domingo, 28 de fevereiro de 2010

Kelps Lima, o secretário

A política, como a vida, é cheia de surpresas. Quem diria, no início da administração da Prefeita Micarla de Sousa, que o seu secretário que ganharia mais visibilidade seria o advogado Kelps Lima? Pois não é que, ocupando a pasta de Mobilidade Urbana, ex-STTU, Kelps vem desenvolvendo um trabalho ousado de reorganização do trânsito na urbe que se jacta de ser a Cidade do Sol e alcançando um reconhecimento ainda não alcançado por nenhum dos seus pares!

Ações da SEMOV (a sigla da secretaria) na Avenida Afonso Pena deram um ar mais civilizado a uma das principais artérias de Petrópolis. Kelps acabou com aquela esculhambação do estacionamento junto ao canteiro central. Outra medida importante foi começar a dar um fim aos forninhos de assar gente (as tais "estações de transferência") criados na gestão anterior.

Olegário Passos na SEMURB

O ex-vereador irá ocupar a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo de Natal. De minha parte, torço para que ele se saia melhor do que Kalazans nessa empreitada. Que não é das mais fáceis. Afinal, compatibilizar crescimento econômico, desenvolvimento da atividade turística e preservação do meio ambiente é um desafio e tanto.

Filme argentino faz acordar os adultos...

Do site Carta Maior retirei o texto abaixo. Já tinha lido a respeito do filme. Espero assiti-lo em breve. Por enquanto, leia a crítica abaixo

Força Argentina!

Mesmo sem brasileiros no páreo, já há por quem torcer no Oscar deste ano. Concorre na categoria "Melhor filme estrangeiro” o argentino "O segredo dos seus olhos”, de Juan José Campanella. Um primor.

Laurindo Lalo Leal Filho*

Mesmo sem brasileiros no páreo, já há por quem torcer no Oscar deste ano. Concorre na categoria "Melhor filme estrangeiro” o argentino "O segredo dos seus olhos”, dirigido por Juan José Campanella com interpretações magistrais de Ricardo Darín e Soledad Villamil. Um primor.

Campanella se supera. Depois de dirigir "O Filho da Noiva", um sucesso em 2001 e o razoável "Clube da Lua" em 2004, ele vai além do que já fez nessas produções quando conseguiu tornar universais alguns aspectos marcantes do cotidiano argentino recente.

“O segredo dos seus olhos” parte desse patamar e avança para a ousadia. Tem o mérito de mostrar a rotina de um tribunal de justiça portenho, adicionando a ela as emoções da tragédia, do humor, do amor, do suspense e da luta política dos últimos trinta e cinco anos naquele país.

Podia não dar certo, tantas as possibilidades abertas pela trama. Mas deu, graças principalmente à direção segura de Campanella, capaz de extrair o máximo possível de um bom roteiro e de excelentes atores.

Adaptado do livro de Eduardo Sacheri, co-roteirista do filme junto com o diretor, “O segredo dos seus olhos” trata da investigação de um estupro seguido de assassinato ocorridos em 1974, pouco antes do golpe de Estado, sem conotações politicas.

E mostra até que ponto as garantias individuais e o poder da justiça já vinham sendo minados na fase pré-ditadura. Para depois, durante os anos de chumbo, contar como criminosos comuns se transformam em agentes do regime, ao mesmo tempo em que investigadores honestos são exilados em longínquas províncias.

Tudo isso é narrado de forma sofisticada, sem chavões ou clichês. O fio condutor do filme é, na verdade, um amor difícil de se concretizar, acompanhado de uma busca incessante pela punição do crime brutal. Para o autor do livro trata-se de “uma reflexão sobre o castigo”.

Temática delicada que nos aproxima dos vizinhos argentinos quando propomos a mesma questão para os crimes cometidos pela repressão política praticada por agentes do Estado, em ambos os países, durante as ditaduras. Ela nos remete à necessidade que sentimos de que hajam punições e que elas sejam verdadeiros castigos.

Trata-se, como se vê, de um cinema que além de entreter nos faz refletir. No entanto, um filme como esse só pode ser visto em poucas salas e quase nunca na TV brasileira. Nesta só há lugar praticamente para produções B estadounidenses.

O pouco de cinema da TV aberta resume-se aos chamados “filmes de ação” e no cabo (ou nos canais pagos por satélite), onde a oferta cinematográfica é maior, são poucos os filmes de qualidade. Campeia a massificação ideológica perpetrada pela indústria cultural, como lembrou com precisão o professor Marco Aurélio Garcia em recente pronunciamento.

Filmes de reflexão passam longe da TV. E filmes de reflexão argentinos passam mais longe ainda. Por aqui a televisão continua sua tarefa de nos afastar da América Latina. A TV paga vista no Brasil, por exemplo, exibe quase cem por cento de filmes produzidos nos Estados Unidos e a aberta insufla o ódio aos argentinos com piadas de gosto duvidoso e, principalmente, com ataques perversos em jogos de futebol.

Ambas investem pesado contra qualquer processo de integração e de emancipação do continente. Basta ver como tratam em seus noticiários e programas de entrevistas os governos democraticamente eleitos da Argentina, Bolívia, Equador e Venezuela, por exemplo.

Mas não custa sonhar. Talvez um dia ainda consigamos criar uma TV pública bi-nacional com a Argentina, como fizeram franceses e alemães ao construírem a TV Arte, superando diferenças seculares infinitamente maiores das que temos com os nossos vizinhos. Por ora só nos resta torcer para que “O segredo dos seus olhos” ganhe o Oscar. Fato que considero difícil uma vez que o filme é muito inteligente.



* Laurindo Lalo Leal Filho, sociólogo e jornalista, é professor de Jornalismo da ECA-USP. É autor, entre outros, de “A TV sob controle – A resposta da sociedade ao poder da televisão” (Summus Editorial).

Bom dia!

Estou de saída. Deixo-te na companhia da boa música.

O crescimento de Dilma na pesquisa DATAFOLHA

Na pesquisa Datafolha, divulgada hoje pelo jornal Folha de São Paulo, a ministra Dilma Roussef, candidata do PT, avançou e já está quase no empate técnico com o Governador José Serra. Leia abaixo trechos da matéria.

Vantagem de Serra sobre Dilma baixa para 4 pontos

Em cenário com Ciro, tucano cai 5 pontos e vai a 32%, e petista sobe 5, para 28%Candidato do PSB tem 12% e está estagnado, assim como Marina Silva, do PV, que mantém o patamar de 8% do levantamento anterior FERNANDO RODRIGUESDA SUCURSAL DE BRASÍLIA A pré-candidata a presidente pelo PT, Dilma Rousseff, registrou crescimento de cinco pontos percentuais na sua taxa de intenções de voto de dezembro para cá. Atingiu 28% e encurtou de 14 para 4 pontos percentuais a distância que a separa de seu principal adversário, José Serra, do PSDB, hoje com 32%.Esse é o principal resultado da pesquisa Datafolha realizada nos dias 24 e 25 de fevereiro, com 2.623 pessoas de 16 anos ou mais. Confirmou-se a curva ascendente de Dilma, não importando o cenário nem quais são os candidatos em disputa.

Apesar do crescimento da petista, é impreciso dizer que o levantamento indica um empate estatístico entre Dilma e Serra. A margem de erro da pesquisa é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.
ASSINANTE UOL LÊ A MATÉRIA COMPLETA AQUI.

Dilma continua subindo nas pesquisas

Agora é que as bordoadas serão fortes. Dilma continua subindo... Confira a matéria abaixo, publicado na Folha Online.

Painel da Folha: Queda da vantagem sobre Dilma deve ampliar especulação sobre desistência de Serra

Pesquisa Datafolha publicada na edição de domingo da Folha (íntegra para assinantes do UOL e do jornal), mostra que a ministra petista Dilma Rousseff (Casa Civil) cresceu cinco pontos nas pesquisas de intenção de voto de dezembro para janeiro, atingindo 28%.
No mesmo período, a taxa de intenção de voto no governador de São Paulo, José Serra (PSDB), recuou de 37% para 32%.
Com isso, a diferença entre os dois pré-candidatos recuou de 14 pontos para 4 pontos de dezembro para cá.
Esse resultado deve ampliar a especulação sobre a perspectiva de desistência do governador paulista, informa o "Painel" da
Folha, editado por Renata Lo Prete. No entanto, a coluna diz que a porta de saída de Serra "tornou-se minúscula".
O "Painel" diz ainda que a pesquisa ampliará a pressão tucana para que o governador de Minas, Aécio Neves (PSDB), aceite ser vice de Serra.
De acordo com a coluna, os resultados do Datafolha também tiram fôlego da intenção do deputado Ciro Gomes (PSB-CE) de disputar a Presidência.
A margem de erro da pesquisa é de dois pontos percentuais para mais ou para menos. A pesquisa foi realizada entre os dias 24 e 25 de fevereiro. Foram ouvidas 2.623 pessoas com maiores de 16 anos.
Leia a matéria completa na
Folha deste domingo, que já está nas bancas.

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Sex and the City versão oriente

Leia interessante matéria publicada no Estadão...

'Bordados', o Sex and the City do Oriente Médio
Iraniana Marjane Satrapi ('Persépolis') revela com humor e ironia os segredos dos ‘tricôs’ de sua avó e amigas
Flávia Guerra, de O Estado de S. Paulo


SÃO PAULO - "É o Sex and the City do Oriente Médio. Extravagante, explícito e engraçado!", disse Kelley Know, da Time Out London, sobre Embroideries, de Marjane Satrapi. A afirmação tem lá sua verdade. Afinal, Embroideries (que ao pé da letra significa ‘bordados’, como o livro será chamado no Brasil quando for lançado em um mês pela Companhia das Letras) traz um grupo de mulheres conversando sobre homens, relacionamentos e, claro, sexo.

Mas há em Bordados algo que o faz mais interessante que a série que transformou o ‘papo calcinha’ em assunto de primeira ordem. Além da assinatura da iraniana Marjane Satrapi, Bordados abre as portas de um universo que até pouco tempo era completo mistério: a sexualidade no Oriente. E a maior descoberta que se faz ao folhear as páginas de Bordados é que mulher é tudo igual. Só muda de país. Ou quase. Nas páginas e nos desenhos de Bordados descortinam-se os tabus, desejos e ousadias de um grupo de amigas da avó de Marjane. Entre um chá e outro, elas revelam que até perdem a virgindade antes do casamento, mas não perdem o humor jamais. O que fazer diante de uma avó viciada em ópio ("O doutor me mandou tomar porque disse que era bom para minhas dores", justificava a avó), que adora falar da vida dos outros ("É o ventilador do coração") e reúne as amigas para ‘ventilar’ a alma após as refeições? "Aproveitar, aprender e rir muito", concluiu a jovem Marjane bem cedo e muito antes de, nos anos 70, ser mandada pelos pais a estudar na Europa.

Bordados é a continuação de um projeto que começou com Persépolis, em que Marjane contou e desenhou as sensações de ser uma garota de família liberal de esquerda em um país onde andar com os cabelos à mostra é considerado contravenção. O livro fez tanto sucesso que virou filme premiado. Agora em Bordados, Marjane dá ao leitor o direito de ser uma mosquinha capaz de ouvir histórias de como a avó da autora ‘ensinou’ uma amiga a ‘disfarçar’ a virgindade perdida cortando-se com uma gilete na primeira noite com o marido. "Não deu certo. Em vez de se cortar, ela acabou cortando os testículos dele", conta a avó. "Ela poderia ter feito um ‘full embroidery’", argumentam as amigas. Aí é que entra a piada com o título original. Full Embroidery (bordado completo) é também como é chamada a himenoplastia (cirurgia que ‘devolve’ a virgindade’). Só essa passagem faria Carrie Bradshaw corar.

"Ela não faz nada demais além de publicar histórias que todas ouviram de suas avós", disse uma leitora iraniana em Londres. Este ‘nada demais’ é que é o ‘a mais’. As histórias de tantas outras avós mundo afora estiveram sempre ali, esperando ser escritas. Marjane rompeu a inércia e o fez. Numa época em que o mundo ainda está em luto pela morte de Neda Soltan, baleada em um protesto no Irã em junho de 2009, rir ainda é o melhor remédio e a melhor forma de acordar para a beleza de um país que sofre, mas não se cala.

Crise no IUPERJ

Em 2003, o IUPERJ ofertou, com o apoio da CAPES, um "curso avançado de teoria social". Fiz parte da turma de alunos. Foi um dos melhores momentos de minha vida acadêmica. As aulas ministradas pelos professores da instituição realmente confirmavam todos aqueles bons comentários e análises a respeito da instituição. Foram trinta dias de aprendizado e convívio intelectual. Nós, os alunos, entusiasmavamo-nos: pôxa, então é possível... Dá para fazer uma universidade em um outro ritmo. As pesquisas e produção intelectual da instituição também confirmavam aquilo que os conceitos atribuídos pela CAPES aos seus cursos diziam: trata-se de um centro de excelência...

Agora, como vocês podem conferir abaixo, em notícias publicadas na FOLHA DE SÃO PAULO, a instituição enfrenta uma grave crise financeira, Acho que os governos federal e do Rio têm obrigação de garantir o funcionamento dessa instituição que orgulha o campo das ciências sociais brasileiras.


Iuperj enfrenta crise financeira e deixa de pagar professores
Solução estudada é permitir que instituto receba recursos da União; reitor nega risco de fechamento

ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO

O Iuperj (Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro), centro de excelência no Brasil na área de ciência política e sociologia, passa pela mais grave crise de sua história e inicia o ano letivo sob o temor de parte dos estudantes e professores de não conseguir se manter até o fim do ano.

O motivo é a crise financeira pela qual passa a sua mantenedora, a Universidade Candido Mendes. Se forem considerados os pagamentos de 13º salário atrasados, os professores estão com seis vencimentos atrasados, o que agrava o receio de que, caso a situação persista, muitos optem pela demissão.

O reitor da universidade, Candido Mendes, nega que haja o risco de fechamento do instituto, e diz esperar já para março uma melhoria na arrecadação da universidade que lhe permitiria pagar os salários atrasados. Ele conta também com a possibilidade de um empréstimo do BNDES.
A direção do Iuperj e professores ouvidos pela Folha entendem, no entanto, que a única saída para o instituto é viabilizar sua transformação numa OS (Organização Social), figura jurídica que permitiria que o governo federal reserve recursos em seu orçamento para ajudar em sua manutenção.

Na quinta-feira passada, foi dado um importante passo nesse sentido: a direção do instituto e o reitor chegaram a um acordo para encaminhar o pedido ao Ministério da Ciência e Tecnologia.
"Isso permitirá ao Iuperj receber recursos públicos para pagamento de salários e sua manutenção, mas o vínculo com a universidade seria mantido, como reconhecimento ao investimento que o reitor fez durante mais de 40 anos aqui", diz o diretor-executivo do Iuperj, Jairo Nicolau.

O Ministério da Ciência e Tecnologia confirmou, por meio do chefe de gabinete, Alexandre Navarro Garcia, que há interesse em transformar o Iuperj numa OS vinculada à pasta, algo que já acontece com outros institutos de pesquisa.

Navarro explica que um facilitador desse processo é o fato de o Iuperj não cobrar mensalidades dos alunos, além de ter reconhecida excelência acadêmica nas avaliações da Capes.
Enquanto a situação não é resolvida, no entanto, professores e alunos temem pela sobrevivência do instituto.
"Estou no Iuperj há 30 anos, e a crise é mesmo gravíssima. A iniciativa do professor Candido Mendes em criar uma pós-graduação em que os estudantes não pagam foi algo sem paralelo, mas este modelo não é mais viável. Se a transformação numa OS não acontecer, só nos restará escolher entre um fim silencioso ou um escandaloso", afirma o professor Luiz Werneck Vianna.
Fabiano Santos, professor do instituto e ex-diretor, diz que não há como negar que o Iuperj enfrenta uma crise "como nunca se viu", mas demonstra mais otimismo. "O contexto nunca foi tão profícuo para encaminhar uma solução institucional que atenda aos interesses do instituto, da universidade e do governo federal", diz Santos.

O atual diretor, Jairo Nicolau, diz que ainda não há decisão do conselho de interromper o processo seletivo, hipótese que vem sendo cogitada por alguns professores e alunos.


GRATUITO: LIGADO À UNIVERSIDADE PRIVADA, IUPERJ NÃO COBRA POR CURSOSO

O centro tem, por isso, perfil mais parecido com o de uma instituição pública. Parte dos alunos ainda recebe bolsas de agências de financiamento à pesquisa. Na última avaliação do Ministério da Educação, o mestrado e o doutorado em sociologia receberam o conceito sete, nota máxima da entidade e que indica excelência internacional. Segundo Candido Mendes, a universidade investe por mês mais de R$ 350 mil no instituto, principalmente no pagamento de salários .

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

As armas da crítica foram as armas de Edward Said

Edward Said, intelectual palestino (eu quase escrevia "cidadão do mundo", mas, por enquanto, vamos fugir da pieguice, não é?), foi um dos pensadores mais criativos das últimas décadas. Pois não é que a edição da Revista Piauí que acabou de chegar às bancas contém uma extensa reportagem a respeito do autor de "Orientalismo". Confira alguns trechos abaixo.




O cosmopolita desenraizado

TONY JUDT

Durante três décadas, virtualmente sozinho, Edward Said abriu caminho para um debate sobre Israel, a Palestina e os Estados Unidos. Ao fazer isso, prestou um serviço público inestimável, correndo risco pessoal considerável

Quando Edward Said morreu, em setembro de 2003, após batalhar por uma década contra a leucemia, era provavelmente o intelectual mais conhecido do mundo. Orientalismo [São Paulo: Companhia das Letras, 1989], seu controvertido relato da apropriação do Oriente pela literatura e pelo pensamento europeu moderno, gerou uma subdisciplina acadêmica por conta própria: um quarto de século após sua publicação, a obra continua a provocar irritação, veneração e imitação. Mesmo que seu autor não tivesse feito mais nada, restringindo-se a lecionar na Universidade Columbia, em Nova York - onde trabalhou de 1963 até sua morte -, ele ainda teria sido um dos acadêmicos mais influentes do final do século xx.

Mas ele não viveu confinado. Desde 1967, cada vez com mais paixão e ímpeto, Edward Said tornou-se também um comentarista eloquente e onipresente da crise do Oriente Médio e defensor da causa dos palestinos. O engajamento moral e político não chegou a constituir um deslocamento da atenção intelectual de Said - sua crítica à incapacidade do Ocidente em entender a humilhação palestina ecoa, afinal, em seus estudos sobre o conhecimento e ficção do século xix, presentes em Orientalismo e em obras subsequentes (notadamente Cultura e Imperialismo, publicada em 1993). Mas isso transformou o professor de literatura comparada em Columbia num intelectual notório, adorado ou execrado com igual intensidade por milhões de leitores.

Acesse o site da Piauí e leia a matéria completa.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Religião e nudez

Tem de tudo neste mundo, não é mesmo? Clique abaixo e veja como uma igreja nudista está crescendo e tendo... lucro.

Música para uma cidade...

A música de Otoniel Menezes faz-nos esquecer das sombras que ameaçam a Cidade do Sol. Confira!

Só Drummond nos salva...

Os Ombros Suportam O Mundo
Carlos Drummond de Andrade



Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.

Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.

Pouco importa venha velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação

Uma boa tarde para você...

À Hugo Manso o que é de Hugo Manso

Ontem pela manhã recebi um telefonema de Hugo Manso. Eu estava na ante-sala de um consultório médico e não pude, e nem ele queria, esticar a conversa. Mas o político petista deixou o seu recado. Ou sua bronca. Hugo estava chateado. Disse-me que havia ficado “triste” e tinha sentido “dor” com o post EntreBMWs e Ferraris, o PT do RN escolhe correr de fusquinha na disputa por uma vaga no senado.

Não lhe nego o direito de ficar chateado. Políticos, como de resta todos os torcedores do Flamengo, adoram elogios e têm ojeriza à crítica. Hugo sentiu-se desrespeitado com o texto. Após falar, emocionado, sobre a sua trajetória no PT, analisou cada um dos critérios que eu coloquei no texto como crivos para a escolha da candidatura ao Senado pelo PT e disse que se enquadrava em todas eles. Mais ainda: inverteu os pontos ali elencados e se disse ofendido porque, indiretamente, eu estaria identificando-o como antiético e despreparado intelectualmente, dentre outras coisas.

Nem sempre, quando escrevemos, conseguimos passar exatamente o que queremos. Muitas vezes, os nossos leitores (no caso deste blog, alguns poucos, mas que me honram muito com o seu acompanhamento) decodificam mensagens que estão há anos-luz daquilo que efetivamente queríamos dizer.

Dito isto, vamos por partes, como diria um famoso Jack. Vejamos, naquele texto, onde a menção explicita a Hugo aparece (a citação é longa, mas vale a pena recuperá-la...):

Diante desse quadro, como o PT local está reagindo? Como sói ocorrer com freqüência na sua história recente, com visão paroquial. As duas pré-candidaturas lançadas não parecem dotadas das condições necessárias para uma ocupação competente do espaço acima mencionado. Hugo Manso e Fernando Lucena, são, sejamos francos!, dois candidatos a vereador. Vão para a disputa para o Senado pensando de olho em outra coisa (bem menor!). Querem acumular forças para os seus projetos, mais do que legítimos, de voltar à Câmara Municipal de Natal... Prá eles, tudo bem; para o PT, um deslizar na maionese.

Falemos francamente: as duas pré-candidaturas lançadas até agora somam quase nada ao projeto de consolidação do partido no Estado. São paroquiais! Dialogam com demandas corporativas e expressam discursos políticos limitados, anacrônicos e que não potencializam o alargamento da base social do PT no RN. Hugo Manso é até um pouco melhor, tem uma boa retórica, mas, dificilmente, conseguirá fazer pontes substantivas com a nova configuração social do Rio Grande do Norte. E já é um nome batido, tantas vezes foi candidato...


No restante do parágrafo acima, faço comentários críticos sobre a pré-candidatura de Fernando Lucena. Concluo as apreciações das duas pré-candidaturas com o seguinte trecho: “Caso tenha objetivos maiores, como reforçar a candidatura presidencial de Dilma Roussef e, ao mesmo tempo, construir as bases para uma performance qualitativamente superior em 2012, o PT do RN deveria lançar uma candidatura ao senado que expressasse mais do que a busca de um mandato de... vereador em Natal.”

Ora, se apontei critérios, eles não se referiam MAIS nem a Hugo Manso e nem (menos ainda!) a Fernando Lucena. As duas pré-candidaturas, do ponto de vista da lógica interna do texto (que não é, e nem parece que vai ser, a do PT do RN), já ESTAVAM DESCARTADAS. Hugo Manso tem todo o direito de sentir-se ferido e discordar do meu entendimento de que a sua candidatura é paroquial, mas não pode se sentir ferido (assim como Fernando Lucena) pelos critérios que eu apontei. SIMPLESMENTE PORQUE NÃO ESTAVA MAIS ME REFERINDO A ELES. Se eles se enquadram ou não naqueles critérios, isso, no conjunto do desenvolvimento do texto, estava fora de questão. Por quê? Pelo simples fato de que eu já os havia excluído da minha escolha.

É arbitrário esse tipo de posicionamento? Claro que é. Mas, ora bolas!, sou o único responsável pelo meu texto. E penso mesmo que as duas pré-candidaturas são negativas. Mesmo que toda a torcida do Flamengo pense o contrário, eu, de minha parte, não dou a mínima. Penso assim e coerente com o que penso, posiciono-me. E, obviamente, arco com as conseqüências. Como não pertenço a partido, seita ou torcida organizada nenhuma, escrevo o que penso. Sempre.

Claro que, como diria o Zeca Baleiro, Hugo Manso pode passar com a sua dor. Mas, qualquer um que siga um raciocínio lógico, entendeu que os critérios apontados por mim e que ele tomou como ofensivos a sua pessoa, não se referiam MAIS a ele. Os critérios são medidas, certo? E eu não quis medir Hugo e Lucena. Pronto. Como são construções subjetivas, os dois podem achar que se enquadram perfeitamente. Essa discussão não me interessa. O que me interessava (e ainda me interessa) chamar a atenção é para o fato de que, tendo um espaço para ser ocupado de forma competente e que poderia potencializar a sua presença no RN (a candidatura de senador), o PT abra brechas para projetos que eu (euzinho, sem mais ninguém do lado) entendo como menores.

É isso...

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Música para animar a sua jornada da manhã

Ainda Dirceu

O artigo abaixo, publicado na edição de hoje do jornal Folha de São Paulo, revela bem o estrago que o José Dirceu pode fazer na candidatura da Dilma. Confira!

FERNANDO DE BARROS E SILVA

Dirceubrás


SÃO PAULO - José Dirceu tem um blog -o "blog do Zé". Ele o define como "um espaço para a discussão do Brasil". Discutindo o Brasil como quem não quer nada, Dirceu escreveu o seguinte: "Do ponto de vista econômico, faz sentido o governo defender a reincorporação, pela Eletrobrás, dos ativos da Eletronet, uma rede de 16 mil quilômetros de fibras óticas" etc. etc. etc.
Este é um assunto caro a Dirceu. Seu primeiro post sobre o tema é de março de 2007. Por coincidência, o mesmo mês em que o empresário Nelson Santos contratou seus serviços de consultoria. Ficamos sabendo disso só ontem, pela reportagem de Marcio Aith e Julio Wiziack.
Em 2005, Nelson Santos, dono da "offshore" Star Overseas, sediada nas Ilhas Virgens, havia comprado pelo valor simbólico de R$ 1 a participação em uma empresa à época falida -a Eletronet. Entre 2007 e 2009, o empresário pagou a Dirceu R$ 620 mil por consultorias. Se a Telebrás for reativada, como anuncia o governo, o mesmo bidu que desembolsou R$ 1 pela Eletronet pode sair dela com R$ 200 milhões. Diante disso, o que Santos gastou com Dirceu é fichinha -ou não?
O ex-ministro da Casa Civil de Lula diz que a consultoria versava sobre os "rumos da economia na América Latina". Sabemos que Dirceu não mente. Usou na vida várias máscaras, mas a palavra é uma só.
(...)
Assinante UOL lê o artigo completo aqui.

O Bolsa Família e as relações de classe no interior do Nordeste

Neste final de semana, enquanto almoçava com a minha família, em um restaurante de estrada da Grande Natal, não pude deixar de ouvir trechos de uma conversa ao lado. Até porque uma das pessoas que falava fazia questão de ser ouvida pelos incautos sentados nas mesas próximas. Na verdade, parecia que estava fazendo um comício... E o tom era de recriminação ao Governo Lula. Pelo que eu entendi, o esposo da distinta candidata à pregoeira de leilão de festa paroquial, é fazendeiro e alto funcionário público. O pobre casal, que depois os vi embarcar em um desses carrões importados, não está mais encontrando gente para trabalhar na fazendinha que mantém no interior. A propriedade rural, diga-se de passagem, não dá lucro, e, conforme a dileta esposa, destina-se mais para os momentos de relax da família do que para auferir ganhos substanciais com o gado que por lá pasta...

- “O Lula dá apoio à vagabundagem! Ninguém quer mais trabalhar! É todo mundo vivendo do bolsa família”, dizia a distinta senhora.

Após essa edulcorante frase, a distinta dama começou a se lamuriar sobre a dificuldade em se conseguir uma “mocinha” para trabalhar nos finais de semana na fazenda. Vejam só: a pobre coitada, que passa a semana trabalhando “pesado” em Natal, ao invés de descansar e ficar à beira da piscina com o maridão e os seus amigos na fazenda, tem que ir prá cozinha... E a culpa de quem é? Ora, do Lula e do bolsa família. Onde já se viu uma coisa dessas, não é? As “mocinhas do interior” não querem mais trabalhar... para as senhoras da capital. ‘Antigamente”, bradava ela, “a gente chegava na fazenda e o povo era tudo se oferecendo para fazer alguma coisa. Hoje? A gente precisa adular, minha filha...” Os interlocutores circundantes eram solidários à distinta dama.

Pessoas como a dama do relato acima fazem parte daquela extensa franja social, bem formada (e informada) pela Veja e pelas “análises” dos sub-intelectuais da Nova Direita. Querem que “rapazes” e “mocinhas” das classes populares baixem o topete e aceitem voltar aos serviços subalternos de sempre pelos mesmos míseros salários de antanho. Conheci, em muitos momentos de minhas andanças pelo interior do Nordeste, gente que trabalhava (e pesado) em troca de um prato de comida ou de um “agrado” de algum proprietário rural. O bolsa família é pouco, muito pouco, mas livra as pessoas da degradação típica de uma sociedade que não fez uma ruptura radical com o seu passado escravagista. Mais do que dinheiro e comida, o bolsa família dá uma base mínima para que os “rapazes” e “mocinhas” do interior negociem os seus contratos de trabalho em condições menos precárias. E isso, meus caros, é uma pequena revolução...
Ora, quando a distinta esposa do funcionário público e dublê de fazendeiro reclama que, com o bolsa família, o “povo não quer mais trabalhar”, ela está reclamando é que as pessoas não aceitam mais trabalhar por quase nada. É esse curto-circuito em seculares relações de classes que algo tão pequeno como a bolsa família está provocando. E isso, meus caros, não é pouco.

E imaginar, como apontou em uma brilhante palestra feita no ano passado aqui em Natal o economista Ricardo Bielshowsky, que o custo total do Programa Bolsa Família é insignificante levando-se em conta o PIB nacional e que muito, muito mais, poderia ser feito para dar substância à transferência de rendas no nosso país!

Candidatura Dilma: tudo ia bem, mas aí apareceu o Zé Dirceu...

A ministra Dilma Roussef, preferida de Lula, é escolhida por consenso em Congresso do PT. Sua candidatura começa uma ascensão nas pesquisas que leva desânimo e desatino às hostes oposicionistas. José Serra no vai ou não vai, abre uma avenida para que Lula potencialize eleitoralmente a sua grande popularidade. Tudo vai bem, então, no reino petista? Muito pelo contrário! Por sob a superfície, placas tectônicas se movimentam e poderemos ter, em breve, terremotos de magnitude...

E a movimentação dessas placas está relacionada à ação desse rinocerante em loja de cristais que é o ex-deputado José Dirceu. O agora bem-sucedido consultor de empresas, mas ainda referenciado como "comandante" por não poucos dos políticos do PT, tanto mexeu que conseguiu ser legitimado como uma espécie de "operador" da candidatura da Dilma. Foi o suficiente para a claudicante oposição sair do canto do ringue. Logo as atividades de consultoria do ex-presidente do PT vieram à tona, assim como os montantes fabulosos a que faz jus com a sua dura labuta (só um trabalhinho seu equivale a cinco anos de salários de um professor com doutorado em uma universidade federal...). E essas consultorias fora desenvolvidas para empresas ligadas,direta ou indiretamente, a projetos futuros do Palácio do Planalto

Assanhada, a oposição já fala em CPI. Não deve sair, mas o PMDB, tutor do governo, deve cobrar mais essa fatura... Quando a crise do DEM ameaçava respingar sobre a candidatura do PSDB, Zé Dirceu vem dar sua ajuda...aos adversários. E os apoiadores de Dilma, que estavam na ofensiva, têm que se mobilizar para guarnecer os flancos enfraquecidos pelo "Zé"...

Uma coisa é inegável: o "comandante" tem timing. Ele sempre entra em cena com grande estilo em ocasiões festivas. Na penúltima grande festa de aniversário do PT, ele nos apresentou um assessor impagável, um certo Waldomiro Diniz. Agora, no aniversário dos trinta anos, ele dá munição à candidatura de José Serra...

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Brasil, anos oitenta.

Você já viu, algumas vezes, a foto, tantas vezes premiada, de Luiz Mourier, não é? É de 1983. Menos de três décadas. Agora, pense na foto da postagem anterior... Comparou a situação dos negros daqui e de lá? E aí? Quanto avançamos? Quer um indicador, olhe quantos negros almoçam com você no restaurante! Ou,mais perto de nós, quantos estão cursando medicina na UFRN.


© Foto de Luiz Morier. Todos negros. Rio de Janeiro, 1983.

Eppur si mueve

Não faz muito tempo, as coisas eram como retratadas na foto abaixo na terra do Tio Sam. Agora, temos Barak Obama presidente. Algo se moveu... Então, dá sempre prá arrancar alguma alegria lá do futuro, não dá?



© Foto de Elliott Erwitt. Bebedouros separados para brancos e negros no estado da Carolina do Norte. EUA, 1950.

Música para quem ainda está no trabalho.

De volta ao batente. E, como sempre, muita coisa prá fazer. Se você também está assim, meio atolado no trampo, pare um pouco e escute uma boa música. Clique abaixo e deixa a músca invadir a sua vida...

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Mais um ano que começa...

Depois do carnaval, dizem os sábios de plantão, é que o ano começa no Brasil,. Infelizmente, não foi assim prá mim. O meu ano começou cedo. Estou no trampo desde o comecinho da janeiro. Mas, vá lá!, as coisas engrenam mesmo a partir de agora, não é mesmo? E aqui onde aporto os meus costados, na UFRN, as aulas começam hoje. É gente demais pelos corredores. Caras novas e bonitas fazendo a paisagem do Campus ficar mais humana, mais alegre... É a vida que invade os espaços... Que bom!

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Entre BMWs e Ferraris, o PT do RN escolhe correr de fusquinha na disputa por uma vaga no Senado

Como já é quase certo que o PT do Rio Grande do Norte marchará com a candidatura do Vice-Governador, Iberê Ferreira de Sousa (PSB), ao Governo do Estado, resta ao partido dar um melhor contorno à engenharia política da sua chapa para o Senado. Uma candidatura já está definida, aquela da governadora Vilma de Faria. Mas, como em outubro próximo o eleitor votará em dois candidatos ao Senado, o PT deseja que o segundo nome na chapa situacionista seja seu. E, para sermos sinceros, isso é o mínimo que se espera de um partido com a sua trajetória no estado. Mas não se trata de uma equação fácil. O jogo de forças no interior do partido não é coisa para principiante, e nem para sonhadores, herdeiros dos ideais do PT do início da década de 1980. A disputa pela vaga deve revelar “os piores instintos” dos concorrentes e seus promotores...

E essa briga de foice no escuro não é gratuita. Uma candidatura do PT ao senado não é nada desprezível. O postulante do partido, só para se ter uma idéia, terá o dobro do tempo de TV de Vilma de Faria. Serão quase oito minutos semanais. Se não me engano, nem Garibaldi (PMDB) e nem José Agripino (DEM) disporão desse latifúndio televisivo. Trata-se, portanto, no mínimo, de uma vitrine qualificada, que pode impulsionar positivamente uma carreira política. E mais: com a disputa renhida entre as três principais candidaturas – Garibaldi, Agripino e Vilma -, o candidato do PT pode vir a se beneficiar de uma parcela considerável do “segundo voto” de muitos eleitores identificados primariamente com alguma das outras candidaturas. Caso isso venha a ocorrer, o que inicialmente objetivava ser apenas uma vitrine transformar-se-á em uma bela surpresa.

Diante desse quadro, como o PT local está reagindo? Como sói ocorrer com freqüência na sua história recente, com visão paroquial. As duas pré-candidaturas lançadas não parecem dotadas das condições necessárias para uma ocupação competente do espaço acima mencionado. Hugo Manso e Fernando Lucena, são, sejamos francos!, dois candidatos a vereador. Vão para a disputa para o Senado pensando de olho em outra coisa (bem menor!). Querem acumular forças para os seus projetos, mais do que legítimos, de voltar à Câmara Municipal de Natal... Prá eles, tudo bem; para o PT, um deslizar na maionese.

Falemos francamente: as duas pré-candidaturas lançadas até agora somam quase nada ao projeto de consolidação do partido no Estado. São paroquiais! Dialogam com demandas corporativas e expressam discursos políticos limitados, anacrônicos e que não potencializam o alargamento da base social do PT no RN. Hugo Manso é até um pouco melhor, tem uma boa retórica, mas, dificilmente, conseguirá fazer pontes substantivas com a nova configuração social do Rio Grande do Norte. E já é um nome batido, tantas vezes foi candidato... Não é novidade em nenhum sentido. Fernando Lucena está mais distante ainda do perfil ideal para representar uma aposta séria para o senado. Com uma trajetória política assentada no corporativismo, e mais conhecido por suas bravatas anti-políticas, autoritárias e grosseiras (“vassourada na cambada!” foi um dos seus motes em uma disputa eleitoral...), Lucena tem no ressentimento anti-intelectualista e anti-cultura o eixo de sua, como direi?, produção discursiva. A seu favor, sejamos justos, tem a capacidade de dialogar com o lumpesinato. Mas isso é muito pouco para um partido que queira produzir um diferencial positivo na política estadual. Ademais, lumpesinato é lumpesinato. Desde que Karl Marx escreveu uma seminal análise de conjuntura a respeito de um golpe de estado perpetrado por um certo Luís Bonaparte na França de meados do século XIX, ninguém, em sã consciência, acha que é possível construir um projeto político republicano e democrático tendo esse setor da sociedade como base de sustentação...

Caso tenha objetivos maiores, como reforçar a candidatura presidencial de Dilma Roussef e, ao mesmo tempo, construir as bases para uma performance qualitativamente superior em 2012, o PT do RN deveria lançar uma candidatura ao senado que expressasse mais do que a busca de um mandato de... vereador em Natal. Que critérios levar em conta na escolha desse nome? Eis alguns elementos:
a) um nome que tenha condições intelectuais e éticas de sustentar um debate qualificado com as outras candidaturas;
b) esse nome deve ter expressão em algum setor da sociedade, que sirva de referência e alavanca positiva para as informações sobre a candidatura;
c) um(a) candidato(a) que ao propor o diálogo construtivo com a classe média o faça a partir de posições seguras, alicerçadas em uma prática anterior facilmente identificável, e não de uma forma retórica, frágil e oportunista;
e) um(a) candidato(a) que, pela novidade, impacte positivamente a envelhecida e triste disputa para o senado no Rio Grande do Norte;
f) um(a) candidato(a) com formação intelectual e dotado de conhecimento técnico de alguma área da gestão pública ou da vida econômica do RN;
f) um(a) candidato(a) que, pelo seu perfil, tenha um trânsito razoável entre os grupos internos do partido, mas cuja candidatura não seja imediatamente associada como tendo o objetivo de ajudar “A” ou “B”.

Existe esse nome? Claro que existe! O problema é que, envolvidos na disputa internista e buscando garantir os seus interesses imediatos (ou, o que é mais comum, que os adversários não avancem um milímetro), os petistas têm dificuldade de enxergá-lo(a). Posso citar até quatro nomes... Mas, por enquanto, fiquemos com dois. Então, vamos lá!

O primeiro nome que se enquadra no figurino acima desenhado é o da ex-Secretária de Planejamento de Natal, a economista Vírginia Ferreira. Tem história, trajetória administrativa, competência técnica, visão política e capacidade de se sair bem no debate público. A sua entrada em cena teria um impacto positivo para o partido, e para o ambiente político do estado.

O segundo nome é o do Professor Hanna Safieh. Tem vínculos históricos com o PT, possui competência técnica, e demonstra capacidade de intervir propositivamente no debate público do estado. E, melhor de tudo, o Professor Hanna encarna uma visão que, à falta de outra denominação, poderíamos identificar como sendo a de um nacional-desenvolvimentismo sustentável e internacionalmente articulado. Além disso, o Professor Hanna teria condições de dialogar positivamente com setores empresariais locais.

Bom. A disputa para o Senado é como uma corrida automobilística em uma pista longa e asfaltada. As candidaturas postas estão montadas em Ferraris e BMWs. O PT do RN não tem condições de se aboletar em carrão desses, mas poderia montar em uma Parati ou, quem sabe!, em um Honda Civic. Até agora parece disposto a seguir de fusquinha... É esperar para ver o veículo que escolherá. Como diz a propaganda daquela revista: “você faz as suas escolhas; suas escolhas fazem você”. Ou, sendo menos rastaqüera, e citando Hegel: “naquilo com que um ser se contenta, mede-se a dimensão de sua perda...”

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Que a música alegre a sua alma neste dia...

Os trinta anos do PT: o balanço de Alon Feuerwerker

O PT chega bem aos 30 (18/02)
Alon Feuerwerker

O socialismo restará como objeto de desejo, cultuado ritualmente e deixado para um futuro intangível. Na vida real, o PT migra para o nacional-desenvolvimentismo

De qualquer ângulo que se olhe, a trajetória do PT nestes 30 anos é um sucesso. O partido está no ápice do seu poder. Mais significativo é que deixou na poeira seus concorrentes na esquerda, reduziu-os à irrelevância ou, quando não, tomou-lhes o protagonismo e impôs uma hegemonia política e ideológica. Se toda sociedade tem uma fatia “de esquerda”, no Brasil o espaço está ocupado pelo PT e ninguém se atreve a desafiá-lo.

Como o PT alcançou tal status após três décadas? Por uma razão essencial: firmou na percepção e no pensamento coletivos a marca de que veio ao mundo para defender os pobres, os assalariados, os historicamente marginalizados. O PT foi alterando ao longo da vida suas posições teóricas, ao ponto de não sobrar quase nada do estoque original de teses da fundação, mas não descuidou de estar ali, colado, quando a base social exigiu.

Um exemplo? O PSDB vive a reclamar de que o PT tomou algumas belas ideias dos tucanos e agora as exibe como genuinamente petistas. Um caso típico é o Bolsa Família. É verdade que o governo de Fernando Henrique Cardoso (FHC) tinha boas ações sociais, só que Luiz Inácio Lula da Silva as ampliou bastante, e aqui quantidade é qualidade. Mas o pior, para o PSDB, é que enquanto Lula colocava mais dinheiro no programa criado por FHC os tucanos davam curso à estupidez do “bolsa-esmola” e centravam as críticas na “ausência de portas de saída”. Coisa de gênio.

Como resultado da abordagem, hoje o PSDB precisa gastar preciosos tempo e energia para negar que vá acabar com o Bolsa Família, ou restringi-lo. Já o PT, confortável na sua imagem solidamente construída de distribuidor de renda, dá-se ao luxo de dizer que a prioridade no próximo período será reduzir a importância dos programas sociais à medida que forem crescendo as oportunidades de trabalho. É lógico, mas o PSDB teria mais dificuldade para dizê-lo, considerada a duvidosa reputação que construiu para si nos últimos sete anos.

Daí que no seu 30o. aniversário o PT esteja a operar talvez a mais radical guinada estratégica, desde 1980, sem que isso implique risco real de perda de substância. Na prática, o PT irá trocar definitivamente o socialismo pelo capitalismo de estado, com todas as consequências. Na economia e na política. O socialismo restará como objeto de desejo, cultuado ritualmente e relegado a um futuro intangível. Na vida real, o PT migra para o nacional-desenvolvimentismo como etapa política bem demarcada -e sem data para acabar.

Mais por precisão do que por boniteza, diria Guimarães Rosa. Para manter-se no poder, agora e mais adiante, o PT sabe que precisa acenar com a ruptura de um modelo de baixos crescimento e investimento. Até porque nos próximos quatro anos não haverá Lula no Planalto a hipnotizar a galera com discursos diários e a fantástica habilidade de combinar, no mesmo recado, vitimização e liderança. Nem é possível expandir indefinidamente o custeio da máquina pública.

Agora, com Dilma Rousseff (o PT nem pensa em perder a eleição), a sigla de Lula vai precisar mais que nunca da voracidade do grande capital “amigo”-inclusive agrário- em sua busca de reprodução e acumulação. E oferecerá a ele a proteção e a sociedade estatais.

É uma operação política que não se dá sem tensões, sem algum choro e ranger de dentes. Quem ainda se lembra de algo chamado “orçamento participativo”? Também por isso, é preciso oferecer compensações para o conforto espiritual. E elas vêm na forma, por exemplo, de um Programa Nacional de Direitos Humanos. Que cumpre dupla função: exibe a renovação retórica do compromisso com certas transformações e, convenientemente, desloca-as para uma esfera quase “comportamental”, bem longe da polarização crua entre o capital e o trabalho. E serve também de instrumento de pressão. “Só nós podemos evitar o radicalismo. Então nos apoiem.”

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Dirceu na campanha de Dilma: uma ajuda ou um atrapalho?

Na Folha Online, leio que José Dirceu irá trabalhar na campanha da Ministra Dilma Roussef. Ele, na verdade, já está em campo há bastante tempo. Mas nos bastidores. Agora, quer o palco. A sua presença ajudará à candidatura petista? Tenho dúvidas...

Com a ajuda dos amigos, tudo fica fácil...

A teta assustada

Mais uma vez coloco aqui o trailer de "A teta assustada". Ontem assisti ao filme. Em Natal, pelo menos até ontem, o filme estava sendo exibido no Cinemark.

Vale a pena conferir!

A morte do soldado

Abaixo, copiei imagem e texto do sempre ótimo blog Images&Visions.



© Foto de Yevgeny Khaldei. Soldados do Exército Vermelho levantam a bandeira da União Soviética sobre o estandarte dos nazistas em Berlim, em 1945.

Um dos soldados do Exército Vermelho que aparece na célebre fotografia ajudando a levantar a bandeira da União Soviética sobre o estandarte dos nazistas em Berlim, em 1945, morreu na última terça-feira (16/02), aos 93 anos. Abdulkhakim Ismailov morreu de causas não específicas em Chagar-Otar, na sua cidade natal, segundo informou o departamento de imprensa do presidente da província do Daguestão. Ismailov foi um dos soldados soviéticos que apareceram em uma fotografia tirada três dias antes da queda de Berlim em maio de 1945. Ele é o que aparece dando apoio ao militar erguendo a bandeira. A imagem se tornou um ícone da vitória soviética sobre a Alemanha nazista e é comumente comparada à outra foto de 1945, que mostra soldados americanos erguendo a bandeira dos EUA em Iwo Jima. O fotógrafo que registrou o momento, o soviético Yevgeny Khaldei, disse anos depois que a foto havia sido arranjada e a bandeira havia sido feita por três toalhas de mesa. Segundo Khaldei, a bandeira original da URSS que estava no local foi derrubara por atiradores alemães. Ismailov só foi identificado como um dos integrantes da foto em 1996 e recebeu a medalha de Herói da Rússia. O soldado fez parte do batalhão de infantaria motorizada na Segunda Guerra Mundial e foi ferido cinco vezes. Depois de voltar do campo de batalha, passou a trabalhar em uma fazenda coletiva e se filiou ao Partido Comunista. Ismailov deixou quatro filhos e oito netos. AP

Velhos carnavais...

De volta ao batente, após a folia momesca, encontrei a foto abaixo. Retrato de um carnaval que já passou... há décadas...





© Foto de Pierre Verger. Carnaval de Salvador, Bahia. Brasil, 1950

Concurso para professor na UFSCAR

Recebi correspondência do Professor Jacob (ex-UFPB e atualmente na UFSCAR) solicitando divulgação de concurso para professor na UFSCAR. Transcrevo-a abaixo:

Caríssimos(as),

Solicito a divulgação de concurso para prof.adjunto em Prof. Adjunto em Sociologia aqui na UFSCar. É uma vaga para Doutor em Sociologia ou áreas afins. (Caso o Título de Doutor seja em áreas afins, o candidato deverá possuir Graduação em Ciências Sociais ou Mestrado em Ciências Sociais ou Sociologia).
Estamos com um departamento novo (Sociologia) e um Programa de Pós com nota 5 pela CApes e estamos em interessados em quem se proponha a carregar o piano conosco para a consolidação do departamento e da pós.
Também estão abertos, aqui na UFSCar, concursos para a área de sociologia com doutorado em Educação no Departamento de Educação e Teoria Antropológica e Política contemporanea no Departamento de Ciências Sociais.
Informações no site www.concursos.ufscar.br . A inscrição é via internet até dia 05 de março.

abraços
Jacob Carlos Lima
Departamento de Sociologia
UFSCar

Um democrata tolerante...

José Maria Aznar, ex-primeiro ministro espanhol e atualmente ocupado com a sua ONG (todo ex-presidente tem uma, não é?), foi ministrar, hoje pela manhã, uma palestra na Universidade de Oviedo. O tema era a crise que arrasa com a economia espanhola. Aproveitou para desancar o socialista Zapatero. Mas o seu show foi deveras comprometido. Os estudantes de Oviedo não deixaram em paz o arauto dos direitistas (no Brasil, ele é tido como uma espécie de modelo para a tchurma da Nova Direita e para todos os demos) e se manifestaram contra o príncipe do conservadorismo. A palavra de ordem mais "simpática" era "Aznar, fascista, tú eres el terrorista".

Bueno, a rapaziada não esqueceu - e nem perdoou - o fato de ele ter jogado o país na Guerra do Iraque, numa santa aliança com Bush e Blair, além de ter jogado a culpa de um grande atentado em Madrid sobre os ombros do grupo separatista ETA, o qual, segundo informações já confirmadas pelos seus serviços de informações, tinha sido obra da Al Qaeda...

Como reagiu o democrata? Confira na foto abaixo...

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Boa noite!

A teta assustada, um bom filme

Fui assistir ao filme espanhol-peruano “A teta assustada”. Está passando no cinema do Midway, aqui em Natal. Eu já havia postado, ano passado, o trailer aqui. Trata-se de uma aula de antropologia. Ou, se se quiser, de sociologia da cultura. A temática de fundo é o sofrimento social resultante da guerra suja contra o Sendero Luminoso (este sequer é mencionado, em verdade, mas quem conhece um pouquinho da realidade peruana saca logo do que se está falando...), mas a película trata mais centralmente do hibridismo cultural latino-americano. Vale a pena conferir!

Arruda faz o seu pedido de quarta-feira de cinzas...


Uma noticia triste: morreu Gildo Marçal Brandão

Ao abrir a Folha de São Paulo, agora ha pouco, deparei-me com a notícia triste: morreu o cientista político Gildo Marçal Brandão. Mais abaixo, transcrevo matéria do jornal paulistano, com informações sobre a sua trajetória. Aqui em Natal, esteve muitas vezes, atendendo a convites para bancas ou palestras na UFRN. Eram seus interlocutores privilegiados os colegas Spinelli e João Emanuel.


Cientista político Gildo Marçal Brandão morre aos 61 em SP
Professor militou no Partido Comunista, mas se afastou da política para se dedicar à academia






DA REDAÇÃO

Morreu anteontem aos 61 anos o cientista político Gildo Marçal Brandão. Professor de ciência política da USP, ex-jornalista e ex-militante comunista, Brandão descansava com a família na praia da Baleia, em São Sebastião, quando sentiu-se mal e, por volta de 21h, morreu. Ele tinha uma cardiopatia grave e já fora submetido a cirurgia de revascularização.
Natural de Alagoas, Brandão graduou-se em filosofia pela Universidade Federal de Pernambuco. No final dos anos 70, veio para São Paulo, onde lecionou na Unesp e, em seguida, na Escola de Sociologia e Política, na PUC e finalmente na USP. Também era dirigente da Anpocs (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais).
A militância no Partido Comunista Brasileiro (PCB), que vinha desde Pernambuco, acabou empurrando-o da filosofia para a ciência política. Em 1992, sob a orientação de Francisco Weffort, defendeu seu doutorado, um estudo sobre a gênese e o papel político do PCB e da esquerda brasileira.
Paralelamente, desenvolveu a carreira de jornalista. Foi o primeiro editor da "Voz da Unidade", o jornal do PCB, cargo que exerceu por quase meia década. Também foi editorialista da Folha no início dos anos 80.
Foi paulatinamente se afastando do PCB para dedicar-se à carreira acadêmica. Jamais rompeu formalmente com o partido, mas, em suas obras, tampouco o poupou de críticas muitas vezes duras.
No plano intelectual, foi bastante influenciado pelas ideias do italiano Antonio Gramsci (1891-1937), as quais, ao lado de intelectuais como Carlos Nelson Coutinho, Leandro Konder e Luiz Werneck Vianna, reelaborou para desenvolver um conceito de esquerda democrática que se adequasse ao Brasil.
Entre 1995 e 1996, passou uma temporada nos EUA, na Universidade de Pittsburgh, onde concluiu um pós-doutorado em teoria política. De lá trouxe as ideias que acabariam marcando a última fase de sua carreira e que resultaram em sua principal obra, "Linhagens do Pensamento Político Brasileiro" (Hucitec, 2007).
Trata-se de um grande programa de estudos que pretende traçar a genealogia das ideias políticas no Brasil desde o século 19 até hoje. O pressuposto é o de jamais desvincular a matriz de pensamento do contexto histórico particular em que ela vem: "Nenhuma grande constelação de ideias pode ser compreendida sem levar em conta os problemas históricos aos quais tenta dar respostas e sem atentar para as formas específicas em que é formulada e discutida; ao mesmo tempo que nenhuma grande constelação de ideias pode ser inteiramente resolvida em seu contexto".
Brandão, que era casado com Simone Coelho, filha do jornalista e ex-deputado comunista Marco Antonio Tavares Coelho, deixa dois filhos.
O corpo do filósofo será cremado hoje no Crematório da Vila Alpina (av. Francisco Falconi, 437), às 10h.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Música para quem não está na folia...

Eu estou de molho, em casa. O barulho momesco me incomoda. Somente a música, a verdadeira música e não o danado do rebolation, acalma minha alma. Se esse é também o seu caso, dê um clique abaixo e relaxe...

Beleza tamanho 48


Aos poucos, bem mais devagar do que seria o desejável e o saudável, a hegemonia arrasadora da magreza vai sendo solapada no mundo da moda. Leia matéria a respeito publicada na edição eletrônica de hoje do jornal espanhol EL PAÍS. Clique aqui.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

A campanha no carnaval: Ivete Sangalo destaca Dilma...

Filme piauiense é sucesso de público no interior do Nordeste

Um filme produzido no interior piauiense está desbancando os arrasa-quarteirões da grande indústria cinematográfica. Em Teresina, lotou cinemas. Concorreu com Harry Potter e, em uma semana, teve o dobro de público que foi ver o menino-bruxo. E nas pequenas e médias cidades maranhenses, o filme é assunto em todas as rodas. Nas feiras de Bacabal (MA), Floriano (PI), Imperatriz (MA) e outras cidades menores e menos conhecidas, o filme é o maior sucesso de público. Suas cópias piratas vendem mais do que bolo. E em todas as lan houses dos sertões cearense, piuiense e maranhense, todo mundo só quer saber como fazer o download da "fita".

24º filme do diretor maranhense Cícero Filho, “Ai que vida” é uma comédia mambembe sobre a política local em uma cidade fictícia do interior do Nordeste. Você chora de tanto rir ao assití-lo. Uma sobrinha me passou uma cópia e, ontem, eu me diverti pacas.

Espero que o sucesso do filme, produzido em apenas sete dias, seja o prenúncio de uma Bollyood piauiense. Seria demais, não é? Bom, se depender da disposição do cineasta Cícero Filho, podem ter certeza!, essa realidade pode estar próxima. Ele já está concluindo o seu 25º filme, intitulado "A flor de abril".

O sertão não virou mar, mas também não foi engolido totalmente pela tal da globalização. Os cinemas não mais existem nas pequenas cidades, mas, através da internet e da pirataria (no caso, consentida e incentivada), produções alternativas ganham espaço e conquistam corações. E isso é uma bela novidade a destronar as certezas dos que se prostraram, impotentes, ante às forças translocais de produção cultural.

Assista ao trailer do filme. Depois, dê uma espiada na fala do diretor. E, caso queira se inteira mais desse universo, vá ao seu blog.



domingo, 14 de fevereiro de 2010

A contribuição de Thales para a duplicação da Br-101


As sombras da noite já caiam sobre a cidade de João Pessoa, naquele sábado, 23 de janeiro. Em um dos trechos interditados da BR-101, em direção a Natal, estava Thales. Em meio a uma jornada de trabalho que atravessaria a noite, ele desconfiou da aproximação da fotógrafa. Pensava tratar-se da engenheira da empresa que o contratara para a tarefa cansatica de garantir, com a sinalização, a segurança dos que trafegam pelo trecho paraibano da maior rodovia do país.

Thales, como tantos outros anônimos trabalhadores da ansiada duplicação da Br-101, garante, anonimamente, um mínimo de segurança para os indiferentes (e, não raro, cansados e estressados) viajantes que atravessam a rodovia. Ele tem vinte anos e gostaria muito de que o seu emprego durasse mais do que o período da duplicação da rodovia.

Duplicação da Br-101... Obra tão indispensável quanto contestada. Não nos esqueçamos que, até bem recentemente, engenheiros e políticos da região torciam o nariz para a empreitada iniciada pelo Governo Lula. Tanto foi assim que, para enfrentar o dissenso entre o empresariado da construção civil, o governo teve que lançar mão de batalhões de engenharia do Exército. Estes, diga-se de passagem, saíram-se melhor do que a encomenda na condução da obra. E, agora, de forma nem sempre velada, ouvimos empresários reclamando que o Governo Lula está usando indevidamente as Forças Armadas...

Indiferente à polêmica (e aos moinhos de vento da política nacional), Thales, como tantos outros, está a postos, construindo, de forma imperceptível para o distinto público, aquela que é, talvez, a mais importante obra federal já construída na região Nordeste nas duas ou três últimas décadas.

Após concluída a duplicação da Br-101, quando em velocidade passarmos pelas proximidades de João Pessoa dificilmente lembraremos dos Thales que, durante um tempo de suas vidas, trabalharam para que a obra se tornasse realidade. Por isso, fica aqui o seu registro.



Fotos de Andréa Monteiro.

Você merece...

Fique aí, em paz, ouvindo Dalva de Oliveira... Você merece! Enquanto isso, eu, como se dizia na Várzea do Rio Apodi, vou indo "procurar um de comer..."

Haneke está de volta. Não se assuste, assista...

O cineasta austríaco Michael Haneke não produz obras fáceis e palatáveis. E paga um preço por isso. Funny Games, que aqui teve o título banal de "Violência Gratuita”, foi vaiado com estridência quando de sua apresentação, há mais de uma década, em Cannes. Para assisti-lo, armei-me de todo o meu distanciamento crítico. E não foi nada fácil, confesso.

Por que assistir a seus filmes? Porque propicia um aprendizado sobre você mesmo e o mundo em que vivemos. Funny Games, por exemplo, desmascara o voyeurismo que todos nos alimentamos em relação à violência. Você leva uma tapa na cara com o filme, certo, mas também descobre, um tanto atônito, que não é tão inocente e nem tão boa pessoa quanto sempre achou que era.

Assisti a outros filmes dele. Mas Funny Games/“Violência Gratuita”, que, nas locadoras, está em um selo identificado como “Coleção Cult”, é um daqueles filmes que você assiste e as cenas ficam marcadas, para sempre, na sua memória.

Agora, o cineasta aborda um tema mais do que batido: o caldo cultural no qual emergem as experiências totalitárias. E, para complicar, trata, mesmo que indiretamente, do fenômeno do nazismo. E, pelo que leio nas críticas feitas ao filme ("A fita branca"), acho que vale a pena assisti-lo. Confira, por enquanto, o trailer.

Campanha de prevenção à AIDS: mais uma peça publicitária interessante

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Fernando Mineiro decidiu jogar

O deputado Fernando Mineiro é um dos grandes quadros políticos do Rio Grande do Norte. Como poucos no nosso estado, conjuga competência técnica com visão política. Suas atuações parlamentares, seja como vereador de Natal ou como deputado estadual, foram sempre alimentadas por iniciativas afirmativas. Basta lembrar que foi ele, como vereador, que retomou a questão ambiental como ponto de pauta do debate político institucional (renovando atuação anterior, e historicamente injustiçada em Natal, do saudoso vereador Sérgio Dieb).

Os atributos acima, mais o destacado trabalho de construção partidária, credenciariam esse filho do município mineiro de Curvelo a ocupar um papel de maior destaque nas decisões estratégicas do PT no RN. Mas, como o mundo é estranho!, não tem sido assim. Pelo menos, não até agora. Mineiro, na hora agá, sai de cena e o jogo é dominado pela Deputada Fátima Bezerra. Foi assim em 2004 e, em especial em 2008, quando a deputada petista, para garantir espaço para a sua obsessão pessoal (a prefeitura de Natal), impôs um desastre político e eleitoral ao partido.

Nestas eleições, Mineiro propõe, desde já, que o PT se alinhe à candidatura do vice-governador, Iberê Ferreira de Sousa, ao governo do Estado. Goste-se ou não do candidato, para o PT, faz todo o sentido. O partido participa do governo e conta com o PSB local para desinflar a candidatura de Ciro Gomes ao Planalto. Nada mais lógico para os petistas locais, portanto, do que garantir um lugar ao sol na caravana pessebista.

Ocorre que, embora a deputada Fátima faça juras de amor ao Governo Vilma, a candidatura de Iberê pode não ser a melhor arrumação de palco para garantir a sua reeleição. É mais conveniente par ela manter algum flerte com a improvável candidatura do ex-prefeito de Natal, Carlos Eduardo Alves. Noviço no PDT, Carlos também sonha com o Palácio Potengi. E, para complicar o lance, faz parte da base de apoio de Vilma e de Lula. Entretanto, dificilmente sua candidatura será apoiada pelo PSB. Resta-lhe buscar a companhia do PT. E aí a cobrança da fatura vai direto para Fátima. Afinal, em 2008, apesar de se dar conta do desastre anunciado, o ex-prefeito entrou de armas e bagagens na malograda campanha petista à prefeitura de Natal. Agora, cobra reciprocidade. Nada mais justo, pois não?

Aí é que a coisa se torna, como diria minha prima, "complexa". Não há esfera da vida social mais distante da idéia cristã de justiça do que a política. Ora, seria "justo" o PT apoiar Carlos Eduardo. Mas, convenhamos!, seria politicamente desastroso. E a política, sabem até as pedras de qualquer universidade na qual os alunos tenham aprendido duas ou três coisinhas escritas por um alemão chamado Max Weber, é um campo com regras próprias. Portanto, gostemos ou não, a política tem a sua própria, como direi?, "moral". Nela, quase nunca há glória na derrota...

Assim, volta à questão: por que seria desastroso o PT apoiar Carlos Eduardo ao governo do estado? Porque esse apoio pesaria pouco ou quase nada no xadrez político nacional. E a eleição de Dilma, para os petistas, está acima de tudo em 2010.

Apoiar Iberê insere-se plenamente na tática eleitoral petista de priorizar o reforço à candidatura presidencial. No mínimo, no mínimo, com o apoio a Iberê, o PT consegue neutralizar (ou, na situação ideal, garantir ao seu lado) uma máquina partidária e estatal regional - o vilmismo.

É esse o jogo... E Mineiro deicidiu jogá-lo. E, até agora, está indo bem. Pagou prá ver. Sem ter muito a oferecer ao partido, os seguidores de Fátima refugiaram-se nas reclamações. Desta vez, ao que tudo indica, "a força que vem de cima", isto é, do Planalto, não parece destinada a garantir uma arrumação de cartas que seja da conveniência da experiente política petista.

O Deputado Fernando Mineiro decidiu jogar. E, como não é de fazer salamaleques, joga pesado. Na arquibancada, resta-nos ficar na espreita, espiando a arrumação de suas cartas, para ver se ele tem mesmo a alma de jogador...

A morte de Rui Pereira

Não tive maiores contatos com o médio Rui Pereira. Sabia de sua competência como administrador e da sua grande capacidade de articulação política. Ocupava a Secretaria de Estado da Educação do Governo Vilma, após ter tentado descascar o díficil abacaxi que é a Secretaria de Saúde. A sua morte, em acidente automobilístico ocorrido em Igarassu, Pernambuco, é uma perda para o governo e, em especial, para o Partido dos Trabalhadores no Rio Grande do Norte.

Agora, é só na canela...

Pois é... Foi só a Dilma Roussef subir um pouco mais nas sondagens de opinião para as eleições presidenciais de outubro próximo para que os articulistas da Nova Direita descessem ainda mais o nível do, como direi?, "debate". Hoje, o arauto da turma (tchurma, daqui prá frente), o jornalista Reinaldo Azevedo, que mantém um blog político no site da Veja, com o pretexto de atacar manifestação contra o seu candidato, o governador José Serra (PSDB), distribuiu epitetos de "fascistoides" contra os adversários.

E tem sido esse o diapasão da tchurma. Ainda no site da Veja, Augusto Nunes, exerce o seu "jornalismo" com denodo: tudo o que o Fernando Henrique Cardosos é reverberado e merece elogios. Assim, ainda ontem, propunha, que gracinha!, um debate público entre o ex-presidente e Lula. E todos quantos se posicionaram criticamente a respeito das boutades escritas pelo pai das privatizações foram tratados como "moleques de recados" e os seus nomes escritos com iniciais em letras minusculas.

A gente até se diverte um pouco com esse pessoal. Escrevem bem, dominam a língua de Camões e são deveras criativos. Mas, cá no meu cantinho provinciano, fico a me perguntar: qual o impacto desses, sejamos benevolentes!, "formadores de opinião"? Sim! Eles formam opinião, acredito. Aquela opiniãzinha (diminuída mesmo) de certos setores de classe média, que nunca leram mais do que pequenos escritos de auto-ajuda, mas que se enchem de autoridade para defenestrar o Lula como "analfabeto".

Para felicidade geral, o Serra é maior do que essa gente. Goste-se ou não dele, o governador paulista tem uma biografia pessoal respeitável. E foi um bom ministro da saúde. Além do mais, em que pese o gerenciamento complicado que os tucanos fizeram das universidades paulistas, o Serra não se situa no mesmo patamar ideológico anti-Estado da Nova Direita.

Assim sendo, essa tchurma mais prejudica do que ajuda ao governador paulista. Eles não conseguem deixar de dar vazão, para acalentar a preconceituosa audiência que formaram, à preconceitos a respeito dos trabalhadores, dos negros e dos nordestinos. E a fomentar a demanda irracional por punição...

Mas as eleições de 2010 não precisam se transformar nesse tipo de jogo. Canelada, nem em jogo de várzea, não é? E, ademais, as candidaturas postas, até agora, indicam algo melhor do que essa baixaria...

Sim, podem me esculhambar, mas eu acredito que é um luxo uma eleição presidencial em que os principais candidatos são José Serra, Dima Roussef, Ciro Gomes e Marina Silva. Basta lembrarmos do balaio de gatos que foi a eleição de 1989... Balaio que deu em Collor, na época o ungido dos papais intelectuais e financeiros da tchurma...

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Prefeita do DEM decreta o fim do carnaval em Martins

Martins é uma ótima cidade. Um lugar legal para se passear. Os moradores locais são pessoas distintas e acolhedoras. Merecia, por isso e por muito mais (como o seu clima agradável em pleno semi-árido) um outro tipo de destaque na imprensa nacional. Mas a sua prefeita, de apelido Mazé e filiada ao DEM, ex-partido do agora preso Governador Arruda e do Senador José Agripino, optou pelo rídiculo: propôs, e a Câmara Municipal local que lhe é servil, acatou, a proibição da festa do Momo na cidade serrana. Pode? Leia abaixo matéria sobre o grotesco fato publicada na edição aberta do jornal FOLHA DE SÃO PAULO.

Cidade de RN proíbe Carnaval e ameaça desobediência com multa e polícia
RODRIGO VIZEU
da Agência Folha

Na pequena Martins, cidade serrana a 377 km de Natal (RN) e com apenas 8.300 habitantes, agora o Carnaval inteiro é "proibidão". Uma lei aprovada pelos vereadores vetou de sábado (13) até a Quarta-Feira de Cinzas "manifestações e eventos com a utilização de trios elétricos, bandas de música, orquestras, carros de som", entre outros, em locais públicos.

Sobre o filme Guerra ao Terror

Em casa, de molho após uma pequena cirurgia, fui tentar ler a sempre ótima revista PIAUÍ. Já se encontra nas bancas uma nova edição. No site, alguns (poucos) artigos estão à disposição do descolado internauta. Aconselho a leitura da crítica ao filme GUERRA AO TERROR. Após a leitura, fiquei com muita vontade de assisti-lo. Clique aqui e confira!

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Uma curiosidade...

O livro "A dominação masculina" é uma das melhores obras de Pierre Bourdieu. Só para lembrá-lo disto, coloco abaixo a capa da edição italiana deste grande trabalho.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Gênero, sexualidade e AIDS

Campanhas publicitárias inteligentes de prevenção à AIDS não são produzidas de um dia para o outro. Não é fácil, portanto, encontrar material que trate com delicadeza e respeito as questões de gênero e a dimensão geracional. Por isso mesmo, para que você avalie, disponibilizo abaixo um interessante material produzido na França. Observação: a peça é toda musical...

FHC seguindo o script traçado por Lula

Leia abaixo artigo de autoria de Marcos Coimbra. Trata-se de uma análise das investidas críticas do ex-presidente contra Lula, Dilma e o PT. Vale a pena conferir!

Fernando Henrique contra Lula
Autor(es): Marcos Coimbra
Correio Braziliense - 10/02/2010

Com seu cartão de visitas, o Plano Real, Fernando Henrique ganhou a admiração do país. Se não terminou seu período com a imagem que julga condizente com o que fez, ninguém pode ser responsabilizado, fora aqueles que o integraram

Em mais um capítulo da longa batalha que travam há anos, Fernando Henrique e Lula voltaram a se enfrentar no fim de semana. Agora, a iniciativa partiu do ex-presidente, que, em artigo publicado por alguns jornais, se disse “sem medo do passado”. Com isso, afirmou que aceita o desafio do atual, de fazer a comparação entre os governos dos dois na eleição deste ano.


Segundo Fernando Henrique, Lula está em meio a uma “guerra imaginária” em que distorce fatos e, assim fazendo, se glorifica no contraste com ele. Em suas palavras, o presidente quer assustar as pessoas, ameaçando-as com o caos se a oposição vencer.

Quase todo o texto é dedicado à defesa das decisões que tomou e do que fez no Planalto. O cerne de seu argumento é a ideia de que Lula (apenas) “deu passos adiante no que fora plantado por seus antecessores”. Embora falasse no plural, parece que o que ele queria dizer é que o (único) mérito de Lula foi prosseguir o que ele começou.

Nada mais compreensível que a reação de FHC. Não é preciso ter de si uma opinião muito elevada para, em situação semelhante, ficar tão desconfortável quanto ele parece estar. Depois de uma trajetória brilhante como intelectual, entrou na vida política pela porta da frente e chegou aonde chegou, tornando-se, por algum tempo, ídolo de um país que não acreditava mais que a inflação pudesse ser vencida. Hoje, sem que ele o mereça, muitos de seus amigos preferem que ele finja que não existe.

Espicaçado por Lula e Dilma, pelo PT e até por gente que esteve bem aninhada em seu governo, é difícil imaginar que ele fosse ficar quieto em seu canto, sofrendo calado. O artigo foi uma mostra de que ele não vai aceitar de braços cruzados as provocações que a campanha da ministra lhe fará. Aliás, não foi a única, pois, ainda no sábado, já havia dito que Dilma é “um boneco” e Lula seu “ventríloquo”. Em matéria de nível de debate, não se pode dizer que seja elevado.

Fernando Henrique se diz convencido que na campanha haverá um mote (“o governo do PSDB foi neoliberal”) e dois “alvos principais: as privatizações das estatais e a (sua) suposta inação na área social”. Em função disso, contra-argumenta procurando mostrar que melhorou o desempenho das empresas privatizadas em seu governo e reivindicando a invenção do Bolsa Família.

Ainda que concordássemos com o que diz, o problema do raciocínio é que as eleições, para a vasta maioria das pessoas, não são guerras (imaginárias ou reais) entre dados e teses, mas entre imagens. Se existem pessoas que tomam suas decisões de voto apenas depois de ouvir a exaustiva argumentação racional dos candidatos em torno de diagnósticos e propostas, elas são uma minoria. E não apenas aqui, onde, por nossas distorções, o eleitorado é predominantemente constituído por cidadãos de baixa escolaridade e informação. Acontece o mesmo em qualquer lugar, incluindo os mais desenvolvidos. Em todos, os eleitores votam muito mais com imagens que com números na cabeça.

Fernando Henrique teve oito anos de governo para formar uma imagem de si, seus companheiros e ideias. Com seu cartão de visitas, o Plano Real, ganhou a admiração quase unânime do país. Se não terminou seu período com a imagem que julga condizente com o que fez, ninguém pode ser responsabilizado, fora aqueles que o integraram. Basta pensar no investimento em comunicação governamental nada pequeno que foi feito e que de pouco serviu, ao que parece.

O PSDB teve mais duas oportunidades de ouro para refazer a imagem do governo FHC, as campanhas de 2002 e 2006, ambas terminadas no segundo turno. Não foi por falta de tempo de televisão e de recursos que elas foram desperdiçadas.

Serra, sabendo que a grande maioria das pessoas queria a mudança naquela eleição, não pôde assumir o lado do governo de maneira inequívoca. Alckmin preferiu falar de sua gestão em São Paulo e emudeceu quando FHC foi trazido para o palco.

Engana-se quem acha que as privatizações foram um fantasma habilmente inventado por Lula para derrotar o PSDB. Elas não passavam de um símbolo das diferenças entre tucanos e petistas, FHC e Lula, “as elites” e “o povo”, “eles” e “nós”. Denunciando-as, muito mais era expresso, coisas que não são apagadas pelo fato de que “hoje existe celular para todos”.

Toda vez que entra diretamente no debate, FHC faz o que Lula quer. Só que o ex-presidente não consegue e nem deve evitá-lo. Esse é seu drama.

Eleições 2010: qual será o jogo dos donos da bolsa...

Confira abaixo matéria publicada no VALOR ECONÔMICO dando conta dessa, digamos, decisiva questão.

O MERCADO SE DIVIDE ENTRE SERRA E DILMA
SERRA E DILMA DIVIDEM PREFERÊNCIAS NO MERCADO FINANCEIRO
Autor(es): Luiz Sérgio Guimarães, de São Paulo
Valor Econômico - 10/02/2010

O mercado financeiro prefere Serra ou Dilma? Em linhas gerais, os analistas acreditam que Dilma fará uma repetição "piorada" do segundo mandato de Lula: âncora monetária, flutuação cambial suja e política fiscal frouxa. Serra fará o que sempre fez: âncora essencialmente fiscal, contas públicas equilibradas, juro real baixo e câmbio depreciado. Os mercados poderão passar a apoiar mais claramente a ministra Dilma Rousseff se enxergarem dificuldades intransponíveis em uma gestão Serra - Dilma, teoricamente, manteria os juros mais altos que Serra, o que agrada ao mercado. O ex-ministro de FHC Luiz Carlos Mendonça de Barros considera essa visão uma "irresponsável superficialidade". Em relatório divulgado ontem, o economista-chefe do Banco Santander, Alexandre Schwartsman, diz que a evolução das contas de São Paulo entre 2006 e 2009 foi muito semelhante à do governo federal, o que não confirma a avaliação que o governador José Serra tenderia a ser mais duro que Dilma na questão fiscal.

O mercado financeiro prefere Serra ou Dilma? A austeridade fiscal defendida e posta em prática pelo governador de São Paulo, José Serra, sempre conquistou a simpatia de instituições e investidores. Mas a facilidade com que o mercado ampliou seus lucros ao longo dos dois mandatos de Lula introduz um elemento novo capaz de balançar as convicções. E os analistas não descartam uma opção mercadista pela candidatura da ministra Dilma Rousseff.

Em linhas gerais, os analistas acreditam que Dilma fará uma repetição "piorada" do segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva: a âncora persistirá monetária, a flutuação cambial permanecerá suja e a política fiscal, frouxa. Serra fará o que sempre fez: a âncora (rigorosa a ponto de reduzir crescimento no primeiro ano) será essencialmente fiscal, a política econômica se sustentará em contas públicas equilibradas, juro real baixo e câmbio depreciado. Os mercados poderão passar a apoiar mais claramente a ministra Dilma Rousseff se enxergarem dificuldades intransponíveis em uma gestão Serra.

Pelo estilo centralizador demonstrado pelo atual governador paulista, o principal risco seria o de não conquistar a máquina burocrática de Brasília. Encontraria problemas para fazer logo o ajuste fiscal pretendido, com corte das despesas públicas e reforma tributária. Essas correções seriam essenciais para o segundo passo: a desvalorização cambial e a redução dos juros. Mas Luis Otavio de Souza Leal, economista-chefe do Banco ABC Brasil, levanta a hipótese de Serra não conseguir fazer o ajuste fiscal na extensão desejada. "Serra poderá tentar colocar de pé os dois outros pilares do seu modelo, sem que a principal viga de sustentação esteja fincada, o que certamente acabaria em fracasso via uma retomada da tendência de alta da inflação. Portanto, acredito que, apesar de no papel o modelo Serra ser melhor, as dúvidas com relação a sua implementação podem levar o mercado a considerar mais confortável a vitória de Dilma", diz Leal. Sobretudo se o atual presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, vier a ocupar a chapa da candidata ou a sua equipe econômica. Com isso, o PT passaria a ideia do "um pouco mais do mesmo", o conhecido confiável, embora não do inteiro agrado dos mercados.

Em entrevista concedida ontem ao Valor, o ex-ministro do governo FHC Luiz Carlos Mendonça de Barros - o Mendonção, como é conhecido no mercado, amigo de Serra - criticou o que considera uma "irresponsável superficialidade" do mercado financeiro, a de acreditar que, num eventual governo Dilma, tudo estará muito bem pois as instituições e os investidores continuarão ganhando dinheiro, já que serão preservadas as atuais políticas monetária e cambial. "Trata-se de um tremendo erro de análise", ataca Mendonção. "O mercado só olha o próprio bolso e é um bolso de curto prazo".

Essas eleições serão, no seu entender, fundamentais para definir o desenho de Nação que se terá no futuro. O Brasil está em condições privilegiadas em relação aos países europeus. Tem dívida pequena e dinâmico mercado de consumo doméstico. O país já está dentro do centro dinâmico da economia mundial. Mas precisa alargar o seu espaço. "Antes disso, será necessário discutir o papel do Estado na economia. Não tenho dúvida de que um governo Dilma irá ampliar a presença do Estado na produção econômica. É um retrocesso, uma visão soviética das coisas", diz Mendonção. Serra tem outro tipo de visão. Quem tem de ser forte é o setor privado, as indústrias. O governo deve controlar severamente as finanças públicas e criar condições para o investimento privado. No entender do diretor da Quest Investimentos, o mercado deveria abrir mão dos seus interesses de curto prazo, em prol do crescimento que virá para todos mais adiante.

Se o mercado, a sete meses das eleições, ainda não fechou consenso sobre o candidato favorito, sabe o que não quer: torce para o deputado Ciro Gomes (PSB-CE) retirar sua candidatura. O mercado não tem medo das decisões do governador José Serra nas áreas monetária e cambial. Tem medo de suas hesitações e preferiria que o lançamento oficial de sua candidatura à Presidência da República já tivesse ocorrido. Também não tem medo de uma Dilma Rousseff supostamente mais "desenvolvimentista" que Lula. "O mercado prefere Serra", antecipa o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves. Ele não levou a sério a entrevista do presidente do PSDB, Sérgio Guerra, para quem, eleito, Serra mudará o sistema de metas de inflação, o câmbio e os juros. São "audácias de palanque", não linhas e planos de governo.

Como o restante da sociedade, o mercado faz comparações entre Serra e Dilma, mas o dólar e os juros ainda não se deixaram empolgar pelas eleições de outubro. Nem a valorização recente da moeda americana, nem a inflexão sofrida pela curva futura de juros refletem os riscos eleitorais. Mas cresce e se inflama o debate interno nas mesas de tesoureiros, gestores e economistas de bancos e consultorias sobre a influência do pleito presidencial - tido como uma reedição do embate feroz de 2002 - sobre o comportamento das duas principais variáveis. Logo, com o lançamento oficial das candidaturas, as eleições estarão incendiando as expectativas e as decisões de investimentos.

Para o mercado, com Dilma os gastos do governo persistiriam elevados, o superávit fiscal não passaria de 2,5%, exigindo uma política monetária apertada. Nesses meses finais de Lula, raciocina Leal, quanto mais viável se mostrar a candidatura Dilma, mais conservadora tenderá a ficar a política fiscal, de modo a conquistar a simpatia do mercado e reduzir a parte longa da curva de juros. O mercado gosta disso e, dependendo dos programas de governo dos dois candidatos, poderá ficar "comprado" em Dilma.

Enquanto a candidata petista deve transmitir aos mercados mensagens tranquilizadoras sobre os integrantes de sua equipe econômica, os analistas ouvidos pelo Valor não trabalham com a possibilidade de, eleito presidente da República, José Serra nomear medalhões para os postos-chave da economia. Nem o Ministério da Fazenda, nem o Banco Central seriam ocupados por estrelas com luz própria. Serra, no entender do mercado, gosta de se cercar de "luas", homens-satélites que apenas refletem o brilho do chefe.

Essa interpretação de economistas de bancos baseia-se no fato de seu atual secretariado ter sido montado com homens de sua estrita confiança, mas avessos à publicidade externa. A discrição é a marca dos secretários. Quais são as posições de Mauro Ricardo Machado Costa, o secretário da Fazenda do governo paulista, sobre juro e câmbio? O que pensa sobre isso Francisco Vidal Luna, secretário de Economia e Planejamento? Luna foi sócio do ex-ministro João Sayad no antigo banco SRL (sigla de Sayad, Reichstul e Luna). Todos sabem o que Sayad defende em matéria de política monetária. Mas Luna concordaria com as mesmas posições baixistas? Eleito, Serra manteria essa propensão de indicar homens indecifráveis, impermeáveis ao pré-julgamento mercadista. Evitaria, com isso, delegar as cruciais políticas monetária e cambial a expoentes historicamente ligados à social-democracia paulista.

Estariam de antemão descartados tanto o professor da FGV Yoshiaki Nakano, um dos mais respeitados defensores do "novo-desenvolvimentismo" quanto o keynesiano Luiz Carlos Mendonça de Barros. Mas ambos podem servir de inspiração a Serra. Os dois defendem um estrito controle das contas públicas. "A base de sustentação da política econômica será sempre uma política fiscal austera. A contenção dos gastos, a ampliação das metas de superávit primário e a busca de um déficit nominal zero são os pressupostos nos quais irão se assentar as outras políticas", diz o professor da FGV, Paulo Gala, economista do grupo liderado pelo desenvolvimentista tucano Luiz Carlos Bresser-Pereira.

Para a política monetária, o objetivo parece ser o de estabilizar o juro real no nível de 5%. Na cambial, a meta é construir uma taxa depreciada capaz de reverter a desindustrialização denunciada pelos desenvolvimentistas. Como? Por meio da regulamentação da conta de capitais, sugere Gala. As medidas tomadas na parte final da gestão de Armínio Fraga no BC de Fernando Henrique Cardoso, e continuadas no governo Lula, no sentido de liberalizar a conta de capitais do balanço de pagamentos, seriam revertidas. Não há possibilidade de se falar em "controle de capitais".

Diferentemente de 2002, o risco político não conseguirá fazer disparar o dólar. No entender do economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, a taxa de câmbio chegará ao fim do ano bem depreciada, mas em função do déficit em conta corrente, e não de uma fuga de capitais estrangeiros motivada por mudanças de regras na política cambial. "Ao não ter aumentado a poupança nos oito anos que ficou no governo, o PT dará de presente ao país um déficit em conta corrente cada vez mais difícil de financiar", diz Vale. Sobre juro, nem Serra, nem nenhum governo será irresponsável no combate à inflação. "O correto é buscar mecanismos de redução dos spreads bancários. É isso ao final que o Serra deve ter na cabeça quando fala dos juros", diz Vale.