terça-feira, 26 de março de 2013

Um mundo sem papel?

Você é uma daquelas pessoas que acha que o papel vai se tornar descartável? Que tudo se resolve com dispositivos móveis? Sei! Então, confira o vídeo abaixo.

Você vai rir... e pensar um pouco mais sobre aquelas afirmações dramáticas e/ou apocalípticas a respeito da obrigatoriedade do uso das novas tecnologias.

 Quem passou a dica foi a Professora Luciana Chianca (antropologia UFPB).

O endereço do blog do Professor Gláucio

Falei do santo, mas não mostrei o milagre. O link para o post (e para o blog) do Professor Gláucio é este. h

Mais encarceramentos, menos criminalidade

O pensamento de esquerda é, geralmente, refratário a qualquer especulação que faça uma relação positiva entre aumento do número de prisões e redução das taxas de criminalidade. Enquanto posicionamento político, perfeito. O problema é quando as pessoas querem dar ares de cientificidade a proposições alicerçadas em suas construções ideológicas. Esse o caso de cientistas sociais que se negam mesmo a estabelecer relações entre os dois fenômenos.

Mas a sociologia, ou, ao menos, uma sociologia que valha o nome que ostenta não pode se guiar pelas convicções políticas da média dos seus pesquisadores. Agindo assim, para quê uma ciência empírica do mundo social?

O Professor Gláucio Soares rema contra a maré neste oceano do politicamente correto. No seu blog, você vai encontrar um interessante post a respeito de uma correlação feita entre os dois fenômenos acima apontados. Os pesquisadores provaram, com estudos sobre dados de uma período histórico de quase duas décadas, que há, sim, uma relação direta entre aumento do encarceramento e a redução da criminalidade.

Onde foi feito o estudo? Ah, na Inglaterra...

Bueno, isso significa defender uma política do "prende e arrebenta"? Não! Mil vezes não. De posse dessa apreensão, podemos (e devemos!) qualificar as discussões as respeitos das políticas penitenciárias.

Bom. Para quem está aqui no Rio Grande do Norte, infelizmente, tudo isso é muito platônico: as prisões são dantescas (o judiciário vive querendo fechá-las, para você ter uma ideia do descalabro...).

Mas que a discussão é interessante, ah!, isso é...

segunda-feira, 25 de março de 2013

Os resultados das pesquisas eleitorais na avaliação de César Maia

César Maia, atual vereador do DEM no Rio de Janeiro, é um analista atilado das coisas da política. Vale a pena, no mínimo, levar em conta as suas observações. Sempre parciais, é claro, mas também argutas e criativas.

Sobre as mais recentes pesquisas para as eleições presidenciais de 2014, nas quais a Presidenta Dilma está disparada na frente, ele teceu alguns comentários interessantes.

OUTRA LEITURA DAS PESQUISAS DIVULGADAS!
 César Maia


1. A inclusão do nome do Ministro Joaquim Barbosa nas pesquisas eleitorais divulgadas pelo Ibope e Datafolha mostra que o Mensalão não é um fenômeno de massas. Provavelmente porque reitera o que o eleitor acha no mundo todo: os políticos não são confiáveis. Os números do ministro Joaquim Barbosa – entre 3% e 7%-  mostram que o grande destaque que recebeu reafirma a inconfiabilidade nos políticos, mas não tem tradução política e menos eleitoral. Cresce o prestígio do STF, mas não a popularidade pessoal, eleitoral, dele. Bom para a “mosca azul” continuar voando longe do Ministro.
        
2. O Ibope, ao incluir numa mesma lista ampla, os nomes de Aécio Neves e Serra, que somados alcançaram 19%, mostra que é esse o patamar que o candidato do PSDB alcançará na pré-campanha. Numa lista ampla, Dilma cai para 53%, o que mostra que esse é o patamar de partida dela. Nessa mesma pesquisa, a avaliação ótimo+bom de Dilma alcançou 63%, portanto 10 pontos a mais que a opção de voto numa lista ampla.

3. A alta taxa de desconhecimento -fora de suas regiões- de Aécio e Campos explica o engordamento dos números de Dilma. Na medida em que crescer a taxa de conhecimento de ambos, a gordura derrete.
           
4. A vantagem da lista ampla é identificar os que nesse momento buscam um candidato para não votar em Dilma. É fácil demonstrar. Aqueles que marcam nulo/branco/não sabe, na lista ampla, são 14% e –de forma aparentemente paradoxal- crescem na lista dos 4 candidatos para 18% e numa lista de 3 ainda ficam em 17%.
        
5. Na lista de 4, para o Ibope e o Datafolha, Dilma tem os mesmos 58%. Marina 16% no Datafolha e 12% no Ibope, Aécio entre 9% e 10% e Eduardo Campos 3% no Ibope e 6% no Datafolha. Essa diferença em Campos é sinal que seu nome não é conhecido fora de sua região. Isso é fato. Em pesquisa GPP no Estado do Rio, entre 16-17/03, 77% disseram não conhecer Eduardo Campos.
        
6. Nessa pesquisa GPP no Estado do Rio, com 2 mil eleitores, Dilma fica com 59,7%, Marina+Gabeira com 14,9%, Aécio com 7,2% e Eduardo Campos 1,6%. Na pergunta se prefere votar em Lula ou Dilma, Lula tem 47,4%, Dilma 32,3% e Tanto Faz 20,3%. Um número alto para Dilma. Aécio tem 24% nos bairros de classe média na Capital.

7. Nas pesquisas trimestrais do Ibope/CNI de outubro e dezembro, o assunto Medidas Econômicas gerava memória em 18% e agora em março em 29%. Pesquisa feira após anuncio de redução de impostos na cesta básica.

domingo, 24 de março de 2013

Dilma em céu de brigadeiro

Muito barulho por nada. Essa a impressão que temos, após a recente publicação de pesquisas eleitorais (já?) a respeito da disputa presidencial de 2014. Nesses pesquisas, Dilma poderá levar a partida já no primeiro turno.

Pelo visto, a barulheira que a oposição está fazendo não está comovendo o eleitorado brasileiro. Não é para menos, os candidatos até agora não mostraram nenhum discurso que retire a população da "zona de conforto" sob o Governo Dilma.

Publicar na Amazon?

A Amazon se dispõe a publicar, inserindo na plataforma Kindle, livros escritos por qualquer um. Não sei como ficará a questão dos direitos autorais, mas que essa medida terá profundos impactos no mercado livreiro, não tenhamos dúvidas, terá sim.

quinta-feira, 14 de março de 2013

A direita da América Latina e o papa...

Na edição de hoje do PÁGINA 12, uma charge impagáve.

quarta-feira, 13 de março de 2013

Pragmatismo político, intolerância e homofobia


Alysson Freire é um sociólogo da nova geração. Um baita sociólogo, diga-se de passagem. É um daqueles raros caras com quem a conversa pode fluir do último livro da Eva Illouz (procurem lê-la, por favor!, esta é uma cientista social que produz coisas interessantes sem se atrelar a nenhum cânone disciplinar) aos labirintos da vida política destas plagas. Pois bem, para completar, o cara escreve. E escreve bem.  Tem uma verve daquelas.

Você pode verificar no texto abaixo, escrito sobre essa patuscada que foi a escolha do Pastor Feliciano para presidir a Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados. Publicado originalmente na CARTA POTIGUAR, o texto merece replique e reflexão. Confira!

Marco Feliciano e a Tirania da Intolerância
Alyson Freire*

A eleição do pastor e deputado (PSC-SP) Marco Feliciano como presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias significa mais do que a escolha de alguém cujas “ideias e convicções” caminham na contramão das prerrogativas, valores e propósitos de dita Comissão. Há algo de mais grave e sintomático nesse lamentável episódio.

É certo que Marco Feliciano representa o contrário, o negativo, de tudo o que os Direitos Humanos personificam. Aliás, o deputado personifica, na verdade, tudo aquilo que os Direitos Humanos deve combater; a intolerância, o racismo, a homofobia, opressão às minorias, a ignorância, o preconceito, a estupidez, o fanatismo.

A Comissão de Direitos Humanos “desumaniza-se” quando ela tem no seu principal responsável alguém que afirma que “os africanos descendem de uma linhagem amaldiçoada de Noé”. Ela estupidifica-se quando o seu líder é alguém que defende que a “Aids é o câncer gay” e que a palavra “homossexual deveria ser abolida do dicionário, já que se nasce homem ou mulher”. E, por fim, ela perde toda sua legitimidade e credibilidade quando é presidida por alguém que luta em seu mandato para restringir direitos em vez de afirmá-los ou ampliá-los.

Há séculos, homens e mulheres, movimentos sociais e intelectuais, lutam para instituir e fomentar valores como tolerância, reconhecimento das diferenças, respeito pela dignidade e diversidade humana, igualdade de direitos, liberdade, ampliação da cidadania etc.. Esses princípios são mais do que belas palavras e conceitos. Eles carregam vidas, energias, sangue e pensamentos que foram dedicados ao combate das injustiças e opressões e a criar um outro tipo de sociedade e de mentalidade entre as pessoas. É evidente que as posições do deputado Marco Feliciano são um insulto ao patrimônio simbólico, normativo e histórico que formou os Direitos Humanos. Mas, se quisermos entender as implicações de sua eleição, devemos ir além da indignação moral que tal episódio suscita. Vamos a algumas delas.

O fato incompreensível de que nenhuma das contradições mencionadas impediu a eleição de Marco Feliciano é sintomático acerca deste espectro sinistro que avança entre nós, o fundamentalismo religioso. A confirmação do deputado do PSC como presidente da Comissão de Direitos Humanos representa mais do que um ultraje aos valores e propósitos básicos das Declarações dos Direitos do Homem e dos Direitos Humanos; significa a conquista pelo fundamentalismo religioso do que deveria ser uma das “bases” ou “trincheira” de enfrentamento contra este mesmo fundamentalismo. Trata-se, portanto, de um retrocesso civilizatório e de uma derrota política na luta contra o preconceito, a intolerância e o obscurantismo que ainda nos assombra nos mais diversos espaços sociais.

O fundamentalismo religioso cresce, avança e se institucionaliza; prolonga-se dos púlpitos e ganha os programas de televisão, a internet, as tribunas parlamentares e, agora, até mesmo órgãos que, por princípio, deveriam combatê-lo. A eleição de Marco Feliciano é um indicativo do crescimento da força política de posições religiosas radicais, ou, em outras palavras, do fundamentalismo religioso como ator político no Brasil.

Este arremate de espaços estratégicos para a defesa dos objetivos conservadores é perfeitamente legítimo numa democracia, que, como tal, deve acolher o conflito e o contraditório. Porém, como ensina pensadores políticos como Alexis Tocqueville e Claude Lefort, a democracia carrega perigos e ambiguidades que podem se voltar contra ela mesma, enfraquecendo-a, degenerando-a em tiranias e despotismos. A vitória do pastor Marco Feliciano é, também, significativa acerca dessas ambiguidades a que a democracia está sujeita.

Se, por um lado, temos essa implicação óbvia do avanço e fortalecimento do fundamentalismo religioso como ator político, por outro, temos este outro aspecto mais opaco, que é as contradições que a democracia pode suscitar enquanto forças que, à médio prazo, podem se voltar contra ela mesma. É inegável que, de um ponto de vista formal, a eleição de Feliciano é legítima. Foi eleito com legitimidade, respeitando todas as regras e procedimentos. Formalmente não há nada o que possamos criticar. No entanto, democracia é mais do que um conjunto de métodos e procedimentos de decisão. Ela é, também, um conjunto de concepções éticas e políticas e princípios normativos sem os quais as regras e os procedimentos jurídico-institucionais seriam apenas um esqueleto sem carne e sangue.

Com a regra da maioria, a liberdade de expressão e a liberdade de crença, o deputado do PSC-SP busca blindar e assegurar a legitimidade do seu preconceito e intolerância. Valendo-se, de uma maneira cínica, das regras do jogo como se fossem escudos para a promoção do ódio, Feliciano alça o preconceito e a ignorância à condição de exercício da liberdade e a intolerância em exercício de opinião.

Não é apenas o desrespeito as regras do jogo democrático que constitui ameaça à ordem democrática mas igualmente o desrespeito aos seus fundamentos simbólicos e normativos, mesmo que sancionado e autorizado segundo a letra fria da lei. As diversas manifestações odiosas de Feliciano sobre a homossexualidade e as religiões de matriz afro são a prova cabal do quanto o deputado cultiva convicções e posturas frontalmente contrários à igualdade, à dignidade, à inclusão e proteção da cidadania e liberdade das minorias. A promoção da discriminação e do preconceito, mesmo que acobertados com o manto sagrado das regras do jogo democrático, só pode lesar e enfraquecer a democracia, pois conduz a uma perigosa tirania da intolerância.

Confundir indução de discriminação, promoção da intolerância e pregação da ignorância com liberdade de expressão, de crença e opinião significa permitir que conquistas e direitos fundamentais da democracia se convertam em forças contrárias e nocivas à própria democracia. E se tal confusão não leva de repente a tirania pela violência, pelo golpe no campo das regras e procedimentos, conduz progressivamente a ela pelos precedentes que abre e pelos hábitos que gera. A sociedade torna-se mais refratária às políticas de reconhecimento e ao cultivo de formas igualitárias de convívio social e mais suscetível à intolerância e às formas de convivência social apoiadas em estigmas e exclusões.

Nesse sentido, a eleição de Marco Feliciano constitui uma ameaça bem mais ampla do que contra um grupo de pessoas específico contra o qual o pastor destila o seu costumeiro ódio e preconceito. A tirania da intolerância presente em suas posturas e pronunciamentos ameaça à própria democracia como uma forma de sociedade fundamentada na igualdade de status, na liberdade e criação e proteção permanente de direitos.
 

* Professor de Sociologia. Mestrando no Programa de Pós-Graduação de Ciências Sociais - UFRN. Editor e integrante do Conselho Editorial da Carta Potiguar. Contato: alyson_thiago@yahoo.com.br

sexta-feira, 8 de março de 2013

O dia da mulher e o Vaticano

Os cardeais, em Roma, estão reunidos para decidir quem será o futuro Papa. Quem quer que seja o eleito, tenho poucas dúvidas de que a mesma postura de não-reconhecimento dos direitos reprodutivos das mulheres continuará a ser levada adiante, com obstinação fundamentalista, pela Santa Madre.

O Vaticano, mais e mais, estreita seus laços com as coalizões que continuam a querer meter a mão no corpo feminino. E a sexualidade feminina continuará a ser visto como um território para a incursão reguladora dos religiosos machos. Muitos deles, sabemos agora após a divulgação dos escândalos mais recentes (após quase uma década de relatos escabrosos sobre a pedofilia praticada por padres nos quatro cantos do mundo), estão enredados em teias de chantagens devido a suas práticas sexuais.

No geral, as religiões (e os religiosos) temem muito, um pavor quase atávico, às mulheres. Mais ainda, a sexualidade e o prazer femininos. As mulheres reconhecidas são as santas, cuja sexualidade é negada... ou sublimada.

Por isso, neste 08 de março, vale a pena lembrar daquelas que foram às ruas afirmar, em meio em um país predominantemente católico (Espanha), que o corpo feminino resiste aos esquadrinhamentos do poder. Especialmente quando este poder se cobre com as mantas da hipocrisia.


Basta!


A foto acima é de um dos muitos provocativos painéis concebidos pela artista plástica chilena Lotty Rosenfield. Uma condenação das armas.

Quem vive em Natal, sabe bem o quão importante é o desarmamento. O comércio de armas, que, segundo uma ex-orientanda minha, ocorre a céu aberto em algumas áreas de certo bairro comercial, municia os atores da espiral de violência que toma de conta da esquina norte do Atlântico na América do Sul.

Que a arte de Lotty Rosenfiel inspire também os nossos artistas a explicitarem o seu BASTA à barbárie que se espalha pela Região Metropolitana de Natal.

quinta-feira, 7 de março de 2013

Hugo Chávez e a política como um filme de faroeste


Abaixo, traduzo um texto, publicado na edição de hoje do EL PAÍS, a respeito do legado político do recém-falecido presidente venezuelano, Hugo Chávez. O autor é um escritor venezuelano renomado, um ensaísta de primeira. Temo que a minha tradução não faça jus ao texto, como sempre, assertivo e elegante de Moisés Naim.
Mantive, abaixo, o título original. Trata-se, como sabem os mais atilados nas coisas do cinema, do nome de uma das obras clássicas do gênero identificado como “faroeste”. Assisti-o, incontáveis vezes, no agora saudoso Cine Odeon, lá em Apodi.
Leia o texto. Ao final, para você recordar, coloquei um trailer da película.


O Bom, o Mau e o Feio
Moisés Naim*
Tradução livre: Edmilson Lopes


Bem antes de sua morte, Hugo Chavez já havia se somado a Fidel Castro e Ernesto Che Guevara no panteão dos líderes latino-americanos aos quais se reconhece instantaneamente em todo o mundo. E, como Castro e Guevara, Chavez é bem polêmico. É objeto de uma admiração profunda que se transforma, logo em seguida, em veneração apaixonada. Igualmente, é alvo de um antagonismo que se converte com a mesma facilidade em ódio intenso. Chavez morreu terça-feira, aos 58 anos, depois de dois anos de tratamentos contra o câncer.
É inevitável que a sua trajetória política seja tão difícil de avaliar com objetividade como a de outros dirigentes controvertidos, como Mao e Perón.
O BOM
A consequência mais duradoura e positiva do mandato de Chavez foi a sua ruptura com a coexistência pacífica da Venezuela com a pobreza, as desigualdades e a exclusão social. Certamente, não foi o primeiro líder político que converteu aos pobres (e a pobreza) em centro da discussão nacional. Nem tampouco foi o primeiro que aproveitou o aumento dos ingressos do petróleo para ajudar a esses pobres. Porém nenhum de seus antecessores o havia feito de maneira tão agressiva nem com um sentimento tão apaixonado como Chavez. E ninguém teve tanto êxito como ele na hora de fixar esta prioridade na mentalidade coletiva, inclusive exportando-a para os países vizinhos, e além. Ademais, a sua capacidade de fazer com que os pobres sentissem que tinham um dos seus no poder não tem precedentes. E outro aspecto positivo de seu legado é que acabou com a indiferença política e a apatia generalizadas, alimentadas durante decênios por um sistema nas mãos de partidos políticos em decomposição e alheios à realidade. O despertar político do país que Chavez desencadeou foi absorvendo, gradativamente, os moradores dos bairros pobres, a classe média e, para desgraça, também os militares. E é exatamente neste ponto onde começa o legado negativo de Chávez.  
O MAU
Após 14 anos no poder, Chávez não deixou a Venezuela com uma democracia mais forte e nem com uma economia mais próspera. Chavez anunciava sempre que, por fim, havia conseguido com que os pobres, há tanto tempo excluídos, vivessem com autonomia. Ele e seus partidários afirmavam que, durante o seu mandato, haviam sido realizadas nada menos que 15 eleições nacionais e referendos. Além disso, alardeava que os seus programas sociais haviam fomentado a participação popular e a democracia “direta” ou ‘radical”. Entretanto, como explica o renomado Professor de Ciência Política Scott Mainwaring, para que exista democracia é necessário que haja “eleições livres e justas para designar o Governo e o Legislativo, o direito universal ao voto de adultos, a proteção aos direitos políticos e às liberdades civis e o controle civil do Exército. O regime de Chávez não cumpre, nem parcialmente, a primeira e a terceira destas características da democracia. Não existe igualdade de oportunidades eleitorais, e o respeito aos direitos da oposição têm se deteriorado gravemente. O exército está muito politizado e intervém com mais frequência na política do que antes da ascensão de Chávez”.
Na realidade, o Presidente Chávez foi um dos que antes, e com mais destreza, soube por em prática uma estratégia política comum na época da Guerra Fria naqueles países identificados pelos politólogos como “regimes autoritários competitivos”. Neles, os dirigentes obtêm o poder mediante eleições democráticas, porém logo mudam a Constituição e outras leis para debilitar o sistema de controle do Governo, com o que asseguram a continuidade do regime e sua soberania quase absoluta. Ao mesmo tempo, conservam uma fachada de legitimidade democrática. Não é mero acaso que Chávez tenha sido o Chefe de Estado que mais tempo esteve no poder em toda a América nos últimos decênios.
A outra herança paradoxal – e negativa – de Hugo Chávez é uma economia que é um desastre. É paradoxal porque seu mandato coincidiu com uma elevação dos preços das matérias primas e a existência de um sistema financeiro internacional com as burras cheias de dinheiro e disposto a emprestar a países como a Venezuela. Ademais, o presidente tinha liberdade para adotar qualquer política econômica que quisesse sem limitações nacionais, internacionais e nem institucionais de nenhum tipo. No entanto, no momento de sua morte, poucos países sofrem distorções econômicas semelhantes àquelas vividas pela Venezuela.
A Venezuela possui um dos maiores déficits fiscais do mundo, a maior taxa de inflação, o pior ajuste cambial, o incremento mais rápido da dívida e uma das maiores quedas da capacidade produtiva, inclusive no crítico setor petrolífero. Além disso, durante a era Chávez, o país caiu para os últimos postos nas listas que medem a competitividade internacional, a facilidade para os negócios e os atrativos para os investimentos estrangeiros. Ao mesmo tempo, subiu para os primeiros lugares, situando-se hoje dentre os países mais corruptos do mundo. Este último dado não deixa de ser paradoxal, pois, como dissemos mais acima, Chávez deveu, em parte, a sua ascensão ao poder exatamente às suas promessas de eliminar a corrupção e aplastar a oligarquia. A burguesia bolivariana – os boliburgueses, os venezuelanos denominam a nova oligarquia, formada pelos mais próximos do círculo do poder e suas famílias e amigos – tem acumulado enormes fortunas graças a contratos corruptos com o Governo. E isso também forma parte da desgraçada herança deixada por Chávez.
O FEIO
O Presidente Chávez deixa uma sociedade ferozmente polarizada. Ainda que sempre existiram divisões sociais acentuadas na Venezuela, o estilo político de Chávez alimentou ressentimentos, a raiva e a vingança, em níveis desconhecidos. Terá que passar muito tempo e muitos esforços terão que ser realizados para sanar as feridas causadas pelas imensas doses de conflito social que o presidente promoveu e deles se aproveitou. Outra faceta desagradável do mandato Chávez  é que, durante sua presidência, a Venezuela se converteu em um dos países com as maiores taxas de homicídios do mundo. Kabul e Bagdad são mais seguras que Caracas, onde os assassinatos e os sequestros se tornaram acontecimentos cotidianos. Os organismos internacionais de polícia consideram que o país é um refúgio para falsificadores, para a lavagem de dinheiro e para traficantes de seres humanos, armas e, por suposto, drogas. Segundo as Nações Unidas, a Venezuel se converteu no principal provedor de drogas para a Europa. O Departamento do Tesouro americano acusou a oito destacados membros da Administração de Chávez, incluídos aí o antigo responsável pelos serviços de inteligência e o ministro da Defesa, de encabeçar redes de narcotráfico.
Diante de todo esse quadro, Chávez permaneceu calado, insolitamente passivo. Sua complacência enquanto via seu país cair em uma espiral de assassinatos e crimes é um dos aspectos mais desagradáveis e imperdoáveis de seus anos de mandato.
A OPORTUNIDADE PERDIDA

O povo venezuelano deu a Chávez um cheque em branco e, graças ao boom prolongado dos preços do petróleo, este contou também com um cheque econômico em branco. Poucos chefes de Estado tiveram o enorme apoio popular e os imensos recursos econômicos dos quais desfrutou Chávez durante 14 anos. Seu controle absoluto de todos os espaços de poder lhe permitiu fazer o que queria. E ele o fez. Modificar o nome do país, mudar sua bandeira, impor um fuso horário novo e especial para a Venezuela. E muito mais. O que não fez foi deixar o país em melhor situação do que quando chegou à Presidência. Hugo Chávez merece ser lembrado como uma oportunidade perdida.

* Moisés Naím é um escritor e colunista venezuelano e, desde 1996, o editor-chefe da revista Foreign Policy.


O negociante da fé que comandará a Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados

No vídeo abaixo, o Pastor Marcos Feliciano (PSC-SP), desenvolto, busca, de todas as formas, arrancar dinheiro dos fiéis de sua igreja. Assista ao vídeo e confira os caminhos da mercantilização do Sagrado nestas plagas.

 Sociologia de lado, vale lembrar que o figura é mais conhecido pela sua homofobia e pelas frases racistas.

Por último, para você se indignar um pouco, lembre-se que o Pastor deverá ser confirmado como Presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados. É mole?
 

quarta-feira, 6 de março de 2013

Música para tornar sua noite mais agradável

Qual o significado de Chavez para a política latino-americana?


No calor da hora não teremos análises minimamente distanciadas a respeito do significado de Hugo Chavez para a política latino-americana na última década e meia. No momento, ainda grudados nos noticiários a respeito da morte do líder venezuelano, quando a comoção dos admiradores e o deboche ou, mais verdadeiramente, a incontida comemoração dos adversários obnubilam qualquer percepção mais objetiva, vale a pena lembramo-nos de antiga lição: não podemos analisar a história por aquilo que os homens dizem de si e de suas ações.

sexta-feira, 1 de março de 2013

Um beijo roubado...

... que é uma elegia à vida.

 V-J Day Kiss in Times Square. 1945. Alfred Eisenstaedt. Fonte: Tumblr.com