Mostrando postagens com marcador Racismo. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Racismo. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 17 de junho de 2009

O racismo nada sutil do mundinho fashion


Leia abaixo o que foi publicado, há pouco, na Folha Online. Racismo cordial? Pois, sim...

Modelo negra vai ganhar menos da metade do cachê médio da SPFW, diz agente
VANESSA TEODORO
da Folha Online

Apesar de ter acabado de chegar da Ásia, onde realizou vários trabalhos, a modelo Juliana Nepomuceno, 18, vai ganhar apenas R$ 400 para desfilar para o estilista Ronaldo Fraga na SPFW (São Paulo Fashion Week). É o que afirma o agente Helder Dias, da HD, agência especializada em modelos negros do país.

Dias conta que, em média, as modelos brancas costumam ganhar R$1.500 para realizarem o mesmo trabalho. O pagamento de menor valor é feito para "new face" [modelo em início de carreira] , o que não é o caso de Nepomuceno, de acordo com o empresário.

"A maioria das modelos negras não ganham nada. Nesses nove anos de HDA eu só ouço isso, que as modelos não têm perfil e quando desfilam é para divulgar e dar visibilidade, não tem cachê. Quando tem cachê, demora cinco meses para receber", diz.

Segundo o empresário, a modelo passou três anos fora do Brasil e trabalhou em diversos países. Mesmo tendo voltado com um material profissional, ela só fechou um desfile, que foi confirmado na última sexta-feira.

Em relação a política das cotas para que modelos negros desfilem na SPFW, Dias acredita que, como o mercado da moda não está dando essa oportunidade espontaneamente, a lei irá incentivar a discussão da inclusão de negros, pardos e índios nos desfiles brasileiros.

"Trabalhar com modelos negros é uma paixão, mas se fosse depender de moda para minha agência estar há nove anos no mercado, ela já tinha fechado no primeiro ano", declara.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Afro-americado, acusado sem provas, está para ser executado nos EUA

Troy Davis, um afro-americano de 42 anos, está para ser executado nesses dias no estado da Geórgia, nos EUA. Pesa contra ele a acusação de ter assassinado, em 1989, um policial branco na cidade de Savanah. Ele nega veementemente a autoria do crime. Foi condenado em um tribunal no qual provas materiais não foram apresentadas. A condenação foi baseada nos depoimentos de testemunhas que, disseram depois, foram coagidas pela polícia local. Há, nesse momento, uma intensa campanha nos EUA pela suspensão dessa execução. Postei , aí abaixo, um vídeo com a campanha em defesa de Troy Davis. Assista-o e reflita sobre o significado da pena de morte.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

O crescimento da xenofobia na Europa

Tratamento, digamos, indelicado com os visitantes dos países tidos como exportadores de imigrantes ilegais, o Brasil dentre eles, é apenas a ponta do iceberg de algo maior e mais tenebroso: o monstro da xenofobia e do racismo crescente na Europa. Eliane Catanhêde, na sua coluna de hoje no jornal Folha de São Paulo, toca o dedo na ferido.

Xenofobia

BRASÍLIA - Um espectro ronda a Europa e todo o mundo desenvolvido: o do "nacionalismo", sob as formas do protecionismo econômico, que limita as transações comerciais e alimenta a crise, e da xenofobia, que, além de todos os seus aspectos subjetivos, carrega um muito objetivo -não salva nem a pele nem o emprego de ninguém.
(...)
O mundo ficou chocado com movimentos de trabalhadores do Reino Unido contra "concorrentes" portugueses e italianos, mas a própria Itália e a Espanha votam leis para punir duramente patrões que empreguem imigrantes ilegais. Com o detalhe sórdido, senão fascista, de impor aos médicos italianos que denunciem seus pacientes. Na Rússia, a queda do rublo e do petróleo é pretexto para endurecer contra os direitos humanos. E, nos EUA, conforme relatou Andrea Murta na Folha, ativistas anti-imigração já põem suas manguinhas de fora, não só em movimentos sociais mas no próprio Congresso.
(...)
O mundo acaba de aplaudir a vitória e a posse de um negro de sobrenome Hussein na maior potência do planeta. Que esse mundo não volte aos seus piores momentos, descarregando a crise -e os monstros- exatamente sobre suas vítimas mais desamparadas.

elianec@uol.com.br

Assinante UOL lê a matéria completa aqui.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Sobre cotas e bolsas para negros

Matéria publicada na edição de hoje do jornal Folha de São Paulo coloca elementos para uma reflexão sobre a defesa de cotas nas universidades.


Cota não altera nº de negros na universidade
Participação de pretos e pardos no ensino superior público variou 1,8 ponto percentual -passou de 36,4% dos alunos para 38,2%

Número de estudantes negros nas universidades particulares passou de 26,2% para 29,5% de 2004 a 2007; Prouni dá bolsas desde 2005

ANGELA PINHO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

As políticas de ações afirmativas adotadas até agora por universidades públicas e pelo governo federal, por meio do Prouni, tiveram pouco impacto sobre a participação dos pretos e pardos no ensino superior.
Dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio) mostram que, de 2002, quando as universidades começaram a instituir programas de cotas, a 2007, a participação de pretos e pardos no ensino superior público variou 1,8 ponto percentual -passou de 36,4% dos estudantes de graduação do setor para 38,2%. De 2001 a 2002, a variação foi de 2,8 pontos percentuais.
Pretos e pardos são nomenclaturas usadas pelo IBGE para a classificação de raça/cor, a partir da autodeclaração dos entrevistados.
Na rede particular, a presença do grupo passa de 26,2% para 29,5% de 2004 a 2007. A principal ação afirmativa no setor é o Prouni, que desde 2005 concede bolsas a estudantes carentes de escola pública na proporção igual à de pretos, pardos e indígenas de cada Estado.
(...)
No Prouni, os 197 mil pretos e pardos que entraram pelo programa desde sua criação correspondem a 45% dos bolsistas. Considerando os que entraram em 2006, porém, o ingresso representou apenas 1% do total de matrículas no ensino superior.
O impacto de cotas em universidades públicas também é restrito considerando-se que três quartos dos estudantes estão em instituições privadas.
Desde 2002, segundo estudo do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), 33 universidades públicas, de ao menos 250, passaram a adotar algum tipo de cota racial.
O projeto de lei que o governo quer aprovar no Congresso prevê que 50% das vagas nas federais sejam reservadas a alunos de escolas públicas, e que esse percentual seja dividido de acordo com a proporção de pretos, pardos e indígenas de cada Estado.
Mesmo se aprovada, porém, a lei terá reflexo pequeno sobre o quadro geral, embora de fato aumentem a presença de pretos e pardos nas instituições federais em que as cotas forem instituídas.
(...)
Caso as vagas para pretos e pardos correspondessem à sua representação na população brasileira -ou seja, 49,8%-, haveria uma reserva correspondente a 3,1% das matrículas no ensino superior.
"Há todo um engodo em torno desse assunto [lei que cria cotas]", diz José Luiz Petrucelli, pesquisador do IBGE, favorável às cotas. "Mesmo se essa lei tivesse sido aprovada e estivesse sendo cumprida, ela não tem um efeito prático muito importante. Tem um efeito simbólico muito importante, por isso tanta polêmica."
(...)
Segundo frei David, da ONG Educafro, essa reivindicação é planejada para daqui a cerca de três anos, já que, na atual lista de prioridades, vêm antes a aprovação do projeto de lei pelo Senado, a criação de bolsas para os alunos cotistas conseguirem se manter nos cursos e o monitoramento do desempenho acadêmico deles, para, segundo afirma, divulgar os benefícios da política para a população como um todo. A idéia não deve encontrar apoio no Ministério da Educação.

Crescimento
Mesmo com baixo impacto de ações afirmativas, a presença dos pretos e pardos no ensino superior, contando tanto o público como o particular, tem uma trajetória crescente na última década. Em 1998, pretos e pardos eram 18% dos estudantes de graduação. Em 2007, o número já era de 31,5%.
(...)
Isso aconteceu no ensino médio. A participação dos pretos e pardos nessa etapa passou de 42% para 50,5%, aumentando o número de pessoas aptas a cursar o ensino superior.
A qualidade da educação é um fator apontado para melhorar o acesso à universidade pela população mais pobre -e, conseqüentemente, de mais pretos e pardos, geralmente associados a essa faixa econômica.

(...)
ASSINANTE DA FOLHA OU DO UOL LÊ A MATÉRIA COMPLETA AQUI.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Racismo em discussão


Um último material da Folha Online, repercutindo pesquisa sobre o preconceito racial no Brasil. Depois, assim que possível, transcreverei mais material da referida pesquisa.

Obra desvenda a construção e o funcionamento do racismo no Brasil; leia capítulo da Folha Online

O Brasil não é um país racista, mas é um país onde existe racismo. Em uma pesquisa da Universidade de São Paulo (USP), 97% dos entrevistados afirmaram não ter preconceito, mas 98% disseram conhecer pessoas que manifestavam algum tipo de discriminação racial.

A questão é um tema ainda difícil para o último país das Américas a abolir a escravidão, em 1888. Aqui, o debate sobre racismo é sempre atual, com todos os seus paradoxos e mitos, como o da democracia racial.

O estudo é citado no livro "Racismo no Brasil", da coleção "Folha Explica" da "Publifolha", que revela a maneira como se construiu, historicamente, o racismo à brasileira. Leia a introdução do livro, reproduzida abaixo, que leva o título de "Da Cor do Bronze Novo".

A autora é a antropóloga Lilia Moritz Schwarcz, da USP. Ela explica quais os principais debates das teorias raciais no século 19, como teorias justificaram a miscigenação, os efeitos da escravidão no imaginário racial brasileiro, o "apartheid" social", a questão da identidade e confusão e a raça projetada no outro. Ela também explica a formação do conceito de raça no país.

O livro também traz explicações, em comparação ao Brasil, de alguns aspectos do sistema de classificação racial dos Estados Unidos. A autora discute o mito da democracia racial e toca em uma questão vizinha ao racismo, a discriminação racial.

*
Introdução: "Da Cor do Bronze Novo"

"Uma feita o Sol cobrira os três manos de uma escaminha de suor e Macunaíma se lembrou de tomar banho. Porém no rio era impossível por causa das piranhas vorazes que de quando em quando na luta pra pegar um naco da irmã espedaçada pulavam aos cachos para fora d"água metro e mais. Então Macunaíma enxergou numa lapa bem no meio do rio uma cova cheia d"água. E a cova era que nem a marca dum pé de gigante. Abicaram. O herói depois de muitos gritos por causa do frio da água entrou na cova e se lavou inteirinho. Mas a água era encantada porque aquele buraco na lapa era marca do pezão de Sumé, do tempo que andava pregando o Evangelho de Jesus pra indiada brasileira. Quando o herói saiu do banho estava branco louro de olhos azuizinhos, água lavara o pretume dele [à]. Nem bem Jiguê percebeu o milagre, se atirou na marca do pezão de Sumé. Porém a água já estava muito suja do pretume do herói e por mais que Jiguê esfregasse feito maluco atirando água para todos os lados só conseguia ficar da cor do bronze novo [à]. Maanape então é que foi se lavar, mas Jiguê esborrifara toda a água encantada para fora da cova. Tinha só um bocado lá no fundo e Maanape conseguiu molhar só a palma dos pés e das mãos. Por isso ficou negro bem filho dos Tapanhumas. Só que as palmas das mãos e dos pés dele são vermelhas por terem se limpado na água santa [à]. E estava lindíssimo no Sol da lapa os três manos um louro, um vermelho, outro negro, de pé bem erguidos e nus [à]."1

Nos idos de 1928, Mário de Andrade recontou, à sua maneira, a famosa fábula das três raças. Depois de terem sido tão iguais, os irmãos acabavam ganhando as cores das "gentes locais", por conta de um milagre da natureza ou de um atributo de não se sabe quem. Nesse caso, porém, a narrativa surgia em meio a uma série de outras aventuras e desventuras de Macunaíma, esse herói "sem nenhum caráter". De toda maneira, no conjunto do livro, destacava-se uma intenção de incorporar culturas não-letradas indígenas, caipiras, sertanejos, negros, mulatos, cafuzos e brancos, cujo resultado era menos uma análise das raças e mais uma síntese das culturas locais. Afinal, a fórmula "herói de nossa gente" veio substituir expressão anterior "herói de nossa raça", numa clara demonstração de como o romance dialogava com o pensamento social de sua época e buscava se contrapor à versão pessimista, de finais do século 19, que entendeu a miscigenação como uma espécie de mácula nacional.

Mas, se essa é uma história famosa e dileta, não deixa de ser, também, uma "versão". Uma versão que remete a outra estrutura maior, que, de alguma maneira, vem repensando a nação a partir da raça, às vezes nomeada em função da cor. Pode-se afirmar, sem medo de errar, que, na maioria das vezes em que oficialmente se falou sobre esse país, o critério racial foi acionado: ora como elogio, ora como demérito e vergonha. No entanto, assim como se sabe que o nacionalismo é, no limite, uma invenção, é preciso deixar claro, também, que não se trata de um discurso meramente aleatório.

O fato é que não se manipula no vazio e que, apesar de muitas vezes pragmáticos, os rituais, ícones e representações nacionais dificilmente se impõem de forma apenas exterior. Entender as marcas simbólicas do poder político significa perceber como é possível descobrir intencionalidade na cultura política, mas também atentar para o fortalecimento de um imaginário nacional, que buscou raízes nos ditos populares e em certa maneira particular de entender a cor e a raça. Estamos diante, portanto, de representações que, além de estarem ancoradas na estrutura socioeconômica mais imediata, são partilhadas coletivamente, mesmo que reapropriadas segundo padrões nem sempre idênticos. E mais: nesse processo, a composição mestiçada da população sempre pareceu chamar atenção.

É por isso mesmo que este livro procurará acompanhar a trajetória do conceito "raça" em nossa história particular, sem abrir mão de pensar o momento presente e seus desafios.2 No primeiro capítulo, "Raça Como Negociação", o leitor será convidado a viajar pelos diferentes caminhos que o termo percorreu entre nós: desde meados do século 16 até os anos 1930 e depois até o contexto atual, o conceito ganhou visões variadas, que oscilaram entre as leituras mais românticas e as teorias detratoras. Na seqüência "Falando de História: Ser Peça, Ser Coisa", vai-se procurar analisar o impacto da escravidão brasileira na estrutura local e o perfil basicamente conservador do movimento abolicionista brasileiro.

Não se pretende, porém, limitar o problema ao passado. Ao contrário, a forma atual e particular que a questão racial assume aqui será o tema de dois outros capítulos. Em "Frágil Democracia: na Dança dos Números",interpretaremos os dados da demografia censitária, que vêm comprovando a existência de um apartheid social velado no país. Já em "Nomes, Cores e Confusão", a idéia é lidar com cenários paralelos: a "raça social" (que faz com que as pessoas "embranqueçam ou empreteçam", conforme a situação social e mesmo econômica) e o uso escorregadio da cor, que transforma raça em efeito passageiro, ou tema para a exclusiva nomeação. Para complicar ainda mais, no capítulo 5, "Raça Como Outro", estaremos diante dessa modalidade original de preconceito; um preconceito alterativo que localiza no próximo, ou no vizinho ao lado, a discriminação.

Concluímos com "Fechando ou Abrindo Essa História", já que "ninguém é de ferro". Questões desse tipo são melhores para pensar do que para resolver: vale mais incomodar e provocar do que estar à cata de receitas fáceis e prontas, ou poções mágicas que anunciem o final derradeiro do problema. No que se refere ao tema racial, estamos bem longe de um "E viveram felizes para sempre".

1 Mário de Andrade, p. 37-8.
2 Este texto guarda uma formulação original, mas representa, em alguns pontos delimitados, uma nova investida na discussão iniciada no ensaio de minha autoria "Nem Preto, Nem Branco, Muito Pelo Contrário", publicado no livro História da Vida Privada no Brasil, v. 4 (São Paulo: Companhia das Letras, 1998).

Lula e o preconceito

Mais da Folha Online.

Lula critica preconceito e diz que teve dificuldade para indicar negro ao STF

REGIANE SOARES
da Folha Online

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou na madrugada desta sexta-feira o preconceito racial e a falta de espaço que os afrodescendentes têm na sociedade brasileira. Lula disse que existem poucos negros advogados ou médicos e que até teve dificuldade para indicar um negro como ministro do STF (Supremo Tribunal Federal).

Durante o discurso na cerimônia de formatura da Unipalmares --que tem 87% dos alunos afrodescendentes--, Lula contou a história de duas alunas que superaram as dificuldades e se formaram e hoje estão trabalhando em bancos. Na avaliação do presidente, a formatura dos 126 alunos, sendo 110 negros, demonstra que o Brasil começou a mudar.

"A gente tem que acreditar que o Brasil começou a mudar, porque a gente não via um negro no banco há muito tempo, a não ser se fosse para depositar dinheiro para o seu patrão. A gente não via negro dentista nem médico. Poucos negros são advogados. Eu lembro o esforço que fiz para encontrar um negro para levar para a Suprema Corte desse país", afirmou Lula, em uma referência indireta ao ministro Joaquim Barbosa --o único negro a integrar o STF.

O presidente também criticou o fato de a imprensa sempre mostrar o negro em em situações constrangedoras. Segundo Lula, quando um negro aparece na televisão, "normalmente é sendo preso pela polícia".

"Quero que a imprensa consiga retratar a beleza e a cara desses jovens que estão recebendo seus canudos. Porque muitas vezes o povo não consegue nem conquistar a auto-estima porque algumas pessoas não querem deixar. Ou seja, quando mostram um negro na TV, normalmente, é sendo preso pela polícia", afirmou.

Lula ressaltou a importância de a imprensa registrar a conquista dos estudantes negros, porque, segundo ele o Brasil não é apenas "um mundo de criminalidade que aparece na televisão". "Existem outras coisas importantes que o negro e o pobre fazem nesse país mas que não têm o espaço necessário", disse.

Políticos

A cerimônia de formatura na Unipalmares começou ontem à noite e se estendeu até a madrugada desta sexta-feira. A solenidade reuniu diversos políticos no ginásio do Ibirapuera, em São Paulo. Entre as autoridades estavam o governador de SP, José Serra (PSDB), o prefeito Gilberto Kassab (DEM), o senador José Sarney (PMDB-AP), além de Lula e seis ministros: Fernando Haddad (Educação), Edson Santos (Igualdade Racial), Márcio Fortes (Cidades), Miguel Jorge (Desenvolvimento), Orlando Silva (Esportes) e Luiz Marinho (Previdência).

O ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP) e a secretária de Estado do Rio Benedita da Silva (PT) foram os paraninfos dos formandos.

A formatura também contou com a participação de artistas como os cantores Martinho da Vila e Sandra de Sá e o ator Milton Gonçalves.

Barak Obama para presidente do Brasil

Ainda da Folha Online de ontem.

Verissimo compara avanços na luta contra o racismo no Brasil e nos EUA; leia artigo .


As primárias do Partido Democrata ainda não estavam decididas quando Luís Fernando Verissimo escreveu o artigo "A Questão", usando a candidatura de Barack Obama para a presidência dos Estados Unidos como ponto de partida para comparar os avanços de Brasil e EUA na luta contra o racismo.

afirma no artigo que, ao contrário do que acontece no Brasil, a guerra por direitos iguais nunca foi "disfarçada ou desconversada" nos EUA. "A miscigenação entre nós não tem significado integração por vias naturais, e sim apenas outra forma de despolitizar e adiar a questão", diz.

O artigo, que pode ser lido na íntegra abaixo, faz parte da coleção de crônicas de Luís Fernando Verissimo selecionadas para o livro "O Mundo É Bárbaro - E o que Nós Temos a Ver Com Isso", da editora Objetiva, disponível na Livraria da Folha.

Em textos breves, Verissimo exibe olhar crítico sobre temas como racismo, política, economia, a ascensão chinesa, a guerra contra o terror, o passado e o futuro do Brasil e da América Latina.

Leia abaixo o artigo do autor sobre como os EUA e o Brasil lidam com o racismo.


A Questão

É difícil imaginar um negro como Barack Obama sendo eleito presidente - do Brasil. Dos Estados Unidos, talvez. Lá um negro já chegou a secretário de Estado, e foi substituído no cargo por uma negra. Desculpe: afro-descendente. Pelo menos não escrevi "um negão como Barack Obama", ou, para mostrar que não sou racista, "um negrinho".

A diferença entre um país e outro é essa. Lá o racismo é uma questão nacional. Aqui uma ficção de integração dilui a questão racial. E se a questão não existe, se ninguém é racista, por que nos preocuparmos com denominações corretas ou incorretas? Só quando a ficção é desafiada, como no caso das cotas universitárias, é que aparece o apartheid que não se reconhece.

Um dos marcos das relações raciais nos Estados Unidos não foi a primeira vez em que um negro interpretou um herói no cinema, provavelmente o Sidney Poitier. Nem a primeira vez em que um negro e uma branca, ou vice-versa, namoraram na tela. Foi a primeira vez em que um negro foi o vilão do filme. Colin Powell e Condoleezza Rice, que chegaram a secretários de Estado, e o próprio Obama, devem suas carreiras a esse vilão histórico, que significou o fim dos estereótipos e a aceitação, sem melindres, de que negro também pode ser ruim, igual a branco. Se a cor da pele não determinava mais que ele fosse sempre retratado como um inferior virtuoso ou uma vítima, também não o descriminava de outras maneiras. Powell e Rice levaram essa reversão de esteréotipos ainda mais longe. Os dois são do partido republicano. Como Clarence Thomas, único juiz negro da Suprema Corte americana que também é um dos seus membros mais conservadores.

Claro que a cor da pele vai ser um fato na eleição ou não do Obama, como o fato de ser mulher vai ajudar ou não a Hillary. Por isso mesmo, sua possível eleição seria uma prova dessa transformação da questão racial no país, uma vitória numa guerra por direitos iguais que lá - ao contrário do Brasil - nunca foi disfarçada, ou desconversada. Aqui a miscigenação significou que alguns quase-negros, ou só um pouco afro-descendentes, chegassem ao poder, mas miscigenação entre nós não tem significado integração por vias naturais, e sim apenas outra forma de despolitizar e adiar a questão.

Obama será o candidato dos democratas? Estão comparando sua campanha com a de Bob Kennedy, pelo entusiasmo que provoca numa faixa de idade que não se interessava tanto por política desde a mobilização contra a guerra do Vietnã. Li que 40 por cento dos americanos que podem votar este ano nunca conheceram outro presidente que não fosse um Bush ou o Clinton, e Hillary seria outro Clinton nessa dança de dinastias. Assim, Obama seria uma novidade em mais do que o sentido racial. Como se precisassem outros.

Na comparação com Bob Kennedy, claro, ninguém ainda lembrou (pelo menos não sem bater na madeira) que aquela novidade terminou numa poça de sangue, no chão de uma cozinha de hotel. Batamos todos na madeira.

Mais sobre preconceito racial

Mais um material destacando a pesquisa do DATAFOLHA sobre o preconceito racial. A matéria foi publicada na Folha Online de ontem.

Nova pesquisa Datafolha mostra que o racismo perdeu força no Brasil. Um novo levantamento reedita perguntas sobre o tema feitas há 13 anos e constata que uma fatia menor de pessoas declara seu preconceito contra negros (3% hoje contra 11% em 1995). No entanto, ainda há uma forte percepção de que o Brasil é um país racista (91%, praticamente a mesma porcentagem de 13 anos atrás). A reportagem completa está disponível apenas para assinantes da Folha de S.Paulo e do UOL.

A proporção dos entrevistados que se autodeclaram brancos caiu de 50% para 37%, enquanto a dos que se dizem pardos aumentou de 29% para 36%.

Indicadores de salário e escolaridade entre a população negra também tiveram melhora, contudo a média de anos de estudo de pretos e pardos é ainda menor que a de brancos em 1995.

Na questão de oportunidade de trabalho, cresceu a porcentagem dos pretos e pardos que dizem sofrer discriminação no trabalho/obtenção de emprego (de 45% em 1995 para 55% hoje). Também aumentou o número de entrevistados que se dizem discriminados no estudo/cultura (de 14% para 20%).

Sobre cotas

Transcrevo abaixo matéria publicada na Folha Online (aquela parte do material jornalístico do jornal Folha de São Paulo de acesso irrestrito). Trata-se de uma discussão sobre pesquisa realizada pelo DATAFOLHA a respeito do preconceito racial no Brasil.

Brasileiros vêem cota como essencial e humilhante, revela Datafolha
ANTÔNIO GOIS
da Folha de S. Paulo, no Rio


Polêmicas desde que começaram a ser implementadas, em 2002, no Brasil, as cotas para negros nas universidades continuam dividindo opiniões. Se, por um lado, 51% da população se diz a favor da reserva de vagas para negros, por outro, 86% concordaram com a afirmação de que as cotas deveriam beneficiar pessoas pobres e de baixa renda, independentemente da cor.

As respostas seguem contraditórias quando 53% dos brasileiros concordam que cotas são humilhantes para negros, mas, ao mesmo tempo, 62% dizem que elas são fundamentais para ampliar o acesso de toda a população à educação. Também 62% dizem que elas podem gerar atos de racismo.

Leituras diversas

Como era esperado, o resultado da pesquisa do Datafolha gerou leituras diversas de críticos e de pessoas favoráveis ao sistema.

A antropóloga Yvonne Maggie, contrária à reserva de vagas por cor ou raça, destaca a incoerência dos resultados do levantamento. Para ela, no entanto, é natural que, dependendo da forma como a pergunta é feita, a população concorde com a idéia de dar vantagens àqueles que se sentem mais discriminados.

"Quem vai negar vantagens aos que dizem ser mais discriminados? As pessoas, no entanto, acreditam no esforço pessoal e também são favoráveis ao mérito, até em percentual maior. Também acham que as cotas podem provocar racismo. Será que estão fazendo o cálculo de que é melhor racismo, contanto que as pessoas ganhem alguns privilégios?", questiona a antropóloga.

Aceitação

Renato Ferreira, do Laboratório de Políticas Públicas da Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) e defensor do sistema, diz não ter dúvidas de que há uma aceitação à política de cotas.

"Os meios de comunicação, via de regra, se manifestam contrariamente. Se sai algo positivo, quase não comentam. Se é negativo, isso reverbera. Dentro desse contexto, acho significativo que a maioria da população hoje concorde com as cotas raciais", afirma.

Ferreira fez um levantamento que mostra que, no Brasil, já há 82 instituições públicas adotando algum critério de ação afirmativa no acesso ao vestibular, seja ele de cotas ou de bonificação extra para alunos por sua cor, renda ou tipo de escola cursada no ensino médio.

As ações afirmativas em exames de ingresso, no entanto, estão sendo contestadas numa ação que ainda não foi julgada pelo Supremo Tribunal Federal. Até agora, essas universidades têm conseguido manter nas instâncias inferiores da Justiça seus sistemas.

O STF, porém, ainda não julgou uma ação movida pela Confenen (Confederação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino) contra o ProUni, programa do governo federal que adota ações afirmativas na distribuição de bolsas para estudo em instituições privadas. Caso declare inconstitucional esse critério, a decisão afetará as instituições públicas.

"A Constituição determina que ninguém terá tratamento desigual perante a lei e que o acesso ao ensino superior se dá por mérito. Na reserva de vagas, há uma discriminação ao contrário, e entendemos que isso é ilegal", diz Roberto Dornas, presidente da Confenen.

Qualidade

Enquanto não há decisão definitiva, as universidades que divulgaram resultados sobre o desempenho acadêmico dos cotistas têm defendido que isso não afetou a qualidade.

Ricardo Vieralves, reitor da Uerj, uma das pioneiras, diz que houve necessidade de criar aulas de reforço, mas que os alunos que se formam saem com a mesma qualidade. Ele afirma também que não foram registrados casos de racismo.

Adriana Pastor, 23, que entrou no curso de odontologia da Uerj graças às cotas, diz não ter percebido diferenças no desempenho entre cotistas e os demais. "Acho que fui uma das melhores alunas de minha turma e não percebi nenhum tipo de preconceito entre meus colegas. Para mim, a maior dificuldade do curso foi que o material era muito caro", diz.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

A ÚLTIMA BATALHA DO CAMPO: os intelectuais e as ações afirmativas no Governo Lula




O debate sobre as ações afirmativas e as políticas de enfrentamento ao racismo no Brasil, propostas pelo Governo Lula ou por parlamentares isolados, como é o caso do Senador Paulo Paim (PT-RS), ganhou, a partir do segundo semestre de 2005, proporções jamais imaginada. Uma discussão que, até aquele momento, empolgava muito pouco, e sobre a qual a chamada opinião pública mantinha uma razoável indiferença, adentrou o universo dos mídias e conquistou inaudita visibilidade. O ambiente político de fundo daquele ano, marcado pela emergência do chamado “escândalo do Mensalão”, o plebiscito sobre a proibição da venda de armas e as inquietações provocadas pela reeleição do Presidente Lula, possibilitou uma amplificação significativa do até então modorrento debate sobre a questão. Intelectuais brasileiros, notadamente cientistas sociais, foram, abusemos um pouco aqui da terminologia bourdieusiana, legitimados como produtores legítimos de opiniões legítimas sobre racismo e anti-racismo. Seus artigos, opiniões e rostos assomaram nas revistas semanais, no rádio e na TV. De lá pra cá, a situação não mudou substancialmente.

Nesse ambiente, a produção crítica e distanciada sobre o racismo foi sendo gradativamente engolfada pelas teias do debate político ordinário. Intérpretes aliaram-se aos ditos “formadores de opinião” e, rapidamente, encantaram-se com a condição do que Zigmunt Baumam definiu como “legisladores do social”. E aí o debate assumiu as proporções de confronto. E um manifesto (há sempre um manifesto para marcar um campo!) foi lançado para nos lembrar de antiga e olvidada consigna: a de que “todos têm direitos iguais na república democrática”.

Mais do que questionar a correção ou não dos posicionamentos sobre as cotas, há uma tarefa ainda não realizada pelas Ciências Sociais no Brasil sobre a temática: trata-se de perscrutar o que estava em jogo para além da aparência fática de defesas apaixonadas de posições cristalizadas. Acredito que o poder de nomear, de interpretar e de propor questões e demandas sobre direitos sociais era (e ainda é) o móvel da disputa e que uma análise do debate sobre as cotas pode nos fornecer importantes pistas para pensar as relações de força, posições e estratégias de acumulação de capital científico (prestígio, posições, financiamentos, indicações para comissões, etc.) no campo acadêmico brasileiro.

A justificativa para o exercício de objetivação do campo intelectual brasileiro aqui proposto é a assunção de que a forma como a discussão sobre as ações afirmativas foi (e está sendo conduzido) no Brasil não apenas é reveladora das regras do jogo nesse campo, mas, o que é mais significativo e duradouro, que essa forma teve (e terá) grandes e graves conseqüências na construção de uma pauta de discussão e de demandas em torno do enfrentamento do racismo e das desigualdades no país. A realização de tal tarefa, desaconselhável para quem se orienta na vida acadêmica pela cuidadosa acumulação de divisas, também pode contribuir para desmistificar a quase naturalizada suposição de que existiria uma vocação progressista da intelectualidade brasileira pós-democratização.

Para realizar tal tarefa, acredito, deve-se buscar analisar não apenas as produções discursivas, mas, o que nos parece inseparável, os contextos políticos e os ambientes institucionais nos quais aquelas emergem e ganham força. Assim, os posicionamentos que clamaram contra as cotas para afro-descendentes em nome de um universalismo que estaria sendo “apunhalado” pelos defensores de “políticas identitárias” só podem ser compreendidos se levarmos em conta tanto as matrizes discursivas que ancoraram as disputas políticas e ideológicas da sociedade brasileira nos últimos anos quanto os interesses em disputa no próprio campo intelectual brasileiro (e, particularmente, no campo acadêmico).

O percurso analítico, esboçado acima, aponta também para a necessidade de uma problematização das estratégias de acúmulo de prestígio e força no campo da produção cultural no Brasil contemporâneo. Até porque, adianto essa intuição, essa talvez seja uma das pistas para a explicação do inusitado fato de prestigiados antropólogos aparecerem publicamente como organizadores de um livro como “Divisões perigosas”. Essa obra, uma coletânea de artigos, a maior parte publicadas em jornais como “O Globo” e a “Folha de São Paulo”, é repleta não apenas de rotulações (as mais brandas são as de “essencialistas” e “revisionistas”), mas também de insultos contra os adversários reais ou imaginários construídos pelos autores. Na verdade, causa espanto o fato de o tema das ações afirmativas ter se constituído, no Brasil, em expressão maior da degradação do debate público e, em particular, das discussões no campo acadêmico do país.

Essa degradação intelectual, tradução “pós-moderna” de antiqüíssima estratégia de desqualificar, se possível com formulações genéricas e “irrespondíveis” (essa a sutileza da violência simbólica da mobilização do “universal” como recurso argumentativo contra os defensores das cotas), é algo significativo. Não por traduzir o “estado da arte” das ciências sociais no Brasil, mas por expressar forma nova de traço estruturante da vida social no nosso país: a condenação do “outro” (no caso, aquele que não pertence ao círculo dos iniciados e que, portanto, não tem um “lugar de fala” legítimo) à condição de sujeito passivo do debate público relevante.

Assim, e na superfície do que realmente era importante, o argumento de autoridade de Pierre Bourdieu, em artigo menor e politicamente sofrível, foi invocado repetidas vezes para (des)qualificar as trocas culturais e políticas transnacionais da diáspora negra. Não raro, estas foram tratadas expressões do enredamento dos atores sociais de países periféricos nas “astúcias da razão imperialista”. Mas não só o grande mestre da sociologia francesa do século XX foi mobilizado para fazer frente às construções e propostas (algumas, sem dúvida, problemáticas) de ações afirmativas no Brasil. Também intelectuais de ponta dos estudos culturais negros, como Paul Gilroy e Kwame Anthony Appiah, tiveram partes de suas obras convenientemente amputadas para servir de base para ataques menores às propostas de ações afirmativas. Dessa forma, posições políticas ou argumentos científicos criteriosos e plenamente justificáveis em seus contextos iniciais, quando transladados para o contexto da disputa política pós-2005 no Brasil, referenciaram menos proposições plausíveis em favor da desconstrução da “Raça” como âncora analítica ou política, e, mais, o “racismo da inteligência” no qual não poucos dos adversários das cotas para afro-descendentes deixaram se enredar.