sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Férias...


Finalmente... Oficialmente, estava de férias desde o começo do ano, mas, na prática, não parei de fazer "coisas". Eita vida! Agora, espero, ficar somente com uma ou duas orientações prá concluir. Isso, pessoal, é férias de professor.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

A sociologia de Florestan Fernandes

Para quem é do campo das ciências sociais no Brasil, Maria Arminda do Nascimento Arruda dispensa maiores apresentações. Dentre outros atributos, a professora da USP é uma analista competente e criativa da obra de Florestan Fernandes. Por isso, sempre, vale a pena ler o que essa intelectual escreve. Ou fala. Há algum tempo, coisa de meses, assisti a uma entrevista concedida por ela à TV Cultura. Uma verdadeira aula!

Por isso, leia abaixo trechos de um artigo de autoria da professora. Foi publicado no último número da revista TEMPO SOCIAL.

A sociologia de Florestan Fernandes

Maria Arminda do Nascimento Arruda


Se fosse possível apreender em uma única expressão os sentidos das mudanças em vigor no Brasil desde 1930, talvez pudéssemos classificá-los como inerentes a uma época de tradições fatigadas. Transformações de vulto aconteciam em todos os contextos da vida econômica, política, social e cultural, a suscitar outros estilos de se pensar o país, provocando o aparecimento de nova geração de intelectuais, os chamados "Intérpretes do Brasil" - Gilberto Freyre, Caio Prado Júnior, Sérgio Buarque de Holanda -, que enfrentaram, malgrado a diversidade que os caracteriza, o tema da construção da nossa modernidade nos termos da linguagem modernista1. Com eles, o modernismo deixa de ser o estilo avançado da literatura e das artes, chegando ao ensaio; o movimento das vanguardas, que na origem foi acentuadamente nacional, ofereceu condições propícias à conformação das nossas peculiaridades; por fim, pôde-se construir uma imagem do país em chave positiva, o que não significou ipso facto perspectiva necessariamente otimista sobre o futuro da nação, mas que se singularizava ao rejeitar as visões baseadas na ideia de incompletude da nossa história, tendo como ponto de referência experiências forâneas. O ensaísmo crítico de corte modernista negou a norma culta portuguesa como forma adequada de expressão intelectual, inscrevendo dicções incomuns no passado, ao mesmo tempo em que construiu retratos do Brasil que marcaram a cultura brasileira em toda a sua trajetória ulterior. Os ensaístas dos anos de 1930 lançaram as bases da reflexão moderna das ciências sociais brasileiras, legitimando o estilo de reflexão e de narrativa dessas disciplinas.

De fato, a experiência de constituição da sociologia moderna entre nós - se pudermos identificá-la à formação acadêmica da disciplina - estava plasmada na intensa modernização do país, acentuada a partir do decênio de 1930 no trânsito da crise das relações sociais tradicionais, e vigorosamente inequívocas desde os anos imediatos ao término da Segunda Guerra Mundial, quando a riqueza nacional foi auferida, sobretudo, nas atividades industriais. A despeito do ritmo das mudanças, o ambiente ainda transpirava orientações próprias à tradição, revelando o quanto se mesclavam presente e passado no Brasil daqueles anos. Todavia, o movimento da sociedade brasileira seguia sentido inverso ao da Europa, pois, enquanto lá ocorria perda da hegemonia civilizacional, aqui acontecia a débâcle do Estado Novo e a construção de instituições democráticas, acompanhadas da emergência de um surto desenvolvimentista sem paralelos até aquele momento. No plano cultural, a terceira década do século XX foi

[...] um eixo catalisador: um eixo em torno do qual girou de certo modo a cultura brasileira catalisando elementos dispersos para dispô-los numa configuração nova [...]. Em grande parte porque gerou um movimento de unificação cultural projetando na escala da nação fatos que antes ocorriam na escala das regiões (Candido, 2000, pp. 181-182).
Antonio Candido refere-se ao que denominou de "rotinização do modernismo", que se tornou o estilo dominante de expressão das elites intelectuais e artísticas brasileiras. O ensaio sociológico de 1930 situa-se entre a cultura tradicional, na medida em que representa uma modalidade de vida intelectual fortemente ancorada numa narrativa na qual o autor fala em nome próprio, e a vida intelectual desenvolvida em quadros institucionais2. Por fim, os ensaístas estavam na origem das ciências sociais entendidas numa acepção abrangente (cf. Araújo, 2005, p. 17) ao elegerem como problema central das suas reflexões os dilemas e as potencialidades do país para construir a sociedade moderna em terras tropicais de origem portuguesa. Este problema ganhou, especificamente, significado naqueles anos de franco reconhecimento do atraso de Portugal e de reordenamento das hegemonias mundiais.

Foi no bojo de tais transformações que se criou a Universidade de São Paulo, em 1934, e, com ela, a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras que abrigou o curso de ciências sociais. A USP emergiu, desse modo, das novas concepções que passaram a orientar os mentores das instituições culturais que propugnavam por organismos coincidentes com o clima reinante, embora não encarnassem completamente os valores negadores da tradição, pois a instituição foi fruto do consórcio entre iniciativas avançadas no plano educacional e os projetos políticos das elites ilustradas oriundas do passado (cf. Cardoso, 1982). Esses aparatos institucionais modernos que vinham sendo construídos desde a terceira década cresceram e se diversificaram na fase seguinte com a criação de variadas fundações culturais (cf. Arruda, 2001). A Universidade permitiu a formação sistemática de cientistas devotados à docência e à pesquisa, além de engendrar uma concepção diversa do conhecimento, pois construiu novos espaços de atuação para os praticantes das várias disciplinas que compunham o quadro das carreiras científicas inauguradas, especialmente, na Faculdade de Filosofia da USP. A introdução de procedimentos sistemáticos ao treinamento de profissionais foi êmulo fundamental à institucionalização do saber característico das ciências sociais, que fazia parte do cenário diferenciado de realização das vocações científicas e compartilhava do clima característico da sociabilidade acadêmica.

Nesse cenário de fundas transformações e de apostas modernizadoras, berço da moderna sociologia brasileira, Florestan Fernandes (1920-1995) destacou-se como a personalidade mais singular em meio aos primeiros cientistas sociais egressos da universidade3. Nenhum dos seus contemporâneos identificou-se, como ele, com a missão de edificar as bases científicas da sociologia no Brasil; tampouco a nenhum da sua geração pôde-se atribuir papel de tal proeminência no campo da teoria, da pesquisa sociológica, da atuação institucional e do entendimento da dimensão profissional do métier. Por essa razão, a imagem do sociólogo brasileiro, hoje difundida, inspirou-se largamente na sua trajetória pessoal e institucional, estilo que vinha se desenvolvendo desde, pelo menos, o meio século XX, como decorrência da fundação da Universidade de São Paulo e do modelo de pesquisa introduzido pela Escola Livre de Sociologia e Política de São Paulo, criada em 1933, combinados à tradição brasileira do intelectual público, especialmente marcante no Rio de Janeiro. O perfil do cientista social compôs-se, portanto, no encontro entre essas diversas tradições, que pressupôs o ensino sistemático das disciplinas em moldes científicos e o envolvimento com as questões públicas do país. A junção de tais atributos convidava às investigações sistemáticas sobre os caminhos da mudança em marcha, ao mesmo tempo em que era tributária das apostas que envolviam os dias presentes.

De fato, na vivência dos contemporâneos, o Brasil inaugurava uma época alvissareira e plena de promessas, descortinando-se a efetiva capacidade de "forjar nos trópicos esse suporte de civilização moderna"4. Tratava-se, em suma, de um tempo com alto grau de dinamismo, no qual a crença nas possibilidades infinitas do desenvolvimento cultural era homóloga à convicção da modernização econômica, política e social da nação e que tinha na industrialização e na urbanização aceleradas o polo dinâmico. Assim, o presente aspirava ao futuro civilizado que, diga-se de passagem, seduzia o con-junto dos brasileiros aptos a perceber as transformações em curso. Produziu-se, sobretudo em São Paulo, o epicentro das energias mais vitais, a confluência do poder econômico e político com o "mundo do espírito". Entre dinheiro e intelecto ocorreram certas analogias no plano formal, como revelara Simmel, caracterizadas pelo impulso permanente de atualização:

Ao lado da objetividade impessoal inerente ao conteúdo da inteligência existe uma relação tremendamente próxima entre inteligência e individualidade [...]. O duplo caminho no qual tanto o intelectual como o dinheiro se tornam inteligíveis é a distinção do seu conteúdo objetivo essencial de sua função, ou, em outras palavras, nos usos em que são postos (1997. p. 437).
Numa quadra de crescente diferenciação da cultura e de democratização do acesso à vida cultural, combinadas ao dinamismo econômico e à mobilidade social intensa, isto é, ao caráter objetivo e subjetivo do dinheiro, as condições indispensáveis à equalização formal das duas esferas estavam dadas.

Juntamente a essas mudanças, deve-se acrescentar o processo de constituição das instituições democráticas e de criação de organismos para financiar a política desenvolvimentista do Estado brasileiro, no período de 1946 a 1964. Francamente modernizadores, os governos implementavam medidas de superação do atraso, com a consequente ultrapassagem das formas tradicionais herdadas do passado. A sociologia no Brasil bebeu na fonte da modernização em curso e elegeu como problema fundamental da reflexão a formação da sociedade moderna no país: suas possibilidades, tensões, impasses e dilemas no desenrolar das transformações. O tema da mudança social foi, assim, a questão central a mobilizar os intelectuais. Se o envolvimento com o moderno não era novo, pois ocupou corações e mentes dos letrados brasileiros pelo menos desde a Independência, a novidade residia no modo como se passou a refletir sobre o assunto: as concepções de conhecimento científico, construídas a partir de pesquisas rigorosas, modularam o tom do debate. Novamente aqui, o novo cenário conferiu os fundamentos sociais do pensamento científico, uma vez que o conhecimento abstrato é típico de contextos democráticos.

O que leva à abstração e à análise não provém das coisas em si mesmas. Sua origem é social: é ocasionada pelo tamanho e pela estrutura do grupo no qual o conhecimento tem que ser participado [...]. Podemos concluir que uma sociedade democrática é mais adequada para descobrir as correlações abstratas entre as coisas do que uma sociedade aristocrática (Mannheim, 1963. p. 265).
As concepções sociológicas de Florestan hauriram da sociologia mannheimiana parte essencial das suas motivações, evidenciadas no significado que atribuiu ao papel dos intelectuais na vida das sociedades, presentes nas suas formulações sobre a "civilização científica", resultaram também das análises sobre os dilemas da modernização no Brasil. A consciência de que a nossa formação moderna era particular não o impediu, especialmente ao longo dos anos de 1950, de admitir a real possibilidade de se criar no país princípios de uma modernidade ancorada em valores democráticos. Nos seus termos, apesar de a "transplantação da civilização ocidental para a zona tropical" constituir-se "em processo penoso, cheio de dificuldades e de transtornos", era viável a construção da civilização moderna no país, caso certos requisitos como o da expansão da educação e o da intervenção racional das ciências sociais fossem realizados (Fernandes, 1974. p. 311 - as referências seguintes a essa obra seguirão a segunda edição). Nos dois campos, Florestan atuou ativamente, articulando sua capacidade de ação em prol da democratização do acesso ao ensino em todos os níveis, exprimindo o compromisso selado com sua origem popular. Ele próprio havia sido fruto das oportunidades ampliadas no campo educacional e da criação da Universidade de São Paulo, para cujo concurso os renovadores da educação foram decisivos, como o foi Fernando de Azevedo, que o convidou para ser seu assistente em 1944.

Sua aposta no processo de constituição, no Brasil, dos princípios civilizados da sociedade moderna apresentou, todavia, variações ao longo de sua trajetória acadêmica, que compreendeu os anos de 1945 a 1969, datas da sua admissão como professor da USP e do seu afastamento compulsório em função do arbítrio do regime militar, instalado em 1964. Interessante perceber a mudança ocorrida ao longo desses anos, a partir de um trabalho modesto e circunscrito, no qual o sociólogo analisa a condição do marginal.

Em 1945, Florestan Fernandes, sociólogo recém-formado, apresenta o trabalho "Tiago Marques Aibopureu: um bororo marginal", no Seminário sobre os Índios do Brasil, organizado por Herbert Baldus (Fernandes, 1975). Florestan utiliza-se do material recolhido por Herbert Baldus, Antônio Colbacchini e César Albisetti (cf. Idem, p. 85). O artigo foi republicado pelo menos mais duas vezes, em 1960 e 1975, sem alterações, mantendo-se a forma original5. A escolha do assunto já era per se atraente; mais instigante ainda foi o tratamento conferido à biografia do índio Bororo. Chamam a atenção também as datas das publicações: a primeira, quando o jovem cientista social foi admitido na vida universitária; a segunda, quando se tornara um acadêmico prestigiado, incontestavelmente reconhecido em função dos trabalhos já produzidos que lhe carrearam posição institucional de relevo; a última, quando estava afastado da academia. As três situações correspondiam, então, a momentos singulares da trajetória de Florestan. Nos extremos coincidiam fases de rupturas e de reconstituição da sua vida, vincadas pela metamorfose do menino pobre em professor da Universidade de São Paulo, e do sociólogo reconhecido que perdera o espaço privilegiado, lugar de excelência onde depositara as apostas profissionais e afetivas de sua existência. Este trabalho de pretensões modestas elege-se como referência à produção ulterior de Florestan, destacando-se em meio ao conjunto de escritos iniciais do sociólogo, por ater-se a reflexões sobre um caso singular6. Por outro lado, o estudo situa-se em ponto intermediário, mediando as análises sobre folclore e cultura popular, seguidas pelos chamados estudos etnológicos7.

A análise da história de Tiago Marques Aibopureu foi construída de modo a que o singular e o geral se autoesclarecessem, pondo em relação abordagens micro e macrossociológicas, chegando, no limite, ao registro da psicologia social. O texto voltava-se, em suma, para o tratamento do conflito entre o indivíduo e a sociedade; para a conformação de personalidades tensionadas por situações que não se elucidavam no plano das escolhas individuais; para a expressão do movimento de negação da herança e a impossibilidade de completá-lo.


LEIA O ARTIGO COMPLETO AQUI .

Minha coluna de hoje no TERRA MAGAZINE

Car@s,

acessem aqui a minha coluna de hoje no TERRA MAGAZINE.

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Daniel, a borboleta e o ninho petista

Daniel postou um comentário a respeito do post abaixo. Reproduzo-o aqui para tirá-lo da semi-clandestinidade dos comentários... Confira abaixo.

Carlos Eduardo, por duas eleições, já demonstrou ter uma resistência de 30% do eleitorado.
O ex-prefeito, além disso, depende da má avaliação de Micarla, pela polarização mesmo que foi se criando.
Se a avaliação dela melhora, o também conhecido por Tatá se torna bem menos competitivo pela sua rejeição e porque perderá votos para a então prefeita.
PS. Há outro fato que também merece ser considerado. Anda rolando um burburinho que parece fazer sentido.
A idéia do "novo" pode mover a próxima eleição, assim como ocorreu em 2008 e 2010. As qualitativas da última eleição deixaram transparecer isso.
Os norte-riograndenses estão a procura de mudança, de algo diferente. Uma celebridade, se pensarmos nos termos de Bauman.
Conscientes disso, o grupo de Rosalba já anda especulando nomes de pessoas com o viés "antipolítica".
Um empresário de sucesso que poderia nadar na raia do seu suposto dinamismo empresarial. Falam até de Marcelo Alecrim.
Acho que um nome novo, "clean" como costumam dizer os moderninhos publicitários, pode bagunçar, positivamente ou negativamente, dependendo do ponto de vista, tudo.
Se ficarmos no terreno das especulações, imagino duas perspectivas possíveis...
1. Um empresário de sucesso e que atenda ao imaginário de que não precisa mais de dinheiro nem de cargos... pode chegar sem rejeição e levar a parada. A dita "direita", pode ter a certeza, já está levando essa possibilidade em consideração, na medida em que a tese já anda circulando pelos cafés da cidade.
2. Uma pessoa também "limpa" e "nova" com um perfil técnico de sucesso poderia, pelo caminho da esquerda, quem sabe, surpreender.
Dependendo do arranjo - é sempre bom lembrar - um Ivonildo, ou mesmo uma Virgínia podem se tornar mais competitivos do que Carlos Eduardo. O fato dele está liderando as pesquisas, O Sr sabe melhor do que eu, não quer dizer muita coisa, pois, com certeza, ao contrário do que ocorreu na última eleição estadual, esta eleição terá muitas notícias.

abs.

daniel

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

A borboleta no ninho do PT? Ou o contrário...

A Prefeita Micarla de Sousa (PV), eleita com o apoio do DEM, teria o apoio do PT no próximo ano? Eu, hein? Será? Tudo é possível, mas não é muita viagem, não? O PT local ganha o quê para jogar esse bote e tirar a borboletinha do naufrágio político? Apenas tirar o Felipe Maia da jogada?

Acho que alguém aí está esquecendo do Carlos Eduardo...

Estou reagindo a uma especulação de um leitor assíduo deste espaço, o Daniel Menezes...

O Governo Rosalba e o quadro político no Rio Grande do Norte

A vitória de Rosalba Ciarline (DEM) significou um importante redesenho do quadro político no estado do Rio Grande do Norte. Com um apoio dos três senadores, de um Ministro do Governo Dilma e da maior parte da bancada federal do Estado, a Governadora, ao contrário do que pensam alguns poucos, não deverá enfrentar o Governo Federal, onde se acantona, em tese, um adversário ideológico, na planície. Pelo contrário: Rosalba terá trincheiras importantes e poderá fazer negociações em uma posição minimamente segura. Assim, o cérebro por trás de sua administração, o ex-deputado Carlos Augusto, é um jogador de primeira e não deixará de levar em conta as mínimas possibilidades de entrar em cada jogada com algumas cartas na manga.
Essa situação é complementada pelos seguintes elementos:

1. A oposição na lona. As forças de oposição ao Governo Rosalba dificilmente conseguirão se reerguer antes do final de 2012, quando teremos o resultado das eleições municipais. A situação vexatória vivida pelo ex-Governador Iberê é o símbolo de um término, do fim de uma era. A era Wilma de Faria. Iberê terá sempre o seu capital político acumulado na região agreste como taxa de ingresso nas disputas vindouras. Já a ex-Governadora terá que alimentar a sede dos aliados que ainda lhe restam, e enfrentar, aí, sim, na planície, a avalanche de ações judiciais promovidas pela base de apoio da atual governadora. Restará o PT. Mas o partido esteve envolvido até a medula com o Governo Wilma; não terá tanta autoridade moral para sair atirando. E, além do mais, precisará reservar munições para defender localmente o Governo Dilma. Além, obviamente, de amainar a fome de cargos dos companheiros. Não! Não estou diminuindo o peso que o competente deputado Fernando Mineiro possa ter nos embates que virão, mas, quem o conhece sabe que ele não é de ficar fazendo salamaleques para a platéia. É um crítico rigoroso, mas pragmático. O que isso significa? Que não irá dar murro em ponta de faca por rei morto... Por fim, precisará ser propositivo e enfrentar com referencial técnico questões relacionadas à região metropolitana de Natal. Ou seja, estará muito ocupado... Restaria Fátima Bezerra. Mas, vem cá, você acha que Fátima Bezerra vai trocar o palco e as negociações federais por uma incursão duvidosa no acompanhamento sistemático da gestão de Rosalba? Nem morta!

2. A disputa em Natal. Rosalba poderá se dar ao luxo de ficar um tanto quanto distanciada da disputa em Natal. Não está dado que a Prefeita Micarla de Sousa (PV) não possa se recuperar e se tornar viável eleitoralmente no próximo ano. Não se pode esquecer que a prefeita de Natal, na pior das hipóteses, terá a lealdade de um senador (Paulo Davim) e de um deputado federal (como é mesmo o nome do gordinho? Deve ser a idade...). Caso Micarla esteja em baixa, mais de um nome da base deverá ser lançado. Para enfrentar o ex-prefeito Carlos Eduardo (PDT). Este, ao que tudo indica, deverá iniciar 2012 liderando com folga as intenções de voto para a prefeitura de Natal.

3. Arrumação da casa. Rosalba terá uns seis meses para arrumar a casa. Não pode fazer como Micarla, entretanto. A paciência do distinto público com o recorrente discurso da “herança maldita” não é tão grande assim. Por outro lado, esse é um recurso que pode ser um tiro pela culatra. Iberê e/ou Wilma podem acusá-la de perseguição... Política é jogo pesado, mas não se pode abusar dos ventos favoráveis...

4. O problema da saúde. O SUS está trincado em todo o país, não apenas no Rio Grande do Norte. Tem um problema de base: é uma idéia generosa e igualitária em um país dominado pelo ethos da casta. Por mais recursos que se injete, sempre produzirá referentes para a sua mais do que interessada desqualificação. As máfias corporativas, a corrupção desbragada, o peso da indústria farmacêutica e a inépcia do funcionalismo público o estão levando a morte. Assim, ao contrário do que deseja a Presidente Dilma, os próximos serão anos de crise grave na saúde pública nacional. Dessa forma, Rosalba não poderá ser responsabilizada por algo que é maior, nacional. Além disso, é médica. Seu discurso terá autoridade moral não apenas perante a poderosa categoria profissional da saúde, mas também para a população mais geral.

5. Segurança pública. Fez boas escolhas. Técnicas. E essa é uma área onde os donos do poder (as ditas “elites”, como diria a minha aluna petista) não cobram economia. Pode-se gastar a rodo, desde que os governantes mantenham os bairros nobres em paz e a patuléia no seu devido lugar, se possível nos distantes bantustões da periferia. Então, nessa área, a Governadora poderá mostrar serviço. E aqui, se for generosa, pode afirmar que recebeu uma herança bendita da gestão de Iberê: a redução da taxa de homicídios na Zona Norte de Natal.

Bom. Tem mais. Mas esse “mais” vai ficar para o próximo post.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Crime e política

O atentado contra uma deputada democrata nos EUA, praticado por um jovem desequilibrado, é um sinal de alerta para todos nós. Lá, a ala mais extremada do Partido Republicano, liderada pela ex-candidata a Vice-Presidente derrotada pela chapa de Obama, tem desenvolvido uma campanha de ódio ao Presidente. Esse ódio alimenta as mentes pouco reflexivas de muitos republicanos, que vêem o Presidente Obama como uma espécie de Fidel Castro.

Que o acontecimento sirva de alerta para todos nós. Todo cuidado é pouco...

Bom começo

Surpreendentemente positivos os primeiros dias de Rosalba Ciarline (DEM) à frente do Governo do Estado do Rio Grande do Norte. Primeiro, a indicação de Betânia para a condução da difícil pasta da educação. Segundo, a escolha de um quadro técnico externo para dirigir a Secretaria de Segurança Pública. Agora, mantém no Comando da Polícia Militar o Coronel Araújo. Nos poucos meses em que esteve no cargo, o Coronel fez a diferença. Competente, respeitado internamente e dotado de uma boa capacidade de diálogo com a sociedade civil, o Coronel Araújo tem contribuído para aumentar o reconhecimento público da Polícia Militar no Rio Grande do Norte.

Como ainda estamos nos famosos cem primeiros dias de governo, período da chamada “lua de mel”, Rosalba aproveita para colocar os nomes certos nos cargos-chaves. Tem jogado bem, até o momento.

Paixão e política

Percepção crítica da realidade é como carga horária de departamento em universidade pública: todos acham que já têm mais do o suficiente. Mas, quando nos aproximamos, todos têm um pequeno déficit. Assim, o viés passional domina.

Em um ambiente político dominado pelo não-reconhecimento do outro, como é o brasileiro, a disputa é sempre carregada de uma lógica de soma zero: um leva tudo, o outro nada.

O comum, então, é que quem escreve, especialmente no dia a dia, tem que lidar com as percepções passionais dos seus cada vez mais raros leitores. Comigo sói ocorrer isso, constantemente.

Na minha coluna da TERRA MAGAZINE da sexta passada, reproduzida em alguns blogs por aí afora, cobrei uma análise mais distanciada da chamada Era Lula. Apontei, ali, a necessidade de uma sociologia crítica do período. E questionei, para desconforto dos anti-lulistas, as explicações chinfrins sobre a popularidade do ex-presidente. Para quê? Meu endereço eletrônico ficou atulhado de mensagens passionais. Gente, sincera, mas dominada pela emoção passou a me tomar como uma espécie de representante oficial do Lula. Imagina! Euzinho, representante do Lula...

Vamos devagar! Se você acompanha este blog, sabe que eu tenho sido crítico, algumas vezes até de forma dura, em relação ao PT. Mas, penso eu, o Governo Lula é maior do que o partido. E, goste-se ou não de um determinado fenômeno, você tem que fazer um exercício de objetivação e apreendê-lo tal como ele é.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Mobilidade urbana é temática fundamental em Natal

Pois é, a cidade, logo, logo, vai parar. Imaginem se a Copa vier mesmo a ocorrer por aqui! Que os deuses nos ajudem!

O Deputado Fernando Mineiro (PT) me informou que vai abordar esta temática centralmente no seu mandato que se inicia. Notícia alvissareira, essa.

Mineiro, você sabe, tem tino político e capacidade técnica. Pode fazer algo de interessante... Espero que o seu mandato aglutine forças para pensar e propor alternativas para o enfrentamento dessa grave questão.

Desde 2008

Em breve, espero, este espaço completará três anos de existência. Estamos cá, conversando sobre o que nos dá na telha, mas principalmente sobre política, sociologia e cultura, desde agosto de 2008. Espero contar com a espiada de vocês por mais alguns anos.

Alguns estão mais pertos do coração. Estes, acompanham o blog. Você os confere aí do lado. Essas pessoas estão do lado esquerdo do meu peito. Quando penso em vocês, ganho energia para continuar.

Big abraço e bom ano para todos nós!

A ocupação da Via Costeira

Se você não é destas plagas, saiba que a Via Costeira é a ligação, margeando o mar,que liga a zona sul de Natal, mais precisamente Ponta Negra, com a Praia do Meio, na área mais central da capital do RN. Trata-se de uma área pertencente à união que foi concedida ao Governo do Estado na década de 1980.

O Governo do Estado repassou terrenos da área, verdadeira filet mignon imobiliário, a preços de banana para empresários camaradas. Depois, para grandes grupos nacionais e estrangeiros. Como a esperteza come o rabo do dono, o negócio ficou tão sem controle que órgãos da União tiveram que entrar em cena para colocar alguma ordem no terreiro. O resultado? Grita geral do chamado Trade. Que negócio é esse de regulamentar? Nada disso!

Bom. A polêmica renderá algumas matérias durante os próximos dias. Vale a pena, caso se interesse pelo destino do meio ambiente na esquina do Atlântico, acompanhar essa arenga. Prá início de conversa, clique aqui e leia matéria publicada na edição de hoje da Tribuna do Norte. Voltarei ao assunto. Pode apostar!

Segurança Pública no RN: o indicado de Rosalba

A Governadora Rosalba Ciarline (DEM) indicou, para secretário de segurança pública, um ex-superintendente da Polícia Federal. Gostei da indicação por dois motivos:

1) É mais técnica do que política. Claro!, não existe essa de escolha eminentemente técnica. Que é isso? Escolha técnica, em si mesmo, é uma escolha política. Mas, voltando ao que interessa, essa escolha técnica foi muito positiva. Segurança pública é uma área mais do que sensível. Os operadores do sistema são, digamos, muito antenados. Têm competência em ler os sinais emitidos pelas autoridades. Caso a governadora tivesse optado por uma solução doméstica e política, um grupo sentir-se-ia reforçado. Outro, pelo contrário, condenado à sarjeta... O novo secretário iria perder meio ano mostrando que não era bem isso. Depois, o máximo que teria conseguido seria desagradar os que antes se achavam agraciados.

2) A Polícia Federal, inegavelmente, tem bons quadros. E tem fornecido bons secretários de segurança pública aos estados. Posso citar dois exemplos, mas, para não comprar brigas, evitarei citar nomes aqui.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

A polícia vem aí...

As fotos abaixo são de policiais espanholas. Elas posaram fantasiando-se de bandidas. Simulam atos como roubo de veículos. A idéia inicial, pelo que disseram, era apenas montar um conjunto de fotos para presentear parentes e amigos no final do ano. Uma dela achou as fotos boa para o calendário e foi adiante. Os superiores não gostaram muito. Menos ainda as autoridades espanholas. Mas o calendário já caiu na rede.





segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Lula na análise do Rolim

O Marcos Rolim é um dos caras mais lúcidos da minha geração. Opa! Tô falando em geração... Deixá prá lá!

Como ia dizendo, o Rolim, ex-deputado federal pelo PT, é um dos caras com maior capacidade analítica da coisas da política nacional. Não, não é um cientista política, desses paparicados pelos jornalões... E nem se espere dele análises frias, distanciadas e supostamente racionais. Rolim pensa a política com razão, mas é movido por uma paixão ética inquebrantável. Guia-se por princípios (que coisa demodê!, dirão não poucos...), essa é a verdade.

Por isso, sempre que posso, reproduzo aqui, neste espaço tão acolhedor, os textos que o ex-petista publica no seu site (
http://www.rolim.com.br/). É o que faço hoje. Por isso, leia o que vai abaixo. Você vai gostar!

PRESIDENTE JANUS
Marcos Rolim
Jornalista


Lula encerra seu governo com 87% de aprovação o quê, segundo o instituto Sensus, assinala recorde mundial. Nem Mandela obteve tal resultado. O fenômeno demanda uma análise criteriosa que, infelizmente, não será encontrada na maioria dos jornais. A propósito, os pesquisadores do futuro que tentarem compreender o que foram os dois mandatos de Lula a partir do que foi publicado pela mídia estarão diante de um mistério: como o presidente mais popular da história e o governo mais bem avaliado mereceram tão frequentemente o desprezo, a ironia e as críticas mais duras da imprensa? Ou, dito de outra forma, por que a mídia viu um governo e a ampla maioria da população viu outro?

A matéria é difícil e só autoriza hipóteses. Penso que a primeira diz respeito ao contraste com os governos anteriores. O presidente Fernando Henrique tem o mérito da estabilidade econômica – coisa que o PT, na época, não entendeu – mas, fora esta conquista, o que deixou como herança? FHC sempre foi paparicado pela mídia, mas a verdade é que ele endividou o Brasil de forma irresponsável, alienou patrimônio público em processo de “privataria”, mergulhou o ensino superior em sua mais grave crise e não realizou os investimentos mais importantes. Naquele tempo, as oposições exigiam do governo um salário mínimo de 100 dólares – sem sucesso, assinale-se-, o que diz o suficiente sobre os “compromissos sociais” da direita brasileira. Quando comparamos as conquistas do período Lula com os 8 anos de FHC, então, o contraste é tão grande que Lula se transforma em um gigante. E, antes de FHC, tivemos Itamar Franco, Collor e Sarney e, antes deles, a ditadura. Vamos combinar que o Brasil teve muita sorte de ter sobrevivido.

Seria preciso compreender, também, o alcance das políticas sociais de Lula. A mídia sempre tratou o “Bolsa Família”, por exemplo, com descaso considerando-o uma estratégia “eleitoral” destinada a criar dependência e preguiça. Enquanto os analistas se encantavam com seus preconceitos, entretanto, meio milhão de jovens pobres ingressava nas universidades e 15 milhões de brasileiros saíam da miséria; o que em um país excludente como o nosso assinala mudança radical. Não por acaso os aeroportos estão lotados, as lojas vendem como nunca e há carros em excesso. Os antigos pobres freqüentam espaços antes exclusivos e não falta quem se incomode, claro. A mídia, como regra, ficou com os incomodados.

O principal déficit do período Lula é a ausência de reformas institucionais. Neste ponto, nada andou. O PT, ao invés de reformar o modelo político, foi reformado por ele e o lulismo revelou, como na figura mitológica bifronte de Janus, sua face conservadora. As alianças com os setores fisiológicos do Congresso e a convivência, cada vez mais cordial, com a corrupção são os símbolos de um passado que se mantém presente no lulismo. As duas cabeças de Janus representavam os términos e os começos, o passado e o futuro. Por isso, Janus abria as portas para o ano novo. Que os deuses auxiliem a presidente Dilma, então, a dar término ao término, inaugurando um novo começo ao cruzar a porta aberta por Lula.

O João da Costa (PT) também está na fila?

Hummm! Postei mais abaixo algo a respeito de um possível impichamento (vamo no portuga abrasileirado daqui prá frente, certo?) do prefeito de Salvador (e, de quebra, da Micarla) e logo um internauta atento mandou o recado: o João da Costa (PT), prefeito de Recife, também não anda com a sua avaliação muito boa.



Então, tá, João Henrique (PMDB), João da Costa (PT) e Micarla (PV) estão candidatos a formar um bom trio. O Trio dos Impichados. Que é, pelo visto, partidariamente democrático. Cabe gente de tudo quanto é partido. Foi ruim, entra nele. Sem discriminações!



Isso até segunda ordem, tá? Vou me informar a respeito do prefeito recifense. É que o seu antecessor, o João Paulo, foi um administrador tão bem avaliado que eu estava a pensar que as coisas estavam caminhando bem na Veneza Brasileira. Parece que me enganei.

Vôte, Lula, que companhia arranjastes para voltar prá casa!

Lá na metade dos anos 80, quando os pestistas queriam tirar um sarro do pessoal do PC do B, entoavam a seguinte palavra de ordem: "Reformista, reformista, eu bem que te avisei: dormistes com Tancredo e acordastes com Sarney". Egresso da Arena e do PDS, o então neo-peemedebista José Sarney, como sabem todos, abiscoitou o cargo de presidente devido a inesperada doença e morte de Tancredo Neves, o candidato da Aliança Democrática no Colégio Eleitoral.

Pois, vinte e cinco anos depois, ao deixar a Presidência da República, com uma popularidade nas alturas, quem o Lula escolhe para acompanhá-lo de volta a São Bernardo? José Sarney. Depois de uma posse tão bonita, de discursos tão enfáticos, esse fato é não apenas constrangedor, mas também exemplar. Expressa com toda a clareza o realismo petista.

Votei na Dilma, e, aqui no RN, em sua maioria, em candidatos petistas ou apoiados pelo PT, mas não tenho mais idade de cultivar ilusões. Acho-me um tanto quanto, como diria o Tiririca, "abestado" por ter feito tantos discursos em defesa da superioridade ética da política petista. Em tempos idos, é claro. Bastante "idos", prá dizer a verdade...

O fato é que a sofreguidão com que a turma que ontem se pavoneava de campeão da ética hoje se entrega ao conturbênio com as elites, ah!, essa é tão triste que se torna rídicula. Agora, vá criticar! Serás levado à foguerinha para onde os companheiros desejam mandar todos os moralistas. Pois é, hoje em dia falar em ética, para o petismo, é moralismo.

Politicamente, prá variar, estou só. Já me acostumei com isso. E, em momentos como o de agora, repito o bordão do Macaco Simão: "vão indo, que eu não vou!". Fazer aliança com o Sarney? Pode... Agora, sair de bracinhos dados com o Rei do Maranhão até São Bernardo, isso não!, aí é demais para mim.

Impeachment para o prefeito

Considerado, segundo pesquisa na qual a população das grandes cidades avalia os seus gestores, como um dos piores prefeitos do país, o prefeito de Salvador, João Henrique (PMDB), corre o risco de ser escorraçado do cargo por um impeachment. Os soteropolitanos estão se movimentado prá isso.

Sei não, mas se a Prefeita Micarla de Sousa (PV) continuar no rumo que segue, já, já, alguém deve levantar bandeira parecida aqui na esquina do Atlântico.

Foi bonita a festa, pá!

Emocionante, para dizer o mínimo. Uma posse para ficar na história essa da Presidenta Dilma. Valeu!