sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Perplexidade

Discutimos, hoje, em sala de aula o fato noticiado nas matérias abaixo colocadas. A discussão em pauta era a "dominação masculina", embalada pela leitura do conhecido livro de Pierre Bourdieu. Quando tomei conhecimento do assunto, fiquei entre o choque e revolta impotente. Confira!

Aluna é vítima de assédio em massa
Ela foi acuada em universidade em São Paulo por um grupo de estudantes por causa do vestido que usava
Ana Bizzotto – O Estado SP

Uma estudante do 1º ano de Turismo do período noturno do câmpus ABC da Universidade Bandeirantes de São Paulo (Uniban), em São Bernardo do Campo, foi xingada e acuada por um grupo expressivo de estudantes no prédio onde estuda por causa do comprimento do vestido que usava. O fato ocorreu no dia 22 e ganhou repercussão nesta semana pelo YouTube, onde foram publicados vídeos que registraram o episódio. O conteúdo foi retirado a pedido da universidade.
Segundo as cenas e os depoimentos de presentes, o tumulto começou quando a aluna subia por uma rampa até o terceiro andar e os alunos começaram a gritar. Ela ficou trancada em uma sala e, com a ajuda de um professor e colegas, chamou a polícia, que a escoltou até a saída da universidade. A estudante, de 20 anos, pediu para que seu nome não fosse divulgado.
“Costumo usar vestidos curtos e calças apertadas, assim como outras meninas. Naquele dia, tinha pegado ônibus, andado na rua e ninguém disse nada”, contou a estudante. “Eles estavam possuídos, fiquei com muito medo”, relatou.


A Uniban, em nota, disse que instaurou sindicância. “Alunos, professores, seguranças e também a aluna estão sendo ouvidos individualmente”, informou. A universidade “pretende aplicar medidas disciplinares aos causadores do tumulto, conforme o regimento interno”.
O comandante da 2ª Companhia do 6º Batalhão da PM, capitão Cotta, informou que a polícia foi chamada porque a estudante “estava sendo impedida de sair da sala”. Quando os policiais chegaram, a aluna já estava com um jaleco branco que tampava a roupa que usava. “Ela não quis registrar boletim de ocorrência nem ir à delegacia, só queria ser acompanhada até sua casa. A Uniban também não solicitou ocorrência.”


“Ela veio com um vestidinho rosa da pesada, daqueles que se usa com calça legging, só que sem a calça”, disse o estudante de Matemática Pedro Adair, de 23 anos. “Os três andares da faculdade subiram atrás dela. O pessoal parecia estar no tempo das cavernas, só faltou arrastá-la pelos cabelos”, completou Pedro, que considera que o episódio foi uma “brincadeira que passou dos limites”.


Uma estudante de Pedagogia que se identificou como Simone estava no prédio na hora. “Eles ficaram gritando “puta” para ela. Fui lá ver também e até tomei spray de pimenta que a polícia jogou”, contou.


VIOLÊNCIA DE GÊNERO

Especialistas ouvidos pela reportagem disseram que, se tivesse ficado nua, a estudante poderia ter cometido crime de atentado ao pudor. “Mas nada justifica a reação exagerada. Isso retrata violência de gênero, culpar a mulher pela agressão”, afirma a coordenadora executiva da ONG Rede Mulher de Educação, Vera Vieira.


De acordo com Charles Martins, assessor de educação da ONG Plan Brasil, que estuda a violência nas escolas do país, “ainda que a estudante tenha quebrado padrões de conduta, não pode ser aceitável a agressão como resposta”.
O episódio motivou a criação de fóruns na internet. Entre comentários, pessoas dizem que a aluna foi vítima de intolerância.


Alunos relataram ainda que no início do ano uma outra confusão aconteceu no mesmo câmpus. Uma aluna teria sido agredida por não ter aceitado participar de um protesto contra a mudança nas avaliação da universidade.


”Linchamento” da estudante reflete problemas sociais
Fernanda Aranda – O Estado SP

O “linchamento moral” sofrido pela estudante da Uniban reflete dois problemas sociais, avaliam especialistas. O primeiro é o machismo que justifica a agressão contra a mulher por uma suposta falha. O outro é a invasão da violência nas instituições de ensino.
“O episódio pode mostrar a bagagem que estes alunos trazem da fase escolar”, acredita Charles Martins, assessor de educação da Plan, entidade internacional que trabalha contra violência nas escolas. “Toda forma de violência tem histórico e o nosso mostra que a quebra de valores começa na escola.”
A coordenadora do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec), Eloísa de Lasis, também afirma que o caso da Uniban não pode ser encarado de forma isolada. “Enxergar e debater o ocorrido como um sintoma social pode nos ajudar a entender como um espaço de ensino se torna um espaço de violência”, conclui.


"Fiquei muito assustada, chorei, entrei em desespero”
Entrevista – Estudante, de 20 anos, do 1.º ano do curso de Turismo da Uniban
Afra Balazina – O Estado SP

O que aconteceu?
Eu estava com um vestido curto, que já havia usado outras vezes na aula. Sempre recebi elogios, nunca nada ofensivo. Quando estava na rampa e vi o pessoal assobiando e elogiando, fiquei com vergonha. Depois, quando fui ao banheiro, começou o tumulto. Cada vez chegava mais gente. Ameaçaram invadir a sala, chutaram a porta, quebraram a maçaneta. Tentaram passar a mão em mim, tiraram fotos e ficaram gritando que iam me pegar.
Como você se sentiu?
Fiquei muito assustada, chorei, entrei em desespero. Eles estavam possuídos. Fui ofendida por gente que nem me conhece e por meninas que moram perto de mim.
O que você pretende fazer agora?
Não estou indo à aula por medo, mas quero voltar – e de cabeça erguida. Quero ouvir o que a faculdade tem a dizer, porque eles não pensaram em nos proteger. Dependendo do que eles disserem, eu vou processá-los, sim.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

São tão fortes as coisas...

São tão fortes as coisas, mas, ao contrário do poeta, eu não me revolto. E ainda estou cá, atolado no trabalho. E, o que é pior, sem tempo para blogar. C'est la vie... Mas, logo, logo, prometo, voltarei com toda a energia de sempre. Não deixe de me visitar neste espaço...

Música para quem ainda está no trabalho.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

As nuvens passageiras da política na província

Arranjos e desenhos mil são construídos. Comentaristas em seus postos tentam vender a imagem de um jogo que seria tocado por "profissionais". E pesquisas e mais pesquisas tentar sondar as percepções, avaliações e tendências do eleitorado. Se você acompanha tudo pela imprensa local, é dessa forma, assemelhada ao desenlance de uma partida de futebol na narrativa de um daqueles bons locutores esportivos de outrora (cada vez mais raros, infelizmente, nos dias de hoje...), que vai lhe aparecer a disputa eleitoral para governador em 2010 no Rio Grande do Norte.

Esse cenário, entretanto, só existe na cabeça de políticos, assessores e marqueteiros. Os eleitores potiguares, até o momento, estão a ignorar solenemente os salamaleques do campo político.

Por isso mesmo, todo cuidado é pouco. Os cenários que agora são pintados, creio eu, não passam de nuvens passageiras...

Música para um começo de jornada...

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

O jogo está armado

Com uma grande rapidez o cenário político mudou. Dilma, ao que parece, já armou o seu palanque. Vamos ver...
Leia abaixo a sempre lúcida análise do Alon Feuerwerker sobre essa arrumação.

Munição de anúncios para a candidata
Alon Feuerwerker

O quadro para 2010 está desenhado. Dilma Rousseff (PT) vai de uma megacoalizão, que lhe garante o dobro de tempo de rádio e TV do principal adversário, em teoria o nome que o PSDB indicar. Correndo por fora, Marina Silva (PV) terá de menos o que Dilma tem demais. Veremos como a ex-ministra do Meio Ambiente se vira com a escassez.

Há conversas aqui e ali sobre a relativização do tempo de TV e rádio, por causa da expansão do acesso à internet. O exemplo sempre citado é a eleição de Barack Obama. O paralelo é duvidoso. O Brasil tem bem menos população conectada do que os Estados Unidos, proporcionalmente. E dizer que a internet decidiu a eleição americana é, de cara, um exagero.

Barack Obama deixou os republicanos na poeira em arrecadação de recursos de campanha, o que lhe permitiu promover um massacre televisivo, com as inserções publicitárias. Elas são essenciais, para o ataque e a defesa. Com o dobro de anúncios, Dilma pode se dar ao luxo de falar de si e também desgastar os adversários. Tudo com sobras.

Quando se analisam os tempos de rádio e TV, o mais comum é comparar os horários dos programas, na hora do almoço e à noite. Mas as inserções são tão ou mais importantes. Nos programas, o espectador pode desligar e sair para fazer outra coisa. Já com os anúncios é diferente. Ninguém desliga a TV ou o rádio por causa de publicidade curtinha: espera acabar.

Esqueça a conversa bonita. O que o PT quer do PMDB é o tempo de televisão. E o governo Lula tem meios para se impor na convenção nacional do partido aliado, ainda que seções importantes estejam descontentes com a aliança. Risco? Só se Dilma chegar a meados do ano que vem como uma candidata inviável. Coisa pouquíssimo provável.

A jornada está cansativa? Você sempre pode contar com a ajuda dos seus amigos...

Que a próxima semana seja tudo de bom para você...

Por isso mesmo, escute a fabulosa Fortuna cantando a música sefaradi "Buena Semana".

Música para quem ainda está no trabalho...

Uma semana cansativa...

Ufa! Estou no fim de uma semana daquelas... E ainda tenho uma banca e uma atividade noturna para participar. Quase não deu tempo de visitar este espaço. Perdoem-me. Espero voltar com toda a disposição na próxima semana.

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Música e Revolução

Deixo-os com Grândola, a música que nos lembra a Revolução dos Cravos. Por falar em revolução, assististes ao Capitães de Abril, dirigido por Maria de Medeiros? Não! Corra e alugue a fita, ô pá...

Amar amarra? Veja a resposta do poeta...

MANUEL BANDEIRA

Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não noutra alma.
Só em Deus, ou fora do mundo.
As almas são incomunicáveis.
Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.
Porque os corpos se entendem, mas as almas não.

Música para quem ainda está no trabalho.

Cá estou, após uma banca de qualificação, de volta à minha sala. Em um dia de trabalho que ainda não terminou... Tenho mais coisas prá fazer logo, logo... Respirar fundo e escutar uma música, eis o que me resta. E como sou só um pouquinho egoísta, divido com vocês uma boa canção. Abaixo, a tradução de um pequeno trecho.




Se nossa canção de amor
Pudesse voar montanhas
Velejar sobre as inquietudes
Apenas como nos filmes
Não haveria nenhuma razão
Para sentir todos os tempos difíceis
Para impor as linhas duras
Isto é absolutamente verdadeiro

Uma visita incômoda

Ao que tudo indica está confirmada a visita do Presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, ao Brasil em fins de novembro. Digo tudo indica porque já se anunciou antes a vinda desse, digamos, indesejável visitante.

O Governo Lula vai indo bem. Qual o sentido de se comprometer fazendo salamaleques para uma figura como o presidente iraniano, profundamente identificado com o fundamentalismo islâmico e marcado por desastradas afirmações anti-semitas? Será apenas a expressão da eterna capacidade dos petistas em, quando tudo parece caminhar, fazerem alguma patuscada para entornar o caldo?

Começo a duvidar que se trate de algo mais sério. Ora, o Governo Lula, ao menos até agora, tem acenado com indisfarçável simpatia para os inimigos de Israel. E o próprio presidente, que tantas viagens internacionais fez, quantas vezes visitou Israel? Por favor, lembrem-me...

Há ainda que se pesar a complacência do governo brasileiro em relação à perigosa aproximação de Hugo Chaves com o Irã. Chaves que, é bom não esquecer, há algum tempo expulsou religiosos judeus da Venezuela.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Para um coração em festa...

A nudez como forma de protesto...



Minha nossa! Mas o pessoal está ficando nu para protestar contra tudo, não é mesmo?. Acho isso divertido, pacas. As fotos deste post são de pessoas que posaram para fotos de uma campanha a favor de ações globais que propiciem uma mitigação dos efeitos devastadores das mudanças climáticas. Pesa ainda a favor dessas, como direi?, performances - ué, não é isso? - o fato de que são bem democráticas: até gordinhos desengonçados podem ter espaço na fita... Isso deixa muita gente feliz (não, não, três vezes não, não é o meu caso...).

Leia e escute a Larissa Squeff

A jornalista Larissa Squeff, profissional com quase duas décadas de caminhada e uma atuação destacada em grandes empresas de comunicação, está investindo, com todo o gás, na comunicação via internet. Ela posta vídeos jornalísticos (geralmente sobre marketing eleitoral e análise política) no you tube. Para completar, agora ela está com um blog. Longa vida ao seu trabalho. Acesse aqui o blog e veja os vídeos neste outro link.

As eleições de 2010

Transcrevo abaixo análise desenvolvida pelo Alon Feuerwerker em seu blog a respeito do cenário político que começa a se desenhar para as eleições presidenciais de 2010. Confira!

Mau humor não dará as cartas
Alon Feuerwerker

O ambiente no país é otimista. E mau humor não combina com otimismo. O eleitor não sairá de casa no dia da eleição querendo comer o fígado de ninguém.

Uma característica desta sucessão presidencial é que ela vai ser disputada por gente assertiva e objetiva, ainda que cada um a seu modo. Uns menos suaves, outros mais. É a chance de uma campanha eleitoral razoavelmente “técnica”, o que seria uma bênção. Talvez nos aproximássemos de um cenário “americano”, com o carisma, a empatia e a simpatia servindo mais ao debate programático do que o inverso.

Qual será o foco da discussão? Se depender do que alardeia o governo, o país estará mobilizado para “evitar a volta da turma do Fernando Henrique”. Já a oposição procurará convencer-nos do quanto seria inconveniente “dar mais quatro anos ao PT”. Haverá certamente arranca-tocos relativos à “ética”. Mas todos sabem que não poderá ser só isso.

Agitar espectros não garante eleição, até porque os nomes do PSDB colocados têm garrafas para entregar em suas administrações. E o PT faz um governo com altas taxas de aprovação — e Dilma Rousseff é a ministra mais importante desse governo. E Marina Silva é uma candidata respeitável e consistente.

Teremos escaramuças. Mas, no fritar dos ovos, os concorrentes precisarão apresentar uma visão de futuro, com propostas inteligíveis em pelo menos alguns pontos estratégicos: educação, saúde, segurança e, principalmente, desenvolvimento. Não se trata de ficar debatendo tecnicalidades, mas de convencer o eleitor sobre a capacidade de o candidato ou candidata liderarem o país rumo à remoção das correntes que ainda nos amarram ao subdesenvolvimento.

Quem é o melhor para acabar definitivamente com o tratamento desumano dos pacientes que procuram atendimento médico? Quem é o melhor para fazer as nossas crianças saírem da escola sabendo ler, escrever e fazer contas? Quem é o melhor para reduzir os índices de criminalidade e proteger os cidadãos contra os bandidos? E quem é o melhor para conduzir a economia gerando ao mesmo tempo empregos e equilíbrio ambiental?

No fim das contas, o eleitor prestará atenção aí. Assim como elegeu Luiz Inácio Lula da Silva quando concluiu que a principal coisa a fazer era combater a pobreza e a desigualdade. E cada um dos candidatos terá trunfos. Todos têm currículos respeitáveis. Que a turma da campanha negativa tire o cavalinho da chuva: não será com ataques que vão derrubar Dilma, José Serra ou Aécio Neves e Marina Silva. Quem tentar vai desperdiçar energia, dinheiro e tempo de rádio e televisão. Talvez sirva para tirar o adversário do eixo, o que já é alguma coisa. Mas só.

Até porque o ambiente no país é de otimismo. E deverá continuar assim no ano que vem. E mau humor não combina com otimismo. O eleitor não sairá de casa no dia da eleição querendo comer o fígado de ninguém. Será um belo desafio para os candidatos e seus marqueteiros: como fazer uma campanha combativa, que enfraqueça o adversário, sem entretanto bater de frente com o espírito do tempo, com o sentimento geral.

Mais um capítulo da luta de classes nas escolas de Natal

Sexta-feira passada, na abertura oficial dos Jogos Estudantis do RN (JERNs), novos confrontos envolvendo estudantes de escolas públicas de Natal. Havia postado, dias antes, um comentário sobre esse tipo de evento (confira aqui). Prometo voltar logo que tiver mais. Por enquanto, convido-te a ler o texto abaixo, escrito por Alysson Thiago, bolsista do PET de Ciências Sociais da UFRN.

Vândalos?
Alysson Thiago

Mais uma vez, hoje, em virtude das já esperadas confusões na abertura dos JERN’s, a imprensa local aproveitou para destilar o pânico da desordem, provocada por grupos de adolescentes “descontrolados” à procura de baderna.

Em sua breve
análise, você apontou coisas interessantes que, na maior parte das vezes, escapam aos analistas e apresentadores da imprensa norte-rio-grandense. Pelo fato destes - talvez pelo ímpeto de emitir juízos e a obrigatoriedade de elaborar opiniões rápidas e de fácil e imediata absorção – tenderem a olhar para a realidade como algo imediatamente apreensível, óbvio, que basta bater os olhos em alguma reportagem, ouvir alguns relatos oculares e, pronto; o mundo, seus eventos e questões estão devidamente compreendidos pelo “conhecimento imediato”.

Deixando de lado a epistemologia de botequim. O que me parece curioso nessa tida “onda de baderna” é confrontar a compreensão imediata e apressada da imprensa com uma compreensão mais paciente e minimamente orientada do ponto de vista teórico.

Em nome da defesa da integridade da boa sociedade, dos bons valores amistosos do esporte e da escola e da crença na racionalidade destes últimos, a primeira coisa que alguns analistas fazem, é enquadrar as torcidas organizadas ou as gangues colegiais como irracionais, semi-bárbaras, isto é, como o “outro” da racionalidade do Estado, dos cidadãos comportados e etc.

Porém,nada me parece mais falso do que avaliar as T.O., ou essas “gangues escolares” como irracionais. Ora, as relações de agressividade e de inimizades que esses grupos estabelecem são orientadas, reflexivamente, por códigos, signos e “repertórios culturais”, como você bem assinalou, mas que, a meu ver, não só mediam suas reinvidicações por “um lugar no mundo”. Esses esquemas definem também os que são amigos e os inimigos - qualquer semelhança com a noção do político de Carl Schmmitt não é um abuso. Isto significa que, em vez da violência ser o resultado dos impulsos de uma horda juvenil descontrolada que ameaça a integridade do laço social e do poder das autoridades paternas. Na verdade, ela é orientada, dirigida e racionalizada pelas relações que os envolvidos estabelecem entre si, com suas insatisfações e expectativas, com o território, com as roupas e seus corpos, com os eventos de visibilidade local e etc.

Obviamente, que a recorrência dessas brigas entre adolescentes, em nossa cidade, está relacionada a um contexto de insegurança social e precariedade. Mais isso não explica tudo. A exigência de visibilidade, de sucesso e de se destacar, cada vez mais explícita e ofensiva, que nossa sociedade intima, sedutoramente, a todos, tem suas conseqüências não intencionais. Ora, como as brigas nos estádios diminuíram, em virtude do maior policiamento e do trabalho das próprias Organizadas, o foco do conflito se deslocou e se recompôs em sua visibilidade. Os adolescentes encontraram um novo espaço e cenário para suas performances.

As T. O. entram como uma forma de justificação, classificação e orientação para a ação. Pois, para o “Floca” ser inimigo do Ateneu é preciso uma razão que justifique para os agentes os motivos da inimizade e do porquê “eles devem apanhar”. As T.O. fornecem os esquemas de construção desses sentidos para a violência através da definição da política de amizade e de inimigos. A relação com as torcidas organizadas é, a um só tempo, um simulacro e uma relação com o "pré-reflexivo" que organiza os consensos, as condutas e etc.

Acabei me alongando por demais, porém, ainda cabe uma provocação; e se os jovens envolvidos fossem alunos do Marista, do Salesiano ou do CEI, será que os nossos jornalistas, estes advogados da gorda civilidade, os chamariam de bandidos e bárbaros? Será que a idéia de jovens pobres juntos não assusta mais, como que invocasse aquele pavor primitivo dos bandos? Bem, o que parece é que alguns adjetivos são mais corretos quando aplicados sobre determinadas classes.

A arte da periferia invade Nova York


O que seria da arte do século XX sem o muralismo mexicano? E se Diego Rivera não tivesse existido? Nesta semana no Harlem hispanico, também conhecido como EL Barrio, obras (melhor dizendo, réplicas de) de artistas latinos renomados estão sendo, como sói ocorrer há quatro décadas, exibidas.

O quadro mais acima, intitulado "Adeversario del fascismo", é de Rivera.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

A Agricultura Familiar no RN

Acesse aqui documento de análise dos impactos sociais da agricultura familiar no RN. O material foi elaborado pela equipe técnica do Gabinete do Deputado Fernando Mineiro (PT). Vale a pena conferir!

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Avançam a pesquisa e a aplicação em nanotecnologia



No último número da revista Nature Physics, você encontra (desde que pague, of course) um artigo produzido por grupo de cientistas do Instituto de Ciências Fotônicas, de Barcelona. Nele, somos informados que o grupo conseguiu desenvolver pinças para manipular, com luz, partículas de até 50 nanomêtros.

Trata-se, em verdade, de um passo adiante no desenvolvimento de ferramentas nanoscópicas. Algo que vem ocorrendo, com velocidade sempre crescente, a partir da metade da década de 1980.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

É só felicidade...

Os espanhóis estão a morrer de inveja do Brasil? Bueno, não sejamos patrioteiros. Eles já sediaram jogos olímpicos em outras oportunidades. E aproveitaram bem. Barcelona, por exemplo, foi completamente redefinida (positivamente) pelo fato de ter sediado uma edição dos desejados jogos. O Rio ganhou, maravilha... Mas vejamos como reagem os compatriotas de Pedro Almodovar e Fernando Alonso. Transcrevo, mais abaixo, ensaio bem humorado, publicado na edição de hoje do El País, sobre a tão cantada vitória brasileira.

O analista, Juan Arias, atribui ao presidente Lula grande parte da responsabilidade pela vitória. Confira!

JUAN ARIAS
La innata vocación de Brasil a la felicidad

El hecho de haber ganado Río de Janeiro la celebración de los Juegos Olímpicos del 2016, dejando atrás ciudades de gran prestigio como Madrid, Chicago o Tokio, ha sido analizado ya por activa y por pasiva. Se ha dicho de todo. Que Suramérica se merecía ya unos Juegos. Y es cierto. Que Brasil es hoy la potencia económica emergente de la región. Y también es cierto, como lo es que buena parte de la victoria se debió a la enorme popularidad mundial del carismático ex metalúrgico y hoy presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Y con él a la acción del dios del fútbol, Pelé, y el mago carioca Paulo Coelho, que supo ganarse la simpatía de las mujeres de los delegados del COI a quienes invitó a cenar en un restaurante de Copenhague, en un clima de felicidad brasileña. ¿O habrán sido sólo las imágenes de las bellezas únicas de la mágica ciudad carioca? También, pero no sólo.

Existe otro elemento poco subrayado y es la innata vocación de Brasil y de los brasileños a la felicidad, que acaba irradiándose internacionalmente, contagiando al mundo.

Si se hubiese hecho un sondeo nacional habría aparecido que ese día el 100% de los brasileños se sintió feliz cuando el presidente del Comité Olímpico Internacional abrió el sobre y apareció Río de Janeiro como vencedor de la competición para celebrar los Juegos Olímpicos del 2016. Los brasileños, que gozan de una formidable cohesión nacional, están siempre abiertos a acoger cualquier motivo para ser felices. Y albergar los Juegos les ha producido orgullo y felicidad. Y no lo esconden, que es otra de las características del brasileño.

En mi primera entrevista a la actriz de cine y teatro Fernanda Montenegro cuando llegué a Brasil, hace ahora 10 años, me dijo algo que nunca he olvidado y que pude más tarde tocar con la mano: "La diferencia entre un europeo y un brasileño es que el brasileño no se avergüenza de decir que es feliz y el europeo, sí".

Cualquiera que pasa por Brasil, de turismo o de trabajo, se siente enseguida atrapado por la cordialidad, la exuberancia afectiva, la acogida alegre de sus gentes, del norte al sur del país. "Es que con los brasileños no se puede uno pelear porque te sonríen hasta cuando te enfadas", me decía un corresponsal argentino. Es verdad. La vocación del brasileño es más hacia la paz, la amistad, el entendimiento mutuo, el deseo de agradar que hacia la guerra o la pelea. Y, entonces, ¿qué ocurre con la violencia que mata en Brasil más que en otros países? No es una violencia brasileña, la produce el cáncer del tráfico de drogas.

La mejor arma del brasileño sigue siendo la sonrisa. Al catedrático de Estética de la Universidad de Río Isaías Latuf le preguntaron en plena calle en Buenos Aires si era brasileño. "¿Cómo lo ha notado?", preguntó. Y la respuesta fue: "Por su sonrisa".

Según un sondeo realizado en 2008 en 120 países por el Instituto Gallup World Poll, y presentado por la Fundación Getulio Vargas (FGV), la felicidad del brasileño es superior a su PIB. El joven brasileño aparece con una valoración de la felicidad superior a la media mundial. El estudio revela que los jóvenes brasileños de entre 15 y 29 años presentan mayor esperanza de ser felices los próximos cinco años que los jóvenes del resto del mundo. Y esa esperanza de felicidad alcanza un 9,29%.

Los psicólogos han intentado analizar estos datos. ¿Cómo es posible que los jóvenes de un país que aparece sólo en el puesto 52 en el índice mundial de la renta se sientan los más felices del planeta? El psicólogo Dionisio Benaszewski lo achaca a que, según la misma encuesta, los jóvenes brasileños valoran más la felicidad que el trabajo o el dinero. Si hay algo, en efecto, que he tocado con la mano en Brasil es que la mayoría de sus ciudadanos, hasta los más pobres, no viven para trabajar; trabajan para vivir y para vivir felices. Es casi imposible conseguir que alguien quiera trabajar, ni ganando el doble, en un domingo. Suelen decir: "Ah, no, domingo nâo da".

Según Benaszewski, existe otro elemento creador de felicidad en Brasil y es el que ofrecen las buenas relaciones existentes entre miembros de la familia y entre vecinos. Aquí la red de solidaridad, sobre todo entre los más pobres, es formidable. Un ejemplo de ello lo son las favelas pobres de Río, que entre ellas se llaman "comunidades". Y lo son. El elemento afecto en las relaciones y el afán por ayudarse mutuamente en las adversidades, o de disfrutar en los momentos felices, es proverbial.

Suele decirse que los brasileños saben sacar felicidad hasta de las piedras. La buscan en la alegría y en la tristeza. El día que Río ganó la celebración de los Juegos Olímpicos, una pareja joven de brasileños entrevistada en Madrid por un reportero del programa de Iñaki Gabilondo dijo algo más o menos así: "No estéis tristes. Venid a Río, que es una ciudad maravillosa, y os sentiréis felices". Pensé que, de haber sido al revés, si hubiese ganado Madrid y perdido Río, la joven también se habría consolado de alguna forma diciendo que estaba feliz en la maravillosa ciudad de Madrid.

Así son los brasileños. Son buceadores en el mar de la felicidad y, como no lo ocultan, acaban contagiando a los otros. Sin duda ese contagio también tuvo que ver a la hora de votar en Copenhague.

Nobel premia economistas que impactaram fortemente a sociologia

Os ganhadores do Prêmio Nobel de economia deste ano, Elinor Olstrom e Oliver Williamson produziram obras que influenciaram fortemente a sociologia e a ciência política nas duas últimas décadas. Vale a pena pesquisar um pouco sobre a produção dos dois! Depois, assim que possível, comento um pouco sobre as suas instigantes proposições.

domingo, 11 de outubro de 2009

A luta de classes nas escolas de Natal

Jornais e TVs do Rio Grande do Norte, nos últimos dias, têm destacado os confrontos entre adolescentes estudantes de dois colégios situados na área central da cidade do Natal. Tais acontecimentos legitimaram a histeria que tomou conta de parte dos analistas da vida cotidiana na província. Tudo se passa como se uma nova epidemia tomasse conta da cidade do sol. E, mais uma vez, as torcidas organizadas, sempre elas!, foram apontadas como a causa explicativa dos performáticos confrontos protagonizados por meninos e meninas estudantes das escolas públicas natalenses.

Uma primeira e interessante constatação diz respeito ao rompimento das fronteiras de gênero. Meninas participam ativamente dos eventos. Incitam, provocam e se divertem com as brigas dos rapazes. Estes, destituídos dos rituais de passagem que até a geração de seus pais demarcavam as fronteiras entre o menino e o adulto, encontraram na rua um espaço físico e social para a afirmação social. E essas brigas são performáticas. São encenações, nem por isso sem conseqüências em termos de agressões físicas, que alimentam e se alimentam de sites de relacionamentos...

Mas para além da fenomênica sociologia de botequim a qual se entregam, com indisfarçável sofreguidão, psicólogos e policiais de plantão, talvez seja interessante nos perguntarmos sobre o que está a ocorrer sem pressa de encontrar uma resposta pronta. Trata-se de nos questionarmos a respeito de que processos ou tendências sociais poderiam ser tomados como referências para uma produção de sentido desses eventos tão destacados na mídia da província situada na esquina do Atlântico Sul.

Talvez devêssemos começar destacando que há um sofrimento social e um conjunto de pequenas ou grandes desordens familiares que impactam profundamente a vida escolar dos adolescentes envolvidos nas disputas sócio-espaciais teatralizadas como “brigas de torcida”. De forma um tanto caricata, poderíamos dizer, seguindo indicação de Charles Tilly, de que os adolescentes natalenses encontram na Gang Alvinegra e na Máfia Vermelha algo como “repertórios culturais” através dos quais ecoam a sua dramática reivindicação de um “lugar no mundo”. Por outro lado, e aí já nos deparamos como o que uma velha amiga, weberiana de carteirinha, denominaria de “efeito perverso”: quando meninos e meninas do Atheneu ou do Churchill assomam as ruas adjacentes às suas escolas para as suas, digamos, performances, eles e elas vão, aos poucos, adquirindo uma “cultura da rua”. Essa cultura condensa códigos, valores e gestos corporais distintos, quando não opostos, àqueles legitimados pela cultura escolar oficial. Esse “efeito perverso” cresce como uma bola de neve e toma de conta das mais diversas esferas da vida social, das amizades ao sexo, da vida familiar ao trabalho...

Se os eventos produzidos, ampliados e amplificados pela imprensa local, legitimam a entrada em cena da polícia, o resultado mais do que previsível é a radicalização do confronto daquela “cultura da rua” com a cultura escolar oficial. Uma das expressões desse confronto é o aumento da tensão nas relações entre professores e alunos. As salas de aulas transformam-se, mais e mais, em palcos de agressões veladas, absenteísmo e intolerância. Para os meninos e meninas, os adultos e sua “cultura escolar” expressam um mundo indesejado. Um mundo cinzento e entristecido, sem excitação, sem risco e nulo de promessas de identidade para o presente. Os professores, figuras que, não raro, expressam a continuidade da autoridade (em crise) dos pais, passam a se relacionar mais com figuras sociais, midiaticamente construídas, como é o caso da figura do “adolescente envolvido com torcida organizada”, do que com os meninos e meninas reais que adentram as suas salas de aula.

Alguém já escreveu que os ortodoxos fogem do olhar sobre o abismo, pois, temem que este os trague. Parece ocorrer o mesmo com os candidatos a sociólogos de botequim destas plagas. Tudo se explica por referências genéricas a busca por “identidade” ou à crise da família. Talvez devêssemos olhar mais para o “nosso mundo” (de adultos, professores, policiais, pais, autoridades e que tais) e nos perguntarmos o que ele é hoje. Ou, na mesma direção, em que quimera ele está se transformando. Daí, que m sabe, possamos nos questionar sobre as suas ofertas para inquietos meninos e meninas. Assim procedendo, quem sabe?, talvez pudéssemos entender melhor essa cultura juvenil emergente e os seus modelos culturais.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Aqui, pau puro; lá fora, reconhecimento...

Aqui, por aqui entenda-se mídia nativa, a diplomacia brasileira e o chanceler Celso Amorim são alvos de uma campanha de desqualificação. Exemplar desse comportamento foi a capa da edição da revista Veja publicada na semana passada. Uma baixaria sem tamanho... Bueno, mas, lá fora, só há espaço para o reconhecimento da atuação propositiva do Ministério das Relações Exteriores sob o Governo Lula. A matéria abaixo, publicada em prestigiosa revista dedicada às relações internacionais, indica bem o tipo de abordagem predominante na imprensa mundial a respeito da atuação brasileira. Por essas e outras, diariamente, leio EL País, Haaretz e Le Monde. Se ficar somente com a Folha, Veja e similares, você só vai ter mesmo é ânsia de vômito.



Foreign Policy: Amorim, “o melhor chanceler do mundo”

Fonte VIOMUNDO

David Rothkofp, no blog da revista Foreign Policy

Esse pode ter sido o melhor mês do Brasil desde cerca de junho de 1494. Foi quando o Tratado de Tordesilhas foi assinado, dando a Portugal tudo no mundo a leste de uma linha imaginária que foi declarada existir 379 léguas a oeste das ilhas de Cabo Verde. Isso garantiu que o que viria a se tornar Brasil seria português e, portanto, desenvolveria uma cultura e identidade diferentes do resto da América Latina hispânica. Isso garantiu que o mundo teria samba, churrasco, Garota de Ipanema e, através de uma incrível e tortuosa corrente de eventos, a Gisele Bundchen.
Embora o Brasil tenha levado algum tempo dando razão à máxima de que “é o país do futuro e sempre será”, há poucas dúvidas de que o amanhã chegou para o país, ainda que muito tenha de ser feito para superar sérios desafios sociais e aproveitar o extraordinário potencial econômico do país.

A prova de que algo novo e importante está acontecendo no Brasil começou alguns anos atrás, quando o presidente [Fernando Henrique] Cardoso gerenciou uma mudança para a ortodoxia econômica que estabilizou o país-vítima de ciclos de crescimento e crise e inflação de tirar do sério. Ganhou força, no entanto, durante o extraordinário governo do atual presidente, Luis Inacio “Lula” da Silva.

Algum desse impulso se deve ao compromisso de Lula de preservar as fundações econômicas assentadas por Cardoso, uma decisão política corajosa para um líder sindical de oposição do Partido dos Trabalhadores. Parte do impulso se deve a sorte, uma mudança do paradigma energético que ajudou o investimento de 30 anos do Brasil em biocombustíveis dar retorno importante, as descobertas maciças de petróleo na costa do Brasil e a crescente demanda da Ásia que permitiu ao Brasil se tornar o líder exportador da agricultura mundial, assumindo o papel de “celeiro da Ásia”. Mas muito do impulso se deve à grande capacidade dos líderes brasileiros de aproveitar o momento que muitos dos predecessores provavelmente teriam perdido.
Desses líderes, muito do crédito vai para o presidente Lula, que se tornou uma espécie de estrela de rock na cena internacional, juntando a energia, a disposição, o carisma, a intuição e o senso comum tão eficazmente que a falta de educação formal não se tornou empecilho. Algum crédito vai para outros membros de sua equipe, como a chefe da Casa Civil Dilma Rousseff, a ex-ministra da Energia que se tornou uma ministra dura e possível sucessora de Lula. Mas eu acredito que uma grande parte do crédito deve ir para Celso Amorim, que planejou a transformação do papel mundial do Brasil de forma sem precedentes na história moderna. Ele é o ministro das Relações Exteriores de Lula desde 2003 (também serviu nos anos 90), mas penso que se pode argumentar que é atualmente o chanceler mais bem sucedido do mundo.

É impossível apontar um único momento de mudança nas tentativas de Amorim de transformar o Brasil de um poder regional com influência int ernacional duvidosa em um dos países mais importantes no mundo, reconhecido por consenso global para jogar um papel de liderança sem precedentes.
Pode ter sido quando ele teve um papel central na engenharia do “empurrão” dado pelos países emergentes contra o “poder-de-sempre” dos Estados Unidos e da Europa durante as negociações comerciais de Cancun em 2003.
Pode ter sido o jeito que o Brasil adotou para usar questões como a dos biocombustíveis para forjar novos diálogos e influência, com os Estados Unidos ou com outros poderes emergentes.

Com certeza envolveu a decisão de Amorim de abraçar a idéia de transformar os BRICs de uma sigla em uma importante colaboração geopolítica, trabalhando com seus colegas da Rússia, da Índia e da China para institucionalizar o diálogo entre os países e coordenar sua mensagens. (Dos BRICs quem se deu melhor nesse arranjo foi o Brasil. Rússia, China e Índia todos conquistaram seus lugares na mesa através de capacidade militar, tamanho de população, influência econômica ou recursos naturais. O Brasil tem tudo isso, mas menos que os outros).

Também envolveu muitas outras coisas, como o aprofundamento das relações com países como a China, a promoção do Brasil como destino de investimentos, a reputação do Brasil como comparativamente seguro diante de problemas econômicos globais, o conforto que o presidente dos Estados Unidos sente em relação a seu colega brasileiro — a ponto de encorajar o Brasil a jogar um papel como intermediário junto, por exemplo, aos iranianos. Concorde ou não com todas as decisões de Amorim, como em Honduras ou em relação a Cuba na Organização dos Estados Americanos, o Brasil tem continuado a jogar um papel regional importante ainda que seu foco tenha claramente mudado para o palco global.

Nada ilustra quanto evoluiu o Brasil ou quão eficaz é o time Lula-Amorim quanto os eventos das últimas semanas. Primeiro, os países do mundo largaram o G8 e abraçaram o G20, garantindo ao Brasil um lugar permanente na mesa mais importante do mundo. Em seguida, o Brasil se tornou o primeiro país da América Latina a ganhar o direito de sediar as Olimpíadas. Ontem o Financial Times noticiou que a “Ásia e o Brasil lideram na confiança do consumidor”, um reflexo da reputação que o governo vendeu eficazmente (com a maior parte do crédito indo para o ressurgente setor privado brasileiro). E nesta semana as notícias sobre o encontro do FMI-Banco Mundial em Istambul mostraram a institucionalização do novo papel do Brasil com um acordo para mudar a estrutura do FMI. De acordo com o Washington Post de hoje: “As nações também concordaram preliminarmente em reestruturar a estrutura de votação do Fundo, prometendo dar mais poder aos gigantes emergentes como o Brasil e a China até janeiro de 2011″.

Nada mal para alguns dias de trabalho. E embora seja o ministro da Fazenda que representa o Brasil nos encontros do FMI-Banco Mundial, o arquiteto dessa marcante transformação no papel do Brasil foi Amorim.

Muito ainda precisa ser feito, com certeza. Parte tem a ver com o novo papel desejado. O Brasil quer uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU e mais liderança nas instituições internacionais. Pode conquistar isso, mas terá de manter o crescimento e a estabilidade para chegar lá. Além disso, o Brasil parece inclinado a minimizar ameaças regionais como a representada pela Venezuela (Os brasileiros tendem a olhar com desprezo para seus vizinhos do norte tanto quanto o fazem para os argentinos, vizinhos do sul… e, portanto, subestimam a habilidade de homens como Hugo Chávez de causar danos). E o Brasil tem diante de si uma eleição que pode mudar o elenco de jogadores e, naturalmente, pode mudar a atual trajetória de uma série de maneiras — boas e ruins.

Mas é difícil pensar em outro chanceler que tenha tão eficazmente orquestrado uma mudança tão significativa no papel internacional de seu país. E se alguem pedisse hoje que eu votasse no melhor chanceler do mundo, meu voto provavelmente iria para o filho de Santos, Celso Amorim.

David Rothkopf é autor de Superclass: The Global Power Elite and the World They are Making (Superclasse: A elite do poder global e o mundo que ela está construindo) e Running the World: The Inside Story of the National Security Council and the Architects of American Power (Governando o Mundo: A história do Conselho de Segurança Nacional e os Arquitetos do Poder Americano).

As fotos de uma vida


No site do El País, você tem acesso a um slide com um conjunto de 13 fotos de momentos diversos da vida do Ganhador do Prêmio Nobel da Paz deste ano, o Presidente Barak Obama. Acesse aqui.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Sobre as redes sociais na internet

Transcrevo abaixo matéria que foi postada no Ex-Blog do César Maia, edição de hoje. Foi publicada originalmente no jornal espanhol EL PAÍS.

REDES SOCIAIS ELIMINAM A SOLIDÃO QUE É FONTE DE RIQUEZA EM NOSSAS VIDAS!

(Emma Riverola, publicitária e novelista - trechos de artigo - El País, 04/10)

1. Agora, Facebook, Twitter, Tuenti e outras redes sociais estão convertendo o desenvolvimento pessoal em um cruzeiro de massas. Os jovens crescem na rede, compartilham cada minuto de sua evolução e de sua intimidade. Perda terrível da vida privada, dirão uns. Aumento da transparência e da sinceridade, dirão outros. A única certeza é que, com seus prós e contras, o vírus do exibicionismo dos reality shows penetrou em nossa conduta social.

2. Há uma necessidade, uma obrigação de ser visíveis. Somos a imagem que se reflete nos olhos dos demais. E nessa obsessão por compartilhar a existência, se esconde um modo de reafirmar a identidade, de reclamar um lugar no grupo, e de lançar ao ar um "aqui estou, conte comigo!".

3. O anonimato produz terror, do mesmo modo que assusta a sociedade. As redes sociais são o espantalho que afasta o fantasma da exclusão, o rincão das vozes que rompem o silêncio e a tristeza. Frente à tela do computador podes sentir que formas parte de um grupo, que tens um lugar onde levar as emoções, onde compartir seu tempo.

4. Mas a solidão também é uma fonte de riqueza em nossas vidas. Nela se encontra o germe do pensamento, da arte, de nossa própria identidade. Em um mundo permanentemente conectado, os espaços de isolamento se reduzem até converter-se em preciosas pérolas exóticas. Então surge a dúvida. A incerteza de saber se a geração que está crescendo sobre o abraço contínuo das redes sociais saberá estar só. Se ao não receber a dose habitual de solidão adolescente não deixará mais vulnerável ao sombrio e temível ataque do gregarismo (viver aglomerado).

Mercedes Sosa e Shakira

Razões para cantar, eis do que trata o clipe abaixo. As vozes magistrais de Mercedes Sosa, que nos deixou há pouco, e Shakira tornam desnecessárias mais palavras... A letra é de Sílvio Rodriguez, esse gigante da música latino-americana. Preciso dizer mais o quê? Assista o vídeo e leia a letra mais abaixo.



La Maza
Silvio Rodriguez
Composição: Silvio Rodriguez

Si no creyera en la locura
de la garganta del sinsonte
si no creyera que en el monte
se esconde el trino y la pavura

si no creyera en la balanza
en la razón del equilibrio
si no creyera en el delirio
si no creyera en la esperanza

si no creyera en lo que agencio
si no creyera en el camino
si no creyera en el sonido
si no creyera en mi silencio

qué cosa fuera
que cosa fuera la maza sin cantera
un amasijo hecho de cuerdas y tendones
un revoltijo de carne con madera
un instrumento sin mejores resplandores
qué lucecitas montadas para escena

qué cosa fuera, corazón, qué cosa fuera
qué cosa fuera la maza sin cantera

un testaferro del traidor de los aplausos
un servidor de pasado en copa nueva
un eternizador de dioses del ocaso
júbilo hervido con trapo y lentejuela

qué cosa fuera, corazón, qué cosa fuera
qué cosa fuera la maza sin cantera

si no creyera en lo más duro
si no creyera en el deseo
si no creyera en lo que creo
si no creyera en algo puro

si no creyera en cada herida
si no creyera en la que ronde
si no creyera en lo que esconde
hacerse hermano de la vida

si no creyera en quien me escucha
si no creyera en lo que duele
si no creyera en lo que quede
si no creyera en lo que lucha

qué cosa fuera
que cosa fuera la maza sin cantera
un amasijo hecho de cuerdas y tendones
un revoltijo de carne con madera
un instrumento sin mejores resplandores
qué lucecitas montadas para escena

qué cosa fuera, corazón, qué cosa fuera
qué cosa fuera la maza sin cantera

un testaferro del traidor de los aplausos
un servidor de pasado en copa nueva
un eternizador de dioses del ocaso
júbilo hervido con trapo y lentejuela

qué cosa fuera, corazón, qué cosa fuera
qué cosa fuera la maza sin cantera.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

A relação entre opção religiosa e violência

Mais um texto do Professor Gláucio Soares.

Religião, crime e política
Glaucio Ary Dillon Soares


As pesquisas demográficas, econômicas e sociológicas do crime, em geral, e do homicídio, em particular, usam predominantemente dados agregados. As teorias psicológicas e psicossociais usam dados individuais. As tentativas de integrar essas teorias levaram à realização de difíceis pesquisas chamadas de multilevel, de níveis múltiplos, porque umas variáveis explicativas tinham que ver com o país, com o estado ou com o município (três níveis diferentes) e outras com traços individuais (um quarto nível). No diálogo competitivo entre essas teorias, a preocupação era saber se variáveis de um tipo contribuíam para explicar a variância (do crime ou homicídio) quando as variáveis do outro tipo estavam controladas. Era um cabo de guerra, indivíduo versus contexto. As piores equações olhavam o crime como feito por indivíduos sem contexto ou por contextos sem indivíduos. A melhor equação olhava o crime como resultante de indivíduo, mais contexto e mais suas interações. Interações?

É. O diálogo fecundo entre as perspectivas vai mais longe: além de confirmar que tanto indivíduo quanto contexto contam, buscam interações, condições nas que uma das características individuais e contextuais produzem resultado diferente da soma de suas influências. Alguns, pesquisando a delinquência juvenil, perguntaram se a participação e o involucramento religioso protegiam os indivíduos nas vizinhanças negativas. Uma espécie de “efeito do colchão” ou “efeito amortecedor”. Os resultados mostram que o baixo nível socioeconômico do bairro aumenta a probabilidade de crimes violentos. Porém, interações entre níveis analíticos diferentes mostram que esse efeito é atenuado pelo involucramento religioso. Em áreas de nível socioeconômico algo mais alto, participar de uma religião rigorosa amortece os efeitos contextuais sobre o uso de drogas.

Porém, a relação não é fácil nem simples. Há variáveis que estão associadas com a religião e também estão associadas com o crime e a violência, aumentando ou diminuindo o risco, seja de cometer um crime, seja de ser vítima dele. Há alguns anos, no Distrito Federal, constatei uma associação entre a religião (denominação religiosa) e o nível educacional. Somente 21% dos espíritas e esotéricos eram analfabetos ou tinham, no máximo, primário incompleto, pouco menos que os católicos, com apenas 23%; entre protestantes era um pouco mais alta, 36%, atingindo 40% entre os evangélicos. Com base na educação, e somente na educação, os evangélicos deveriam ter uma taxa de crimes muito alta, mas tal não acontece. Nas áreas mais pobres das regiões metropolitanas, que são mais violentas, os evangélicos convivem com altas taxas de crimes violentos. A coexistência entre evangélicos, traficantes e outros criminosos faz que essas áreas tenham grande diferenciação interna no crime e na violência, graças à convivência entre pessoas com taxas muito altas e pessoas com taxas muito baixas, o que provoca uma relação sui-generis entre religiosos e criminosos, sendo que a religião, particularmente as evangélicas, passa a ser fundamental para impedir a entrada de jovens na vida do crime e para facilitar a saída dele. Porém, além do contexto espacial (favela, invasão) e institucional, há variáveis individuais, como a religiosidade, que são relevantes. Alguns fiéis se sentem mais religiosos do que outros. A religiosidade inclui comportamentos como a frequência à missa, à igreja e a outros rituais religiosos, e sentimentos como a autodefinição (muito, bastante, religioso ou nada religioso). Os dois se correlacionavam negativamente com a educação — a maior educação formal, menor religiosidade, formando um triângulo de influências que atuam em sentido contrário: a mais educação, menos religião e menos crimes violentos; a mais religião, menos crimes.

O Brasil é um dos países mais interessantes para estudar a religião: onde há mais espíritas, mais católicos, mais sincretismo religioso com o cristianismo (misturam duas ou mais religiões, uma delas cristã), onde cresceram muito os evangélicos pentecostais e neopentecostais, onde Edir Macedo, fundador da Igreja Universal do Reino de Deus, lançou um livro, Plano de poder, alegando que Deus quer que sua igreja, apoiada pelos demais evangélicos, tome o poder no Brasil e há um partido liderado por evangélicos, o PRB. Ironicamente, essa riqueza social e política é desprezada na nossa pós-graduação, cujas leituras são dominadas por A ética protestante e o espírito do capitalismo, de Max Weber, escrito há mais de um século. Em todos os cursos encontrei apenas um seminário sobre religião e política. Nele, todos os autores são europeus e mortos há muito tempo. Decididamente, nossos cientistas políticos e sociais vivem em outro continente e em outro século.

Homicídios e políticas públicas

Gláucio Ary Dillon Soares dispensa maiores apresentações. É um dos cientistas sociais que analisa com mais desassombro e menos concessão ao politicamente correto as temáticas do crime e da violência no nosso país. Por isso, republico, mais abaixo, artigo de sua autoria. Confira!


Quem vai morrer assassinado?
Gláucio Ary Dillon Soares

Algumas características aumentam o risco de morrer assassinado, ao passo que outras o diminuem. Características demográficas, como idade e sexo, contam muito. Características sociais como a educação e o estado civil também. Até características geo-políticas (em que unidade da federação) onde a pessoa mora também contam. E, como veremos, o bom uso do dinheiro público é essencial.

Não pensem que esse risco diferenciado é de hoje, dos últimos anos. Há muito tempo que é assim. Por isso, busquei dados sobre as vítimas de homicídios dos anos de 1991 e 1992 - há quase duas décadas.

No Distrito Federal houve, em 1991 e 1992, 938 homicídios, somando os dois anos. Oitocentos e quarenta eram homens, ou 89,6%. No Brasil como um todo é um pouco mais: 91,1%. Aproximando, nove em cada dez vítimas eram homens. Poucos dados sobre homicidas mostram que a grande maioria dos autores também é masculina.

As crianças têm risco baixo relativamente aos adolescentes e jovens adultos. De todas as mortes, apenas 6% eram de menores de 15 anos. Porém, aos 15 a mortalidade começava a disparar. Nos vinte anos seguintes, estão 52% dos assassinados. A frequência cumulativa mostra que aos 35, já haviam falecido 78% dos assassinados. Esse é o grupo-alvo, no qual devemos concentrar boa parte da atenção protetora das instituições e os serviços de prevenção.

O estado civil também conta e muito. O casamento protege. Ser solteiro aumenta o risco: no Distrito Federal, três de cada quatro vítimas eram solteiras. É bom saber quais as probabilidades: o x2 nos diz que a probabilidade de que essa relação seja devida ao acaso é menor do que uma em mil. O coeficiente phi, de 0,19, confirma a associação.

A educação mostra o caráter de classe dos homicídios: 93% das vítimas tinham primeiro grau ou menos, muito mais do que na população como um todo. A vitimização é um fenômeno de classe social, confirmando o encontrado em diferentes países: são pobres os que morrem, e são pobres os que matam.

Os dados nacionais permitiram análises extremamente rigorosas que demonstram que a idade, a unidade da federação e o sexo, influenciam a probabilidade de que uma pessoa seja assassinada. Estas três variáveis aumentam esta probabilidade tanto diretamente quanto em interação com as demais, duas a duas (idade x UF; idade x sexo; UF x sexo) e as três (idade x UF x sexo).

Não obstante, um dado mostra como o risco de morte muda de acordo com a unidade da federação levando em conta somente as que foram vítimas de tentativas. Essas diferenças existem há muitas décadas no Brasil. Em 1991/2, 38% das vítimas de homicídios no Distrito Federal morriam fora dos hospitais, em comparação com 63% no Brasil como um todo: morriam na rua, morriam em casa, morriam a caminho dos hospitais. O efeito das instituições governamentais e das instituições públicas se fazem sentir nesse indicador. A rapidez do atendimento é fundamental - isso vale para todas as condições que podem ameaçar a vida, desde picada de cobra, até acidente de trânsito, passando por homicídios e suicídios. A rapidez depende do número e da distribuição das ambulâncias, do fluxo do trânsito (ordenado e fluído vs. desordenado e engarrafado), do equipamento das ambulâncias, do treinamento do pessoal de primeiros socorros, da distribuição espacial dos hospitais e da sua qualidade. Dois estados com taxas de tentativas de homicídios iguais podem ter duas taxas de mortes por homicídios muito diferentes.

Mais uma vez, constatamos que bons governos salvam vidas: uns constroem, equipam seus hospitais e treinam seu pessoal; outros usam os recursos para dar emprego público a amigos, familiares e correligionários. Quem vota nesse tipo de político pode estar assinando a sua própria sentença de morte.

Publicado no Correio Braziliense, 20 de agosto de 2009

Sobre os maras

A Mara Salvatrucha é um dos fenômenos sociais mais significativos das duas últimas décadas em toda a América Central. Na edição de hoje do El País, de longe o melhor jornal de notícias disponível na internet, você pode ler uma entrevista sobre esse perturbador moviemento social. Acesse aqui a matéria. Para complementar, assista, clicando mais abaixo, ao trailer de um documentário produzido por Cristiano Poveda. Proveda foi assassinado neste ano, provavelmente em conseqüência do seu trabalho de investigação jornalística dos maras.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Qual é a da diretoria da ADURN?

Juro que não entendi. Li com atenção a notícia (clique aí e leia a matéria toda) publicada no site da Associação dos Docentes da UFRN (ADURN) e fiquei cá no meu canto matutando: a diretoria foi solicitar ao Reitor o quê exatamente no que diz respeito à avaliação dos docentes feita pelos alunos? Leia abaixo um trecho da matéria:

"Em seguida, foi tratada a questão da avaliação docente pelo discente, já que a Diretoria tem sido bastante questionada sobre os efeitos dessa avaliação na sala de aula e no trabalho do professor. O Diretor de Política Sindical, Wellington Duarte, asseverou que é necessário um debate mais profundo não apenas sobre a forma e o conteúdo do processo avaliativo, mas também sobre a relação entre essa avaliação e a progressão funcional dos docentes. "

Ok. Vamos discutir o assunto. Discutir é bom, é necessário sempre. Mas, e essa é uma leve suspeita que me vem à cabeça, será que esse posicionamento da diretoria da entidade não joga água no moinho daqueles que querem diminuir ou desqualificar a avaliação feita pelos discentes? Ora, não estou afirmando que a avaliação discente é sempre, e em todas as situações, a melhor tradução do ensino produzido. Muito pelo contrário! Pode ser inclusive o caminho para o tão propalado "pacto de mediocridade". Mas não se pode negar que esse tipo de avaliação impacta positivamente a atividade docente e pode ser tomada como um dado para pensar tanto as práticas pedagógicas quanto a ascensão funcional.

Certamente existem quesitos que merecem um maior aprofundamento. O que fazer, então? Acho que existem pontos na avaliação dos alunos que podem e devem ser levados em conta na progressão funcional (por que não?), como é o caso das faltas dos professores. Outros, muito genéricos, como a avaliação geral do desempenho do professor, precisariam ser analisados com maior cautela.

Há, sem dúvidas, um debate a ser feito sobre a avaliação do trabalho docente pelos discentes. Mas, para ter conseqüências positivas, tal discussão não pode ser balizada pela reação defensiva e corporativista que parece guiar a direção da entidade dos professores da UFRN.

A beleza em todas as medidas


Ok. Não, não, eu não sou um aficcionado de revistas de celebridades... É que o assunto me chamou a atenção, tá certo? Então, por favor, leia a matéria abaixo e entenda o porquê das postagens anteriores.





The cavernous photography studio in New York City is bustling with fashion assistants, hair and makeup stylists, and models chatting in white terry robes. All typical on a photo shoot, but when the robes come off, you see what’s different. Kate Dillon, Ashley Graham, Amy Lemons, Lizzie Miller, Crystal Renn, Jennie Runk and Anansa Sims— some of the top “plus-size” models working today—have beautiful curves, round shoulders, belly rolls and lots of other womanly stuff many of us see when we look in the mirror. Oh, and there’s lunch, which the models actually eat. “Gosh, it’s so nice that they’re feeding us,” says Lemons. “When I was doing runway, all I was ever offered was water and champagne, all day long.” But it’s not the food the models are excited about—it’s the mission. They’ve been assembled to help Glamour continue an extraordinary dialogue on body image that you, our readers, began.


It started in our September issue with a small photo of Lizzie Miller sitting au naturel—confident, sexy and clearly unconcerned about a little belly overhang. We loved the photo, but it was just one of more than a hundred of full-figured women we’ve run in recent years, so we were surprised when it hit a nerve. “This is true beauty!” wrote one commenter on glamour.com. “A woman that eats!” Added Megan Fehl, 23: “Because of my own belly, I always thought I was some deformed woman, but not now. Holy hell, I am normal!” And in the words of another reader: “I’ve struggled with eating disorders and body image since I was 12. Seeing this picture is the first time I have felt good about myself and comfortable with my body (just the way it is) in a very long time. Thank you for the self-esteem.”


Why did this particular picture, at this particular moment, resonate with so many women? Some possible reasons: The recession has us all in a back-to-basics, tell-it-like-it-is mood, so realer images of women’s bodies seem appropriate now. Celebrities like Kate Winslet, Jessica Simpson and now, on page 182 of this issue, Scarlett Johansson have spoken out against a culture that nitpicks a woman’s every thigh dimple. First Lady Michelle Obama dresses to accentuate rather than camouflage her regal curves, and has the entire world swooning. And maybe, as Emme, a pioneer plus-size supermodel and host of More to Love, believes, “we’ve just had it with the beyond-slender, airbrushed-from-head-to-toe models and actresses who’ve dominated [newsstands] for over a decade.”


Glamour has been on this wavelength since the early nineties. We’ve put Queen Latifah on the cover twice and frequently feature other fuller-bodied celebs and models (including all the women you see here, with the exception of Glamour newcomer Jennie Runk). But the phenomenal response to the Lizzie Miller photo shows there is a thirst for an even more inclusive view of women’s bodies. So what’s keeping the fashion and media worlds from portraying as many size 10’s and 14’s and 20’s as we do size 0, 2 and 4? And what ratio of fantasy to reality does the average American woman really want to see in magazines and ads?



A moça da foto é...

...Lizzie Miller. Ela pousou para a Glamour.

Será o fim da ditadura... da magreza?


Uma notícia deveras alvissareira: revistas de moda vão dar mais espaço para modelos "reais", gordinhas e diminuir o culto ao ideal da mulher esquelética. Confira mais abaixo! (matéria retirada do site do yahoo).

Revistas apelam a gordinhas em busca da beleza 'real'

Os padrões de beleza no mundo editorial da moda estão em xeque, e as modelos esquálidas parecem estar com os dias contados. Pelo menos nas páginas de duas importantes revistas. A americana "Glamour" e a alemã "Brigitte" anunciaram nesta segunda-feira que suas modelos serão mais próximas do "real".

A revista "Glamour" trará em sua capa de novembro sete modelos nuas acima do peso - pelo menos para os padrões das passarelas. A publicação americana já havia feito sucesso em sua edição de setembro ao colocar a foto de uma modelo com a barriguinha à vista, a americana Lizzie Miller, 20 anos.


Já a "Brigitte", revista feminina mais popular na Alemanha, anunciou que não vai mais exibir modelos profissionais em suas páginas, substituindo-as por mulheres "comuns". A publicação alega que, ao estampar figuras magérrimas, acabou se distanciando de suas leitoras.
Na Semana de Moda de Milão, a adoção de padrões "acima das medidas" já não é novidade. Especialista em roupas de tamanhos maiores, Elena Mirò sempre apresenta suas coleções na fashion week italiana com modelos "plus size".


O desfile mais recente da estilista, ocorrido no dia 23 de setembro, contou justamente com a presença de Lizzie Miller, a mesma que causou polêmica - e também recebeu muitos elogios - ao exibir nas páginas da "Glamour" os "pneuzinhos" salientes.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

A Argentina se despede de Mercedes Sosa

Leia mais abaixo matéria publicada na edição de hoje do El País sobre o funeral de Mercedes Sosa.

Chau, Negra
SOLEDAD GALLEGO-DÍAZ - Buenos Aires - 05/10/2009

Miles de personas han acompañado los restos de Mercedes Sosa desde el Congreso hasta el cementerio de la Chacarita, donde han sido incinerados en una ceremonia íntima. Los porteños saludaron con aplausos el paso de la comitiva fúnebre por las calles de la ciudad. "Chau, Negra" y "No se va, la Negra no se va" resonaron en casi todas las esquinas y en el mismo cementerio bandas populares y seguidores de la folklorista interpretaron y bailaron sus canciones. "Gracias a tu vida, que nos ha dado tanto", entonaba un numeroso grupo de admiradores, parafraseando la canción de Violeta Parra que ella interpretó por todo el mundo.

El velatorio de los restos de la Negra Sosa, que falleció en la madrugada del domingo a los 74 años, se ha desarrollado en la capilla ardiente instalada en el palacio del Congreso de los Diputados, donde se han formado, durante toda la noche, largas colas de admiradores y donde han acudido ininterrumpidamente artistas, músicos, cantantes, escritores y políticos a dar su pésame al único hijo de la cantante. La fila, de casi medio kilómetro, para entrar en el Congreso estaba integrada mayoritariamente por gente humilde que llevaba una única flor o un mensaje escrito dificultosamente en papel para depositar cerca del féretro, Entre los apenados seguidores había no solo argentinos, sino también muchos inmigrantes peruanos, uruguayos, chilenos y paraguayos para los que Mercedes Sosa fue también una intérprete cercana y muy querida. Fueron ellos los que llenaron el Salón de los Pasos Perdidos de miles de flores, depositadas una a una, frente a las enormes coronas oficiales,

La presidenta Cristina Fernández acudió al Salón de los Pasos Perdidos en la noche del domingo, acompañada de su marido, Néstor Kirchner y en La Chacarita se pudo ver, mezclados con el público, al gobernador de Buenos Aires, Daniel Scioli, y al gobernador de Santa Fe, el socialista Hermes Binner. La presidenta decretó tres días de duelo nacional, medida a la que se sumaron la ciudad de Buenos Aires y su Tucumán natal.

El impacto que ha tenido la muerte de la folklorista argentina en toda América Latina queda reflejado en el comunicado emitido por el ministro de Cultura brasileño, Juca Ferreira: "Fue una mujer fraterna, comprometida con el arte latinoamericano Una voz inmortal que continuará en nuestras voces. Mercedes Sosa fue una voz potente que al demoler fronteras nos enseñó algo más allá de territorios y banderas. Con ella aprendimos lo que tenemos que compartir los pueblos y las naciones"

El multitudinario entierro ha puesto de manifiesto la gran popularidad de Mercedes Sosa y el afecto que suscitaba entre sus compatriotas, pero también el fuerte compromiso político y social que mantuvo la cantante toda su vida y que se tradujo en la presencia de partidos de izquierda y grupos populares que llenaron el cementerio con sus banderas rojas y símbolos de la paz. "Mercedes Sosa deja su música, pero también una actitud y un compromiso", ha asegurado, desde Chile, el actor Héctor Alterio, que coincidió con la Negra en Madrid, durante su exilio. Diego Maradona, que ha acudido al velatorio con su esposa y una de sus hijas, se ha referido a Mercedes Sosa como una "diosa de la libertad". "Murió una de las mejores del mundo", ha asegurado.

Saudades de Mercedes Sosa


Foi amor à primeira vista. Não, amor à primeira escuta. A voz melodiosa da argentina tomou de assalto a alma do sertanejo abestalhado recém-chegado à Natal. Era o início da década de oitenta, e eu, como tantos, sonhava em assaltar os céus. E Mercedes Sosa nos embalava. O mundo mudou e nós também. Mas Mercedes Sosa, ao menos prá mim, continuou a ser uma aposta, se não no melhor dos mundos (e, hoje, sabemos que essa busca, não raro, alimentava aterradores pesadelos totalitários e projetos de poder não tão belos assim...) ao menos em um mundo um cadinho melhor. Sua morte, ocorrida neste final de semana, tira um pouquinho mais de cada um de nós que amavámos tanto a revolução. Confira no Página 12 (em espanhol) um conjunto de matérias sobre a musa. E assista uma música imortalizada na sua interpretação.

O ótimo documentário de Joel Zito Santana sobre a prostituição



"Cinderelas, Lobos e um príncipe encantado" é o novo documentário do competente cineasta Joel Zito Santana (fiz referência a ele no post mais abaixo). Trata-se de uma obra que nos leva a pensar não apenas sobre o mercado de sexo e o turismo no Brasil contemporânea, mas, sobretudo, sobre as relações étnicas e de gênero em um mundo globalizado. Apesar da temática "pesada", trata-se de um filme "leve" que você assiste sem se chatear. Confira! Clique abaixo e assista ao trailer.

Prostituição

Na quarta-feira passada, dia 30, no Programa 3 a 1 (que é apresentado no horário das 23 horas), na TV Brasil, assisti a um ótimo debate sobre a legalização da prostituição. A socióloga, prostituta aposentada e fundadora da polêmica grife DASPU, Gabriela Leite, debateu com o cineasta Joel Zito Santana e a historiadora Beatriz Kushnir. Concordo inteiramente com a necessidade de legalização da prostituição. Parece-me algo tão óbvio que fico pasmo quando escuto as boutades contrárias a regulamentação da atividade. Como afirmou Gabriela, é a ausência de regulamentação desse mercado (sim, mercado de serviços sexuais, ora pois...) que abre espaços para o seu controle pelo crime organizado. Por outro lado, é também a ausência de regulamentação que cria situações aberrantes como o tráfico de mulheres e o exercício da atividade em espaços e condições degradantes.

Por falar nisso, disponibilizo aqui algumas fotos sobre a prostituição de rua na Espanha. Aviso: trata-se de material chocante.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

De dores na alma e de outras fraturas

Há alguns anos conheci uma intelectual brilhante. Inovadora e competente, ela impulsionou todo um campo de pesquisas em um inóspito terreno das ciências sociais. Jovem, bonita e dotada de uma inteligência invulgar, ela era (e é), no entanto, o avesso de certos tipos "intelectuais" que vicejam no ambiente acadêmico brasileiro. Nela, a seriedade no trabalho caminha ao lado de uma generosidade muito grande com os iniciantes. Convivendo com ela, você percebe que ela tem um mal-estar quase físico em relação aos salamaleques e pavonices dos convescotes intelectuais.

Hoje, ao saber dela, fiquei com a alma dolorida. Na conversa com uma amiga em comum, soube que ela está mal, recebendo tratamento especializado e distante de tudo. Os sofrimentos da alma torturam-lhe os dias. A depressão, esse "demônio" que chega inesperadamente para um número cada vez maior de pessoas, está, espero que momentanemante, derrotando-a.

Todos que convivem com pessoas com depressão sabem o quanto é díficil a luta a ser travada. Quem está do lado, na maioria das vezes, é tomado por um doloroso sentimento de impotência... E, no geral, o doente, destituído das habilidades sociais correntes (como manter uma conversação ou fazer o "social"), é condenado ao abandono e à solidão.

Mas ainda tem quem ache que gente não é algo descartável como uma bolsa de boutique. Que você não pode abandonar os que estão se perdendo porque, sabe-se lá!, amanhã será você mesmo a precisar da presença de outrem para suportar a sua companhia na sua descida aos porões aterradores a que nos levam os sofrimentos da alma. Por isso, a minha amiga tem uma colega de trabalho que está acompanhando-a no seu trajeto no labirinto. Pelo menos isso...

A minha amiga Eliana Louvison, alguém com quem aprendo sempre um bocado sobre psicologia, costuma dizer que "viver não é bolinho, não". Ela atende em uma clínica e resiste a essa constatação de aumento descontrolado da depressão. Ela acha que o que estamos vivendo é uma situação na qual a depressão é o rótulo para um sentimento humano e radical, que está se espraiando velozmente com o aumento da reflexividade social: a melancolia. Prá ela, é muito fácil (e perigoso!) ficar empurrando cada vez mais gente para o "admirável mundo novo do Prozac"... O abismo é bem maior do que o que estamos acostumados a aceitar.

Bueno, eu não sei muito sobre isso. Mas eu sei que quero que a minha amiga se (re)encontre e que ela volto a ser o que sempre foi. Fico aqui na torcida...

A China sessenta anos depois



Há sessenta anos a revolução liderada por Mao-Tsé-Tung triunfavava e a grande China iniciava uma face da sua história que, pelo bem e pelo mal, iria redefinir a geopolítica mundial. Neste século XXI, por uma dessas ironias da história, os humores da economia do país (dito comunista) afeta os mercados globais. Há muito a se pesquisar e se comentar. Voltaremos ao assunto.