voltarei ao ritmo de sempre. Por enquanto, vou indo com o pé no freio. Abração!

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

As bases políticas e ideológicas do lulismo e do petismo

O presidente Lula, especialmente nas eleições de 2006, conseguiu o grande feito de construir uma base eleitoral junto aos setores mais pobres da sociedade brasileira. Esse deslocamento, dizem alguns, deveu-se, em parte, ao peso dos programas sociais. É uma explicação fraca. Essa relação causal entre voto no Lula e recebimento de algum auxílio de programa social deixa de problematizar aspectos importantes. E, além do mais, não deixa de se alimentar daquele viés etnocêntrico de classe média que, por sob toda a retórica, reduz a opção eleitoral dos mais pobres ao puro clientelismo.

O que precisa ser problematizado, se quisermos produzir uma avaliação mais matizada da ascensão eleitoral do Lula entre os mais pobres, é exatamente se é mesmo clientelismo (e populismo, como insinuam os bem pensantes da classe média) que irriga a nova base política do presidente. Em instigante artigo, publicado na revista Novos Estudos CEBRAP, André Singer, ex-Porta-Voz da Presidência da República no primeiro mandato do Lula, e professor de Ciência Política na USP toca nesta e em outras questões. Intitulado, Raízes Sociais e ideológicas do lulismo, o texto produzido por Singer é exemplo de uma boa análise política. Confira!

sábado, 9 de janeiro de 2010

O que está acontecendo na Argentina?

A presidente da Argentina, Cristina Kirchner, demitiu, após um confronto em torno da utilização das reservas do país, o presidente do Banco Central. Demitiu, mas o dito cujo, Martin Redrado, resiste no cargo graças a uma decisão judicial. Pois é, eis aí um dos resultados possíveis de um Banco Central independente.

Além de ser uma lição para os que defendem, sem conhecer a fundo as conseqüências, a independência doBanco Central no Brasil, o fato expressa também a quantas anda a disputa política no país vizinho. O confronto político que está se construindo por lá ameaça transformar as eleições presidenciais de 2011 em um jogo de soma zero: quem ganhar, levará tudo e quem perder terá pouco ou nenhum compromisso com o novo quadro. Essas situações, sabemos de há muito, nem sempre se traduzem em processos que fortalecem a institucionalidade democrática...

Música para que o seu final de semana seja tudo de bom...

O quadro político pós-Lula

Transcrevo abaixo artigo publicado no jornal O Globo, de autoria do jornalista Merval Pereira. Trata-se de uma especulação do quadro pólítico que poderá se configurar caso a candidatura da minstra Dilma torne-se vitoriosa.


O PSDB e o pós-Lula
Merval Pereira*

A eleição presidencial de outubro é muito mais do que a primeira em 20 anos em que o nome de Lula não aparecerá na cédula eletrônica. Ela marca o fim de uma era política que tem nele o maior expoente, e que, nos últimos 25 anos, desde a redemocratização, foi muito mais influenciada por nomes do que por partidos políticos. Com a extinção das siglas partidárias pela ditadura, sumiram PTB, PSD, UDN para dar lugar a Arena e MDB, que hoje se desdobraram em vários outros partidos, todos com uma história política ou muito recente, como PT e PSDB, ou distorcida, como o próprio PTB, que Brizola tentou reerguer, mas que acabou ressurgindo no cenário político graças a uma manobra de Golbery do Couto e Silva, então chefe do Gabinete Civil de Geisel, que conseguiu que a sigla fosse para a deputada Ivete Vargas, obrigando Brizola a inventar o PDT

O DEM, novo nome da Frente Liberal, que saiu do ventre da Arena para apoiar a vitória de Tancredo no Colégio Eleitoral, não resistiu à perda do poder, não chegou a se estruturar como partido político e já está quase desaparecendo.

Os grandes personagens dos últimos anos, da geração de políticos da Nova República, já morreram, caso de Tancredo Neves, Antonio Carlos Magalhães, Brizola, Ulysses Guimarães, ou continuam influentes, mas sem expectativa de poder pessoal, como Fernando Henrique Cardoso, Itamar Franco, Pedro Simon.

O presidente do Senado, José Sarney, é talvez o último das velhas “raposas políticas” em atividade.

O próprio Lula, que foi o protagonista dos últimos anos, pode não vir a se candidatar novamente em 2014, um pouco pela idade — estará com 70 anos —, mas mais pela própria dinâmica da política.

O governador de São Paulo, José Serra, virtual candidato tucano à sucessão de Lula, terá também nesta eleição provavelmente a última chance de chegar à Presidência da República — está com 68 anos —, embora em política seja difícil uma previsão desse tipo.

No entanto, o que é possível prever é que a era pós-Lula que se inicia em outubro tem uma geração nova de políticos que depende do resultado da eleição para definir o rumo de suas carreiras.

Caso a candidata oficial, Dilma Rousseff, vença as eleições, é muito provável, a não ser que seu governo seja um desastre, que o PT permaneça no governo por mais oito anos, o que significará quase um final de carreira para uma série de políticos do PSDB e do DEM: Tasso Jereissati, Arthur Virgílio, Agripino Maia, Rodrigo Maia, Jutahy Junior, e mesmo líderes do PMDB dissidente como Jarbas Vasconcellos.

O mais afetado por um resultado adverso será o atual governador de Minas, Aécio Neves, a quem de nada adiantará ser um senador muito bem votado e chegar a um Congresso dominado pela situação, fazendo parte de um partido derrotado mais uma vez em nível nacional.
A não ser que mude de partido, Aécio seria um senador a mais na oposição minoritária, e não teria condições políticas para pleitear com um mínimo de chances a eleição à Presidência em 2014, contra a presidenta Dilma Rousseff tentando a reeleição.

Claro que sempre é possível imaginar um cenário em que o governo Dilma seja reprovado pela opinião pública, abrindo a brecha para a volta do PSDB ao poder.

Mas mesmo assim em 2014 existe o fantasma de Lula, que pode ser chamado para restaurar a imagem do PT e, presumivelmente, continuará sendo uma liderança importante na política brasileira.

A permanência do PT no poder abrirá, por outro lado, uma clareira política para diversas lideranças também jovens do partido e seus aliados, como os governadores de Pernambuco, Eduardo Campos, e da Bahia, Jacques Wagner, ou o senador Aloizio Mercadante, ou o deputado e ex-ministro Antonio Palocci, ou o governador do Rio, Sérgio Cabral, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, ou o deputado Ciro Gomes e outras lideranças emergentes que, à sombra do lulismo, darão as cartas na política nacional nos próximos anos.

Mesmo na oposição ao lulismo há nomes novos surgindo fora do eixo PSDB-DEM, como o da ministra Marina Silva, à frente do Partido Verde.

Há quem considere mesmo que é um engano considerar que a era pós-Lula começa com sua saída do poder, pois ele continuará a ter influência incontrastável na política brasileira, a exemplo de Getulio Vargas.

Na crise do mensalão, quando parecia que Lula não se recuperaria, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso orientava a oposição a não pressionar em busca do impeachment por duas razões: o receio de uma reação dos chamados “movimentos sociais”, e a possibilidade de, destituído, Lula se transformar em um “Getulio vivo”, numa alusão à morte de Getulio, que provocou uma comoção nacional.

Na tese de que ele continuará tendo influência duradoura na política nacional, Lula será na verdade um “Getulio vivo”, controlando o “lulismo”.

O presidente do Ibope, Carlos Augusto Montenegro, diz que toda essa mudança de geração se dará sem o PT, que considera um partido em decadência política e com uma imagem ruim junto ao eleitorado.

Todas essas digressões passam pela cabeça dos principais líderes do PSDB, que começam a se organizar para a campanha presidencial de José Serra.

Eles sabem que correm o risco de ver o partido se desmilinguir com mais uma derrota nacional, ao contrário do PT que, mesmo com todas as vicissitudes que enfrentou nos últimos anos, continua com uma máquina partidária mobilizada pela candidatura de Dilma, mesmo que ela não fosse a candidata dos sonhos da legenda.

Atribui-se ao governador paulista uma queixa permanente à incapacidade da oposição de criar fatos políticos, enquanto o PT estaria sempre em atividade, unido em torno da candidatura oficial.

* E-mail para esta coluna: merval@oglobo.com.br

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Judicialização da política

Antoine Garopan, grande estudioso do direito, autor, dentre outro, de "O guardião das promessas" (olhem, estou fazendo a referência de memória, o título pode ser um pouco diferente...), há tempos, tem chamado a atenção para o esvaziamento da vida política pela sua colonização pelo judiciário. Essa é uma das questões centrais da atualidade nas sociedades democráticas. Interessa, sobremaneira, aos brasileiros. Afinal, por estas plagas, mandatos e eleições são, cada vez mais, decididos pelos juízes. Por isso, leia o texto abaixo, publicado originalmente no jornal argentino La Nacion, e traduzido para o português pelo Ex-Blog do César Maia.

SISTEMA PRESIDENCIALISTA ESGOTOU-SE! (PRIMEIRA PARTE)
Trechos da entrevista com o Ministro Eugenio Zaffaroni, da Corte Suprema da Argentina, considerado um dos grandes juristas do continente- La Nacion (03).

1. Acho que vivemos um episódio mais de "judicializacão" da política, uma versão local de um fenômeno mundial. Em cada caso, quando nos chega pela via procedente, vamos resolver acreditando no que é direito para cada situação. Não se trata de que o Governo ou a Oposição "compreenderá" alguma coisa, porque não é função judicial exercer nenhuma docência a respeito de outros poderes -que seria também um exemplo de arrogância-, mas sim decidir quando apropriado. As conseqüências serão de cada um e assumidas segundo seus critérios, que presumo serão racionais, como corresponde a poderes responsáveis.

2. Essa questão (repartição tributária) se judicializou porque em 1994 não se resolveu este tema na Constituição. Não se chegou a um acordo e projetou-se o tema para o futuro por meio de uma pretensa lei que politicamente é pouco menos que impossível. Neste tema, como em outros, estamos vivendo as dificuldades próprias do resultado prático de normas constitucionais incompletas e instituições não bem reguladas. Em uma Assembléia Constituinte isto acontece quando todos pensam no imediato e esquecem que devem legislar para situações eminentemente variáveis. Acho que a reforma de 1994 criou algumas instituições sem completá-las. Todos os conflitos que estamos vivendo, de certa forma, são resultado de instituições que foram feitas pela metade. A regulação do decreto de necessidade e urgência é mais um exemplo.

3. De 1883 em diante, diria que dentro do que pôde fazer, foi Alfonsin, figura que me parece o mais respeitável nesse sentido (foi o presidente mais respeitoso com as instituições).

4. Neste país falta sentar-se e repensar as regras de jogo. Basicamente acho que o que está em jogo é o esgotamento do sistema presidencialista. Esgotou-se. Este é o fenômeno do "judicialismo". Há uma quantidade de problemas que os operadores políticos não podem resolver por falta de idoneidade. A maior parte dos temas depende de decisões políticas, não judiciais.

5. Por isso seria conveniente um sistema parlamentar, um tribunal constitucional que decida conflitos de poderes e possa fazer cair uma lei, como na Alemanha e na Espanha. Não estou inventando um modelo. Nosso controle é difuso. Eu gosto que qualquer juiz possa declarar a inconstitucionalidade de uma lei, mas falta um controle centralizado que diga "a lei caiu aqui e pronto".

Pequenas mudanças também contam...

Na notícia abaixo transcrita, um exemplo da radical mudança de estilo da administração do Presidente Obama com aquela executada pelo seu antecessor.
Em tempo: a notícia foi publicada no site do Yahoo.

Obama nomeia transexual para cargo na administração federal
Da Redação
mundo@eband.com.br


A transexual Amanda Simpson, de 48 anos, foi nomeada por Obama para um cargo na administração federal. Amanda, que antes se chamava Mitchell e era piloto de testes, começou terça-feira a trabalhar como conselheira sênior do Departamento de Comércio.

“Como uma das primeiras transexuais que Obama deu um cargo, eu espero que isso aconteça para centenas de outras”, disse Amanda em comunicado.

Amanda, que é formada em física, engenharia e administração, irá gerenciar as exportações de tecnologia e as relações com a imprensa.

A mudança de sexo aconteceu há uma década, quando trabalhava em Tuscon, no Arizona, na Raytheon Missile Systems, empresa especializada em equipamentos militares.

Amanda não é a primeira transexual a ser indicada a um cargo executivo federal, segundo o site Huffington Post. Em 2008, Diego Sanchez foi nomeado pelo congressista democrata Barney Frank como conselheiro político para assuntos relacionados a trabalho, censo e direitos de homossexuais
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quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Apodi, 1974: Guerrilha do Araguaia, doce de goiaba e as meninas da terceira série ginasial

Primeira metade da década de 1970. A ditadura militar estava em pleno auge. Nas grandes cidades, a repressão silenciara ou jogara para a clandestinidade a militância de esquerda. O movimento estudantil submergira e os sindicatos eram controlados com mãos de ferro pelos interventores indicados pelos generais. Nas pequenas cidades, sem história de militância política organizada, paradoxalmente, jovens estudantes sentiam-se mais livres para atiçar a curiosidade sobre o que ocorria no mundo mais além.

Assim, em 1974, quando a Guerrilha do Araguaia ainda não havia sido totalmente destroçada e era um acontecimento ignorado pela esmagadora maioria da população brasileira, em Apodi, no sertão nordestino, um grupo de jovens sabia da existência do movimento. E não só. Discutiam animadamente o que iriam fazer quando o Brasil todo se tornasse comunista (alivie um pouco, não comece a rir ainda, éramos o que hoje se chama de “adolescentes”...)

Quem passava-nos as notícias era um entusiasmado ouvinte da Rádio Tirana da Albânia, Carlos de Zé Cabral. Guiados por Carlos, mais três ou quatro colegas, todos com idade entre 12 e 14 anos, alunos do que então se chamava “segunda série do ginásio”, passamos a ouvir as locuções noturnas (em português) da rádio de um país que, segundo nos dizia Carlos, tinha o único e verdadeiro “comunismo” do mundo. “O resto, incluindo Cuba e a URSS, é só embromação”, dizia, com convicção de um crente, o nosso Carlos.

No horário do recreio, na calçada do anexo onde funcionava a nossa turma, em uma área externa à Escola Estadual Professor Antônio Dantas, discutíamos política e as letras das músicas de Chico Buarque. Sim, porque a Rádio Tirana tinha uma programação musical na qual só tocavam músicas do Chico e de mais uns dois ou três (Geraldo Vandré, Vila Lobos, Elis Regina e João do Vale).

Sonhávamos com a Revolução e com as meninas do 3ª série ginasial. Se possível, faríamos comícios para que elas nos notassem...

Mas também adorávamos doce de goiaba. Próximo à nossa escola, havia um bar no qual se podia comprar uma fatia de doce de goiaba (“de lata”). Os felizardos que tinha dinheiro para saborear essa oitava maravilha da culinária, podiam se refestelar com água gelada a gosto. E aquela água era um drink dos deuses! Um privilégio para poucos, dado que, naqueles tempos, em poucas casas de Apodia havia uma geladeira.

Araguaia, Revolução, Chico Buarque, meninas da 3ª série e doce de goiaba. Não sei exatamente a ordem, mas essas eram as nossas paixões naquele agora já longínquo ano de 1974.

Não fizemos a Revolução e nem as meninas (pelo menos àquelas da 3ª série) nos deram bolas. Dispersamo-nos pelo mundo. E ocorreu conosco o que ocorre com as amizades de infância: tornam-se irreconhecíveis quando os amigos de outrora crescem.

Nunca mais revi os companheiros de sonhos, delírios e discussões. Mas, ainda hoje, quando como um doce de goiaba (coisa que ocorre cada vez como menor freqüência, dado que devo seguir conselhos médicos e controlar o açúcar no sangue, coisa da idade), lembro de Revolução e meninas. E alguma música de Chico Buarque me vem à cabeça.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

O marketing não vence a violência

Nos últimos tempos, especialmente nas eleições, somos bombardeados com propostas de copiar uma suposta fórmula exitosa de enfrentar a violência testada na Colômbia. Pois não é que agora, depois de tanta propaganda, os levantamentos apontam um recrudescimento do número de homicídios? Confira na matéria abaixo. O texto, traduzido do espanhol, foi-me enviado pelo Ex-Blog do César Maia.

CRESCEM OS HOMICÍDIOS EM MEDELLÍN E CALI! NÚMEROS NÃO BATEM COM A PROPAGANDA!

(El Tiempo, 04) 1. O total de assassinatos na Colômbia, em 2009, foi de 15.817 ou 32 mortes por 100 mil habitantes. Em Medellín houve um aumento de 64% e foram 1.432 homicídios (obs.: o que alcança 62 por 100 mil se for na cidade e 41 por 100 mil se for na região metropolitana). Em Cali o aumento foi de 17% alcançando 1.615 homicídios (obs.: 75 por 100 mil se for na cidade e 57 por 100 mil se for na região metropolitana). Na região do 'Valle' (obs.: onde opera o mais violento cartel de cocaína hoje e que tem Cali como capital) foram 2.997 assassinatos ou 52 por 100 mil habitantes.

2. Em essência, o narcotráfico e situações conexas, como os ajustes de contas; o controle das áreas de cultivo; os corredores para sacar a droga; e o manejo das chamadas 'ollas' ou 'plazas' nas cidades são, entre outras, as causas dos homicídios, segundo a Polícia.

3. Oito de cada dez casos de homicídios foram cometidos com armas de fogo. Dos 15.817 assassinatos, 16 por cento destes (2.467) foram provocados com arma branca. O sicariato, que se fez mais visível nas cidades por assuntos de narcotráfico, representou 6.999 mortes (44,2% do total). Outros 768 homicídios ocorreram em assaltos (4,9%), 213 por ataques de grupos armados ilegais, e 139 ocasionados por gangues emergentes. A parte das vítimas mais afetada por idade foi a compreendida entre os 18 e 32 anos. O informe da Polícia não menciona Bogotá, mas em 2009 chagaram a 1.628 (mais 11%), (obs.: 24 por 100 mil), segundo a Medicina Legal.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Sarah Brightman

Clique aqui e assista Sarah Brightman e Fernando Lima cantando Pasión. Vale o clique!

Lula e Penélope Cruz juntos

Não, não é um caso de amor. Ao menos até onde eu sei. É que os dois, mais o Obama, Romam Polansky e algumas outras personalidades públicas, foram, por razões diversas (nem sempre positivas, diga-se de passagem), considerados protagonistas de 2009 pelo jornal espanhol El País.

Perdoem-me os lulistas, mas este post será ilustrada pela atriz. Já temos muitas fotos de Lula por aí, não é?

A ausência da demografia nas humanidades na UFRN

Não sei por que cargas d’água a disciplina de demografia foi excluída do curso de Ciências Sociais da UFRN. O que eu sei é que essa ausência trouxe muitos prejuízos para a formação de futuros sociólogos e antropólogos.

E, de quebra, para todo o centro no qual o curso localiza-se. O resultado é que, na UFRN, os especialistas em demografia, e os temos em quantidade e qualidade, estão acantonados no Centro de Ciências Exatas e da Terra.

Claro!, os caras são competentes e estabelecem pontes e conexões com grupos de pesquisa de outros centros. Mas não é disso que eu estou tratando. O que chama a atenção é o fato de esses profissionais estarem ausentes das humanidades.

Departamentos como os de Ciências Sociais, Políticas Públicas e Geografia bem que poderiam reservar vagas, nos próximos concursos, para demógrafos. Talvez essa medida contribuísse mais para a formação de nossos alunos do que a contratação de algum(a) especialista em uma apêndice do apêndice da décima parte de uma sub-questão de uma teoria que esteja na moda nos ambiente politicamente corretos das universidades do chamado “primeiro mundo”.

Será jogo de campeonato a eleição para governador(a) no RN

Em jogo de campeonato, sabemos todos quantos amamos o futebol, a estética subordina-se à necessidade imperiosa de somar pontos. Daí porque, se você é uma das pessos que vira as costas para o nobre esporte bretão e para a locução esportiva, os narradores esportivos (que, não raro, torcedores apaixonadas) criaram o bordão impagável: "joga a bola pro mato que o jogo é de campeonato".

E é assim... Em jogo de campeonato vale a catimba (uma enrolação, um "boneco", como diriam os apodienses) e, se o time estiver na frente no campeonato, "deixar o tempo correr".

Por isso mesmo, há sempre a possibilidade de que, ao final, o campeonato revele-se realmente uma "caixinha de surpresas". E aí, time que esteve na frente por muitas rodadas, derrapa na curva. E feio. Foi o que aconteceu, dentre outros, com o time do São Paulo no último brasileirão.

E daí? O que diabos queres dizer, ô meu? O que isso diz sobre as eleições para o governo do Rio Grande do Norte? Daí, meus lindos e lindas, quero apenas chamar-lhes a atenção para o fato de que quem está na ponta, liderando nas pesquisas, ainda terá que fazer muito esforço para levar a taça nas eleições de outubro.

É bom lembrar essa lição simples porque, não raramente, os defensores da candidatura da Senadora Rosalba Ciarline (DEM), líder disparada nas pesquisas de opinião para ocupar o Palácio Potengi, comportam-se como se o campeonato, digo as eleições de outubro próximo, fossem algo assim como um passeio. E, convenhamos, elas nunca são um passeio aqui no RN.

Por outro lado, não existe WO na política. O time adversário nunca falta ao encontro...

O mais provável adversário de Rosalba, o Vice-Governador Iberê Ferreira de Sousa (PSB), irá para as eleições com a retaguarda da máquina estatal. E isso não é pouco em nenhuma eleição no Brasil. Terá ainda o apoio do PT e do Presidente Lula. Outros elementos tampouco desprezíveis.

Ah, mas estás a subestimar as pesquisas? Eu? Nunquinha... Mas pesquisa eleitoral, caríssimos, não podem ser tratadas como informações estanques e absolutas. Os cenários mudam. E mudam muito, especialmente quando o jogo esquenta. E o jogo vai esquentar. Basta lembrar um dado: mesmo o rosalbismo (e o proto-rosalbismo) jogando na canela contra Iberê na Assembléia Legislativa, ainda assim, ele terá como "agradar" muitas lideranças locais. E isso redefine muitas coisas.

Não, as eleições não terão a beleza estética de um jogo da Seleção de 1982, mas valem bem uma boa cobertura crítica. Tentaremos fazer isso aqui. Pode apostar!

domingo, 3 de janeiro de 2010

Bom resto de domingo!

Vou prá luta. Chega de blogar, por enquanto. O domingo não espera... Deixo-te, então, na companhia de Gipsy King. A qualquer momento, assim que der na telha, volto cá.


O Brasil que está mudando

Em uma outra reportagem, também publicada no Estadão, uma boa amostra das mudanças sociais que estão a redefinir a vida social brasileira.

No sertão baiano, agora tem moto e frango congelado
No sertão baiano, agora tem moto e frango congelado
Crescimento da renda gera revolução de consumo no interior do País
Tiago Décimo, SALVADOR – O Estado SP

O termômetro marcava 42 graus no início de uma tarde de dezembro no distrito de Gonçalo, o mais populoso do município de Caém (BA), a 330 quilômetros de Salvador, no sertão baiano. A maioria dos quase 3 mil moradores escondia-se em suas casas para fugir do calor. O ambiente hostil, porém, não desestimulou um grupo de vendedores de consórcio de uma concessionária de motocicletas do município vizinho de Jacobina. Eles atravessaram uma estrada de terra para satisfazer o novo sonho de consumo dos habitantes do povoado. As bicicletas, ainda o principal meio de transporte no distrito, pouco a pouco estão sendo deixadas de lado e trocadas pelas motos. “A promessa de vendas compensa o esforço”, justifica Manoel Vitor, um dos vendedores.

A cena é nova e reflete uma pequena revolução em curso no sertão baiano. É em locais como Gonçalo – que ainda desconhece o asfalto e tampouco recebe sinal de telefonia celular – que se percebe mais facilmente o impacto do crescimento de renda das populações mais carentes. Os seguidos aumentos do salário mínimo acima da inflação, o acesso facilitado a empréstimos, em especial os consignados, e o fortalecimento de programas de distribuição de renda, como o Bolsa Família, são apontados como os desencadeadores das mudanças.

Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento Social, praticamente todas as famílias de Caém (3.135) foram cadastradas como de baixa renda (renda familiar per capita menor ou igual a meio salário mínimo). Mais da metade delas recebiam o Bolsa-Família.
Até recentemente, Gonçalo não passava de um conjunto de casas pobres, todas térreas e coladas umas às outras, habitadas por trabalhadores rurais. A população era abastecida por dois mercadinhos. Itens mais “nobres”, como remédios e material de construção, só em Caém, quando não apenas em Jacobina ou Salvador. “A gente não sabia o que era um frango congelado ou uma calabresa. Nem conseguia comprar roupas”, lembra o comerciante Amilton de Queiroz Souza, de 35 anos. “O que se consumia era, basicamente, o que era produzido aqui.”

O panorama tem mudado rapidamente. Souza, por exemplo, montou a primeira loja de material de construção do local há cinco anos, hoje emprega duas pessoas – está em busca de uma terceira – e fatura entre R$ 40 mil e R$ 50 mil por mês.

Com o tempo, abriu ainda uma farmácia, que começará a funcionar em breve também como posto bancário.

Irmão de Souza, Angelo Marcos de Queiroz, 37 anos, está há 15 à frente de um dos mercados pioneiros na cidade, que leva seu sobrenome. Em meados de dezembro, deixou de lado o imóvel antigo, que mais parecia um boteco de beira de estrada, para inaugurar um novo estabelecimento, já assemelhado aos supermercados de cidades maiores. “Temos de modernizar, porque todo mundo melhorou de vida e já consegue comparar nosso comércio ao de outros lugares”, conta. De acordo com ele, o faturamento da loja é duas vezes maior que há cinco anos.
Moradores, como a sorridente aposentada Alaíde Dias da Silva, de 64 anos, vão com cada vez mais frequência à loja. “Compro mais porque a aposentadoria está maior”, diz. “Já passei por muito aperto nesta vida, mas agora consigo pagar as contas e comprar coisas, para mim e para meu filho.”

Em um local carente de quase tudo, o campo é grande para ser desbravado pelos empreendedores locais. Nos últimos tempos, Gonçalo ganhou uma loja de eletrodomésticos, duas de roupas, duas lan houses e uma de informática, montada graças à popularidade dos pontos de acesso público à internet.

PROBLEMA

Apesar da cena animadora, o incremento da renda, em especial por meios não diretamente relacionados à produção, como nos casos de sistemas de distribuição de renda do governo e de empréstimos, começa a causar problemas até para um distrito em que praticamente todo mundo se conhece.

Proprietário do maior mercado de Gonçalo, Angelo Matos de Queiroz é muito cético em relação a programas como o Bolsa Família. “Claro que ajuda a circular dinheiro, mas cria um problema: ninguém mais quer saber de trabalhar”, afirma. “Tenho vaga em aberto e estou perdendo funcionários. Eu contratava um rapaz na minha panificação que sabia o trabalho, mas não queria fazer, porque preferia receber esse negócio aí.”

Os empréstimos, em especial os consignados, para funcionários públicos e aposentados, também causam temor na vila. “Isso é uma bomba de efeito retardado”, avalia Amilton de Queiroz Souza, da loja de construção. “O pessoal vê a facilidade de pegar R$ 4 mil ou R$ 5 mil, para pagar em quatro ou cinco anos, e vai fazendo dívida, achando que assim é mais fácil fazer uma casa para um filho. Está errado, mas eles vão acabar vendo isso.”

Os garimpeiros brasileiros no Suriname

Dois dos principais jornais brasileiros, Folha e Estado de São Paulo, publicam, nas edições de hoje, reportagens sobre a situação dos garimpeiros brasileiros que buscam ouro nas terras do Suriname. Como você sabe, recentemente os brasileiros foram alvo de um ataque dos maroons ("marrons"), afro-decendentes locais que têm acumulado ressentimentos contra os nossos conterrâneos.

A reportagem da Folha, indisponível para quem não é assinante do jornal ou do UOL, retrata diversos anglos do conflito. E trata, com competência, de uma faces do problema dos garimpos na área: o crescimento do uso do crack pelos mineradores. É uma história aterradora.

Já a matéria do Estadão, dado que disponível livremente no site do jornal, transcrevo mais abaixo.

A saga dos garimpeiros brasileiros
De Serra Pelada ao Suriname, eles vivem em constante deslocamento
Leonencio Nossa, BRASÍLIA

Eles vivem a aventura e o drama da exploração de ouro há pelo menos 40 anos. Os garimpeiros atacados no Suriname no final de 2009 fazem parte de um grupo de brasileiros nômades que estão em constante deslocamento desde a década de 1970. Fugindo das secas, milhares de homens deixaram naquela época o sertão nordestino e os chapadões maranhenses e atravessaram o rio Tocantins em busca de ocupação nas clareiras abertas na Floresta Amazônica.

A primeira parada foi no Sul do Pará, onde trabalharam em canteiros das obras da Transamazônica e da hidrelétrica de Tucuruí. Ainda na região, eles atuaram nos garimpos das margens dos rios Itacaiúnas, Araguaia, Tocantins e Vermelho. Foi precisamente em Serra Pelada, a partir de 1980, que mais de 40 mil deles ficaram conhecidos no Brasil e no exterior. O garimpo, que era controlado por homens do regime militar (1964-1985), encheu os cofres do Banco Central durante uma época de crise econômica internacional.

Com o declínio da mina poucos anos depois e da própria ditadura, os garimpeiros seguiram para as margens do rio Xingu, onde trabalharam no não menos lendário garimpo do Creporizão, em Itaituba. Lá, reinou José Cândido de Araújo, o Zé Arara, um dos tantos personagens que surgiram nos telejornais ostentando pescoços e bocas cheias de ouro. Zé Arara foi mais longe: chegou a contar com uma frota de aviões.

Uma parte dos garimpeiros ficou em volta de Serra Pelada, servindo de massa para entidades políticas que chegaram à região, como o Movimento dos Sem-Terra (MST). Outra leva desses garimpeiros foi mais longe, alcançando as terras dos índios ianomâmis, em Roraima, e as margens do Madeira, em Rondônia.

O aumento da fiscalização de órgãos ambientais nos anos 1990 veio junto com a queda do preço do ouro e da produção dos garimpos da Amazônia brasileira. Esse rigor dos agentes públicos e a presença do Estado nos grotões da região, no entanto, deram novo gás ao êxodo dos garimpeiros. Eles acabaram, então, ultrapassando as fronteiras do País, refugiando-se no Suriname, na Guiana e na Guiana Francesa.

DIÁLOGO

O secretário nacional de Justiça, Romeu Tuma Filho, estima que 18 mil brasileiros vivem em situação precária nos garimpos do Suriname. O governo enviou, ao longo dos anos, diversos representantes para conhecer as minas do país vizinho e a realidade dos imigrantes brasileiros. São homens - e também mulheres - que não têm sua situação regularizada e estão sob controle de milícias e máfias dos garimpos.

O diálogo entre os dois governos é afetado pela fraca estrutura do Estado surinamês. "Tenho a impressão de que o que ocorreu em Albina não foi um caso isolado", afirma Tuma Filho. "Os brasileiros que estão lá vivem em condições sub-humanas", acrescenta. O secretário ressalta que a solução para o problema é sempre demorada por questões diplomáticas. "Não se pode desrespeitar a soberania dos outros", conclui Tuma Filho.

"Eles não conhecem fronteiras", diz a diretora do departamento de Estrangeiros do Ministério da Justiça, Izaura Miranda, que tem acompanhado nos últimos anos a trajetória desses garimpeiros. Ela acompanhou o auge dos garimpos paraenses, conheceu Zé Arara - além de outras dezenas de mitos - e tem na memória relatos sobre uma série de massacres que ocorreram nas minas da região amazônicas nas últimas duas décadas.

Izaura ressalta as dificuldades do Suriname de colocar em prática os acordos firmados com o Brasil com o objetivo de regularizar a situação desses trabalhadores. Ilegais, os garimpeiros são alvos fáceis da máfia do trabalho escravo e do tráfico de pessoas, observa.

Em um filme, as dores de um conflito

Roberto Hugo Bielshowsky já havia comentado positivamente o filme. Não o assisti quando estava passando nos cinemas. Uma pena!

Sábado passado, após tomarmos um bom vinho, Kilder Barbosa emprestou-me o dvd. Lemon Tree (Limoeiro, acho, seria a tradução adequada). Um filme que ajuda a pensar os dramas e dores demasiadamente humanas produzidas e potencialiadas pelo conflito entre israelenses e palestinos.

O filme narra a luta de uma palestina, vizinha de um recém-empossado ministro da defesa de Israel, para preservar a sua plantação de limoeiros. Dessa plantação, herdada pela família, ela colhe os limões que, em parte, dão o seu sustento. Com a chegada do novo vizinho, o agora ministro, o serviço secreto israelense indica a derrubada da plantação de limões da vizinha em nome da segurança do político. Para surpresa geral, inclusive das autoridades palestinas, a vizinha, uma viúva, decide travar uma batalha judicial contra o seu poderoso adversário. E, em última instância, contra o Estado de Israel.

No meio disso tudo, os dramas humanos da viúva, sua relação com o advogado palestino que a representa, e a crise existencial da esposa do ministro.

É um filme para você assistir agora nas férias. E, caso seja professor, passar também para os seus alunos. Vale bem uma boa discussão!

Em tempo: observe, ao assistir ao filme, a homenagem ao grande jogador da seleção francesa, Zinedine Zidane.

Veja abaixo o trailer do filme (não encontrei um com legendas em português, perdoe-me).

Avatar, o filme

Não resisti. Fui ver Avatar, a nova obra cinematográfica de James Cameron. Boa fotografia, roteiro bem construído e uma utilização competente das novas tecnologias (como os truques e imagens trabalhadas em computador).

Lembra grandes filmes como "Planeta dos Macacos" (refiro-me, obviamente, ao filme de Franklin Schaffner, de 1968) e "Blade Runner". Ficção científica de primeira, com pano de fundo lírico e romântico.

Maravilha!

Ainda a crise militar...

Inflada por parte da mídia, a tal crise militar vai sendo obnubilada por outros acontecimentos. Dentre eles, a tragédia de Angra dos Reis. É até compreensível que alguns jornalistas e analistas bissextos tentem dar vida à "crise". Janeiro é um mês terrível para quem tem, por dever de ofício, a tarefa de produzir análises sobre o mundo político.

Agora, falando sério!, essa "crise" é uma forma de atingir Tarso Genro e Dilma Roussef. Tarso? Sim! Parte da mídia nativa não suporta ter um Ministro da Justiça comprometido com os direitos humanos e com posições firmes a respeito de assuntos nos quais os políticos, certamente aconselhados pelos marqueteiros, fogem como o diabo esconde-se da cruz.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Uma indicação de leitura para as férias

Uma leitura que te instiga. E que te leva a refazer antigas leituras. Paisagem e Memória, de Simon Schama, publicado no Brasil pela Cia das Letras, é um daqueles livros que você nunca abandona após a primeira leitura.

Traduzida do inglês com maestria, a edição brasileira é uma obra de arte. Em pape couchê, as ilustrações da obra ganham uma qualidade superior.

Claro! Você pode achar o preço meio salgado. Tudo bem! Mas não se compra uma obra de arte sem um pouco de sacríficio, não é? E, posso te assegurar, eis aí um presente que você vai gostar de dar a si mesmo.


Os rios na literaratura

Na edição on line do jornal El Pais, encontrei um artigo tratando dos rios como referentes e fontes de inspiração da literatura. Trata-se de um excelente texto de autoria do escritor Javier Reverte. É um biscoito fino. Confira aqui (está em espanhol). Garanto que você vai gostar!