segunda-feira, 28 de novembro de 2011

BLOG EM RITMO LENTO... POR UNS DIAS

Não tenho como manter o pique. Muitas coisas prá fazer em pouco tempo. Acredito que voltarei a ocupar o espaço com a garra de sempre apenas depois do dia 10 de dezembro.

Até lá!

Um abraço,

Edmilson Lopes.

PS: Se for possível, volto antes. Mas não é provável que isso ocorra...

sábado, 19 de novembro de 2011

Fina Estampa e a violência como estilo

A novela Fina Estampa, a se levar sério a afirmação de seu autor, Aguinaldo Silva, para quem uma novela expressa aquilo que "ocorre na vizinhança", aponta para uma realidade estarrecedora: a emergência da violência como estilo de vida.

Não, não me refiro ao que, alhures, alguém denominou de "estetização da violência". Coisa a la Tarantino. Nada disso! a telenovela não estetiza, ela usa/abusa a violência como forma de estabelecimento das relações entre as pessoas, personagens, vá lá!.

Ninguém fala e nem argumenta em Fina Estampa. Não! Nela, grita-se. O tempo todo. Vilões e mocinhos. E a porrada é sempre a forma mais fácil de resolução dos conflitos interpessoais. A ela apelam os "éticos" e os do "mal".

Merece uma séria reflexão essa novela...

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Você não pode comprar o vento...

Um rap lindo. Há vida, sonhos e lutas, apesar de tudo. Não deixe de conferir!



Você não pode comprar a minha alegria!

A educação na berlinda

Ontem foram divulgados os dados preliminares da avaliação das instituições de ensino do país. Quase 40% das faculdades foram reprovadas. Um choque para quem acredita que estamos alcançando a China...

Se no ensino superior, com todo o investimento dos últimos anos, a situação está assim, o que se esperar do ensino médio?

Burocratas e proxonetas da educação (existem, ué!) elaboram planos mirabolantes e fórmulas mágicas. Elas não existem, sabemos todos. A solução todos sabemos: investimento e fiscalização da aplicação dos recursos nos níveis fundamentais de ensino e bons salários para os professores. O resto é conversa fiada.

A suspensão da oferta das faculdades reprovadas, medida anunciada pelo MEC, é mais do que saudável, mas é necessário que avancemos mais. O diagnóstico tem que ser completo.

Já que existe uma Lei de Responsabilidade Fiscal, teríamos que ter uma Lei de Responsabilidade Educacional. Um mínimo de metas tem que ser estabelecedo para os governos municipais e estaduais. Não cumpriu, penalidade.

Ora, já estamos na berlinda mesmo. A Universidade, feliz ou infelizmente, especialmente a estatal (eu teimo em não denominar de públicas as nossas IESs financiados com o meu, o seu, o nosso suado dinheirinho), ainda é uma ilha. Isolada do mundo real. O mundo real que é aquele de um país com 10% da população analfabeta.

Pois é, 10%. E nós nos achando com a bola toda. A Argentina, de quem temos a pachorra de rir de vez em quando (por ignorância, claro!), tem menos de 4%...

domingo, 13 de novembro de 2011

Sociologia econômica, o blog

Não deixe de visitar o blog da sociologia econômica. Uma das responsáveis pela iniciativa é a Professora Marina Sartori, da UFG. Confira aqui.

sábado, 12 de novembro de 2011

Natal no limite

Ontem, sexta-feira, no início da noite, tentei me deslocar do Campus da UFRN em direção à Avenida Engenheiro Roberto Freire. Demorei nada menos que 50 minutos para fazer um percurso, em automóvel, de menos de três quilômetros. No Conjunto dos Professores, filas triplas e na contramão, transformavam a entrada na principal avenida da Zona Sul de Natal algo assim como uma corrida de morte. O motivo? Um simples sinal quebrado.

Um acontecimento trivial, enfrentado cotidianamente por muitos aqui na esquina no Atlântico Sul, mas, sem dúvida, revelador do quão a tal da “mobilidade urbana” é uma questão central para a gestão urbana em Natal.

Guru coloca as coisas no seu devido lugar

Grande Guru! O cara vai na mosca, sempre (ou quase sempre, vá lá!). No comentário do post sobre o curso de Ciências Sociais, mais abaixo, o cara acerta o ponto. Tá certo, Guru, há algo de histérico nessa busca narcisista de sentido para o curso.

O blog da Raquel Rolnik

Raquel Rolnik é uma criteriosa e criativa estudiosa do urbano. Você já deve ter lido alguns de seus artigos, não? Pois bem, não é que a mestra também é blogueira? É, sim! Bueno, então clique aqui e confira as suas postagens.

O mala do Malafaia e a homofobia

O texto abaixo é impagável.

O pastor e o poste

Por Michel Blanco . 11.11.11 - 19h04


O pastor Silas Malafaia cometeu o que se pode chamar de “ato fálico”. Em novo episódio de sua longa cruzada contra militantes da causa gay, o líder da igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo prometeu “fornicar”, “arrombar” e “arrebentar” Toni Reis, presidente da ABGLT (Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais). Significa? Ronnie Von que o diga.

As ameaças foram feitas em entrevista à “Época”. A reportagem faz o resumo da história. Mas o discurso agressivo contra gays não é novidade na retórica de Malafaia. A internet abriga um amplo acervo de suas pregações raivosas. Esse ódio todo não é exclusividade dele e nem de grupos evangélicos em si, claro. Sobram católicos na mesma toada. Ainda bem que são uma parcela dos fiéis de cada lado.

Mas por quê essa turma é tão obcecada com o fiofó alheio? Difícil entender essa fissura. É preciso mesmo criar um inimigo para manter ou arregimentar fiéis? Não falta “o mal” num país de desigualdade socioeconômica assombrosa. Conheço pouco das escrituras (fico satisfeito com o “Gênesis” de Robert Crumb), mas até onde sei Jesus é um exemplo de humanismo e compreensão. Pelo visto, até hoje o cara estaria à frente de nosso tempo. Talvez achasse graça do iconoclasta Jesus Manero.

Há uma proliferação de grupos religiosos ultraconservadores no Congresso Nacional, dispostos a ditar regras em temas caros a todos os brasileiros e que não lhes dizem respeito especificamente, como saúde pública e segurança. Mas é fundamental para o exercício da democracia que os diversos segmentos da sociedade, inclusive religiosos, sejam representados no Legislativo. O que não se pode aceitar, para o bem de todos em um Estado laico como o Brasil, é que esses grupos afrontem a consolidação de direitos civis básicos, como na questão da união homoafetiva. Cidadania plena não vale também para os gays?

A monotonia do discurso de quem busca a “salvação” alheia a todo custo até dá para encarar. Mas pregar cacetada em gay sob a justificativa de liberdade religiosa ou defesa da palavra de Deus não está no jogo, irmão. Não no Brasil.

Além disso, alimentar tanto rancor no coração não deve fazer bem ao espírito. Fica então uma dica para Silas Malafaia: acrescente um pouco de ternura em sua fala. Talvez possa seguir o exemplo de um usuário do YouTube, MrPhatLips, e subir no poste pela glória do Senhor (vídeo abaixo). Quem sabe atinja a elevação necessária para superar tanto ódio contra os gays.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Qual o sentido de um curso de Ciências Sociais?

Um debate começa tomar conta do curso de Ciências Sociais da UFRN: qual o seu sentido? A insatisfação de alunos e professores com o andar da carruagem começa a produzir algo mais do que meros desabafos emocionais. Isso é muito bom. Certamente, outros cursos passam pela mesma crise identitária, mas ainda não se deram conta da grandeza do desafio... Ainda envolvido em mensagens anônimas, o debate começa pipocar. Espero que, ao invés de procurarmos bruxas para caçá-las, tenhamos competência para um debate mais profundo sobre os elementos instituidores do cenário com o qual nos defrontamos.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Dilma e a crise

Carlos Lessa dispensa apresentações, não é? Então, leia-o com atenção aí abaixo. Vale a pena!

A presidente sabe
Autor(es): Carlos Lessa
Valor Econômico - 09/11/2011

A presidente é economista, com sólida formação e ampla informação. Foi ministra do vetor-chave do desenvolvimento: a energia. Conviveu e teve assessoria pessoal de Maria da Conceição Tavares, uma das mais brilhantes inteligências do Brasil.

A presidente sabe que a crise mundial, explicitada em 2008, será de longa duração e que o mundo pós-crise não é previsível, mas haverá a modificação geopolítica do planeta, uma profunda onda de inovações tecnológicas e alteração em padrões comportamentais.

A presidente sabe que o futuro exige conhecimento das restrições para, no âmbito do raio de manobra, serem a nação, o povo e sua economia uma folha ao vento da história ou, com a vontade civilizatória e solidária do povo, explicitar e desdobrar um projeto nacional. Cabe ao governante atuar no âmbito da manobra com o olhar firme, coordenar os atores sociais a atuar em direção ao sonho de um Brasil justo e próspero.

A presidente sabe a perversa tendência do sistema financeiro de, em tempos de crise, adotar políticas defensivas que aprofundam a crise. Keynes falava da "preferência pela liquidez", que desvia as empresas da realização de investimentos de ampliação de capacidade produtiva e passam a optar por aplicações financeiras. As organizações bancárias e do mercado de capitais tendem a restringir empréstimos e a optar por ampliar suas reservas de uso imediato. Ao fazê-lo, "empoçam" recursos, e aprofundam a tendência à fase depressiva da economia. O coletivo de empresas, acreditando na crise, adota uma conduta que acelera e aprofunda a crise. No limite, participam de um estouro de boiada que corre para o precipício.

A presidente sabe que o Fed (Federal Reserve) adquiriu ativos podres e duvidosos e injetou volumes colossais de recursos no sistema bancário americano. Entretanto, esses bancos não estão reativando a economia; estão cautelosos no crédito, prosseguem com a execução de hipotecas imobiliárias e paralisam a atividade da construção civil. A família americana, sem planos de previdência contratuais, hoje vê o futuro com angústia e decidiu pela contenção do consumo, que aprofunda o processo depressivo. Os indicadores macroeconômicos dos EUA são inquietantes.

A presidente sabe que os bancos da zona do euro não conseguem coordenar suas políticas nacionais, e tendem a praticar um contracionismo que sinaliza persistência e aprofundamento da crise. Os bancos da zona do euro estão "empoçando" e a Suíça, com medo de uma corrida pelos francos, alinhou sua moeda com o euro.

A presidente sabe que tanto os EUA quanto a comunidade europeia estão reduzindo importações. A China, que vinha sustentando o crescimento, vem perdendo ímpeto e já sinaliza procedimentos de reforço de seus bancos oficiais (para evitar a queda das Bolsas chinesas, o governo está recomprando ações de seus bancos dos acionistas privados minoritários).

A presidente sabe que a Bolsa de Mercadorias de Chicago sustenta os preços relativos de alimentos, de algumas matérias primas e do petróleo. Há uma preferência crescente dos especuladores mundiais por aplicações arbitradas pela Bolsa de Mercadorias de Chicago, porém o sinal pode mudar.

A presidente sabe que, frente à crise mundial, o Brasil deve "botar suas barbas de molho". Felizmente, temos o Banco do Brasil, a Caixa Econômica e o BNDES, que respondem à orientação soberana nacional de não participar da manada (Lula teve que trocar o presidente do BB para forçar nosso maior banco a expandir crédito).

A presidente sabe que o Bradesco já anunciou a criação de um fundo de R$ 1 bilhão para ter "liquidez preventiva" em relação à inadimplência privada. A presidente sabe que é importante reforçar o sistema bancário oficial e expandir o crédito e reduzir os juros básicos. A presidente, corretamente, quer estimular a construção civil em um programa de habitação popular. Obviamente, para a geração de emprego e renda, essa é a política social anticrise por excelência, porém sabe que tem que reduzir a gula dos empreiteiros. Manter a demanda interna ampliando o endividamento familiar com compra de veículos automotores e outros bens duráveis tem um efeito macrodinâmico menor e é patrimonialmente equivocada em relação à família brasileira. Talvez seja esse o sentido profundo da enigmática recomendação presidencial: "o brasileiro deve consumir com moderação".

Uma economista competente não diria essa frase (que parece aplicável a bebida) se não estivesse pensando em desviar as famílias da armadilha da compra de duráveis, orientando-as para a ativação da construção civil. Acho inteligente reforçar os fundos imobiliários com aplicações financeiras da previdência complementar, porém é necessário planejar o futuro das cidades e ampliar o investimento na infraestrutura urbana.

A presidente sabe que é possível e necessário fazer muito mais. O câmbio tem que voltar a ser controlado. O Brasil não deve estimular empresas brasileiras a investirem no exterior (recentemente, duas indústrias de calçados do Rio Grande do Sul anunciaram que vão deslocar suas operações para a Nicarágua em busca de mão de obra barata e menor intervenção do Estado). O sistema bancário oficial deve retirar qualquer apoio a essa atitude anti-nacional. O fomento público deve ser preferencial a empresas de brasileiros. As filiais de multi, na crise, tendem a ampliar remessas para as matrizes. Há um espaço para a empresa de brasileiros crescer, orientada para o mercado interno. As filiais terão que reduzir remessas para manter suas posições de mercado.

Presidente, a desvalorização do real aumenta a rentabilidade das exportações primárias mas encarecem itens básicos da alimentação popular. É indispensável a recriação do imposto de exportação, se houver a desvalorização previsível. Devemos selecionar com critério aplicações financeiras do exterior, reduzir o endividamento com risco cambial do setor privado, ampliar a proteção a ramos industriais clássicos, e adotar uma política pública de "comprar o produto brasileiro".

A presidente está informada das pressões externas. Algumas deveriam ser ridicularizadas: as associações americanas de indústrias de confecção e calçados protestaram contra a adoção, pelo Brasil, de medidas defensivas desses ramos industriais clássicos e ameaçados. Quero crer que são as matrizes interessadas em que suas filiais na China ampliem a avalanche de exportações para o Brasil. No Japão, surgiram resmungos quanto aos obstáculos para importações de veículos pelo Brasil.

Somente critico a presidente pela modéstia das medidas. Outra presidente sul-americana, que vem adotando medidas radicais de defesa nacional, acabou de receber uma reeleição consagradora. A timidez não é sábia em momentos de crise mundial.

Carlos Francisco Theodoro Machado Ribeiro de Lessa é professor emérito de economia brasileira e ex-reitor da UFRJ. Foi presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social - BNDES; escreve mensalmente às quartas-feiras.

A energia nuclear e o futuro

Para sair do convencional, um pouco de discussão sobre uma temática mais do que importante, especialmente agora que, como diz uma querida amiga, estamos chegando no "pé da China": a energia. Leia abaixo uma entrevista muito da interessante.



'Não vejo o futuro sem energia nuclear'
O Estado de S. Paulo - 09/11/2011

David Cahen defende as usinas nucleares e a taxação de carros poluentes para reduzir as emissões de gases-estufa no mundo. Ele é um dos palestrantes do Fórum Global de Sustentabilidade do festival de música SWU, em Paulínia (SP). A seguir, trechos da entrevista.

O que pode ser feito para reduzir o uso de energia?

Hoje, o melhor é cortar o consumo de energia nos países desenvolvidos e em desenvolvimento. Não há dúvidas de que muitas pessoas de classe média e média alta na China, no Brasil e na Índia podem contribuir para os esforços de conservação, que devem começar primeiro em países como Islândia, Noruega, Finlândia, EUA e Canadá. O consumo de energia em países como a Islândia chega a ser quase dez vezes maior que o do Brasil.

Por causa do frio?

Claramente em parte é por causa do clima. Mas também porque a energia usada no país é muito barata, a geotérmica (obtida a partir do calor proveniente da Terra). A segunda coisa que podemos fazer é tirar das ruas carros a gasolina, promover insolação térmica apropriada nas casas e garantir que elas usem ao máximo a luz natural.

O carro elétrico é a solução?

Pode ser parte da solução. Queremos carros elétricos que possam responder à necessidade de quem precisa dirigir muitos quilômetros sem estação de recarregamento. Podemos também tentar taxar aqueles que consomem muita gasolina e que possuem motores pouco eficientes. E para isso não precisamos de novas tecnologias.

Qual é a dificuldade de aplicar novas tecnologias?

Se eu descobrir algo fantástico hoje, é muito improvável que isso esteja no mercado em menos de 15 ou 20 anos.

O que acha de alguns países, como a Alemanha, abandonarem a energia nuclear depois do acidente de Fukushima?

Eu não vejo como o mundo pode se virar no futuro próximo sem a energia nuclear. Não sou fã de nuclear, e fico feliz que Israel não tenha uma usina nuclear. Mas não vejo como os países em desenvolvimento serão capazes de viver sem ela. Mas o Brasil tem sorte, pode não precisar. Já a China e o Japão não têm escolha.

E a segurança?

Acredito que teremos de desligar os reatores antigos, isso custa, mas deve ser feito. Os reatores modernos são muito mais seguros. Mas existe um elemento-chave para a energia nuclear no futuro que se chama thorium e fica próximo do urânio na tabela periódica. A Índia tem perseguido esse elemento, mas ainda estamos longe disso.

As energias eólica e solar ainda são mais caras que a energia fóssil.

A comparação é injusta, pois não estamos taxando o carvão, o gás e o petróleo de acordo com o peso que eles trazem para a humanidade. Prevejo que o preço da energia eólica continuará a baixar, assim como o da energia solar. Porém, nunca serão tão baixos quanto a energia fóssil porque nós não pagamos o preço real pela energia de uma usina a carvão.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Fique em paz nesta noite de segunda. E curta música de primeira...

Bernard Lahire responde dez questões sobre sociologia

10 questions à Bernard Lahire

Mon septième invité est Bernard Lahire, professeur de sociologie à l'École Normale Supérieure de Lyon et Directeur-adjoint du Centre Max Weber (UMR 5283 CNRS) où il est responsable de l'Equipe "Dispositions, pouvoirs, cultures, socialisations". Ses thèmes de recherche portent sur les dispositions sociales, les inégalités sociales d'accès à l'école et à la culture, pratiques culturelles, les théorie de l'action et l'étude des variations intra-individuelles et inter-individuelles.

Valéry Rasplus : En quoi la sociologie peut-elle être déclarée et classée comme une science ?

Bernard Lahire : La science est une pratique et il faut être très prudent quand on déclare qu’un corpus de discours est un corpus scientifique. En répondant « la sociologie est une science », je donnerais l’impression d’une situation très homogène, ce qui n’est absolument pas le cas. Pour être précis, tous ceux qui, aujourd’hui, se déclarent sociologues n’ont pas toujours une pratique scientifique de la sociologie.

Pour moi, la meilleure façon de définir la sociologie en tant que science, consiste à la distinguer de discours ou de savoirs cousins, qui ne prétendent pas à la scientificité. La sociologie scientifique n’est pas philosophie (sociale) : elle n’est pas qu’une activité conceptuelle ou théorique mais suppose des méthodes, une production de données empiriques et un travail d’interprétation de ce matériau. La sociologie n’est pas journalisme d’investigation : elle observe, interroge, recueille des traces d’activités, enregistre des discours spontanés ou sollicités, mais elle le fait avec méthode et réflexivité sur les conditions de production de l’information, et elle construit théoriquement ses objets, en s’appuyant sur un patrimoine de travaux scientifiques déjà existants et en remettant en question des idées préconçues. La sociologie n’est pas littérature : même si elle peut partager avec certaines formes romanesques une certaine façon d’entrer dans la vie quotidienne des acteurs qu’elle étudie, elle enquête vraiment, formule des hypothèses sur ce qu’elle veut montrer ou prouver, théorise sur la base de ses résultats, etc. Tout cela paraît aller de soi et pourtant cette simple liste de critères exclut certains « sociologues » de l’univers scientifique (des « sociologues » sans enquête, sans méthode, sans construction théorique de leur objet, etc.).

Valéry Rasplus : Trouve-t-on encore en France de grandes écoles sociologiques comme il a pu en exister liées à Pierre Bourdieu, Raymond Boudon, Alain Touraine, Michel Crozier, Georges Balandier, etc. ?

Bernard Lahire : Je ne suis pas sûr qu’on puisse véritablement parler aujourd’hui d’« école » autrement que sur un mode métaphorique, pour désigner des manières différentes de construire les objets de la sociologie et de pratiquer la sociologie. L’« école », avec un maître et des disciples, a en grande partie disparu. C’était un mode de fonctionnement reposant autant sur un rapport à l’autorité (avec une domination de type charismatique) que sur une transmission des savoirs. Nous n’avons rien à regretter de l’époque où le « maître » était une sorte de « chef de bande » ou de « meute ». Il en reste encore quelques traces ici où là, mais c’est une forme de vie collective qui ne convient pas à la vie intellectuelle dans des milieux réellement scientifiques.


Ceci étant dit, il existe autant de clivages et de manières concurrentes de faire de la sociologie que du temps où les « grands maîtres » dont vous citez les noms régnaient. Il y a les mêmes oppositions entre objectivistes et subjectivistes, entre ceux qui accordent un poids aux structures et à l’histoire et ceux qui concentrent leur attention sur les effets d’interaction ou d’agrégation, entre ceux qui sont attentifs aux rapports de domination et ceux qui ont une vision irénique du monde social, etc. Des noms, représentants de ces différentes tendances, pourraient être donnés. Ils sont globalement moins connus que ceux que vous avez cités, mais c’est une question de temps de reconnaissance. Et puis il faut dire qu’entre les années 1960 où sont apparus ces grandes figures (parmi lesquels ont dominé des hommes, normaliens, agrégés de philosophie, d’histoire ou de lettres) et aujourd’hui, le nombre des sociologues a été à peu près multiplié par dix, ce qui a rendu la concurrence plus rude. Enfin, je pourrais dire, comme le faisait Jacques Bouveresse dans les années 1960, alors qu’il n’avait que 25 ans et qu’il terminait son parcours à l’Ecole Normale Supérieure de Paris (http://www.youtube.com/watch?v=EaSTIRlDJh4), que le poids de quelques grands noms des générations précédentes est parfaitement « accablant » (au sens d’impressionnant) pour tous ceux qui ont bien conscience de tout le travail qui est devant eux pour espérer parvenir un jour à les égaler.
Valéry Rasplus : La sociologie a toujours eu pour ambition de saisir les modes de connaissance ou de pensée, les savoirs et savoir-faire des êtres socio-historiques qu'elle étudie. Howard S. Becker signale qu'il n'a « jamais considéré que les sciences sociales détiennent le monopole de la connaissance sur ce qui se passe dans la société » (in Comment parler de la société, La Découverte, 2009, p. 7-8). Pour votre part, où placez-vous la sociologie par rapport aux autres sciences humaines qui rendent compte à leurs manières de la société et l'analysent sous ses divers aspects ?


Bernard Lahire : Becker avait en tête l’ensemble des sciences sociales et les comparait notamment à la littérature qui, elle aussi, produit et diffuse du savoir sur le monde social. Personnellement, lorsque je pense « sociologie », je pense plus généralement « sciences sociales ». J’ai été formé universitairement dans une cadre beaucoup plus pluri-disciplinaire qu’aujourd’hui : j’ai suivi longtemps des séminaires de linguistique et de démographie historique, fréquenté des cours de philosophie comme des cours d’éthologie, lu de l’histoire et de la psychologie, etc. J’ai donc gardé l’habitude et le goût de la lecture des travaux des disciplines connexes. Et je vous avouerais que je trouve souvent de la meilleure sociologie – au moins implicite et parfois explicite – à l’extérieur de la discipline sociologique (parmi les historiens notamment) que dans ses limites institutionnelles étroites.



Valéry Rasplus : Dans votre enseignement universitaire, comme dans vos livres, vous abordez les questions relatives au métier de sociologue, telles que ses compétences et ses dispositions, la place et la nature de la description en sociologie, le rôle de l'analogie dans le raisonnement sociologique, l'importance de l'échelle des contextes ou encore les risques de surinterprétation. Le sociologue est-il un spécialiste de ce qui fait lien dans une société et un chasseur d'illusions ?

Bernard Lahire : Le sociologue est forcément un chasseur d’illusions. Dès qu’il fait correctement son métier, il découvre que la réalité des choses ne se présente généralement pas de la manière dont on nous la présente ordinairement, et notamment officiellement. C’est une évidence, et tous les sociologues qui font comme si la fameuse « coupure épistémologique » de Bachelard était une vieille affaire dépassée sont, à mon sens, dans l’erreur. Rompre avec le sens commun, ce n’est pas un objectif en soi, mais c’est tout simplement le résultat de tout travail scientifique véritable. Quant à l’objet du sociologue, il ne se définit pas par la seule explication de « ce qui fait lien dans une société ». Je dirais qu’il s’efforce de répondre à la question de savoir pourquoi des acteurs historiquement déterminés, font ce qu’ils font, pensent ce qu’ils pensent, sentent ce qu’ils sentent. En répondant à cette question, il observe bien sûr des formes de vie communes, mais il rencontre aussi des formes de vie hétérogènes, qui s’affrontent, s’opposent, se contredisent. Le « lien » dont vous parlez peut être conflictuel ou assembler des acteurs ou des institutions hiérarchisés, inégaux, etc.



Valéry Rasplus : Considérez-vous que l'un des enjeux majeurs de la sociologie contemporaine réside dans l'étude conjointe des trajectoires des acteurs (de leurs stratégies, de leurs intérêts, des luttes qui se jouent entre eux) et de la nature et de la spécificité des activités sociales et cognitives qui se construisent et se déploient dans le monde social ?

Bernard Lahire : C’est l’un des enjeux majeurs en effet. Souvent, ces deux aspects sont dissociés. Certains sociologues vont insister sur les rapports de force, les rapports de domination, les luttes, les stratégies, les intérêts, etc. D’autres vont s’intéresser davantage à ce que font précisément les acteurs, à la nature de leurs activités. Si je prends l’exemple de la littérature, la théorie des champs va souvent consacrer toute son énergie à étudier des stratégies éditoriales, des intérêts, des positionnements ou des luttes entre écrivains ou écoles littéraires, des trajectoires d’écrivains, sans dire un mot de ce que font réellement les écrivains. On ne répond même plus à la question de savoir ce qu’est la littérature (et qui la distingue d’autres types de productions symboliques) ou ce qui fait que Franz Kafka ne produit pas la même œuvre que Max Brod. Inversement, certains chercheurs (plutôt du côté des études littéraires et de la philosophie) vont prendre pour objet les œuvres ou répondre philosophiquement à la question « Qu’est-ce que la littérature ? » en faisant comme si les auteurs étaient des êtres désincarnés, sans épaisseur sociale et historique.



Valéry Rasplus : Le métier de sociologue est de plus en plus dépendant des commendataires de recherche, privés ou publics. La sociologie en serait-elle réduite à n'être plus qu'une sorte de recherche-action où le sociologue interviendrait pour éclairer le politique, le décisionnaire, le militant, les mouvements protestataires , etc. contribuant par ses recherches – orientées, plus ou moins contraintes- à la résolution intéressée des problèmes sociaux ?

Bernard Lahire : Le risque est grand. Et je dirais qu’il n’a jamais été aussi grand dans la période que nous vivons. Tout d’abord,l’Etat a concentré les moyens de la recherche dans une Agence nationale de la Recherche (qui donne beaucoup d’argent à très peu de chercheurs), ce qui contribue à privilégier les énormes projets (pluri-équipes, pluri-disciplinaires, internationaux, etc.) basés sur des compromis, des arrangements, des consensus mous, etc., bref, tout le contraire de ce que devraient être des projets (risqués) très innovants. Et comme il est difficile de trouver de l’argent hors de ce goulot d’étranglement soigneusement organisé par les apparatchiks de la recherche, la vie scientifique est beaucoup plus dure aujourd’hui. Par ailleurs, le climat politique et social actuel pousse légitimement nombre de chercheurs à travailler sur des objets qui sont mis en avant dans les médias du fait de la politique gouvernementale, avec l’idée qu’il faut empêcher les gouvernants comme les journalistes de dire n’importe quoi sur les violences urbaines, la délinquance, l’immigration, l’identité nationale, etc. Mais à force de vouloir contrer l’adversaire, on prend le risque de la proximité (d’être « contre, tout contre » selon la formule bien connue), puisqu’on accepte les terrains imposés par ceux qui sont en position de pouvoir. Les chercheurs en sciences sociales risquent de ne plus pouvoir faire apparaître des problèmes dont personne ne parle ou de ne plus étudier des réalités a priori insignifiantes ou moins « chaudes » du point de vue de l’urgence politique ou journalistique.



Valéry Rasplus : Le métier de sociologue peut-il se passer d'enquêtes empiriques, d'études de terrain, comme ce fût le cas dans sa grande majorité à ses débuts ?

Bernard Lahire : Même dans les temps « fondateurs » de la sociologie, on voit clairement apparaître l’opposition entre un Durkheim et un Simmel. Beaucoup ont fait le choix de la science sociale rigoureuse et empirique contre l’essayisme touche-à-tout du philosophe social (ce qui n’enlève pas tout intérêt à la lecture de certains textes de Simmel). Mais, vous avez raison, le temps où la philosophie sociale pouvait tenir lieu de sociologie est désormais révolu. Et je pense que nous n’avons pas à regretter cette évolution. Je dis cela en ayant à l’esprit qu’il existe, par ailleurs, un renouveau tout à fait intéressant de la « philosophie sociale » du côté de la philosophie (en partie contre certaines tendances de la philosophie politique). Je crois que les sociologues auront à l’avenir grand intérêt à lire les philosophes, et notamment les philosophes sociaux. Mais un sociologue est forcément quelqu’un qui pense avec un esprit d’enquête (quelle que soit la forme que prenne cette enquête). Il doit allier des capacités théoriques et des capacités empiriques à produire des données permettant de répondre aux questions (nécessairement limitées) qu’il se pose.



Valéry Rasplus : Il y a dix ans, l'astrologue Élizabeth Teissier soutenait une thèse en sociologie « Situation épistémologique de l'astrologie à travers l'ambivalence fascination-rejet dans les sociétés postmodernes » sous la direction de Michel Maffesoli. A cette occasion vous avez publié dans la Revue européenne des sciences sociales un texte intitulé « Comment devenir docteur en sociologie sans posséder le métier de sociologue ? ». Avec le recul comment analysez-vous la démarcation dans l'espace sociologique entre les défenseurs et les critiques de cette thèse ?


Bernard Lahire : À part Michel Maffesoli et les quelques personnes qui ont participé à cette farce, je ne connais pas de collègues ayant défendu réellement le fait qu’il s’agissait d’une thèse de sociologie. Ceux qui auraient encore un doute peuvent faire ce que nous avons été quelques uns à faire au moment de cette « affaire » : lire la thèse et constater par eux-mêmes l’étendue des dégâts. Ce qui m’a, en revanche, fortement déçu dans cette histoire c’est que des collègues puissent penser qu’il était aussi question de « querelles entre écoles sociologiques ». Là, les bras m’en tombent. Si l’on n’est pas capable de prendre acte collectivement d’une faute professionnelle, cela remet fortement en question le fonctionnement global de l’« espace professionnel ».



Valéry Rasplus : Comment le sociologue et la sociologie font la distinction entre sciences et pseudo-sciences ?


Bernard Lahire : Le but n’est pas, pour un sociologue, d’opérer la distinction entre sciences et pseudo-sciences. La sociologie n’a pas à trancher dans des débats qui lui sont extérieurs. Par exemple, je n’ai pas à dire en tant que sociologue que l’astrologie n’est pas une science (les psychologues et les astro-physiciens sont en position de le faire) et je peux même étudier sociologiquement les usages de l’astrologie, les évolutions historiques de l’astrologie, le marché de l’astrologie, etc. Je peux, en revanche, affirmer assez tranquillement qu’une thèse qui défend l’astrologie comme une science et prétend expliquer les comportements humains grâce à l’astrologie n’est pas une thèse de sociologie. Et comme il n’existe pas de cursus d’astrologie (et de doctorat d’astrologie) à l’université, la thèse en question n’en est objectivement pas une.



Valéry Rasplus : Pouvez-vous me dire où en est la proposition d'enseigner les sciences du monde social dès l'école primaire ?



Bernard Lahire : Depuis que j’ai formulé cette proposition, j’ai été en contact avec des enseignants du primaire qui étaient intéressés par une forme d’expérimentation. Mais, entre temps, la nouvelle majorité n’a eu de cesse de prendre pour cible l’enseignement des sciences économiques et sociales au lycée. J’ai donc passé plus de temps à défendre l’enseignement des SES au lycée qu’à développer un projet concernant l’école primaire. Je ne désespère pas que, un changement de majorité aidant, l’idée de revoir la manière dont on peut refondre l’enseignement de l’histoire, de la géographie et de l’éducation civique en y intégrant les grands acquis de la sociologie et de l’anthropologie puisse prendre corps. Les enfants sont tout à fait capables de réflexivité sur le monde social et je ne vois pas pourquoi, alors qu’on juge bon de leur transmettre un esprit scientifique lorsqu’il est question de phénomènes naturels ou physiques, on les laisserait en état d’ignorance et d’attitude pré-rationnelle lorsqu’il s’agit du monde social.


Propos recueillis par Valéry Rasplus

Comece um dia com calma... e paz.

sábado, 5 de novembro de 2011

Artigo de Paulo Linhares

A política estadual passada a limpo, com a verve sem igual do nosso amigo Paulo.

ROSA E CRAVO

Paulo Afonso Linhares

Sim, tão efêmera como a famosa “rosa” de Malherbe (geralmente fala-se de “flores”...) foi a decantada aliança política celebrada pelo então presidente da Assembleia Legislativa estadual, deputado Robinson Faria, com a tríade que lidera o DEM no Rio Grande do Norte (senadores José Agripino Maia e Rosalba Ciarlini Rosado, além do marido desta, ex-deputado estadual Carlos Augusto Rosado, soi-disant “mentor, marido e marqueteiro” daquela...), cujo resultado palpável foi à eleição de uma chapa encabeçada por Rosalba Ciarlini Rosado (DEM) para o governo do Estado e daquele como vice-governador, nas eleições de 2010. Não precisava ser gênio em política para prever com precisão o fim desse acordo: em Mossoró, dizia-se nas emissoras de rádio que Rosalba e Robinson não comeriam juntos o mesmo peru natalino. Palpite certeiro, porém, sem qualquer mérito. Tudo muito evidente, como é ilógico uma rosa sem espinho.

Aparentemente tudo correria bem, a despeito de uma série de dificuldades que esse governo teve de enfrentar desde o seu início, sobretudo, em razão de vários movimentos grevistas que paralisaram setores chaves da Administração Pública estadual nos primeiros meses der 2011. Fortalecido com a manobra política bem sucedida que teve como marco inicial o abandono de seus antigos aliados (leia-se: os governadores Wilma de Faria e Iberê Ferreira de Souza, principalmente) e desaguou na montagem de um governo em que seu grupo passou a ocupar generoso espaço (inclusive ele próprio acumulou o cargo de Vice-Governador com o de Secretário de Estado dos Recursos Hídricos e Meio Ambiente), Robinson Faria imediatamente iniciou a montagem de um projeto mais ambicioso: tornou-se o comandante, no RN, do novel partido encabeçado nacionalmente pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, que é o Partido Social Democrático (PSD), que além de ser uma instituição partidária anacrônica “ab ovo”, foi definida pelo seu líder máximo como um partido que não é de direita, de esquerda nem de centro. Pode, “seu” Kassab?

O problema do PSD de Robinson Faria, que já nasceria no RN como uma bancada de seis deputados estaduais, o vice-governador, o deputado federal Fábio Faria e uma “récua” de prefeitos e vereadores. Claro, para montar esse exército o vice-governador avançou com força e determinação nos redutos dos demos potiguares, comandados pelo senador José Agripino Maia que, também na condição de presidente nacional do Democratas, viu seu partido sofrer uma esvaziamento mortal em todos os Estados da federação, com a perda de figuras emblemáticas do porte da (bela e charmosa) senadora Kátia Abreu (PSD-GO), a maior liderança ruralista do país que preside a poderosa Confederação Nacional da Agricultura (CNA). Zé Agripino fez ver a Robinson que não toleraria a invasão de seu terreiro no Rio Grande do Norte. Questão de honra. E jogou pesado na base do canhoneio verbal a ponto que acusou o vice-governador de querer “tutelar o governo” de Rosalba.

Daí para o desenlace foi um pulo, em especial após a astuciosa armação montada contra Robinson Faria, que foi a sua exoneração do cargo de titular da Secretaria de Recursos Hídricos e Meio Ambiente para assumir o governo em face da viagem que a titular faria aos Estados Unidos da América para “negociar uns empréstimos”. São desconhecidos os resultados práticos da viagem, a não ser o de alijar o vice-governador daquela secretaria: reassumindo o governo Rosalba não mais nomeou o vice para o cargo de secretário. A clara humilhação de Robinson Faria tornou inevitável o rompimento político de ambos. O inesperado dessa pendenga política foi aposição tomada pelo secretário-chefe do Gabinete Civil, jurista Paulo de Tarso Fernandes, que ficou solidário a Robinson Faria e também deixou o governo, o que representou uma enorme baixa.

O caminho pouco iluminado e quase sempre íngreme da oposição foi o que restou a Robinson. Diante do seu rompimento com o governo estadual, muitos dos políticos que pretendiam filiar-se ao PSD puxaram o freio de mão, a começar pelo presidente da Assembleia, deputado estadual Ricardo Mota e mais três outros colegas seus (deputados Raimundo Fernandes, Vivaldo Costa e Gustavo Carvalho). O mesmo se diga com prefeitos, vereadores e outras lideranças, que passaram a fugir do PSD como o diabo da cruz. Um problema: a maior liderança oposicionista do RN ainda é a professora Wilma de Faria, antiga aliada de Robinson em quase oito anos de governo e por ele abandonada nas eleições de 2010. Terão que navegar num mesmo barco, se quiserem ter alguns ganhos em 2012 e, sobretudo, nas eleições de 2014. Muita calma nessas horas, afinal, ensina François La Rochefoucauld que “[...] A verdadeira esperança é uma qualidade, uma determinação heróica da alma. E a mais elevada forma de esperança é o desespero superado.” E o que têm, afinal, as flores com esse ninho da cancão? Somente a breve existência: o francês François Malherbe, ao tentar consolar um amigo cuja filha morreu adolescente escreve estes inspirados versos: “Mas ela era do mundo em que vivem as coisas mais belas / Têm o pior destino: / E Rosa viveu o que vivem as Rosas, / O espaço de uma manhã.” O resto é conversa para boi dormir.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

O capitalismo e os indignados

OWS, capitalismo e democracia
Autor(es): Luiz Gonzaga Belluzzo
Valor Econômico - 01/11/2011

Os moradores de Flitch, no estado do Michigan, (EUA) perderam o emprego na fábrica de autopeças fechada sob a pressão da concorrência chinesa. Indagado sobre o destino dos desempregados, o economista Gregory Mankiw respondeu candidamente: "As pessoas têm que se mover". Afirmou isso depois de ter proclamado a necessidade de um curso de economia no ensino médio para que o público em geral possa ter uma visão mais acurada da globalização.

O economista de Harvard, Richard Freeman, diz, em artigo recente, que a velha conversa sobre os benefícios do comércio - na situação em que os países avançados produzem bens de alta tecnologia com trabalho qualificado enquanto os menos desenvolvidos se dedicam aos setores de mão de obra não qualificada - "tornou-se obsoleta com a presença da China e da Índia". Nos anos 90, Paul Krugman, o economista laureado com o Nobel, patrocinou uma cruzada ideológica contra os movimentos antiglobalização que profligavam a perda dos bons empregos americanos para os trabalhadores produtivistas da Ásia. Já em meados da primeira década do terceiro milênio, Krugman foi obrigado a reconsiderar seus pontos de vista. Indagado sobre as razões da mudança, Krugman respondeu: o avanço da China.

Os fenômenos centrais da economia de nosso tempo são o acirramento da concorrência entre as grandes empresas internacionais, a escalada da financeirização e as rápidas mudanças na geoeconomia mundial. As posições relativas de países, continentes e classes sociais sofreram alterações tão radicais quanto perturbadoras. Alguém designou esses deslocamentos tectônicos como "desenvolvimento desigual e combinado".

Nas regiões ditas desenvolvidas, já no crepúsculo dos anos 90, era possível ouvir os clamores das manifestações antiglobalização. A toarda subiu muitos decibéis na posteridade da crise iniciada em 2008. Ontem, as gentes do movimento Ocupe Wall Street (OWS) eram dez gatos pingados. Hoje, os céticos de ontem observam o descontentamento dos "perdedores" se alastrar mundo afora. Agora já são muitos e a mídia global cuida de discernir se os manifestantes carregam o "anti-capitalismo" (sic) nos ossos ou apenas nas mochilas que levam às costas.

Nos círculos bem pensantes há desconforto com o mau humor dos cidadãos que não só rejeitam as consequências da crise, mas, sobretudo, contestam o modelo social e econômico que conduziu o planeta à beira de uma (outra) Grande Depressão. Os 99% sofrem as agruras da estagnação dos rendimentos familiares nos últimos trinta anos, das ocupações precárias, do desemprego de longo prazo, do aumento da pobreza e do desamparo na doença.

No torvelinho do desencontro das palavras de ordem, da diversidade de pontos-de-vista, os participantes dos protestos revelam uma percepção comum: a liberdade e a autonomia dos indivíduos de carne e osso não decorre naturalmente do movimento desembaraçado de mercadorias e de capitais. Os arautos do livre mercado asseguravam que a liberdade humana decorre do impulso natural do homem à troca, ao intercâmbio, à aproximação por meio do comércio etc.

É de lei reconhecer que Adam Smith corretamente chamou a atenção para o caráter libertador da economia mercantil capitalista e para as suas potencialidades. Marx, herdeiro e defensor das postulações do Iluminismo, da Revolução Francesa e admirador do caráter transformador do capitalismo, indagou se as relações de produção e as forças produtivas do novo modo de produção permitiriam, de fato, a realização da Liberdade e da Igualdade.

Entre tantas definições, o capitalismo pode também ser entendido como a coexistência de "duas naturezas": 1) a enorme capacidade de criar, transformar, dominar a natureza, suscitando desejos, ambições e esperanças; 2) as limitações à sua capacidade de distribuir a renda e a riqueza, de entregar o bem estar e a autonomia individual a todos os encantados com suas promessas. Não se trata de perversidade, mas do seu modo de funcionamento.

Constrangidos pela concorrência e liberados das travas da regulação pública, os detentores de riqueza, não escapam dos estados de euforia e de apetite pelo risco que, culminam na decepção, na crise e na desvalorização da riqueza. Quando sobrevém o colapso da confiança, os indivíduos racionais e calculadores são açoitados pela "busca desesperada da riqueza líquida".

A volúpia coletiva pela busca do dinheiro, a forma geral da riqueza, termina por destruir, em seu movimento maníaco, não só as suas formas particulares como também as condições de vida dos indivíduos atropelados pelo estouro da manada. Os mercados e seus agentes, diga-se, não estão certos nem errados. Estão simplesmente obrigados a tomar decisões que, em seu imaginário peculiar, são as apropriadas para proteger ou acrescentar o valor de sua riqueza. Na verdade, eles são "pensados" por uma lógica que não controlam.

Nesse ambiente darwinista, são cada vez mais frequentes as arengas dos economistas, sacerdotes da religião dos mercados, contra as tentativas dos simples cidadãos e cidadãs de barrar a marcha do Moloch insaciável e ávido por expandir o seu poder. A gritaria dos sábios das finanças é desferida contra os "desvios" da política, contra os surtos de "populismo".

Os que protestam nas ruas do mundo sabem que as novas formas financeiras contribuíram para aumentar o poder das grandes corporações. As fusões e aquisições suscitaram um maior controle dos mercados e promoveram campanhas contra os direitos sociais e econômicos, considerados um obstáculo à operação das leis da concorrência.

A lógica da economia destravada restringe o espaço democrático e impede que os cidadãos, no exercício da política tenham capacidade de decidir sobre a própria vida.

Luiz Gonzaga de Mello Belluzzo, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda é professor titular do Instituto de Economia da Unicamp e escreve mensalmente às terças-feiras

Terras-raras

Você já ouviu falar de terras-raras? O quê? Não, não é aquela terra rara, não. Deixa disso, criatura! Leia abaixo e tome conhecimento de um tema que vai entrar na pauta da discussões políticas e econômicas dos próximos anos.


Terras-raras, política industrial e o caso China
Autor(es): Gustavo Ferreira Ribeiro
Valor Econômico - 01/11/2011



Muito se tem escrito, recentemente, sobre o potencial de exploração das terras-raras no Brasil e a oportunidade que se abre para uma política industrial voltada para cadeias de alto valor agregado. Contudo, pouco se tem falado sobre o recente caso na Organização Mundial do Comércio (OMC) denominado "China - Matérias-Primas" que, embora não trate diretamente de terras-raras, possui relação direta com a discussão.

Terras-raras, para que se recorde, são quinze elementos encontrados na tabela periódica. A literatura especializada indica não se tratarem nem de terras nem de elementos raros. O nome surge em função da dificuldade em separá-los de outros elementos da tabela. Possuem propriedades que encontram uso em produtos de alto valor agregado pelas indústrias como displays, turbinas eólicas, veículos híbridos, células fotovoltaicas, baterias, fibras óticas entre outras.

É possível encontrar estimativas do mercado de terras-raras que variam de US$ 1 bilhão a US$ 5 bilhões por ano. O Brasil, também se estima, poderia desempenhar papel importante em sua exploração com 3,5 bilhões de toneladas de reservas em regiões do Amazonas, Goiás e Minas Gerais, embora já se tenham ressalvados os impactos ambientais no processo de exploração das terras-raras.

O que um caso da OMC teria então a ver com a discussão? O caso, decidido por um painel da OMC em julho 2011, envolveu no pólo reclamante os Estados Unidos e outros membros daquela organização contra a China. As medidas questionadas estão distribuídas em diversas legislações chinesas que impõem licenças, quotas e impostos de exportação sobre nove minerais (não incluindo terras-raras, diga-se de passagem).

Entre os diversos argumentos das partes, a China, de um lado, alega sua soberania permanente sobre a exploração e controle de seus recursos naturais. De outro lado, os reclamantes apontam violações às regras de livre comércio pela China, principalmente no que se denominam restrições quantitativas de exportação (quotas) com o fim de aumentar a oferta ao produtor doméstico. E é sobre interpretações de algumas exceções do conhecido Gatt-47 (sigla em inglês para Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio) que se pode subsumir o quanto o caso é polêmico. Explica-se.

O artigo 11 do Gatt-47 dispõe não só sobre a eliminação de quotas para a importação de um produto, mas também para a exportação de um produto. Este é um ponto completamente pacífico, embora menos conhecido, que decorre da leitura do próprio artigo. Também é indiscutível que o mesmo admite a imposição de imposto de exportação de maneira ampla pelos membros, sem maiores preocupações sobre se estar ou não violando uma obrigação internacional.

Menos desenvolvidas na jurisprudência da OMC, entretanto, eram então duas exceções que permitiriam desvios da proibição geral de eliminação de quotas. De maneira simplificada, na primeira delas - art. 11 (2): a - permitem-se restrições aplicadas temporariamente à exportação para prevenir ou remediar uma situação crítica, devido a falta de "produtos essenciais" para o membro exportador.

Na segunda - art. 20, permitem-se medidas necessárias para assegurar, a uma indústria nacional de transformação, quantidades essenciais de matérias-primas durante a execução de um plano governamental de estabilização, sob reserva de que essas medidas não sejam discriminatórias.

E é justamente sobre essas exceções que é necessário destacar o posicionamento do painel. Sobre a primeira delas, para o painel, a determinação do que são produtos essenciais para um membro não significa que um membro pode, por si só, determinar se um produto é para ele essencial. Quanto à segunda, o painel afirma que a disposição prevê expressamente que qualquer restrição à exportação sobre produtos domésticos não possa ser imposta para aumentar a proteção à indústria doméstica, embora o mesmo painel tenha, anteriormente na decisão, admitido que o dispositivo lida com uma exceção que expressamente trata de proteção à indústria.

Analisado o caso, torna-se agora menos obscura sua relação com a questão das terras-raras. Se um governo decide restringir as exportações desses elementos adotando medidas de comércio exterior, inevitavelmente as regras e as decisões da OMC entram em campo.

A discussão se potencializa ao se levar em conta a crescente importância da aplicação das terras-raras em processos e produtos em cadeias produtivas do mais alto valor agregado: aeronáutica, automobilística, energias renováveis, tablets, entre outras. Aliás, o momento é propício para a reflexão, pois encontram-se em implementação dois planos de governo (denominados Brasil Maior e o Próprio PME-2030) que, dentro das esferas de competência de cada órgão do governo federal, reconhecem a necessidade de se aumentar a agregação de valor em território nacional.

O que o caso da China sugere são certos limites para eventuais políticas de controle de exportação envolvendo restrições quantitativas de recursos minerais. Neste caso, fora a flexibilidade ampla de instituição de imposto de exportação, a imposição de quotas é muito mais cerceada; primeiro por se ligar a medidas adotadas temporariamente ou ligadas a planos de estabilização; segundo pela obscuridade da decisão do painel, como se viu.

Por fim, levadas ao limite as interpretações do painel, pode se indagar se uma vez havendo apenas essas possibilidades quanto à restrições quantitativas, o que o painel sugere é, na verdade, uma certa obrigação de compartilhamento de recursos naturais entre os membros da OMC. Teriam então as partes contratantes do GATT aberto mão de sua soberania sobre recursos naturais em 1947? Certamente que não, e novos desdobramentos virão na aguardada decisão da apelação em curso do caso.

Gustavo Ferreira Ribeiro é professor do Programa de Mestrado e Doutorado em Direito do UniCEUB. Doutor em Direito pela Maurer School of Law/Indiana University (ex-bolsista Capes/Fulbright

Os 7 bilhões de humanos e o revival de Malthus

Malthus na moda novamente. O acerto de contas feito, dentre outros, por Karl Marx, parece que não conseguiu enfrentar o desafio do tempo. E o tempo está mais para Malthus, dizem-me não poucos. Voltaremos a conversar sobre isso. Por enquanto, leia abaixo texto publicado na edição de hoje do sempre muito bom VALOR ECONÔMICO.

Ainda é cedo para descartar o ideal malthusiano
Autor(es): Por Javier Blas Financial Times, de Cingapura
Valor Econômico - 01/11/2011



Ontem, chegamos "oficialmente" a um marco histórico para a população mundial - agora somos 7 bilhões de pessoas no planeta.

A projeção do Fundo de População da Organização das Nações Unidas (ONU) é artificial, mas indica uma tendência muito mais importante: o crescimento da população do planeta nos últimos 50 anos foi assustadoramente alto, com o acréscimo de 1 bilhão de pessoas a cada 13 anos.

Isso importa de alguma forma para o mercado mundial de commodities? A questão é importante porque o forte aumento populacional é muitas vezes apontado como motivo para os preços das matérias-primas estarem tão altos.

Desde que Thomas Robert Malthus escreveu "Ensaio sobre o Princípio da População", em 1798, uma sucessão de estudos, incluindo "The Population Bomb", de Paul Ehrlich, centrou-se em cenários de destruição relacionando o alto crescimento populacional à escassez e custo cada vez maior dos recursos naturais. Ainda assim, o preço das commodities, em termos reais, ajustados à inflação, em certas ocasiões mal reagiu ao aumento na população.

Os anos 90 foram paradigmáticos. A década viu um período de baixa nas commodities, mesmo enquanto a população mundial exibia seu maior crescimento - em apenas 11 anos, houve aumento de 1 bilhão na população, que passou de 4 bilhões em 1987 para 5 bilhões em 1998.

A frágil relação entre o crescimento da população e o preço das commodities na década de 80 e 90 levou o economista conservador Julian Simon a ganhar aposta de US$ 1 mil contra o ecologista Ehrlich quanto ao impacto da população sobre as matérias-primas. Simon e Ehrlich fizeram a famosa aposta no início de 1980, tendo como alvo o preço em termos reais de cinco metais - cromo, cobre, níquel, estanho e tungstênio - durante um período de dez anos. Em 1990, Ehrlich mandou um cheque a Simon de US$ 567,07, representando o declínio no valor dos metais ao longo dessa década.

Para os cornucopianos (que acreditam na capacidade da ciência em avançar o suficiente para alimentar o mundo), a aposta encerrou o debate: os malthusianos, que relacionavam o alto crescimento da população aos altos preços das commodities e à escassez de recursos naturais, estavam errados.

A última década, no entanto, provou que o debate está longe de ter terminado. Se Simon e Ehrlich tivessem apostado em um período maior, de 30 em vez de 10 anos, Ehrlich teria vencido. Em termos reais, o preço de uma cesta composta por cromo, cobre, níquel, estanho e tungstênio, hoje vale mais do que nos anos 80.

Então, por que o comportamento dos preços na década de 2000 revelou-se tão diferente dos anos 80 e 90? A simples resposta é que o preço das commodities reage a fatores múltiplos, sendo que a população é apenas um deles.

Os anos 80 e 90 viram outras grandes forças em jogo: o efeito recessivo dos altos preços do petróleo, a reação de crescimento da oferta aos altos preços anteriores e o impacto das mudanças tecnológicas. A agricultura mostrou-se um exemplo paradigmático dos avanços tecnológicos. A Revolução Verde, que desencadeou o aumento na produtividade agrícola, reduziu os preços das commodities agrícolas mesmo em meio à duplicação da população mundial entre 1959 e 1998.

O que realmente importa para as commodities não é o tamanho da população, mas sua riqueza.

O que tornou a década de 2000 tão diferente foi o fato de uma parcela maior da população mundial ter se beneficiado de um forte aumento de renda. Um mundo de 7 bilhões de pessoas pode gozar de preços moderados nas commodities apenas se metade da população continuar pobre e quase 20% estiver cronicamente passando fome. De outra forma, o aumento na população mostrará que Ehrlich, no fim das contas, estava certo. (Tradução de Sabino Ahumada)