domingo, 30 de junho de 2013

Teremos novidades na disputa para os governos estaduais?

É bem provável que amanhã, segunda-feira, o DATAFOLHA dê conhecimento de uma pesquisa sobre intenções de votos para os governos de alguns estados. Teremos novidades? Sim!

Que novidades serão essas? A queda dos chamados políticos tradicionais e a ascensão daqueles mais identificados com a apolítica.

Não demonizem Marina

Marina Silva, goste-se ou não de suas posturas e posicionamentos políticos, é uma grande figura. Uma personalidade cativante.

Por isso, calma aí, nada de demoniza-la. Isso será tiro no pé. O caminho é pela política, hein?

Da antipolítica ao antipetismo

A antipolítica é um fenômeno viral. E globalizado. Na Itália ou Irlanda foi, em parte, impulsionado pela derrocada econômica. No Brasil, o cenário foi outro: crescimento econômico e redução da desigualdade social. Há elementos singulares que necessitam ser perscrutadas por aqui. E isso aponta para o quão desafiador é a produção de uma explicação minimamente razoável a respeito da expansão da antipolítica entre nós?

Mas não nos desesperemos! São muitas as trilhas e atalhos que levam ao terreno da explicação substantiva sobre a expansão da antipolítica nestas plagas. Alguns desses caminhos analíticos ainda são difíceis de serem trilhados, dado que estamos, neste exato momento, imersos em seu redemoinho. Sigamos, então, mesmo atabalhoadamente, algumas dessas sendas analíticas.

Antes de seguir, deixem-me fazer uma demarcação: a atual onda antipolítica não pode e não deve (porque isso significaria jogar a banheira da água suja com a criança) com fascismo. A reação de parte da esquerda, incluídos aí tanto a extrema-esquerda quanto setores do PT, de partir para o ataque genérico contra os antipartidos (apenas alguns dos agentes da antipolítica) foi, nesse sentido, um equívoco grandioso.

1. A ANTIPOLÍTICA E A GLOBALIZAÇÃO: O OCASO DO ESTADO

O declínio do Estado é o anverso da Globalização. A vida econômica, cada vez mais condicionada ao jogo do mercado financeiro, escapa, como areia dentre os dedos da mão, dos mecanismos de controle e das regulações estatais. As pessoas não precisam ter lido o excepcional livro do Professor Martin Von Creveld, ASCENSÃO E DECLÍNIO DO ESTADO, para captar os desdobramentos dessa realidade. Para a sua vida cotidiano e para a vida política.  A consequência? Desinteresse e ignorância em relação às questões relacionadas ao Estado. E essa é uma dimensão radicalizada em uma sociedade, como a nossa, na qual a afirmação da cidadania foi trilhada via aumento do consumo, como ocorreu nos últimos dez anos.

2. A ANTIPOLÍTICA, A CORRUPÇÃO E A BOA CONSCIÊNCIA

A antipolítica alimenta-se da insustentável generalização de que todos os políticos são corruptos. Não apenas corruptos! Eles (os políticos) viveriam de costas para os interesses das pessoas. Há os saudosos da ditadura no meio, não esqueçamos. Mas muita gente que brandeia a antipolítica condena todos os políticos e os identifica como corruptos por um motivo bem egoísta: com essa atitude identificam a fonte de todo mal no outro (ou em outros) e alicerçam a percepção de si mesmos como moralmente superiores. Os políticos são corruptos, mas eu sou legal e honesto, essa a mensagem.

3. A ANTIPOLÍTICA É A REJEIÇÃO DA RACIONALIDADE TÉCNICA E DA ÉTICA DA RESPONSABILIDADE

A antipolítica alimenta-se da dificuldade dos não especialistas em entender as tecnicalidades da ação do Estado em suas diversas esferas. Os mais “letrados” (detentores de diplomas universitários, que, por isso, se sentem culturalmente superiores aos “analfabetos”, muito embora tenham seu universo de leitura restrito aos livros de autoajuda) falam de “falta de vontade política”. Os menos letrados (e mais despreocupados com as performances) esbravejam contra a “falta de vergonha” e a “safadeza” dos políticos.

4.  A ANTIPOLÍTICA TEM OS SEUS SURFISTAS

Tem sempre alguém querendo pegar uma onda. E se essa for midiática, não tem jeito. Alguns minutos de audiência, para não poucos, justificam qualquer chafurdada no obscurantismo. Os surfistas de direita não são poucos. No Brasil, como o PT é a melhor expressão institucional de um partido político, eles intuíram (e bem) que qualquer lasquinha que se tire na política, na racionalidade política, arranha, de algum modo, o PT e a forma como este fez política nos últimos dez anos. Então, atice-se a antipolítica. Mas tem também gente que se acha intelectual e eticamente superior surfando nessa onda. Estes procuram “vocalizar” os gritos das ruas. Sua retórica alinha-se superficialmente com o vitalismo. Vão da desconstrução teórica para a defesa da destruição nada metafórica dos símbolos do sistema capitalista e, pasmem!, da democracia. Quedam-se ante o palavrório dos anarquistas de playground e verbalizam consignas contra o “sistema podre”. Teriam alguma graça não tivessem já ultrapassada a barreira da idade da Razão...

5. A ANTIPOLÍTICA PODE BENEFICIAR A EXTREMA-ESQUERDA, MAS SÓ NO CURTO PRAZO...

A antipolítica aboletou-se na produção da extrema-esquerda. Percebeu o potencial e o incorporou, dando nova direção. Mas a extrema-esquerda, mesmo “alijada do processo”, não se deu por vencida e construiu o delírio de que iria “disputar as massas”. As agressões físicas sofridas por alguns de seus militantes indicam que a antipolítica não tem complacência e nem muitas veleidades democráticas. Pior do que isso, em meio à regressão, alguns dos seus intelectuais veem nas multidões nas ruas os sinais de uma democracia direta em construção.

6. NO BRASIL A ANTIPOLÍTICA É, ANTES DE TUDO, ANTIPETISTA


É estranho que o pessoal do PT não tenha se dado ao trabalho de monitorar os chamamentos para as manifestações nas redes sociais. Tivessem feito isso não teriam produzido a patacoada da “onda vermelha” (copyright de Ruy Falcão).  Por quê? Ora, porque não a rejeição, mas o ódio puro e simples ao PT é o aspecto mais sobressalente dessas mensagens. 

sábado, 29 de junho de 2013

Dilma, a pesquisa Datafolha e o jogo

Não pouca gente, especialmente no PT, achava que o jogo seria fácil e que a fatura estava liquidada no que se refere às eleições de 2014. Em conversas com amigos, vez ou outra, procurava demovê-los dessas ilusões. Mas quem quer ouvir algo que conspira contra suas certezas?

As pesquisas Datafolha de hoje, sobre a avaliação do governo, e, mais especialmente a de amanhã, sobre a corrida presidencial, caíram como uma bomba no arraial petista. Não vou repetir os números aqui; eles estão em reproduzidos em todos os quadrantes da rede. O que eu queria chamar a atenção é para o seguinte: se antes, não se teve sensibilidade para perceber a dureza do jogo, agora, quando isso fica evidente, não dá para cair no desespero e buscar "saídas mágicas".

Em primeiro lugar, a queda expressiva de Dilma e a ascensão de Marina (forte), Aécio (menos forte) e Eduardo (menos forte ainda) não podem ser tomados como dados definitivos. Lembrem-se das pesquisas eleitorais de todas as eleições presidenciais de 1994 para cá e vocês terão elementos para tomar cuidado com ascensões e quedas de intenções de votos momentâneas.

Em segundo lugar, Dilma está naquele que é o patamar do eleitorado mais marcadamente petista. Dilma precisará mais do que nunca do PT, essa a mensagem da pesquisa. Por isso mesmo, o resultado das eleições internas do partido passarão a ser acompanhadas com lupa pelo Planalto.

O Governo Dilma, para o bem e para o mal, não construiu uma boa relação com a base petista. Pro bem e pro mal, pois, sei bem, algumas das demandas dessa base não são nem razoáveis e nem politicamente aceitáveis (cerceamento dos meios de comunicação, por exemplo).

Em terceiro, gostem ou não os petistas e seus intelectuais mais descolados, Dilma necessita reconstruir a sua relação com os evangélicos. Ela se deixou levar pela onda criada pela aguerrida militância gay (que, no fundo, não é tão simpática à presidenta e nunca estará satisfeita com as suas ações em prol dos direitos civis dos GLBTs) em torno do Deputado Feliciano. O seu distanciamento não foi tão grande. E a bancada petista ajudou a criar tensões e reproduzir preconceitos.

Quarto, e voltando à pesquisa Datafolha, o PT e a militância petista não têm feito política de verdade sob o governo Dilma. Fizeram, e bem, no Governo Lula. Essa militância, com boa irradiação nos movimentos sociais, foi fundamental para neutralizar os efeitos maléficos do Mensalão sobre o Governo Lula e o próprio processo eleitoral de 2006. Lembremos ainda que a blogosfera petista foi fundamental na desconstrução das proposta de Geraldo Alckmim. Tem até estudos acadêmicos sobre isso. O mesmo, sejamos francos, não ocorrer no Governo Dilma.

Por que não ocorrer? Por várias razões. Muitas delas alicerçadas nas melhores das intenções. Mas, como dizem, de boas intenções o inferno está cheio. E desde que um certo florentino resolveu dar algumas dicas ao seu Príncipe, e isso faz alguns séculos, não dá para analisar (e, talvez, nem fazer) política alicerçado apenas em boas intenções. Mas, voltando à questão, o fato é que essa relação entrou em crise. O estilo de governo Dilma, centralizador e gerencialista, não potencializou o tratamento político de questões candentes como o patinar da economia e a pouca agilidade na entrega de obras públicas estratégicas (na área da infraestrutura).

Resumo da ópera: é cedo, muito cedo, para construir afirmações peremptórias sobre o processo eleitoral. Não estou, longe disso!, minimizando os efeitos corrosivos da antipolítica sobre a disputa que se aproxima. Nem tenho ilusões a respeito de quem é o/a principal beneficiário: Marina Silva.

Os petistas não podem sair de um jogo no qual, de verdade, eles tem atuado com muita pouca vontade. A economia é fundamental? Claro! E eu vou logo fazer um post sobre essa dimensão, digamos, para relembrar antigas crenças, infraestrutural. Mas é no terreno da política, da disputa de valores e elementos culturais, que está se desenhando o embate. Aí, meus caros, quem não joga direito, não planeja cada lance cuidadosamente, quem acredita na genialidade inata do seu futebol-arte, cava a sua própria derrota.

Por isso, não é sem sentido avisar: a pesquisa Datafolha é apenas um momento do jogo e ele ainda não está nem na metade do primeiro tempo. Calma aí, pessoal!

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Quem me vê...

Este não é exatamente um blog campeão de audiência. Mas tem uma frequência que me honra muito. Por curiosidade, fui ver a origem do público deste espaço. O blogger tem esse recurso, mas eu nunca tinha verificado. Olha que surpresa!

No dia de hoje, até agora, 15 horas, tivemos a seguinte frequência:

Brasil
97
Estados Unidos
13
Rússia
12
Holanda
3
Alemanha
2
Canadá
1
Chile
1

Então, quer dizer que alguém na Rússia vem aqui? Que honra! Agora, olha só a frequência que tivemos desde o início.

Brasil
79089
Estados Unidos
10458
Rússia
2152
Portugal
1571
Alemanha
1458
França
695
Holanda
550
Coreia do Sul
252
Eslovênia
248
Espanha
210

Viu? A Rússia (olha só como estou pretensioso!) vem aqui desde o começo. E os outros países? Terra nas quais nunca estive (e, dado o meu orçamento, nunca estarei) tem gente visualizando o blog. Que coisa!

A iniciativa de Dilma e os efeitos perversos

Uma das lições da melhor sociologia é que a análise dos fenômenos sociais não pode ser empreendida tendo-se como referência predominantemente as vontades e intenções dos atores envolvidos. Não porque eles não sejam sinceros (embora nem sempre eles o sejam), mas, sim, porque ao atuar em direção os atores produzem resultados diferentes (ou até antagônicos) aos seus interesses iniciais.

Isso acontece na política, isso acontece na vida. Na sua e na minha. O problema é que estamos sempre muito prisioneiros das análises causais, e, por isso, temos dificuldades de apreender os fatos sociais como composição de resultados não intencionados pelos atores. Até porque, sejamos francos, estes tendem a racionalizar a posteriori os resultados obtidos. E, frequentemente, incorporam-nos como desejados desde o começo. Quando criança, você queria ser astronauta, mas, quando a meia idade chegou, você se descobriu professor de sociologia...

E aí, meu caro? O que isso quer dizer? Já ouço você reclamando aí. Bom, se chegou até aqui, acho que foi movido pelo título lá em cima, não foi? Batata! Vamos lá, então.

Olha, Dilma tomou a iniciativa. Meio atabalhoadamente, é certo. Mas saiu do canto do ringue, não é? Basta você lembrar aí a reação de Aécio e Agripino... Puramente defensivas. Mas, como eu ia dizendo, essa iniciativa foi atabalhoada. Por quê? Porque faltou combinar com parte do seu time. E este, como vimos nas intervenções de Michel Temer e Henrique Alves, não está achou graça nenhuma da ideia de constituinte exclusiva. A Presidenta fez o quê? O que não podia deixar de fazer: recuar.

Mas há algo pior no horizonte. A iniciativa foi boa, mas pode abrir uma caixa de pandora. E aí, lembremos, coisas como voto distrital poderão emplacar. E isso seria um desastre, especialmente para a esquerda. É assim no mundo todo.

Ou seja, até o momento, Dilma vai indo bem. Mas os resultados de sua movimentação política, meio errática inegavelmente, podem não ser tão bons assim.

PS: Este post foi inspirado em comentário feito pelo meu amigo Beto na postagem abaixo.

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Dilma toma a iniciativa política

A Presidenta Dilma deu drible. Partiu para a iniciativa política. Não estou avalizando a sua proposta de Constituinte Exclusiva, mas, inegavelmente, ela saiu do canto do ringue.

O jogo ficou mais pesado. E mais perigoso também. A Presidenta avançou, é certo. Mas, vem cá, você já pensou no preço alto que ela terá que pagar se recuar. Ué, você acha que não tem recuo. Então, meu caro, não é da política que estamos falando.

Onde eu me situo politicamente?

Uma análise multifatorial de minhas posições marcou precisamente o meu lugar no mundo. Isso mesmo! Respondi a um conjunto amplo de questões candentes e aí foi possível encontrar o meu lugar no mundo. E eu que me pensava mais conservador e mais à direita...

Bom, eu acho a coisa toda uma brincadeira. Mas vale a pena fazer o exercício.

Antes de prosseguir, digo que encontrei o caminho após a leitura do Blog do Leonardo Monastério.

No dito exercício, você pode ainda se situar politicamente em relação a alguns personagens políticos importantes da história contemporânea. Eu, por exemplo, estou mais próximo do Delai Lama e de François Hollande do que de Mahmoud Abbas e do chavismo.





Como você pode conferir abaixo, eu estou mais para centro esquerda (mais próximo da direita do que da extrema esquerda, para ser honesto) e assumo uma posição mais libertária. Você quer fazer o teste também? Ok, clique aqui.


domingo, 23 de junho de 2013

Os protestos e um olhar distanciado

EL PAÍS é o melhor jornal disponível na grande rede, isso eu não me canso de escrever. Não ganho nada do diário espanhol para isso, nunca é de mais repetir. Anos de leitura me levaram a esse posicionamento.

Para coroar, o jornalista Juan Arias, correspondente do jornal no Brasil, é uma analista arguto das coisas que ocorrem abaixo da linha do Equador. Por isso, vale a pena conferir a sua avaliação dos protestos que estão a sacudir estes tristes trópicos.

Confira aqui.

Lolita, os intérpretes dos protestos e os corvos

É trágico e cômico. A interpretação de qualquer evento social, especialmente quanto este pode impactar, mesmo que potencialmente, a distribuição de recursos socialmente escassos, está sempre envolta em uma disputa de sentidos. Com os protestos que sacudiram (e ainda sacodem) o país de norte a sul não seria nada diferente.

Esbocei esse posicionamento há dias, antes das mega-manifestações. Depois, vi cientistas sociais menos invisíveis socialmente do que eu martelando a mesma proposição.

Do deslumbramento à condenação apressada, há de tudo no agitado mercado de interpretações dos protestos. Algumas pseudo-análises são escatológicas até dizer chega. Conseguem arrumar em um mesmo texto os lugares-comuns da desconstrução pós-moderna com as velhas consignas da extrema-esquerda.

Cá do meu canto, ainda espreito por um interpretação sociológica. Alimento a esperança, aí está o meu conservadorismo sendo explicitado, de que é a Razão e a análise científica que fornecerão as chaves certas para as interpretações mais consistentes.

Chales Tilly e Raymond Boudon, apenas para citar dois cientistas sociais dignos do título, são referências importantes para esses exercícios. Pierre Bourdieu também nos fornece, ao menos do ponto de vista epistemológico, algumas luzes. Escrevi "ao menos", pois, penso, no que diz respeito à intervenção política o grande sociólogo francês não foi muito feliz. Basta pensarmos nas suas diatribes, descaradamente populistas, contra o tal do "neoliberalismo".

Bom. Mas isso tudo, quando o evento começar a decantar, irá aparecer. No momento, importa não se deixar levar pelas vivandeiras irracionalistas, que, alicerçadas em bases filosóficas tão consistentes quanto pudim de ontem, cantam elegias ao fogo purificador dos "manifestantes".

Se você quiser ler algo inspirador, algo que te leve a pensar sobre os efeitos funestos da destruição "criadora", leia o excepcional livro de Azar Nafisi, LENDO LOLITA EM TEERÃ. Aí você verá como certa esquerda e certos cultores do irracionalismo contribuem para produzir mundos sempre mais tenebrosos do que aqueles do presente.

Sempre que eu vejo essa turma em ação (isto é, digitando os seus vereditos), especialmente quando açulando o ódio às instituições, penso em um velho ditado espanhol: cria cuervos y te sacarán los ojos". Em bom português: "cria corvos e eles te arrancarão os olhos".

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Para uma análise dos protestos

Os protestos que tomaram conta das ruas, avenidas e até estradas do país nos últimos dias estão a cobrar análises substantivas e distanciadas do Fla-Flu ideológico que modula debates acadêmicos e conversas de botequim. Muita calma nessa hora, pessoal.

 Em momentos como este, nos quais o turbilhão de eventos turva o pensamento, nunca é demais lembrar antigas lições da boa e velha sociologia. Refiro-me aquela que se reivindica uma ciência empírica do mundo social, e não ao ensaísmo aligeirado que se legitima usando indevidamente o nome da ciência fundada por Durkheim.

 O que é o Movimento Passe Livre? O que ele quer? O que está produzindo? A velha e boa sociologia nos aconselha a levar em conta os seguintes aspectos na avaliação das ações de um ator (ou de um conjunto deles, vá lá).

 1) O objetivo anunciado não é bem o que parece (o objetivo intencionado pelo ator não é bem aquilo que ele anuncia);

 2) O objetivo anunciado é o que realmente os atores querem, mas suas ações têm outro significado dos quais eles não têm consciência;

3) O objetivo é o que parece – mas a intervenção de forças exógenas transformam o curso da ação de forma qualitativamente distinta, redefinindo os objetivos inicialmente estabelecidos;

4) O objetivo é o que parece – mas a intervenção de outras forças produz consequências não-tencionadas pelos atores; e

5) O objetivo é o que parece – mas a sua realização está condicionada por eventos fortuitos, estranhos ao plano original.

 Assim sendo, algumas vezes, o resultado (ou a situação resultante da intervenção de um ator ou de um conjunto de atores) que estamos analisando pode se traduzir no seguinte:

a) O objetivo real não é o aparente;

b) O objetivo real não é o que os atores realmente realizaram;

 c) O objetivo real emerge do contexto da ação;

d) O objetivo original é real, mas é realizado por uma inesperada combinação de eventos.

terça-feira, 18 de junho de 2013

É uma propaganda da Google, certo, mas é bem bacana.

Tá, ok, é propaganda. Mas é bem legal. Confira! Dá para pensar um pouco sobre a ideia de espaço público nos dias atuais. Especialmente em tempos de manifestações como as ocorridas ontem. As quais, como não poucos dizem, expressam a força de uma sociedade em rede.

domingo, 16 de junho de 2013

Manual de Sobrevivência na Universidade

Estou a ler o ótimo MANUAL DE SOBREVIVÊNCIA NA UNIVERSIDADE, da lavra do Professor Leonardo Monastério. O gajo, além de tocar uns sete instrumentos, pilota um blog e é professor universitário.

O livro é fenomenal. Você vai se deliciar com as dicas do professor. A linguagem utilizada não é a usual. Com um humor fino, ele aborda as trilhas e atalhos da vida acadêmica. Especialmente aquela que se desenrola abaixo da linha do Equador.

Vá lá, compre o livro. O único senão é que ele somente está disponível na forma de E-book. E você terá que compra-lo no site da Amazon (tem um site brasileiro da dita cuja...). Se você já tem o Kindle, sabe o caminho das pedras. Se não, instale em seu computador ou tablete o aplicativo da livraria. Aí você poderá adquirir e se deliciar com a obra.

Ah! O preço? Mais barato do que um café e um pão de queijo em qualquer aeroporto: R$ 8,90.

sábado, 15 de junho de 2013

O culto ao camponês e a regressão intelectual nas ciências sociais


Até os meus dezesseis anos residi na Várzea do Apodi. Naquele universo, as práticas econômicas dominantes eram capitalistas. Havia agricultura de subsistência, é certo e muita reciprocidade, especialmente no que dizia respeito à alimentação. Mas as práticas que moldavam a sociabilidade eram capitalista, não camponesas.

Tanto a cultura do arroz quanto o extrativismo vegetal da cera de carnaúba eram moldados por práticas que dificilmente não identificaríamos como capitalistas. Bom. Isso faz nada menos que 30 anos.

Pois não é que três décadas depois, no universo acadêmico, embalados pelo populismo político, o campesinato ressurge. Obviamente, esse ressurgimento é, em parte, empreendido com o apoio (ou para o apoio) ao MST, que articula e dá sentido a uma estrutura denominada exatamente Via Campesina. Pois, com espanholismos e tudo o mais...

Esse culto ao camponês não está fora de uma cultura de elevação a estatuto merecedor de respeito dessa coisa regressiva chamada bolivarianismo. São irmãos siameses. E, ambos, são alimentados no universo das ciências sociais por pessoas que se dizem (ou se tomam) como críticas.

É claro que tem certo encanto, pelo exotismo e pela citação retrô, a estética guevarista cultuada pelos atores vinculados a essas forças sociais e acadêmicas. Penso que deve fazer tremer as bases dos velhos saudosistas do socialismo real.

O impressionante é que a galera não se dá conta de alguns fatos históricos ligados a relação entre a esquerda bolchevique (que alimenta o seu imaginário) e os camponeses. Nunca é demais lembrar a truculência que marcou a ação do Exército Vermelho, guiado por Trotsky, contra os camponeses ucranianos liderados por Nestor Makno.

Nesse universo, sobram poucas vozes para lembrar coisas óbvias. Dentre elas, aquela de que a agricultura familiar, definida oficialmente por lei no Brasil, é uma construção sócio-política recente, que precisa ser problematizada por uma ciência do social que não se quede inerte diante do mundo fabricado pelos atores.

E essa coisa populista vai se avolumando. Há alguns dias, um curso na área de agronegócios, que seria promovido por um centro de uma universidade federal, foi inquisitorialmente torpedeado pelo barulho populista. A turma queria, de qualquer jeito, e em nome do compromisso ético político da instituição, empurrar a agricultura familiar na proposta.

Nesse universo, é necessário o vigo científico e a disposição para levar bordoadas de uma Zander Navarro para levantar algum dique contra a criação de mitos desastrosos. Um deles, persistente, é o de que existe algo, uniforme, passível de ser identificado sob a rubrica de agricultura familiar. Outro, não menos pernicioso, é o de que é essa agricultura a responsável pela produção alimentar do país.

Dilma foi vaiada. E dai?

Dilma foi vaiada. É bem capaz de os pistoleiros fazerem longas direções a respeito dos impactos de tal manifestação na eleição do ano vindouro. As vaias significam o quê mesmo? Ora, ora, nada além de vaias...

Pensar que o andar de cima não vai tirar uma casquinha em um momento como esse é algo de ingenuidade abismal. Sim, isso mesmo, quem você acha que está agora no Mané Garrincha?

Vaia por vaia, o Lula foi estrondosamente vaiado na abertura do Jogos do Pan, em 2007. Lembra? Pois é, e deu em quê? Na eleição da sua sucessora, que, por pouco, não leva a partida já no primeiro turno.

Calma aí, gente. Muita calma nessa hora.

Os protestos e a insanidade


Os protestos de rua contra os aumentos das passagens de ônibus, como era de se esperar, domina postagens e mensagens das chamadas redes sociais.

Eu dei uma sapeada no facebook. Li coisas de arrepiar. Não é que tem gente juntando a presença do Pastor Feliciano na Presidência da Comissão de Direitos Humanos na Câmara, a morte do índio terena e os protestos? Sim, li isso, sim. Bizarro!

Mais bizarro ainda foi ler um comentário que pregava a criação de um FORA DILMA. Bom, falta de discernimento político é a coisa mais bem distribuída do mundo, certo? Certo, mas até no desatino é preciso certo senso do ridículo, não é?

Para complementar a insanidade geral, eu li a mensagem de um internauta querendo a morte (isso mesmo!) da Presidenta.

terça-feira, 11 de junho de 2013

A Presidenta Dilma e os pistoleiros ao entardecer


Passamos do meio-dia do mandato presidencial. As horas mais tranquilas da manhã foram sucedidas pela agitação do almoço e pelo calor do início da tarde. Mas o entardecer já mostra os seus sinais. As sombras se multiplicam, mesmo em árvores de pouca folhagem.

Balanços apressados são feitos. O dia ainda não terminou mas as galinhas, banzas com a digestão, imaginam-se águias. E devaneiam. E precipitam-se sobre as teclas digitando análises políticas e econômicas.

Muitos se desesperam. Até o vice-líder do PT entrou em pânico. Quer mais pro-atividade  do governo. E os petistas, loucos por um duelo final, incitam a Presidenta a incorporar um, deixem-me ver, Durango Kid. Não um Durango Kid qualquer, mas um que seja amável com os seus companheiros de viagem, a base aliada. Mas Dilma está mais para aqueles personagens encenados por Clint Eastwood. Durona, não Durango.

Ela sabe que os pistoleiros chegarão ao entardecer. E não serão poucos. Não tem mais a impaciência dos neófitos. Não fugirá do duelo e nem aceitará ser substituída por Lula. Se não fugiu da luta antes, nos porões, por que diabos o faria agora, quando as luzes das suas ações e posturas iluminarão a rua do duelo?