sexta-feira, 30 de julho de 2010

Diário de Natal confirma análise feita aqui

A edição de hoje do jornal Diário de Natal, ao divulgar pesquisa do Instituto Vox Populi sobre as eleições para o Governo do Estado do RN, confirma análise que fizemos aqui. Veja o post A disputa para o Governo do RN: algumas especulações.. Confira abaixo a matéria do jornal natalense.

Rosalba lidera e Iberê chega ao 2º lugar na pesquisa Vox Populi

A pesquisa Vox Populi/Band/Diário de Natal aponta a senadora Rosalba Ciarlini (DEM) como a líder em intenções de voto para o governo do estado com 53%, seguida pelo governador Iberê Ferreira de Souza (PSB), que ultrapassou o ex-prefeito de Natal Carlos Eduardo Alves (PDT), e aparece com 18%. O candidato do PDT tem 13%.

O levantamento foi realizado entre os dias 17 e 20 de julho de 2010, e ouviu 700 pessoas na capital e em municípios de todas as regiões do estado. Na primeira rodada da Vox Populi, divulgada no dia 18 de maio, o ex-prefeito figurava em segundo lugar, com 16%, seguido por Iberê Ferreira, com 15%.

Os demais candidatos ao governo do estado, Bartô Moreira (PRTB), Camarada Leto (PCB), Roberto Ronconi (PTC), Simone Dutra (PSTU) e Sandro Pimentel (PSOL) não pontuaram. As intenções de votos brancos ou nulos chegaram a 6% e os que não sabem em quem votar ou não responderam à pesquisa somam 10%.

Na pesquisa espontânea, em que o nome dos candidatos não é citado na pergunta ao eleitor, a colocação dos três primeiros candidatos é a mesma. Rosalba teve 37% das intenções de voto, Iberê 15% e Carlos Eduardo 8%. O candidato Bartô Moreira não pontuou; outros, brancos ou nulos somaram 7%. Os que disseram ainda não saber em quem votar somaram 33%.

A candidata do DEM lidera a disputa eleitoral em todas as regiões do estado. Na capital potiguar ela alcança 41% das intenções de voto e na região metropolitana 46%. Carlos Eduardo é o segundo colocado nas áreas citadas, com 22% na capital e 23% na região metropolitana. A maioria dos que votam em Rosalba é do sexo masculino, ou seja, 55%.

Apesar de ser o segundo candidato mais votado em Natal, Carlos Eduardo foi o que alcançou o maior índice de rejeição na capital potiguar: 22%. No estado, o governador Iberê de Souza aparece com 17%. Carlos Eduardo é rejeitado por 16% dos eleitores e a senadora Rosalba Ciarlini tem 5% de rejeição.

A margem de erro da pesquisa é de 3,7 pontos percentuais, eo intervalo de confiança é de 95%. A pesquisa foi registrada junto à Justiça Eleitoral, no Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do Norte, com o protocolo nº 18.492/10, e no TSE, com o protocolo no. 19.926/10, no dia 17 de julho de 2010. A primeira pesquisa, divulgada em maio, foi registrada no TRE/RN sob o nº 10.515/10 e no TSE, 11.310/10.

Governo do Estado

Se a eleição para governador do Rio Grande do Norte fosse hoje, em qual destes candidatos você votaria?

Rosalba Ciarlini 53%
Iberê Ferreira 18%
Carlos Eduardo 13%
Branco/nulo 6%
Não sabem/não responderam 10%
Observação: os demais candidatos a governador não pontuaram.

Por Fernanda Zauli e Erta Souza, da redação do DIARIODENATAL

Uma entrevista sobre justiça, segurança pública e muito mais

Você não pode deixar de assistir a uma entrevista concedida pelo Secretário Nacional de Justiça, Pedro Abramovay, ao jornalista Alon Feuerwerker. Confira abaixo!

Artigo de Paulo Linhares

O jurista Paulo Afonso Linhares, que recentemente concluiu o seu doutorado em direito na UFPE, escreve regularmente no jornal Gazeta do Oeste, de Mossoró, sobre assuntos políticos e jurídicos. Seus textos sempre provocam boas reflexões. Confira aí mais abaixo o mais recente deles.

MUDAR PARA MANTER
PAULO AFONSO LINHARES



Nas democracias incipientes - a exemplo da brasileira - atores sociais e instituições nem sempre têm seus contornos perfeitamente definidos. Oscilam, vacilam. Aliás, isto beneficia enormemente um certo tipo de elite que, em sendo detentora de posições hegemônicas, torcem e trabalham para que os avanços não aconteçam, sobretudo que as massas populares passem a controlar o aparelho estatal. Tudo bem no ritmo das palavras do jovem Tancredi, personagem de Lampedusa no seu romance (filmado por Luchino Visconti e estrelado pela beleza resplandecente de uma estonteante Claudia Cardinale...) O Leopardo: «Se vogliamo che tutto rimanga come è, bisogna che tutto cambi». As coisas precisam mudar para continuar as mesmas.

A tradução tupiniquim dessa parêmia lampedusiana é o engodo das elites que se perpetua nas diversas fases do Estado brasileiro, bem explicita nos períodos do Império e da República Velha e cada vez mais encoberta nos dias atuais, sobretudo em face do inegável avanço institucional que originou a Constituição de 1988, cujo processo constituinte foi palco do enfrentamento dos diversos atores sociais, marcadamente com a efetiva participação dos movimentos populares e das organizações da sociedade civil. Claro, o espírito de Tancredi (e do seu homônimo nacional, Tancredo Neves...) dominou os debates opondo aos trabalhos constituintes impasses enormes, os chamados "buracos negros" e a consequente hegemonia de um bloco de centro-direita que passou à história como "Centrão".

Na Constituição Cidadã, infelizmente, as coisas precisaram mudar para permanecer a mesma coisa. Construiu-se paralelamente àquele processo, entretanto, um diferencial: o inevitável ascenso do movimento populares e o fortalecimento das instituições da sociedade civil, como fruto natural da descompressão política, do vácuo causado pelo fim da ditadura militar. A conjugação desses fatores permitiram que se tenha incorporado à vida nacional uma série de novos e inimagináveis elementos como, p. ex., os quase oito anos de mandato de um presidente da República de origem operário-popular, em clima de estabilidade política, progresso econômico e, sobretudo, do resgate de considerável parcela da enorme dívida social acumulada em cinco séculos de Brasil.

O postulado de Tancredi foi quebrado, mas, nunca definitivamente afastado. Parcela considerável da elite política nacional, de modo nostálgico a ele recorre com desabusada frequência. Nas campanhas eleitorais preferem tomá-lo apenas em parte: qualquer que seja a ideologia do partido ou candidato, mesmos aqueles de cariz mais conservador, a palavra de ordem é sempre mudança, mudança... e mudança ("...bisogna che tutto cambi"), sem explicação alguma sobre o porquê, o para quê ou o para quem, dessas mudanças. Seja de direita, centro ou esquerda, o lero-lero dos candidatos é a regra, pois raramente enxerga-se neles maior consistência de plataforma política ou político-administrativa. Só conversa mole ataviada por marqueteiros bem pagos e mal intencionados. As informações que chegam ao cidadão-eleitor raramente são verazes e inteligíveis; visam, sempre, formar um convicção e obter, a partir dela, o consentimento plasmado no voto, pedra angular do regime democrático. Vitorioso pela unção das urnas, o até então candidato assume ares de semideus e passa a recitar uma nova palavra de ordem: que as coisas permaneçam como são (...che tutto rimanga come è). Doravante, o mandato lhe pertence para o que der e vier, trocar ou vender. É o vale-tudo no tabuleiro das conveniências. Cáspite!



quarta-feira, 28 de julho de 2010

A disputa para o Governo do RN: algumas especulações

Nas próximas eleições, 2.246.691 eleitores estarão aptos a votar no Rio Grande do Norte. Se você somar os eleitores de toda a Grande Natal (incluindo, além da Cidade do Natal, São Gonçalo, São José de Mipibu, Macaíba, Parnamirim, Maxaranguape e Extremoz), Mossoró, Caicó, Currais Novos, Apodi e Pau dos Ferros, todos juntos, somam 938.779 títulos eleitorais. É muito? Claro que é! Mas, veja só!, esse total significa apenas 41% do total do eleitorado do RN.

Que lições tirar desses números em relação à disputa para o Governo do Estado?

1) O eleitorado dos grandes colégios eleitorais, em tese mais autônomo em relação ao Estado e às redes de clientela, pode até votar majoritariamente na candidata do DEM, Rosalba Ciarline, mas isso não significa que, alcançando 60% dos votos nessa base eleitoral, a candidata do DEM estará eleita no primeiro turno. Não podemos esquecer que toda essa enxurrada de votos significará algo em torno de 26% do total de votos do RN. É muito, mas não garante vitória no primeiro turno.

2) Carlos Eduardo pode até alcançar um confortável segundo lugar na Grande Natal, mas, muito provavelmente, mesmo ajudado pela votação que possa alcançar em Caicó (dado que o seu vice é oriundo da capital do Seridó) dificilmente alcançará uma votação que o deixe muito na dianteira de Iberê.

3) Nessa base eleitoral (formada pelos grandes colégios eleitorais), Iberê precisa conquistar pelo menos 15% dos eleitores para se viabilizar para o segundo turno. Com a condição, claro!, que, nos pequenos municípios conquiste algo como 50% do eleitorado. É difícil, mas não é uma missão impossível.

4) A máquina do Estado e as redes de clientela são mais fortes nos pequenos municípios. Ora, é exatamente nesses municípios onde Iberê deverá centrar (já o está fazendo) todas as suas, digamos, manobras táticas.

5) Caso não ocorra um fenômeno eleitoral significativo (algo como uma “onda Carlos Eduardo”), com os dados de hoje, é razoável apostar que teremos segundo turno nas eleições para Governador no Rio Grande do Norte. E mais: que esta segunda fase terá como contendores a candidata do DEM e o candidato do PSB.

Música para acalmar sua alma

Feminista e prostituta?



Bueno, confira aqui matéria (em francês) sobre filme que formula essa questão.

Razões para acreditar no Brasil, segundo o The Economist

Vale a pena fazer um esforço e ler. É a cara com a qual o Brasil está aparecendo para o mundo...

Four reasons to believe in Brazil
The Economist

WHEN, in 2001, Goldman Sachs dreamt up the acronym BRICs for the largest emerging economies, the country that most people said did not belong in the group was Brazil. Today, the leading candidate for exclusion is Russia. But some prominent observers are still sceptical about Brazil’s prospects. A notable example is Martin Wolf, the chief economics commentator of the Financial Times, who recently (and very reasonably) pointed out that Brazil’s share of world output has actually fallen over the past 15 years, from 3.1% in 1995 to 2.9% in 2009 at purchasing-power parity. “Brazil cannot become as big a player in the world as the two Asian giants”, China and India, Mr Wolf concludes.

At a recent meeting with a group of investors in Hong Kong, Rubens Ricupero offered an intriguing counterargument. A long-serving and respected Brazilian diplomat, Mr Ricupero was the secretary-general of the United Nations Conference on Trade and Development from 1995 to 2004. Although he has links to the opposition to Brazil’s ruling Workers’ Party—he previously served as finance minister in the government of a rival party—his analysis is not party-political. “For the first time in its history,” he argues, Brazil is enjoying “propitious conditions in four areas that used to pose serious limitations to growth.” They are:
Commodities. Commodity production used to be regarded as either a curse or, at best, something countries ought to diversify away from as quickly as possible (which Brazil itself did in the 1970s). But over the next fifty years, Mr Ricupero notes, half the expected increase in the world population will come from eight countries, of which only one—America—is not sucking in commodities at an exponential rate of increase. The others are China, India, Pakistan, Nigeria, Bangladesh, Ethiopia and Congo. China alone will account for 40% of the additional demand for meat worldwide, he points out. This demand will remain strong partly because of rising population and partly because of urbanisation, which increases demand for industrial commodities (like iron ore to make steel) and meat (because urbanisation changes eating habits). Brazil is already a large iron-ore producer, and has transformed itself into an agricultural powerhouse over the past 10 years, becoming the first tropical country to join the ranks of the dominant temperate-climate food exporters such as America and the European Union. It is well-placed to benefit from the emerging markets’ commodity boom.


Petroleum. Mr Ricupero argues that the success of the Brazilian state oil company, Petrobras, in offshore oil exploration has transformed Brazilian energy. “Although no precise and final estimates can be made yet of the [so-called] pre-salt oil reserves potential of the Santos Basin,” he says, “all serious indications point to the high likelihood that Brazil is poised to become at least a medium-sized net oil-exporting country.” New oil and gas deposits far away from the volatile Middle East should increase Brazil’s strategic importance, as well as improving its balance-of-payments position.

Demography. Brazil is reaping a big demographic dividend. In 1964, its fertility rate (the average number of children a woman can expect to have during her lifetime) was 6.2. It fell to 2.5 in 1996, and is now below replacement level, at 1.8, one of the sharpest drops in the world. The result has been a collapse in the dependency ratio—the number of children and old people dependent on each working-age adult. As recently as the 1990s, that ratio was 90 to 100 (ie, there were 90 dependents, mostly children, for each for every 100 Brazilians of working age). It is now 48 to 100. Thanks to this, Brazil no longer has to build schools, hospitals, universities and other social institutions helter-skelter to keep pace with population growth. Eventually, the ratio will creep back up as today’s workforce enters retirement, but such problems remain decades ahead. In the meantime, Brazil can pay more attention to the quality rather than the quantity of its social spending, which should, in theory, improve the population’s education, health, and work skills.

Urbanisation. Urbanisation both encourages economic growth and accompanies it. But it also causes problems. “Many of the worst contemporary problems in Brazil,” Mr Ricupero says, such as “lack of educational and health facilities, poor public transportation, marginalisation and criminality, stem from [an] inability to cope with internal migrations in an orderly and planned way.” That is now changing, he argues. The waves of migrants out of the countryside and into the cities have more or less finished. Brazil is now largely an urban country: about four-fifths of the population lives in cities. “For Brazil,” he concludes, “the period of frantic and chaotic growth of big cities that is now taking place in Asia and Africa is already a thing of the past.”
Mr Ricupero is relatively cautious about the conclusion. “The four sets of conditions outlined above,” he says “are by no means sure guarantees of automatic success.” He admits Brazil has fallen behind in infrastructure, for example, and says that, if it had the sort of infrastructure you see in Costa Rica and Chile (the two best examples in Latin America), economic growth would be about two percentage points higher per year. On the other hand, Brazil also has some other advantages: unlike China, Russia and India, it is at peace with its neighbours (all 10 of them). Whether you think all this really amounts to a rejoinder to Mr Wolf is a matter of doubt. Brazil might still remain a relatively small player in the world. Still Mr Ricupero’s points are, at least, actually happening (not things expected in future), can be measured in concrete terms and are long-term (they should continue for decades). Who knows? Perhaps they might even be right.

Partido pequeno é uma coisa diferente de partido nanico

O PSTU é pequeno, mas, a não ser alguém de alma pequena, quem haverá de chamá-lo de nanico? Goste-se ou do partido trotskista, ele tem inserção social e mobiliza paixões, embora de poucos(as). Seus militantes estão nos sindicatos, nas escolas, nas universidades... E defendem com garra e convicção os posicionamentos da legenda. Nada, mas nada mesmo!, em comum com esses partidecos que, aqui no Rio Grande do Norte, alugam-se aos projetos individuais de um ou outro trânsfuga dos "grandes partidos". Sobre essa questão, leia, mais abaixo, uma análise sobre a questão.


Entre partidos nanicos e pequenos partidos
Bruno Lima Rocha


Sempre que entramos em período de campanha, nos deparamos com o fenômeno dos chamados partidos nanicos. Quase sempre o neologismo político brasileiro é depreciativo. Assim o foi na era dos políticos biônicos, depois dos pianistas e contemporaneamente, com mensaleiros e albergueiros. É uma das pautas obrigatórias em ano de Copa do Mundo, uma vez que os iniciados em política percebem este fenômeno como no mínimo indesejável.

Semana passada um periódico eletrônico rio-grandense entrevistou-me a respeito, junto a outros colegas, e não por acaso entramos em acordo conceitual.

O primeiro esforço de definição está em não confundir quando se trata de representação e postos de governo, as legendas nanicas, tristemente reconhecidas como siglas de aluguel, com os pequenos partidos políticos. Vejamos as diferenças.

Os chamados partidos nanicos seriam aqueles desprovidos de representatividade institucional e tampouco teriam a devida base social ou coesão ideológica. Dentre os três problemas, o primeiro é transitório. Partidos que hoje ocupam postos de governo em toda a América Latina, o Brasil incluído, já tiveram uma ínfima expressão em parlamentos e níveis de governo.

Já os dois outros problemas, além de não serem passageiros, também se revelam em grandes legendas. E talvez aí esteja o nó da questão.

Se a democracia eleitoral e representativa (portanto indireta) está com dificuldades de legitimação dado o afastamento entre representante e representado, entre eleito e eleitores, imaginemos a noção de legitimidade de uma legenda desconhecida e quase igual às demais? Quando a semelhança se parece com a não virtude, o que resta?

Quanto menos significado tiver uma sigla, mais parecido com um “ensopado de letrinhas” ficará a política que elege como arena única a disputa eleitoral. Ajudando a gerar um sentido de ainda maior confusão, os partidos nanicos contribuem para aumentar o fosso entre as carreiras de candidatos profissionais (ou aventureiros) e a cidadania ativa.

Os valores da cultura política brasileira já estão por demais atravessados pelo comportamento fisiológico, patrimonialista e com relações de clientela. Portanto, a associação de que o naniquismo partidário implicaria em oportunismo de baixa intensidade, ajuda a rebaixar a apreciação da concorrência através do voto.

Já os partidos pequenos, embora não sejam exclusivamente de esquerda, tem a maior incidência desta tradição. É o caso atual de PSTU, PCO e PCB. A diferença destas legendas para as nanicas, além da coerência ideológica, é a inserção social.

Todas têm frentes de trabalho para além do calendário eleitoral, tais como em sindicatos, meios estudantis, de moradia e lutas específicas. Nestes ambientes, estas agremiações são obrigadas a conviver e disputar com outras correntes e organizações, eleitorais ou não. Desse modo, sua presença em determinados setores de classe torna-se característica, dando conteúdo substantivo para os respectivos programas.

A atuação dos pequenos partidos de esquerda é mais coesa e permanente, tendo vida interna e incidência todo o ano. Desse modo, acabam por isolar as chamadas nanicas, resumidas em apenas mais do mesmo. A diferença é apenas em escala, sendo repetidoras de tamanho diminuto das contumazes das mazelas da política brasileira.

Bruno Lima Rocha é cientista político - www.estrategiaeanalise.com.br / blimarocha@via-rs.net

Quem são os inimigos da Universidade Pública?

Leia a estarrecedora matéria abaixo, publicada no UOL, e descubra como ocorre, no dia a dia, a destruição da Universidade e da coisa pública no Brasil. Não, não é o tal do neoliberalismo o grande inimigo da Universidade Pública. O inimigo já está dentro da casa...

Com greve de funcionários, equipamentos novos da UnB ficam parados no depósito

Thássia Alves
Da Agência UnB
Em Brasília

Com a greve dos funcionários técnico-administrativos, que já dura 138 dias, o almoxarifado da UnB (Universidade de Brasília) segura em seu depósito equipamentos recém-comprados, mas que não foram distribuídos para as unidades acadêmicas. Como 82 aparelhos de ar-condicionado que foram entregues mas não chegaram ao seu destino final. Em assembleia, nesta terça-feira, 27 de julho, os servidores técnico-administrativos decidiram continuar a paralisação.

Os aparelhos da marca Komeco custam em média R$ 1,5 mil cada. Um total de R$ 123 mil. Seis catracas permanecem encaixotadas desde que foram entregues em 30 de junho. A nota fiscal mostra o valor gasto pela universidade: R$ 95 mil. O descaso não para por aí. Vinte e seis cadeiras estofadas foram entregues na manhã desta segunda-feira, 26 de julho. Mas não há como saber quando vão ocupar as salas de aula. Cada uma custou R$ 189. Caso os equipamentos estraguem, a UnB pode ser responsabilizada por dano ao erário público.

Presos no almoxarifado, os equipamentos sofrem com a ação do tempo e a má acomodação. “O grande motivo é a greve. Nada é entregue desde 17 de março”, conta Eudes Queiroz, chefe do Serviço de Patrimônio Mobiliário da UnB. Ele afirma que o espaço não é ideal para o armazenamento de aparelhos, pois está em reforma. “Estamos ampliando o depósito, então temos que ter cuidado ao armazenar para que não fiquem expostos ao sol ou a chuva”, disse. Segundo ele, até para que os materiais sejam entregues é preciso contar com o apoio do Comando de Greve. “Cada vez que chega alguma coisa temos que ligar para eles. Aí eles abrem o portão do depósito”.

O período de chuva é o que mais preocupa o decano de Administração e Finanças. Pedro Murrieta afirma que durante a seca o risco de danos é menor. “Até agora não tivemos evidências de prejuízo. Porém, quando esses equipamentos forem entregues, caso haja problemas, poderemos enfrentar dificuldades”, afirma.

Os galões de água são os únicos itens que são liberados. Mesmo assim, cada departamento tem que ir até o depósito para buscá-los. Os veículos da universidade, que fazem o transporte da água, estão trancados na garagem. Quem decide qual carro pode ser abastecido e deixar o local é o Comando de Greve. Quem entra na garagem espanta-se com a quantidade de pessoas paradas. Andando de um lado para outro aproximadamente cinco motoristas jogavam conversa fora. Terceirizados, eles vão até a local de trabalho todos os dias. Mas as determinações do Comando de Greve impedem que eles exerçam suas funções.

"Assim como eu, que sou servidor, eles também estão à disposição. Mas não têm como trabalhar”, explica José Carlos Silvestre de Souza, coordenador de transporte da Universidade. Somente veículos do Hospital Universitário de Brasília (HUB), da Reitoria e da Coordenadoria de Proteção ao Patrimônio (COPP) são liberados. “Não há como os outros carros serem abastecidos nem há maneiras deles deixarem a garagem. As chaves do portão e da bomba de combustível estão com o Comando de Greve”, completa.

Paulo César Marques, prefeito dos campi, afirma que toda parte administrativa da UnB continua parada. Quando há algum serviço que precisa ser feito com urgência é necessário fazer uma negociação com o Comando de Greve. “Muitas vezes a gente não consegue convencê-los da necessidade do trabalho”, explica o prefeito. “No almoxarifado, os equipamentos estão parados e mal acomodados. Não temos tido apoio para realização de eventos. A garagem permanece fechada”, listou o prefeito.

Cosmo Balbino, coordenador-geral do Sindicato dos Trabalhadores da Universidade de Brasília (Sintfub), explica que há uma preocupação em executar os serviços que são urgentes. Mas que o movimento grevista é caracterizado pela paralisação. “Temos sido flexíveis. Temos tido carinho com os alunos e professores que não estão em greve“, afirma.

Entulhos
Restos de concreto, vaso sanitário, dezenas de papelões, tijolos quebrados, lâmpadas fluorescentes, sacos de cimento, latas de tinta, carteiras e até um sofá quebrado fazem parte do jardim do Departamento de Linguística, Português e Línguas Clássicas (LIP). Os entulhos foram colocados ali após a reforma do Anfiteatro 13. Desde então, não foram removidos. Quem passa pelo local assusta-se com a montanha de lixo. Mosquitos e poeira atrapalham o cotidiano de funcionários, alunos e professores.

Para que o lixo seja removido, o Comando de Greve precisa liberar um caminhão para retirar os entulhos. Paulo César afirma que visitou o departamento na última sexta-feira, 23 de julho. “O que acontece no módulo 20 é um caso de saúde. Tem muitos mosquitos e bichos. A poeira também é constante. Mas dependemos do Comando para retirar essa sujeira”, afirma.

De acordo com a coordenadora do LIP, Enilde Leite de Jesus Faulstich, uma porta, que dá acesso a sala de eventos, não pode ser aberta em razão da sujeira. “Ficamos sem ventilação. A poeira entra e são muitos mosquitos. A cortina, usada no datashow, vive suja de poeira. Minha preocupação é com a saúde das pessoas que trabalham ali. Os professores saem e vão dar aula, mas os funcionários ficam no departamento por todo o dia”, considera Enilde.

Serviços essenciais
Decisão do Tribunal Regional Federal da 1ª Região determinou o retorno de todos os funcionários do Hospital Universitário de Brasília (HUB) e de 80% dos servidores do Bandejão. Segundo Cristiane Costa, diretora do Restaurante Universitário, as refeições estão sendo servidas normalmente. “Eles estão cumprindo a escala de trabalho (leia mais aqui). A greve não é mais um problema”, garantiu. A situação se repete no HUB. “Aqui não tivemos nenhum tipo de problema. Eles estão trabalhando desde a determinação da Justiça”, assegurou Gustavo Sierra Romero, diretor do hospital.

terça-feira, 27 de julho de 2010

O ritmo do blog

Estou em meio a uma correria daquelas, para variar. Aqui na UFRN, dentre outras coisas, temos o encontro anual da SBPC e o Encontro Nacional dos grupos PETs. Na próxima semana, o ritmo será o mesmo. Será outra semana de trabalho, avaliando cursos de pós. Por isso mesmo, nesta semana e na próxima, continuarei blogando muito devagar. Mas, prometo!, logo voltarei ao ritmo de sempre.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

O blog de Cláudio Oliveira

Cláudio Oliveira, chargista do jornal Folha de São Paulo, é um velho conhecido de muitos de nós, aqui da esquina do Atlântico Sul. Além de profissional competente, é uma das pessoas mais interessantes que eu tive o privilégio de conhecer.

Bom. Hoje, meio por acaso, descobri que o Cláudio, além de fazer tudo o que faz (com a verve criativa de sempre), pilota um blog no UOL. Maravilha! Então, vamos lá? Clique aqui acesse e você também.

A amizade segundo a psicanálise



O texto abaixo, retirado da edição eletrônica do jornal argentino PÁGINA 12, é uma reflexão interessante sobre a amizade. Está em espahol (não tive tempo e nem competência para traduzi-lo), mas faça uma esfoço e o leia. Acredito que vais gostar.


Una hermandad elegida
Por Luis Kancyper *


Si bien el psicoanálisis se ocupa básicamente de la posición del sujeto frente al otro, el tema específico de la amistad ha sido escasamente profundizado en la teoría y en la clínica. El amigo ejerce una función de acompañamiento en los estados angustiosos de soledad y en situaciones conflictivas relacionadas con el amor de la pareja y de la familia. Al configurar una lógica horizontal de confraternidad solidaria, permite procesar el desasimiento del poder vertical ejercido por los padres y por los hijos.

La amistad es una relación de hermandad elegida, no impuesta por lazos consanguíneos, en la que se desactivan los deseos edípicos y fraternos puestos en movimiento por la aspiración fálica de alcanzar a ser el heredero único y el preferido hijo de un padre-madre-Dios. En la amistad se establecen relaciones de objeto exogámicas –aunque con facilidad pueden infiltrarse en ella las conflictivas narcisistas y parentales–. En la amistad, los lazos consanguíneos son reemplazados por lazos sublimatorios.

Es en la amistad donde se desactivan, en gran medida, las relaciones de poder, que impiden su surgimiento y su preservación. Pregunta Nietzsche: “¿Eres un esclavo? Entonces no puedes ser amigo; ¿Eres un tirano? Entonces no puedes tener amigos”. Simone Weil señaló que “cuando alguien desea subordinar a un ser humano o subordinarse a él, no hay traza de amistad”.

No hay amistad sino cuando se respeta el derecho a la recíproca autonomía de lo distinto en uno mismo y en el otro, y cuando esa distancia entre los sujetos se admite y conserva. La ineptitud para establecer la amistad puede expresar una resistencia del narcisismo, como también una defensa contra la moción homosexual.

La amistad aporta además una singular función trófica durante las diversas fases de los procesos de la creatividad, a través del suministro de distintos modelos de identificación y de confrontación, que posibilitan cotejar lo diferente, lo semejante y lo complementario. De entre los aspectos tróficos del complejo fraterno, sostengo que la amistad es uno de sus derivados sublimatorios. Ejerce una función primordial durante todas las etapas de la vida, pero fundamentalmente durante la adolescencia y la senescencia, porque posibilita el desasimiento del abuso del poder vertical detentado por los padres o los hijos, según la etapa de la vida.

Freud señala la contribución de la fuente erótica en distintos vínculos entre los que incluye a la amistad: “Tras alcanzar la elección de objeto heterosexual, las aspiraciones homosexuales no son, como se podría pensar, canceladas ni puestas en suspenso, sino meramente esforzadas a apartarse de la meta sexual y conducidas a nuevas aplicaciones. Se conjugan entonces con sectores de las pulsiones yoicas para constituir con ellas, como componentes apuntalados, las pulsiones sociales, y gestan así la contribución del erotismo a la amistad, la camaradería, el sentido comunitario y el amor universal por la humanidad. En los vínculos sociales normales entre los seres humanos difícilmente se colegirá la verdadera magnitud de estas contribuciones de fuente erótica con inhibición de la meta sexual” (Psicología de las masas y análisis del yo).

La amistad y el amor han sido considerados como pasiones complementarias o, más a menudo, como opuestas. Octavio Paz sostiene que “la elección y la exclusividad son condiciones que la amistad comparte con el amor. En cambio, podemos estar enamorados de una persona que no nos ame, pero la amistad sin reciprocidad es imposible”.

Para los antiguos la amistad era superior al amor. Según Aristóteles, la amistad es “una virtud o va acompañada de virtud; además es la cosa más necesaria de la vida”. Plutarco, Cicerón y otros lo siguieron en su elogio de la amistad. Aristóteles dice que hay tres clases de amistad: por interés o utilidad, por placer y por virtud. Esta es la “amistad perfecta, la de los hombres de bien y semejantes en virtud, porque éstos se desean igualmente el bien”. Los dos primeros tipos de amistad son accidentales y están destinados a durar poco; el tercero es perdurable y es uno de los bienes más altos a que puede aspirar el hombre.

Para el poeta Hugo Mujica, la amistad representa una de las formas del amor, la forma que toma la intimidad cuando incluye la distancia. La equipara a un nudo de-satado y a un pacto de gratuidad que implica un dejarse elegir, una entrega, pero “sin hacerme suyo”; incluye a los otros pero sin fusión, ni física ni espacial.

Escribe Mujica: “La palabra amigo nace de una raíz griega de la que derivan también amor y amigable. No sorprende: la amistad, lo sentimos, es una de las formas del amor, la forma que toma cuando la intimidad incluye la distancia. De esa misma raíz también sale ama, en el sentido de madre, de mamá. Tampoco esto debiera sorprender si pensamos que la amistad, como todo amor, tiene la capacidad de fecundar: engendra singularidad. Es más, podríamos decir que la amistad es precisamente el don de la singularidad: alguien me elige, me sustrae del tumulto de otras relaciones humanas, me hace únicamente, sin hacerme ‘suyo’. En este sentido, la amistad es como un nudo desatado, un pacto de gratuidad, es un acontecimiento no sólo del amor sino también de la libertad, pero la libertad comprometida en la historia del otro, del otro amigo: del singular”.

Continúa Mujica: “Este ‘sin hacerme suyo’ diferencia la amistad del amor de pareja, incluye a los otros pero sin fusión ni física ni espacial. La amistad es, constitutivamente, desinterés: no saca ni guarda nada de esa relación, salvo, claro, la gratificación afectiva: el sentimiento y el crecimiento de comprometerse en lo humano por lo humano. Deliberadamente hablé de ser elegido, no de elegir. La amistad, dijimos, pertenece a la lógica del don: no es un acto de mi voluntad; no decido ser amigo de tal o cual, acontece. Se da, se me da. Después puedo buscar razones, explicar, pero sobre algo ya acontecido, ya sentido; el origen de la amistad, como de toda forma de amor, se impone o, al menos, se propone a mi respuesta, a mi sensibilidad. Por esto la amistad también es un dejarse elegir. Una disponibilidad: la de darme, entregarme, arriesgarme a una relación. Abrirme y dejar entrar. Como don, la amistad es una gracia: la gracia de poder ser gracia para otros, dar amistad a quien me busca como amigo. Llegar a ser más que yo”.

Michel Foucault advirtió que el poder, por un lado, socializa, agrupa y compone, pero individualiza, serializa y descompone por el otro. Jeremy Bentham había ideado un dispositivo capaz de realizar esta compleja operación: el panóptico. Se trataba de disponer a los individuos en celdas separadas de manera que no tuviesen relaciones con los demás, aun cuando cada uno realizara, al mismo tiempo, una parte de un trabajo colectivo. En Vigilar y castigar, Foucault mostró cómo este dispositivo carcelario, pero también fabril, escolar o militar, se extendió febrilmente a la sociedad entera, de manera más abstracta, por supuesto, y mucho menos perceptible.

Dardo Scavino pone en evidencia la función social que puede ejercer la amistad para contrarrestar el poder “panóptico” detentado por los Amos que intentan negar y suprimir la solidaridad y la cooperación entre los miembros de una sociedad. Señala que “Maquiavelo ya lo había dicho hace más de cuatro siglos: ‘Divide e impera’”. ¿Pero cómo dividir sin destruir la solidaridad necesaria para que la cooperación productiva de la amistad y camaradería siga existiendo? Es todo el secreto del poder.

La inclusión de los psicodinamismos referidos a la amistad, como uno de los destinos sublimatorios del complejo fraterno en la estructuración de la vida psíquica, no pretende clausurar ninguno de los temas concernientes a la nodal importancia de Narciso y Edipo. Al contrario, una de sus finalidades centrales es reabrir cuestiones, partiendo desde el complejo fraterno al complejo de Edipo y el narcisismo, y viceversa, lo cual posibilita una mayor captación de la complejidad del alma humana. No se trata, por lo tanto, de declarar la caducidad del complejo de Edipo, sino más bien de descomprimirlo. En este sentido, la amistad puede instrumentarse como otra vía para la evaluación y procesamiento de las dinámicas narcisista y edípica. Entre estas tres estructuras se trama una combinatoria original y singular que determina la irrepetible identidad de cada sujeto.


* Miembro titular en función didáctica de la Asociación Psicoanalítica Argentina (APA).

quarta-feira, 21 de julho de 2010

A violência na escola: quando as vítimas são os professores

Chuva de maconha... nos EUA.

Vejam abaixo que notícia mais interessante eu capturei do UOL.

Avião faz "chover" maconha sobre área rural no Texas (EUA)

Moradores da área rural de Greenville, ao nordeste de Dallas, no Texas (EUA), viram "chover" sacos aparentemente cheios de maconha sobre suas casas na segunda-feira (19).

De acordo com a rede CBS, o vice-xerife do Condado de Hunt, Joe Knight, informou que a população relatou ter ouvido o barulho dos sacos caindo sobre os telhados. Ao os recolherem, estes continham maconha.

Depois disso, segundo Knight, a polícia passou a procurar uma aeronave de baixa altitude.

Horas depois, um monomotor foi encontrado abandonado em um campo perto do aeroporto de Caddo Mills.

De acordo com Knight, quatro sacos de nylon foram entregues à polícia. Outros dois sacos foram achados dentro do avião.

Não houve registro de danos ou feridos no incidente.

Um homem foi preso para interrogatório, mas ninguém foi indiciado em conexão com o caso.

Quando Janis Joplin foi presa...

O prontuário da inesquecível cantora, feito pela polícia.


© Fotos Police Department of Tampa. A cantora Janis Joplin durante a sua detenção acusada de conduta desordeira durante um concerto em Tampa. Flórida (EUA), 1969.

Um jornal, uma foto...

Lembro como se fosse hoje. Mas faz o quê? Quase três décadas... Era impossível não ficar entre perplexo e feliz com a manchete e a foto estampadas no jornal, naquela edição. As bancas de revista o exibiam em espaço destacado(altivez política? tino comercial).

Que jornal? Qual edição? O jornal era o TRIBUNA da luta OPERÁRIA. E a edição tinha uma manchete fantástica: "O povo não aperta essa mão". Ilutrando a manchete uma foto na qual uma garotinha se negava a apertar a mão do general-presidente João Baptista Figueredo. Era demais...

Confira a histórica foto abaixo.



De autoria de Guinaldo Nikolaevscky, a foto foi tirada durante uma solenidade no Palácio da Liberdade, em Belo Horizonte. Quanto à menina, até hoje (quando deve estar aí beirando os 40 anos!), nunca foi identificada...

A Tribuna da Luta Operária (ou TLO, para os íntimos) deixou de existir em 1998. Mas, qualquer que fosse a nossa posição no arco político-ideológico no início dos anos de 1980, não deixamos de ser, de algum modo, contaminados pelo jornalismo do combativo órgão da então denominada "imprensa alternativa".

As Farc e o debate eleitoral

O Alon Feuerwerker, como sói ocorrer quase sempre, coloco o ponto no "i" na questão do papel brasileiro em relação à guerrilha colombiana. As Farcs, pela mãos inescropulosas de certa candidato à Vice-Presidente, podem contaminar o debate eleitoral. E isso, convenhamos, é ruim para todo mundo porque ruim para um esclarecimento de posições. Tudo fica ensombreado pela mesquinharia da disputa política apequenada. Bom, mas vamos ao posicionamento do jornalista? Confira abaixo!

O Brasil e as Farc
Alon Feuerwerker

A guerra civil colombiana é porta de entrada para a ingerência externa e para a relativização da liderança brasileira. Uma solução pacífica e negociada seria o ideal, nos moldes do que aconteceu em El Salvador

É conveniente para o governo e para a oposição, para o PT e para o PSDB-DEM, que o tema das relações entre o Brasil e a guerrilha das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) permaneça na penumbra.

O assunto incomoda o PT, cujas conexões no plano internacional não são necessariamente coerentes com o papel atual, de partido governante numa democracia que ele e os aliados históricos um dia chamaram de “burguesa”.

E a nebulosidade é também útil à oposição, pronta a agitar o espantalho das Farc quando convém, sem precisar dizer o que ela própria faria com o assunto se chegasse ao Planalto.

Diversas forças políticas brasileiras -inclusive da hoje oposição- já mantiveram ou mantêm contatos com membros das Farc, para efeitos humanitários ou políticos (e é sempre complicado estabelecer uma linha divisória clara entre as duas modalidades).

No caso do PT, a proximidade é maior por razões óbvias. Em certo momento, o partido decidiu lançar o Foro de São Paulo, para coordenar a ação política da esquerda latino-americana depois do colapso do socialismo no Leste Europeu. As Farc estavam no pacote.

Mas isso é passado. A questão é saber o que fazer agora. Enquanto os demais membros do Foro ou decidiram ou foram constrangidos a adaptar-se à democracia, as Farc optaram pela continuação da luta armada. Pior: degeneraram.

Transformaram-se num agrupamento cujas principais formas de luta são o sequestro e o terrorismo. E cuja maior fonte de financiamento são a proteção e a associação ao narcotráfico. Daí que o tema das Farc esteja diretamente ligado, por exemplo, ao enfrentamento do crime organizado no Brasil.

As Farc são uma anomalia na América do Sul. A Colômbia é hoje um país democrático e a disputa pelo poder deve ser feita na legalidade. Mas o objetivo das Farc é diverso: é destruir o estado democrático na Colômbia e substituí-lo por outro, no âmbito de um projeto bolivariano, de integração revolucionária anti-imperialista.

O incômodo aparentado pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva quando as Farc entram em pauta é reflexo das contradições internas da administração. Como em outros temas -um deles é a conveniência, para o Brasil, de o Irã produzir sua bomba nuclear- não há unidade.

A divisão não impede -aliás impõe- que o governo e o PT tratem o assunto com suavidade. Um sintoma? A Esplanada está pontilhada de gente disposta a defender radicalmente os direitos humanos em muitas situações, mas não nesta.

Defende-se que a tortura é crime imperdoável. Mas os sequestros das Farc não são também uma forma de infligir deliberadamente sofrimento físico e psicológico, ao sequestrado e a seus entes queridos, para alcançar objetivos políticos? Qual é a diferença, no essencial?

Este governo, infelizmente, só gosta de fazer juízos morais sobre o alheio, e quando convém. Sobre si próprio e os amigos, seleciona, conforme o interesse, os casos em que a moral deve comandar as ações políticas. Ou não.

Governo e oposição poderiam aproveitar a campanha eleitoral para acabar com o faz de conta sobre as Farc. Interessa ao Brasil que a guerrilha colombiana deixe de existir, deixe de representar uma ameaça à integração democrática do continente, peça-chave do nosso projeto nacional. O que o próximo governo fará a respeito?

A guerra civil colombiana é porta de entrada para a ingerência externa e para a relativização da liderança brasileira. Uma solução pacífica e negociada seria o ideal, nos moldes do que aconteceu em El Salvador.

Não vai ser fácil. Teria que envolver, entre outras medidas dolorosas, uma anistia ampla e mesmo a integração dos contingentes das Farc ao exército regular.

Parece-lhe absurdo? Pois a guerrilha já se transformou num meio de vida para dezenas de milhares de pessoas. E isso tem que ser levado em consideração.

Lula poderia ter tido um papel maior no imbroglio colombiano. Não teve. Mostrou alheamento em relação a um tema tão próximo e sensível.

Talvez para não melindrar o colega Hugo Chávez, num problema que o presidente da Venezuela considera mais dele. Paciência: a Venezuela tem os interesses dela e nós temos os nossos.


Coluna (Nas entrelinhas) publicada nesta quarta (21) no Correio Braziliense.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Um índio que não será cacique...

A Marina Silva reagiu à altura às provocações de Indio da Costa, o demo que é candidato à vice na chapa do Serra. Para a candidata do PV, o Indio não tem estofo para ser cacique... Gostei da observação da Marina. Demonstrou que está distante do vale-tudo. Leia abaixo matéria a respeito das boutades do candidato.

Indio na pré-História

Paulo Moreira Leite, da ÉPOCA

As declarações de Indio da Costa, procurando estabelecer vínculos entre as FARC, o narcotráfico e a campanha de Dilma Rousseff são um escândalo — mas é preciso reconhecer que guardam coerência com sua legenda.

Herdeiro do PFL da ditadura militar o DEM possui políticos respeitáveis em seus quadros. Seria errado e injusto generalizar.

Mas embora tenha até mudado de nome o partido dá mostras seguidas de que jamais acertou as contas com seu passado sob o regime dos generais. Isso ficou claro num episódio constrangedor, quando Dilma Rousseff foi ao Congresso falar sobre uma crise na Receita Federal e o senador Agripino Maia disse que ela havia aprendido a mentir quando era torturada pela repressão política. Em um minuto, foi um passado de décadas que retornou ao presente. Chocante.

Um dos traços típicos daquele regime era fazer acusações sem prova. Compreende-se. Num tempo em que a Justiça chegava a cumprir funções decorativas, quem estava no exerício do poder podia exercitar a violência conforme suas conveniencias e interesses, sem razão para perder tempo com formalidades legais, não é mesmo?

As declarações de Indio da Costa pertencem a essa família. Qualquer cidadão que tenha se dado ao trabalho de estudar nossa vida pública na última década sabe que não é preciso ter muito trabalho para encontrar erros, desvios e contradições no PT e no governo Lula. É possível encontrar erros no mes passado, na semana passada, no minuto passado.

Mas Índio da Costa preferiu a mentira, a denuncia sem prova, o mau serviço de um tipo ruim de jornalismo que acusa e depois não consegue se sustentar. O esforço para vincular o PT às FARC e ao narcotráfico É um mau começo para quem acaba de entrar na campanha.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Cientistas e a maconha

Reproduzo abaixo matéria publicada pela Folha e reproduzida pelo Jornal da Ciência a respeito da reação de cientistas à prisão de músico. Leia!

Cientistas fazem carta pró-maconha


Neurocientistas renomados assinam documento em defesa da legalização da droga até para fins "recreativos". Nota foi motivada pela prisão do baixista da banda de reggae Ponto de Equilibrio, por plantio de maconha

Um grupo de neurocientistas que estão entre os mais renomados do país escreveu uma carta pública para defender a liberalização da maconha não só para uso medicinal, mas para "consumo próprio".

Assinam a carta nomes como Stevens Rehen, da UFRJ, coautor da primeira linhagem de células tronco no país, e Sidarta Ribeiro, diretor do Instituto de Neurociências de Natal. Eles falam em nome da SBNeC (Sociedade Brasileira de Neurociências e Comportamento), que representa 1.500 pesquisadores.

A motivação do documento foi a prisão -um "equívoco", diz o texto- do músico Pedro Caetano, baixista da banda de reggae Ponto de Equilíbrio, que ganhou repercussão na internet.

Ele está preso desde o dia 1º sob acusação de tráfico por cultivar dez pés de maconha e oito mudas da planta em casa, em Niterói (RJ). Segundo o advogado do músico, ele planta a erva para consumo próprio.

A carta o defende dizendo que é "urgente" discutir melhor as leis sobre drogas "para evitar a prisão daqueles usuários que, ao cultivarem a maconha para uso próprio, optam por não mais alimentar o poderio dos traficantes de drogas".

De acordo com os membros da SBNeC, existe conhecimento científico suficiente para, pelo menos, a liberalização do uso medicinal da maconha no Brasil.

A SBNeC se baseia em estudos que mostram efeitos terapêuticos que poderão, um dia, ajudar no tratamento de doenças como Parkinson. É uma posição bem diferente da adotada, por exemplo, pela Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas.


Em outros países

"O Brasil está atrasado nessa discussão, ao contrário do que ocorre em países como Argentina, México e Portugal", diz Ribeiro. Nos vizinhos sul-americanos, por exemplo, é permitido o porte de alguns cigarros de maconha para consumo próprio. O fumo, entretanto, não pode ocorrer na rua.

Diferentemente de quase todos os países, onde a maconha é banida, outros como a Holanda e a Espanha permitem o consumo e o cultivo para consumo próprio.

"A lei de drogas no Brasil -reformada na última vez em 2006- avançou, mas criou um paradoxo", diz Ribeiro. "A pena para o usuário baixou, mas ela não permite o cultivo para uso próprio".

Se a Justiça entender que o músico da Ponto de Equilíbrio é traficante, ele poderá ficar, pelo menos, cinco anos na cadeia. Caso ele seja considerado usuário, deverá prestará serviços sociais por apenas alguns meses.

"Falta uma espécie de manual de instruções desta lei", afirma Antônio Gonçalves, advogado especialista em filosofia do direito. A legislação, diz o especialista, não define quem é o traficante e quem é o usuário. Fica tudo para a Justiça definir. "Falta a lei dizer como proceder, para evitar situações como a do músico".

Não existe droga benéfica, diz associação

A Abead (Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas) é "totalmente contrária" a qualquer tipo de liberdade para o uso da droga. De acordo com o psiquiatra Carlos Salgado, presidente da instituição, não é verdade que a maconha seja uma droga benéfica, como defendem outros cientistas brasileiros.

- A Abead tem uma posição fechada sobre a liberalização da maconha?

Não concordamos com qualquer liberalidade para nenhuma nova droga. Como não concordamos nem para o tabaco e o álcool. Alguns avanços foram obtidos com o tabaco, exatamente porque a sociedade não concorda com a liberalidade.

- A maconha, mesmo em alguns casos, pode ser considerada uma droga benigna?

A maconha não é uma droga benigna. Não é uma droga menor, isenta de risco. Apesar de ela ser um grande problema de saúde pública no mundo inteiro, por ser a droga mais consumida entre as ilícitas, existem poucos usuários ligados de forma sistemática a maconha. Com uma eventual liberalidade, este número deve crescer. Certamente, com isso, o número de pessoas com câncer de cabeça e pescoço e pulmão, por exemplo, vai aumentar. Liberar a maconha é um equívoco. Terá que ser feito, depois, um movimento contrário, assim como ocorre com o tabaco hoje.

- A maconha não é viável nem para o uso medicinal?

Existem tantas alternativas, tanto para o controle de dor, quanto para o controle de apetite que não precisamos lançar mão de um indivíduo fumando maconha dentro de um hospital. Nem usando extrato da substância. Temos várias opções bem estabelecidas, até para pacientes terminais.

(Eduardo Geraque)

(Folha de SP, 14/7)

Cultura e política segundo Umberto Eco

Do Ex-Blog do César Maia colho o artigo de Umberto Eco abaixo transcrito. Foi publicado pelo jornal argentino CLARIN. Os créditos da tradução devem ser dados ao César Maia. Vale a pena conferir!

"A CULTURA DE UM PAÍS NÃO É CÓPIA DE SUA POLÍTICA"! Trechos do artigo de Umberto Eco no Clarín (07).

1. Na minha análise, eu observei duas coisas. Primeiro, que é necessário haver uma distinção entre as políticas governamentais de um país (incluindo sua constituição) e o fermento cultural, que está agindo dentro dele. Em segundo lugar, notei que responsabilizar implicitamente todos os cidadãos de um país pelas políticas de seu governo era uma forma de racismo. Não há diferença entre aqueles que discriminam todos os israelenses e os que sustentam que, uma vez que alguns palestinos cometem atos de terrorismo, devemos bombardear todos os palestinos.

2. Recentemente, em Turim, apareceu uma carta aberta publicada sob o patrocínio da filial italiana da “Campanha para o Boicote Acadêmico e Cultural de Israel”, uma rede de acadêmicos e organizações que trabalham para forçar uma mudança nas políticas israelenses mediante boicote a instituições israelenses. Porque esse boicote deve ser tão amplo? Devemos boicotar os filósofos chineses para que não assistam às conferências, porque Pequim censurou o Google? Se os físicos em Teerã ou Pyongyang estivessem trabalhando ativamente na fabricação de armas nucleares para os seus países, então seria compreensível que seus pares em Roma ou Oxford preferissem romper todas as relações institucionais com eles. Mas eu não vejo por que eles gostariam de romper relações com acadêmicos que trabalham em áreas distintas: todos perderíamos o diálogo sobre a história da arte coreana ou literatura antiga persa.

3. Meu amigo, o filósofo Gianni Vattino, está entre os partidários do último chamado para um boicote. Vejamos hipoteticamente, por diversão, se ele concordaria: suponhamos que em certos países estrangeiros circulem boatos de que o governo italiano de Berlusconi está tentando prejudicar o sagrado princípio democrático da separação de poderes para deslegitimar o sistema judicial, e que está fazendo isso com o apoio de um partido político racista e xenófobo. Agradaria a Vattino, que é um crítico do governo, que as universidades dos EUA protestassem contra a política italiana deixando de convidá-lo para ser professor visitante, ou que comissões especiais adotassem medidas para remover todas as suas publicações das bibliotecas dos Estados Unidos?

4. Ninguém aceitaria que todos os romenos são estupradores, todos os padres são pedófilos e todos os estudiosos de Heidegger, nazistas. Do mesmo modo, nenhuma posição política ou polêmica contra o governo deve condenar toda uma raça ou cultura. Este princípio é particularmente importante no mundo literário, onde a solidariedade global entre acadêmicos, artistas e escritores, sempre foi uma forma de defesa dos direitos humanos através de todas as fronteiras.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Música para um começo de noite...

Aqui no Campus da UFPE, onde me encontro trabalhando toda esta semana, as sombras da noite já tomaram conta de tudo. E eu, ainda aqui, cutucando o computador e preenchendo formulários... Para compensar, só ouvindo boa música. Curta também!

Relativismo e valores

Em Recife, onde me encontro trabalhando feito um condenado, aproveito um minutinho para blogar (eita verbo feio!!). E aí, para não abandonar antigo vício, reproduzo artigo de autoria do jornalista Alon Feuerwerker. Dá o que pensar, pode ter certeza. Confira!

Mosaico de deformações
Alon Feuerwerker

A relativização absoluta dos valores — em vez da absolutização deles — vai criando uma sociedade meio fantasmagórica, numa colagem anárquica

O governo federal impulsiona um projeto para criminalizar castigos físicos aplicados pelos pais nos filhos. É uma boa iniciativa. Abrirá o debate sobre o tema em si e sobre quanto o Estado deve interferir nos assuntos da família.

É ocioso polemizar sobre as intenções dos políticos, mas fica o registro de que o presidente da República procura introduzir no período eleitoral mais um vetor para embalar o governo e sua candidata no papel de presente humanista. Paciência.

Outro dia Dilma Rousseff defendeu ser inconveniente discutir agora mudanças no Código Florestal, por estarmos em véspera de eleição. José Serra disse a mesma coisa. É a velha mania de querer deixar os assuntos complicados para quando o povo estiver prestando menos atenção.

Vê-se porém que o governo não é avesso a toda polêmica nestes dias supostamente especiais: enquanto procura abafar as incômodas, que embutem problemas potenciais com aliados políticos, estimula outras, mais adequadas à roupagem humana com que veste seu projeto.

Já notei aqui, diversas vezes, que o humanismo de Luiz Inácio Lula da Silva é politicamente constrangido. Não merecem a compaixão de Sua Excelência, em certos países de governos amigos, os opositores a caminho da forca. Ou os encarcerados por desejarem mudar pacificamente o sistema político. Ou as mulheres ameaçadas de apedrejamento por terem cometido o “crime” de adultério. Ou as minorias vítimas de genocídio.

O governo costuma ter uma saída inteligente nesses casos, ao argumentar que não cabe interferir na vida interna de outras nações e povos. Mas é esta mesma administração quem recorre à relatividade das leis nacionais diante das leis internacionais, quando o assunto são certas ações aqui dentro envolvendo os direitos humanos. Foi assim no debate sobre a validade ou não da Lei de Anistia para torturadores.

Estamos na era dos argumentos e princípios voláteis, aplicados espertamente conforme a conveniência. E sempre sob a máscara da superioridade moral.

Mas o debate agora é sobre a criminalização dos castigos físicos impostos pelos pais aos filhos. É um ótimo assunto. O presidente tem razão quando diz que educar não pode ser sinônimo de agredir a criança.

Eu tenho aqui uma sugestão. Por que não discutir junto a criminalização de toda violência contra as crianças? De um modo abrangente. E sem distinção de grupo social ou étnico.

Se as eventuais palmadas dos pais nos filhos são assunto suficientemente grave para merecer a atenção do Estado (e são), talvez os legisladores devessem também olhar para hábitos ainda mais brutais, como o de certos povos indígenas que matam as crianças dotadas de características indesejáveis.

Crianças são crianças. Brancas, negras, índias, tanto faz. Todas devem ter os mesmos direitos.

Há o argumento multicultural, de que se devem respeitar as crenças e hábitos específicos. Mas se vale para os índios, por que não deveria valer também para brancos, negros? E se houver um grupo cuja cultura considere imprescindível dar palmadas nas crianças quando elas insistem em não obedecer? O sujeito poderá recorrer à Justiça em nome de sua religião, ou tradição, ou crença?

O leitor talvez enxergue alguma ironia aqui, mas sinceramente não há. O problema é que a relativização absoluta dos valores — em vez da absolutização deles — vai criando uma sociedade meio fantasmagórica. Um mosaico de deformações, uma colagem anárquica.

O branco ou o negro castigarem o filho desobediente não pode. Já o índio matar o filho deficiente, isso pode. Cortar uma árvore não pode, é crime ambiental. Mas matar o feto que vai dentro do útero da mãe deveria poder, em nome da autonomia que a mulher precisa ter sobre o próprio corpo.

Seria demais pedir dos políticos que se movessem pela lógica dos valores. Desde Maquiavel isso saiu de moda. Mas algumas vezes o nonsense ultrapassa todos os limites.

domingo, 11 de julho de 2010

Fora do ar...

Car@s,

devido a atividades ligadas ao trabalho, que se intensificarão na próxima semana, este blog terá poucas postagens até o final da próxima semana. Depois, com certeza!, voltarei com a disposição de sempre. Conto com a paciência de vocês!

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Um relógio para um matemático...



Das pessoas que eu conheço, somente Beto Hugo e Briel podem se dar ao luxo de usarem um relógio como o da ilustração acima...

Eduardo Galeano e o futebol uruguaio


O Uruguai quase chega lá! Fez bonito, apesar da derrota. Mas, no futebol, assim como na vida, existem derrotas e derrotas. De algumas, saímos menores, além de derrotados, claro! De outras, raras por certo, saímos maiores. Esse o caso da seleção do nosso irmão do sul. Por isso, nesta hora, vale a pena conferir aqui uma entrevista daquele que é o escritor uruguaio mais conhecido no Brasil.

“A camiseta celeste tem muita energia”

Em entrevista ao jornalista Gerhard Dilger, Eduardo Galeano fala sobre o Mundial de Futebol da África do Sul, o desempenho sulamericanos frente aos europeus e as chances de seu Uruguai. "Não sei se chegará á final, mas volta a ser milagrosamente certo que um país com menos habitantes que um bairro de Buenos Aires pode ser capaz de conquistar o troféu mundial. Festejamos isso, os poucos que somos, porque o Uruguai é um país muito futebolizado e aqui todos os bebês nascem gritando goooooool!!! A camiseta celeste tem muita energia dentro"

Gerhard Dilger (*)

Em entrevista ao jornalista Gerhard Dilger, correspondente para a América do Sul do jornal "taz, die tageszeitung", de Berlim, Eduardo Galeano fala sobre o Mundial de Futebol da África do Sul, o desempenho sulamericanos frente aos europeus e as chances de seu Uruguai. "Não sei se chegará á final, mas volta a ser milagrosamente certo que um país com menos habitantes que um bairro de Buenos Aires pode ser capaz de conquistar o troféu mundial. Festejamos isso, os poucos que somos, porque o Uruguai é um país muito futebolizado e aqui todos os bebês nascem gritando goooooool!!! A camiseta celeste tem muita energia dentro", diz Galeano.

Dom Eduardo, quem será campeão deste mundial – e por quê?

Sou um péssimo profeta. E além disso, para completar, te confesso que não quero conhecer o futuro. Quando uma cigana pega a minha mão e me oferece lê-la, eu rogo: “Senhora, por favor, não seja cruel”. Eu não quero saber o que ocorrerá, nem sequer pressenti-lo, por que o melhor da vida está sempre esperando à volta da próxima esquina. E te acrescento algo mais: por sorte. Os prognósticos falham. O tempo brinca com quem pretende adivinhá-lo.

Qual sua opinião sobre a equipe alemã?

Assombrosa. Tem a força e a velocidade dos velhos tempos, mas uma elegância e uma alegria que talvez seja o aporte de tantos jovens incorporados em suas fileiras, em sua maioria imigrantes ou filhos de imigrantes. No futebol, como na vida, a mestiçagem melhora.

Por que os argentinos não conseguiram, finalmente?

Eles brilharam em várias partidas da Copa e agora se foram, humilhados por uma goleada. Isso me entristece, ainda que a vitória alemã tenha sido totalmente justa. Em que falhou a Argentina? Obviamente não cuidou do meio campo, faltou articulação entre a vanguarda e a retaguarda e Messi foi limpamente bloqueado, na boa lei, pela defesa alemã. Talvez isso tenha algo a ver com a “messidependência”. Quando há um jogador de qualidade tão extraordinária, inevitavelmente se produz uma realidade assim. De todos os modos, diga-se de passagem, Messi jogou, durante toda a Copa, muito melhor do que outra superestrela, Cristiano Ronaldo, que esteve no Mundial mas ninguém viu.

Pele disse que Maradona não é um bom técnico: Está de acordo?

No futebol atual, o treinador desempenha um trabalho insalubre. Altamente tóxico, eu diria: é o bode expiatório das derrotas, e o mesmo povo que o eleva aos céus, num momento, o expulsa para o inferno logo em seguida. Há alguns anos, as pessoas sequer sabiam qual era o nome do treinador, que depois passou a ser chamado de diretor técnico.

A grande maioria das estrelas sulamericanas está jogando na Europa. Há chances de que essa exportação de recursos futebolísticos seja revertida?


Não. Nós, dos países do sul do mundo, seguiremos exportando mão de obra e pé de obra para o norte do mundo.

Qual é o seu balanço do mundial, até agora?

Meu bom amigo Pacho Maturana, que foi diretor técnico de duas seleções e de várias equipes de diversos países ,costuma dizer, e não se equivoca: “O futebol é um reino mágico, onde tudo pode ocorrer”. Nós, latinoamericanos, estávamos felizes, pois pela primeira vez na história quatro seleções nossas chegavam à antepenúltima etapa e, subitamente, paf, ficou o Uruguai solito contra a Europa. E, salvo essa exceção,o Mundial se converteu em uma eurocopa. Um pouco antes, já não havia africanos competindo. Toda África ficou fora neste Mundial que é o primeiro Mundial africano da história. Os irmãos Boateng brindam a dramática metáfora do que ocorreu: um Boateng se foi, o que jogava em Gana, e ficou o Boateng que joga na Alemanha.

Foi justamente a Celeste que acabou com o sonho africano. Como viveu os momentos finais da partida contra Gana?

Foi um filme de Hitchcock. Me cortou a respiração. A minha e a de todos que assistiram à partida mais emocionante deste mundial. Ganhou o Uruguai, como se sabe, e assim ficou selada a derrota de toda a África. Eu festejei e, ao mesmo tempo, senti uma funda tristeza. No futebol, como na vida, há alegrias que doem.

O Brasil, com sua “receita Dunga” fracassou. Que conselho daria a seus vizinhos com vistas a 2014?

Eu não gosto de dar conselhos, nem de recebê-los, mas nós, latinoamericanos, não vamos bem quando copiamos as receitas do êxito europeu. Nem no futebol, nem em nada. E não precisamos copiar. Li e escutei várias vezes, a propósito desta seleção alemã, a que compete agora, o seguinte elogio: “Parece uma equipe sulamericana”. A receita Dunga não era a melhor para o mais sulamericano dos sulamericanos: de que estava doente o Brasil para precisar desse tipo de remédio?

E por que a seleção uruguaia está tão forte?

Por que acredita no que faz, e o entusiasmo compensa o que lhe falta. Não sei se chegará á final, mas volta a ser milagrosamente certo que um país com menos habitantes que um bairro de Buenos Aires pode ser capaz de conquistar o troféu mundial. Festejamos isso, os poucos que somos, porque o Uruguai é um país muito futebolizado e aqui todos os bebês nascem gritando goooooool!!! A camiseta celeste tem muita energia dentro. E a história também ajuda. Este nosso paisito soube ganhar duas Olimpíadas de futebol, quando o Mundial ainda nem existia, e dois campeonatos mundiais, o primeiro aqui em Montevidéu, e o de 1950, quando derrotamos o Brasil na estréia do maior estádio do mundo, o Maracanã, diante do rugido de duzentos mil torcedores.

Eduardo Galeano, 69 anos, é o autor de "El fútbol a sol y sombra" y de
"Espejos – Una historia casi universal".

Gerhard Dilger é correspondente para América del Sur do diário
"taz, die tageszeitung", de Berlim

Um verão daqueles...

Hummm! Quem pensa em curtir as férias de julho na Espanha, cuidado!, é bom analisar cuidadosamente a escolha. O verão espanhol, prá variar, está de rachar. Hoje, segundo olhada que dei no EL PAÍS, em muitas regiões do país, a temperatura deverá ultrapassar os 49°.

Uma semana daquelas...

Uma semana daquela! Pois é, estou imerso em uma semana daquelas. Término de semestre letivo na Universidade é como curva de rio: junta tudo. Por isso, perdoem-me!, estou vindo com menos freqüência a este espaço que prezo tanto.

Por falar em espaço, vejam só!, este blog está para completar dois anos. Parece que foi ontem... Que maravilha!

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Um vice da pesada...

Hummm! Começam a aparecer as qualificações do Deputado Índio da Costa, o demo que será vice do Serra. Pelos posicionamentos, pode ter certeza!, não dá para enquadrá-lo no figurino do jovem paladino da Nova Direta. Falta-lhe, como diz uma amiga chique, o phisique du role!

Truculência, preconceito anti-pobre e arrogância conservadora em um mesmo jovem. Índio da Costa encarna tudo isso... É uma pena... pro Serra.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

De jogo...

Não, não estou me referindo ao jogo do Brasil - que foi, na medida do possível, até bom -, mas, sim, ao jogo sucessório. Pois é, olha eu aqui, de novo, focado (risos!) no que vai movimentar o segundo semestre deste até agora inodoro 2010. O jogo vai começar... As pesquisas publicadas até agora, inclusive a última do DATAFOLHA, apontam variações e oscilações mais do que naturais. O que há de relevante mesmo é a disputa cabeça a cabeça entre Dilma e Serra.

Entretanto, vale a pena levar em conta alguns elementos para que as apostas tenham o mínimo de referência no real. Dilma conseguiu articular uma aliança política forte, como Lula nunca conseguiu. E, pela primeira vez na sua história, o PT terá uma candidatura com quase o dobro do tempo de TV do seu oponente.

Apesar de o ex-prefeito César Maia apostar no contrário (sem muitas evidências convincentes, diga-se de passagem), acredito que a TV desempenhará um papel decisivo no próximo pleito.

Confira abaixo a distribuição do tempo de TV dos candidatos à presidência.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

O gozo do arquiteto

O artigo abaixo é legal. Faça um esforço e dê uma olhada...

VICENTE VERDÚ
El gozo del arquitecto

El arquitecto y casi todos los humanos -sean artistas o no- disfrutan en dos circunstancias extremas. Para los arquitectos, la primera se concreta en aquellos casos en que la dificultad del emplazamiento, la irregularidad del solar o la severa presión del presupuesto le oponen resistencia y le retan para salir finalmente airoso. Es la parte sacrificial pero heroica, masoquista pero de puro maçon.

La segunda circunstancia, mucho más infrecuente, es aquella en la que a disposición del señor arquitecto se halla prácticamente todo en lo que un profesional podría soñar. Materiales, Libertad, Dinero, Salud y Reverencia.

De la primera opción, si acaba en éxito, nace una perla engastada. De la segunda, se alza, resultado triunfal, una histórica obra maestra. No solo una obra colosal sino gozosa hasta el punto de que el visitante duda sobre lo que le impresiona más: si la magnitud física o la forma del placer a gran escala.

Esta última oportunidad impresionante es la que representa la múltiple Cidade da Cultura de Galicia que está construyendo el arquitecto estadounidense Peter Eisenman y que empezará a inaugurar pabellones (la Biblioteca y el Archivo de Galicia) el próximo otoño.

Por entonces se cumplirán unos 12 años desde el fallo del jurado que premió a Eisenman en competición con Nouvel, Gallegos, Perrault, Koolhaas, Navarro Baldeweg y alguno más. Y también se cumplirán, un decenio de polémicas e improperios por el altísimo coste que desde los 300 millones calculados inicialmente las cifras no han dejado de crecer.

Polémicas entre ciudadanos y desde luego entre políticos porque desde que Fraga quiso dejar tras de sí esta huella monumental, los partidos socialistas y nacionalistas que llegaron después han debido asumir la figura y el peso de ese legado.

Las razones de que el presupuesto se haya disparado son comunes en cualquier obra pública y aún más en las mayores; lo singular, sin embargo, es que esta Cidade muestra conmovedoramente y hasta concupiscentemente el talento creador del artista. Podría sentirse fácilmente que se trata de la obra culminante de Eisenman (77 años en agosto) en un doble sentido. Culminante como ópera máxima y culminante como ópera definitiva.

Ópera máxima porque nada antes tuvo esa magnitud en su carrera y ópera definitiva en cuanto que el autor se ha entregado a ella de forma absoluta y exhaustiva. Porque se trata, en suma, de una edificación de tanto esmero e invención, tan meticulosamente dotada de detalles constructivos y formales que no será necesario esperar a su conclusión para participar del gozo, el gozo del diseño y el obsceno gozo del arquitecto.

Varios días a la semana se organizan visitas para recorrer ese ámbito con forma de caparazón acoplado sobre la cresta de un monte y para descender hasta sus holgados sótanos trazados como la vaciada espina de un pez. Otros dos edificios, además de los que se inaugurarán en otoño, estarán listos en la primera mitad del año próximo: el Museo de Galicia y el de Servizos Centrais. Todavía en una fase inicial se encuentran el Centro de Arte Internacional y el Centro de Música e das Artes Escénicas.

Muchos gallegos, políticos o no, han despotricado sobre el gigantismo -o el "despilfarro"- de esa obra repetidamente llamada "faraónica". Y es faraóni-ca incluso literalmente. Tanto para proclamar la imagen de Santiago en el futuro como para testimonio de un arquitecto que si no ha muerto ya con el esfuerzo de la construcción, es muy posible que, como colofón, llegue a morir de gozo.