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quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Os governadores e o jogo de 2014: a análise de César Maia

Você pode até não concordar com nada que o ex-Prefeito e atual Vereador César Maia (DEM-RJ) escreve, mas não pode negar que o cara faz análises bem articuladas. Sou um dos leitores assíduos do seu Ex-Blog. E, sempre que possível, reproduzo aqui algumas de suas corrosivas avaliações políticas. É o que faço hoje, com um texto no qual ele analisa o papel dos governadores no jogo político nacional. 

A IMPLOSÃO DOS GOVERNADORES!*
César Maia


1. O processo de centralização, fragilizando a Federação, acentuou-se com Lula. A condição de outsider de Dilma deu um alento aos governadores que viram suas participações crescerem. Mas as manifestações de junho acuaram os governadores, seja pela queda geral de popularidade, seja por não saberem como reagir a um ano da campanha de 2014.
       
2. A função política que exerciam junto ao congresso, coordenando suas bancadas, desapareceu. Os temas que vieram à tona -reforma política, voto aberto, aplicação dos royalties do pré-sal...- não os tiveram como interlocutores. Ninguém ouviu ou leu a opinião deles. Permanecem mudos, ou quase.
        
3. Voltam-se para dentro de seus estados, buscando dar curso a decisões que possam melhorar os seus prestígios, em grande medida municipalizando os seus mandatos. Saíram das fotos.  E nem falar..., das ruas.
        
4. Paradoxalmente -apesar da forte queda de popularidade- Dilma procurou assumir a ‘paternidade’ de medidas que respondessem a demandas populares potenciais, como a falta de médicos, a extensão do financiamento da casa própria ao mobiliário... E transferir ao congresso e aos governadores parte de seu desgaste. Reforma política por plebiscito é exemplo disso.
        
5. Dessa forma, a outsider -no início do mandato- passou a ter protagonismo político e os governadores -por se sentirem acuados- acentuaram esse processo de desfederalização, por inércia e omissão. Esse foi um desdobramento não pedido nem imaginado pelas manifestações: o reforço da centralização e o desmonte politico da Federação.
        
6. Há exceções, poucas: São Paulo, Pernambuco e Rio Grande do Sul.

* Texto publicado no EX-BLOG DO CÉSAR MAIA (19/09/2013).


terça-feira, 10 de abril de 2012

A popularidade de Dilma

Reproduzo, abaixo, artigo de autoria do jurista Paulo Linhares. Dê uma conferida!

O FATOR DILMA

Paulo Afonso Linhares

E o patinho feio se tornou um portentoso cisne... Quando o ex-presidente Lula anunciou, dois anos antes de terminar o seu segundo governo, que sua candidata seria a então ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, muitos analistas políticos acharam que ele estava absolutamente equivocado, por vários motivos, sobretudo, porque o seu governo acabaria a partir daquele anúncio. Outro problema era a própria candidata que, ademais de jamais ter sido eleita para qualquer coisa, era sabidamente uma pessoa de comportamento extremamente hard e avesso aos trejeitos da política rasteira e barateira, que marca o clientelismo ainda bem presente no cenário político brasileiro. Todos achavam que a "xerifona" colocada na Casa Civil numa das maiores crises institucionais que se tem notícia nestes últimos trinta anos, que foi a ruidosa saída do ex-ministro José Dirceu e que desencadeou a defenestração de todos os auxiliares mais importantes e próximos ao presidente Lula, seria uma aposta perdida.

Aliás, ressalte-se que a oposição encastelada, sobretudo, no DEM e no PSDB, fez um enorme estrago político na esteira do "Mensalão", quando detonou com precisão e competência, literalmente, todos o staff do então presidente, sendo Dilma uma das poucas exceções de sobrevivência. E foi a escolhida para apagar o incêndio, o que fez com mão de ferro e absoluto sucesso, o que valeu a sua indicação para a candidatura presidencial. A despeito do bombardeio de que foi alvo a partir de então, a candidatura de Dilma se consolidou e redundou na vitória sobre José Serra, posto que num apertado segundo turno. As apostas da oposição, cada vez mais desfalcada com as derrotas de alguns dos seus eminentes próceres regionais (na guilhotina eleitoral de 2010 rolaram os mandatos de Tasso Jereissati, Marco Maciel, Artur Virgílio, Mão Santa etc.), eram de que o governo Dilma seria um retumbante fracasso. Até agora, todos os indicativos mostram que o governo austero e avesso a quaisquer pirotecnias da presidente Dilma alcança uma aprovação popular em torno de 77%, segundo recente pesquisa CNI/Ibope, algo inédito na recente história repúblicana. As apostas foram perdidas pela oposição.

O quê de especial tem o governo Dilma? Com efeito, ele incorpora todos os acertos de uma política econômica que iniciou no governo Fernando Henrique Cardoso, aperfeiçoou-se no governo Lula, todavia, mantém como características a sobriedade, a rapidez e firmeza nas ações para debelar graves focos de corrupção que vieram à tona e o avanço das políticas sociais do governo.

Ademais, no plano da política externa, a ofensiva do governo Dilma fortalece laços do Brasil com tradicionais parceiros, como o Estados Unidos da América e os países da União Europeia, sem abrir mão de efetiva participação no movimento dos países emergentes, especialmente dos seus parceiros do BRIC, o bloco de interesses econômicos formado pelo Brasil, Rússia, Índia e China, que se destacam no cenário mundial como países em desenvolvimento. Ao que parece, alguns rumos da política externa brasileira começa a ser corrigidos, com substituição das questões mais marcadamente ideológicas por outras de perfil mais substancial, de cunho econômico e político. E tem enfrentado problemas como a condenação recente do Brasil pela Corte Interamericana de Direitos Humanos, situada em San José, Costa Rica, pela morte do jornalista Vladmir Herzog, além da questão dos desaparecidos da Guerrilha do Araguaia. Pela lei brasileira, segundo interpretação dos conservadores, essa questão foi resolvida com a Lei de Anistia (Lei n° 6.683 - de 28 de agosto de 1979). Os juízes da Corte de San José dizem que não e o mesmo disse o próprio Congresso Nacional quando aprovou, recentemente, a Comissão da Verdade, para apuração de agressões aos direitos humanos por mais de cinco décadas, no Brasil. Claro que isto abriu um vasto campo de enfrentamento entre o bloco conservador mais vinculado às forças armadas, sobretudo, os generais de pijamas do Clube Militar, e os setores que se autodenominam como progressistas. Aliás, a recente comemoração de aniversário do Movimento Militar de 1964, foi recebida com manifestação contrária que resultou em pancadarias, gás lacrimogêneo e prisões. Coisas da democracia, embora caiba à presidente Dilma manter essas situações sob controle, evitando que pequenos focos possam tornar-se incêndios de maiores proporções. Por enquanto, Dilma surfa em índices de popularidades inéditos na "história deste país". Que assim permaneça. A meninada agradece.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Dilma dribla Orlando

A presidente Dilma não deixa barato. Quem estava mal acostumado com o estilo Lula, agora tá pagando a fatura. E caro. Confira na matéria abaixo.

DILMA TIRA PODER DE ORLANDO E ASSUME DECISÕES SOBRE COPA
DILMA TIRA PODER DE MINISTRO E ASSUME AS NEGOCIAÇÕES SOBRE A COPA DE 2014
O Estado de S. Paulo - 19/10/2011

Por decisão da presidente Dilma Rousseff, o ministro do Esporte, Orlando Silva, não será interlocutor do governo nas negociações da Copa de 2014 e na tramitação da Lei Geral da Copa no Congresso. A partir de agora, as decisões relativas à Copa ficarão centralizadas no Palácio do Planalto, nas mãos da presidente e da chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann. A decisão foi tomada diante do desgaste do ministro com a denúncia de que estaria envolvido num esquema de corrupção na pasta.

Embora o futuro de Orlando ainda esteja indefinido e vá depender do desenrolar das acusações - além da consistência de suas respostas -, o certo é que ele já perdeu poder. Na prática, o ministro passará a ser informado das providências a serem tomadas no Planalto.

Dilma não está satisfeita com o trabalho de Orlando. Na segunda-feira, ainda em Pretoria, na África do Sul, ela ficou irritada com o que leu na imprensa e chegou a telefonar para um auxiliar, a fim de saber quem disse que ela aprovava o trabalho do ministro. A presidente, na realidade, afirmou apenas que considerava suficientes as primeiras explicações dadas por ele em relação às denúncias de corrupção.

Logo que assumiu o mandato, em janeiro, Dilma cogitava ela mesma cuidar da realização da Copa do Mundo por considerar Orlando Silva muito próximo da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Na prática, a presidente nunca quis proximidade com a CBF por avaliar que a entidade exige privilégios que ela não pretende conceder.

Com as relações cada vez mais azedas entre Dilma e o presidente da CBF, Ricardo Teixeira - e percebendo que, se não mudasse de postura, poderia perder o cargo -, o ministro decidiu trocar de posição. Tanto é que ajudou a presidente a convencer o ex-craque Pelé a assumir o papel de embaixador honorário do Brasil na Copa do Mundo. Foi uma forma de afastar Ricardo Teixeira das cerimônias oficiais relativas à realização do torneio de futebol.

Manobra. No sorteio dos grupos das eliminatórias para a Copa de 2014, realizado em 30 de julho, no Rio, a manobra feita por Dilma deu certo. Teixeira ficou de fora da foto oficial. Nela, apareceram o presidente da Fifa, Joseph Blatter, Pelé e Dilma.

Agora, com as denúncias do policial militar João Dias Ferreira dando conta de que Orlando teria montado um esquema de corrupção no Ministério do Esporte, a presidente decidiu assumir as negociações referentes à Copa.

Na primeira manifestação a respeito da situação de Orlando, feita na segunda-feira, em Pretoria, Dilma afirmou que o ministro tem direito à "presunção da inocência". Lembrou, porém, que acompanharia não apenas os esclarecimentos dele como as denúncias. Sem nenhuma reserva, Dilma insistiu que a Copa era uma questão de governo.

Vigilante. Apesar de estar na África, a presidente recebe informações sobre a evolução de toda a crise envolvendo o ministro do Esporte. Seus auxiliares disseram a ela que Orlando teve uma "boa performance" no depoimento de ontem, na Câmara, e se defendeu das acusações com muita veemência.

Dilma evitou ontem emitir opinião sobre as últimas denúncias contra o auxiliar. Chegou a ficar impaciente quando foi indagada sobre fatos novos, como a compra de um terreno por Orlando, em Campinas (SP), num local em que passam dutos da Petrobrás.

Ao longo do dia, entre Pretoria e Moçambique, onde embarcou no fim da tarde para a segunda etapa da viagem à África, a presidente conversou pelo menos duas vezes com a ministra Gleisi Hoffmann sobre a situação de Orlando. O governo teme a continuidade do desgaste político. Hoje, Orlando prestará novo depoimento, desta vez no Senado.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

As bases sociais do lulismo

Um interessante artigo, publicado no último número da Revista Brasileira de Ciências Sociais, assum o desafio de tentar apreender as múltiplas faces do lulismo. Vale a pena conferir! Leia alguns trechos abaixo:

As bases do Lulismo: a volta do personalismo, realinhamento ideológico ou não alinhamento?*

Lúcio Rennó; Andrea Cabello


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RESUMO

O artigo busca caracterizar o eleitor de Lula em 2006. O objetivo é analisar os fatores que diferenciam o voto em Lula do voto no PT, de modo a esclarecer quem são os eleitores que compõem a maioria que Lula construiu ao longo de seu governo e que não demonstra preferência por seu partido. Conclui-se que o lulista se assemelha ao eleitor não-alinhado que não demonstra preferências políticas ou ideológicas fortes e que vota, até certo ponto, baseado na sua avaliação retrospectiva do desempenho do governo.

Palavras-chave: Lulismo; Petismo; Voto retrospectivo; Determinantes do voto.


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Introdução

Em outubro de 2006, Lula foi reeleito com margem considerável de votos. Tal feito seria impensável um par de anos antes. No meio de seu primeiro mandato, a administração petista viu-se às voltas com o envolvimento de sua alta cúpula em escândalos sucessivos de corrupção. Deu-se por certa, principalmente pela oposição, a derrota do governo nas eleições de 2006. Chegou-se, inclusive, a cogitar a hipótese de um pedido de impeachment, mas não se foi adiante com a ameaça apostando em que a sina eleitoral de Lula estava traçada pelos escândalos de corrupção. Como, então, um desacreditado Lula conseguiu a reeleição em 2006, com confortável margem de votos no segundo turno das eleições?

A resposta passa por uma constatação inicial básica: desde a sua primeira candidatura à presidência, em 1989, Lula e o Partido dos Trabalhadores(PT) sedimentaram seu papel na política brasileira– mas não necessariamente na mesma intensidade. Inicialmente, o PT conseguiu consolidar-se como uma alternativa viável no Poder Legislativo no nível federal e nos níveis Executivos municipais. O partido cresceu de forma inconteste. Enquanto isso, Lula sofria derrotas eleitorais consecutivas, primeiro para Fernando Collor, em 1989, e depois para Fernando Henrique Cardoso, nas eleições de 1994 e 1998.

Em 2002, Lula renasce das cinzas eleitorais como candidato não só dos petistas, mas de uma parcela maior da população brasileira. O PT também se torna o maior partido na Câmara dos Deputados. Dessa forma, podemos afirmar que até 2002, o eleitorado de Lula não era assim tão distinto daquele do PT (Hunter e Power, 2007; Zucco, 2008).

Em 2006, no entanto, a diferença entre os eleitorados de PT e Lula tornou-se mais profunda, principalmente em sua dimensão geográfica (Idem, ibidem). Portanto, parece haver, principalmente a partir de 2002, um descolamento maior entre o voto em Lula e o voto no PT. O objetivo deste trabalho é traçar o perfil predominante, se houver algum, da parcela da população que votou em Lula em 2006, mas que não simpatiza ou tem preferência pelo PT. Em outras palavras, pretendemos explorar o que diferencia os lulistas dos petistas. Assim sendo, nossa pergunta é: o lulismo, entendido como aprovação e lealdade ao líder Luis Inácio Lula da Silva, que transcende a identificação partidária com o PT, é motivada por quais fatores? Quais são as bases do lulismo? Este artigo, portanto, contribui para o crescente debate sobre esse tema no Brasil (Samuels, 2004a; Singer, 2009).

Embasados em pesquisa de opinião pública realizada ao final das eleições de 2006, acrescentamos dois elementos ao estudo do tema ainda ignorados pela literatura especializada (Idem, ibidem). Primeiro, decompomos o voto em Lula, além de diferenciá-lo do voto nos demais candidatos. Os estudos anteriores sobre lulismo, tanto de Samuels (2004a) como de Singer (2009), não atentam para as possíveis diferenças internas no interior do dito lulismo. Samuels diferencia petistas dos demais eleitores; Singer analisa apenas cruzamentos de ideologia e renda com intenção de voto. Aqui, matizamos as potenciais diferenças entre lulistas novos, que passaram a votar em Lula em 2006, e lulistas antigos, que votaram em Lula em 2002 e 2006. Ambos os grupos são formados por eleitores que declararam voto em Lula, mas não se identificam com o PT. Iremos, portanto, desagregar o eleitorado brasileiro em diversas categorias – lulistas antigos, lulistas novos, petistas e demais eleitores Desta forma poderemos identificar o impacto de diferentes variáveis políticas, econômicas e sociais na diferenciação entre esses grupos. 1

Nossas hipóteses serão derivadas não só dos dois estudos supracitados (Samuels, 2004a; Singer, 2009), como também de uma extensa literatura sobre os determinantes de curto e longo prazo do voto. Nossas conclusões distanciam-se das alcançadas por Samuels e Singer. Os resultados indicam que os lulistas não representam um novo realinhamento político-ideológico, com base em classe e ideologia, como argumenta Singer, nem uma nova forma de personalização da política, como defende Samuels. O lulista, na verdade, é um eleitor pouco informado politicamente e desatento a campanhas eleitorais, que não apresenta afinidades partidárias de qualquer tipo ou intensas rejeições a partidos, e tampouco, identificações personalistas fortes. Contradizendo os estudos anteriores, detectamos que os eleitores que declaram identificação com o PT, os aqui chamados petistas, simpatizam mais fortemente com a pessoa de Lula do que os eleitores lulistas.

Para ler o resto do artigo, clique aqui.

domingo, 12 de setembro de 2010

Por que o discurso da oposição não pega?

Eis aí abaixo uma tentativa de resposta.

VINICIUS TORRES FREIRE

Você sabe com quem está falando?

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Eleitor relevou ou ignorou as críticas a Dilma e ao PT; talvez falte intimidade da oposição com os cidadãos
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O GROSSO do eleitorado até agora não se abalou com os protestos da campanha de José Serra (PSDB) contra o PT e sua candidata. Nem com as vinhetas televisivas tucanas que procuram refrescar a memória do cidadão a respeito do passivo moral do lulismo-petismo, indica pesquisa Datafolha. Mesmo assim, na noite de sexta-feira, quando era escrita esta coluna, ia forte o rumor ou o odor de que o jorro de lixo na campanha iria crescer. Lixão é que não falta para vasculhar.
Dilma Rousseff perdeu pontos relevantes apenas entre eleitores com ensino superior (14% do total da amostra do Datafolha) e/ou com renda maior que dez salários mínimos (5% do total). Note-se, porém, que as intenções de voto dessa fatia mínima do eleitorado têm flutuado de modo meio selvagem. Pode ser que a variação de Dilma nem se deva ao caso da Receita. Enfim, Serra não levou os votos que caíram da cesta de Dilma. Aparentemente, eles foram para Marina Silva (PV).
O grosso do eleitorado pode ter relevado as acusações contra o PT. Muitos podem não ter tomado conhecimento delas -faz uma semana, não cresce o número de eleitores que já viu a propaganda eleitoral na TV, ainda em 51%. O eleitor pode não entender bem o que se passa -a barafunda noticiosa da quebra de sigilos. Ou não quer ou pode se dar ao trabalho de compreendê-la.
O acesso ao noticiário não é lá tão escasso. Talvez seja difícil compreender o que se lê ou se ouve pois, na média, os brasileiros não têm mais de oito anos de escola ruim. Ainda assim, cerca de 37% das pessoas com mais de 18 anos usaram a internet no ano passado, segundo dados do IBGE (Pnad). Quase metade vê pelo menos algum noticiário televisivo. Porém, os motivos imediatos da falta de apelo do protesto tucano ou indignação diante do caso ficam no domínio da especulação, na falta de pesquisa específica.

Leia o texto integral aqui (exclusivo para assinantes UOL).

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

O horário eleitoral

Leia abaixo a análise do jornalista Alon Feuerwerker a respeito do primeiro dia de propanda eleitoral na TV.

Atributos e benefícios (18/08)
Alon Feuerwerker

A arte está também na construção do elo entre os dois pontos. Não basta só o cara ser bacana, tem que entregar a mercadoria. Mas um cara bacana desperta mais esperança de entregar a mercadoria

O horário eleitoral foi inaugurado no previsível, com cada candidato buscando principalmente enfatizar atributos, especialmente em facetas que possam ser atacadas pelos adversários. Para vacinar ou blindar. E a campanha começou razoavelmente positiva, afinal haverá ainda tempo suficiente para começar a despejar chumbo grosso sobre os outros. Ninguém chega na casa do telespectador, assim de primeira, já chutando a canela. Seria desagradável. Não ficaria bem.

Uma curiosidade nas campanhas eleitorais brasileiras é a propaganda regulamentar radiofônica e televisiva dirigir-se apenas a certo país, que não necessariamente é o Brasil. No rádio e na tevê os postulantes falam a quem — imaginam eles — forma opinião a partir desses dois meios. Costuma funcionar, especialmente quando a primeira etapa deve ser usada para tornar alguém conhecido.

Mas incomoda que a tevê e o rádio pratiquem a infantilização de modo algo excessivo. Compare com os debates e notará a assimetria.

Nesta largada, a arma do PT é Luiz Inácio Lula da Silva, ainda que no subliminar. Sem surpresas. A dúvida é como vão agir (e quantos são) os eleitores que ainda não sabem da preferência de Lula por Dilma Rousseff. Mas esse dado é relativo, pois a presença forte do presidente na tela poderá, quem sabe?, até converter quem estava inclinado a escolher outro caminho, mesmo sabendo da opção presidencial.

No campo de José Serra, aparentemente a estratégia é alcançar incrementos graduais. Deu certo com Geraldo Alckmin em 2006 e o tucano conseguiu levar a contenda para o segundo turno. Depois perdeu-se, mas aí foi menos culpa da estratégia que da tática. Da sofreguidão e da falta de medida. Fazer a disputa com Lula exige know-how, profissionalismo, e Alckmin era estreante no jogo.

Na área de Dilma, calculam-se as medidas necessárias para liquidar a fatura já, não dando margem para grandes riscos. Mas se Lula não conseguiu vencer de cara nas duas vezes em que se elegeu, por que Dilma conseguiria? A pergunta faz sentido, mas na comparação, por exemplo, com 2006, a dúvida omite um fato: a situação econômica vai melhor que quatro anos atrás.

A análise jornalística tende a reduzir, a simplificar. É da nossa natureza. Se precisássemos destrinchar todas as variáveis até o limite do erro zero nunca chegaríamos a concluir um texto e estaríamos todos desempregados. É fácil dizer que o eleitor satisfeito com Lula tende a votar em Dilma, mas ela estar no patamar dos 40% sendo a candidata de um governo com mais de 70% de aprovação deveria dizer algo sobre a relatividade da conclusão.

Quem é o eleitor satisfeito com Lula mas menos disposto a votar na candidata dele? Por que essa separação entre juízos e consequências? Quem souber dissecar melhor o enigma estará em vantagem.

De volta à campanha, há uma curiosidade no ar sobre como serão as críticas mútuas, quando vierem para valer. O que vai colar e o que não? Ainda está por ser verificado o resultado do investimento na tese da suposta incompetência de Dilma para a função que pleiteia. Bem como a tentativa de pintar Serra como um elitista insensível.

Meu palpite é que foram desperdícios. Como nem Dilma é a incompetente que pinta a oposição nem Serra poderá ser facilmente desconstruído a partir do rótulo de “candidato dos ricos”, resultará em soma zero de vetores.

É o óbvio e o banal, mas a disputa deve decidir-se na reflexão de “quem é melhor para o Brasil”, a versão açucarada da mensagem real: o “quem é melhor para mim”. Novidade? Não, mas nem sempre a notícia é sinônimo de novidade, com o perdão dos dicionários.

Ou seja, se estamos na fase dos atributos, ela é apenas o aquecimento para a etapa decisiva, a dos benefícios, como se aprende em qualquer curso básico de vendas. Mas seria um erro imaginar a existência de uma muralha chinesa entre as duas variáveis. Capacidade de trazer benefícios tem a ver com atributos.

A arte está também na construção do elo entre os dois. Não basta só o cara ser bacana, tem que entregar a mercadoria. Mas um cara bacana desperta mais esperança de entregar a mercadoria.

Coluna (Nas entrelinhas) publicada nesta quarta (18) no Correio Braziliense.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Quem tudo quer...

Lula joga para levar tudo. Essa, nem sempre, é a melhor postura de um jogador. Mas Lula tem experiência e já demonstrou competência em garantir o seu projeto. Nem que, para isso, tenha que destroçar o PT. Leia abaixo a análise de Feuerwerker a respeito.

Escravo da ribalta (04/05)
Alon Feuerwerker.

Mais do que demonstração de força, a blitz do presidente nos últimos dias talvez seja sintoma de alguma fragilidade. Lula não quer só ganhar. Quer fazer barba, cabelo e bigode, para Dilma governar sem oposição efetiva. Terá força para tanto?A largada desta etapa da “pré-campanha” presidencial neutralizou o ambiente de euforia no campo governista que marcou os primeiros meses do ano. A oposição mostrou duas coisas não exibidas até então: disposição para o embate e capacidade de articular um discurso. Acostumados a jogarem sozinhos ao longo de muito tempo, o presidente da República e o PT dão sinais de, como se diz no boxe, terem sentido o golpe.

Um sintoma é o pronunciamento de Luiz Inácio Lula da Silva em rede nacional de TV por motivo do Dia do Trabalho. Questões procedimentais à parte, ele provoca pelo menos uma dúvida: por que o presidente precisa adotar comportamento algo heterodoxo agora, se daqui a pouquinho ele terá o gordo tempo de televisão de Dilma Rousseff na campanha, para se fartar de mandar o eleitor votar nela?

A resposta deve ser buscada na lógica das construções políticas. O presidente entrou em campo nos últimos dias menos para impressionar o público — ainda nem aí para a eleição — e mais para causar boa impressão aos aliados. O processo eleitoral entra agora na fase decisiva da costura de alianças, e Lula quis deixar claro aos amigos em potencial que ele tem sim um discurso para, como se diz nas entranhas do governo, desconstruir a oposição.

Isso para os potencialmente amigos não cederem à tentação de virarem inimigos. Um fenômeno sempre ameaçador em exércitos que, antes de tudo, estão juntos por interesses apenas materiais.

Assim, mais do que demonstração de força, a blitz do presidente nos últimos dias talvez seja sintoma de alguma fragilidade.

Lula tem objetivos ambiciosos em 2010. Além de eleger Dilma, pretende remover o PSDB do poder em São Paulo e Minas Gerais, e também encerrar a carreira política dos que lhe fizeram oposição cerrada no Congresso Nacional, com foco no Senado. Ali, Lula projeta construir para Dilma uma maioria folgada, deixando o futuro governo petista de mãos livres para as reformas constitucionais que bem entender.

Lula não quer só ganhar. Quer fazer barba, cabelo e bigode, para Dilma governar sem oposição efetiva. Terá força para tanto? Quais são os trunfos de Dilma e de Lula na eleição? A aliança dos maiores partidos, o maior tempo na tevê, a popularidade do presidente.

Tempo de TV é importante, mas a história das eleições brasileiras está cheia de exemplos de não ser tudo. As alianças são importantes, mas eleição presidencial embute bom grau de autonomia do eleitor na relação com os candidatos. E o apoio de Lula, qual será o peso efetivo dele na hora da decisão?

Há certezas e dúvidas sobre como o cidadão comum enxerga o presidente. Certezas? Ele o vê como alguém que faz um bom governo, de realizações reconhecidas. E valoriza sua trajetória. As dúvidas estão em outro lugar. Até que ponto Lula é um líder a quem a maioria seguirá incondicionalmente? Até que ponto o pragmatismo presidencial não acabou diluindo, no transcorrer do governo, uma certa relação afetiva que o eleitor não petista talvez mantivesse com o líder histórico do PT?

O filme sobre a vida de Lula, por exemplo, não foi um sucesso de bilheteria. Ao contrário. Uns dizem que a fita é simplesmente ruim, mas o insucesso não foi previsto quando ela estreou, ou pré-estreou. Muita gente boa que viu na época apostou na capacidade de a obra galvanizar emocionalmente o país, com óbvios efeitos no processo eleitoral. Simplesmente não aconteceu.

Num extremo, o entorno de Lula busca convencê-lo de que se transformou num guia condutor de almas, para além da simples racionalidade. No outro, a oposição gostaria de acreditar que Lula só transferirá a Dilma os votos que ela já teria por ser a candidata do PT. A verdade está em algum lugar no meio. Onde? Ninguém, no governo ou na oposição, tem certeza. Daí que Lula tenha precisado voltar à ribalta. De onde não consegue sair sem gerar na turma dele uma sensação chata de insegurança.

(...)
Coluna (Nas entrelinhas) publicada nesta terça (04) no Correio Braziliense.

terça-feira, 27 de abril de 2010

E Ciro Gomes?

Leia abaixo artigo de autoria do jornalista Alon Feuerwerker abordando, com consistência e objetividade, a posição de Ciro Gomes nas próximas eleições presidenciais. Ou, de forma mais provinciana(do ponto de vista disciplina, of course!), uma análise sobre jogo, jogador e conseqüências não-intencionais.


O amigo dos inimigos
Alon Feuerwerker


Ciro não percebeu os sinais de que o segundo mandato marcaria uma flexão importante na política de alianças de Lula: o lugar à direita de sua excelência estaria reservado não para animar os dispostos a lhe fazer o bem, mas para demover quem ameaçasse fazer-lhe o mal

Ciro Gomes é a enésima vítima de um sistema eleitoral cuidadosamente concebido para transformar a política brasileira nesta confederação de cartórios esclerosados. Oferecido pelo PSB na mesa de câmbio das negociações paroquiais, das pequenas ambições e do apetite exacerbado pelas miudezas, o razoável seria Ciro concorrer à Presidência por outro partido, ou como independente.

Não vai acontecer, porque o monopólio da política por legendas desobrigadas de praticar qualquer democracia interna foi no Brasil transformado em virtude.

Prazos de desincompatibilização, prazos de filiação, fidelidade partidária, proibição de propaganda paga nos veículos de comunicação, proibição de arrecadar recursos se você não for dono de partido (antes do “início oficial” da campanha), exigência de filiação partidária para concorrer. Todos remédios certificados para curar, mas que vão levando à morte do paciente na mão do neocoronelismo.

Houvesse uma Anvisa para o setor, os alquimistas da politicagem nacional estariam em péssimos lençóis.

Mas esta coluna não é sobre reforma política, é sobre Ciro Gomes e suas circunstâncias. Até 1994 ele teve uma carreira política brilhante. Em pouco mais de uma década já percorrera as posições de deputado estadual, prefeito de Fortaleza, governador do Ceará e ministro da Fazenda. Rompeu com o PSDB no início do governo Fernando Henrique e foi para o PPS. Conseguiu 10% dos votos na eleição presidencial de 1998, garantindo fôlego para disputar quatro anos depois com chances no primeiro turno — e participando decisivamente da vitória de Luiz Inácio Lula da Silva no segundo turno.

Ciro entrou no governo Lula e esteve na linha de frente da batalha da reeleição. Ali cometeu o primeiro erro realmente grave. Não percebeu os sinais de que o segundo mandato marcaria uma flexão importante na política de alianças do presidente: o lugar à direita de sua excelência estaria agora reservado não para animar os dispostos a lhe fazer o bem, mas para demover quem ameaçasse fazer-lhe o mal. O velho ditado de manter os inimigos mais por perto ainda.

Se a flexão era mesmo necessária, Lula operou-a de maneira tosca e amadora, detalhe surpreendente num profissional da política. O presidente vem deixando um a um os aliados históricos (uso aqui o termo com alguma flexibilidade) sucumbirem em batalhas desiguais e desmoralizantes contra os neoamigos, refregas sempre temperadas por convenientes vazamentos palacianos sobre as “preferências pessoais” e a “torcida” do presidente. E sobre a “tristeza” após cada infeliz desfecho.

São as únicas batalhas que Lula “perde”. Nas demais ele sempre tenta a vitória com a faca nos dentes.

Descartada a candidatura, o quase ex-presidenciável Ciro Gomes tem hoje dois problemas.

O PT ameaça colocar em marcha o projeto de demolir o grupo dele no Ceará, caso Ciro não se junte à operação para liquidar a carreira política de Tasso Jereissati. É uma das muitas metas de Lula nesta eleição. Como Tasso e Ciro são — aí sim — aliados históricos, ao ponto de o tucano Tasso ter largado a candidatura presidencial de José Serra em 2002 para apoiar o parceiro, é coisa que Ciro não fará.

O segundo problema de Ciro é ter dinamitado as pontes com o outro lado. Num sistema linear de pensamento, isso deveria ter engordado seu cacife com o presidente. Mas diminuiu. Ao menos por enquanto, Ciro só tem bala para fazer mal a Lula em discursos. Coisa que pode ser facilmente neutralizada com os vazamentos de sempre, difundindo-se como Lula está “triste”, “chateado” ou “irritado”.

Um belo cardápio de supostos estados de espírito.

Alienação

De todo modo, Ciro presta pelo menos um serviço ao país nesta saída, ao advertir para os riscos da situação cambial.

O Banco Central dá sinais de que vai subir para valer o juro básico nos próximos meses. A medida irá acelerar a deterioração das contas externas e agravar nossa dependência dos investimentos diretos do exterior. Ou seja, da alienação de ativos para o exterior.

Enquanto isso, Lula discursa sobre o patriotismo do seu governo e o chanceler cuida de produzir factoides para preencher o noticiário.


Coluna (Nas entrelinhas) publicada neste domingo (25) no Correio Braziliense.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Entrevista de Luiz Felipe de Alencastro

Clique aqui e leia uma boa entrevista dada pelo historiador Luis Felipe de Alencastro ao jornal VALOR ECONÔMICO. Nela, o reconhecido intelectual aborda o processo político brasileiro e o cenário no qual realizar-se-ão as próximas eleições.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

O PT nas eleições de 2010: a análise de César Maia

Uma das coisas que eu aprendi a detestar foi o escanteamento de um argumento pela desqualificação de quem o emite. Obviamente, não precisaria nem dizer, tenho nadado contra a corrente. No dia a dia, mesmo no espaço acadêmico no qual, em tese, deveria prevalecer um debate no qual a identificação do melhor argumento deveria se basear na sua força persuasiva e na sua consistência, predomina, com raras exceções, a postura de diminuir o emissor para deixar de lado a mensagem. Escrevo esse intróito para convidá-lo a ler o texto abaixo, escrito pelo ex-Prefeito César Maia, do DEM. Sei, sei, você não gosta do cara, e, sendo petista, menos ainda do teor do texto. Mas, faça um exercício: tente "ler" para além do texto, isto é, para além do interesse do autor em fazer o combate político e ideológico ao PT. Caso você consiga fazer isso, pode descobrir que há, aí, alguns elementos para um diagnóstico (que precisa ser feito) da metamorfose que o PT está vivendo neste ano de 2010.

A DEBILIDADE DO PT NA CAMPANHA ELEITORAL DE 2010!
César Maia


1. Na Alemanha dos anos 30, chamava-se de "Estado Total" a incorporação ao Estado, dos poderes, do partido político único, dos sindicatos e de todas as associações da sociedade civil, incluindo as manifestações artísticas. Por isso, os atos do partido único eram também atos do Estado e, por este, preparados com toda a coreografia e assumindo todas as despesas. No Brasil se avança para isso a passos largos. Boa parte das associações da sociedade civil e sindicatos são cooptados, patrocinados e seus dirigentes assalariados do Estado por nomeação.

2. Quando se analisa o quadro eleitoral de 2010, isso fica muito claro. Era de se esperar que com a popularidade do presidente e a competitividade de sua candidata, o PT entrasse nesse processo eleitoral como o partido mais forte, especialmente por ser um partido de Estado. Mas não é isso que se vê.

3. Fazendo um levantamento das candidaturas próprias do PT aos governos dos estados, se vê que elas são competitivas no Rio Grande do Sul, Bahia, Sergipe, Piauí e Acre, sendo que no Rio Grande do Sul, é competitiva para perder, e só no Acre franco favorita. Isso terá como reflexo a inevitável perda de deputados em relação aos que o PT elegeu em 2006.

4. Mas para os gerentes do Estado Total, Lula na frente, tanto faz. Pressionam seus pré-candidatos regionais para que desistam e apóiem seus parceiros, especialmente do PMDB e do PSB. Para eles, o fundamental é manter sob seu controle o Estado Total. Na medida em que a Federação foi colocada de joelhos por Lula, com um cheque de 'pacs' numa mão e um chicote na outra, ganhar ou perder estados não muda nada. Da mesma forma fazer mandatos de deputados federais. Afinal, a cooptação por cargos, emendas ou partido-patrimonialismo, pensam, vai lhes garantir o controle do Estado Total.

5. E se o partido é parte do Estado, que se transforma ele mesmo em partido, não faz diferença a origem partidária dos deputados da base aliada ou subserviente. O importante é vencer a eleição presidencial. E para isso vale qualquer arma, qualquer golpe, qualquer pressão. Não importa se o PT vai sair dessa com um só governador do Acre e com 60 deputados federais. O que importa é o controle do Estado, pois os mandatos de fato, estão com aqueles que ocupam os postos chaves da máquina pública. Especialmente os fiscais financeiros e previdenciários.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Lula em Israel II

O saldo foi positivo, apesar de algumas derrapadas. Como diria aquele grande pensador brasileiro: "faz parte!". Veja o porquê na análise sempre arguta do jornalista Alon Feuerwerker.

No frigir dos ovos
Alon Feuerwerker


Lula fez o que os antecessores não tinham feito: uma visita oficial ao país nascido do movimento sionista. Viajou para lá, discursou no Parlamento — onde foi aplaudido — e homenageou as vítimas do Holocausto

Qual é o saldo da visita de Luiz Inácio Lula da Silva ao Oriente Médio? O presidente vinha de derrota em Honduras e estava enredado numa situação inexplicável ao tratar os direitos humanos em Cuba. Mas desta vez Lula conseguiu colher o principal objetivo político: um alvará informal de interlocutor com o Irã e de jogador global na pendência entre Israel e os palestinos. Na política, como no futebol, é sempre um jogo depois do outro.

Houve ainda avanços comerciais, que também são políticos. Os gestos na diplomacia têm importância, mas o lugar principal é dos fatos. Israel ser um bom aliado dos Estados Unidos faz o PT e a esquerda torcerem o nariz ao sionismo como movimento de emancipação nacional. É portanto digno de registro que as relações entre Israel e o Mercosul tenham se consolidado exatamente sob a batuta de Lula.

Serve de contrapeso à absorção da Venezuela no bloco, dirá o cético. Infelizmente, ainda não se descobriu — de um lado e de outro — como fazer omelete sem tirar os ovos da casca.

Mais um fato: Lula foi o primeiro presidente brasileiro a colocar os pés em Israel. Houve agora ali alguma turbulência e cotoveladas, quando ele recusou homenagear o fundador do moderno nacionalismo judaico, Theodor Herzl, enquanto aceitava reverenciar Yasser Arafat.

Que importância tem isso? Pouca. A História doravante vai registrar que Lula foi o primeiro presidente do Brasil a visitar oficialmente o país nascido do movimento sionista. Viajou para lá, discursou no Knesset (Parlamento) — onde foi aplaudido — e homenageou as vítimas do Holocausto.

O movimento de Lula no tabuleiro levantino só poderá ser avaliado após os resultados. É acaciano? Talvez. Se as potências não precisarem chegar à guerra para bloquear a emergência de um Irã nuclear, Lula vai estar nos livros de História como visionário, enquanto os críticos dele precisarão espremer-se nos rodapés desse episódio. Caso contrário, nosso presidente ficará nos anais como derrotado, um Neville Chamberlain de segunda linha.

A não ser que, repetindo Getúlio Vargas na Segunda Guerra Mundial, dê um jeito de estar do lado vencedor, qualquer que seja, na hora “h”.

Subestimar Lula tem-se revelado esporte de alto risco. Melhor então acompanhar o desenvolvimento da trama. E não se apressar nos palpites.

Além da assimetria no tratamento aos ícones nacionais, outro detalhe polêmico da visita foi o conteúdo da fala presidencial. Lula deu opinião sobre tudo, desde o muro que separa Israel da Cisjordânia até a luta interna dos palestinos, passando pela questão nuclear. Palpitou inclusive sobre as relações entre Israel e os Estados Unidos.

Não deixa de ser comportamento curioso à luz da “estrita observância do princípio da não ingerência”, que justifica, por exemplo, o silêncio e o imobilismo sepulcrais das nossas autoridades diante das violações de direitos humanos cometidas por governos amigos. Mas aí deve estar valendo o critério “anti-imperialista”. Deu sorte de entrar na categoria? Então meta ficha, que nem Lula nem nossa chancelaria vão dizer nada.

Ainda sobre discursos, o Itamaraty parece considerar positivo um eventual estremecimento dos Estados Unidos com Israel. Também aqui as coisas precisariam ser olhadas com cuidado e noção de timing. Líder de um governo fortemente nacionalista, Benjamin Netanyahu vem nas semanas recentes abrindo involuntariamente espaço para Barack Obama aparecer aos olhos do mundo árabe como alguém que “enfrenta Israel”.

No frigir dos ovos, americanos e israelenses são e serão aliados estratégicos. E os últimos desencontros engordam a conta de Obama com um capital político indispensável para impor a “pax americana” na região. Impor inclusive ao Irã. E talvez com a ajuda do Brasil.


Coluna (Nas entrelinhas) publicada nesta sexta (19) no Correio Braziliense.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Alan Daniel e o crescimento de Dilma

Alan Daniel Freire é professor de Departamento de Políticas Públicas da UFRN. É um estudioso da política nacional, tendo produzido uma tese de doutoramento, defendida no prestigiado IUPERJ, a respeito da dinâmica parlamentar brasileira. É um analista criterioso e frio, distante das paixões partidárias que pululam por aí.

Pois bem, meses atrás, em uma conversa de corredor, ele desfiou, pacientemente, as razões pelas quais a então recém lançada candidatura da ministra Dilma Roussef seria vitoriosa. A tese central do Alan é que faltava (e, pelo visto, ainda falta) um discurso para a oposição. E Dilma teria um discurso pronto: o da continuidade. Como o Governo Lula, aos olhos da grande maioria da população, está dando certo, a tendência, argumentava ele, seria a de que uma candidatura que representasse a continuidade ter tudo para deslanchar. E, arrematava, o PT criou uma máquina e redes sociais de capilaridade que o tornam uma força política positivamente superior do ponto de vista eleitoral.

A publicação da mais recente pesquisa IBOPE/CNI vai confirmando o prognóstico eleitoral do Professor Alan.

Vantagem de Serra cai de 11 para 5 pontos
Vantagem de Serra sobre Dilma cai para 5 pontos, indica CNI/Ibope
Autor(es): Daniel Bramatti
O Estado de S. Paulo - 18/03/2010

Sucessão.

Levantamento mostra tendência de crescimento da ministra da Casa Civil,que passou de 25% para 30% das intenções de voto em um mês; 53% dos entrevistados disseram querer votar em candidato apoiado pelopresidente Luiz Inácio Lula da Silva

A vantagem do tucano José Serra sobre a petista Dilma Rousseff na corrida presidencial caiu para cinco pontos porcentuais, segundo a última pesquisa CNI/Ibope. Em fevereiro, de acordo com o mesmo instituto, a distância entre os dois era de 11 pontos.
Serra teve 35% das preferências no levantamento divulgado ontem, feito a pedido da Confederação Nacional da Indústria. Em fevereiro, em pesquisa encomendada pela Associação Comercial de São Paulo, ele aparecia com36%.
Dilma, por sua vez, cresceu cinco pontos e atingiu pela primeira vez a marca dos 30% de preferências, em um cenário que inclui ainda Ciro Gomes (11%) e Marina Silva (6%).
Um dado inédito do levantamento mede o potencial de transferência de votos do presidente:53% dos eleitores querem eleger um candidato apoiado por Luiz Inácio Lula da Silva, e 10% pretendem optar por um nome da oposição. Outros33% afirmam que não levarão em conta a posição do presidente.
A desinformação é o que explica o descompasso entre o potencial eleitorado lulista e o desempenho de Dilma. Nada menos que 42% dos entrevistados ignoram o fato de que a ministra é a candidata de Lula.
Segundo Márcia Cavallari, diretora executiva do Ibope, esse nível de desconhecimento não é anormal a mais de seis meses das eleições. "Hoje,só quem busca informações sabe algo sobre as eleições. Quando começar o horário eleitoral gratuito, as informações chegarão a todos de forma homogênea." Ela afirma que o apoio de Lula tende a impulsionar a ministra, mas ressalva que, no decorrer da campanha, Serra também tendea se beneficiar por ganhar mais exposição.
O potencial de crescimento da ministra da Casa Civil se revela, por exemplo, no Nordeste, onde 69% do eleitorado se declara inclinado a votar em um governista, mas pouco mais da metade da população sabe quem é a escolhida pelo presidente.
Cruzamentos. O Ibope mostra que Serra deve às mulheres sua posição de liderança. No eleitorado feminino, o governador de São Paulo tem 12 pontos de vantagem sobre Dilma (37% a25%). Entre os homens, Dilma tem 36%, e o adversário, 34%.
Em um mês, as intenções de voto na petista subiram em três das regiões pesquisadas. No Sul, ela passou de 19% para 34% e ficou em situação dee mpate técnico com Serra (36%). No Nordeste, onde lidera por 14 pontos,a petista subiu de 33% para 39%.
Na região Sudeste, a mais populosa do País, é Serra quem está na frente (40% a 25%). NoNorte/Centro-Oeste, o tucano saiu de uma situação de empate técnico para uma vantagem de 15 pontos (41% a 26%).
Na divisão da população pelo grau de instrução, o governador paulista tem a maior vantagem entre os eleitores que estudaram até o ensino médio (37% a30%). Na segmentação por faixa de renda, Dilma lidera entre os que têm renda mensal de até um salário mínimo (32% a 28%).
No cenário sem o nome de Ciro Gomes, Serra aparece com 38%, Dilma, com 33%, e Marina, com 8%.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Lula no Haaretz

O Haaretz é, de longe, um dos melhores jornais que você pode ler na internet. Sempre que tenho um tempinho, procuro lê-lo. O jornal israelense e o espanho EL PAÍS são boas opções informativas. O inconveniente, para muitos, é de que ele publicado em inglês. Mas não desanime, faça um esforço e leia-o. Na sua edição de hoje, para desespero da Nova Direita brasileira (que ficou histérica com o fato), há uma grande matéria com o Presidente Lula. Transcrevo-a abaixo.


Brazil leader talks Mideast peace, how to be friends with both Israel and Iran
By Adar Primor
Tags: Israel news
In exclusive interview, Luiz Inacio Lula da Silva tells Haaretz it's time for more serious Israel-Palestinian talks.

SAO PAULO, Brazil - President Lula of Brazil, who in October will conclude his second term in office (and his last permitted by the state's constitution), is the most popular head of state in the country's history. His popularity rating stands at about 80 percent, and the universal consensus is that it's simply impossible not to like him. Even Brazilians who did not vote for him find him likable.

The reason becomes clear when Luiz Inacio Lula da Silva - his full name, which no one uses - enters the room. He smiles in all directions. In addition to the two Israeli journalists present, the third guest is a reporter for ANBA news agency, run by the Arab Brazilian Chamber of Commerce. Impartiality is the name of the game. Lula, as he is universally known, has to be loved by all. His visit to the Middle East next week will begin in Israel but will also take him to the Palestinian Authority and Jordan. And now he has a problem: Who will get to ask the first question? He decides to solve this by having us shoot for evens or odds. Amusing himself, he does this four times; only after the result is overwhelmingly clear does he declare the winner: Haaretz.

Lula was one of the first leaders to host President Mahmoud Ahmadinejad after Iran's blood-stained election of June 2009. Brazil was also one of only five countries to abstain from an International Atomic Energy Agency vote last November on a condemnation of Iran.
He is set to visit the Islamic Republic in May, where his hosts will repay him in kind for the red carpet he laid out for them in Brasilia last November. When asked how he'll be able to win over the Israelis, whose vantage point is related to the trauma of the Holocaust, Lula replies: "I spoke with the president of Iran and made it clear to him that he cannot go on saying that he wants Israel's liquidation, just as it is untenable for him to deny the Holocaust, which is a legacy of all humanity. I added that the fact that he has differences with Israel does not allow him to deny or ignore history."

In a way that will undoubtedly disturb those who will host him in Israel next week, Lula draws a direct association between the failure to advance Israeli-Palestinian peace and his planned visit to Tehran; between the need to ensure that Iran will not manufacture nuclear weapons and the need to resolve the Middle East conflict; and between the failed attempts at mediation led by international players, first and foremost the United States, and the need to bring in fresh new players - Brazilians, in all likelihood.

"I talked about Iran with many leaders, and particularly with those whose countries have a seat on the Security Council," he explains. "The Americans, the French, the British, the Russians and the Chinese all want to advance the Middle East peace process. But I also feel that the parties to the conflict and the people involved in the process have long since grown tired of it. So, the time has come to bring into the arena players who will be able to put forward new ideas. Those players must have access to all levels of the conflict: in Israel, in Palestine, in Iran, in Syria, in Jordan and in many other countries that are associated with this conflict. This is the only way we will be able to advance Israeli-Palestinian peace, and at the same time be able to say clearly to Iran that we are against the manufacture of nuclear weapons."

'People have to look at each other'

Lula does not overlook any of the elements in this comprehensive linkage when asked about the fact that Israeli patience regarding Iran seems to have worn thin. "The leaders I spoke to believe that we must act quickly, otherwise Israel will attack Iran. I do not want Israel to attack Iran, just as I do not want Iran to attack Israel. In an orderly world, people have to learn to talk to one another." Here he seems to be alluding critically to the "proximity talks" about to get underway between Israel and the Palestinian Authority.

"The appropriate partners from each country have to be found, and more serious talks conducted," he continues. "The importance of talks between third- and fourth-rank officials [does not hold] even 1 percent of the importance of tete-a-tete talks between leaders. Politics is mainly contact. People have to look at each other, sense each other. A leader has to look into the eyes of his interlocutor instead of communicating with him through lower-level individuals.

" The Brazilian president says he is disappointed that all that remains of the Oslo Accords is "Nobel Prizes and photographs of people hugging each other," as well as the fact that the Annapolis conference of November 2007, in which Brazil participated, did not have any follow-up. "This gives me serious doubts: Who really wants peace in the Middle East? Who has an interest in achieving a solution and who would like the conflict to continue? The impression is that someone is constantly working here as though he has hidden enemies, people who simply do not want an agreement to be reached."

Lula describes himself as a negotiator, not an ideologue, a person who manages to get along with both Hugo Chavez and George W. Bush, with Shimon Peres and Mahmoud Ahmadinejad. He says he has never read a book in his life, even though everyone admires his "supreme wisdom" and "creative mind." As a chairman of the workers union during the years of military rule in Brazil, he encountered and resolved many difficult conflicts.

"I was born into the politics of dialogue, I became president of this country through dialogue and I have conducted my entire presidency by means of dialogue. I believe that through dialogue we will succeed in solving all the conflicts which today appear to be unsolvable," he says.

He is well aware that he will be regarded as "naive" by his Israeli interlocutors. He is also familiar with the counter-rhetoric of Prime Minister Benjamin Netanyahu - who likens Ahmadinejad to Hitler, Iran to the Nazi regime and the world of 2010 to that of 1938. Lula's assertive response is likely to surprise even those familiar with his arguments: "Anyone who compares Ahmadinejad and modern-day Iran to Hitler and the Nazis is having the same kind of radicalism of which Iran is being accused. Anyone who takes that line is not contributing in the least to the peace process which we want to create for the sake of the future. You cannot do politics with hate and resentment. Anyone who wants to do politics with hate and resentment should get out of politics. Nobody can rule a country through the liver. You have to rule a country with your head and your heart. Other than that, it's best to stay somewhere else other than in politics."

Lula wears a blue suit with a Brazilian flag pinned to its lapel. After each question he takes out a small pair of glasses, places them on the edge of his nose and jots down a few points. He has a particularly husky bass voice; when he whispers, every syllable can still be heard in the big hall.

"My personal thesis is that we must not allow what happened in Iraq to happen in Iran," he says. "Accordingly, before sanctions of any kind are imposed, we must make every effort to rebuild the peace in the Middle East. That is what is behind my visit to Israel, Palestine and Jordan - and that is what will also take me on a visit to Iran later. After all, the Middle East conflict is not bilateral and does not pertain only to Israel and Palestine. There are other interests in the Middle East, interests which must be represented so that we can find a solution. Iran is part of all this, and therefore someone must talk to them."

Harmony in diversity

The atmosphere in Sao Paulo's Albert Einstein Hospital is somewhat despondent. Built in the mid-1970s, this vast medical institution, which dominates a hill in the prestigious Morumbi district, is considered the largest and most advanced medical center - not only in Brazil but in all of Latin America. The city's Jewish community (80,000 strong, out of 120,000 in the entire country) regards the hospital as its flagship. The institution operates on a nonprofit basis and its every fiber bespeaks giving: Giving to the country that absorbed the members of the community, and giving above all to its downtrodden, many of whom live just a stone's throw from the luxurious villas of Morumbi.

About 80,000 people live in the Paraisopolis favela (shantytown), one of about 500 favelas within a 10-kilometer radius of the hospital. The garbage is piled up on both sides of the streets, the homes are crumbling and sewage flows openly in the streets. Four hundred volunteers from the hospital are working to transform Paraisopolis into a place that will better fit the meaning of its name ("city of paradise"). Hospital staff recently opened a clinic here, and there is an old-age home, enrichment and learning groups, a library, sports facilities and an auditorium. The volunteers distribute condoms and give advice to pregnant girls. There's a colorful cardboard box into which people are asked "to throw all the curse words" they customarily utter every day.

In November 2009, the Jewish community was in an uproar when Lula deliberately chose not to invite its president, Claudio Lottenberg, to a luncheon in honor of a visiting President Shimon Peres. The reason: an article by Lottenberg attacking Lula that had been published in Brazil's largest newspaper, Folha de Sao Paulo.

Now, on the eve of Lula's visit to Israel, the community is playing down the incident. Lottenberg himself says he has "very close relations" with the president. "He makes a point of visiting the community every year on Holocaust Day and on Rosh Hashanah. All told, we have held 22 cordial meetings with him." Lottenberg adds that "Lula is an important rising player in the international arena, and Israel should take account of this. It is important for Israel to have partners and allies besides the United States."

In separate conversations, Brazil's ambassador to Israel, Pedro Motta Pinto Coelho, and his Israeli counterpart in Brasilia, Giora Becher, note that since Emperor Dom Pedro II visited in 1876, no Brazilian head of state has been to the Holy Land. Lula will be the first president to visit. The ambassadors note the "significant improvement" in economic and political relations between the two countries during Lula's term in office, demonstrated by increased cooperation and many visits on the part of high-ranking officials from both sides.

Lula's ambition to make a deep imprint in the Middle East goes beyond his country's international status, to what he describes proudly as "a long Brazilian history of peace and a life of brotherhood in a region of diverse cultures. More than 120,000 Jews live here in full harmony with 10 million Arabs. It would seem that people can learn from us." Brazil terms itself "the world's largest Lebanese country" (some six million of Brazil's Arabs are of Lebanese origin), "the second-largest African country in the world" (after Nigeria), and also the second-largest Italian and Japanese countries. It is a huge blend of peoples and cultures that do not know the meaning of friction.

Message of unity

You'd be hard-pressed to find someone in Rio de Janeiro who hasn't heard of Saara Street, where Jews and Arabs sell clothing, toys and other items side by side. Whenever tension in the Middle East rises, local television crews show up to film the Brazilian version of coexistence. "All Brazilians are brothers," they say - hence their ability, in their view, to bring brotherhood to all other nations.

These days, local TV stations are broadcasting a commercial produced by Bank Itau, which sponsors the Brazilian national soccer team. The camera zooms in on a bustling market, obviously in the Old City of Jerusalem. A 7- or 8-year-old boy is dribbling a soccer ball. He has sidelocks. He dribbles and dribbles until he loses control of the ball, which hits a sack of corn belonging to Arabs and knocks it over. Standing next to the fallen sack is a another boy. An Arab, of course. He looks at the Jew. Everyone falls silent. The viewers are tense, waiting for war to break out. But then the two boys discover they are both wearing the yellow T-shirt of the Brazilian national team. The Arab boy picks up the ball, bounces it and gives it back to the Jewish kid. Then they pass it back and forth. The slogan flashes on the screen: "Itau - uniting cultures through soccer." Cut.

It's the beginning of a beautiful friendship. The same friendship that Lula wants to bring with him on his visit. The same message, naive or not, that he wants to imbue in the conflicted nations.

domingo, 7 de março de 2010

A Universidade brasileira em debate: Giannotti acerta o alvo

Em bom artigo publicado na edição de hoje do jornal Folha de São Paulo, o professor da USP e pesquisador do CEBRAP José Arthur Giannotti aponta corretamente os obstáculos à consolidação da Universidade entre nós. Você pode até discordar do tom ou de uma outra alfinetada no Governo Lula, mas o alvo do artigo está bem identificado. E, ao meu ver, é correto. Confira abaixo alguns trechos.

Universidade da bonança
Falta de verba não é mais desculpa para o pouco desenvolvimento do ensino superior no Brasil

JOSÉ ARTHUR GIANNOTTI
COLUNISTA DA FOLHA

A todo momento, se anuncia a fraqueza de nosso sistema de ensino. Uma notícia na Folha (3/3) a resume: "País só cumpre 33% de metas de educação". E, como sempre, os responsáveis oficiais culpam a falta de verbas. Já que a questão é complexa, limito-me ao caso do sistema superior.
Um bom governo espera que 30% dos jovens de 18 a 24 anos devam estar matriculados nele. Havia uma demanda reprimida por mais vagas e o governo Lula escancarou-lhe as portas.
O sistema tem crescido impressionantemente. O orçamento da rede federal pulou de R$ 9 bilhões para R$ 13 bilhões sem os inativos, segundo a professora Maria Paula Dallari Bucci, secretária do Ensino Superior do Ministério da Educação, em entrevista ao "Estado de S. Paulo" (em 28/2).
Ela ainda se refere a uma universidade revitalizada que tem mais de 15 mil professores e técnicos e mais de 20 mil funcionários.
Outros dados, porém, apontam noutra direção. Respondendo à pergunta a respeito das vagas ociosas, uma sobra de mais de 7.000 postos nos vestibulares, o que dá mais de 4% da oferta, ela responde: "Haviam [sic, a professora emula com o linguajar do presidente] informações erradas. Na verdade, o número está em 5.000."
Outras informações, porém, continuam confirmando o excesso. Depois de duas seleções, ainda é muito baixo o número de matrículas por meio da nota do Enem [Exame Nacional do Ensino Médio]. Apenas metade das vagas estão sendo preenchidas.
No caso do ProUni [Programa Universidade para Todos], o próprio ministério reclama da quantidade de alunos que se inscrevem sem posteriormente confirmar a matrícula.
Não dá para tapar o sol com a peneira. Se o governo FHC foi pão-duro com o sistema federal do ensino superior e abriu as pernas para a expansão do ensino privado, o governo Lula escancarou as portas de ambos os sistemas. Tenta empurrar os jovens para as escolas sem levar em conta o sentido profundo dessa demanda e pouco se lixa se o diploma conquistado corresponde a ensino de qualidade. A permissão para que as universidades privadas entupam o espaço público com ensino à distância, sem regras de diversificação e rígidos procedimentos de avaliação, comprova o que afirmo.

Crise da expansão Por que os dois governos, cuja continuidade cada vez fica mais patente, tendo bom sucesso em outros domínios, fracassaram diante dos desafios postos pelo sistema educacional brasileiro como um todo? E, se alguém disso duvidar, que verifique o desempenho de nossos alunos quando comparados com seus colegas de outros países.
Não estaria eu exagerando? Diante da enorme expansão do ensino superior, considerando o volume das verbas que está recebendo, os problemas não seriam apenas pontuais? A rede de ensino se expandiu, os alunos serão mais patriotas e deixarão de se matricular em várias escolas, por conseguinte não mais bloquearão vagas.
É natural que a expansão provoque queda na qualidade de ensino, mas com o tempo tudo vai melhorar.
Isso seria verdade se o sistema universitário fosse apenas uma planta que, para crescer, necessitasse de bom estrume. Este o governo Lula tem lhe dado, mas lhe falta boa política. E esta só poderá ser levada a cabo se levar em conta as peculiaridades dinâmicas do sistema, internas e externas. Primeiramente, é preciso estabelecer um diálogo franco e firme entre as lideranças universitárias e os sindicatos de professores, funcionários e alunos.
Se hoje é bem verdade que nas universidades federais se quebrou aquele ritmo perverso das greves do primeiro semestre, reivindicando aumentos salariais e "mais verbas para a educação" -monotonia que ainda perdura na USP-, isso é porque todos estão nadando em dinheiro. Este, entretanto, está sendo bem aplicado?
Não creio. Uma política efetiva, baseada num programa de ensino e de pesquisa segundo metas precisas, necessita partir das condições e vocações regionais. É insano imaginar o Brasil inteiro povoado por universidades imitando a USP, a Universidade Federal do Rio de Janeiro, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul e outras de porte semelhante. Um projeto centralizado que cumpra modelos desenhados em Brasília nada mais será do que o simulacro incapaz de ser nacional porque não passa pelo regional.

Joio e trigo
E este governo tem a mania e, pior, a ideologia de tudo centralizar. Que se levem em conta as trapalhadas do Enem. Exame indispensável para dar unidade a nosso ensino e apontar suas falhas a serem corrigidas. Que ainda sirva de ponte entre o ensino médio e o ensino superior, evitando o martírio dos vestibulares. Mas o exame emperrou desde o início.
Um bom projeto, que deveria ser implementado passo a passo, terminou manco por causa de tudo organizar a partir de Brasília e da pressa de um jovem ministro [Fernando Haddad] que, a despeito de ter começado muito bem, tem se atrapalhado depois de picado pela mosca azul do poder.
(...)
Segundo, a extraordinária expansão do ensino superior torna premente reformular a carreira do professor universitário. As universidades estão contratando enorme número de docentes. Muitos por concurso, como é devido. Adquirem, então, estabilidade funcional.
(...)
O corpo docente necessita de avaliação periódica. E pouco adianta institutos avaliadores, como a Capes [Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior], caírem no "produtivismo", como dizia a esquerda de araque, e gargarejarem estatísticas, se a própria carreira do funcionário não for modificada.
Não se trata de botar na rua o docente emperrado, mas de encontrar para ele funções diferentes que dignifiquem seu trabalho em outros empregos públicos ou privados.

JOSÉ ARTHUR GIANNOTTI é professor emérito da USP e pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento. Escreve na seção "Autores", do Mais!.

ASSINANTE UOL LÊ O ARTIGO COMPLETO AQUI.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Qual o tipo de relação existe entre o PSDB e o PT

O artigo do Alon que transcrevo mais abaixo aborda a relação freudiana entre o PSDB e o PT. Vale a pena conferir!

Chega de sofrimento (02/03)
Alon Feuerwerker Brasília, DF - Brasil

Se o PSDB deseja tanto assim ser reconhecido pelo PT como igual, o melhor é apoiar Lula, o governo dele e a candidata Dilma Rousseff. O PT “reabilitou” personagens ideologicamente até mais distantes, e não teria dificuldade para dar mais este passoRegistrei em dezembro (“Rumo ao plebiscito”) que a oposição previa mudanças dramáticas nas pesquisas que viriam. Foi captado por estes tímpanos que a terra irá reciclar. Assim, se há alguém sem razão para surpresa com o estreitamento da margem entre José Serra e Dilma Rousseff, é a própria oposição.

Tal previsão, entretanto, não produziu um movimento capaz de colocar no jogo, para valer, o pessoal que deseja tirar o PT do Palácio do Planalto (cuja reforma, aliás, anda de vento em popa). As últimas pesquisas foram ruins? Sim, mas está longe de ser o maior problema de tucanos e democratas. Grave é não terem ideia de como tentar brecar o avanço do governismo e pelo menos zerar o vetor da iniciativa política. Se têm, escondem muito bem.Por que a oposição não consegue retomar a iniciativa? Será porque o governo de Luiz Inácio Lula da Silva é bom? No passado, o PT conseguia opor-se até a aumento salarial para professor. Quem deseja, de verdade, travar a luta política acaba dando um jeito de encontrar a brecha.

Já tratei de uma dificuldade oposicionista: a falta de unidade. Mas reconheço que há aqui alguma tautologia. Esse tipo de unidade costuma ser catalisado pela expectativa de poder, algo que combina vetores quantitativos e qualitativos. Pesquisas têm lá sua importância, assim como as alianças. Mas o decisivo é projetar uma visão clara de futuro. Pode até ser genérica, mas precisa encaixar no desejo do eleitor e formar um polo de aglutinação da opinião pública, tomada no sentido amplo. É uma tarefa difícil quando se enfrenta um governo popularíssimo, cuja mensagem é a continuidade. Difícil, mas não impossível.

O melhor exemplo é Marina Silva (PV), a cuja campanha os jornalistas e políticos temos prestado menos atenção do que seria saudável. A autocrítica não é tanto pelos índices dela, já bastante bons, e sim pela maneira cirúrgica e sempre adequada como a senadora do Acre intervém. Ela nunca bate de frente, mas invariavelmente busca um defeito no adversário. E assim, de modo objetivo e focalizado, vai minando o oponente e construindo um caminho. Como fazem os grandes pugilistas.

Claro que falar é fácil. Marina não carrega o estigma do passado nem precisa ficar explicando por que o governo dela não será uma volta aos tempos de Fernando Henrique Cardoso. Pode até dar-se ao luxo de fazer elogios a FHC sem abrir brecha para que colem nela o rótulo de “neoliberal”. E, se um dia crescer mais e virar ameaça, os ataques que certamente sofrerá por reunir eventuais apoios “neoliberais” terão tanto efeito quanto os sofridos por Lula devido aos aliados complicados dele: nenhum.

Marina é a prova definitiva de que na esquerda ou na centro-esquerda a oposição mais eficaz contra Lula deve ser executada na margem, como diriam os economistas. Para governar e perpetuar seu projeto de poder, Lula deslocou-se para um centro político, ali montou acampamento e ergueu muralhas. Mas sem descuidar dos elementos simbólicos que o unem à esquerda. Só que persiste uma tensão latente entre o discurso e a vida, entre as ideias originais e a prática, entre o sonho e a realidade. Há um espaço a ser ocupado, uma cabeça de praia a instalar.Haveria também outra maneira eficiente de fazer oposição a Lula: pela direita. Para isso, precisaria surgir no Brasil uma força organizada, e combativa, efetivamente liberal. Um “Tea Party” verde-amarelo. Mas as circunstâncias do liberalismo brasileiro são conhecidas. Discursos, editoriais e artigos em jornais e revistas, mas sem renunciar aos empréstimos a juros subsidiados do BNDES, ao dinheiro do Banco do Brasil que não é preciso devolver e à ordenha do Tesouro.

Quanto àquele hipotético e teórico liberalismo, o PSDB está no pior dos mundos: leva a fama mas não consegue tirar vantagem. Pois não é liberal, nem tem vontade de parecer que é. No fundo, o que o PSDB talvez deseje é ser reconhecido pelo PT como um parceiro, como cofundador do sucesso petista, da hegemonia social-democrata. Um desejo irresolvido, e que insatisfeito desemboca em mágoas muito perceptíveis.

Se o PSDB precisa tanto desse reconhecimento, eu ofereço modestamente uma sugestão: passem a apoiar o governo, Lula e a candidata dele, Dilma Rousseff. Nem que só “criticamente”. Se o PT teve a frieza e o pragmatismo necessários para repaginar as relações com José Sarney, Fernando Collor, Delfim Netto e mais um punhado de personagens que combateu mortalmente no passado, não terá dificuldade de, caso seja conveniente, “reabilitar” FHC e o PSDB. Afinal, são primos e têm uma história até certo ponto comum. Se o PSDB sofre tanto com isso, se necessita tanto disso, talvez seja o jeito.

Coluna (Nas entrelinhas) publicada nesta terça (02) no Correio Braziliense.

terça-feira, 2 de março de 2010

Dilma Roussef no El País

O El País é um dos melhores jornais da chamada grande imprensa. Pelo menos, e isso não e pouco, os seus textos têm qualidade técnica. E ainda se pratica algum jornalismo nas páginas do mais conhecido diário espanhol. É a minha primeira leitura jornalística do dia. Sempre.

E o jornal mantém um bom correspondente no Brasil. Este dedica um bom tempo de sua pauta aos assuntos relacionados ao rame-rame da disputa política nos trópicos. No geral, escreve matérias de qualidade. Na edição de hoje, por exemplo, o correspondente trata do crescimento eleitoral de Dilma Roussef. Confir abaixo!

El ascenso fulgurante de Rousseff
Inquietud en la oposición brasileña ante la subida meteórica en las encuestas de la aspirante del PT a la presidencia - El PSDB aún no tiene candidato
JUAN ARIAS Río de Janeiro 02/03/2010


El presidente de Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, tenía razón cuando dijo que su candidata favorita para disputar las elecciones presidenciales de octubre, Dilma Rousseff, crecería en las encuestas en cuanto su candidatura se hiciera oficial. Y así ha sido. El Partido de los Trabajadores (PT) la consagró oficialmente el pasado 20 de febrero y la lanzó al ruedo político. Desde entonces, la ex guerrillera y ministra de la Casa Civil ha dado un salto en los sondeos con una subida de cinco puntos (28%) y se ha colocado a sólo cuatro del que seguramente va a ser su principal contrincante electoral, el socialdemócrata José Serra, actual gobernador de São Paulo (32%).

El PT, que aceptó la candidatura de Rousseff por imposición de Lula más que por convicción propia, ahora da saltos de alegría y comienza a confiar en que volverá a ganar las elecciones. Y la verdad es que la popularidad de Rousseff no sólo ha aumentado entre el electorado más pobre, fiel a Lula, sino que le ha quitado votos a su adversario en el sur rico, donde Serra es el gran favorito.

La oposición ha recibido como un jarro de agua fría la subida de Rousseff, sobre todo porque su aspirante aún no ha querido oficializar la candidatura. Serra es un político de larga carrera. Ha sido dos veces ministro, alcalde de São Paulo y ahora gobernador de dicho Estado. Fue derrotado por Lula en las presidenciales de 2002, pero en el segundo turno. El problema es que, si ahora se incorpora a la carrera presidencial y fracasa, perdería también la oportunidad de ser reelegido en São Paulo, donde disfruta de un apoyo popular parecido al de Lula a nivel nacional. Es decir, saldría de la vida política.

El ascenso de Dilma en las encuestas ha hecho que el opositor Partido de la Social Democracia Brasileña (PSDB) se vea obligado a forzar a Serra a tomar una decisión cuanto antes. Lo ideal para el partido es que el joven Aecio Neves, actual gobernador de Minas Gerais, el segundo Estado con más votos del país después de São Paulo, aceptase optar a la vicepresidencia en la candidatura de Serra. Juntaría así los votos de dos Estados que, juntos, suponen casi la mitad del electorado. Neves, sin embargo, también aspira a ser candidato a la presidencia y por eso se hace el remolón. Tiene, además, la esperanza de que Serra pueda acabar renunciando a presentar su candidatura, a la vista de la subida de Rousseff; en ese caso, el PSDB forzosamente tendrá que lanzarle a él al ruedo electoral.

Este mes va a ser, pues, decisivo en lo que atañe a las elecciones de octubre, las primeras en 20 años sin Lula como candidato, aunque con una aspirante considerada su sombra. Para vencer, la oposición no puede presentar a su candidato como superior a Lula -al que los sondeos acaban de conceder un 73% de aprobación popular-, sino a Rousseff. Ésa será la gran batalla: no si Brasil será mejor con Serra que con Lula, sino si Serra, que brilla con luz propia, será mejor para el país que Rousseff, cuya luz proviene de su ex jefe y es en cierto modo una incógnita política, ya que nunca ha disputado unas elecciones.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

FHC seguindo o script traçado por Lula

Leia abaixo artigo de autoria de Marcos Coimbra. Trata-se de uma análise das investidas críticas do ex-presidente contra Lula, Dilma e o PT. Vale a pena conferir!

Fernando Henrique contra Lula
Autor(es): Marcos Coimbra
Correio Braziliense - 10/02/2010

Com seu cartão de visitas, o Plano Real, Fernando Henrique ganhou a admiração do país. Se não terminou seu período com a imagem que julga condizente com o que fez, ninguém pode ser responsabilizado, fora aqueles que o integraram

Em mais um capítulo da longa batalha que travam há anos, Fernando Henrique e Lula voltaram a se enfrentar no fim de semana. Agora, a iniciativa partiu do ex-presidente, que, em artigo publicado por alguns jornais, se disse “sem medo do passado”. Com isso, afirmou que aceita o desafio do atual, de fazer a comparação entre os governos dos dois na eleição deste ano.


Segundo Fernando Henrique, Lula está em meio a uma “guerra imaginária” em que distorce fatos e, assim fazendo, se glorifica no contraste com ele. Em suas palavras, o presidente quer assustar as pessoas, ameaçando-as com o caos se a oposição vencer.

Quase todo o texto é dedicado à defesa das decisões que tomou e do que fez no Planalto. O cerne de seu argumento é a ideia de que Lula (apenas) “deu passos adiante no que fora plantado por seus antecessores”. Embora falasse no plural, parece que o que ele queria dizer é que o (único) mérito de Lula foi prosseguir o que ele começou.

Nada mais compreensível que a reação de FHC. Não é preciso ter de si uma opinião muito elevada para, em situação semelhante, ficar tão desconfortável quanto ele parece estar. Depois de uma trajetória brilhante como intelectual, entrou na vida política pela porta da frente e chegou aonde chegou, tornando-se, por algum tempo, ídolo de um país que não acreditava mais que a inflação pudesse ser vencida. Hoje, sem que ele o mereça, muitos de seus amigos preferem que ele finja que não existe.

Espicaçado por Lula e Dilma, pelo PT e até por gente que esteve bem aninhada em seu governo, é difícil imaginar que ele fosse ficar quieto em seu canto, sofrendo calado. O artigo foi uma mostra de que ele não vai aceitar de braços cruzados as provocações que a campanha da ministra lhe fará. Aliás, não foi a única, pois, ainda no sábado, já havia dito que Dilma é “um boneco” e Lula seu “ventríloquo”. Em matéria de nível de debate, não se pode dizer que seja elevado.

Fernando Henrique se diz convencido que na campanha haverá um mote (“o governo do PSDB foi neoliberal”) e dois “alvos principais: as privatizações das estatais e a (sua) suposta inação na área social”. Em função disso, contra-argumenta procurando mostrar que melhorou o desempenho das empresas privatizadas em seu governo e reivindicando a invenção do Bolsa Família.

Ainda que concordássemos com o que diz, o problema do raciocínio é que as eleições, para a vasta maioria das pessoas, não são guerras (imaginárias ou reais) entre dados e teses, mas entre imagens. Se existem pessoas que tomam suas decisões de voto apenas depois de ouvir a exaustiva argumentação racional dos candidatos em torno de diagnósticos e propostas, elas são uma minoria. E não apenas aqui, onde, por nossas distorções, o eleitorado é predominantemente constituído por cidadãos de baixa escolaridade e informação. Acontece o mesmo em qualquer lugar, incluindo os mais desenvolvidos. Em todos, os eleitores votam muito mais com imagens que com números na cabeça.

Fernando Henrique teve oito anos de governo para formar uma imagem de si, seus companheiros e ideias. Com seu cartão de visitas, o Plano Real, ganhou a admiração quase unânime do país. Se não terminou seu período com a imagem que julga condizente com o que fez, ninguém pode ser responsabilizado, fora aqueles que o integraram. Basta pensar no investimento em comunicação governamental nada pequeno que foi feito e que de pouco serviu, ao que parece.

O PSDB teve mais duas oportunidades de ouro para refazer a imagem do governo FHC, as campanhas de 2002 e 2006, ambas terminadas no segundo turno. Não foi por falta de tempo de televisão e de recursos que elas foram desperdiçadas.

Serra, sabendo que a grande maioria das pessoas queria a mudança naquela eleição, não pôde assumir o lado do governo de maneira inequívoca. Alckmin preferiu falar de sua gestão em São Paulo e emudeceu quando FHC foi trazido para o palco.

Engana-se quem acha que as privatizações foram um fantasma habilmente inventado por Lula para derrotar o PSDB. Elas não passavam de um símbolo das diferenças entre tucanos e petistas, FHC e Lula, “as elites” e “o povo”, “eles” e “nós”. Denunciando-as, muito mais era expresso, coisas que não são apagadas pelo fato de que “hoje existe celular para todos”.

Toda vez que entra diretamente no debate, FHC faz o que Lula quer. Só que o ex-presidente não consegue e nem deve evitá-lo. Esse é seu drama.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Diretor da DATAFOLHA comprova: Lula transfere votos para Dilma


Transcrevo abaixo matéria publicada no site Terra Magazine, pilotado, com a competência de sempre, pelo jornalista Bob Fernandes.




Marcela Rocha

Sociólogo de formação, Mauro Paulino, há mais de 20 anos vasculha e divulga anseios e intenções do eleitorado brasileiro. No instituto de pesquisa Datafolha, coordena a realização de pesquisas eleitorais desde 1988. Em entrevista a Terra Magazine, ele fala do "tabuleiro de xadrez" em que estão a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), e o governador José Serra (PSDB-SP) no pleito presidencial de outubro.
- Comprovadamente Lula já está transferindo muitos votos para Dilma - diz.

Ela é a "mulher forte do governo" e "já está em campanha". Serra é "um administrador muito bem avaliado" e "conhecido nacionalmente". Mas, para Paulino, a "peça chave" desse tabuleiro é o presidente Lula. "Os dois candidatos estarão com os olhos voltados para ele e o eleitorado, por sua vez, também", acrescenta.
- Do ponto de vista da ministra, Lula pode ser a peça chave para o bem e para o mal. Meu bem, meu mal (risos). (...) O contraste entre o carisma de Dilma e Lula pode fazer com que o eleitor não vote nela.


Leia abaixo a íntegra da entrevista:


Terra Magazine - Algumas pessoas questionam a legitimidade das pesquisas eleitorais. Como o Datafolha faz para evitar esse tipo de questionamento?


Mauro Paulino - A pesquisa sempre é questionada, principalmente por quem se sente prejudicado, ou por quem não estava à frente, ou quem se vê ameaçado por uma candidatura ascendente. Mas a legitimidade das pesquisas se comprova pelo histórico do desempenho dos institutos, que é a base da credibilidade adquirida por cada um deles. Então, há os mais e menos questionados. Outro fator é o uso abundante de pesquisas pelos partidos políticos. Ou seja, se pesquisas não ajudassem e não fossem um instrumento eficaz, os partidos não gastariam tanto dinheiro comprando pesquisa.


O senhor acredita que as pessoas já tomaram conhecimento de que a ministra Dilma seja a candidata do presidente Lula?


Já há um conhecimento para lá de razoável da candidatura de Dilma. O Datafolha publicou um artigo no final do ano passado mostrando que ainda há 15% de eleitores afirmando que votariam em um candidato indicado por Lula, mas dizem não saber quem é esse candidato ainda. Então, isso dá uma dimensão do desconhecimento dela e do potencial de crescimento que tem a candidatura Dilma.
Qual o principal motivo do crescimento dela nas pesquisas? Isso é referente ao conhecimento que as pessoas têm dela ou ao fato de já saberem que ela dará continuidade ao trabalho de Lula? É uma questão mais política ou personalista?


São vários fatores ocorrendo simultaneamente. As pessoas vêm tomando conhecimento. O processo eleitoral hoje ainda é restrito às pessoas com mais informações, restrito às pessoas com taxa de escolaridade mais alta e pertencentes a um segmento menor da população. Na medida em que as pessoas com menos acesso à informação, com uma renda mais baixa - que formam a maior parte do eleitorado de Lula - forem tomando conhecimento da candidata Dilma e que Lula não pode ser candidato - porque ainda 20% vota nele na pesquisa espontânea -, teremos um panorama mais claro do potencial de votos dela. Porque quando essas pessoas tomarem conhecimento de Dilma como candidata de Lula, darão o apoio e a transferência de votos. Contudo, ela pode sofrer com a comparação com Lula.


Como assim?O contraste entre o carisma de Dilma e Lula pode fazer com que o eleitor não vote nela. As pesquisas não têm como avaliar isso, mas acompanhar.


Sobre o carisma e a transferência de voto, o senhor acredita na transferência de votos de Lula para Dilma?Lula tem uma penetração muito forte nos segmentos que relacionam os benefícios sociais à ação do governo federal. E também tem algo que é incomparável: o poder de comunicação, essa facilidade que ele tem de conquistar a simpatia desse segmento da população. Hoje ele é aprovado por maioria absoluta em todos os segmentos da sociedade, não só nessa camada. Isto nos permite afirmar que há potencial de crescimento em Dilma, mas que depende das comparações que o eleitor fará: Dilma e Serra, Dilma e Lula.


Apesar de registrar índice inédito de aprovação, a presidente do Chile, Michelle Bachelet, não elegeu um sucessor de sua legenda para o cargo. O Chile pode ser usado como um exemplo para o caso brasileiro?


São realidades muito diferentes. O quadro brasileiro é bem diferente do chileno.


O senhor acredita que o fato de os dois candidatos serem um pouco menos carismáticos, como o presidente eleito do PT, José Eduardo Dutra, já destacou, do que os antecessores tucano (FHC) e petista (Lula) no Planalto seja um fator que colabore para politizar a campanha?


O brasileiro está naturalmente refletindo mais sobre política em consequência do desenvolvimento da sua própria cultura nessa área. E ter uma eleição a cada dois anos ajuda muito. O eleitor vai se habituando ao voto e às consequências dele. Então, hoje, o eleitor pensa mais sobre seu voto, elabora melhor esse voto, de uma forma muito mais racional do que na primeira eleição a presidente em 1989, após a redemocratização. Ali, valia muito mais a paixão, a novidade... Nessa época, o marketing tinha um peso muito grande. Hoje, acho que o marketing político tem um peso menor e o eleitor toma suas decisões de forma mais pensada e mais autônoma, independente do carisma, que pesa, claro, mas a capacidade de administração tem sido muito valorizada. A conta que o eleitor faz é: "quem tem mais condições de resolver os nossos problemas imediatos".


O fato de a ministra Dilma nunca ter disputado uma eleição é melhor ou pior, tendo em vista que a política tem sido vista de maneira desconfiada após sucessivos escândalos de corrupção?


Mais do que não ter participado, o que beneficia Dilma é o fato de ela não estar no cenário político quando do Mensalão. Quando surgiram todas aquelas acusações de Mensalão, Dilma praticamente não existia para a maioria da população. Então, ela entrou em cena para substituir aquele que foi considerado o grande culpado, José Dirceu. E, a partir daí, a economia começou a melhorar também, ela passou a ser a figura mais forte do governo - afinal Lula sempre fez questão de deixar isso muito claro -, o país passou por uma crise mundial e saiu bem... Isso tudo é muito valorizado e anula a inexperiência. É claro que ela tem um caminho muito mais longo do que Serra para se tornar conhecida, mas isso é facilmente superado porque a coalizão do governo tem muito mais tempo de propaganda na televisão. E acho que o fato de ela nunca ter disputado um pleito acaba não pesando muito.


Observamos um crescimento da ministra e estabilidade do governador nas pesquisas. A que se deve essa estabilidade?


Serra tem uma ótima avaliação como governador de São Paulo, teve uma ótima avaliação como ministro, tem a imagem de ser um administrador competente e de quem resolve os problemas da saúde, que é hoje o principal problema do país apontado pelos eleitores. Então, ele tem todas essas vantagens e sai na frente por conta disso, também por ter disputado eleições anteriores e estar na lembrança do eleitorado como alguém com porte de candidato a presidente. Isto justifica a permanência dele na liderança das pesquisas. Mas o que tem sido mostrado é que há uma candidata em ascensão, Dilma, há um candidato com estabilidade, Serra, e Ciro Gomes (PSB) caindo.


O fator Ciro tem enfraquecido Dilma ou Serra?


As pesquisas mostram que, com Ciro na disputa, a diferença entre Serra e Dilma diminui. Sem ele, aumenta e Serra tem mais vantagens. Então, há uma boa parte que vota em Ciro aparentemente por não querer votar num candidato do PT.


Nas eleições de 1998, 2002 e 2006, quem liderava as pesquisas um ano antes acabou por vencer as eleições. O cenário de 2010 é previsível?


Essa eleição é muito mais imprevisível do que as quatro anteriores. É a primeira vez que não temos Lula como candidato, é primeira vez que há um cabo eleitoral com esse apoio popular que Lula tem. Estes fatores já tornam essa eleição diferente de todas as outras. Não se sabe como o eleitor vai reagir. Na verdade a peça chave dessa eleição é o próprio Lula e não sabemos como o eleitor vai lidar com esse fato. Lula não pode ser candidato e Dilma é a candidata dele contra Serra, que é comprovadamente um bom administrador. Como essa equação será resolvida pelo eleitorado? Não temos como prever.


O senhor disse que a peça chave dessa eleição é Lula...


Os dois candidatos estarão com os olhos voltados para Lula e o eleitorado, por sua vez, também. Ele tem um governo com uma taxa de aprovação inédita e o peso que isso terá nesse pleito já está sendo demonstrado. Comprovadamente ele já está transferindo muitos votos para Dilma. Agora, qual é o teto disso e até que ponto isso tira votos de Serra? Não sabemos. Mas a eleição vai girar em torno de Lula, por isso que ele é a peça chave. Do ponto de vista de Dilma, pode ser a peça chave para o bem e para o mal. Meu bem, meu mal (risos).


Como o senhor avalia a tática petista de polarização? Uns defendem que ela é boa para Dilma, outros, para Serra, e há aqueles que afirmam não ser bom para o eleitorado...


A polarização é inevitável, não tem como fugir. A meu ver, para o bem da democracia, é bom que haja muitos pontos de vista sendo discutidos. O segundo turno existe para que haja essa polarização, mas, no primeiro, quanto mais candidatos expuserem suas ideias, melhor para o desenvolvimento da cultura política do brasileiro.


E o que o senhor acha da comparação entre Lula e FHC?


É inevitável também. Não consigo imaginar a campanha sem essa comparação. O marketing político vive dessas comparações, de tentar jogar o bem contra o mal. Não tem como fugir disso, mas espero que não fique só nisso. É saudável que existam candidatos como Marina Silva, por exemplo, que traz o tema do meio ambiente. Seria importante que houvesse mais candidatos trazendo outros temas para que o debate fosse mais rico.


Voltando à temática da polarização, alguns tucanos defendem que Serra ganha com ela por ter mais experiência em processos eleitorais.


A campanha começa de fato para o total do eleitorado a partir de março, abril, quando as candidaturas estão oficializadas e começam as entrevistas. Aí, o desempenho de cada um pesará e pode ser, então, que a experiência de Serra seja decisiva. Mas não dá para saber como será o desempenho de Dilma, que ainda não foi vista em debate, ou em uma entrevista mais incisiva.

O fato de o PSDB não ter determinado seu candidato influencia em que medida o desempenho de José Serra nas pesquisas?


A consequência disso é só existir uma pessoa fazendo campanha abertamente: Dilma Rousseff.


Mas Serra é muito bem avaliado em São Paulo e Dilma corre a passos largos em direção à liderança nas campanhas eleitorais...


Equação complexa...Mas esse é o grande dilema do PSDB e do Serra. Não será uma eleição presidencial fácil e isso já está mais do que comprovado. Além disto, o tempo na televisão é muito importante e o PT fez alianças que dão a ele quase o dobro do tempo que tem o PSDB. Por outro lado, se Serra desistir, deixa praticamente entregue a eleição para o PT. Por quanto tempo mais o PT vai permanecer no poder? Porque, em 2014, Lula volta como candidato. Serra é o candidato mais forte do PSDB, pelo menos é o que tem o caminho mais curto. Aécio Neves (governador de Minas Gerais) teria que conquistar São Paulo e isso não é tarefa fácil. Enquanto Serra já é figura nacional por já ter participado de eleições presidenciais e por ter sido ministro da Saúde. É um tabuleiro de xadrez