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quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Dilma e a crise

Carlos Lessa dispensa apresentações, não é? Então, leia-o com atenção aí abaixo. Vale a pena!

A presidente sabe
Autor(es): Carlos Lessa
Valor Econômico - 09/11/2011

A presidente é economista, com sólida formação e ampla informação. Foi ministra do vetor-chave do desenvolvimento: a energia. Conviveu e teve assessoria pessoal de Maria da Conceição Tavares, uma das mais brilhantes inteligências do Brasil.

A presidente sabe que a crise mundial, explicitada em 2008, será de longa duração e que o mundo pós-crise não é previsível, mas haverá a modificação geopolítica do planeta, uma profunda onda de inovações tecnológicas e alteração em padrões comportamentais.

A presidente sabe que o futuro exige conhecimento das restrições para, no âmbito do raio de manobra, serem a nação, o povo e sua economia uma folha ao vento da história ou, com a vontade civilizatória e solidária do povo, explicitar e desdobrar um projeto nacional. Cabe ao governante atuar no âmbito da manobra com o olhar firme, coordenar os atores sociais a atuar em direção ao sonho de um Brasil justo e próspero.

A presidente sabe a perversa tendência do sistema financeiro de, em tempos de crise, adotar políticas defensivas que aprofundam a crise. Keynes falava da "preferência pela liquidez", que desvia as empresas da realização de investimentos de ampliação de capacidade produtiva e passam a optar por aplicações financeiras. As organizações bancárias e do mercado de capitais tendem a restringir empréstimos e a optar por ampliar suas reservas de uso imediato. Ao fazê-lo, "empoçam" recursos, e aprofundam a tendência à fase depressiva da economia. O coletivo de empresas, acreditando na crise, adota uma conduta que acelera e aprofunda a crise. No limite, participam de um estouro de boiada que corre para o precipício.

A presidente sabe que o Fed (Federal Reserve) adquiriu ativos podres e duvidosos e injetou volumes colossais de recursos no sistema bancário americano. Entretanto, esses bancos não estão reativando a economia; estão cautelosos no crédito, prosseguem com a execução de hipotecas imobiliárias e paralisam a atividade da construção civil. A família americana, sem planos de previdência contratuais, hoje vê o futuro com angústia e decidiu pela contenção do consumo, que aprofunda o processo depressivo. Os indicadores macroeconômicos dos EUA são inquietantes.

A presidente sabe que os bancos da zona do euro não conseguem coordenar suas políticas nacionais, e tendem a praticar um contracionismo que sinaliza persistência e aprofundamento da crise. Os bancos da zona do euro estão "empoçando" e a Suíça, com medo de uma corrida pelos francos, alinhou sua moeda com o euro.

A presidente sabe que tanto os EUA quanto a comunidade europeia estão reduzindo importações. A China, que vinha sustentando o crescimento, vem perdendo ímpeto e já sinaliza procedimentos de reforço de seus bancos oficiais (para evitar a queda das Bolsas chinesas, o governo está recomprando ações de seus bancos dos acionistas privados minoritários).

A presidente sabe que a Bolsa de Mercadorias de Chicago sustenta os preços relativos de alimentos, de algumas matérias primas e do petróleo. Há uma preferência crescente dos especuladores mundiais por aplicações arbitradas pela Bolsa de Mercadorias de Chicago, porém o sinal pode mudar.

A presidente sabe que, frente à crise mundial, o Brasil deve "botar suas barbas de molho". Felizmente, temos o Banco do Brasil, a Caixa Econômica e o BNDES, que respondem à orientação soberana nacional de não participar da manada (Lula teve que trocar o presidente do BB para forçar nosso maior banco a expandir crédito).

A presidente sabe que o Bradesco já anunciou a criação de um fundo de R$ 1 bilhão para ter "liquidez preventiva" em relação à inadimplência privada. A presidente sabe que é importante reforçar o sistema bancário oficial e expandir o crédito e reduzir os juros básicos. A presidente, corretamente, quer estimular a construção civil em um programa de habitação popular. Obviamente, para a geração de emprego e renda, essa é a política social anticrise por excelência, porém sabe que tem que reduzir a gula dos empreiteiros. Manter a demanda interna ampliando o endividamento familiar com compra de veículos automotores e outros bens duráveis tem um efeito macrodinâmico menor e é patrimonialmente equivocada em relação à família brasileira. Talvez seja esse o sentido profundo da enigmática recomendação presidencial: "o brasileiro deve consumir com moderação".

Uma economista competente não diria essa frase (que parece aplicável a bebida) se não estivesse pensando em desviar as famílias da armadilha da compra de duráveis, orientando-as para a ativação da construção civil. Acho inteligente reforçar os fundos imobiliários com aplicações financeiras da previdência complementar, porém é necessário planejar o futuro das cidades e ampliar o investimento na infraestrutura urbana.

A presidente sabe que é possível e necessário fazer muito mais. O câmbio tem que voltar a ser controlado. O Brasil não deve estimular empresas brasileiras a investirem no exterior (recentemente, duas indústrias de calçados do Rio Grande do Sul anunciaram que vão deslocar suas operações para a Nicarágua em busca de mão de obra barata e menor intervenção do Estado). O sistema bancário oficial deve retirar qualquer apoio a essa atitude anti-nacional. O fomento público deve ser preferencial a empresas de brasileiros. As filiais de multi, na crise, tendem a ampliar remessas para as matrizes. Há um espaço para a empresa de brasileiros crescer, orientada para o mercado interno. As filiais terão que reduzir remessas para manter suas posições de mercado.

Presidente, a desvalorização do real aumenta a rentabilidade das exportações primárias mas encarecem itens básicos da alimentação popular. É indispensável a recriação do imposto de exportação, se houver a desvalorização previsível. Devemos selecionar com critério aplicações financeiras do exterior, reduzir o endividamento com risco cambial do setor privado, ampliar a proteção a ramos industriais clássicos, e adotar uma política pública de "comprar o produto brasileiro".

A presidente está informada das pressões externas. Algumas deveriam ser ridicularizadas: as associações americanas de indústrias de confecção e calçados protestaram contra a adoção, pelo Brasil, de medidas defensivas desses ramos industriais clássicos e ameaçados. Quero crer que são as matrizes interessadas em que suas filiais na China ampliem a avalanche de exportações para o Brasil. No Japão, surgiram resmungos quanto aos obstáculos para importações de veículos pelo Brasil.

Somente critico a presidente pela modéstia das medidas. Outra presidente sul-americana, que vem adotando medidas radicais de defesa nacional, acabou de receber uma reeleição consagradora. A timidez não é sábia em momentos de crise mundial.

Carlos Francisco Theodoro Machado Ribeiro de Lessa é professor emérito de economia brasileira e ex-reitor da UFRJ. Foi presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social - BNDES; escreve mensalmente às quartas-feiras.

sábado, 16 de maio de 2009

Para entender a crise

Para você se divertir um pouco, e, de quebra, refletir um pouco sobre alguns lugares-comuns da produção discursiva comum sobre os mercados finaneiros, postei um engraçado vídeo aí abaixo. Confira!

terça-feira, 31 de março de 2009

Vídeo sobre a crise.

O vídeo abaixo está em espanhol. Faça um esforço e assista! Veja como é possível fazer uma crítica criativa usando material audiovisual.


domingo, 1 de fevereiro de 2009

A crise mundial no FSM

O jornalistra Bernardo Kucinsky, do site Carta Maior, narra, em ótimo texto, o debate sobre a crise mundial no Fórum Social Mundial. Vale a pena ler. Acesse aqui.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

O artigo de Washington Novaes de hoje

Como sempre, republico aqui os artigos do jornalista. Eles são publicados no jornal O Estado de São Paulo. Leia-o abaixo.

Perguntas de fim de ano

Washington Novaes

O Brasil chega a este final de ano posto diante de algumas das maiores dúvidas e interrogações de sua história. Trata-se de saber o que fará com sua matriz energética, especialmente com o petróleo, e com seus recursos naturais, no mundo perplexo com a crise financeira e condicionantes "ambientais" muito graves.

Os jornais anunciam que o governo vai contratar um escritório de advocacia para definir o marco legal para a exploração do petróleo na chamada camada pré-sal, depois que o presidente da República optar entre os vários caminhos examinados por uma comissão interministerial. Aí já terá pela frente questões complicadas, de ordem política, financeira e econômica, que têm sido examinadas por este jornal ao longo dos últimos meses. Mas o problema não se esgota nesse ponto. Será preciso saber como o mundo e o País se comportarão no panorama das mudanças climáticas e na discussão sobre a insustentabilidade do uso de recursos e serviços naturais no mundo, já além da capacidade de reposição do planeta. Porque, em princípio, essas duas questões exigirão profundas mudanças nas matrizes energéticas e de transportes em toda a parte (e no consumo de combustíveis), nos padrões de uso de materiais, nos formatos de construção, na agropecuária, em tudo. No caso do petróleo, influenciarão também com os preços a viabilidade ou não da própria exploração das novas jazidas.

O Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), a Agência Internacional de Energia e relatórios como o do ex-economista-chefe do Banco Mundial sir Nicholas Stern dizem que será indispensável reduzir em 80% até 2050 as emissões de poluentes (em que os combustíveis fósseis respondem por 80% do total) que intensificam o efeito estufa e acentuam os desastres climáticos. O mundo em crise acolherá as advertências ou seguirá com o atual aumento de emissões, incapaz de investir em busca daquelas mudanças tecnológicas em meio à crise financeira? Se optar pelas mudanças, em que ritmo elas acontecerão e que influência terão no consumo e nos preços do petróleo, do gás natural e do carvão? Hoje o consumo de petróleo está em 85 milhões de barris/dia (34% da demanda total de energia), com previsão de 106 milhões em 2030 (30% de demanda). Subsistirá? Já caiu um pouco neste final de ano e prevê-se nova queda para 2009.

O preço do barril, que já chegou a mais de US$ 150, na semana passada caiu abaixo de US$ 40 - patamar considerado mínimo por muitos analistas para viabilizar investimentos no pré-sal. Ficará mais viável - principalmente nos países que usam diesel e gás para gerar energia - investir em outros formatos de geração? Uma terceira hipótese será a de estarem ou não à disposição tecnologias que permitam evitar as emissões de poluentes sem mudar a matriz energética. A principal delas seria a captura e o sepultamento de carbono emitido em usinas de geração de energia na queima de diesel, carvão mineral ou gás. Tecnicamente é possível, diz o IPCC. Mas não se sabe ainda que conseqüências geológicas, hidrológicas, sismológicas ou na biodiversidade marinha (se a deposição for no mar) terá. A viabilidade de altos investimentos em petróleo estará condicionada por esses fatores. Ainda mais que a produção na camada pré-sal levará 27 anos, como disse o presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, num seminário da Federação Única dos Petroleiros. O que acontecerá em tão largo tempo? Principalmente quando não se sabe exatamente qual é o volume de óleo explorável - e isso depende da geologia, da geofísica, da petrofísica e da engenharia, lembrou ele. Assim como depende do custo futuro de navios, plataformas, refinarias e sondas. E o País ainda não sabe exatamente com que receitas de exportação contará nos próximos anos, para poder calcular investimentos.

Pelo ângulo geral do consumo a questão não é menos complicada. Que se fará diante das seguidas advertências de que o consumo atual de recursos e serviços naturais (2,5 hectares por habitante/ano) é insustentável (a disponibilidade é de 1,8 hectare) e agrava a crise dos recursos hídricos, a desertificação, a perda da biodiversidade e as mudanças climáticas? A alternativa seria a criação e implantação de padrões compatíveis com a capacidade de reposição no planeta. Caso contrário, vai-se seguir aumentando o número dos que passam fome no mundo (já perto de 1 bilhão, segundo a ONU), dos que vivem abaixo da linha da pobreza (cerca de 3 bilhões), dos atingidos pelos desastres do clima (centenas de milhões a cada ano). Que conseqüências políticas e sociais se esperam, se for esse o caminho? E o que acontecerá por decorrência na área de energia?

O panorama energético brasileiro é confuso e problemático. Desprezam-se os estudos científicos que indicam a possibilidade de forte economia no consumo de energia e redução de perdas - só se pensa em construir novas usinas hidrelétricas e nucleares. O programa de energias alternativas (solar, eólica) só dispõe de recursos mínimos. Não assumimos compromissos na Convenção do Clima, só metas internas como as de redução do desmatamento na Amazônia, sem saber exatamente como fazê-lo, porque os recursos financeiros federais são mais que escassos e não há caminhos definidos no âmbito internacional para que outros países possam supri-los.Transferimos para 2010 um projeto de zoneamento para o Cerrado, que perde 22 mil km² por ano e responde por 26% das emissões totais brasileiras. Também acabamos de adiar para o ano que vem o novo inventário de emissões totais brasileiras (Stern disse que elas estão entre 11 toneladas e 12 toneladas por habitante/ano, o que seria mais que o dobro das registradas no inventário de 1994). Não temos planejamento para a matriz de transportes. Nem programas ativos para a área de recursos e serviços naturais.

É um balanço amargo e inquietante na hora das comemorações. Mas é o real.


Washington Novaes é jornalista E-mail: wlrnovaes@uol.com.br

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Artigo de Mercadante

Transcrevo abaixo artigo de autoria do Senador Mercadante (PT-SP), publicado hoje no jornal O Estado de São Paulo. Vale a pena conferir!

Wall Qaeda

Aloizio Mercadante*


No dia 11 de setembro de 2001, um bando de dementes fundamentalistas derrubou as torres gêmeas de Nova York, centro econômico e financeiro mundial, matando covardemente milhares de pessoas. A poucas centenas de metros dali, Wall Street tremeu duas vezes. A primeira vez, literalmente, a segunda, metaforicamente. Com efeito, houve um princípio de pânico financeiro que obrigou o Federal Reserve (Fed) a injetar US$ 300 bilhões no sistema bancário em apenas três dias para prover a liquidez necessária. Quando a bolsa reabriu, em 17 de setembro, o Índice Dow Jones desceu 7,1%, durante a sessão de abertura, e 14,3% ao longo da semana. O dólar caiu e os preços o ouro e do petróleo subiram rapidamente.

Esses efeitos, contudo, foram de curto prazo. Em fins de outubro a situação já tinha voltado ao normal. As medidas fiscais e monetárias funcionaram e no quarto trimestre de 2001 a economia norte-americana apresentou um aumento de 2,7%, iniciando um ciclo de crescimento que só se interrompeu de fato neste ano. Do ponto de vista econômico e financeiro, Osama bin Laden tinha fracassado.

Mas havia bombas muito mais poderosas que as de Bin Laden que vinham sendo armadas contra a economia norte-americana. Dois anos antes, em 1999, a maioria republicana no Congresso dos EUA havia praticamente imposto ao presidente Bill Clinton a revogação da Lei Glass-Steagall. Implementada em 1933, com o intuito de separar bancos comerciais de bancos de investimentos e regular o sistema financeiro no pós-crash de 1929, essa lei vinha sendo questionada desde meados da década de 80 pelos interesses de financistas e investidores ávidos em participar mais intensamente da crescente financeirização da economia mundial. A revogação dessa lei e várias outras medidas de desregulamentação financeira facilitaram aos bancos dos EUA alavancar extraordinariamente o mercado de crédito. Essa alavancagem, associada ao crescimento especulativo do mercado imobiliário e dos preços dos imóveis, ensejou forte emissão de títulos lastreados em hipotecas. Como conseqüência, houve uma explosão da expansão de ativos bancários lastreados em títulos financeiros, por sua vez lastreados em hipotecas. Tal florescente e sofisticado mercado de derivativos cresceu muito além do necessário para sustentar empréstimos de hipotecas, constituindo-se em fonte especulativa de ganhos de curto prazo. Durante algum tempo essa autêntica e gigantesca pirâmide financeira invertida, construída sob as barbas do Fed, permitiu aos bancos dos EUA, bem como a outros bancos do mundo inteiro, operar com garantias descoladas do seu capital, burlando as exigências das Convenções de Basiléia.

Ao final do processo, esse descomunal mercado de derivativos já concentrava 75% da liquidez mundial e equivalia a oito PIBs mundiais. Bin Laden, gênio financeiro fosse, não poderia ter concebido plano mais pérfido e insidioso para pôr os EUA e o mundo de joelhos. Quando os preços dos imóveis começaram a cair e as taxas de juros, a aumentar, ao final de 2006, o frágil castelo de cartas dessa nova arquitetura financeira principiou a desmoronar. Em poucos meses, cerca de 10 milhões imóveis passaram a valer menos do que suas hipotecas e a inadimplência disparou. A bomba financeira explodiu com toda a sua fúria destrutiva, em 2008. O resto já é história. Triste história que ameaça repetir a crise de 1929. Os EUA e o mundo mergulham numa recessão cujas intensidade e duração ninguém ainda consegue prever.

Onde o fundamentalismo demente da Al-Qaeda fracassou, a exuberância irracional da "Wall Qaeda" teve êxito retumbante. É preciso considerar, todavia, que essa exuberância irracional e a desregulamentação do mercado financeiro foram fortemente estimuladas por políticas equivocadas do governo dos EUA, pela omissão irresponsável do Fed e, acima de tudo, por um padrão de desenvolvimento da economia norte-americana que é absolutamente insustentável. Os EUA, que "desterritorializaram" boa parte da sua produção industrial, absorvem 60% dos fluxos mundiais de capital e 80% da poupança planetária, financiando, dessa forma, os seus gigantescos déficits gêmeos e um consumo doméstico incompatível com seu PIB. De fato, o consumidor norte-americano deve 140% da sua renda anual disponível. Esse padrão de acumulação baseado num forte endividamento e na importação crescente de capitais financeiros, particularmente da China, tem limites estruturais que a crise tornou amargamente óbvios.

Assim, o presidente eleito Barack Obama terá pela frente a dupla e hercúlea tarefa de retirar os EUA da recessão e, ao mesmo tempo, implantar os fundamentos de um novo e mais racional padrão de financiamento da economia norte-americana. É provável que esse processo implique mudanças geoeconômicas significativas e que a economia dos EUA se torne um pouco menor, em relação a algumas economias emergentes, como a chinesa, a indiana e a brasileira. Mas é algo que terá de ser feito, sob pena de as crises se repetirem num ritmo célere.

John K. Galbraith, canadense e civilizado, afirmou, na sua obra Uma Breve História da Euforia Financeira, que a euforia especulativa que antecede a crise ocorre, entre outros fatores, porque a memória financeira é notavelmente curta e há o "direito adquirido ao erro" por parte dos investidores, que ganham muito nas fases do pico especulativo. Controlar esse bárbaro capitalismo bipolar não é fácil, especialmente nos EUA de hoje, que têm ojeriza à regulação estatal e vivem de financiamentos especulativos. Obama, contudo, tem a seu favor um bom capital político e a grande memória de Franklin Delano Roosevelt.

É um começo promissor.


* Aloizio Mercadante, economista, professor licenciado da
PUC-SP e da Unicamp, é senador da República (PT-SP)

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Pensar e atuar: algumas anotações sociológicas

Abaixo transcrevo texto publicado no EL País no qual o sociólogo Ignacio Sotelo analisa os desafios colocados para a ação. O pano de fundo é uma reflexão sobre os ingredientes da atual crise financeira.

TRIBUNA: IGNACIO SOTELO
La dificultad de actuar

Pensar es fácil, actuar, difícil; pero lo más difícil, actuar siguiendo nuestro pensamiento", escribió un Goethe que supo combinar la creación con la actividad político-administrativa.

Para el que disponga de una cierta capacidad intelectual -lo que la naturaleza no da, Salamanca no lo presta- y esté algo entrenado -nada se consigue sin constancia-, pese al esfuerzo doloroso que a menudo conlleva, pensar resulta fácil, porque en último término depende de uno mismo. El que se piense solo, aunque siempre en un contexto social, reaccionando ante lo que otros han pensado, facilita mucho las cosas. En cambio, se actúa únicamente con la mediación y el concurso de los otros. La dificultad intrínseca de la acción radica en que realización y resultados dependen de personas que escapan a nuestro control. La acción consiste en motivar a otros a perseguir un objetivo común, que no puede alcanzarse sin el respaldo de los demás.

Influir sobre el comportamiento de los otros suele ser mucho más arduo que hilvanar unas cuantas ideas con pocas probabilidades de que, sea cual fuere la calidad, salgan de un estrecho recinto. Aunque algunas, a veces pasado bastante tiempo, llegan a cambiar el curso de la historia, otorgar la preeminencia al pensar no deja de ser una secuela de la sociedad esclavista griega para la que obrar es el destino de aquellos a los que la naturaleza no los ha dotado de otras facultades. Para unos, lo propio es pensar-mandar, para otros, actuar-obedecer.

La idea de que actuar sea más difícil que pensar sorprende menos si se cae en la cuenta de que la acción rara vez proviene de la iniciativa individual, sino que transcurre por cauces trazados de antemano, que se ajustan a los modos y fines de las instituciones desde las que se actúa. El caso paradigmático es el del funcionario, obligado a someter su acción a normas muy estrictas. El comportamiento del empresario, que suele mencionarse como el opuesto, tampoco escapa a las ideas trilladas ni a los recelos dominantes, por mucho que afirmarlo contradiga los prejuicios que legitiman el orden establecido. Moverse fuera de lo manido suele conducir al fracaso, aunque a veces sea fuente excepcional de éxito.

Tan infrecuentes como los pensamientos originales son las acciones al margen de los canales instalados, pero, nada tan difícil, a la vez que tan raro, como perseguir objetivos que provengan de una reflexión personal. Si además la acción se mueve en el plano de una política que persigue un único afán, llegar al poder y, cuando se ha alcanzado, no perderlo, las complicaciones crecen exponencialmente, alchocar con estructuras consolidadas de poder. Nada más peligroso en política que abandonar la senda marcada para alcanzar objetivos fijados en una reflexión personal. Llega a la cima el político que, ajeno a cualquier originalidad en la acción o en el discurso, se haya identificado por completo con el partido al que pertenece, defendiendo los intereses, pero también estilo y prejuicios de los grupos sociales que representa. Nada perjudica tanto al político profesional, y tal vez no quepa otro tipo, como una acción o un pensamiento fuera de lo esperado, contra los que, no hay cuidado, suele estar muy bien blindado.

La política se ha convertido así en el ámbito del tópico y de la rutina, donde desde un primer momento cabe excluir cualquier sorpresa en el discurso o en los comportamientos. Lo más grave es que esta misma actitud se haya extendido a la información y a los comentarios periodísticos, que se mueven también a piñón fijo. Aumenta así la distancia entre lo que realmente ocurre en un mundo que está cambiando a gran velocidad y la apreciación colectiva que de él se tiene.

Tampoco ha de extrañar que los que han llegado a la cúspide -económica, política, profesional- estén predispuestos a creer firmemente en las ideologías que los favorecen, disponiendo de una amplia gama de mecanismos para difundirlas en todos los niveles. Nos dicen que queda mucho por hacer, que no escasean deficiencias que corregir, incluso inequidades que suprimir, pero en líneas generales, marchamos por el buen camino. El orden social se legitima, si la mayoría cree que es el mejor de los posibles.

Justamente, la distancia creciente entre ideología dominante y realidad vivida explica que las crisis nos pillen de improviso. También a finales de los 80 muy pocos -y la nomenclatura, la que menos- previeron el desplome de la Unión Soviética, "el país más grande y con mayores recursos naturales, con el sistema social más avanzado del mundo", como proclamaban los libros escolares soviéticos.

Vivimos en el mejor mundo posible hasta que de repente asistimos a su derrumbe. Los instrumentos teóricos que sirvieron para apuntalar el orden existente, no valen ya para dar cuenta de su desmoronamiento, y han sido vetados todos aquellos que hubieran podido resultar idóneos. La crisis se manifiesta en que no sabemos lo que pasa de verdad. En los años 30 se conocieron causas y remedios después de haber sufrido grandes catástrofes, la peor la II Guerra Mundial.

Cuanto más alta la posición social de una persona, mayor la desconfianza que ha mostrado en este último tiempo, suspicacia que se ha ido filtrando hacia los estamentos inferiores. La crisis no ha estallado porque los ciudadanos de a pie hayan hecho cola en los bancos para recuperar los depósitos; han sido los bancos, al recelar unos de otros, los que la han puesto de manifiesto. Son los Gobiernos, es decir, los responsables de controlar el sistema financiero, sobre cuya solidez hasta hace bien poco no abrigaban la menor duda, los que han puesto en circulación las mayores sospechas, al anunciar garantías crecientes. Mientras no se conozcan las causas, no cabe recobrar la confianza, y no cabe detectarlas dentro de las coordenadas teóricas que imponen las relaciones de poder que se están desmoronando a ojos vistas.

Entretanto sólo nos queda dejar constancia de algunas paradojas. El Gobierno ultraconservador de Estados Unidos ha cometido el mayor crimen que ha venido denunciado en los últimos decenios: la intervención del Estado en la economía de mercado. Reino Unido no sólo estataliza parte de la banca, sino que el país que con mayor ímpetu ha frenado el proceso de integración, para salir del atolladero defiende ahora una política común europea. El precio del petróleo baja a casi un tercio del que tenía hace dos meses sin detener las continuas oscilaciones de las Bolsas en caída libre.

Veinte años después del desplome de la Unión Soviética, Estados Unidos se tambalea, arrastrando consigo el último resto del mundo bilateral que surgió de la gran crisis de los 30. De la actual saldrá una nueva relación de fuerzas, por lo pronto multilateral, con una mayor presencia de Asia, y sobre todo, nuevas teorías sociales y económicas que respondan mejor al mundo que está emergiendo. Mientras tanto, sin saber cómo capear el temporal, nuestros políticos se han quedado sin discurso, dispuestos incluso a recuperar un keynesianismo imposible en un mundo globalizado, conscientes de que en coyunturas que nadie puede ya prever, perderán el poder, o lo obtendrán, según lo señale la rueda de la fortuna.


Ignacio Sotelo es catedrático excedente de Sociología.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

A crise e o mundo em descontrole

Com o título "Um mundo em descontrole", postei, há alguns dias, um artigo, publicado no EL PAÍS, de autoria do Professor Daniel Innerarity, da Universidade de Zaragoza. Pois bem, recebi o Ex-Blog do César Maia e nele uma parte do interessante artigo está traduzido para o português. Para facilitar a sua leitura, transcrevo o artigo mais abaixo, alertando sempre que a tradução e organização do artigo é de responsabilidade daquele "ex-blog".


1. A idéia de um mundo interconectado, que nos serviu de lugar comum para designar a realidade da globalização, implica, em princípio, um mundo de responsabilidade limitada, porque não difunde o abertamente irresponsável, sobre o qual não se pode estabelecer nenhum controle e de que ninguém se ocupa.

2. A interconexão significa, por um lado, equilíbrio e contenção mútua, mas também se refere ao contágio, os efeitos em cascata e a amplificação dos desastres, como é o caso da recente crise financeira. O mundo interligado é também esse "mundo atrevido" de que falava Giddens na hora de qualificar os aspectos menos gratos da globalização. No entanto, não sabemos detectar, gestionar e comunicar os riscos globais. A globalização financeira é muito mais frágil do que a comercial.

3. Uma parte dos riscos havia sido dispersa no mercado, de maneira que as instituições financeiras apenas podiam medi-los e estimar seu impacto futuro. Quando o horizonte temporal se estreita e só é levado em conta o interesse mais imediato, é muito difícil evitar que as coisas evoluam catastroficamente. A crise financeira é, em última instância, uma crise de responsabilidade e o procedimento que melhor representou isso foi a extensão dos produtos financeiros, como a titulação (produção das correntes de derivativos), que traduziam a vontade de afastar os riscos até ao infinito, ou seja, aceitar os riscos sem querer assumir suas conseqüências.

4. Tratar-se-ia de algo que poderíamos denominar de "riscos sem riscos". A titulação atuou como um mecanismo global de "irresponsabilização", que disseminava e dissimulava ao mesmo tempo os riscos, tornando opacos os mercados. Este e outros produtos financeiros permitiam evitar ou neutralizar os riscos das operações de empréstimo, transferindo a responsabilidade para os mercados de natureza especulativa. A opacidade dos mercados impedia o controle e tolerava os riscos excessivos, títulos opacos cujos riscos ninguém era capaz de avaliar.

5. A isso se juntaram certas operações de resgate, que serão inevitáveis, mas que não servirão para promover condutas responsáveis. Beneficiaram-se de tais medidas aqueles atores econômicos que podem assumir riscos excessivos sem ter de sofrer as conseqüências das catástrofes em série que sua quebra poderia produzir no resto da economia.

6. Por isso tudo, deve-se limitar a titulação, ou seja, a opacidade dos riscos no mercado de produtos derivados, de maneira a que as dívidas não sejam instrumentos de especulação; responsabilidade dos acionistas, reservando o direito de voto aos que se comprometam de forma estável com a empresa para permitir-lhe conduzir uma verdadeira estratégia; responsabilidade dos Estados, que se devem entender sobre um sistema de paridades estáveis, impedindo, assim, as oscilações violentas de divisas, desconcertantes para os agentes econômicos; e responsabilidade dos bancos centrais.

7. Mas convém não perder de vista que estes compromissos foram conseguidos por meio de uma rede cada vez mais densa de dependências, onde as obrigações perderam visibilidade e nitidez. Ao mesmo tempo, um mundo de crescentes interdependências aumenta também o número de conseqüências das ações que não são fáceis de imputar. Este conjunto de circunstâncias e outras similares justificam a denominação de "irresponsabilidade organizada" (Ulrich Beck) na hora de qualificar nossas sociedades.

(*) Titulação consiste em converter um empréstimo ou um ativo não negociável (participações hipotecárias) num título negociável (bônus denominados hipotecários), etc...

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Wallerstein, Obama e a crise.

O Profesor Ivonaldo Neres Leite, meu amigo e ex-colega, ex-professor da UERN, agora da UFPE, manda-me uma dica de link para uma entrevista com Immanuel Wallerstein. Trata-se de um áudio em inglês. Leia o comentário de Ivonaldo:

É uma abordagem, penso eu, equilibrada, realçando limites e possibilidades e, acima de tudo, compromissada com a análise social autônoma, sem ceder aos holofotes ou as modas acadêmicas. O que não é surpresa para aqueles que, como eu, conhecem o seu tour de force analítico de londa data. Tomei contacto com os seus textos a partir do meu interesse por Fernand Braudel, nos anos juvenis, e desde cedo convenci-me que a interpenetração entre história e sociologia não permite disputa corpotativa entre estes dois campos. Mais tarde, frequentei um seminário dele em Coimbra, por ocasião do Relatório da Gulbekian ("Para Abrir as Ciências Sociais"), e não me decepcionei. A menção feita por ele ao Brasil, na entrevsita, creio que seja algo a ter em conta.


Você pode baixar o áudio aqui.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Um mundo em descontrole

O título do post corresponde ao título de uma obra de Anthony Giddens. Em parte, corresponde ao texto que transcrevo abaixo, publicado hoje no El País. Está em espanhol. Faça um exercício e o leia. Vale a pena! Trata-se de uma discussão sobre a globalização que foge um pouco aos lugares-comuns.


¿Un mundo fuera de control?
Por Daniel Innerarity

La idea de un mundo interconectado, que nos ha servido como lugar común para designar la realidad de la globalización, implica, en principio, un mundo de responsabilidad limitada, cuando no difusa o abiertamente irresponsable, sobre el que no puede establecerse ningún control y del que nadie se hace cargo. La interconexión significa, por una parte, equilibrio y contención mutua, pero también alude al contagio, los efectos de cascada y la amplificación de los desastres, como es el caso de la reciente crisis financiera. El mundo interconectado es también ese "mundo desbocado" del que hablaba Giddens a la hora de calificar los aspectos menos gratos de la globalización.

En el caso concreto de la reciente crisis financiera la irresponsabilidad ha comenzado por la imprevisión. Han funcionado muy mal los sistemas de advertencia y prevención de riesgos. Las autoridades correspondientes han tenido una mala percepción de la gravedad de la crisis. Esta falta de anticipación revela no tanto un problema moral o político cuanto una grave deficiencia cognoscitiva, pues es difícil entender por qué no se sacan las conclusiones lógicas de una historia saturada de burbujas especulativas con consecuencias desastrosas. Tenemos muy reciente la crisis de la nueva economía y no hemos aprendido la lección: entonces se nos anunciaba una nueva era económica muy prometedora. Cuando domina la euforia financiera la hipótesis de una crisis parece lejana y por tanto incapaz de provocar las reacciones que aconsejaría la prudencia. La primera explicación antropológica de esta inadvertencia es que los profetas de las malas noticias no son nunca bienvenidos. Pero hay también una explicación ideológica y es que los defensores de la teoría de la eficiencia financiera llevan mucho tiempo diciendo que el mercado no se equivoca nunca y celebrando "la sabiduría de las masas" (Surowiecki). Y eso desincentiva la creación de instrumentos de regulación.

No sé si es una falta de memoria financiera, como ha dicho alguno, o una ceguera ante el desastre. En cualquier caso, está claro que prevenimos muy mal los desarrollos catastróficos y eso que no andamos faltos de cálculos matemáticos sofisticados. No disponíamos de una cartografía precisa de los riesgos que permitiera anticipar su encadenamiento irracional. Una parte de los riesgos había sido dispersada en el mercado, de manera que las instituciones financieras apenas podían medirlos y estimar su impacto futuro. Cuando el horizonte temporal se estrecha y sólo es tenido en cuenta el interés más inmediato es muy difícil evitar que las cosas evolucionen catastróficamente. Tanto desde el punto de vista informativo como de control, los mecanismos de autorregulación se han revelado como insuficien-tes. Lo que todo esto pone de manifiesto es que no sabemos todavía detectar, gestionar y comunicar los riesgos globales.

La crisis financiera es, en última instancia, una crisis de responsabilidad y el procedimiento que mejor lo ha representado ha sido la extensión de productos financieros como la titulización, que traducían la voluntad de desplazar los riesgos hacia el infinito, es decir, aceptar riesgos sin querer asumir las consecuencias. Se trataría de algo que podríamos denominar como "riesgos sin riesgos". La titulación ha actuado como un mecanismo global de irresponsabilización, que diseminaba y disimulaba a la vez los riesgos, haciendo opacos los mercados. Éste y otros productos financieros permitían evacuar o neutralizar los riesgos de las operaciones de préstamo transfiriendo la carga hacia los mercados de naturaleza especulativa. La opacidad de los mercados impedía el control y toleraba riesgos excesivos, títulos opacos cuyos riesgos nadie era capaz de evaluar. De este modo se ha constituido un mercado financiero global en el que los accionistas minoritarios de las empresas han presionado para obtener unas tasas de rentabilidad cada vez más elevadas. La irrealidad de los intercambios económicos ha revelado que la globalización financiera es mucho más frágil que la globalización comercial.

Todo ello no hubiera sucedido si, al mismo tiempo, no hubiera habido una dejación de responsabilidad por parte de los Estados, de los bancos centrales y las instituciones financieras mundiales. Los dirigentes económicos y financieros han cometido el error de confiar absolutamente en la capacidad autorreguladora de los mercados financieros y han aceptado esta irresponsabilidad de los mercados de crédito, sometidos al mismo modelo de comportamiento que el que funciona en las Bolsas. A esto se han añadido unas operaciones de rescate que serán inevitables pero que no van a servir para promover las conductas responsables. Se han beneficiado de esas medidas aquellos actores económicos que pueden asumir riesgos excesivos sin tener que sufrir las consecuencias en virtud de las catástrofes en serie que su quiebra podría producir en el resto de la economía.

La crisis nos exige construir una nueva responsabilidad financiera, algo que se llevará a cabo más a través del control y la supervisión que mediante la regulación normativa. Nuestros dirigentes deberían comprender que les corresponde poner a los grandes actores económicos y financieros cara a sus responsabilidades: responsabilidad de los prestamistas, limitando la titulización, es decir, la opacidad de los riesgos en el mercado de los productos derivados, de manera que las deudas no sean instrumentos de especulación; responsabilidad de los accionistas, reservando el derecho de voto a quienes se comprometen establemente con la empresa para permitirle llevar una verdadera estrategia; responsabilidad de los Estados que se deben entender sobre un sistema de paridades estables, impidiendo así las oscilaciones violentas de divisas, desconcertantes para los agentes económicos; responsabilidad de los bancos centrales, que deben aceptar someter su gestión a la aprobación de los Estados democráticos, con la preocupación de tomar en cuenta todos los grandes parámetros decisivos para la marcha de las economías: producción, empleo, precios, endeudamiento, saldo presupuestario y saldo exterior.

Pero conviene no perder de vista que estos compromisos han de conseguirse en medio de una red cada vez más densa de dependencias, donde las obligaciones pierden visibilidad y nitidez. Al mismo tiempo, un mundo de crecientes interdependencias aumenta también el número de consecuencias de las acciones que no resultan fáciles de imputar. Este conjunto de circunstancias y otras similares justifican la denominación de "irresponsabilidad organizada" (Ulrich Beck) a la hora de calificar a nuestras sociedades, aunque también cabe preguntarse si no se trata más bien de una falta de organización, de que no hemos sido capaces de organizar socialmente la responsabilidad a la vista de que algunas de esas dinámicas contradicen claramente muchos de nuestros derechos y nuestros deberes. La debilitación del sentido de responsabilidad no es una cuestión que pueda achacarse únicamente a los políticos o a la desafección ciudadana, sino que resulta más bien de esa mezcla de debilidad institucional y fatalismo que caracteriza a nuestros compromisos democráticos. Se pueden organizar muchas cosas para identificar la responsabilidad y transformar dinámicas ciegas en procesos gobernables.

Han cambiado las condiciones en las que se pensaba y ejercía la responsabilidad política. El problema estriba en cómo representar esa responsabilidad en un momento en el que ha perdido evidencia la relación entre mi comportamiento individual (como prestamista, consumidor, accionista, votante o cliente) y los resultados globales. La ilustración de esta nueva articulación entre lo propio y lo común sólo se conseguirá si desarrollamos un concepto de responsabilidad que haga justicia a la actual complejidad social y corresponda a nuestras expectativas razonables de conseguir un mundo que pueda ser gobernado, del que nos hagamos cargo.

Daniel Innerarity es profesor de Filosofía en la Universidad de Zaragoza y autor de El nuevo espacio público.

sábado, 15 de novembro de 2008

O Governo Lula e a tempestade: a avaliação de Alon Feuerwerker

Considero Feuerwerker, você já deve saber, um dos analistas mais lúcidos dos dilemas políticos brasileiros contemporâneos. O cara tem estrada e uma experiência que vem desde os tempos em que foi dirigente da UNE. Esteve em muitas frentes, até no Governo. Agora, além de escrever regularmente para o jornal Correio Brasiliense, mantém o ótimo Blog do Alon. Acho até que essa apresentação é dispensável, você já deve conhecê-lo. Assim sendo, vou direto ao assunto. No caso, um artigo de autoria que foi postado em seu blog. É uma análise pertinente dos desafios colocados para o Governo Lula na quadra que se avizinha. Leia-o abaixo:


À espera da tempestade
Alon Feuerwerker


Administrar por conflitos é o método habitual de Luiz Inácio Lula da Silva. A coisa funciona sempre do mesmo jeito: estimulam-se as disputas internas até o limite em que um ponto de vista neutraliza o oposto. Então, com boa dose de naturalidade, o presidente endossa o lado vencedor. O método tem o mérito de reduzir o desgaste presidencial. Já se disse que o poder é como um salame. Cada fatia que você corta faz o salame ficar um pouco menor. A cada decisão tomada, perde-se um pouco de poder.


Não decidir, ou fingir que você não decide, é ferramenta poderosa para tentar adiar a chegada do dia em que você será olhado pelos outros com descaso, com aquela indiferença reservada aos governantes cuja força se esvaiu. Justiça se faça a Lula: cuidar de preservar o próprio poder é tarefa intransferível do príncipe. Daí por que nosso presidente não está sozinho no método. A regra é universal. Fernando Henrique Cardoso era mestre nisso.

Acontece que a realidade de vez em quando prega suas peças. Há situações em que não fazer nada implica alto risco, suficientemente alto para justificar o abandono da inação. Há ocasiões em que o cenário vira de ponta-cabeça e cabe ao príncipe, na solidão do poder, indicar resolutamente para onde a proa do barco deve ser virada.

Lula foi um bom presidente nos anos de bonança mundial. O país caminhou com inflação baixa, crescimento razoável e programas sociais eficientes. O desempenho positivo permitiu a Lula acumular gordura necessária para enfrentar e vencer graves crise políticas e, principalmente, para alcançar a reeleição. Qual é o problema então? É que a realidade mudou. Todos os sinais são de que a crise financeira planetária alcançará a esfera da produção como a segunda onda de um portentoso tsunami.

As perspectivas da economia real são lúgubres, para usar a expressão do economista que mais tem acertado previsões neste furação, Nouriel Roubini. A palavra está no artigo que ele postou terça-feira no seu site, www.rgemonitor.com. Ele afirma que as perspectivas de uma curva recessiva em V (queda abrupta e recuperação rápida) nos Estados Unidos, com contração econômica de seis a oito meses, já ficaram para trás. Ainda segundo Roubini, uma curva em U, que significa recessão de 18 a 24 meses, é hoje uma certeza, sendo que cresce a probabilidade do pior cenário: recessão em L, de vários anos, como a do Japão nos anos 90 do século passado.

E o que isso tem a ver com o costumeiro fingir-se de morto de Lula? É que vai chegando a hora (se é que já não chegou) de o presidente resolver a interminável pendenga entre o Ministério da Fazenda e o Banco Central. A divergência é conhecida: o BC insiste em que o risco principal é inflacionário, enquanto a Fazenda reafirma que a ameaça maior é a desaceleração da economia.

Nos tempos da bonança, do capital abundante e do consumo em alta havia base material para as apreensões do BC. Com a bicicleta sendo pedalada a todo vapor, permitir um escape inflacionário poderia levar à indesejável reindexação da economia e à volta do espectro da superinflação. A resistência do BC às pressões por uma política monetária mais frouxa acabou resultando num longo período de preços contidos. O que rendeu grandes dividendos políticos ao presidente da República. O que, por sua vez, deu ao BC os músculos necessários para travar a luta dentro do governo e fora dele.

Mas, repito, o mundo mudou. O capital abundante virou poeira e os consumidores, pequenos e grandes, aqui e lá fora, pararam de pedalar a bicicleta. Em todo canto, o mundo real se volta para o Estado, à espera de investimentos que possam evitar o pior, que possam garantir a travessia menos dolorosa do vale da morte, seja ele em U ou em L. E aqui no Brasil só há uma fonte da qual o Estado pode beber confortavelmente: a conta de juros. É preciso que o Banco Central corte os juros na medida necessária para que sobre suficiente folga orçamentária para os investimentos.

E a inflação? Alguma haverá. Já está havendo por conta da desvalorização do real. Mas, se vamos mesmo ter inflação, que seja agora, quando os agentes econômicos encontrarão maiores dificuldades para repassar aos preços a alta dos custos. A febre virá, mas o governo terá melhores condições de fazer com que seja de curta duração. E Lula sempre poderá recorrer ao controle de preços, pelo menos nos produtos e serviços oligopolizados.

É o paraíso? Não. Mas pior mesmo será o inferno, que virá caso o Banco Central erre na mão e aperte a política monetária num quadro de desaceleração do consumo e da produção, o que poderá nos lançar, aí sim, no mais pavoroso dos mundos: baixo crescimento com inflação (dado o alto grau de concentração de nossa economia). Claro que Lula pode querer correr esse risco. Para o que não precisará fazer nada, apenas, como de hábito, deixar rolar. E esperar a chegada da tempestade.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Elmar Alvater e a crise



Elmar Alvater é um dos mais importantes pensadores contemporâneos. É díficil defini-lo do ponto de vista disciplinar. Economista? Sociólgo? Cientista Político? Bom, você escolhe. O importante é que ele tem produzido análises, digamos sociológicas, instigantes e provocadoras sobre a vida econômica. Leia aqui uma crítica feita por José Eli da Veiga a um de seus livros.

Bom, mas o que eu queria mesmo era chamar a atenção para uma matéria, publicada no Estadão, com um posicionamento dele a respeito da atual crise dos mercados.

"O mundo vive dois dramas: a crise financeira e a climática"
Para economista alemão, futuro do capitalismo está relacionado com combate ao aquecimento global

Márcia Vieira, RIO


Há 15 dias, a Agência Americana de Oceanos e Atmosfera soou o alarme: a temperatura no Ártico está 5°C acima da média, um recorde que demonstra uma forte diminuição do banco de gelo, provocada pelo aquecimento global. O fenômeno, divulgado em meio a crise econômica americana, preocupa o economista e cientista político alemão Elmar Altvater, de 70 anos. "Nenhum cientista imaginou aumento da temperatura nesse patamar. E todo mundo só fala da crise financeira", lamenta. Segundo ele, "o fenômeno é tão terrível quanto a questão econômica e ninguém está dando atenção", completa. Altvater está no Rio até amanhã para uma série de palestras.

Não que a crise não seja preocupante. Mas o professor de ciência política da Universidade Livre de Berlim e autor do livro O fim do capitalismo como nós o conhecemos, lançado em 2006, ainda sem edição no Brasil, defende que os governos e a sociedade tenham a mesma atenção com a crise climática. Altvater prega uma mudança radical na produção econômica e no estilo de vida moderno para reverter o aquecimento global. "Não há dúvida que precisamos nos adaptar rápido a um novo tipo de vida. O mundo vive dois dramas: a crise financeira e a crise climática. As duas estão interligadas", defende Altvater, um estudioso das relações entre economia e ecologia.

Ele defende um sistema de produção baseado no uso progressivo de energias alternativas, não poluentes, como a solar. "O que vai acontecer com o capitalismo depois desta crise ninguém sabe. Mas a única saída para a humanidade é o uso de energias renováveis." O etanol é uma das possibilidades. Altvater compartilha a opinião de uma corrente de ambientalistas que ataca o uso do etanol porque as plantações de cana-de-açúcar, beterraba, milho e trigo roubam espaço da produção de alimentos.

"Se continuarmos com estilo de vida com base no carro, se nossa arquitetura não se adaptar ao clima de cada região e se não reduzirmos o uso de energia, nosso futuro não será bom. São mudanças que se fazem ao longo de 30 anos. Mas só depende de nós. Nós somos os arquitetos do nosso futuro."

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Sobre certeza na era das incertezas

Pesco, na praia do UOL, artigo de Sérgio Malbergier sobre certezas e incertezas diante da crise.

Na era das incertezas, cuidado com as certezas
Por Sérgio Malbergier

A única certeza nessa crise é a incerteza. E a velocidade. E a velocidade estimula respostas rápidas das autoridades. E aí uma marola pode virar um tsunami.

O secretário do Tesouro dos EUA, Hank Paulson, por exemplo, deixou o banco de investimentos Lehman Brothers quebrar, gerando um big bang que abateu de conglomerados russos a bancos suíços, com escalas no balanço da Sadia e sabe-se lá onde mais.

As conexões globais nunca tão intensas e desreguladas disseminam perdas e dúvidas. Ninguém sabe o que está acontecendo nem o que vai acontecer. Com o câmbio. Com o crédito. Com o consumidor. Com o que sobrar do mercado.

Infelizmente, quem mais acertou até aqui foram os pessimistas, especialmente o economista iraniano-turco-israelense-americano Nouriel Roubini, da Universidade de Nova York e dono da consultoria RGE Monitor.

Em entrevista a Denyse Godoy, publicada no caderno Dinheiro de 7 de Setembro, o profeta do apocalipse falou: "Acho que a previsão de que o Brasil crescerá entre 3% e 3,5% [em 2009] é muito otimista, eu acredito em 2%".

Naquela época, nosso ministro do Otimismo, Guido Mantega, falava de PIBão de até 4,5% no ano que vem.
Vamos torcer para que Mantega, no comando da Fazenda, saiba mais do que Roubini de Nova York. O governo precisará dessa expansão porque está pendurando o país em mais gastos num momento em que a arrecadação deve cair e a necessidade de investimentos, aumentar.

Só um dos pacotes lulistas de aumento salarial ao funcionalismo eleva em estimados R$ 7,6 bilhões as despesas com pessoal neste ano e em R$ 10,7 bilhões em 2009. Já o socorro urgente do governo ao essencial setor da construção civil ainda não chega a R$ 4 bilhões.

Pode faltar ao governo dinheiro para investir ou para manter seu relativo equilíbrio fiscal. Ou ambos. Perdemos valiosos anos na lentidão institucional, para dizer o mínimo, de Brasília. O crédito até recentemente farto que poderia ter ajudado a financiar as imprescindíveis obras de infra-estrutura do PAC sumiu.

Numa era financeira e ideologicamente maluca, quando EUA e Reino Unido lideram intervenções estatais pesadas na economia, é preciso muito mais cuidado e critério com o gasto público. Ele pode ser o único gasto na cidade, e deve atender primeiro às emergências. Não parece ser o caso hoje dos crescentes gastos do governo com pessoal.

Depois de anos de domínio conservador na economia brasileira, justamente seus melhores anos, nossos keynesianos de carteirinha surfam na onda intervencionista importada do Norte. Suas renovadas certezas podem gerar problemas ainda maiores no meio desse furacão de dúvidas.

Sérgio Malbergier é editor do caderno Dinheiro da Folha de S. Paulo. Foi editor do caderno Mundo (2000-2004), correspondente em Londres (1994) e enviado especial a países como Iraque, Israel e Venezuela, entre outros. Dirigiu dois curta-metragens, "A Árvore" (1986) e "Carô no Inferno" (1987). Escreve para a Folha Online às quintas.
Acesse diretamente o artigo e leia outras colunas do jornalista aqui.

sábado, 4 de outubro de 2008

Bush e a crise do mercado financeiro




Finalmente, após uma semana de vai-e-vem, a Câmara dos Deputados dos EUA aprovou o “pacote” de ajuda financeira aos bancos norte-americanos, proposto pelo Governo Bush. Este, nos seus estertores. Pela reação das bolsas, nesta sexta-feira, parece que o tal do “mercado”, esse ente fantasmagórico sempre mobilizado pelo jornalismo econômico, quer mais. Dessa forma, Bush, que defendeu tão ardorosamente o plano, fica como aquele cara que nadou, nadou e morreu na praia.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

O historiador Eric Hobsbawn,Marx e a crise do mercado financeiro




O historiado Eric Hobsbawn, o cientista social mais vivo com mais citações em publicaçõe científicas, em entrevista, analisa o renovado interesse pela obra de Karl Marx e fornece alguns elementos para a reflexão sobre a crise dos mercados financeiros. Acesse aqui a matéria.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

1929 - o ano que não terminou...



Daqui a 27 dias completam 79 anos daquele fatídico dia. O dia do crash. Na foto acima, operadores da bolsa de Nova York naquele dia. Se você é chegado em numerologia ou joga na loteria, quem sabe, esses números não o inspirem. Aos defensores do liberalismo radical, ao que tudo indica, eles ensinaram pouco.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

O mundo não vai acabar, sentencia Maria da Conceição Tavares.

Veja, abaixo, matéria publicada no Magazine Terra. Bom, bom, bom, não está não, mas tá bom. Então, se o mundo não vai acabar, vou aceitar convite do meu amigo Beto Hugo, esquecer o repouso pós-cirurgia, e tomar um bom vinho. Ninguém é de ferro, não é mesmo?


Maria da Conceição: "O mundo não vai acabar"
Diego Salmen

Segundo a economista Maria da Conceição Tavares, o mundo não vai acabar após a rejeição do Congresso norte-americano ao pacote de ajuda econômica. Em entrevista exclusiva a Terra Magazine, Maria da Conceição afirma que a crise vivida pelo capitalismo internacional está restrita, por ora, aos vizinhos do norte e ao continente europeu. E que, por isso, o apocalipse está distante.

- O mundo não vai acabar. A crise até agora está centrada nos Estados Unidos e na Europa.

Nesta terça-feira, 30, os mercados financeiros - Brasil incluso - abriram em alta depois de um conturbado início de semana nos mercados financeiros.

Cenário distinto da segunda-feira, 29, quando a Câmara dos Representantes dos Estados Unidos rejeitou por 228 votos a 205 um conjunto de medidas econômicas estimado em US$ 700 bilhões para debelar a crise econômica no país. Reação "totalmente eleitoreira", na análise de Maria da Conceição.

Até mesmo os republicanos, partidários do presidente George W. Bush, foram contrários ao pacote. "Ele (George W. Bush) não é uma pessoa nada qualificada, e o que ele diz ou não diz não tem a menor importância", afirma a economista. "Ele efetivamente acabou como líder".

Maria da Conceição salienta que o poder de intervenção do Estado norte-americano não depende exclusivamente da aprovação do pacote de ajuda econômica.

"Em pânico, os caras se preveniram, antes mesmo de o pacote ser votado e do Wachovia (NR: banco que perdeu quase metade do seu valor de mercado em uma semana) ser comprado pelo Citigroup. Quer dizer, estão agindo rápido", diz. "Mas, evidentemente, isso não tira o pânico.

Leia a seguir a entrevista com Maria da Conceição Tavares:

Terra Magazine - O Congresso norte-americano rejeitou o pacote de ajuda econômica para a crise no país. O que deve acontecer agora?
Maria da Conceição Tavares - O mundo não vai acabar. Ontem já ocorreu uma deflação de ativos global, já perderam trilhões de dólares. Agora o Banco Central dos Estados Unidos e o Tesouro emprestaram mais dinheiro, e empurraram o Wachovia - que estava como um banco sólido, mas não está sólido, evidentemente - para o Citigroup. Aliás, os japoneses também entraram na jogada. Na Ásia o pau não foi o mesmo. A crise até agora está centrada nos Estados Unidos e na Europa.

A crise tem um efeito previsto já pelo próprio Karl Marx, de induzir à monopolização do sistema financeiro...
Está cada vez mais centralizado (o sistema financeiro). O fato, o que é óbvio, é que isso aí é uma coisa geográfica. A Ásia não pegou uma porrada tão grande. E os japoneses estão comprando o diabo. São bancos globais, então quando os EUA ficam de calça curta, o Japão, que tem muitas reservas e já superou sua própria crise bancária, vai às compras. Mas por enquanto está nessa gangorra; o que vai acontecer eu não sei. Objetivamente, o Banco Central americano já pôs US$ 450 bi, mais da metade do pacote. Claro, não iam ficar sem fazer nada, né?

Em pânico, os caras se preveniram, antes mesmo de o pacote ser votado e do Wachovia ser comprado pelo Citigroup. Quer dizer, estão agindo rápido. Mas evidentemente isso não tira o pânico.

E postura do presidente George W. Bush?
Ele não é uma pessoa nada qualificada, e o que ele diz ou não diz não tem a menor importância. Porque ele efetivamente acabou como líder e não tem mais política nos Estados Unidos, porque deram o azar de essa crise surgir no período eleitoral. Então a reação do Congresso é totalmente eleitoreira. Todo mundo está convencido de que o pacote é bom para os bancos, o que é verdade, e não resolve nada. Pode resolver, mas talvez não, enfim. É uma medida de emergência, de maneira que o Bush não tem liderança. Os Estados Unidos estão sem liderança política e as instituições bancárias deles estão muito mal. A crise americana é uma crise de mentira, no meu ponto de vista. (Os EUA) Vão pagar o preço. Da outra vez foi o Japão, agora serão eles.

Mudou o eixo...
Há uma multi-polaridade que está se convertendo numa perda cada vez maior da importância do centro americano.

Essa crise é fruto do processo de desregulamentação financeira iniciado na década de 1980, com o Consenso de Washington?
(risos) Claro, claro. Isso é resultado da política, como diz o candidato Obama. Quando se faz uma política desastrosa, o resultado é esse. Não se trata de um terremoto provocado pela natureza, não. O sistema bancário estava tão desregulado e fazia tais barbaridades, que na verdade já se chamavam de shadow banks, bancos das sombras. Eles alimentaram uma moda cheia de arapucas, e agora as arapucas estão atingindo bancos mais sólidos. O Wachovia era um banco comum, banco de depósito. Mas não agüentou. E aí como o Congresso fica paralisado, o Tesouro e o Banco Central tomam providências na hora. Eles estão o tempo inteiro para ver quem vai quebrar e antes que quebre, eles socorrem, está claro? Tanto o socorro global quanto o socorro caso a caso. Como todo dia tem ou dois casos, ou três, ou quatro...e os mercados mais ativos nessa brincadeira são Nova Iorque e Londres, que são os mais desregulados. Hong Kong, Tóquio, Seul não estão correndo riscos. Não é um sistema tão desregulado.

Uma das arapucas seria essa questão da alavancagem? (NR: grau de utilização de empréstimos em determinadas operações) Os bancos norte-americanos podem alavancar mais de dez vezes seu patrimônio líquido...
Dez vezes coisa nenhuma: 12 vezes é a tolerância para banco comercial, o sistema bancário é de 20 a 40 (vezes).

Isso é dinheiro que não existe.
Pois é. Não existe. O sujeito tomou empréstimo e comprou papéis que não existiam.

Terra Magazine

Michael Moore analisa a crise.




Não vou muito com a cara do cineasta Michael Moore. Acho o gordinho simpático, mas muito, muito demagogo demais para o meu gosto. E um tanto quanto maniqueísta. Entretanto, cultivo, neste blog, um certo pluralismo. Assim, coloco abaixo, em espanhol, artigo do dito cujo "analisando" a crise das bolsas. Ou, mais precisamente, a (não) aprovação da lei proposta por Bush, o pacote, para salvar o "mercado". Trata-se de matéria publicada no Página 12 de hoje. Vale a pena conferir!

Nos quieren meter miedo
Michael Moore

Todos decían que la ley sería aprobada. Los expertos del universo ya estaban haciendo reservas para celebrar en los mejores restaurantes de Manhattan. Los compradores personales en Dallas y Atlanta fueron despachados para hacer los primeros regalos de Navidad. Los Hombres Locos de Chicago y Miami estaban descorchando botellas y brindando entre ellos mucho antes del desayuno.

Pero lo que no sabían era que cientos de miles de estadounidenses se despertaron ayer a la mañana y decidieron que era tiempo de rebelarse. Los políticos no la vieron venir. Millones de llamadas telefónicas y correos electrónicos golpearon al Congreso tan fuerte como si Marshall Dillon (Comisario Dillon, personaje de una serie) y Elliot Ness hubieran descendido en Washington D.C. para detener los saqueos y arrestar a los ladrones.

La Corporación del Crimen del Siglo fue detenida por 228 votos contra 205. Fue raro e histórico; nadie podía recordar un momento cuando una ley apoyada por el presidente y el liderazgo de ambos partidos fuera derrotada. Eso nunca sucede. Mucha gente se está preguntando por qué el ala derecha del Partido Republicano se unió al ala izquierda del Partido Demócrata para votar en contra del robo. Cuarenta por ciento de los demócratas y dos tercios de los republicanos votaron en contra de la ley.

Esto es lo que sucedió:

La carrera presidencial puede estar todavía muy pareja en las encuestas, pero las carreras en el Congreso están señalando una victoria aplastante para los demócratas. Pocos discuten la predicción de que los republicanos van a recibir una paliza el 4 de noviembre. Hasta 30 bancas republicanas en la Cámara de Representantes se perderían en lo que sería un increíble repudio a su agenda. Los representantes del oficialismo tienen tanto miedo de perder sus bancas, que cuando apareció esta “crisis financiera” hace dos semanas, se dieron cuenta que habían entregado su única oportunidad de separarse de Bush antes de la elección, mientras hacían algo que los hiciera parecer como que estaban del lado de “la gente”.

Estaba mirando ayer C-Span, una de las mejores comedias que he visto en años. Ahí estaban, un republicano después de otro que habían apoyado la guerra y hundido al país en una deuda record, que habían votado para matar cualquier regulación que hubiera mantenido a Wall Street en control —¡ahí estaban, lamentándose y defendiendo al hombrecito común!—. Uno tras otro se pararon en el micrófono de la Cámara baja y tiraron a Bush bajo el ómnibus, bajo el tren (aunque habían votado por quitarles los subsidios a los trenes también), diablos, lo hubieran tirado bajo la aguas crecientes de Lower Ninth Ward (barrio de Nueva Orleans) si hubieran podido conjurar otro huracán.

Los 95 valientes demócratas que rompieron con Barney Frank y Chris Dodd era los héroes reales, igual a aquellos pocos que se pararon y votaron en contra de la guerra en octubre de 2002. Miren los comentarios de ayer de los republicanos Marcy Kaptur, Sheila Jackson Lee, y Dennis Kucinich. Dijeron la verdad. Los demócratas que votaron por el paquete lo hicieron en gran parte porque estaban temerosos de las amenazas de Wall Street, que si los ricos no recibían su dádiva, los mercados enloquecerían y entonces adiós a las pensiones que dependen de las acciones y adiós a los fondos de retiro. ¿Y adivinen qué? ¡Eso es exactamente lo que hizo Wall Street! La caída más grande de un solo día en el Dow en la historia de la Bolsa de Valores de Nueva York. Anoche los nuevos presentadores de televisión lo gritaban: ¡los estadounidenses acaban de perder 1,2 billón de dólares en la Bolsa! ¡Es el Pearl Harbour financiero! ¡Se cae el cielo! ¡Gripe aviar! Por supuesto, la gente cuerda sabe que nadie “perdió” nada ayer, que los valores suben y bajan y que esto también pasará porque lo ricos comprarán ahora que están bajos, los sostendrán, luego los venderán, y luego comprarán nuevamente cuando estén bajos. Pero por ahora, Wall Street y su brazo de propaganda (las redes y los medios que poseen) continuarán tratando de meternos miedo. Será más difícil conseguir un préstamo. Algunas personas perderán sus empleos. Una débil nación de peleles no durará mucho bajo esta tortura. ¿O sí podremos?

Esto es lo que creo: el liderazgo democrático en la Cámara baja esperaba secretamente todo el tiempo que esta pésima ley fracasara. Con las propuestas de Bush hechas añicos, los demócratas sabían que entonces podían escribir su propia ley que favorece al promedio de los estadounidenses y no al 10 por ciento más rico que está esperando otro lingote de oro. De manera que la pelota está en la manos de la oposición. El revólver de Wall Street todavía le apunta a la cabeza. Antes que den el próximo paso, déjenme decirle lo que los medios silenciaron mientras se debatía esta ley:

1. La ley de salvataje NO tiene provisiones para el llamado grupo de supervisión que iba a monitorear los gastos de Wall Street de los 700.000 millones;

2. NO consideraba multas, sanciones o prisión para ningún ejecutivo que pudiera robar algo del dinero del pueblo;

3. NO hizo nada para obligar a los bancos y a los prestamistas a reescribir las hipotecas del pueblo para evitar ejecuciones ¡Esta ley no hubiera detenido ni UNA ejecución!

4. En toda la legislación NO había nada ejecutable, usando palabras como “sugerido” cuando se referían a que se le devolviera el dinero del rescate al gobierno;

5. Más de 200 economistas escribieron al Congreso y dijeron que esta ley podría empeorar la “crisis financiera y causar aún MAS de una caída.

Es hora que nuestro lado establezca claramente las leyes que nosotros queremos pasar.

Traducción: Celita Doyhambéhére.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Artigo de Boaventura sobre a crise no mercado financeiro

Leia, abaixo, trechos de um artigo de autoria do sociólogo Boaventura de Sousa Santos. Publicado na edição de hoje do jornal Folha de São Paulo, o texto trata da atual crise que assola o mercado financeiro.

O impensável aconteceu
BOAVENTURA DE SOUSA SANTOS


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Esta não é a crise final do capitalismo e, mesmo se fosse, talvez a esquerda não soubesse o que fazer dela
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A PALAVRA não aparece na mídia dos EUA, mas é disso que se trata: nacionalização.
Perante as falências ocorridas, anunciadas ou iminentes de importantes bancos de investimento, das duas maiores sociedades hipotecárias do país e da maior seguradora do mundo, o governo federal norte-americano decidiu assumir o controle direto de uma parte importante do sistema financeiro.

A medida não é inédita. O governo interveio em outras crises profundas: 1792 (no mandato do primeiro presidente do país), 1907 (o papel central na resolução da crise coube ao grande banco de então, J.P. Morgan, hoje, Morgan Stanley, também em risco), 1929 (a Grande Depressão: em 1933, mil norte-americanos por dia perdiam suas casas para os bancos) e 1985 (crise das associações de poupança e empréstimo). O que é novo na intervenção em curso é sua magnitude e o fato de ela ocorrer ao fim de 30 anos de evangelização neoliberal conduzida com mão-de-ferro em nível global pelos EUA e pelas instituições financeiras por eles controladas, FMI e Banco Mundial: mercados livres e, porque livres, eficientes; privatizações; desregulamentação; Estado fora da economia, porque inerentemente corrupto e ineficiente; eliminação de restrições à acumulação de riqueza e à correspondente produção de miséria social.
(...)

À luz disso, o impensável aconteceu: o Estado deixou de ser o problema para voltar a ser a solução; cada país tem o direito de fazer prevalecer o que entende ser o interesse nacional contra os ditames da globalização; o mercado não é, por si, racional e eficiente, apenas sabe racionalizar a sua irracionalidade e ineficiência enquanto estas não atingem o nível de autodestruição.

Esta não é a crise final do capitalismo e, mesmo se fosse, talvez a esquerda não soubesse o que fazer dela, tão generalizada foi a sua conversão ao evangelho neoliberal. Muito continuará como dantes: o espírito individualista, egoísta e anti-social que anima o capitalismo; o fato de que a fatura das crises é sempre paga por quem nada contribuiu para elas, a esmagadora maioria dos cidadãos.
Mas muito mais mudará. Primeiro, o declínio dos EUA como potência mundial atinge novo patamar. O país acaba de ser vítima das armas de destruição financeira maciça com que agrediu tantos países nas últimas décadas e a decisão "soberana" de se defender foi afinal induzida pela pressão dos seus credores estrangeiros (sobretudo chineses) que ameaçaram com uma fuga que seria devastadora para o atual "american way of life".

Segundo, FMI e Banco Mundial deixaram de ter autoridade para impor suas receitas, pois sempre usaram como bitola uma economia que se revela fantasma. Daqui em diante, a primazia do interesse nacional pode ditar, por exemplo, taxas de juro subsidiadas para apoiar indústrias em perigo (como as que o Congresso dos EUA acaba de aprovar para o setor automotivo).
(...)
Terceiro, as políticas de privatização da segurança social ficam desacreditadas: é eticamente monstruoso acumular lucros fabulosos com o dinheiro de milhões de trabalhadores humildes e abandonar estes à sua sorte quando a especulação dá errado.
Quarto, o Estado que regressa como solução é o mesmo que foi moral e institucionalmente destruído pelo neoliberalismo, o qual tudo fez para que sua profecia se cumprisse: transformar o Estado num antro de corrupção. Isso significa que, se o Estado não for profundamente reformado e democratizado, em breve será, agora, sim, um problema sem solução.
Quinto, as mudanças na globalização hegemônica vão provocar mudanças na globalização dos movimentos sociais e vão certamente refletir-se no Fórum Social Mundial: a nova centralidade das lutas nacionais e regionais; as relações com Estados e partidos progressistas e as lutas pela refundação democrática do Estado; as contradições entre classes nacionais e transnacionais e as políticas de alianças.

BOAVENTURA DE SOUSA SANTOS, 67, sociólogo português, é professor catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (Portugal). É autor, entre outros livros, de "Para uma Revolução Democrática da Justiça" (Cortez, 2007).

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quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Ainda sobre a crise

Reproduzo, aí abaixo, matéria publicada no Magazine Terra (acesse aqui o site, caso queira ir direto).


É o fim do capitalismo nos Estados Unidos

Pablo Calvi
De Nova Iorque


O pacote de resgate que o governo dos Estados Unidos está preparando, o qual deve disponibilizar entre US$ 750 bilhões e US$ 1 trilhão, já gera dúvidas quanto ao curto prazo, bem como inquietações de cunho mais filosófico. O dinheiro que será injetado no mercado pelo Tesouro americano estará comprometido não apenas com a salvação de entidades financeiras, mas também com a compra de pequenos créditos hipotecários não pagos ou de alto risco - os ditos "papéis podres".

Uma das primeiras e mais importantes teses sobre esta crise foi formulada na semana passada pelo prêmio Nobel de Economia Joseph Stiglitz ao assinalar que a intervenção do estado em semelhante escala viola todas as regras do capitalismo.

Segundo explica o professor da Universidade de Columbia, Wall Street, entre a euforia e o otimismo, entrou desde quinta-feira passada num estado de tremenda confusão. Para o intelectual, a "nacionalização" da seguradora AIG - por US$ 85 bilhões - não apenas desrespeita todos os princípios da economia de livre mercado, como altera as mais básicas regras do jogo de Wall Street. Além disso, a intervenção começou a enviar sinais confusos a um mercado em crise, pois o dinheiro do Tesouro foi parar justamente nas mãos daqueles que tomaram as piores decisões econômicas. Basta pensar, por exemplo, numa corrida em que os premiados não são os que primeiros que cruzam a linha de chegada, mas aqueles que ficaram pelo caminho.

Claro, os que seriam os perdedores naturais desta investida capitalista, Merril Lynch, AIG, Fannie Mae, Freddie Mac, terminaram, no final das contas, como os vencedores num esquema de mercado distorcido pela mão do Estado. As ações da AIG, por exemplo, que entre segunda-feira e terça-feira da semana passada cairam 94%, fecharam a semana com ganhos recorde após a primeira intervenção do governo.

A esta altura, como salienta o brilhante economista Paul Krugman em sua coluna no New York Times, "ninguém acredita que o Estado seja um problema, pelo contrário, o vêem como solução". Até mesmo Paul Volker, ex-presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) assegura num editorial publicado pelo Wall Street Journal que a única solução para a crise é a criação de um ente estatal que se incumba das massivas perdas do setor financeiro. Porém, claro, com a crise e a intervenção estatal em Wall Street, o governo ultra-conservador de Geroge W. Bush e muitos dos defensores mais ferrenhos do capitalismo ortodoxo tiveram que começar a pôr fogo em suas bibliotecas.

"Perseguindo o próprio interesse, o capitalista geralmente promove também os interesses da sociedade de forma muito mais efetiva que se de fato tentasse oferecer à sociedade algum tipo de benefício", escreve Adam Smith em sua célebre obra, "A Riqueza das Nações" (1776). Segundo o primeiro e mais citado dos teóricos do capitalismo, as sociedades e os mercados operam melhor quanto mais egoístas são as intenções de seus agentes econômicos. O egoísmo coletivo, que Smith compara a uma "mão invisível", é para o filósofo inglês o agente de controle mais efetivo que age não apenas nos mercados, mas também nas economias em todos seus múltiplos níveis. Claro que a realidade é muitas vezes mais rica que a teoria.

Quinta-feira passada, numa sucinta apresentação perante a imprensa, o presidente Bush disse que o Estado se via na obrigação de intervir excepcionalmente num mercado em plena crise. "Foi a cobiça de Wall Street que nos levou a este extremo", justificava, sem meias palavras, o candidato republicano John McCain num encontro partidário em Michigan. "O que entrou em crise com a o desabamento de Wall Street foi a filosofia política deste governo e de muitos outros anteriores", declarou, na Flórida, o candidato democrata Barack Obama.

Passaram muito ao largo da coluna de Krugman as recomendações do magnata bancário Andrew Mellon ao trigésimo primeiro presidente dos Estados Unidos, Herbert Hoover: "Se desfaça dos funcionários públicos, se desfaça do estoque, das terras e das propriedades do Estado". Aquelas sugestões desembocaram na crise financeira dos anos 30 e foram a causa de um novo pacto social, o New Deal de Franklin Delano Roosevelt. A pergunta é: quão distante do capitalismo ortodoxo nos deixará o novo pacote econômico? Ou, imaginando as palavras de um investidor aterrorizado: terminou para sempre a era do capitalismo selvagem dos Estados Unidos?