terça-feira, 2 de dezembro de 2014

INVASÕES BÁRBARAS NAS UNIVERSIDADES

Em uma aula em curso de pós  uma grande universidade brasileira, um professor de antropologia indicou a leitura de CASA GRANDE & SENZALA, de Gilberto Freyre. De bate-pronto, uma aluna disse que discordava da leitura e que o professor deveria retirar o livro da bibliografia da disciplina. A justificativa da aprendiz de Torquemada? "Gilberto Freyre é racista (sic)". O professor reagiu mantendo a indicação de leitura e afirmando que aluna estava sendo preconceituosa. Para quê! O professor agora está sendo alvo de um abaixo-assinado dos alunos para descredencia-lo do programa de pós, pois, o fato comprovaria que o mestre seria autoritário. Autoritário e "violento". Estaria violentando os estudantes ao impor-lhes leituras das quais eles discordam. É mole?

Quando o uso irrefletido das palavras se espraia, tudo parece perder sentido. Nos corredores de nossas universidades, tudo pode virar sinônimo de violência. E os professores, em alguns delírios de revolucionários de playground, seriam algo como a encarnação dos soldados do Czar.

É o tempo das invasões bárbaras. Para sobreviver nesse ambiente, rasteje diante da mediocridade e dê trela a todos os discursos de (ufa!) desconstrução em moda. Do contrário, você não passará de um autoritário. Outra coisa: não indique bibliografia nas disciplinas, pois, você pode indicar algo que se encontra no index dos politicamente corretos.

Temos que ter um manual para sobreviver nesses tempos de invasões bárbaras!

3 comentários:

Anônimo disse...

O professor perdeu uma excelente oportunidade de fazer uma discussão construtiva sobre o assunto em sala. As pessoas ainda não aprenderam a conviver com o exercício crítico que vai se construindo no antes amontoado de silêncio do mundo dominado pelo professor (em sua maioria, claro, há uma parte de professores que dialoga de forma propositiva e formuladora).

É claro que eu discordo do comportamento da aluna, mas tanto quanto o do professor que acusa a menina de "preconceituosa" e pronto. Que tipo de educador é esse também?

Anônimo disse...

Sim vivemos tempos difíceis. Concordo.
As palavras devem ser medidas? of course!!!
Há uns vinte ou trinta anos, o docente podia chamar o aluno de burro e ficava por isso mesmo.
Tive um professor (anos 90) que toda aula fazia bullyng com um colega declaradamente homossexual que aguentou pacientemente o semestre inteiro.

Hoje não é mais assim. O que está em julgamento não é a clássica obra de Gylberto Freire e sim a postura autoritária de um docente.
Estou fazendo uma leitura das poucas palavras que li em seu blog a respeito. É possível que a história seja mais complexa, por isso vou me limitar a esse comentário.

Anônimo disse...

Entendi, professor. Concordo que os tempos são difíceis e vejo que muitas vezes a democracia é utilizada enquanto revestimento para práticas autoritárias. Mas acho também que é desafiador. No julgamento pela esfera pública, movimentos que se expressam dessa maneira perdem a capacidade de aglutinar e de conquistar novos ativistas. Posso estar enganado, mas é o que está acontecendo na universidade, particularmente no setor 2. E acho que no meio dessa polêmica, temos ganhado, no seio da maioria, maior tolerância, exercício do diálogo, compreensão da complexidade do processo político e de ensinamento sobre o valor do outro. Espero não estar sendo otimista demais ao considerar que temos mais a ganhar do que a perder, apesar de eu mesmo concordar com o pessimismo de Saul Bellow, em Dezembro Fatal (minha interpretação): qualquer que seja o modelo para o qual mirarmos, ele tem um defeito de fábrica, o ser humano.