quinta-feira, 31 de março de 2011

Governo Dilma aprofunda a crise de identidade do PSDB

Saiba como. Acesse aqui, atravé do Blog Leituras do Favre, um artigo de autoria do jornalista Raimundo Costa, do Valor Econômico, tratando do assunto.

Um blog muito interessante.

A presença judaica na Amazônia completou duzentos anos. Pois é, duzentos. Fato social, político e cultural da maior importância para a vida nacional. Queres saber um pouco mais sobre essa presença? Então, não marque bobeira, acesse ao interessante Blog da Amazônia Judaica.

quarta-feira, 30 de março de 2011

Um artigo que é uma aula de sociologia econômica

Confira, no último número da revista TEMPO SOCIAL, um artigo de autoria de Johana Parra, traduzido para o português, com competência, por Ana Cristina Nasser, intitulado "Uma sociologia do business na capital mexicana". Trata-se de uma verdadeira aula de sociologia econômica. Muito legal! Clique aqui e leia.

André Gorz e Axel Honneth

Articular as elaborações de André Gorz com aquelas produzidas por Axel Honneth é um desafio daqueles. Só para quem transita com maestria no mundo da teoria social contemporânea. É o que faz, com competência, Sílvio Camargo em um artigo publicado no último número da REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS. Confira um trecho aí embaixo. Depois, como você vai ficar com vontade de ler mais, é só clicar no link. Confira!

Experiência social e crítica em André Gorz e Axel Honneth
Sílvio Camargo

O presente artigo tem como objetivo apresentar algumas reflexões em torno do conceito de experiência social a partir de alguns textos de André Gorz e Axel Honneth. Pretendemos mostrar que o conceito de experiência cumpre um papel significativo para a teoria crítica da sociedade, desde o seu momento originário na Escola de Frankfurt. A experiência pode se constituir, no contexto de uma nova etapa do capitalismo tardio, como um conceito-chave para que a teoria social mantenha presente seu horizonte emancipatório e normativo, bem como para que possamos, em face de um estágio hoje avançado e diferenciado de dominação capitalista, pensar ainda sobre a emancipação humana e a ideia de utopia.

O conceito de experiência social revela um latente conteúdo normativo e utópico que demarca, embora nem sempre explicitamente, diferentes momentos da Teoria Crítica. Importante para a primeira geração de pensadores da Escola de Frankfurt, o conceito de experiência tem assumido novas conotações na obra de pensadores que, de maneiras distintas, empreendem uma teoria crítica da sociedade. Entendemos que as obras recentes de André Gorz e de Axel Honneth fornecem elementos teóricos pelos quais podemos reelaborar o conceito de experiência tomando como referência, de um lado, os problemas originários suscitados pela Teoria Crítica e, de outro, um contexto histórico marcado por severas transformações no capitalismo mundial, principalmente ao longo das três últimas décadas.

No âmbito da Teoria Crítica o conceito de experiência adquire sentido próprio em relação ao modo com que é postulado, pois visa precisamente afastar-se da ênfase positivista, que situa tal conceito como decorrência da aplicabilidade do método como instância superior do processo de investigação da realidade, ou, como critério, a partir das regras positivas da ciência, para se chegar à verdade. A Teoria Crítica, já em suas primeiras formulações, propõe desmistificar tal uso restritivo do conceito de experiência, ao procurar construir uma teoria normativa que tome como base precisamente experiências sociais pré-teóricas e pré-científicas, elementos-chave não só para o empreendimento da crítica imanente, mas também para a formação de uma teoria normativa.

São tais experiências, precisamente, que permeiam o ensaio paradigmático de Horkheimer sobre a Teoria Crítica (1983 [1937]). Esta assumiu ali o caráter de autocrítica de um determinado momento histórico, qual seja, o desabrochamento do capitalismo tardio, cujos desdobramentos nas duas décadas subsequentes são bastante conhecidos. Pretendemos mostrar que embora o conceito de experiência não tenha deixado de permear todo o desenvolvimento histórico da Teoria Crítica, nas duas décadas posteriores ao momento originário dos anos de 1930, a noção de experiência social deixou de se mostrar como uma temática teórica explícita, notadamente nas reflexões de Adorno e Horkheimer. Entendemos que a obra de Axel Honneth, e sua teoria do reconhecimento, trazem novamente o conceito de experiência para o centro do cenário teó­rico contemporâneo, embora apresente inúmeros problemas que podem se tornar frutíferos quanto à análise da relação entre dominação e emancipação na sociedade contemporânea.

Iniciamos este ensaio com uma rápida apresentação sobre o como o conceito de experiência surge em diferentes momentos do pensamento de Theodor W. Adorno quanto à categoria do "não idêntico", que norteia toda nossa reflexão. Ela só é elucidada, entretanto, no âmbito da dialética negativa adorniana. A segunda parte aborda reflexões empreendidas por André Gorz em suas últimas obras, que trazem à tona, com muita clareza, o conceito de experiência como algo sobre o qual podemos pensar a utopia, mesmo no capitalismo avançado, a partir das contribuições da fenomenologia, particularmente de Sartre. Em seguida, apresentamos os contornos fundamentais da teoria crítica do reconhecimento de Honneth, explicitando o modo pelo qual o autor recupera a importância do conceito de experiência, resignificando-o para o contexto de sua própria teoria. Aqui devemos dar atenção especial às suas recentes elaborações quanto ao conceito de reificação, na medida em que também este remete para problematizações que tencionam a teoria crítica com a fenomenologia, neste caso, na versão heideggeriana. Por fim apresentamos nossas considerações finais.


Leia o artigo completo aqui.

Blog do Alon

Clique aqui e acesse o Blog do Alon. Destaco as suas análises sobre a morte de José Alecar e a respeito das revoluções no mundo árabe.

Deu na Tribuna do Norte

MPF/RN quer garantir imparcialidade em concursos para professor substituto da UFRN

As normas para garantir imparcialidade em processo de seleção de professor substituto da Universidade Federal no Rio Grande do Norte (UFRN) devem obedecer o mesmo regramento estabelecido para os concursos de professor efetivo da instituição, especialmente no que diz respeito às proibições de participação na comissão que avalia os candidatos. O alerta sintetiza a recomendação enviada hoje, 30 de março, pelo Ministério Público Federal no RN (MPF/RN) ao Conselho de Ensino Pesquisa e Extensão (Consepe) da universidade.

A recomendação foi motivada por representação feita junto ao MPF/RN contra a aprovação em primeiro lugar de candidato a professor substituto que, segundo relato, já havia produzido vários trabalhos acadêmicos com membro da Comissão de Seleção, inclusive publicados em coautoria no período de dois anos antes do concurso. O vínculo narrado é atualmente admitido pela Resolução nº 58/2007 do Consepe, que regulamenta a seleção para professor substituto da UFRN, pois a referida norma veda apenas a participação, na comissão, de cônjuge, companheiro ou parente até 3º grau de qualquer dos candidatos.

Já a Resolução nº 154/2009 do Consepe, que estabelece normas do concurso para professor efetivo, proíbe a participação na Comissão Examinadora de "integrante de grupo ou projeto de pesquisa ou co-autoria de publicação com algum dos candidatos nos últimos cinco anos; co-autor de publicação com algum dos candidatos nos últimos cinco anos", entre outras vedações visando assegurar a imparcialidade dos membros da comissão.

Para o procurador da República José Soares, que assina a recomendação do MPF/RN, "está evidente que a Resolução 154/2009 atende, melhor do que a Resolução 58/2007, aos deveres de moralidade e impessoalidade da Administração Pública, e tais deveres são exigíveis da Administração em todos os seus atos, inclusive quando realiza processo simplificado para professor substituto", acrescenta o procurador.

O presidente do Consepe tem agora o prazo de 15 dias, a partir do recebimento da recomendação, para informar a data da reunião em que o Consepe deliberará sobre a modificação da Resolução nº 58/2007, para incluir as vedações impostas pela Resolução nº 154/2009 referentes aos membros da comissão avaliadora.

Fonte: Ministério Público Federal/RN

Polícia? Para quem?

O texto abaixo, publicado no CADERNOS CRH, merece a atenção de todos quantos se preocupam seriamente com a questão da segurança pública no país. Os autores, Jacqueline Muniz e Eduardo Paes-Machado, dispensam apresentações. São estudiosos, como se antigamente, mais do que gabaritados.

Polícia para quem precisa de polícia: contribuições aos estudos sobre policiamento

Jacqueline Muniz e Eduardo Paes-Machado

INTRODUÇÃO

O campo dos Estudos sobre Policiamento (Policing Studies)1 ou da Sociologia da Força Pública, como defendeu Jean Paul-Brodeur (2004), desenvolveu-se nos Estados Unidos, na segunda metade dos anos 60, e no Reino Unido, na década de 80, estendendo-se depois a outros países do mundo. Em ambos os países, o interesse acadêmico pelo fenômeno do policiamento foi despertado pelas crises de hegemonia e erosão da legitimidade das agências policiais, resultantes da ascensão de movimentos sociais de negros, pacifistas e operários desempregados. Dessas mobilizações e das respostas policiais violentas que lhes foram dadas de modo frequente emergiram grandes debates públicos acerca do papel dessas agências como violadoras de direitos. Tais questionamentos se perderiam, provavelmente, em generalidades, ou não gerariam uma vertente produtiva de pesquisa sobre a polícia, não fosse a crescente irradiação intelectual da teoria da rotulação (ou reação social), com seu foco nas instituições disciplinares e agências de controle social (Becker, 1963). Segundo esta abordagem, tais agências têm um papel paradoxal, porque contribuem ativamente para produzir comportamentos desviantes e delituosos que deveriam, por princípio, coibir. Ao chamar a atenção para a autonomia relativa das agências de controle social para decidirem, interpretarem e aplicarem códigos normativos e legais segundo critérios próprios e valores dominantes na sociedade, a teoria da rotulação contribuiu para a construção conceitual do poder discricionário e do uso (policial) da força, os quais apresentam-se como as chaves definidoras para os estudos sobre policiamento.2 Não é de estranhar, assim, que os estudos sobre policiamento - com seu foco em práticas capilares de governo, operadas por "políticos de esquina", como foram denominados os policiais (Muir Jr., 1977), e capazes de influenciar as percepções de cidadania - sejam liderados, no mundo e igualmente no Brasil, por cientistas sociais3(Manning, 2005). Nessa linha, e como bem disse David Garland a respeito da criminologia, os estudos sobre policiamento usam amplamente as teorias, métodos e técnicas de pesquisa das ciências sociais. Dado o seu caráter poroso e intersticial, eles se nutrem e, ao mesmo tempo, contribuem para abrir perspectivas, experimentar e agregar conhecimentos aos repertórios dessas disciplinas. Mais parecidos com certas divindades hindus, com múltiplos membros, caras e cabeças, do que com os monólitos celtas, o policiamento e a polícia são fenômenos complexos que, na suas inter-relações com outras expressões de controle, regulação e coerção, constituem um terreno de pesquisa fascinante e desafiador. Para o entendimento deste campo, vale a pena retomar a diferença central, ainda pouco compreendida entre nós, entre policiamento e polícia e propor uma tipologia das modalidades assumidas por esses fenômenos, capaz de subsidiar a sua compreensão na sociedade brasileira.

POLICIAMENTO

O fenômeno do policiamento tem a sua inteligibilidade articulada à noção de controle social e suas dinâmicas descontínuas na vida social. Nesse recorte, ele pode ser visto como um expediente particular de controle pela ênfase no seu caráter instrumental, isto é, na sua capacidade de produzir efeito inibitório e o mais imediato possível sobre os acontecimentos e as atitudes de indivíduos e grupos. Constitui-se como um variado repertório de meios (vigiar, regular, impor, fiscalizar, patrulhar, guardar, conter, etc.), aplicados através de certos modos, para determinados fins: a sustentação de um status quo, de uma determinada visão e expectativa de ordem que se deseja obedecida e, em alguma medida, consentida pelos indivíduos ou grupos policiados. A natureza política do policiamento, como bem assinalou Reiner (2004), se expressa em um agenciamento de meios visando a sustentar o exercício de certos tipos de poder e de autoridade, que podem ir do extremo da sujeição à obediência negociada. Se isso serve como ponto de partida, então pode-se afirmar que os estudos sobre policiamento contribuem para melhor compreender os dispositivos de coerção e coesão social e seus efeitos, e, com isso, distinguir as práticas sociais de controle e regulação, seus sentidos e funcionalidades, já que nem todo expediente de controle corresponde às formas instrumentais de policiamento. O policiamento caracteriza-se, assim, como uma expressão pragmática, funcional, utilitária e invasiva do como sustentar a submissão, sob algum consentimento, às regras do jogo, vistas como objeto de enforcement (ou aplicação da lei), ou a uma determinada ordem pactuada ou não, com o recurso à coerção respaldada pela força. Observados no seu plural, especialmente nas sociedades complexas, os policiamentos e suas práticas ultrapassam a administração do Estado, sendo-lhe historicamente anteriores. Tal evidência é relevante, uma vez que se podem reconhecer práticas de policiamento em sociedades sem Estado, assim como práticas de policiamento que não são administradas por agências estatais. A anterioridade das práticas de policiamento à emergência de burocracias especializadas e estatais na sua administração, põe em relevo duas questões caras à compreensão desse conjunto de práticas sociais de controle e regulação (Bayley, 2002; Reiner, 2004). A primeira, é a de que o policiamento não constitui um lugar hegemônico do Estado. Sobretudo quando se considera que a ambição do Estado, desde seu surgimento, é o monopólio legal e legitimo da força e, por conseguinte, das práticas de policiamento que expressam e sustentam sua soberania sobre um determinado território e população, assim como dos dispositivos de governo, sobretudo as forças armadas e polícia, as quais são objeto de uma espécie de duopólio. A segunda, como decorrência, é que as agências especializadas estatais, as polícias, também não possuem, ainda que isso não seja abertamente assumido, por uma estratégia de legitimação e ampliação de poder, o monopólio das práticas de policiamento. A possibilidade de uma teoria do policiamento e da polícia começa com essa distinção, posto que ela permite compreender que, por um lado, a polícia não se explica por suas funcionalidades ou aplicações e, por outro, que o policiamento não é apenas uma expressão de governos estatais. Em poucas palavras, em lugar de estar restrita a uma única organização, a polícia pública e estatal, a atividade de policiamento é realizada por uma vasta gama de organizações e arranjos coletivos.

POLÍCIA E CIDADANIA

Dentre a miríade de formas histórico-sociais e culturais assumidas pela atividade de policiamento está a polícia pública e estatal, uma "criatura" nascida há pouco mais de duzentos anos atrás, na Europa Ocidental, e que, de lá para cá, cresceu e se multiplicou em outras partes do mundo. Naquele momento histórico, a força policial nasceu para substituir as forças militares que, segundo o modelo de defesa da soberania (Foucault, 2003), mantinham a ordem pública nas grandes cidades. Tal modelo não combinava bem com as novas práticas de governo - fundadas na disciplina e na normatização, e na consequente normalização das condutas dos novos sujeitos sob domesticação, constituídos como indivíduos e cidadãos, isto é, como atores políticos e morais autônomos. Estamos falando aqui da redefinição de um tipo de governo, de ambição democrática e liberal, e da construção da polícia, como um corpo especial de funcionários - uniformizados e armados ou não -, para fazer o trabalho de manutenção da ordem entre e por sobre os corpos e territórios. Trata-se da fabricação de dispositivos coercitivos imediatos e, ao mesmo tempo, indiretos, cujo objetivo era o de comunicar a substituição da violência deliberada e a administração de sua escassez por meios legítimos de força, em nome da emergência de uma forma de governar capaz de conduzir de perto e à distância (governance at a distance) as comunidades nacionais. Tamanha mudança nos processos de governo e de estabilização do exercício de poder tem implicações fundamentais no tocante aos modos, aos meios e aos fins relacionados à produção de obediências, agora sob algum consentimento, e suas estratégias de legitimação. Em contraste com a doutrina da força máxima que norteia as forças armadas, a polícia pauta sua atuação pelo princípio da força mínima, visando a sustentar um determinado pacto político, assentado sob direitos e garantias, que se deseja construído com ou sob a autorização de indivíduos ou grupos policiados (Brodeur, 2004). Dito de outra maneira, busca-se garantir uma forma estatal e estável de governo, afirmando e restituindo os limites sobre os usos e abusos de poder entre os indivíduos e deles com o próprio Estado e seus agentes, sob o império da lei. Contudo, em muitas sociedades contemporâneas - sobretudo as pós-coloniais, com escassa tradição democrática ou profundas clivagens sociais e étnicas -, as organizações policiais seguem abertas às dinâmicas pré-modernas ou tradicionais de proteção, reproduzindo práticas desiguais, discriminatórias e excludentes sobre uma parcela da população colocada à mar-gem, ou situada na periferia do pacto social.4 Nesse cenário de desigualdade em direitos, as flutuações do crime e a percepção generalizada de insegurança, assim como os seus impactos sobre a opinião pública, reforçam a aprovação coletiva de práticas heterodoxas de policiamento público e estatal, nas quais se incluem toda sorte de violações e violências socialmente autorizadas. Diante desta perspectiva, a reflexão sobre a polícia não pode desconsiderar as diversas faces assumidas por essa complexa organização em suas expressões de governo: um dispositivo de dominação (de classe, raça, gênero e geração), uma instância produtora e distribuidora de moral e "moralismo" conflitantes, um instrumento de sustentação de direitos a serviço de uma cidadania mais ou menos inclusiva e em processo continuado de afirmação, e um meio de força orientado por fins coletivos e atravessado por seus interesses corporativos. Pode-se afirmar, então, que a relação da polícia com a cidadania é de complementaridade, que se evidencia em um jogo de negociação de verdades, de afirmação e negação, de legitimação e deslegitimação diante da ordem político-social ambicionada ou do escopo do pacto construído, se para alguns ou para todos. A relação da polícia com a cidadania revela, assim, uma tensão criadora e criativa que põe em relevo os modos concretos do governar e seus efeitos em uma dimensão mais sensível e crítica: o exercício autorizado do poder coercitivo ali "nas esquinas", entre nós, que explicita, questiona e redefine os limites e os sentidos do fazer policial pela afirmação de direitos constituídos ou na emergência de direitos difusos e novos direitos. Nessa linha, o fiel da balança depende sempre e mais do que de outras variáveis - a exemplo do nível de escolaridade e do treinamento dos policiais - da orientação governamental, no sentido de limitar ou não o potencial das forças policiais para "invadirem a cerca" ou solaparem os princípios democráticos, bem como da consciência (Cheviny, 1995) e do grau de universalidade dos direitos de cidadania nas sociedades (Ivo, 2008).
Leia o texto completo aqui.

terça-feira, 29 de março de 2011

O blog hoje...

...ultrapassou o limite do blogger. Para ler todas as postagens do dia, dê uma fuçada aí do lado. Combinado?

Ainda sobre a forma de voto no CCHLA: a posição de Alysson Thiago

Alysson Thiago é um cara brilhante. Formado em Ciências Sociais, ex-petiano, é um cara com uma formação invejável. Vale a pena, sempre, levar em conta o que ele escreve.

DEIXEM O STUART EM PAZ!
Alysson Thiago

Continuar um debate em termos moralistas, para saber quem é melhor pra casar se Marx ou Mill, não nos levará muito longe. Essa moral de estado civil é mais do que infrutífera. Ela é perigosa, pois caímos num jogo arriscado de classificações, no qual o discurso se encontra subsumido a uma política de identificação de amigos e inimigos, no qual o interesse principal é tratar os interlocutores como inimigos e adversários a serem desqualificados moralmente, derrotados, assim como desqualificar as pressuposições das quais partem. Isso mais bloqueia o diálogo do que o abre ou o faz avançar. Então, esqueçamos o “diga-me seus autores prediletos, que te direi quem és” ou o xeretamento intelectual sobre os "podres" da vida particular dos autores.

Da mesma maneira, penso ser pouco produtivo, pra não dizer irresponsável, reduzir o debate a uma questão de princípios; de saber quem está a favor da democracia e quem não está, quem adota posições “progressistas” e quem adota posições “reacionárias”; como se as posições contrárias ao voto paritário estivessem unicamente sustentadas na oposição ou rejeição à democracia como valor ou processo político em geral. Essas simplificações obscurecem o mais importante a ser debatido: quais os interesses políticos envolvidos na divergência de posições quanto ao voto paritário? A quem interessa e por que? Quais projetos de universidade, de cultura e política acadêmica, professores, alunos e funcionários estão debatendo ou apresentando à comunidade universitária e em geral?

A meu ver, o uso inapropriado e descontextualizado de princípios políticos, morais e autores são sintomáticos, nesse debate. Não são apenas naturalizações e substancializações, que esquecem as especificidades do campo social – a universidade – em que se está inserido, a desigual distribuição de responsabilidades e expectativas de professores, alunos e funcionários quanto à função primordial da universidade – a produção de conhecimento – e às exigências da sociedade em geral com respeito a cada segmento. Há aí também, uma preocupante finalidade de comprometer e avaliar caráteres determinando seu valor segundo as posições sustentadas, deixando de lado os verdadeiros alvos; as ideias, os projetos, os interesses, as possíveis conseqüências.

Daniel conversa com Cadu sobre Vitullo e o CCHLA

Cadu,

concordo contigo. Não dá para pegar os "preconceitos de uma época", ou de uma classe e atribuir apenas a um autor. Além de injusto, não passa de puro senso-comum.

Este pensamento vai de encontro ao processo de historicização das coisas que a própria teoria marxista defendeu e continua a defender.

Cadu, quanto ao Marx, ele também disse que os povos eslavos nunca iriam constituir um estado sequer...

É como você disse... Se a gente pegar os "defeitos" de cada pensador, não sobra ninguém.

Bobagem isso.

abs.

daniel

O Pescador assesta as baterias contra as posições de Vitullo

Nossa,

Confesso que achei cômico os critérios usados pelo nobre professor Vitullo para situar Stuart Mill como um pensador "conservador" (rs)

Será o que os mesmos critérios seriam válidos para situar seu "Totem" (Karl Marx) também? Afinal, é bom lembrar que Marx achou RAZOAVELVEMENTE NECESSARIO o imperialismo colonialista norte-americano dirigido contra a regiao do México; Afinal, na visao dele, essa útilma regiao era "atrasada" do ponto de vista do desenvolvimento das forcas materiais...

Mas e o que dizer sobre a posição de Marx acerca da relacao amorosa de Engels e uma operaria? Marx reprovava tal relacao em regime de concubinado a ponto de se negar ir ao interro da companheira de Engels, deixando esse último bastante magoado (nada patriarcal, essa conduta de Marx, nao acham?). Ah, mas tem mais, a pérola mesmo é quando Marx se refere aos camponeses como "sacos de batatas", como se fossem esvaziados de "consciência de classe". O tratamento bestializado e etnocentrico (pra nao dizer "RACISMO DE CLASSE")dispensado aos camponeses por Marx é só outro exemplo que permitiria relativizar um pouco a auréola de progressista de Marx...

Mas aí eu estaria sendo injusto também ao nao levar em consideracao as condicoes históricas e culturais (a "Geist Zeit") da época. Acho pertinente desconstruir relacoes encantadas sobre os pensadores clássicos, mas vale também para os pensadores tidos como de esquerda. Ademais, nao é pecado reconhecer componentes libertários em liberais como Stuart Mill. A teoria crítica ganha muito mais quando nao somente reflete sobre o outro, mas tambem sobre si mesma, reconhecendo a sua parte do diabo...!

Alguém questiona Vitullo

Um anônimo questiona o Gabriel Vitullo. Como não se trata de um ataque pessoal, acho que o Gabriel não tem nada contra eu destacar o comentário aqui.

Mais que gritos de guerra ideológico ou acusações sobre a postura de tederminado autor, reduzindo seu pensamento, é necessário colocar em xeque as idéias que estão em jogo, para não ficar em blábláblás desnecessários. Na minha interpretação, ao colocar algumas idéias de Stuart Mill sobre a quesdtão da liberdade, o autor nada mais que quis enfatizar a postura de caráter liberal ("liberdade antes de tudo") que tem determinadas lutas, por mais que elas digam o contrário, assim como utilizar a ideia de proporcionalidade dos votos. Para que possamos entender melhor, é necessário colocar o que Mill falava naquela época, em relação a quê, como, etc. e o que Edmilson, em sua reapropriação dessa idéia está se referindo. Não podemos comparar o voto do CCHLA com as eleições para presidente do Brasil. Isso é negligenciar a maneira como se organizam uma coisa e outra. Há um erro de interpretação, e uma má-vontade recheadas de preconceitos morais, que mais me parece aquilo que Nietzsche chama de ressentimento. Vitullo, gostaria que o senhor pudesse expor mais suas idéias em relação a isso, de forma que fique claro os objetivos almejados por você, ao invés de tentar sugerir leituras de autores que, apesar de trabalhar com o tema voto universário x paritário, tem objetos espefíficos e não nos servem para pensar a conjuntura atual.Eu queria entender melhor isso...

Eleições no CCHLA: a posição de Cadu

Cadu escreveu um bom texto, que está publicada na CARTA POTIGUAR. Vale a pena ler. Clique aqui, leia o artigo de Cadu e dê um passeio pela Carta da gente.

Democracia e a consulta no CCHLA: a posição de Isabela Bentes

A casta do "homo lattes"

Isabela Bentes


Uma casta elitizada da geração do “homo lattes” que permeia parte do corpo docente do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, vemos emergir a defesa da diferenciação dos pesos atribuídos aos votos dos que participam das eleições, ou seja, funcionários e estudantes não têm, dentro do processo eletivo, a igualdade junto aos professores. Fora levantado inúmeras justificativas para essa distinção que, para aqueles que defendem a hierarquização das “patentes” acadêmicas, é legitima e democrática e, geralmente, a explicação recai sobre os diplomas, anos de pesquisa, extensão e docência, sendo, portanto mais merecedores que todo o restante da população acadêmica ter seu voto diferenciado. Para início de discussão, podemos fazer uma simples comparação disso que está sendo colocado junto daqueles que defendem também que analfabetos não podem participar do processo de tomadas de decisões do seu país, pois esse não teria racionalidade técnica para escolher o que admite ser o melhor e mais coerente para tal. Exemplos a parte, uma parcela da “elite intelectual” do CCHLA vem colocando no campo político um discurso que tenta reproduzir a estrutura hierarquizada, burocrática e, acima de tudo, antidemocrática nos trâmites administrativos e educacionais da Universidade. Esse tipo de postura cabe ressaltar os escritos do inglês Stuart Mill, ainda pouco debatido no âmbito das ciências humanas, e a sua defesa do voto plural, implicando a perpetuação do poder pelas camadas "culturalmente" superiores. O papel da Universidade, em seu sentido etimológico, é de desempenhar um processo contínuo de universalização, democratização e, acima de tudo, politização daqueles que se inserem nesse meio, e não de ser um espaço arbitrário, fechado em si mesmo, e que tenha a finalidade única de suprir os desejos egocêntricos dos que crêem serem mais sábios e, por isso, serem merecedores quase que naturais do poder. Apesar das acusações de quem defende a paridade de votos dentro do processo eleitoral do CCHLA incidir sobre a justificativa de populismos, demagogias, de não assumirmos responsabilidades e estarmos em busca de reconhecimento fácil, sinto uma tentativa burlesca de deslegitimação do discurso político daqueles que ainda acreditam em uma forma não desigual de se gerir os processos decisórios de representação. Sabemos que a paridade dos votos não constitui uma solução extraordinária para todos os problemas na Universidade, mas a história mostra que a igualdade perante todos os membros que a compõem é um fator relevante para sua moralização.

Demoacracia, Stuart Mill e eleição no CCHLA: a posição de Érico Fernández


O voto na eleição do CCHLA

Érico Fernández *

Interessante como se processam os fatos em um ambiente acadêmico, ainda mais no âmbito das Ciências Sociais que deveria se constituir, conforme creem os signatários deste documento, numa peça importante em prol da reflexão e do exercício democrático. As boas intenções existem e se, algumas delas, historicamente não foram efetivadas rumo à construção do mundo em que acreditamos, isto se deu justamente porque grupos e classes sociais privilegiadas assim não quiseram; e amparados pela força repressiva, material e hierárquica não permitiram. Mas, em suma, se pensarmos bem, uma não existe sem a outra. Ademais: a democracia não é, como querem alguns, um processo pronto e acabado, no qual alguns decidirão se os demais estão preparados para exercer os seus direitos. Esse discurso proferido sob forma de texto e palavras verbais no debates pertinentes às questões eletivas do nosso Centro é e foi defendido por aqueles que, possivelmente, criticam ditaduras e restrições de todo o tipo que foram - e são sentidas - por uma considerável parcela da população mundial. Esta é, aliás, mais uma dura ironia presente em nossos cursos. A democracia é - e isto deveria ser evidente em nosso meio-, um processo de avanços, recuos e, quiçá, permanente, bem como em constante aperfeiçoamento. A menos, é claro, que em determinadas instâncias alguns digam peremptoriamente NÃO. Afirmar que os estudantes são passageiros e os professores não, significa mutatis mutantis também afirmar que se alguém fixar residência temporária em outra cidade ele não deve ter direito ao voto ou ainda representa asseverar que nenhum homem e mulher em seu ambiente de trabalho pode exercer seu direito de decisão; afinal os patrões são para sempre e os trabalhadores transitórios. Essas visões chocam-se com o que defendemos. E foi contra essa acepção social injusta que muitos padeceram, sofreram, mas que, enfim, em vários momentos venceram. Estamos com eles ontem e hoje. Assim, acreditamos veementemente que o trabalho é a maior e mais preciosa relação universal que nos une e graças a ele somos o que somos como humanidade e seres individuais. Tratá-lo democraticamente é, por excelência, o que nos interessa, pois, apenas assim, os desdobramentos daí advindos serão realmente profícuos e justos. O que nos obriga a registrar o óbvio: a produção acadêmica tão-somente existe em virtude daquelas e daqueles que, especialmente em se tratando de um país como o nosso, não tiveram a oportunidade de cursar a universidade, todavia com o seu ingente esforço diário nos abrem as portas, limpam nossa sujeira e fazem com o que nossa produção possa efetivamente acontecer. Aos alunos, funcionários, professores, aos que trabalham no Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes dizemos SIM ao direito de amadurecermos nossas escolhas e ao VOTO PARITÁRIO SEM CONDICIONAMENTOS DE QUALQUER ESPÉCIE.

Érico Fernández é aluno do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da UFRN

Democracia, Stuart Mill e a consulta do CCHLA: a posição de Gabriel Vitullo

Gabriel Vitullo é um querido amigo. Uma das boas aquisições que a UFRN teve nos últimos anos. É um daqueles caras que assume com desassombro as posições nas quais acredita. Gosto muito disso, vocês sabem. Nem sempre concordo com as posições assumida pelo Professor Gabriel, e isso é até bom. Fomenta o debate e a discussão. E torna nossa amizade mais forte, pois, como diria essa grande pensadora, aluna predileta de Luckacs, Agnes Heller, as amizades são as relações que sobrevivem aos testes das percepções diferenciadas do mundo. Por quê? Porque laços outros unem as pessoas. Bom, deixemos de coisa e cuidemos da vida... Abaixo, o Gabriel se posiciona sobre a forma do voto na consulta do CCHLA. Não concordo com ele, mas acho que vale a pena levar em conta a sua posição no debate.

Por que citar Stuart Mill no debate? Pelo simples fato de que ele nos mostra o quão anacrónicos são os argumentos dos defensores do voto ponderado no CCHLA, ora!! Sugestão de leitura para os admiradores de Stuart Mill: DOMENICO LOSURDO. "Democracia ou bonapartismo". Tem outro dele, também muito bom: "Contra-história do liberalismo". Ali encontrarão algumas valiosas informações, pouco lembradas, sobre o posicionamento deste grande pensador liberal quando se referia aos povos coloniais e às suas liberdades... Em defesa do AVANÇO DEMOCRATIZADOR NO CENTRO! Em defesa da PARIDADE SEM CONDIÇÕES! Vamos participar da reunião do CONSEC amanhã (29/03/2011) às 10 horas!

segunda-feira, 28 de março de 2011

Música para um final de tarde...

Pela desfulanização do debate no CCHLA

Qual o impacto do REUNI no centro? É possível manter o crescimento com sustentabilidade? O aumento de vagas tem sido, no caso dos cursos do CCHLA, acompanhado de igual melhora nas condições de ensino? Quais as positividades e os desafios colocados pelo crescimento dos corpos docentes dos departamentos do CCHLA? É possível uma política de contratação de pessoal que consiga se descolar das demandas departamentais e corporativas? Em um ambiente no qual se estimula, ao menos no discurso, a interdisciplinaridade, por que os concursos seguem lógicas disciplinares e fechadas? Qual deve ser o foco de uma gestão no centro: a graduação ou a pós?

Essas questões, e muitas outras, deveriam nortear o debate da sucessão no CCHLA. O diretor que agora sai, o Profº Márcio Valença, plantou as bases, especialmente no que diz respeito à infra-estrutura, para um salto qualitativo da vida acadêmica no nosso meio. O novo diretor precisa partir daí. Não retroceder. Por isso, além de apontar respostas consistentes para as questões acima colocadas, é importante que também seja alguém que conte com a confiança e o respeito dos colegas. Afinal de contas, no cotidiano, se são os funcionários que dão o suporte para as atividades acadêmicas, são professores e estudantes os músicos da orquestra.

O futebol como religião laica



Muito da boa a entrevista concedida por Mário Vargas Lhosa ao jornal espanhol EL PAÍS. A análise que o consagrado Nobel de Literatura faz sobre o futebol é fantástica. Confira aqui.

Minha coluna de hoje no TERRA MAGAZINE

Foi alterado o dia de publicação de minha coluna no TERRA MAGAZINE. A partir de agora, os meus escritos serão publicados nas segundas. Então, vá lá e confira! Clique aqui.

Uma foto reveladora...

Valdir Leite, professor de matemática e um cara sempre antenado com o mundo, envia-me um link para um blog interessante. O nome do blog é APODI ANTIGUIDADES. Muito legal a idéida que a anima o espaço. Nele, encontrei uma foto, que reproduzo mais abaixo.

A foto tem, deixe-me ver, vinte e cinco anos. Trata-se de uma mobilização do PT em um dia de feira da cidade. Quem eu consigo identificar da foto? Bom. O cara no microfone é Paulo Guedes, então bancário do BNB em Pau dos Ferros; o barbudo de chapeu é Manoel Georgino, o nosso querido Manoel do Conjunto; e eu sou o cara meio enfezado com a camisa de mangas vermelhas. Que roupa essa que eu estava vestindo, não é? Manga de uma cor, resto da camisa de outra...

sábado, 26 de março de 2011

O STF e o ficha limpa: a lúcida avaliação de Paulo Linhares

Paulo Linhares não é apenas um grande estudioso do direito, mas alguém que assume posições sem se incomodar em subordinar o seu pensamento ao "clamor surdo das ruas". Pouca gente faz isso, hoje em dia. É mais fácil (e até mais rentável, pode-se dizer) se calar. Ou, o que é mais comum, escrever para agradar ao distinto público. Paulo não segue esse caminho. Escolhe o pensamento livre. É uma maravilha, por isso mesmo, ler os seus petardos. Confira!


FICHA LIMPA: A LIÇÃO DO STF

Paulo Afonso Linhares

Após a instauração do Estado Democrático de Direito, no bojo da Constituição de 1988, tornou-se inevitável a evolução política da sociedade brasileira, com sustentação em diversos movimentos sociais que veiculavam interesses bem demarcados, a exemplo dos movimentos de mulheres, em que são discutidas as múltiplas e complexas questões de gênero, dos movimentos preservacionistas do meio ambiente, dos de cunho étnico (negros, índios etc.), dos vinculados às questões da sexualidade (homossexuais masculinos e femininos) etc. Até certos limites, vários desses movimentos têm agido positivamente para, na condição de grupos de pressão, no mais legítimo sentido político-sociológico, conseguir dos representantes políticos com assento em Casas Legislativas a adoção de marcos regulatórios que lhe favoreçam. Atuam, também, junto aos poderes executivos, nas eferas federal, estadual e municipal, para direcionar certas ações de governo em favor do respectivo movimento. Alguns membros desses movimentos, infelizmente, se fanatizam, passando a uma atuação que revela ódio, intolerância, preconceito, individualismo extremo, agressividade e estreiteza mental, somente para citar algumas dessas características nefastas dos fanáticos.

A sociedade brasileira, neste meio tempo, vem conscientizado-se do caráter nefasto que é a corrupção no seio do Estado, manifestada de diversas formas e em todos os organismos estatais, aliás, de tal modo grave que passa a impressão - infelizmente ainda não verdadeira - de já compor o ethos da brasilidade. Enormes avanços - e alguns equívocos - têm ocorrido, mas as tarefas de derrotar o patrimonialismo de Estado que herdamos de Portugal, o clientelismo político, a privatização do público, a mania de um empresariado que sonha com a privatização do lucro e a socialização dos prejuízos, não podem ser realizadas no curto e médio prazos, pois na sua base está o elemento essencial para sua realização: a educação, vista inclusive em seu sentido mais amplo que abrage, sobretudo, a educação política de todo um povo e não apenas a chamada "educação formal".

No início da década passada, surgiu no Brasil o Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE), inspirado em campanhas promovidas pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB, cujo direcionamento político foi conseguir 1,3 milhões de assinaturas (então, representando 1% do eleitorado nacional) nas 27 unidade federativas de segundo grau (Estados e Distrito Federal), requisitos constitucionais para a chamada "iniciativa popular de projeto de lei" prevista no art. 14, III, da Constituição. Contou, inclusive, com grande mobilização da sociedade, pela Internet, através das redes sociais (Twitter, Facebook, Avaa.org etc.). A iniciativa reuniu 1,9 milhões de assinatura e o projeto chegou ao Congresso Nacional que, para maior agilizar a tramitação foi subscrito por parlamentares. E veio lume a Lei Complementar nº 135, de 4 de junho de 2010 - a Lei da Ficha Limpa, porém, com institutos bem polêmicos, em especial por contrariar importantes princípios constitucionais, a começar pelo da anterioridade das normas eleitorais (as leis eleitorais só valem para eleição realizadas um ano depois de postas em vigor). Obra do fanatismo predominante no MCCE e do intuito de senadores e deputados de "jogar para a platéia" com a aprovação de um projeto de lei defeituoso em muitos aspectos, sobretudo pelos vícios de inconstitucionalidade.

Muitos dos eleitos em 2010 não puderam assumir os mandatos, pois o entendimento do TRibunal Superior Eleitoral era de que a L.C. nº 135/2010 teria imediata vigência. Levada ao Supremo Tribunal Federal a questão ficou irresolvida, em razão do empate na votação (5 x 5) e da recusa do presidente da Corte, ministro César Peluso, em proferir o voto de desempate, que era de sua competência. No entanto, com a posse do ministro Luiz Fux, o STF pôde, recentemente, votar a questão e o fez bem: derrotou o fanatismo e bem desempenhou o desaiderato de velar pela integridade e supremacia da Constituição. A Lei da Ficha Limpa - que tem aspectos relevatíssimos e que vão de encontro ao sentimento de repúdio à corrupção externado pela sociedade brasileira - somente valerá para as eleições de 2012. Meno male. O Supremo não mais claudicou, teve a firmeza e a sabedoria que se espera de um tribunal que, por definição constitucional, é o guardião da Constituição. Viva o STF.

sexta-feira, 25 de março de 2011

ELEIÇÕES NO CCHLA: O EQUÍVOCO DA PROPOSTA DA COMISSÃO ELEITORAL

Na próxima terça-feira, dia 29 de março, o CONSEC do CCHLA discutirá as normas que regerão a consulta para a escolha de diretor e vice do centro. Um documento guiará a discussão. Intitulado “NORMAS INTERNAS PARA A ESCOLHA DO DIRETOR(A) E VICE-DIRETOR(A) DO CCHLA”, a peça contém uma proposta de eleição com voto paritário. Nada de novo, não fosse uma proposta de voto paritário pós-fixado.

O tipo de voto proposto é um passa-moleque envelopado em um conjunto de equações bem construídas. Se a paridade, em uma eleição para um centro acadêmico, é uma distorção; o voto paritário pós-fixado eleva a distorção à enésima e, caso venha a ser aprovado, transformará a eleição do CCHLA em um absurdo completo.

Na consulta para a escolha de reitor e vice da UFRN, ocorrida no final do ano passado, tivemos o voto paritário pré-fixado. Não era a melhor solução, mas manteve as coisas minimamente equilibradas.


O modelo proposto pela Comissão do CCHLA significa fortalecer quem pouco se mobiliza. Paradoxalmente, os professores, que comparecem mais às eleições, têm o peso do seu voto diminuído. Ou seja, são punidos por participarem mais ativamente do processo.

Mais do que incentivo à participação estudantil, temos aqui uma proposta nitidamente paternalista. Os estudantes não comparecem em peso às eleições? Não tem problema! Os que comparecerem (mesmo que sejam apenas 20% do total de aptos a votar) terão peso igual àqueles que comparecem fortemente.

O que essa proposta revela? Uma disposição para tratar com minoridade os estudantes. Ao invés de tratá-los como sujeitos políticos, com posições e lugares diferenciados no interior da Universidade, tratamo-los como pessoas que precisam ser mimadas. O recado é: não se esforcem para fazer com que todos votem, pois, o peso de vocês na eleição já está garantido. Nada mais demagógico e deseducativo!

Distorção da paridade: o voto de um funcionário poderá valer duas vezes mais do que o de um professor na eleição do CCHLA

Temos aproximadamente 110 funcionários e 270 professores no Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes da UFRN, o CCHLA. Com a aprovação do voto paritário para a escolha de diretor e vice-diretor, o voto de um funcionário valerá por dois de professor.

A carreira de Professor universitário, como reconhecem não poucos, deixou de ser atrativa para as novas gerações. Algumas vezes, como ocorre na discussão sobre a forma de voto na eleição para o CCHLA, os próprios professores contribuem para a sua desvalorização. Esse o caso de colegas que, por motivos nobres (ou nem tanto), defendem a paridade.

Teve gente que ficou abespinhada porque eu afirmei neste espaço que a defesa do voto paritário é demagógica e revela um populismo desastroso. Na verdade, analisando friamente, fui até comedido. A defesa do voto paritário na eleição para diretor de centro é bem mais mais que populismo e demagogia, é DESRESPEITO ao professor.

Tenho muito respeito para com o trabalho desenvolvido pelos nossos funcionários. Mas isso não me impede de afirmar que a relação que docentes e técnicos têm com a Universidade é qualitativamente distinta. Ora, é irresponsável achar que um professor com dez ou quinze anos de atividade docente, que exerce atividades de ensino, pesquisa e extensão que lhe exigem muito mais do que a carga horária normalmente registrada possa ter a sua função equiparada com a de um funcionário. Além disso, o engajamento que cada categoria tem com a vida universitária também é substancialmente diferente. Isso é assim em todo lugar do mundo. O contrário é que seria merecedor de comentários.

É, portanto, estapafúrdio querer equalizar situações tão diferentes. Não! Um professor detentor de anos de dedicação ao ensino, à pesquisa e à extensão, com experiências de estudo em diversas instituições nacionais e estrangeiras, não pode ser tomado como um igual de um funcionário NO MUNDO ACADÊMICO. Por mais responsável e dedicado que este último seja (e quase todos no CCHLA são assim).

De certo modo, a nossa medida é definida pelo tamanho com que nos imaginamos. No CCHLA, há gente que acha que um professor vale menos que metade de um funcionário. Já vivi o bastante para não me espantar mais com muita coisa. Mas esse tipo de posicionamento me deixa perplexo. Espanta-me o fato de que a auto-estima docente no nosso centro seja bem mais baixa do que eu imaginava...

O CONSEC do CCHLA se reunirá na próxima terça-feira. O voto paritário só poderá ser aprovado se os próprios professores apequenarem a sua imagem profissional. Caso seja esse o tipo de voto aprovado, teremos a confirmação da diminuição política, acadêmica e moral dos professores. E esse apequenar da categoria docente será reproduzido em outras esferas da vida universitária, podem apostar. Duvidam disso? Informem-se um pouquinho sobre certas ações judiciais em andamento que procuram manietar a atividade docente em coisas comezinhas que vão da avaliação de aluno, posicionamento de bancas de pós ou reação de professores diante de plágios...

Um grande cientista social esquecido

Nem sempre o barulho causado momentaneamente ou estrelato alcançado pelo autor expressam a longevidade de uma obra. Essa é uma apreensão que tem mais força ainda quando nos situamos no campo das ciências sociais.

Penso nisso quando tenho em mente a obra de Vilmar Faria. Grande mestre e um perito na formulação de políticas sociais, o saudoso professor nunca alcançou, pelo menos no universo acadêmico nacional, o peso que a sua obra o credenciaria a ocupar. Só um exemplo: o texto “Políticas de Governo e Regulação da Fecundidade: Consequências Não Antecipadas e Efeitos Perversos”, texto inserido na obra Ciências Sociais Hoje, publicada pela ANPOCS no final da década de 1980, é uma das análises mais lúcidas e criativas a respeito de como a inação do Estado produz um cenário para a incorporação de demandas pelo mercado.

O texto de Vilmar é, além de uma construção analítica sofisticada, um libelo em favor de uma política que garanta os direitos reprodutivos das mulheres das classes populares. Só por tê-lo escrito, o Professor merecia o reconhecimento do movimento feminista.

Mas Vilmar fez e foi mais. Foi o principal formulador das políticas de inclusão social. Políticas que os petistas gostam de esquecer que teve início no Governo FHC. E nesse governo, muitos não lembram, Vilmar Faria foi o principal responsável pela formulação das políticas sociais.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Dias pesados, blog parado

Pois é... Quase uma semana fora do ar. Sem blogar nada. Uma correria daquelas. Mas, acreditem!, logo estarei de volta.

quinta-feira, 17 de março de 2011

Sociologia econômica em vídeo

Trabalho de orientação

O post A sempre exposiva relação entre orientador e orientando recebeu um comentário de uma suposta aluna da UNESP. Acho que a própria autora, depois, retirou-o. Ainda bem! Pois, do contrário, eu mesmo teria que fazê-lo. Isso porque a mesma se escudava no anonimato para fazer acusações graves contra outrem.

Sarkozy também? É o mundo todo...

Leia esta notícia:

(EuroNews, 16). O filho de Gadafi, Saïf Al-Islam, acusou Nicolas Sarkozy de ter recebido dinheiro líbio para financiar sua campanha eleitoral: “A primeira coisa que se deve pedir a esse palhaço é devolver o dinheiro a povo líbio. Nós lhe concedemos uma ajuda a fim de que ele trabalhasse pelo povo líbio, mas ele nos decepcionou. Temos todos os detalhes, as contas bancárias, os documentos e as operações de transferência. Revelaremos tudo muito proximamente”. Contatado, o Palácio do Elysée reagiu: “Desmentimos isso, evidentemente”.

(Nota retirada do Ex-Blog do César Maia do dia 17 de março).

O Sarkô, hein? Até o marido da Carla Bruni tá envolvido em, como é mesmo?, "recursos não contabilizados para campanhas eleitorais". He, he, he... Como é que fica, então, a frase (dita ou supostamente dita) pelo velho Charles?

Stuart Mill puxando um baseado e as eleições do CCHLA



Hummm! Sei não, o cara era bom prá cacete. Contextualizem aí o momento em que ele escreveu, por favor. Comparar-me com ele? Não mereço tanto...

Outra coisa: teremos assim tantos Stuart Mills nas nossas universidades? Duvido muito. Basta pensar na sua atitude em relação às mulheres. Muito, mas léguas mesmo, à frente de muitos ditos revolucionários. De ontem e de hoje.

É bem provável que o sisudo pensador participasse da Marcha da Maconha. Ué, o cara tinha posições liberais bem consistentes... Para ele, a sociedade não podia limitar a ação individual mesmo quanto essa ação fosse claramente prejudicial ao próprio agente. Seria, com certeza!, um anti-proibicionista militante.

Por outro lado, como era um cara que pensava e assumia responsabilidades, e não estava em busca de reconhecimento fácil, el ficaria horrorizado com certas defesas do voto paritário nas eleições universitárias.

Grande Stuart!

Para além de Pipa...

Ou... o outro lado do turismo no litoral do Rio Grande do Norte. Não deixe de assistir ao vídeo colocado abaixo. Trata-se de importante produção jornalística da TV Universitária. Confira!

Uma boa palestra na UFRN

Gustavo Lins Ribeiro é um pesquisador criativo e com reflexões muito consistentes a respeito da cultura no mundo globalizado. Você encontrará um texto de sua autoria na Revista Brasileira de Ciências Sociais.

Bueno, o cara está vindo para estas bandas. Mais precisamente para o Programa de Pós-Graduação em Antropologia (PPGAS). Virá ministrar a aula inaugural do mestrado em antropologia.

O título da palestra é "Como pensar a globalização".

Dados do evento:
Data: 24 de março
Local: Auditório B
Horário: 18h30

quarta-feira, 16 de março de 2011

Um bom texto de sociologia do trabalho

O Jacob Carlos Lima, atualmente lecionando na UFSCAR, trabalhou para as bandas de cá, mais precisamente na UFPB. É um dos mais importantes pesquisadores da área de sociologia do trabalho no Brasil atualmente. Ler os seus textos, pode acreditar!, é sempre aprender um pouco mais. No texto abaixo, você encontra uma interessante mobilização da obra magistral de Luc Boltansky e Eve Chiapello ("O novo espírito do capitalismo")para analisar as mutações do trabalho na atualidade. Confira!

Participação, empreendedorismo e autogestão: uma nova cultura do trabalho?
Jacob Carlos Lima
Departamento de Sociologia. Universidade Federal de São Carlos



No contexto das transformações produtivas das últimas décadas, os conceitos de participacionismo, empreendedorismo e associativismo passaram a ser discutidos dentro da perspectiva das mudanças nas formas de gerenciamento da força de trabalho e das relações de assalariamento, da precarização das relações de trabalho, do crescimento da informalidade e de alternativas ao desemprego. Embora representando propostas e situações distintas, complementam-se, e, às vezes, confundem-se, no quadro de referência dos interesses empresariais, das políticas públicas voltadas ao mercado de trabalho e geração de renda, e mesmo, dos movimentos dos trabalhadores em busca de melhores condições de vida e trabalho. Mais que uma mudança nas formas de organização de produção, temos mudanças na percepção do trabalho, dos valores a ele vinculados, do seu caráter coletivo e de suas possibilidades enquanto formadores de identidades e projetos sociais.

Este artigo busca discutir essas mudanças que não são apenas nas relações ou na organização do trabalho, nas quais a participação e autonomia do trabalhador têm preponderância nas narrativas justificadoras do novo "espírito do capitalismo" (BOLTANSKI; CHIAPELLO, 2009), mas também em valores compartilhados pelos trabalhadores, que incorporam, resistem, reelaboram e atuam, a partir dessas transformações estruturais.

Entre essas mudanças, destacamos a valorização do conhecimento do trabalho pelo trabalhador e sua funcionalidade para o capital, no sentido do aumento da produtividade, como também, para o trabalho em sua potencialidade transformadora em termos de autonomia e emancipação, mas com forte viés individualista. Participação como autocontrole e autogestão de equipes nas empresas; autogestão empreendedora em empresas de propriedade coletiva como cooperativas e a informalidade em sua "positividade", representada pelo empreendedorismo dos pequenos produtores. Sai de cena, ou pelo menos perde visibilidade, o projeto do trabalho coletivo enquanto possibilidade de transformação social, sendo substituído por alternativas de menor alcance, na qual esse projeto permanece ao lado de outros.

Entretanto, fica a questão de como o trabalhador incorporou o ideário propagado em décadas de flexibilidade na produção, no consumo e na gestão da força de trabalho e no qual o mercado, em tese, aparecia como absoluto. Período no qual o então chamado neoliberalismo1 recolocava a ação individual como única possibilidade emancipadora e a perspectiva coletiva como burocrática, autoritária e ultrapassada. Em que medida, esse discurso fortemente ideológico tem sido incorporado pelos trabalhadores e integrado ao que poderíamos chamar de cultura trabalho?

Na busca de respostas a essa questão, ou pelo menos de hipóteses explicativas, partimos da discussão sobre o conceito de participação no quadro de referência do toyotismo, no qual o envolvimento no trabalho pressupõe o vestir a camisa da empresa e aceitar uma cultura empresarial na qual autonomia, confiança, trabalho em equipe e autogestão controlada, constituem-se em valores disseminados e utilizados como forma de aumentar a competitividade empresarial. Essa autonomia pressupõe conciliar gestão da produção pelos trabalhadores em seus aspectos positivos de conhecimento acumulado e sua responsabilização na organização do e no processo de trabalho, de forma restrita e consultiva sob controle gerencial. O discurso empresarial enfatiza, ainda, um perfil de trabalhador marcado pela flexibilidade frente às mudanças, investindo em sua formação permanente e aberto a novos desafios, um empreendedor de si mesmo que garantiria, dessa forma, sua empregabilidade e permanência num mercado em contínua transformação.

A valorização do trabalho autônomo empreendedor reinterpreta igualmente o trabalho informal, destacando seu potencial criador vinculado à predisposição individual ao risco e à inovação. Sinônimo de flexibilidade, abrange desde consultores altamente qualificados, com contratos temporários e/ou por projetos, ou sem contrato algum, chegando até os trabalhadores em atividades precárias como ambulantes, camelôs e outros que sobrevivem na precariedade.

Essa perspectiva se espalha, mesmo nas propostas coletivistas por excelência que são as cooperativas e empresas autogestionárias. Nestas, o caráter empreendedor, agora a serviço do coletivo, explicaria o sucesso de empreendimentos nos quais os trabalhadores autogeririam efetivamente suas atividades, retomando a ideia de "projeto" emancipatório, não só na criação de uma alternativa ao desemprego e da precarização das relações de trabalho, mas também, de uma "outra" economia, na qual o trabalho teria precedência sobre o capital.

Leia o texto completo aqui.

Música para o final de tarde...

O calor está insuportável aqui na esquina do Atlântico Sul. A gente se refugia na sala, e trabalha. Como sempre. E para levar adiante as coisas, é sempre bom escutar uma boa música. Escuto e divido com você. Confira!

A sempre exposiva relação entre orientador e orientando

Vejam só que coisa mais, como direi?, grotesca! Eu, hein, Rosa! Que medo! Leia abaixo.

Mestranda é presa em SP após invadir casa de professor
ELIDA OLIVEIRA
DE SÃO PAULO

A Polícia Civil de Ilha Solteira (660 km de São Paulo) indiciou sob suspeita de sequestro e cárcere privado a mestranda em odontologia pela Unesp (Universidade Estadual Paulista) Rosângela Conceição Mioti de Souza, 33.

Rosângela foi presa em flagrante na segunda-feira (14) na casa do professor Elerson Jardim Júnior, seu co-orientador de mestrado. De acordo com a Polícia Civil, ela invadiu a casa e fez a empregada doméstica refém usando uma pistola 380 do marido, um policial aposentado. O professor não estava em casa no momento da invasão, que aconteceu às 9h e terminou às 13h. A doméstica foi liberada por volta das 12h, segundo a polícia de Ilha Solteira.

Ainda de acordo com a polícia, Rosângela morava em Itapura (677 km de São Paulo) e viajou até Ilha Solteira com o intuito de matar o orientador e depois se matar. A polícia diz que, durante o sequestro, ela afirmava ter sofrido abuso sexual e chantagens por parte dele.

Em janeiro deste ano, ela prestou denúncia contra o professor por abuso sexual, na Delegacia da Mulher em Araçatuba (527 km de São Paulo). De acordo com a delegada Luciana Frascino, algumas testemunhas foram ouvidas, mas o inquérito ainda não foi concluído. Um mês depois, o advogado do professor, Emerson Clairton dos Santos, entrou com um habeas corpus para trancar o inquérito por falta de provas contra Jardim. O pedido ainda não foi julgado.

Rosângela está presa na cadeia de Ilha Solteira. O advogado de defesa Conrado de Souza Franco disse que vai pedir sua liberdade provisória. Ele defende que não houve cárcere privado, porque a doméstica já estava na casa e não sofreu ameaças.

Jardim é professor da Faculdade de Odontologia da Unesp em Araçatuba. Por meio de nota, a Unesp informou que abriu sindicância para apurar as denúncias contra o professor, que foi afastado por 90 dias.

ABUSOS

De acordo com o marido de Rosângela, o policial aposentado José Aguiar, ela foi chantageada pelo professor de fevereiro a setembro de 2010, depois que Jardim encontrou fotos dela em trajes sensuais no pendrive que ela havia lhe emprestado. O objetivo, segundo Aguiar relata, era obrigá-la a manter um relacionamento com ele.

Ainda na versão de Rosângela, Jardim dizia que contaria para Aguiar que eles tinham um caso e que ela havia lhe dado as fotos. Dizia também que filmava os abusos e que, se ela falasse deles para alguém, ele afirmaria que as relações eram consensuais.

Emerson Clairton dos Santos, advogado do professor, disse que seu cliente não teve nenhuma relação com Rosângela e que ela inventou a história porque sentia-se atraída por Jardim.

Segundo Aguiar, Rosângela disse a ele que invadiu a casa do professor porque queria fazer justiça e temia que ninguém acreditasse nos estupros.

terça-feira, 15 de março de 2011

Imigrantes, desemprego e trabalho precário: um vídeo que é uma aula de sociologia do trabalho

O vídeo abaixo poderia ser usado em uma aula de sociologia do trabalho. Quase sem diálogos, contém imagens plenas de significado. Especialmente quando já tivemos acesso à imagens das precárias condições de trabalho dos imigrantes latinos nos EUA. Você vai gostar. Confira abaixo.

Aeroportos...

O crescimento do número de passageiros da aviação civil brasileira foi um dos desdobramentos positivos do crescimento econômico dos últimos anos. Essa situação não se traduziu, entretanto, em uma melhora dos serviços ofertadas pelas empresas que controlam o setor. Menos ainda pela Infraero. Nossos aeroportos, com raras exceções, são desconfortáveis e praticam tarifas e preços abusivos.

Se o seu vôo atrasa, pode se preparar para horas de sofrimento. Você vai comer salgadinho e pagar o preço de um prato de, sei lá, camarão. Eu, que sou viciado em café, faço as minhas comparações. E aí me defronto com situações inusitadas. O café expresso é, em geral, caríssimo nos nossos aeroportos. Mas os preços cobrados em algumas praças é realmente inacreditável. Em São Luís (MA), onde me encontro agora, você paga por uma xícara de uma líquido que te vendem por café expresso, mas que tem um gosto de borra misturada com água, pelo preço de R$ 13,00.

Dentre as exceções, temos o Rio de Janeiro. É, sim, o lá você uma área legal e bons serviços (quando não está muito lotado, claro!)no Aeroporto Internacional Antônio Carlos Jobim. Nesses dias, desci no Rio, sentei-me em uma cadeira, e, para minha agradável surpresa, sob as mesmas existiam blocos de tomadas elétricas para você usar com tranquilidade o seu computador. Coisa que você não encontra no Aeroporto Afonso Pena (Curitiba). Uma lástima! Você não encontra uma tomada funcionando!

Por falar em Curitiba, da última vez que lá estive, não encontrei água para comprar no Aeroporto. Duas lanchonetes funcionando e as duas sem água para vender. Pode?

Alguns aeroportos foram reformulados, mas isso não significou melhora nos serviços. E nem nas ofertas.

Falta muito, muito mesmo, para construirmos uma estrutura de recepção realmente competitiva para fazer com que a nossa indústria turística tenha o peso econômico que o potencial brasileiro permite-nos projetar.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Maravilha!

Tive o privilégio de ser aluno da Profª Ilza Leão. Eu e mais um monte de gente admiramos muito a grande mestra. Por isso, quando, há algum tempo, ela me disse que freqüentava este espaço, confesso!, fiquei mais vaidoso do que nunca. Agora, vejam só!, ela nos segue e faz comentários. O que me resta dizer? Maravilha! Confiram abaixo o comentário.

Não me contive. Os assuntos políticos são a minha paixão e eu não consigo deixar de opinar sobre alguns deles.Quer dizer que esse lero-lero de paridade nas eleições universitárias voltam agora à tona? Olha gente, esse é um tema do fim dos anos 80 que, na minha opinião já está mais que superado. E não me venham com o argumento da democracia.
As eleições universitárias são eleições diferentes das que ocorrem aqui fora. Primeiro que os eleitores não são iguais. Eles se diferenciam em temos dos papéis que desempenham, em termos de poder, em termos de compromisso com a instituição, dentre outras diferenças.Lembrem-se que estamos falando de uma instituição produtora e transmissora de conhecimento.E quem assume de fato essa função na universidade? Quem pode ser votado.
Gente, as eleições na universidade já reproduzem tanto as mazelas das eleições gerais (alianças espúrias, troca de favores, distribuição de cargos) que somente a Lei que define a proporcionalidade do voto faz a diferença. Quando ela é esquecida em favor de um outro mecanismo, é porque há interesses outros que vão muito além da defesa da democracia (ou aquém).
Parabéns Edmilson, pela coerência e pela coragem de assumir posição firme sobre o assunto.
Parabéns pelo blog, repleto de textos inteligentes e interesantes.

Ilza Leão

domingo, 13 de março de 2011

Eleições no CCHLA: a espanada no tédio

Na última eleição para a direção do centro das humanidades aqui na UFRN, o CCHLA, tivemos uma única chapa. Ninguém pareceu se interessar muito pela escolha do dirigente. A reeleição do Professor Márcio Valença foi tranqüila.

Agora, não. Pelo que se comenta, haverá disputa. Logo, todo e qualquer posicionamento é percebido como parte da disputa eleitoral. Apreensão esperada, embora apequenada. Diz mais de quem a emite do que de quem se julga no lugar de árbitro dos posicionamentos dos outros.

Não, não há uma luta de classes (risos) no CCHLA. Se alguém aí andou vendo o maravilhoso IF com décadas de atraso, por favor, relativize um cadinho, tá bom? Existem candidaturas pré-lançadas. Todas muito legítimas. Algumas melhores do que outras, como sói ocorrer em quase todos os sufrágios. Nada de assustador, pode acreditar...

E a discussão sobre o voto? Posiciono-me a favor do voto proporcional e vejo demagogia em boa parte dos que defendem a paridade. Defendi isso desde a eleição para REITOR. Neste mesmo blog. Também a fiz em conversas com algumas pessoas. Mas, naquele momento, ninguém deu muita bola para a discussão. Agora, não. Pode ser por que tem gente que esteja a cultivar a expectativa em compensar uma derrota eleitoral entre os professores com uma vitória esmagadora entre os estudantes e os funcionários. Também não vejo nada de extraordinário nisso. Como diria aquele pensador, ex-BBB, em bordão inspirador: “Faz parte!”.

Claro! Há muita gente que defende a paridade por outras razões. Coerentes, consistentes e articuladas. Como disse, no geral, esse pessoal se situa à esquerda, e a sua defesa dessa forma de eleição é o desdobramento de uma visão a respeito da Universidade. Uma apreensão, na maioria das vezes, reducionista do papel da Universidade. Uma visão de Universidade subordinada não aos princípios meritocráticos, e, sim, à "contribuir com a transformação social". Mas aí é outro debate, não é? Esse pessoal tem pano prá manga, e pode elevar a discussão.

Outros, bons estudantes, realçam a defesa do voto paritário em análises supostamente alicerçadas em, vamos ser generosos, dados empíricos a respeito dos atores do mundo acadêmico. Em bom e velho português: descem a lenha nos professores e acham que os mestres não merecem o peso que o voto proporcional, previsto em lei, lhes reserva. Sem a faceirice dos demagogos, e nem a visão enviesada da esquerda acadêmica, esses outros, geralmente alunos de ciências sociais, derivam valores de observações empíricas. São bons candidatos a cientistas sociais, mas, ao procurarem derivar posições políticas de análises supostamente científicas, enredam-se em uma teia de aranha que pode prender-lhes pelo resto dos seus dias. Talvez devessem dar uma nova olhadinha em certo texto de Max Weber a respeito da “objetividade” na ciência social e na política...

Bom. Mas o bom de tudo é que alguém despertou. Alunos me questionam, colegas se justificam ou procuram(muitos) demonstrar o acordo com a minha defesa do voto proporcional. Somente essa espanada no tédio, além, obviamente, do prazer que me dá ouvir as cinematográficas teorias conspiratórias a respeito do que escrevi, já fez valer a pena aquele post sobre a eleição no CCHLA.

Quando tiver mais tempo, volto ao assunto.

Sobre MENTES CATIVAS

Em um excelente artigo publicado na edição de março darevista PIAUÍ, Tony Judt tece comentários espirituosos a respeito da vida cultural de nosso tempo tendo com justificativa uma resenha mais do que livre da grande obra que é MENTES CATIVAS, de autoria do polêmico Czeslaw Milosz. Milossz, como vocês devem saber, antecipa, com mais elegância, algumas das análises contidas no obrigatório O ZERO E O INFINITO, de Arthur Koestler.

Transcrevo um trecho do texto, pois, na minha modesta opinião, é uma observação que poderia ser tomada como uma apreensão global de nosso tempo. Ei-la:

“Quando comecei a lecionar, meu desafio era explicar por que as pessoas se desiludiam com o marxismo; hoje, a barreira insuperável reside em explicara ilusão em si mesma.

Os estudantes contemporâneos não enxergam nenhum sentido no livro: todo aquele exercício parece uma futilidade. Repressão, sofrimento, ironia e até crença religiosa: isso eles conseguem apreender. Mas autoilusão ideológica?(...)”

sexta-feira, 11 de março de 2011

Eleições no CCHLA: posições

GURU ENTRA NO DEBATE

Lembro aqui um artigo de Gustavo Lins Ribeiro (que também está para dar aula inaugural, no ppgas da ufrn) sobre a questão, que teve mta polemica na UnB: http://www.unb.br/noticias/unbagencia/cpmod.php?id=68208

É uma pena, mas desconfio que Isabela Bentes, mesmo prosseguindo na indignação, eventualmente deixará de se admirar com a preponderância de Stuart Mills sobre Tragtenbergs na academia. Este é um tipo raríssimo (aliás, sempre foi). Aquele é hegemônico desde o tempo de vovó. O mais admirável - e o mais indignante - é a perpetuação desta desproporção.

E quero destacar aqui esta parte de seu texto "...numa tendência em fazer com que os alunos reproduzam as picuínhas departamentais entre professores tão comentada em corredores de aula". Isso é crucial. Sei muito bem como grande parte das ocasiões em que algum docente favorece um pleito dos estudantes (como a paridade em questão) é por pura oposição ao dirigente do colegiado e em busca da adesão dos estudantes. Isto seria em parte o 'populismo' mencionado pelo prof. Edmilson.

Mas registro também que amiúde ocorre o inverso: se argumenta em prol de alguma idéia da "situação" apenas por picuinha com algum grupo que defende a oposta. Nisto há uma boa dose de medo Reginaduarteano.

Ora, isso é o bê-a-bá da política! Mas pega muito mal a "política com ética própria" quando estamos num espaço de atribuições reflexivas como a universidade. Quando um professor ou um estudante argumentam enquanto tais, o fazem sob a responsabilidade de elaborar um pensamento qualificado. Exige-se, principalmente de uma universidade pública, que seus membros tomem suas decisões baseadas em um diálogo reflexivo e comprometido com pelo menos um dentre os vários projetos republicanos de universidade.

E não sob as picuinhas e miudezas do "mundo dos corredores". Ao menos não principalmente, já que há uma espécie de imperativo político na administração de egos, quanto mais numa instituição de tamanha ambivalência meritocrática.

Já em minha opinião, não se pode nivelar um estudante que age de acordo com um projeto sério de universidade com um burocrata com décadas de atividades em transparências, relatórios e planilhas. Mas ambas as categorias devem ter o mesmo valor nas decisões universitárias.

Claro que não falo do nosso professor-blogueiro, que é um daqueles pensadores livres e, nesse sentido, guarda até semelhanças com o "mocinho da história", o Tragtenberg. Sinta-se à vontade para se inspirar mais nele :D

10 de março de 2011 12:39

DANIEL TAMBÉM

Caro Edmilson,

Às vezes a gente tem até medo de se posicionar porque isto trará, lá na frente, conseqüências (na maioria das vezes negativas) para a gente. O pau costuma quebrar nas costas dos mais fracos. Porém, mesmo assim, vou apresentar a minha opinião também.
Penso que seus argumentos são mais do que razoáveis. O aluno, pela inserção e relação diferenciadas que têm com a universidade, não apresenta as mesmas condições reflexivas de escolha de um professor. Não é algo substancial. É relacional. Não vejo nada de aristocrático nisso, como a colega tentou argumentar.
No entanto, o que me impressiona nisso tudo é o uso, digamos, “seletivo” dos regimentos da universidade. Os mesmos setores que se calaram quando o voto paritário foi “interessante” na eleição para reitor, porque era positivo para Ângela, são os que agora pedem o império da lei.
Numa hora vivemos a “judicialização da universidade” e o uso da lei como parâmetro mínimo de vida é algo absurdo, pois só traz heteronomia para as relações intra-acadêmicas. Em outro momento, os regimentos devem ser seguidos, pois do contrário, a universidade pode virar casa de mãe Joana, uma luta ferrenha contra a anomia. Tudo é uma questão de sentir o sabor do momento e defender os “princípios”, altamente negociáveis, que contextualmente convêm.
E os alunos? Ah... Os alunos sempre entram como bois de piranha na história. São usados e jogados de um lado para o outro pelos grupos que, no momento, tem interesse na paridade.
Ora, é por isso que acho tola a tese da “judicialização da universidade”. Este argumento costuma ser mobilizado por quem costuma querer resolver as coisas ao “seu modo”.
O que, ao meu ver, vem ocorrendo é o crescimento de uma incapacidade generalizada por parte das instâncias acadêmicas de resolver seus próprios conflitos e seguir parâmetros – muitas vezes – mínimos de coerência democrática.
Aí... quem não se governa, já dizia o ditado, passa a ser governado.
É por causa dessas coisas que eu não duvido nada que esta discussão sobre o voto paritário possa ir parar nos tribunais.

Abs.

Daniel Menezes

quinta-feira, 10 de março de 2011

Prá enfrentar esta quinta-feira...

Nunca Conheci quem Tivesse Levado Porrada

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cómico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado,
Para fora da possiblidade do soco;
Eu que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu que verifico que não tenho par nisto neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo,
Nunca teve um acto ridículo, nunca sofreu um enxovalho,
Nunca foi senão princípe - todos eles princípes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana,
Quem confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Quem contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó princípes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde há gente no mundo?

Então só eu que é vil e erróneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos — mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que tenho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

Álvaro de Campos, in "Poemas"
Heterónimo de Fernando Pessoa

Ainda sobre o voto na eleição do CCHLA

Recebi um e-mail, direcionado a muitas pessoas, de autoria da Isabela Bentes. É pessoa crítica e séria. Admiro-a bastante. Como a mensagem é pública, então, acho que não é nenhum desrespeito destacá-la aqui. Trata-se de uma posição diferente daquela que expressei no post abaixo.

Acho bom o de debate. E quando me criticam, penso melhor sobre o que defendo e sobre mim mesmo. Do contrário, pra quê espaço público, não é?

Infelizmente, tal como Isabela, não estarei presente na reunião do dia 15. Provavelmente, deverei estar em São Luiz, na UFMA, ministrando uma aula inaugural em um curso de pós. De qualquer forma, acreditem, do debate, não fujo. E as críticas, mesmos as mais mordazes (apresso-me em dizer que não é o presente caso), são sempre bem vindas. No mínimo, ajudam-me a calçar as sapatilhas da humildade e a defender com menos ligeireza as minhas posições.

Quando for possível, e os afazeres permitirem, dialogarei com o texto escrito pela Isabela.



Prezados,

Gostaria de compartilhar o link do blog do prof. Edmilson sobre seu posicionamento contra o voto paritário nas eleições do CCHLA (http://blogdoedmilsonlopes.blogspot.com/2011/03/eleicao-no-cchla-os-riscos-do-populismo.html)

Gostaria de dividir com vocês a minha postura sobre a posição do prof. Edmilson neste post em seu blog. Deixar calro, antes de tudo, que admiro bastante as análises do prof. Edmilson, mas essa me fez reavaliar sua postura nesse aspecto. Acho que o que foi escrito reproduz, primeiro de tudo, a estrutura hierarquizada, burocrática e, acima de tudo, antidemocrática nos trâmites administrativos e educacionais da Universidade (isso me lembra o texto do Maurício Tragtemberg "A deliquência acadêmica" - que fala bem dessas relações intra-institucionais, a burocracia e hierarquina nas instituições de educação). Muito me admira esse tipo de postura que me lembra o Stuart Mill e a defesa do voto plural, implicando a perpetuação do poder pelas camadas "culturalmente" superiores. Discursos bem parecidos.

Não entendi bem se a justificativa que ele apresenta realmente condiz com a realidade, mas fazer a defesa de uma lei (algo que pode ser passível de mudanças, não eternas, historicamente construídas...) só porque é lei me faz subestimar, e MUITO, os termos que está sendo colocado no debate. Desobediência civil é um conceito que guia muitas manifestações no mundo inteiro e, apesar dele fazer algum elogio a essa desobediência, ao mesmo tempo minimiza e desqualifica a luta política de muitos, não só dentro da universidade, como fora dela.

Vejo que a defesa dessa postura de não concordar com o voto paritário implica numa tendência em fazer com que os alunos reproduzam as picuínhas departamentais entre professores tão comentada em corredores de aula. Ao pesar o voto de professores mais do que funcionários e alunos, perpetua-se a defesa dos seus desejos particulares em um espaço público (em ainda acredito muito que isso vá acontecer de forma mais expansiva), da participação direta dos alunos nas propostas que eles desejem também, não algo vindo diretamente SEMPRE de uma ordem de cima para baixo dos professores/coordenadores/diretores/reitores/presidentes honorários/ou o que for, aos alunos.

Mas, o que quis dizer com esse populismo e esssas práticas ilegais? Gostaria de exemplos mais concretos, principalmente das práticas ilegais.

Fato é que irá ocorrer uma reunião dia 15.03, às 14:30h, no Consec (reunião é aberta) para decidir o conselho eleitoral e o calendário eleitoral onde o prof. Edmilson estará presente e seria bastante interessante a presença dos alunos no sentido de questionar essa postura, uma vez que essa defesa estará presente em sua fala.

Gostaria muito de estar nessa reunião para fazer esse questionamento diretamente, mas infelizmente não poderei ir (estou viajando e só chego dia 23.03), mas quero ficar a par da situação (quem puder ir me informando...)

Abraços,

Isabela


sexta-feira, 4 de março de 2011

A eleição no CCHLA: os riscos do populismo acadêmico e das práticas ilegais

O que segue abaixo é uma complementação a uma intervenção que fiz em reunião ocorrida no CCHLA, na última quarta-feira, na qual se discutia a eleição para a direção do centro.

Gente bem intencionada, e movida por propósitos nobres, nem sempre produz ações conseqüentes. Muitas vezes, e isso nos explicam os acacianos peritos em investigações sociológicas sobre “composição de resultados”, boas intenções ajudam a produzir cenários não apenas indesejáveis, mas diametralmente opostos aos objetivos pretendidos no início do jogo. Junte a isso o fato de que, nem sempre, a justeza de algumas demandas corporativas torna desejável a sua execução. Pior ainda: a justeza de uma reivindicação particular não a torna universalmente justa. Muito antes pelo contrário: quantas corporações não defendem interesses particularistas em detrimento das instituições ou coletivos nos quais estão inseridas? Essas apreensões comezinhas me orientam na discussão a respeito do voto na Universidade.

Sou contra o voto paritário para as escolha dos dirigentes universitários. Por isso, de vez em quando, sou severamente admoestado por estudantes e funcionários. Tem quem goste de agradar aos ouvintes. Nesses casos, a coerência que vá às favas. Eu prefiro ficar de acordo comigo mesmo. Pago um preço por isso, mas não deixo de dormir tranqüilo. Assim, exponho o que penso, decepciono muitos, mas sigo em paz. Voltando ao voto na universidade, não acho razoável nivelar um professor, que desenvolve, há décadas, atividades de ensino, pesquisa e extensão, com um estudante recém-ingresso na instituição. Ou com um funcionário, que não estabelece uma relação mais universal com a produção universitária.

Muita gente, no íntimo, pensa assim. Mas é sempre mais fácil, especialmente em período eleitoral, agradar aos interlocutores. Pega mal dizer o que eu digo, eu sei. É um tiro no pé para quem tem pretensões políticas. Não é esse o meu caso. E, caso tivesse pretensões administrativas, algo nada ilegítimo, acharia melhor ganhar afirmando valores nos quais acredito do que vencer vendendo idéias e valores com os quais não comungo.

Há demagogia na defesa do voto paritário? Claro que há! Mas também existem colegas sinceros que defendem com convicção o voto paritário. Estes últimos, geralmente, constroem argumentações políticas e ideológicas alicerçadas em valores ditos de esquerda. Discordo deles, mas os respeito. Já em relação aos demagogos, sinto pena. Pena? Sim, porque cultivam os corvos que irão devorar-lhes os olhos amanhã cedo. Eles alimentam um populismo danoso que destrói a possibilidade de uma gestão universitária guiada por critérios acadêmicos e de racionalidade administrativa.

Por outro lado, e não se trata de mero detalhe, o voto paritário fere os preceitos legais estabelecidos pela legislação brasileira para a escolha dos dirigentes universitários. Está bem posto pela Lei Federal nº 9.192/95 que a consulta para a escolha desses dirigentes deve obedecer a uma proporcionalidade na qual os professores têm o peso de 70%. “É uma lei autoritária”, disse-me uma vivaz e bela aluna. Ah, tá! Lei boa, a gente obedece; lei autoritária, não. Tudo bem! Eu acho a desobediência civil um ato político, em muitas circunstâncias, mais do que necessário. Mas quem a pratica tem consciência clara de que está rompendo limites, e deve arcar com as conseqüências.

Um conselho universitário (seja um conselho geral ou conselho de centro ou faculdade) não pode agir dessa forma. Está proibida a consulta paritária na Universidade? Claro que não! Mas, aí que está, ela não pode ser conduzida institucionalmente. Se alguma entidade estudantil ou sindicato quer fazê-la, faça-a. E, depois, tente fazer valer (impor, na verdade, não é?) os seus resultados. Um conselho universitário, se os seus membros não quiserem conscientemente prevaricar, somente pode conduzir uma consulta obedecendo as regras estabelecidas pela legislação em vigor.

O contrário do acima indicado é adentrar naquela zona cinzenta na qual se obedece à lei apenas quando é do nosso interesse. O pior é quando quem assim age encontra-se no exercício de um cargo público, o que, em tese, significa ser pautado pelo zelo ao patrimônio público. E um dos bens públicos mais importantes é exatamente o arcabouço legal que torna a nossa vida (e a gestão das coisas) minimamente previsível e racional. O contrário, sabemos bem, é a barbárie.

Minha coluna de hoje no Terra Magazine

Acesse aqui a minha coluna de hoje no TERRA MAGAZINE

quarta-feira, 2 de março de 2011

Fetichismo

Acho que você vai gostar de ler. O título do artigo é "Dreams that money can buy: Correrías del fetichismo: de la rareza al aburrimiento". O autor é Fernando Castro Flórez e o periódico no qual foi publicado o texto é a sempre excelente Revista de Occidente.

Fique com uma boa música

Artigo de Viviana Zelizer

Clique aqui e tenha acesso um artigo de autoria de Viviana Zelizer, um dos nomes mais importantes da Nova Sociologia Econômica. Intitulado "A economia do Care", o texto é de leitura obrigatória para quem quer se antenar com o debate contemporâneo sobre a análise sociológica da vida econômica. O periódico responsável pela publicação é o CIVITAS, da PUC do Rio Grande do Sul. Boa leitura!

O uso do uniforme na escola

Muito legal o posicionamento do Marcos Rolim a respeito do uso de uniforme por estudantes do ensino básico. Rolim dispensa maiores apresentações, especialmente neste espaço, pois, em outros momentos já fiz referência a esse criativo especialista em segurança pública.

UNIFORMES, POR QUE NÃO?
Marcos Rolim
Jornalista


Já houve tempo em que crianças e adolescentes usavam uniformes escolares no Brasil. Notadamente na rede pública, o uso de uniformes foi mesmo uma regra bastante observada. Passaram-se os anos e a norma foi sendo relativizada e, mesmo, abandonada. Mais recentemente, algumas prefeituras têm implantado programas para o uso de uniformes escolares, a partir de doações e/ou incentivos. Afinal, uniformes escolares são mesmo importantes? Dois argumentos parecem indicar que sim.


Primeiramente, a não exigência de uniformes permite a reprodução dos padrões de consumo oferecidos aos alunos por suas famílias. Esta diferenciação pela roupa, pela marca, pelo Ipod, pela jóia, pelo boné, pelo tênis, evidencia uma característica das juventudes urbanas nas sociedades pós-modernas: elas se movimentam em grupos que existem, antes de tudo, por seus signos visuais. Os jovens se movem a partir de emblemas. Tudo se passa como se, antes da fala, houvesse outra linguagem que precisasse estar escrita sobre seus corpos. O processo de “tribalização” dos jovens, então, é inevitavelmente a dinâmica de estetização de seus valores e preferências culturais. Sem compartilhar esta estetização – vale dizer, sem transformar seu corpo em signo - o jovem sente-se como que apartado do mundo, isolado e sem “parentesco” entre os seus. Sua máxima, por isso mesmo, poderia ser: “Aparento, logo existo.” Estas dinâmicas são relevantes para o percurso de autonomia entre os jovens e devem ser compreendidas, mas carregam para a escola um problema novo: elas dificultam a construção de uma identidade estudantil. Não se trata, então, de reificar o debate sobre os uniformes como se sua equação pudesse oferecer alguma resposta para a crise da educação. Trata-se, singelamente, de reconhecer que o uso de uniformes aproxima simbolicamente os estudantes. Para além disso, é provável que reforce a noção civilizatória de que todos são “iguais”, pouco importando sua origem social, seu sobrenome, a casa onde mora, as viagens que já fez, sua mesada ou a banda de sua preferência.

O segundo argumento surge das pesquisas que têm encontrado, em vários países, fortes correlações entre o uso de uniformes e: a) maiores taxas de presença e aprovação; b) menores taxas de suspensão de alunos e c) expressiva redução nos indicadores de violência nas escolas (Ver, por exemplo, trabalho de Virgínia Draa – “School Uniforms in urban public hight schools”, disponível em: http://www.eric.ed.gov/PDFS/ED497409.pdf). Além de uma maior proteção nas escolas pela facilidade de identificar intrusos, o uso de uniformes pode oferecer alguma proteção a milhares de estudantes brasileiros que moram nas periferias e que, muitas vezes, são tratados como “suspeitos” pelo simples fato de serem jovens, pobres e/ou negros. Para um garoto negro que more em uma área de exclusão, seu deslocamento pelas ruas pode ser algo especialmente perigoso – notadamente em circunstâncias onde a polícia surge como uma força de intervenção armada e onde há grupos de outros jovens atuando no tráfico de drogas.