Leia abaixa um bom artigo escrito pelo jornalista Alon Feuerwerker.
Etiqueta de validade
Alon Feuwerker
É visível um certo cansaço com certa política, mas qual será a tradução da fadiga na vida real? Como será nas eleições? É razoável supor que ou essa energia será canalizada partidariamente ou vai dissipar-se
É humano certo deslumbramento com os movimentos ditos espontâneos. Eles adicionam glamour à política, pelo contraste com a crueza da realidade dela olhada sem filtros, em estado bruto. Das manifestações contra a corrupção Brasil afora até a “ocupação” de Wall Street.
O problema é que se movimentos de massa são bons para criar estados de espírito, e mesmo para bloquear parcialmente a capacidade de intervenção do Estado, como agora no Chile, não estão porém aptos a governar. A utopia do democratismo direto costuma virar do avesso quando tenta passar da fantasia à realidade.
Governar é trabalho para minorias, profissionais organizados em facções, partidos políticos. Que irão realizar a cada momento os projetos supostamente apoiados pela maioria, mas não será o governo da maioria. Será o governo segundo o suposto desejo da maioria, mas operado por uma máquina política dedicada.
Espertas são as máquinas políticas que se abrem aos movimentos sociais para alimentar-se da energia deles, mas é uma operação necessariamente datada, com vencimento.
Pois uma vez no poder a tendência se inverte e o Estado passa a usar os instrumentos tradicionais — da repressão à cooptação — para reduzir o caos, diminuir a desorganização da sinfonia.
Pode não ser muito animador, mas assim é a vida. Desde quase os primórdios. Por razões práticas. Quem ocupa as horas do dia na luta pela sobrevivência não tem como se dedicar às atividades de governo. Daí nasce a necessidade de mecanismos especializados e dedicados.
Podem ser sacerdotes ou nobres. Ou militares. Nas sociedades modernas nasceram os parlamentos, as eleições periódicas. A essência é sempre a mesma. Organizar a rotina para que a sociedade sobreviva, produzindo e reproduzindo-se em ciclos periódicos.
Daí que movimentos precisem, em algum momento, buscar sua tradução na política organizada. Nos anos 70 do século passado o sindicalismo ascendente buscava expressão partidária e o então MDB (antecessor do PMDB) ofereceu guarida. Mas Luiz Inácio Lula da Silva preferiu, após algumas experiências, trilhar o próprio caminho.
Os resultados são conhecidos.
Ontem um punhado de cidades foi novamente palco de protestos contra a corrupção, um processo que vem se desenvolvendo à margem dos partidos. Pois todos eles são de alguma forma governo. Não têm como se apresentar ao distinto público vestidos de branco imaculado.
E é natural que os manifestantes procurem apartar-se de alinhamentos partidários. Uma boa estratégia. Já ensinava Muhammad Ali: flutuar como uma borboleta e picar como uma abelha. Se se abrirem à participação organizada de partidos, transformar-se-ão em alvo fixo.
Do jeito que está, o máximo que os contramanifestantes conseguem é tentar azucrinar pelas redes sociais. Tentar ridicularizar. Uma certa confissão de impotência. E também de alguma perda de sensibilidade. E, episodicamente, de boçalidade.
Mas e os resultados? O movimento pede mudanças legislativas e reforço das atribuições de órgãos de controle. Tudo bem, mas será suficiente? As instituições não existem no éter. Quem as opera é o Estado, comandado por um governo.
É visível certo cansaço com certa política, mas qual será a tradução da fadiga na vida real? Como será nas eleições?
É razoável supor que ou a energia será canalizada partidariamente ou vai dissipar-se diante da resistência, ou da inércia, das máquinas políticas estabelecidas, aliás muito bem estabelecidas. Especialmente as governistas.
Será?
A descoberta de um complô iraniano para matar o embaixador saudita em Washington tem tudo para introduzir de vez o assunto na eleição americana do ano que vem.
Ou bem a acusação é falsa, e aí será a desmoralização dos serviços policiais e de inteligência dos Estados Unidos, ou as pressões para que a Casa Branca contenha definitivamente o Irã nuclear vão subir exponencialmente.
Barack Obama tem a cabeça de Osama bin Laden na parede como troféu. Mas será suficiente?
Mostrando postagens com marcador Barak Obama. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Barak Obama. Mostrar todas as postagens
sábado, 15 de outubro de 2011
terça-feira, 28 de julho de 2009
Obama e Cuba: algo se move...e mais rápido do que muitos apostavama.
Há alguns meses, logo após a posse do Presidente Barak Obama, postei aqui uma nota, em parte motivado pela visita de meus amigos Olavo e Márcia, a respeito das mudanças em relação à Cuba por parte da diplomacia do novo governo democrata. Intitulada "Obama e Cuba: Eppur se muove...", a nota apontava para a significativa mudança de rota em relação à administração republicada e apontava as pequenas mudanças que começavam a ocorrer. E continuam... Ainda são simbólicas? Sim, mas não se muda tudo de uma dia para a outro, pois não? Estava a pensar nestas coisas quando deparei-me, no El País, com a notícia abaixo. Vale a pena conferir!
EE UU apaga su panel de críticas contra el régimen en La Habana
Obama pone fin a un sistema electrónico de mensajes implantado en la isla por la administración Bush
Hasta este lunes, 25 ventanas del quinto piso del edificio de la Sección de Intereses de Washington en La Habana, situado en el paseo marítimo del Malecón, servían de panel para difundir mensajes, noticias y declaraciones políticas que criticaban al Gobierno cubano. Como gesto de los esfuerzos del Gobierno estadounidense para mejorar las relaciones con la isla, Washington ha apagado el sistema electrónico, de 1,5 metros de altura y en funcionamiento desde enero de 2006.
Este dispositivo, que enfureció al ex presidente de Cuba Fidel Castro, ha permanecido desconectado durante la mayor parte del mes de julio y, según diplomáticos occidentales destinados en la Habana, no hay planes de retomar la difusión de mensajes en un futuro próximo. Por su parte, los estadounidenses han dicho a los visitantes que ha habido "dificultades técnicas" con el sistema de mensajería electrónica, que en junio parecía tener problemas.
La desconexión de los cintillos de noticias llega a la par de las medidas del presidente estadounidense, Barack Obama, de relajar algunas restricciones impuestas a Cuba poco después que Fidel Castro llegase al poder en 1959. Estados Unidos rompió relaciones diplomáticas con Cuba en 1961, pero desde 1977 ambos países han mantenido Secciones de Intereses en Washington y en La Habana, respectivamente. No obstante, Obama ha dejado claro que mantendrá el embargo económico, que dura ya 47 años, hasta que las autoridades cubanas mejoren su política y los derechos humanos en la isla.
EE UU apaga su panel de críticas contra el régimen en La Habana
Obama pone fin a un sistema electrónico de mensajes implantado en la isla por la administración Bush
Hasta este lunes, 25 ventanas del quinto piso del edificio de la Sección de Intereses de Washington en La Habana, situado en el paseo marítimo del Malecón, servían de panel para difundir mensajes, noticias y declaraciones políticas que criticaban al Gobierno cubano. Como gesto de los esfuerzos del Gobierno estadounidense para mejorar las relaciones con la isla, Washington ha apagado el sistema electrónico, de 1,5 metros de altura y en funcionamiento desde enero de 2006.
Este dispositivo, que enfureció al ex presidente de Cuba Fidel Castro, ha permanecido desconectado durante la mayor parte del mes de julio y, según diplomáticos occidentales destinados en la Habana, no hay planes de retomar la difusión de mensajes en un futuro próximo. Por su parte, los estadounidenses han dicho a los visitantes que ha habido "dificultades técnicas" con el sistema de mensajería electrónica, que en junio parecía tener problemas.
La desconexión de los cintillos de noticias llega a la par de las medidas del presidente estadounidense, Barack Obama, de relajar algunas restricciones impuestas a Cuba poco después que Fidel Castro llegase al poder en 1959. Estados Unidos rompió relaciones diplomáticas con Cuba en 1961, pero desde 1977 ambos países han mantenido Secciones de Intereses en Washington y en La Habana, respectivamente. No obstante, Obama ha dejado claro que mantendrá el embargo económico, que dura ya 47 años, hasta que las autoridades cubanas mejoren su política y los derechos humanos en la isla.
segunda-feira, 18 de maio de 2009
A crueldade de Dante: um artigo de Alberto Manguel
Você deve conhecer o escritor Alberto Manguel, não? Bueno, acesso o Wikipedia e saiba alguma coisa sobre ele, então (em inglês). Mas o que eu queria mesmo era te convidar para ler o artigo abaixo, publicado hoje no El País (o diário espanhol é a minha leitura obrigatória de cada dia, sabes disso...). Vale a pena conferir!
La crueldad de Dante
ALBERTO MANGUEL
La decisión del presidente Obama de dar a conocer los documentos sobre las prácticas interrogatorias de Guantánamo y Abu Ghraib y, al mismo tiempo, no ordenar la investigación de quienes llevaron a cabo tales prácticas, me recordó un caso bien anterior, en el que el sistema legal es también utilizado para justificar la tortura, y en el cual el torturador tampoco es condenado por sus acciones. Ocurre casi al final del viaje al infierno de Dante, en el Canto XXXII de su Comedia.
Siguiendo a Virgilio por los varios círculos infernales, Dante llega al lago glacial en el que las almas de los traidores son presas hasta el cuello en el hielo. Entre las terribles cabezas que gritan y maldicen, Dante cree reconocer la de un cierto Bocca degli Abati, culpable de haber traicionado a los suyos y haberse aliado al enemigo. Dante pide a la inclinada cabeza que le diga su nombre y, como es ya su costumbre a lo largo del mágico descenso, promete al pecador fama póstuma en sus versos cuando vuelva al mundo de los vivos. Bocca le contesta que lo que desea es precisamente lo contrario, y le dice a Dante que se vaya y no lo fastidie más.
Furioso ante el insulto, Dante coge a Bocca por el pescuezo y le dice que, a menos que confiese su nombre, le arrancará cada pelo de la cabeza. "Aún si me dejases calvo", le contesta el desdichado, "no te diría quien soy, no te mostraría mi cara/ aunque mil veces me azotases". Entonces Dante le arranca "otro puñado de pelo", haciendo que Bocca lance aullidos de dolor. Mientras tanto, Virgilio, encargado por la voluntad divina de guiar al poeta, observa y guarda silencio.
Podemos interpretar ese silencio de Virgilio como aprobación. Varios círculos antes, en el Canto VIII, cuando los dos poetas navegan a través del Río Estigio, Dante, viendo cómo uno de los condenados se alza de las aguas inmundas, le pregunta, como siempre, de quién se trata. El alma pecaminosa no le da su nombre, sólo le dice que es "uno que llora" y Dante, sin conmoverse, lo maldice ferozmente. Virgilio, sonriente, toma a Dante en sus brazos y lo alaba con las palabras que San Lucas usó para alabar a Cristo. Entonces Dante, alentado por la reacción de su maestro, le dice que nada le daría mayor placer que ver al condenado volver a hundirse en el fango atroz. Virgilio le dice que así ocurrirá, y el episodio concluye con Dante agradeciendo a Dios la concesión de su deseo.
Através de los siglos, los comentadores de Dante han intentado justificar estos actos como ejemplos de "noble indignación" u "honorable cólera", que no es un pecado como la ira (según Santo Tomás de Aquino, uno de las fuentes intelectuales de Dante), sino una virtud nacida de una "causa justa". El problema, claro está, reside en la lectura del adjetivo "justo". En el caso de Dante, "justo" se refiere a su comprensión de la incuestionable justicia de Dios. Sentir compasión por los condenados es "injusto" porque significa oponerse a la imponderable voluntad divina.
Tan sólo tres cantos antes, Dante cae desmayado de piedad cuando el alma de Francesca, condenada a girar para siempre en el vendaval que castiga la lujuria, le cuenta su triste caso. Pero ahora, más avanzado en su ejemplar descenso, Dante ha perdido su flaqueza sentimental y su fe en la autoridad es más robusta.
Según la teología dantesca, el sistema legal impuesto por Dios no puede ser tachado ni de erróneo ni de cruel; por lo tanto, todo lo que decrete debe ser "justo" aun cuando se halle más allá del entendimiento humano. Las acciones de Dante -la tortura deliberada del prisionero preso en el hielo, su sórdido deseo de ver al otro prisionero ahogarse en el lodo- deben ser entendidas (dicen los comentadores) como una humilde obediencia a la Ley y a una incuestionable Autoridad Mayor.
Un argumento similar es propuesto hoy en día por quienes argumentan contra la investigación y condena de los torturadores. Y sin embargo, habrá pocos lectores de Dante que no sientan, al leer esos pasajes infernales, un mal sabor de boca. Quizás sea porque, si la justificación de la aparente crueldad dantesca yace en la naturaleza de la voluntad divina, entonces, en lugar de sentir que las acciones de Dante son redimidas por la fe, el lector siente que la fe es envilecida por las acciones de Dante.
De la misma manera, el implícito perdón a los torturadores, sólo porque los abusos ocurrieron en un pasado inmutable y bajo la autoridad y ley de otra administración, en lugar de alimentar la fe en la política del Gobierno actual, la envilece. Peor aún: tácitamente aceptada por la Administración de Obama, la vieja excusa de "sólo obedecí las órdenes" adquirirá renovado crédito y servirá de antecedente para futuras exoneraciones.
G. K. Chesterton dijo alguna vez: "Obviamente, no puede haber seguridad en una sociedad en la que el comentario de un juez de la Corte Suprema, diciendo que asesinar está mal, sea visto como un epigrama original y deslumbrante". Lo mismo puede decirse de una sociedad que, bajo no importa qué circunstancias, rehúsa investigar y condenar infames actos de tortura.
La crueldad de Dante
ALBERTO MANGUEL
La decisión del presidente Obama de dar a conocer los documentos sobre las prácticas interrogatorias de Guantánamo y Abu Ghraib y, al mismo tiempo, no ordenar la investigación de quienes llevaron a cabo tales prácticas, me recordó un caso bien anterior, en el que el sistema legal es también utilizado para justificar la tortura, y en el cual el torturador tampoco es condenado por sus acciones. Ocurre casi al final del viaje al infierno de Dante, en el Canto XXXII de su Comedia.
Siguiendo a Virgilio por los varios círculos infernales, Dante llega al lago glacial en el que las almas de los traidores son presas hasta el cuello en el hielo. Entre las terribles cabezas que gritan y maldicen, Dante cree reconocer la de un cierto Bocca degli Abati, culpable de haber traicionado a los suyos y haberse aliado al enemigo. Dante pide a la inclinada cabeza que le diga su nombre y, como es ya su costumbre a lo largo del mágico descenso, promete al pecador fama póstuma en sus versos cuando vuelva al mundo de los vivos. Bocca le contesta que lo que desea es precisamente lo contrario, y le dice a Dante que se vaya y no lo fastidie más.
Furioso ante el insulto, Dante coge a Bocca por el pescuezo y le dice que, a menos que confiese su nombre, le arrancará cada pelo de la cabeza. "Aún si me dejases calvo", le contesta el desdichado, "no te diría quien soy, no te mostraría mi cara/ aunque mil veces me azotases". Entonces Dante le arranca "otro puñado de pelo", haciendo que Bocca lance aullidos de dolor. Mientras tanto, Virgilio, encargado por la voluntad divina de guiar al poeta, observa y guarda silencio.
Podemos interpretar ese silencio de Virgilio como aprobación. Varios círculos antes, en el Canto VIII, cuando los dos poetas navegan a través del Río Estigio, Dante, viendo cómo uno de los condenados se alza de las aguas inmundas, le pregunta, como siempre, de quién se trata. El alma pecaminosa no le da su nombre, sólo le dice que es "uno que llora" y Dante, sin conmoverse, lo maldice ferozmente. Virgilio, sonriente, toma a Dante en sus brazos y lo alaba con las palabras que San Lucas usó para alabar a Cristo. Entonces Dante, alentado por la reacción de su maestro, le dice que nada le daría mayor placer que ver al condenado volver a hundirse en el fango atroz. Virgilio le dice que así ocurrirá, y el episodio concluye con Dante agradeciendo a Dios la concesión de su deseo.
Através de los siglos, los comentadores de Dante han intentado justificar estos actos como ejemplos de "noble indignación" u "honorable cólera", que no es un pecado como la ira (según Santo Tomás de Aquino, uno de las fuentes intelectuales de Dante), sino una virtud nacida de una "causa justa". El problema, claro está, reside en la lectura del adjetivo "justo". En el caso de Dante, "justo" se refiere a su comprensión de la incuestionable justicia de Dios. Sentir compasión por los condenados es "injusto" porque significa oponerse a la imponderable voluntad divina.
Tan sólo tres cantos antes, Dante cae desmayado de piedad cuando el alma de Francesca, condenada a girar para siempre en el vendaval que castiga la lujuria, le cuenta su triste caso. Pero ahora, más avanzado en su ejemplar descenso, Dante ha perdido su flaqueza sentimental y su fe en la autoridad es más robusta.
Según la teología dantesca, el sistema legal impuesto por Dios no puede ser tachado ni de erróneo ni de cruel; por lo tanto, todo lo que decrete debe ser "justo" aun cuando se halle más allá del entendimiento humano. Las acciones de Dante -la tortura deliberada del prisionero preso en el hielo, su sórdido deseo de ver al otro prisionero ahogarse en el lodo- deben ser entendidas (dicen los comentadores) como una humilde obediencia a la Ley y a una incuestionable Autoridad Mayor.
Un argumento similar es propuesto hoy en día por quienes argumentan contra la investigación y condena de los torturadores. Y sin embargo, habrá pocos lectores de Dante que no sientan, al leer esos pasajes infernales, un mal sabor de boca. Quizás sea porque, si la justificación de la aparente crueldad dantesca yace en la naturaleza de la voluntad divina, entonces, en lugar de sentir que las acciones de Dante son redimidas por la fe, el lector siente que la fe es envilecida por las acciones de Dante.
De la misma manera, el implícito perdón a los torturadores, sólo porque los abusos ocurrieron en un pasado inmutable y bajo la autoridad y ley de otra administración, en lugar de alimentar la fe en la política del Gobierno actual, la envilece. Peor aún: tácitamente aceptada por la Administración de Obama, la vieja excusa de "sólo obedecí las órdenes" adquirirá renovado crédito y servirá de antecedente para futuras exoneraciones.
G. K. Chesterton dijo alguna vez: "Obviamente, no puede haber seguridad en una sociedad en la que el comentario de un juez de la Corte Suprema, diciendo que asesinar está mal, sea visto como un epigrama original y deslumbrante". Lo mismo puede decirse de una sociedad que, bajo no importa qué circunstancias, rehúsa investigar y condenar infames actos de tortura.
quinta-feira, 16 de abril de 2009
A díficl guerra contra o narcotráfico no México.
Na última terça-feira, em uma conversa informal com colegas coordenadores de cursos de sociologia e ciências sociais, após uma cansativa reunião sobre a avaliação da CAPES, tocamos no assunto narcotráfico. Um colega, se não me engano de Ribeirão preto, comentava sobre a sua experiência como professor visitante no México. Falava da experiência singular que foi lecionar em Ciudad Juarez, situada na fronteira com os EUA, uma espécie de capital do narcotráfico. Comentava o colega sobre o clima de medo e de desarticulação da vida social e cultural provacado pela ostensiva presença (e poder) do crime organizado naquele sítio. Após aquele encontro, eu que venho acompanhado com interesse o desenrolar da "guerra contra o tráfico", fiquei a pensar, no vôo de volta para a casa, como é díficil fugir dos lugares-comuns na abordagem do problema das drogas. Enquanto matuto sobre o assunto, transcrevo, mais abaxo, notícia de hoje, publicada na edição eletrônica do El País, sobre o tema.
México, bajo el azote del narcotráfico
Obama llega a un país donde el Estado y los carteles se disputan el monopolio de la violencia. Esta situación, que en 2008 provocó 7.000 asesinatos, se ha ido gestando a lo largo de los últimos cinco lustros.
SERGIO GONZÁLEZ RODRÍGUEZ
La visita a México del presidente Barack Obama se inscribe en una situación de excepcional degradación institucional al sur de la frontera de Estados Unidos. La inseguridad y la violencia, producto de la guerra del narcotráfico y otras industrias del delito, en particular el secuestro, nunca habían sido tan graves en México como ahora. Los 7.000 muertos de 2008 duplicaron la cifra del 2007. Y tan sólo en el primer trimestre de este año se cuentan 1.000 muertos. El año pasado hubo un promedio de 17 secuestros por día en todo el país, y el índice de impunidad de los delitos llegó al 99%, de acuerdo con la Comisión Nacional de Derechos Humanos (CNDH).
El Gobierno del presidente Felipe Calderón comenzó con una operación firme del Ejército en tareas de combate al narcotráfico. A pesar de su espectacularidad, los resultados han sido escasos. Los grupos delictivos multiplicaron su capacidad ofensiva y su control a lo largo y a lo ancho del territorio nacional, sobre todo en Chihuahua, Tamaulipas, Michoacán, Nuevo León y Tabasco, entre otros Estados. Por su parte, el Gobierno mexicano ha reducido el problema a media docena de localidades, entre ellas, Ciudad Juárez. Sin embargo, las bajas de esta guerra están en todas partes: delincuentes, militares, policías, ciudadanos.
Bajo la disputa del monopolio de la violencia entre el Estado y los narcotraficantes en sus diversas facciones, que luchan entre sí por la hegemonía del crimen y el dominio de los territorios, el despliegue de 90.000 soldados en varios puntos del país se ha convertido en un factor que tiende a empeorar los escenarios por el abuso de la fuerza y su falta de respeto a los derechos humanos. Al visitar México, la alta comisionada de las Naciones Unidas para los Derechos Humanos (ACNUDH), Louise Arbour, expresó ya el peligro que implica esta participación.
Al igual que otras veces durante los últimos años, el Gobierno mexicano ofreció, en víspera de un encuentro binacional y como muestra de su voluntad de combatir al narcotráfico, la detención de un narcotraficante de renombre. En este caso, se detuvo a Vicente Carrillo Leyva, hijo del que fuera jefe del cártel de Juárez Amado Carrillo Fuentes, el extinto Señor de los cielos. A pesar de que desde 1998 hubo orden de aprehensión contra Carrillo Leyva, derivada del Maxiproceso del Gobierno contra tal grupo criminal, las autoridades permitieron que éste, originario del Estado de Sinaloa al noroeste del país, se instalara en un barrio adinerado de la capital, previa cirugía estética que apenas le modificó la nariz, y viviera libre durante años como un joven empresario.
Días antes, las autoridades habían detenido a Vicente Zambada Niebla, hijo de otro ex miembro del cártel de Juárez, Ismael El Mayo Zambada, ahora afecto al cártel de Sinaloa. Esta detención fue la respuesta del Gobierno al escándalo internacional que suscitó la presencia del narcotraficante Joaquín El Chapo Guzmán Loera, cabeza del cártel de Sinaloa, en la lista de millonarios de la revista Forbes con una fortuna de 1.000 millones de dólares. Guzmán Loera, que se fugó en 2001 de un penal de "alta seguridad" en los primeros días del Gobierno de Vicente Fox Quesada, del Partido Acción Nacional (PAN), es conocido desde entonces como el capo del panismo, y permanece en libertad a pesar de existir orden de aprehensión contra él desde años atrás. Una red de corruptelas lo protege.
La situación adversa de México se gestó a lo largo de los últimos 25 años, y se asocia a los acuerdos de Estado y Gobierno con los cárteles de la droga, el uso del territorio del país para el trasiego de la cocaína proveniente de Sudamérica y la corrupción paulatina de las corporaciones militares y policiacas. Aquellos acuerdos fueron parte del apoyo mexicano en su territorio a la operación Irán-Contra de 1981, que dirigió el vicepresidente George Bush padre durante el mandato del presidente Ronald Reagan.
La operación, que consistió en el intercambio de armas para la contraguerrilla nicaragüense por drogas para el mercado de Estados Unidos, fue dirigida por la Agencia Central de Inteligencia (CIA), y participó su homóloga mexicana: la Dirección Federal de Seguridad (DFS). En esa época se dieron dos asesinatos emblemáticos que se atribuyen a intromisiones en tales nexos hasta entonces confidenciales: el del periodista mexicano Manuel Buendía y el del agente estadounidense anti-narcóticos Enrique Camarena. Su fantasma acompaña la degradación mexicana y la ambigüedad de Estados Unidos en el problema de las drogas en México y a nivel continental.
Dicho estigma ha continuado en sus dos vertientes: por un lado, periodistas amenazados, desaparecidos o asesinados mientras investigaban asuntos de crimen organizado y poder político (35 de ellos en los últimos siete años, como registra la CNDH); por otro, corporaciones militares o policiacas de ambos países inmersas en un juego de estrategia destructiva.
Casi nadie quiere recordar que la degradación mexicana comenzó y persiste en el seno de sus instituciones. El poder criminal que representa el narcotráfico en México es consustancial a su política y a su economía: cada año, las actividades por lavado de dinero ascienden a 24.000 millones de dólares, según difundió el diario The Washington Post en otoño pasado. El propio sistema financiero mexicano facilita que el lavado de dinero quede impune. Tratar de ignorar cómo se llegó y se sostiene esta aberración, está lejos de ayudar a detenerla.
A semejanza de antaño, se ha visto la escalada contradictoria de mensajes entre ambos países, que ha seguido un juego de dureza inicial acerca de México en tanto "Estado fallido" y riesgo para la seguridad de Estados Unidos, y, conforme se acerca la fecha del encuentro presidencial, se ha ido transformando en suavidad diplomática en busca de acuerdos básicos. Si se expresa la repetición de esta rutina, habrá un encuentro proclive a la propaganda y la hipocresía compartidas, más que el logro de un emplazamiento distinto del problema que trascienda las inercias del pasado.
Bajo el principio del prohibicionismo a la producción, el tráfico, la distribución, venta y consumo de las drogas, el combate a los cárteles seguirá el modelo de Estados Unidos impuesto a Colombia, que se funda en los riesgos a la soberanía nacional encubiertos bajo el rubro de la cooperación, el uso intensivo de fuerzas paramilitares susceptibles de ser corrompidas, el surgimiento de conflictos de contrainsurgencia, etcétera. Con todo, resulta imperativo que el Gobierno estadounidense se comprometa a restringir la demanda de drogas en su país y la oferta de armas, y que comience a aceptar la discusión sobre el fracaso de las acciones represivas en busca de un paradigma nuevo: la legalización de las drogas y su implantación gradual.
Hay muchas fuerzas geopolíticas y políticas dentro de ambos países que se benefician con el negocio de la ilegalidad de las drogas y el auge de las industrias delictivas. El caos aparente que trae consigo la violencia desatada y el imperio del crimen organizado es, en realidad, un escenario dirigido para las ganancias de algunos.
El presidente Felipe Calderón presume ante el mundo de su programa de combate al narcotráfico y al delito. Los hechos lo desfavorecen: su Acuerdo Nacional por la Seguridad, Justicia y Legalidad fue incapaz de inhibir el crimen organizado, lo que ha incrementado el poderío criminal y recrudecido la violencia. Ha ofrecido muchas acciones y las ha consumado, pero se ha olvidado de los resultados y la eficacia real de sus operativos; divulga sus cambios pero soslaya los nulos avances. Refugiado en el formalismo de su figura presidencial como último bastión, lo vemos perder poco a poco la batalla definitiva de su mandato. Y va en desventaja a su encuentro con el presidente Obama. Tendrá que añadir lucidez a su firmeza.
México, bajo el azote del narcotráfico
Obama llega a un país donde el Estado y los carteles se disputan el monopolio de la violencia. Esta situación, que en 2008 provocó 7.000 asesinatos, se ha ido gestando a lo largo de los últimos cinco lustros.
SERGIO GONZÁLEZ RODRÍGUEZ
La visita a México del presidente Barack Obama se inscribe en una situación de excepcional degradación institucional al sur de la frontera de Estados Unidos. La inseguridad y la violencia, producto de la guerra del narcotráfico y otras industrias del delito, en particular el secuestro, nunca habían sido tan graves en México como ahora. Los 7.000 muertos de 2008 duplicaron la cifra del 2007. Y tan sólo en el primer trimestre de este año se cuentan 1.000 muertos. El año pasado hubo un promedio de 17 secuestros por día en todo el país, y el índice de impunidad de los delitos llegó al 99%, de acuerdo con la Comisión Nacional de Derechos Humanos (CNDH).
El Gobierno del presidente Felipe Calderón comenzó con una operación firme del Ejército en tareas de combate al narcotráfico. A pesar de su espectacularidad, los resultados han sido escasos. Los grupos delictivos multiplicaron su capacidad ofensiva y su control a lo largo y a lo ancho del territorio nacional, sobre todo en Chihuahua, Tamaulipas, Michoacán, Nuevo León y Tabasco, entre otros Estados. Por su parte, el Gobierno mexicano ha reducido el problema a media docena de localidades, entre ellas, Ciudad Juárez. Sin embargo, las bajas de esta guerra están en todas partes: delincuentes, militares, policías, ciudadanos.
Bajo la disputa del monopolio de la violencia entre el Estado y los narcotraficantes en sus diversas facciones, que luchan entre sí por la hegemonía del crimen y el dominio de los territorios, el despliegue de 90.000 soldados en varios puntos del país se ha convertido en un factor que tiende a empeorar los escenarios por el abuso de la fuerza y su falta de respeto a los derechos humanos. Al visitar México, la alta comisionada de las Naciones Unidas para los Derechos Humanos (ACNUDH), Louise Arbour, expresó ya el peligro que implica esta participación.
Al igual que otras veces durante los últimos años, el Gobierno mexicano ofreció, en víspera de un encuentro binacional y como muestra de su voluntad de combatir al narcotráfico, la detención de un narcotraficante de renombre. En este caso, se detuvo a Vicente Carrillo Leyva, hijo del que fuera jefe del cártel de Juárez Amado Carrillo Fuentes, el extinto Señor de los cielos. A pesar de que desde 1998 hubo orden de aprehensión contra Carrillo Leyva, derivada del Maxiproceso del Gobierno contra tal grupo criminal, las autoridades permitieron que éste, originario del Estado de Sinaloa al noroeste del país, se instalara en un barrio adinerado de la capital, previa cirugía estética que apenas le modificó la nariz, y viviera libre durante años como un joven empresario.
Días antes, las autoridades habían detenido a Vicente Zambada Niebla, hijo de otro ex miembro del cártel de Juárez, Ismael El Mayo Zambada, ahora afecto al cártel de Sinaloa. Esta detención fue la respuesta del Gobierno al escándalo internacional que suscitó la presencia del narcotraficante Joaquín El Chapo Guzmán Loera, cabeza del cártel de Sinaloa, en la lista de millonarios de la revista Forbes con una fortuna de 1.000 millones de dólares. Guzmán Loera, que se fugó en 2001 de un penal de "alta seguridad" en los primeros días del Gobierno de Vicente Fox Quesada, del Partido Acción Nacional (PAN), es conocido desde entonces como el capo del panismo, y permanece en libertad a pesar de existir orden de aprehensión contra él desde años atrás. Una red de corruptelas lo protege.
La situación adversa de México se gestó a lo largo de los últimos 25 años, y se asocia a los acuerdos de Estado y Gobierno con los cárteles de la droga, el uso del territorio del país para el trasiego de la cocaína proveniente de Sudamérica y la corrupción paulatina de las corporaciones militares y policiacas. Aquellos acuerdos fueron parte del apoyo mexicano en su territorio a la operación Irán-Contra de 1981, que dirigió el vicepresidente George Bush padre durante el mandato del presidente Ronald Reagan.
La operación, que consistió en el intercambio de armas para la contraguerrilla nicaragüense por drogas para el mercado de Estados Unidos, fue dirigida por la Agencia Central de Inteligencia (CIA), y participó su homóloga mexicana: la Dirección Federal de Seguridad (DFS). En esa época se dieron dos asesinatos emblemáticos que se atribuyen a intromisiones en tales nexos hasta entonces confidenciales: el del periodista mexicano Manuel Buendía y el del agente estadounidense anti-narcóticos Enrique Camarena. Su fantasma acompaña la degradación mexicana y la ambigüedad de Estados Unidos en el problema de las drogas en México y a nivel continental.
Dicho estigma ha continuado en sus dos vertientes: por un lado, periodistas amenazados, desaparecidos o asesinados mientras investigaban asuntos de crimen organizado y poder político (35 de ellos en los últimos siete años, como registra la CNDH); por otro, corporaciones militares o policiacas de ambos países inmersas en un juego de estrategia destructiva.
Casi nadie quiere recordar que la degradación mexicana comenzó y persiste en el seno de sus instituciones. El poder criminal que representa el narcotráfico en México es consustancial a su política y a su economía: cada año, las actividades por lavado de dinero ascienden a 24.000 millones de dólares, según difundió el diario The Washington Post en otoño pasado. El propio sistema financiero mexicano facilita que el lavado de dinero quede impune. Tratar de ignorar cómo se llegó y se sostiene esta aberración, está lejos de ayudar a detenerla.
A semejanza de antaño, se ha visto la escalada contradictoria de mensajes entre ambos países, que ha seguido un juego de dureza inicial acerca de México en tanto "Estado fallido" y riesgo para la seguridad de Estados Unidos, y, conforme se acerca la fecha del encuentro presidencial, se ha ido transformando en suavidad diplomática en busca de acuerdos básicos. Si se expresa la repetición de esta rutina, habrá un encuentro proclive a la propaganda y la hipocresía compartidas, más que el logro de un emplazamiento distinto del problema que trascienda las inercias del pasado.
Bajo el principio del prohibicionismo a la producción, el tráfico, la distribución, venta y consumo de las drogas, el combate a los cárteles seguirá el modelo de Estados Unidos impuesto a Colombia, que se funda en los riesgos a la soberanía nacional encubiertos bajo el rubro de la cooperación, el uso intensivo de fuerzas paramilitares susceptibles de ser corrompidas, el surgimiento de conflictos de contrainsurgencia, etcétera. Con todo, resulta imperativo que el Gobierno estadounidense se comprometa a restringir la demanda de drogas en su país y la oferta de armas, y que comience a aceptar la discusión sobre el fracaso de las acciones represivas en busca de un paradigma nuevo: la legalización de las drogas y su implantación gradual.
Hay muchas fuerzas geopolíticas y políticas dentro de ambos países que se benefician con el negocio de la ilegalidad de las drogas y el auge de las industrias delictivas. El caos aparente que trae consigo la violencia desatada y el imperio del crimen organizado es, en realidad, un escenario dirigido para las ganancias de algunos.
El presidente Felipe Calderón presume ante el mundo de su programa de combate al narcotráfico y al delito. Los hechos lo desfavorecen: su Acuerdo Nacional por la Seguridad, Justicia y Legalidad fue incapaz de inhibir el crimen organizado, lo que ha incrementado el poderío criminal y recrudecido la violencia. Ha ofrecido muchas acciones y las ha consumado, pero se ha olvidado de los resultados y la eficacia real de sus operativos; divulga sus cambios pero soslaya los nulos avances. Refugiado en el formalismo de su figura presidencial como último bastión, lo vemos perder poco a poco la batalla definitiva de su mandato. Y va en desventaja a su encuentro con el presidente Obama. Tendrá que añadir lucidez a su firmeza.
Marcadores:
Barak Obama,
crime organizado,
Guerra,
México,
narcotráfico
quarta-feira, 8 de abril de 2009
Alguma coisa está ficando fora da ordem...
Leia a matéria abaixo, publicada na edição eletrônica de hoje do sempre bom jornal espanhol El País. Realmente, parece que o Presidente Obama está construindo uma importante ponte com Cuba. E o infame bloqueio está com os seus dias contados.
Fidel Castro: "¿Cómo podemos ayudar al presidente Obama?"
Un grupo de legisladores demócratas se reúne con el líder cubano en La Habana en un nuevo gesto de distensión
Fidel Castro se ha reunido este martes en La Habana con siete congresistas estadounidenses del Partido Demócrata que han culminado una visita de cinco días a la isla en la que también se han entrevistado con el presidente Raúl Castro, quien "reiteró su disposición a dialogar sobre cualquier tema, teniendo como únicas premisas la igualdad soberana de los Estados y el absoluto respeto a la independencia nacional".
En el posterior encuentro con Fidel, el líder cubano, convalenciente desde 2006, ha preguntado a los políticos norteamericanos cómo puede ayudar desde Cuba para que Obama avance en la normalización de relaciones entre los dos países, enemigos irreconciliables desde el triunfo de la revolución cubana, según la versión ofrecida por dos de los legisladores en una rueda de prensa a su regreso a Washington.
Barbara Lee y Laura Richardson han asegurado que Castro, de 82 años, ha acudido al encuentro con un aspecto saludable y cargado de energía: "Aunque ha estado enfermo, le hemos encontrado muy saludable, enérgico y razonando con claridad", ha dicho Lee, uno de los tres legisladores que charlaron con Castro.
"Está muy pendiente de todo lo que está pasando", ha añadido Richardson, que ha explicado cómo fue el encuentro. "Cuando se acercó a nostros, nos miró a los ojos y nos preguntó: '¿Cómo podemos ayudar al presidente Obama?'".
La delegación de legisladores - la mayoría afroamericanos miembros del caucus negro - viajó a La Habana a título personal, no como enviados de Obama. Aún así, Cuba interpretó su visita como una señal de distensión. "Valoro el gesto del grupo legislativo", escribió ayer Fidel Castro en un artículo de prensa , un días después de declarar que no "temía el dialogo con Estados Unidos", informa Mauricio Vicent.
Fidel Castro: "¿Cómo podemos ayudar al presidente Obama?"
Un grupo de legisladores demócratas se reúne con el líder cubano en La Habana en un nuevo gesto de distensión
Fidel Castro se ha reunido este martes en La Habana con siete congresistas estadounidenses del Partido Demócrata que han culminado una visita de cinco días a la isla en la que también se han entrevistado con el presidente Raúl Castro, quien "reiteró su disposición a dialogar sobre cualquier tema, teniendo como únicas premisas la igualdad soberana de los Estados y el absoluto respeto a la independencia nacional".
En el posterior encuentro con Fidel, el líder cubano, convalenciente desde 2006, ha preguntado a los políticos norteamericanos cómo puede ayudar desde Cuba para que Obama avance en la normalización de relaciones entre los dos países, enemigos irreconciliables desde el triunfo de la revolución cubana, según la versión ofrecida por dos de los legisladores en una rueda de prensa a su regreso a Washington.
Barbara Lee y Laura Richardson han asegurado que Castro, de 82 años, ha acudido al encuentro con un aspecto saludable y cargado de energía: "Aunque ha estado enfermo, le hemos encontrado muy saludable, enérgico y razonando con claridad", ha dicho Lee, uno de los tres legisladores que charlaron con Castro.
"Está muy pendiente de todo lo que está pasando", ha añadido Richardson, que ha explicado cómo fue el encuentro. "Cuando se acercó a nostros, nos miró a los ojos y nos preguntó: '¿Cómo podemos ayudar al presidente Obama?'".
La delegación de legisladores - la mayoría afroamericanos miembros del caucus negro - viajó a La Habana a título personal, no como enviados de Obama. Aún así, Cuba interpretó su visita como una señal de distensión. "Valoro el gesto del grupo legislativo", escribió ayer Fidel Castro en un artículo de prensa , un días después de declarar que no "temía el dialogo con Estados Unidos", informa Mauricio Vicent.
sexta-feira, 19 de dezembro de 2008
Artigo de Mercadante
Transcrevo abaixo artigo de autoria do Senador Mercadante (PT-SP), publicado hoje no jornal O Estado de São Paulo. Vale a pena conferir!
Wall Qaeda
Aloizio Mercadante*
No dia 11 de setembro de 2001, um bando de dementes fundamentalistas derrubou as torres gêmeas de Nova York, centro econômico e financeiro mundial, matando covardemente milhares de pessoas. A poucas centenas de metros dali, Wall Street tremeu duas vezes. A primeira vez, literalmente, a segunda, metaforicamente. Com efeito, houve um princípio de pânico financeiro que obrigou o Federal Reserve (Fed) a injetar US$ 300 bilhões no sistema bancário em apenas três dias para prover a liquidez necessária. Quando a bolsa reabriu, em 17 de setembro, o Índice Dow Jones desceu 7,1%, durante a sessão de abertura, e 14,3% ao longo da semana. O dólar caiu e os preços o ouro e do petróleo subiram rapidamente.
Esses efeitos, contudo, foram de curto prazo. Em fins de outubro a situação já tinha voltado ao normal. As medidas fiscais e monetárias funcionaram e no quarto trimestre de 2001 a economia norte-americana apresentou um aumento de 2,7%, iniciando um ciclo de crescimento que só se interrompeu de fato neste ano. Do ponto de vista econômico e financeiro, Osama bin Laden tinha fracassado.
Mas havia bombas muito mais poderosas que as de Bin Laden que vinham sendo armadas contra a economia norte-americana. Dois anos antes, em 1999, a maioria republicana no Congresso dos EUA havia praticamente imposto ao presidente Bill Clinton a revogação da Lei Glass-Steagall. Implementada em 1933, com o intuito de separar bancos comerciais de bancos de investimentos e regular o sistema financeiro no pós-crash de 1929, essa lei vinha sendo questionada desde meados da década de 80 pelos interesses de financistas e investidores ávidos em participar mais intensamente da crescente financeirização da economia mundial. A revogação dessa lei e várias outras medidas de desregulamentação financeira facilitaram aos bancos dos EUA alavancar extraordinariamente o mercado de crédito. Essa alavancagem, associada ao crescimento especulativo do mercado imobiliário e dos preços dos imóveis, ensejou forte emissão de títulos lastreados em hipotecas. Como conseqüência, houve uma explosão da expansão de ativos bancários lastreados em títulos financeiros, por sua vez lastreados em hipotecas. Tal florescente e sofisticado mercado de derivativos cresceu muito além do necessário para sustentar empréstimos de hipotecas, constituindo-se em fonte especulativa de ganhos de curto prazo. Durante algum tempo essa autêntica e gigantesca pirâmide financeira invertida, construída sob as barbas do Fed, permitiu aos bancos dos EUA, bem como a outros bancos do mundo inteiro, operar com garantias descoladas do seu capital, burlando as exigências das Convenções de Basiléia.
Ao final do processo, esse descomunal mercado de derivativos já concentrava 75% da liquidez mundial e equivalia a oito PIBs mundiais. Bin Laden, gênio financeiro fosse, não poderia ter concebido plano mais pérfido e insidioso para pôr os EUA e o mundo de joelhos. Quando os preços dos imóveis começaram a cair e as taxas de juros, a aumentar, ao final de 2006, o frágil castelo de cartas dessa nova arquitetura financeira principiou a desmoronar. Em poucos meses, cerca de 10 milhões imóveis passaram a valer menos do que suas hipotecas e a inadimplência disparou. A bomba financeira explodiu com toda a sua fúria destrutiva, em 2008. O resto já é história. Triste história que ameaça repetir a crise de 1929. Os EUA e o mundo mergulham numa recessão cujas intensidade e duração ninguém ainda consegue prever.
Onde o fundamentalismo demente da Al-Qaeda fracassou, a exuberância irracional da "Wall Qaeda" teve êxito retumbante. É preciso considerar, todavia, que essa exuberância irracional e a desregulamentação do mercado financeiro foram fortemente estimuladas por políticas equivocadas do governo dos EUA, pela omissão irresponsável do Fed e, acima de tudo, por um padrão de desenvolvimento da economia norte-americana que é absolutamente insustentável. Os EUA, que "desterritorializaram" boa parte da sua produção industrial, absorvem 60% dos fluxos mundiais de capital e 80% da poupança planetária, financiando, dessa forma, os seus gigantescos déficits gêmeos e um consumo doméstico incompatível com seu PIB. De fato, o consumidor norte-americano deve 140% da sua renda anual disponível. Esse padrão de acumulação baseado num forte endividamento e na importação crescente de capitais financeiros, particularmente da China, tem limites estruturais que a crise tornou amargamente óbvios.
Assim, o presidente eleito Barack Obama terá pela frente a dupla e hercúlea tarefa de retirar os EUA da recessão e, ao mesmo tempo, implantar os fundamentos de um novo e mais racional padrão de financiamento da economia norte-americana. É provável que esse processo implique mudanças geoeconômicas significativas e que a economia dos EUA se torne um pouco menor, em relação a algumas economias emergentes, como a chinesa, a indiana e a brasileira. Mas é algo que terá de ser feito, sob pena de as crises se repetirem num ritmo célere.
John K. Galbraith, canadense e civilizado, afirmou, na sua obra Uma Breve História da Euforia Financeira, que a euforia especulativa que antecede a crise ocorre, entre outros fatores, porque a memória financeira é notavelmente curta e há o "direito adquirido ao erro" por parte dos investidores, que ganham muito nas fases do pico especulativo. Controlar esse bárbaro capitalismo bipolar não é fácil, especialmente nos EUA de hoje, que têm ojeriza à regulação estatal e vivem de financiamentos especulativos. Obama, contudo, tem a seu favor um bom capital político e a grande memória de Franklin Delano Roosevelt.
É um começo promissor.
* Aloizio Mercadante, economista, professor licenciado da
PUC-SP e da Unicamp, é senador da República (PT-SP)
Wall Qaeda
Aloizio Mercadante*
No dia 11 de setembro de 2001, um bando de dementes fundamentalistas derrubou as torres gêmeas de Nova York, centro econômico e financeiro mundial, matando covardemente milhares de pessoas. A poucas centenas de metros dali, Wall Street tremeu duas vezes. A primeira vez, literalmente, a segunda, metaforicamente. Com efeito, houve um princípio de pânico financeiro que obrigou o Federal Reserve (Fed) a injetar US$ 300 bilhões no sistema bancário em apenas três dias para prover a liquidez necessária. Quando a bolsa reabriu, em 17 de setembro, o Índice Dow Jones desceu 7,1%, durante a sessão de abertura, e 14,3% ao longo da semana. O dólar caiu e os preços o ouro e do petróleo subiram rapidamente.
Esses efeitos, contudo, foram de curto prazo. Em fins de outubro a situação já tinha voltado ao normal. As medidas fiscais e monetárias funcionaram e no quarto trimestre de 2001 a economia norte-americana apresentou um aumento de 2,7%, iniciando um ciclo de crescimento que só se interrompeu de fato neste ano. Do ponto de vista econômico e financeiro, Osama bin Laden tinha fracassado.
Mas havia bombas muito mais poderosas que as de Bin Laden que vinham sendo armadas contra a economia norte-americana. Dois anos antes, em 1999, a maioria republicana no Congresso dos EUA havia praticamente imposto ao presidente Bill Clinton a revogação da Lei Glass-Steagall. Implementada em 1933, com o intuito de separar bancos comerciais de bancos de investimentos e regular o sistema financeiro no pós-crash de 1929, essa lei vinha sendo questionada desde meados da década de 80 pelos interesses de financistas e investidores ávidos em participar mais intensamente da crescente financeirização da economia mundial. A revogação dessa lei e várias outras medidas de desregulamentação financeira facilitaram aos bancos dos EUA alavancar extraordinariamente o mercado de crédito. Essa alavancagem, associada ao crescimento especulativo do mercado imobiliário e dos preços dos imóveis, ensejou forte emissão de títulos lastreados em hipotecas. Como conseqüência, houve uma explosão da expansão de ativos bancários lastreados em títulos financeiros, por sua vez lastreados em hipotecas. Tal florescente e sofisticado mercado de derivativos cresceu muito além do necessário para sustentar empréstimos de hipotecas, constituindo-se em fonte especulativa de ganhos de curto prazo. Durante algum tempo essa autêntica e gigantesca pirâmide financeira invertida, construída sob as barbas do Fed, permitiu aos bancos dos EUA, bem como a outros bancos do mundo inteiro, operar com garantias descoladas do seu capital, burlando as exigências das Convenções de Basiléia.
Ao final do processo, esse descomunal mercado de derivativos já concentrava 75% da liquidez mundial e equivalia a oito PIBs mundiais. Bin Laden, gênio financeiro fosse, não poderia ter concebido plano mais pérfido e insidioso para pôr os EUA e o mundo de joelhos. Quando os preços dos imóveis começaram a cair e as taxas de juros, a aumentar, ao final de 2006, o frágil castelo de cartas dessa nova arquitetura financeira principiou a desmoronar. Em poucos meses, cerca de 10 milhões imóveis passaram a valer menos do que suas hipotecas e a inadimplência disparou. A bomba financeira explodiu com toda a sua fúria destrutiva, em 2008. O resto já é história. Triste história que ameaça repetir a crise de 1929. Os EUA e o mundo mergulham numa recessão cujas intensidade e duração ninguém ainda consegue prever.
Onde o fundamentalismo demente da Al-Qaeda fracassou, a exuberância irracional da "Wall Qaeda" teve êxito retumbante. É preciso considerar, todavia, que essa exuberância irracional e a desregulamentação do mercado financeiro foram fortemente estimuladas por políticas equivocadas do governo dos EUA, pela omissão irresponsável do Fed e, acima de tudo, por um padrão de desenvolvimento da economia norte-americana que é absolutamente insustentável. Os EUA, que "desterritorializaram" boa parte da sua produção industrial, absorvem 60% dos fluxos mundiais de capital e 80% da poupança planetária, financiando, dessa forma, os seus gigantescos déficits gêmeos e um consumo doméstico incompatível com seu PIB. De fato, o consumidor norte-americano deve 140% da sua renda anual disponível. Esse padrão de acumulação baseado num forte endividamento e na importação crescente de capitais financeiros, particularmente da China, tem limites estruturais que a crise tornou amargamente óbvios.
Assim, o presidente eleito Barack Obama terá pela frente a dupla e hercúlea tarefa de retirar os EUA da recessão e, ao mesmo tempo, implantar os fundamentos de um novo e mais racional padrão de financiamento da economia norte-americana. É provável que esse processo implique mudanças geoeconômicas significativas e que a economia dos EUA se torne um pouco menor, em relação a algumas economias emergentes, como a chinesa, a indiana e a brasileira. Mas é algo que terá de ser feito, sob pena de as crises se repetirem num ritmo célere.
John K. Galbraith, canadense e civilizado, afirmou, na sua obra Uma Breve História da Euforia Financeira, que a euforia especulativa que antecede a crise ocorre, entre outros fatores, porque a memória financeira é notavelmente curta e há o "direito adquirido ao erro" por parte dos investidores, que ganham muito nas fases do pico especulativo. Controlar esse bárbaro capitalismo bipolar não é fácil, especialmente nos EUA de hoje, que têm ojeriza à regulação estatal e vivem de financiamentos especulativos. Obama, contudo, tem a seu favor um bom capital político e a grande memória de Franklin Delano Roosevelt.
É um começo promissor.
* Aloizio Mercadante, economista, professor licenciado da
PUC-SP e da Unicamp, é senador da República (PT-SP)
Marcadores:
Barak Obama,
Bin Laden,
Crise nas bolsas,
Mercado financeiro
segunda-feira, 24 de novembro de 2008
Barak Obama para presidente do Brasil
Ainda da Folha Online de ontem.
Verissimo compara avanços na luta contra o racismo no Brasil e nos EUA; leia artigo .
As primárias do Partido Democrata ainda não estavam decididas quando Luís Fernando Verissimo escreveu o artigo "A Questão", usando a candidatura de Barack Obama para a presidência dos Estados Unidos como ponto de partida para comparar os avanços de Brasil e EUA na luta contra o racismo.
afirma no artigo que, ao contrário do que acontece no Brasil, a guerra por direitos iguais nunca foi "disfarçada ou desconversada" nos EUA. "A miscigenação entre nós não tem significado integração por vias naturais, e sim apenas outra forma de despolitizar e adiar a questão", diz.
O artigo, que pode ser lido na íntegra abaixo, faz parte da coleção de crônicas de Luís Fernando Verissimo selecionadas para o livro "O Mundo É Bárbaro - E o que Nós Temos a Ver Com Isso", da editora Objetiva, disponível na Livraria da Folha.
Em textos breves, Verissimo exibe olhar crítico sobre temas como racismo, política, economia, a ascensão chinesa, a guerra contra o terror, o passado e o futuro do Brasil e da América Latina.
Leia abaixo o artigo do autor sobre como os EUA e o Brasil lidam com o racismo.
A Questão
É difícil imaginar um negro como Barack Obama sendo eleito presidente - do Brasil. Dos Estados Unidos, talvez. Lá um negro já chegou a secretário de Estado, e foi substituído no cargo por uma negra. Desculpe: afro-descendente. Pelo menos não escrevi "um negão como Barack Obama", ou, para mostrar que não sou racista, "um negrinho".
A diferença entre um país e outro é essa. Lá o racismo é uma questão nacional. Aqui uma ficção de integração dilui a questão racial. E se a questão não existe, se ninguém é racista, por que nos preocuparmos com denominações corretas ou incorretas? Só quando a ficção é desafiada, como no caso das cotas universitárias, é que aparece o apartheid que não se reconhece.
Um dos marcos das relações raciais nos Estados Unidos não foi a primeira vez em que um negro interpretou um herói no cinema, provavelmente o Sidney Poitier. Nem a primeira vez em que um negro e uma branca, ou vice-versa, namoraram na tela. Foi a primeira vez em que um negro foi o vilão do filme. Colin Powell e Condoleezza Rice, que chegaram a secretários de Estado, e o próprio Obama, devem suas carreiras a esse vilão histórico, que significou o fim dos estereótipos e a aceitação, sem melindres, de que negro também pode ser ruim, igual a branco. Se a cor da pele não determinava mais que ele fosse sempre retratado como um inferior virtuoso ou uma vítima, também não o descriminava de outras maneiras. Powell e Rice levaram essa reversão de esteréotipos ainda mais longe. Os dois são do partido republicano. Como Clarence Thomas, único juiz negro da Suprema Corte americana que também é um dos seus membros mais conservadores.
Claro que a cor da pele vai ser um fato na eleição ou não do Obama, como o fato de ser mulher vai ajudar ou não a Hillary. Por isso mesmo, sua possível eleição seria uma prova dessa transformação da questão racial no país, uma vitória numa guerra por direitos iguais que lá - ao contrário do Brasil - nunca foi disfarçada, ou desconversada. Aqui a miscigenação significou que alguns quase-negros, ou só um pouco afro-descendentes, chegassem ao poder, mas miscigenação entre nós não tem significado integração por vias naturais, e sim apenas outra forma de despolitizar e adiar a questão.
Obama será o candidato dos democratas? Estão comparando sua campanha com a de Bob Kennedy, pelo entusiasmo que provoca numa faixa de idade que não se interessava tanto por política desde a mobilização contra a guerra do Vietnã. Li que 40 por cento dos americanos que podem votar este ano nunca conheceram outro presidente que não fosse um Bush ou o Clinton, e Hillary seria outro Clinton nessa dança de dinastias. Assim, Obama seria uma novidade em mais do que o sentido racial. Como se precisassem outros.
Na comparação com Bob Kennedy, claro, ninguém ainda lembrou (pelo menos não sem bater na madeira) que aquela novidade terminou numa poça de sangue, no chão de uma cozinha de hotel. Batamos todos na madeira.
Verissimo compara avanços na luta contra o racismo no Brasil e nos EUA; leia artigo .
As primárias do Partido Democrata ainda não estavam decididas quando Luís Fernando Verissimo escreveu o artigo "A Questão", usando a candidatura de Barack Obama para a presidência dos Estados Unidos como ponto de partida para comparar os avanços de Brasil e EUA na luta contra o racismo.
afirma no artigo que, ao contrário do que acontece no Brasil, a guerra por direitos iguais nunca foi "disfarçada ou desconversada" nos EUA. "A miscigenação entre nós não tem significado integração por vias naturais, e sim apenas outra forma de despolitizar e adiar a questão", diz.
O artigo, que pode ser lido na íntegra abaixo, faz parte da coleção de crônicas de Luís Fernando Verissimo selecionadas para o livro "O Mundo É Bárbaro - E o que Nós Temos a Ver Com Isso", da editora Objetiva, disponível na Livraria da Folha.
Em textos breves, Verissimo exibe olhar crítico sobre temas como racismo, política, economia, a ascensão chinesa, a guerra contra o terror, o passado e o futuro do Brasil e da América Latina.
Leia abaixo o artigo do autor sobre como os EUA e o Brasil lidam com o racismo.
A Questão
É difícil imaginar um negro como Barack Obama sendo eleito presidente - do Brasil. Dos Estados Unidos, talvez. Lá um negro já chegou a secretário de Estado, e foi substituído no cargo por uma negra. Desculpe: afro-descendente. Pelo menos não escrevi "um negão como Barack Obama", ou, para mostrar que não sou racista, "um negrinho".
A diferença entre um país e outro é essa. Lá o racismo é uma questão nacional. Aqui uma ficção de integração dilui a questão racial. E se a questão não existe, se ninguém é racista, por que nos preocuparmos com denominações corretas ou incorretas? Só quando a ficção é desafiada, como no caso das cotas universitárias, é que aparece o apartheid que não se reconhece.
Um dos marcos das relações raciais nos Estados Unidos não foi a primeira vez em que um negro interpretou um herói no cinema, provavelmente o Sidney Poitier. Nem a primeira vez em que um negro e uma branca, ou vice-versa, namoraram na tela. Foi a primeira vez em que um negro foi o vilão do filme. Colin Powell e Condoleezza Rice, que chegaram a secretários de Estado, e o próprio Obama, devem suas carreiras a esse vilão histórico, que significou o fim dos estereótipos e a aceitação, sem melindres, de que negro também pode ser ruim, igual a branco. Se a cor da pele não determinava mais que ele fosse sempre retratado como um inferior virtuoso ou uma vítima, também não o descriminava de outras maneiras. Powell e Rice levaram essa reversão de esteréotipos ainda mais longe. Os dois são do partido republicano. Como Clarence Thomas, único juiz negro da Suprema Corte americana que também é um dos seus membros mais conservadores.
Claro que a cor da pele vai ser um fato na eleição ou não do Obama, como o fato de ser mulher vai ajudar ou não a Hillary. Por isso mesmo, sua possível eleição seria uma prova dessa transformação da questão racial no país, uma vitória numa guerra por direitos iguais que lá - ao contrário do Brasil - nunca foi disfarçada, ou desconversada. Aqui a miscigenação significou que alguns quase-negros, ou só um pouco afro-descendentes, chegassem ao poder, mas miscigenação entre nós não tem significado integração por vias naturais, e sim apenas outra forma de despolitizar e adiar a questão.
Obama será o candidato dos democratas? Estão comparando sua campanha com a de Bob Kennedy, pelo entusiasmo que provoca numa faixa de idade que não se interessava tanto por política desde a mobilização contra a guerra do Vietnã. Li que 40 por cento dos americanos que podem votar este ano nunca conheceram outro presidente que não fosse um Bush ou o Clinton, e Hillary seria outro Clinton nessa dança de dinastias. Assim, Obama seria uma novidade em mais do que o sentido racial. Como se precisassem outros.
Na comparação com Bob Kennedy, claro, ninguém ainda lembrou (pelo menos não sem bater na madeira) que aquela novidade terminou numa poça de sangue, no chão de uma cozinha de hotel. Batamos todos na madeira.
Marcadores:
Barak Obama,
preconceito,
Racismo
Assinar:
Postagens (Atom)