terça-feira, 28 de julho de 2009

Obama e Cuba: algo se move...e mais rápido do que muitos apostavama.

Há alguns meses, logo após a posse do Presidente Barak Obama, postei aqui uma nota, em parte motivado pela visita de meus amigos Olavo e Márcia, a respeito das mudanças em relação à Cuba por parte da diplomacia do novo governo democrata. Intitulada "Obama e Cuba: Eppur se muove...", a nota apontava para a significativa mudança de rota em relação à administração republicada e apontava as pequenas mudanças que começavam a ocorrer. E continuam... Ainda são simbólicas? Sim, mas não se muda tudo de uma dia para a outro, pois não? Estava a pensar nestas coisas quando deparei-me, no El País, com a notícia abaixo. Vale a pena conferir!

EE UU apaga su panel de críticas contra el régimen en La Habana
Obama pone fin a un sistema electrónico de mensajes implantado en la isla por la administración Bush

Hasta este lunes, 25 ventanas del quinto piso del edificio de la Sección de Intereses de Washington en La Habana, situado en el paseo marítimo del Malecón, servían de panel para difundir mensajes, noticias y declaraciones políticas que criticaban al Gobierno cubano. Como gesto de los esfuerzos del Gobierno estadounidense para mejorar las relaciones con la isla, Washington ha apagado el sistema electrónico, de 1,5 metros de altura y en funcionamiento desde enero de 2006.

Este dispositivo, que enfureció al ex presidente de Cuba Fidel Castro, ha permanecido desconectado durante la mayor parte del mes de julio y, según diplomáticos occidentales destinados en la Habana, no hay planes de retomar la difusión de mensajes en un futuro próximo. Por su parte, los estadounidenses han dicho a los visitantes que ha habido "dificultades técnicas" con el sistema de mensajería electrónica, que en junio parecía tener problemas.

La desconexión de los cintillos de noticias llega a la par de las medidas del presidente estadounidense, Barack Obama, de relajar algunas restricciones impuestas a Cuba poco después que Fidel Castro llegase al poder en 1959. Estados Unidos rompió relaciones diplomáticas con Cuba en 1961, pero desde 1977 ambos países han mantenido Secciones de Intereses en Washington y en La Habana, respectivamente. No obstante, Obama ha dejado claro que mantendrá el embargo económico, que dura ya 47 años, hasta que las autoridades cubanas mejoren su política y los derechos humanos en la isla.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Para você sonhar...

Música para quem ainda está no trabalho...

Estou quase parando e ficarei assim até o dia 05 de agosto

Pois é... Estou meio lento nestes dias. Não porque esteja de férias (quem dera!), mas porque tenho tantas coisas prá fazer que você nem imagina. Uma correria danada... Mas, prometo!, depois do dia 05 tudo voltará ao normal por aqui.

Um abração,

Edmilson Lopes.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Religião e classes sociais: o fenômeno pentecostal

O crescimento das igrejas pentecostais é, depois da criação e ascensão ao governo de Lula e do PT, o fenômeno social mais significativo do Brasil nas últimas três décadas. São muitos os trabalhos a respeito, mas, via de regra, são obras marcadas pela apreensão fragmentada e sem muita ambição de apreender os impactos macros provocados por essa, vamos dizer, radical "abertura do mercado de bens religiosos" no Brasil. Não sou da área e não me aventuro na sociologia da religião, mas acho que estamos a merecer uma análise mais substantiva sobre a questão pentecostal. Quer assumir o desafio? Bueno, então leia aqui um texto muito perspicaz, publicado na revista Insight Inteligência. Trata-se de artigo de autoria da Professora Clara Mafra. Vale a pena conferir!

terça-feira, 21 de julho de 2009

Michael? Que Michael? Uma análise inteligente sobre a construção das celebridades...

Michael who?
Hélio Schwartsman

Nunca fui muito ligado em música pop e menos ainda no mundo das celebridades. Acho que o único autógrafo que já quis na minha vida foi o do Sócrates (o jogador, não o filósofo) --e isso quando eu era garoto. Diante desse histórico, devo ser a pessoa menos indicada do mundo para comentar a morte de Michael Jackson. Ainda assim, arrisco um palpite --menos sobre o músico e mais sobre a comoção que seu falecimento provocou.

A primeira coisa que precisamos perguntar para compreender melhor o fenômeno é: por que ele? Somos quase 7 bilhões de humanos penando sobre a crosta terrestre. A vida de nenhum de nós é essencialmente mais interessante ou desinteressante que a dos demais. Eu diria até que somos todos muito parecidos em nossas atitudes, desejos, receios e loucuras. Por que a morte de Michael Jackson e da princesa Diana provocam tantas e tão apaixonadas reações enquanto a esmagadora maioria passa para outro mundo de forma mais ou menos anônima? Por que destinamos a nossos vizinhos um "como vai?" meramente protocolar --de quem não está interessado na resposta--, mas queremos saber tudo, inclusive as mais ridículas platitudes, sobre a vida de certas personalidades? Enfim, o que é a fama?

A culpa é toda de Homero. Até onde podemos recuar, foi o poeta cego quem cunhou e difundiu a expressão "kléos áphthiton" (fama imorredoura, glória eterna), aquilo que todo herói almeja alcançar. A ideia é atingir a fama para, por meio dela, driblar a morte, deixando um legado na terra. Pelo menos no mundo grego, o modo de fazê-lo era através de atos e ações heroicos, como aqueles realizados por Aquiles ou Ulisses e não por acaso fundam a literatura ocidental.

O detalhe incômodo aqui é que Aquiles e Ulisses jamais existiram. Eles são heróis que pertencem ao reino do mito, em companhia dos deuses e semideuses. Se quisermos, o Olimpo é um prelúdio de Hollywood, onde encontraremos os tipos eternos: o galã heroico (Apolo, Marlon Brando), a gostosona (Afrodite, Marilyn Monroe), e até a "diva" ciumenta que maltrata crianças (Hera, Joan Crawford). Na esfera celeste, é difícil dizer se os homens imitam os deuses ou se são os deuses que personificam os homens.

Já no mundo sublunar, a primeira celebridade foi Alexandre, o Grande. Não foi ele quem inaugurou a tradição de buscar a glória através de conquistas militares, mas parece ter sido o primeiro a fazê-lo em caráter estritamente pessoal, e não para perpetuar o "kléos" familiar. No mais, Alexandre tinha um senso de marketing de fazer inveja a Duda Mendonça. Procurava sempre referências heroico-míticas para "inspirar" seus passos. Nas moedas e esculturas, sempre se fazia representar com os cabelos longos flutuando ao vento e olhando para os céus. Fundou mais de 90 cidades às quais batizou de Alexandria.

Foram os romanos, entretanto, quem desvincularam a fama dos atos heroicos. Para tornar-se alguém e acumular honras, já não era necessário exibir realizações extraordinárias. Na cidade onde o que importava era ver e ser visto, adquirir glória tornou-se um meio e um fim. Estamos no limiar do conceito contemporâneo de celebridade, pelo qual a pessoa tautologicamente se torna famosa porque é conhecida.

Quanto aos que não são lembrados nem por suas ex-namoradas, resta o caminho de tornar-se fãs: tocar a glória e roçar a transcendência por meio de biografias alheias, isto é, dedicando-se a cultivar seus ídolos.

É claro que alguma "realização" como vender discos, marcar gols ou ostentar um belo par de pernas ajuda a abraçar os pináculos da fama, mas não é absolutamente necessária como se depreende da biografia de alguns colunáveis, cuja qualidade mais notável é o fato de jamais ter feito nada senão ser célebre. Com isso, a glória já não está necessariamente ligada à noção de merecimento e passa a encerrar um elemento de acaso, de injustiça mesmo. Não é à toa que Virgílio, na "Eneida" (livro 4, verso 173), refere-se à fama como "dea foeda", que podemos traduzir como "deusa suja" ou "deusa vil". Talvez "deusa sacana", já forçando um pouco.

O psicólogo David Giles (Universidade de Winchester), autor de "Illusions of immortality: a psychology of fame and celebrity" (ilusões da imortalidade: uma psicologia da fama e da celebridade), levanta uma hipótese interessante: a história da fama começa quando surgem os nomes próprios e a noção de indivíduo. Giles se apoia na controversa tese da mente bicameral do também psicólogo Julian Jeynes, para o qual a consciência individual é uma construção social bastante recente. Ela teria surgido entre 10000 a.C. e 8000 a.C., quando se teria operado uma mudança radical em nossas mentes. Até então, os antigos costumavam atribuir processos decisórios a deuses. Quando alguém fazia algo, era porque uma voz divina assim o tinha ordenado. Isso não era visto como sinal de loucura nem nada parecido. O diagnóstico de esquizofrenia não estava à disposição.

Alguns resquícios desse tipo de mentalidade sobreviveram até tempos mais recentes. Como mostra Michel Foucault em "As palavras e as coisas", até o finzinho do século 16 era perfeitamente razoável acreditar em magia: fazer ciência nada mais era do que descobrir analogias absconsas entre seres. (Eu mesmo conheço gente que ainda acha que a vida é regulada pelo movimento dos astros ou que moléculas d'água curam várias doenças graves).

É claro que hoje, exceto em contextos religiosos muito precisos, não podemos mais reclamar a "inspiração divina" sem risco de ir parar no hospício. Agora que a consciência individual unicameral se fixou, não só a glória pessoal é possível como a busca da "fama imorredoura" é um dos poucos caminhos que nos resta para tentar driblar a terrível ideia de que a morte é inevitável.

As teorias de Jeynes, apresentadas nos anos 70, jamais receberam muita atenção da academia. Trata-se, afinal, de uma afirmação extraordinária para a qual não se apresentaram evidências extraordinárias. Mais recentemente, entretanto, avanços na neuroimagem e outras técnicas vêm trazendo algum apoio a essas ideias. Pesos-pesados como o filósofo Daniel Dennett e, em menor grau, o biólogo Richard Dawkins vêm até ensaiando um flerte com a tese. Mesmo que não a comprem pelo valor de face, valorizam os "insights" e projetos de novas pesquisas que ela é capaz de produzir.

Sob essa chave interpretativa, a desproporcional mobilização popular para as exéquias de Jackson e de outros famosos podem receber um tratamento mais benigno. Não precisamos mais considerar como um caso de internação psiquiátrica todas as manifestações exageradas de fãs. Podemos classificar tal comportamento como um resquício da consciência dual de Jeynes, sob a qual os deuses não apenas "existiam" como também agiam explicitamente na realidade. Ordens divinas e milagres não eram uma questão de fé, mas a forma mesma como o mundo se apresentava diante de nós e em nós. Cair em prantos convulsivos pela morte de um ídolo não seria um comportamento muito mais excêntrico do que assistir a uma missa
.

Hélio Schwartsman, 44, é articulista da Folha. Bacharel em filosofia, publicou "Aquilae Titicans - O Segredo de Avicena - Uma Aventura no Afeganistão" em 2001. Escreve para a Folha Online às quintas.

E-mail: helio@folhasp.com.br

Novas fronteiras do mercado: a internet e a guerra publicitária



Parece pornô, mas é guerra... publicitária


A internet potencializa novas formas de publicidade. O mercado publicitário, aos poucos e de forma um tanto assustada, vai se dando conta das novas fronteiras abertas. Os sites nos quais se pode postar vídeos, como o you tube, vão se transformando em espaços para a exposição de bens e serviços. Não raro, propagandas que seriam vedadas na TV são encaminhadas para a internet. E, muitas delas, viram fenômenos. Esse, me parece, será o caso da peças abaixo, produzida para divulgar o refrigerante sprite. Esse tipo de truque revela a imoralidade ou a amoralidade das transações de mercado? Bueno, eís aí um dos mais importantes tópicos de discussão da chamada Nova Sociologia Econômica.

Turismo étnico em alta.

Leia abaixo notícia publicada no Estadão.

Negros americanos impulsionam turismo na BA
Tiago Décimo

Diretor da Tatour, agência de turismo de Salvador especializada na recepção de visitantes americanos, Connor O’Sullivan é uma exceção entre os colegas do mercado de viagens na Bahia. Em plena crise econômica mundial, ele mantém o otimismo e faz planos para a ampliação dos negócios, enquanto o resto do mercado amarga queda no número de clientes.
Segundo o Ministério do Turismo, entre 2007 e 2008, o número de visitantes na Bahia encolheu 7,9%, de 193.867 para 178.571. Os principais países emissores de turistas registraram queda. O único mercado a apresentar crescimento expressivo entre os principais emissores de turistas para a Bahia foi o americano: aumento de 333% entre 2007 e 2008, de 3.478 visitantes para 15.085. Entre 2002 e 2006, os Estados Unidos haviam mandado, em média, 2.600 turistas à Bahia. Os EUA saltaram da 10ª posição no ranking de turistas para a 5ª.


A principal ação para incentivar a chegada de visitantes americanos foi a institucionalização de um patrimônio cultural da Bahia: as tradições africanas mantidas pelos descendentes de escravos - legado que os negros americanos passaram a explorar mundo afora, em especial na última década. Na Bahia foi criado, no fim de 2007, departamento específico para desenvolver esse nicho na Empresa de Turismo da Bahia S.A. (Bahiatursa), o de Turismo Étnico-Afro.
O maior impulso para a divulgação foi a viagem da então secretária de Estado dos Estados Unidos, Condoleezza Rice, a Salvador, em março do ano passado. Ela havia manifestado o desejo de conhecer a cidade quando foi visitada pelo governador baiano, Jaques Wagner, em Washington, meses antes. Disse ter curiosidade de estar na que chamou de “maior cidade africana fora da África”.


O impacto da divulgação se refletiu já na edição seguinte da centenária Festa da Irmandade da Boa Morte, celebrada em agosto, em Cachoeira, no Recôncavo Baiano. No ano passado, 250 negros americanos acompanharam a festa, promovida por descendentes de escravos. Este ano, são esperados 500 americanos no evento.

O?Sullivan prepara-se para receber os conterrâneos com um roteiro que inclui, além da participação na festa, passeios a bairros como Pelourinho e Liberdade e visitas a igrejas, terreiros de candomblé, além de aulas de música e percussão.

Segundo o secretário de Turismo da Bahia, Domingos Leonelli, apenas para ações promocionais do governo nos EUA foi aplicado R$ 1 milhão nos últimos dois anos.

Uma indicação de blog.

Visite o blog do Professor Luiz Assunção. Ele é professor de antropologia e tem se dedicado à pesquisa sobre as práticas culturais das populações afro-descendentes. Vale a pena acessar. Clique aqui.

segunda-feira, 20 de julho de 2009



A Lua

MPB4
Composição: Renato Rocha

A Lua
Quando ela roda
É Nova!
Crescente ou Meia
A Lua!
É Cheia!
E quando ela roda
Minguante e Meia
Depois é Lua novamente
Diiiizz!...

Quando ela roda
É Nova!
Crescente ou Meia
A Lua!
É Cheia!
E quando ela roda
Minguante e Meia
Depois é Lua-Nova...

Mente quem diz
Que a Lua é velha...(2x)

Mente quem diz!

A Lua!
Quando ela roda
É Nova!
Crescente ou Meia
A Lua!
É Cheia!
E quando ela roda
Minguante e Meia
Depois é Lua novamente...

Quando ela roda
É Nova!
Crescente ou Meia
A Lua
É Cheia!
E quando ela roda
Minguante e Meia
Depois é Lua-Nova...

Mente quem diz
Que a Lua é velha...(2x)

Mente quem diiiiiz!

A Lua!
Quando ela roda
É Nova!
Crescente ou Meia
A Lua!
É Cheia!
E quando ela roda
Minguante e Meia
Depois é Lua-Nova...

Mente quem diz
Que a Lua é velha...(2x)

Mente quem diiiiiz!

40 anos depois...

Eu era criança. Bem criança mesmo. Morava em um lugar perdido na várzea do Rio Apodi. Lá ninguém acreditava que o homem realmente tivesse pisado na lua. Ninguém? Bom, o meu pai, que sempre gostou de contrariar a opinião corrente, defendia apaixonadamente que, sim, o homem tido ido lá. E mais: dentro em breve, dizia ele, os homens vão morar em outros planetas... Meu pai é um provocador até hoje. Dia desses, em um discussão com um grupo de amigos evangélicos, perguntou se alguém ali acreditava que existia vida em outros planetas. O grupo se dividiu. Meu pai, um agnóstico feliz, não deixou por menos: "então, lá deve ter outros deuses, não é? E você ficam aí com essa história de um Deus só para o mundo todo...". Devo muito do que sou a educação que me foi dada por esse camponês (hoje um ativo pequeno comerciante - ou "bodegueiro", como ele se define) iconoclasta. Para ele, na comemoração de um evento que ele me ensinou que, sim, era verdadeiro, dedico a música abaixo.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

O ingresso dos negros na UFRN

Como se já não estivesse com muitas coisas prá fazer, movido pelo resultado de uma pesquisa que concluí recentemente sobre a inserção da população negra no SUS do Rio Grande do Norte, fui dar uma conferida nas estatísticas que a COMPERVE (a gerenciadora do vestibular na UFRN) coloca à disposição de qualquer um (basta visitar o site e solicitar os dados que você quiser - claro que você tem que estar disposto a mastigá-los...)... Bom. Um dado me chamou particular atenção: o número de candidatos que se declaram negros e quantos desses candidatos são aprovados no vestibular. Adianto para vocês (vou colocar o estudo completo aqui, espero, dentro em breve) que o resultado é, no mínimo, preocupante. Especialmente quando você olha o conjunto. Ou faz uma comparação com o desempenho dos brancos. É como se a Universidade ainda continuasse vedada aos afro-descendentes. Vou voltar a esse assunto. Prometo!

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Fique aí com Carmen...

Você tem medo de quê? Você tem medo de quem?

Cristina Civale coloca os seus demônios para fora em um ótimo blog, o Civilizacion & Barbarie. Hospedado no site do jornal argentino Clarin, o blog é um espaço para questões e reflexões provocativas. Como as que reproduzo abaixo (achei desnecessário traduzir do espanhol).



Se pueden relacionar estos estados frente a la pandemia de la gripe porcina, ante la seguridad social, ante la goberanbilidad y el resultado de la elecciones, ante la crisis económica.

¿Es nuestro miedo o el miedo que los otros quieren que tengamos?
¿El miedo protege o paraliza?
¿Cedemos el control cuando entramos en pánico?

¿Cuál es tu mayor miedo hoy, ahora mismo?

Tarde de chuva...

Chove nesta tarde aqui em Natal. Chove muito mesmo. Ainda nem é seis horas, mas o tempo está escuro. Um frio gostoso se anuncia para tornar o convite de ir prá cama logo mais algo irrecusável. Enquanto isso, como sempre, ralo por aqui. Estou no trampo... Preenchendo relatórios e outras coisas... Por isso, enquanto trabalho, deixo você em boa companhia... Assista o vídeo abaixo. No Brasil, o filme chamou-se "Amor, sublime amor". Se você é da minha geração (uau! estou falando de geração no passado...), com certeza que sim...

terça-feira, 14 de julho de 2009

PT e PMDB: cenas de um casamento...


Casamentos duradouros são cada vez mais raros nos dias que correm. Georg Simmel, que escreveu clássico texto sobre a díade, certamente ficaria desconcertado com o, digamos, crescimento da fragilidade estrutural dessa "unidade social". Mas os casamentos são realidades complicadas também na política. É esse o caso do enlace matrimonial entre o PT e o PMDB. Como estou super-ocupado, deixo vocês com a análise sempre lúcida do Alon Feuerwerker a respeito dessa relação cansativa. Leiam aí abaixo. Lá no final do post, para esfriar a cabeça após a leitura, e dado que eu estou em uma fase meio brega, coloquei famosa música sertaneja sobre uma certa relação que ocorre entre "tapas e beijos". Confira!

O desafio de trocar a clientela

Quando você transforma a realidade, ela também transforma você. Arrastado a uma composição estratégica com o PMDB, o PT vai adquirindo traços do parceiro. O que impõe novos desafios

A crise política de 2005 fez surgirem previsões catastróficas sobre o Partido dos Trabalhadores. A sigla estaria condenada, depois de decepcionar quem enxergava nela o vetor de renovação dos costumes políticos no Brasil. Mas os prognósticos negativos –frequentemente, torcida travestida de análise– falharam. O PT viu Luiz Inácio Lula da Silva reeleger-se e manteve a presença no Congresso Nacional. E continua sendo a legenda orgânica do portifólio. Mais de 300 mil filiados participaram da última eleição interna. Todas as pesquisas mostram o PT na dianteira da preferência popular, bem na frente dos demais.

Qual é o desafio, então? É transformar a força em hegemonia. O partido surgiu nos anos 80 do século passado como uma espécie de anti-PMDB. Era a agremiação vertebrada, que se opunha conceitualmente à geleia-geral da frente política de resistência ao autoritarismo. O partido-partido em vez do partido-frente. O porta-voz do segmento mais moderno e dinâmico da sociedade. Ganhou musculatura após o impeachment de Fernando Collor. E chegou ao governo mantendo a essência de suas concepções. Você se lembra da profusão de petistas no primeiro ministério de Lula, em 2003?

Como inexiste almoço grátis, nem exercício pacífico do poder sem hegemonia, a vida o fez dobrar-se à realidade: ou moderava o apetite, convidando mais gente para o banquete, e abria a administração, ou seria despejado do Éden. Ou entrava no jogo para valer, ou caía fora. Entrou e gostou. Daí que, numa ironia típica, eis o PT fazendo de tudo e mais um pouco para segurar junto dele o PMDB. O petismo poderá argumentar que cuida de sobreviver enquanto preserva sua pureza, por existir uma linha divisória entre os partidos. Mas a velha dialética já observava: quando você transforma a realidade, ela também transforma você.

Arrastado a uma composição estratégica com o PMDB, o PT vai adquirindo traços do parceiro (é também o que acontece na relação do Democratas com o PSDB: eis um assunto para outra coluna). Ao ponto de assistirmos hoje no Senado a um sintomático casamento de conveniência: o PT ajuda o PMDB a salvar a pele do presidente da Casa, José Sarney (AP), e em troca o peemedebismo ajuda a vacinar o PT na CPI da Petrobras.

Ambos parecem muito satisfeitos com os termos do contrato nupcial, convenientemente esquecidos de que talvez interesse ao cidadão conhecer o que vai pelos intestinos da vetusta Casa e também da nossa querida estatal. Mas, dada a dificuldade de pescar no cenário brasileiro massa crítica de políticos que ao menos simulem preocupação com o interesse público, não parece haver motivo para alarme.

No atual esforço para caracterizar tudo como “luta política”, e assim justificar o injustificável, o PT vai fechando os últimos dutos que o ligam àquele veio da “ética”. Esses votos vêm sendo permutados, com vantagem numérica, pelo apoio de outro pessoal: os mais pobres e os do Nordeste. Os pobres, gratos pelos belos, justos e agressivos programas sociais, terreno em que quantidade é qualidade: o sujeito que inventa a vacina contra uma doença letal ganha prestígio, mas os votos irão para o político que adotar as providências práticas e erradicar o mal. Já o Nordeste está cativado pelo crescimento “chinês” da economia regional.

Aqui aparece um problema. Os aliados do PT têm revelado mais competência para enraizar-se no novo público-alvo do partido de Lula do que os petistas. Especialmente o PMDB e –no Nordeste– o PSB. Também por isso, bem no momento em que deveria buscar estrategicamente a hegemonia, o PT precisa dobrar-se aos parceiros num grau antes impensável, à luz da ambição partidária e também dos princípios fundadores da legenda “diferente de tudo que está aí”.

A saída defendida por Lula para 2010 é conhecida: concentrar esforços para eleger Dilma Rousseff e ampliar com força as bancadas no Congresso. Por incrível que pareça, talvez o primeiro desafio seja mais alcançável do que o segundo, dada a expertise dos aliados em usar o poder de Brasília para alavancar força regional. Diria Arquimedes, se fosse um político brasileiro: deem-me um bom cargo federal, com uma caneta cheia de tinta, que eu garanto os votos. Desde a Antiguidade se sabe que um ponto de apoio adequado permite mover o mundo.

O PT quebra a cabeça para decifrar esse enigma, barreira entre o partido e o projeto de, a partir de 2011, construir uma hegemonia “por cima”, de Brasília para o resto do país.


Lentidão no Blog

Nestes dias, infelizmente, estou postando menos, quase nada. É que estou terminando a feitura de um relatório de pesquisa. Assim que terminar, prometo!, voltarei com todo o gás!

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Música para o começo da jornada da tarde

De volta após o almoço? Eu também... C'est la vie... O trabalho nos espera... O que fazer? Escutar um pouco de música pode aliviar um pouco o peso do mundo, não é mesmo? Então, vamos curtir um pouco a música abaixo?

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Música para quem ainda está no trabalho.

Ainda no trampo? Eu também... A música abaixo é para nós, então.

Lula recebe importante prêmio, mas a grande imprensa finge que nada aconteceu...

Reproduzo aí abaixo a interessante nota postada pelo sempre arguto jornalista Ricardo Kostho em seu criativo balaio.

Prêmio de Lula orgulha o país, mas imprensa esconde

Caros leitores,

são onze e meia da noite e não venço liberar os comentários. Ainda restam mais de 130 na fila e estou morrendo de sono. Passei a tarde toda viajando e aqui onde estou, em São Sebastião, a conexão da internet é muito lenta.

Por favor, não pensem em censura. Os comentários excluídos até agora foram muito poucos _ só aqueles que continham ofensas graves ou eram pura baixaria. Volto daqui a pouco, assim que acordar, para liberar os comentários. Boa noite a todos e muito obrigado pela participação de voces neste debate acalorado aqui no Balaio.

Manhã de quinta-feira: só agora consegui liberar todos os comentários, mais de 400, inclusive os que foram enviados ontem.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu na noite desta terça-feira, em Paris, o prêmio Félix Houphouët-Boigny concedido pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a educação, a ciência e a cultura).

Presidido por Henry Kissinger, ex-secretário de Estado dos Estados Unidos, o júri premiou Lula “por sua atuação na promoção da paz e da igualdade de direitos”.

Não é um premiozinho qualquer. Entre as 23 personalidades mundiais que receberam o prêmio até hoje _ anteriormente nenhum deles brasileiro _ , estão Nelson Mandela, ex-presidente da África do Sul, Yitzhak Rabin, ex-premiê israelense, Yasser Arafat, ex-presidente da Autoridade Nacional Palestina, e Jimmy Carter, ex-presidente dos Estados Unidos.

Secretário-executivo do prêmio, Alioune Traoré lembrou durante a cerimonia na sede da Unesco que um terço dos vencedores anteriores ganhou depois o Prêmio Nobel da Paz.
Pode-se imaginar no Brasil o trauma que isto causaria a certos setores políticos e da mídia caso o mesmo aconteça com Lula.


Thaoré disse a Lula que, ao receber este prêmio, “o senhor assume novas responsabilidades na história”.

Mas nada disso foi capaz de comover os editores dos dois jornalões paulistas, Folha e Estadão, que simplesmente ignoraram o fato em suas primeiras páginas. Dos três grandes jornais nacionais, apenas O Globo destacou a entrega do prêmio no alto da capa.

Para o Estadão, mais importante do que o prêmio recebido por Lula foi a manifestão de dois ativistas do Greenpeace que exibiram faixas conclamando Lula a salvar a Amazônia e o clima. “Ambientalistas protestam durante premiação de Lula”, foi o título da página A7 do Estadão.
O protesto do Greenpeace foi também o tema das únicas fotografias publicadas pela Folha e pelo Estadão. No final do texto, o Estadão registrou que Lula pediu desculpas aos jovens ativistas, retirados com truculência pela segurança, e “reverteu o constragimento a seu favor, sendo ovacionado pelo público que lotava o auditório”.


“O alerta destes jovens vale para todos nós, porque a Amazônia tem que ser realmente preservada”, afirmou Lula em seu discurso, ao longo do qual foi aplaudido três vezes quando pediu o fim do embargo a Cuba e a criação do Estado palestino, e condenou o golpe em Honduras.
“Sinto-me honrado de partilhar desta distinção. Recebo esse prêmio em nome das conquistas recentes do povo brasileiro”, afirmou Lula para os convidados das Nações Unidas.


A honraria inédita concedida a um presidente brasileiro, motivo de orgulho para o país, também não mereceu constar da escalada de manchetes do Jornal Nacional. A notícia da entrega do prêmio no principal telejornal noturno saiu ensanduichada entre declarações de Lula sobre a crise no Senado e o protesto do Greenpeace.

É verdade que ontem foi o dia do grande show promovido nos funerais de Michael Jackson, mas também ganhou destaque na escalada e no noticiário a comemoração pelos quinze anos do Plano Real (tema tratado neste Balaio na semana passada) promovida no plenário do Senado, em que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso aproveitou para atacar Lula.

Diante da manifesta má-vontade demonstrada pela imprensa neste episódio da cobertura da entrega do Prêmio da Unesco, dá para entender porque o governo Lula procura formas alternativas para se comunicar com a população fora da grande mídia.

Muitas vezes, quando trabalhava no governo, e mesmo depois que saí, discordei dele nas críticas que fazia à atuação da imprensa, a ponto de dizer recentemente que não lia mais jornais porque lhe davam azia.

Exageros à parte, mesmo que esta atitude beligerante lhe cause mais prejuízos do que dividendos, na minha modesta opinião, o fato é que Lula não deixa de ter razão quando se queixa de uma tendência da nossa mídia de inverter a máxima de Rubens Ricupero, aquele que deu uma banana para os escrúpulos.

“O que é bom a gente esconde, o que é ruim a gente divulga”, parece ser mesmo a postura de boa parte dos editores da nossa imprensa com um estranho gosto pelo noticiário negativo, priorizando as desgraças e minimizando as coisas boas que também acontecem no país.

Valeu, Lula. Parabéns!

Sobre Darendorf

Graças ao auxílio do Ex-Blog do César Maia, coloco, mais abaixo, um texto, publicado inicialmente no jornal El País, traduzido pelo ex-prefeito carioca, de um dirigente do PP espanhol. Trata-se de uma interessante apresentação do pensamento de Darendorf. Vale a pena conferir!

O POPULISMO MIDIÁTICO COLOCA O POVO CONTRA O POVO!

Trechos do artigo de José Maria Lassalle, secretário de estudos do PP-ES, sobre o pensamento de Ralf Dahrendorf, recentemente falecido (El País, 06/07)

1. Dahrendorf entende que os liberais -de fato- serão sempre uma minoria, pois se exige uma série de virtudes cardinais da liberdade. A saber: Ser capaz de não deixar-se apartar do próprio rumo ainda no caso de ficar só; estar disposto a viver com as contradições e os conflitos do mundo humano; ter a disciplina de um espectador comprometido, que não se deixa comprar; e, finalmente, assumir uma entrega apaixonada à razão, como instrumento do conhecimento e da ação. Foi pioneiro em em alertar sobre o populismo midiático.

2. Sem Dahrendorf, o pensamento liberal perde o brilho argumentativo. Sua desaparição nos priva também da exemplaridade de um liberal de verdade. Esse liberal das garantias, da tolerância e dos direitos, que crê que a luta contra a crueldade e o medo, é o primeiro e que, a partir disso, vem os demais. Como explica Eric D. Weitz: "a democracia, é um objeto delicado, e a sociedade, fruto de um equilíbrio instável, sempre se vem ameaçadas e podem saltar pelos ares".

3. Suas precoces leituras de Weber o fizeram estudar o conflito como uma realidade inevitável no seio da sociedade humana. Uma realidade que não se erradica porque o conflito não se funda em classes ou na desigualdade, mas no poder mesmo. Seu enfrentamento requer estruturas de tolerância frente à diferença e, sobretudo, de gestão ordenada do conflito que o transformem em um fator de progresso através do pluralismo das sociedades abertas. Sobretudo depois que contemplou o nazismo, com a enorme inquietude de jovem, viu como esse "vírus da inumanidade" e essa "épica uniformadora" estava atrás do sentido de comunidade que latia na alma da nação alemã.

4. Dahrendorf percebeu que o populismo midiático é uma forma de pensar e atuar como se a base de sua legitimidade consistisse na relação direta com o povo no lugar das instituições da democracia. Um autoritarismo progressivo ou populismo de baixa intensidade, cujo objetivo é impulsionar a desapropriação da soberania da representatividade da classe política e do parlamento, substituindo-os por novos intermediários que, convertidos em tribunos da opinião, utilizarão finalmente o "povo contra o povo", fazendo-se renunciar a "um controle informado, cotidiano e permanente sobre a direção da coisa pública.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

A alta-costura é um objeto sociológico interessantíssimo


Sim, claro que é. O Bourdieu, por exemplo, escreveu coisas muito legais a respeito. Especialmente sobre as disputas de posições e as estratégias de subversão no "campo" (campo, sim, ulá-lá-lá). E eu com isso? Olha, não é porque eu me visto assim tão desleixado que eu não valorizo o que é belo, não é? A, como vou dizer?, obra de Jean Paul-Gautier me interessa, certo? Não sei porque vocês estão rindo. Gosto, sim. Pronto. E vocês deveriam dar uma sacada no que ele produziu para o seu último desfile. Confiram aqui.

A Rádio Rural também tocava Ennio Morricone

De vez em quando, na metade da década de setenta, eu ia passar um final de semana em Mossoró. Era uma festa! Meu programa predileto era assitir aos filmes de faroeste no Cine Pax, situado na Praça da Catedral, e procurar as novidades na livraria de Gonzaga Chimbinho. Também catava algum jornal da dita "imprensa alternativa" em uma banca de jornais que ficava (ainda fica?) em frente a um hotel (parece-me que, nos dias atuais, funciona lá a Câmara Municipal). O final de semana corria rápido. Logo estava de volta para Apodi e para o trabalho no Banco do Brasil. Para relembrar as coisas boas, ligava a Rádio Rural e ouvia as músicas de Ennio Morricone. Músicas que se tornaram célebres como trilhas de filmes como "O bom, o mau e o feio" e "Era uma vez no oeste". Confira uma delas aí abaixo.

Essa tocava na Rádio Rural de Mossoró

Na primeira metade da década de setenta, quando a gente cultivava a ilusão de que lugares, pessoas e coisas eram facilmente definíveis, eu ouvia diariamente a Rádio Rural de Mossoró. Devo a essa rádio, para ser sincero, muita da minha, como direi sem ficar constrangigo?, "formação musical". Bom, aproveito para eximir a emissora de qualquer responsabilidade sobre o meu lado brega.

sábado, 4 de julho de 2009

E por falar em chuva...

Trecho de uma "fita" (alguém já se referiu a filme como fita diante de você?) que fez sucesso no Cine Odeon.

Dentro deste mundo, um outro mundo podemos achar

Chove em Natal, mas, na lembrança, trago um outro mundo.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Outra do Cine Odeon

No vídeo abaixo, um pequeno trecho de uma película (gostou da palavra?) tantas vezes vista no Cine Odeon, no início dos anos setenta.

Música para quem é da minha geração...

De volta ao trabalho, prá variar, escuto música enquanto tento escolher a que patrão servir: capes, cnpq, sigaa, departamento, leitura de monografias, revisão de dissertação, documentos burocráticos do pet ... Suspendo tudo e escolho uma música que fez a cabeça da minha geração, quando éramos adolescentes. Eu morava, então, em Apodi, lá no oeste do Rio Grande do Norte. Nas noites de sábado, antes da sessão do Cine Odeon (fechado há décadas, infelizmente), ficávamos ouvindo músicas como a que coloquei abaixo para você também relembrar (ou conhecer, nunca se sabe).

A melancolia da esquerda e o cinismo da direita

Transcrevo abaixo partes de um texto inicialmente publicado no El País. Se você freqënta este blog, e eu espero que faça isso com assiduidade (risos), sabe que eu sempre coloco aqui artigos ou reportagens do bom jornal espanhol. O texto está traduzido. E esta tarefa foi feita pelo Ex-Blog do César Maia. Créditos devidamente registrados, que tal ler uma análise interessante sobre as diferenças entre esquerda e direita? Claro, claro, o universo de referência é a Europa, mas, vá lá, dá para aproveitar algo para pensar a nossa realidade...


"O VÍCIO DA ESQUERDA É A MELANCOLIA. O VÍCIO DA DIREITA É O CINISMO"!

Trechos do artigo de Daniel Innerarity (professor de filosofia na U. Zaragoza), Ideias para a Esquerda. (El País, 28/06)

1. O vício da esquerda é a melancolia e o da direita é o cinismo. Em geral, a esquerda espera muito da política, mais que a direita. Exige à política resultados, não só liberdade, mas igualdade. A direita se contenta com a política manter as regras do jogo. É mais procedimental, e se dá por satisfeita que a política garanta marcos e possibilidades, pois o resultado concreto não é o mais importante. Claro que ambas aspiram defender a liberdade e a igualdade. Ninguém tem o monopólio dos valores, mas a ênfase de cada uma explica suas distintas culturas políticas.

2. A diferença radicaria em que a esquerda, na medida em que espera muito da política, também tem um maior potencial de decepção. Por isso, o vício da esquerda é a decepção e o da direita é o cinismo. A esquerda aprende em ciclos longos, e só consegue se recuperar através de certa revisão doutrinária. A direita tem mais incorporada a flexibilidade, e é menos doutrinária, mais eclética, incorporando com maior agilidade elementos de outras tradições políticas.

3. Por isso, a esquerda só pode ganhar se há um clima no qual as ideias joguem um papel importante e há um alto nível de exigências que se dirijam à política. Quando isso falta, quando não há ideias em geral e as aspirações da cidadania em relação à política são planas, a direita é a preferida dos eleitores. A esquerda deveria politizar, frente a uma direita, que isso não interessa.

4. A direita vitoriosa na Europa é uma direita que promove direta ou indiretamente a despolitização e se move melhor com outros valores (eficácia, ordem, flexibilidade, saber técnico...). O que a esquerda deveria fazer é lutar em todos os níveis para recuperar a centralidade política. Hoje, o verdadeiro combate se dá em um campo de jogo que está dividido: os que desejam que o mundo tenha um formato político e outros que não lhes importaria que a política resultasse insignificante.

5. Por isso, a defesa da política é a tarefa fundamental da esquerda. A direita está comodamente instalada na política reduzida a sua mínima expressão. Para a esquerda, que o espaço público tenha qualidade democrática, é um assunto crucial, onde joga sua própria sobrevivência. A atual socialdemocracia europeia não tem nem ideias nem projetos, ou os tem em medida claramente insuficiente.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

A minha emoção na homenagem a Edivan Pinto

No sábado passado, estive em Apodi, cidade situada a 380 km de Natal. Fui participar de uma missa e de um ato em homenagem ao meu amigo Edivan Pinto, morto tragicamente há cerca de um mês. Viajei com o Deputado Fernando Mineiro e Assis, o simpático motorista do parlamentar petista. Uma viagem agradável e uma boa aula de política e de realidade brasileira.

No Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Apodi, local do ato, encontrei-me com velhos amigos, como Edilson Neto, presidente da entidade, e um dos fundadores do PT no município, Júnior da CPT e o Professor Evilazáro, dentre outros. Também encontrei-me com a família de Edivan. Sua filha, que vi pequena, é já uma moça e, pelo que me disse Mineiro, cursa agronomia na UFERSA.

Os velhos amigos de Apodi, sabedores da amizade que me unia a Edivan, pediram-me para falar. Fui até a frente, mas, traído pela emoção, não consegui articular discurso algum. Não me senti patético, porém. Pelo contrário, senti-me humano e em contato com o que de mais humano em cada um de nós ao me derramar em prantos pela memória do meu inesquecível amigo.

Voltando ao ato. Foi um evento bonito e emocionante. À altura de Edivan. O momento alto foi a fala de uma trabalhadora rural, Dona Francine, que, com emoção, mas com muita firmeza, recitou uma longa e linda poesia em homenagem ao grande articulador dos movimentos de trabalhadores rurais no semi-árido que foi Edivan Pinto.

Aqui, no Aeroporto de Brasília onde me encontro, revivo as emoções da manhã de sábado em Apodi. Meus olhos marejam e eu peço uma nova cerveja para fazer descer o nó que estrangula a minha garganta.

A minha solidão política

Escrevo este post no aeroporto de Brasília. Trabalhei até o final da tarde na Capes, e deveria continuar por aqui até amanhã. Questões familiares fizeram-me antecipar o retorno. O tempo por aqui está seco. E a aridez da paisagem parece retratar a aridez política que viceja na capital do país. Nestes tristes tópicos, o realismo político coloca por terra todas as ambições mudancistas assentadas em princípios. Mas, não, não vou fazer parte da alegre corrente que, ao espinafrar o Sarney ou Renan, sente-se moralmente superior. Comigo, não. Não que eu tenha submergido no realismo político, longe disso. Mas é que, chegando perto dos cinqüenta anos de idade, começo a ter um cansaço danado do farisaísmo moral de nossos bem-pensantes de classe média (aquelas pessoas que adoram espinafrar o Lula porque ele não freqüentou uma universidade, mas que têm na revista Veja a sua única fonte de “análise” da realidade nacional). Tampouco simpatizo com o pragmatismo tosco de alguns dos petistas. Estes, em geral, conformam-se rapidamente em serem mais realistas do que o rei.

Mas também não jogo todos no mesmo saco (essa postura cômoda e conveniente). Estou cansado e me sentido só e velho, mas acho que existem pessoas e coisas boas acontecendo nestas plagas. E o Governo Lula, apesar de tudo, é o melhor governo que tivemos neste país em décadas (embora eu seja um “senhor”, como teimam em me dizer, apesar dos meus protestos veementes, as belas atendentes do Café Santa Clara do Midway Mall, não, eu não vivi o segundo Governo Getúlio Vargas para fazer uma comparação...). Mas basta olhar ao redor. Quem está na universidade pública, não sendo completamente blindado pela adesão a alguma seita exotérica marxista-leninista ou um bolchevique de playground, vai, sim, dar-se conta da diferença entre o que temos hoje e a situação de 2002, no final da infeliz era FHC, quando, por exemplo, a UFRN contava os tostões para pagar a conta de luz. E isso é algo que não podemos simplesmente menosprezar ou diminuir. E olha que eu não estou me referindo à reconstrução da capacidade de intervenção do Estado (com a re-equipagem do aparelho administrativo, através de concursos públicos) e nem das políticas de investimento em infra-estrututura e das políticas sociais.

Estou ficando velho, mas, não, não me apeei do trôpego cavalo da análise crítica da realidade. Por isso, como diria o Zé Simão, colunista da Folha, “vão indo que eu não vou...”