A vitória de Rosalba Ciarline (DEM) significou um importante redesenho do quadro político no estado do Rio Grande do Norte. Com um apoio dos três senadores, de um Ministro do Governo Dilma e da maior parte da bancada federal do Estado, a Governadora, ao contrário do que pensam alguns poucos, não deverá enfrentar o Governo Federal, onde se acantona, em tese, um adversário ideológico, na planície. Pelo contrário: Rosalba terá trincheiras importantes e poderá fazer negociações em uma posição minimamente segura. Assim, o cérebro por trás de sua administração, o ex-deputado Carlos Augusto, é um jogador de primeira e não deixará de levar em conta as mínimas possibilidades de entrar em cada jogada com algumas cartas na manga.
Essa situação é complementada pelos seguintes elementos:
1. A oposição na lona. As forças de oposição ao Governo Rosalba dificilmente conseguirão se reerguer antes do final de 2012, quando teremos o resultado das eleições municipais. A situação vexatória vivida pelo ex-Governador Iberê é o símbolo de um término, do fim de uma era. A era Wilma de Faria. Iberê terá sempre o seu capital político acumulado na região agreste como taxa de ingresso nas disputas vindouras. Já a ex-Governadora terá que alimentar a sede dos aliados que ainda lhe restam, e enfrentar, aí, sim, na planície, a avalanche de ações judiciais promovidas pela base de apoio da atual governadora. Restará o PT. Mas o partido esteve envolvido até a medula com o Governo Wilma; não terá tanta autoridade moral para sair atirando. E, além do mais, precisará reservar munições para defender localmente o Governo Dilma. Além, obviamente, de amainar a fome de cargos dos companheiros. Não! Não estou diminuindo o peso que o competente deputado Fernando Mineiro possa ter nos embates que virão, mas, quem o conhece sabe que ele não é de ficar fazendo salamaleques para a platéia. É um crítico rigoroso, mas pragmático. O que isso significa? Que não irá dar murro em ponta de faca por rei morto... Por fim, precisará ser propositivo e enfrentar com referencial técnico questões relacionadas à região metropolitana de Natal. Ou seja, estará muito ocupado... Restaria Fátima Bezerra. Mas, vem cá, você acha que Fátima Bezerra vai trocar o palco e as negociações federais por uma incursão duvidosa no acompanhamento sistemático da gestão de Rosalba? Nem morta!
2. A disputa em Natal. Rosalba poderá se dar ao luxo de ficar um tanto quanto distanciada da disputa em Natal. Não está dado que a Prefeita Micarla de Sousa (PV) não possa se recuperar e se tornar viável eleitoralmente no próximo ano. Não se pode esquecer que a prefeita de Natal, na pior das hipóteses, terá a lealdade de um senador (Paulo Davim) e de um deputado federal (como é mesmo o nome do gordinho? Deve ser a idade...). Caso Micarla esteja em baixa, mais de um nome da base deverá ser lançado. Para enfrentar o ex-prefeito Carlos Eduardo (PDT). Este, ao que tudo indica, deverá iniciar 2012 liderando com folga as intenções de voto para a prefeitura de Natal.
3. Arrumação da casa. Rosalba terá uns seis meses para arrumar a casa. Não pode fazer como Micarla, entretanto. A paciência do distinto público com o recorrente discurso da “herança maldita” não é tão grande assim. Por outro lado, esse é um recurso que pode ser um tiro pela culatra. Iberê e/ou Wilma podem acusá-la de perseguição... Política é jogo pesado, mas não se pode abusar dos ventos favoráveis...
4. O problema da saúde. O SUS está trincado em todo o país, não apenas no Rio Grande do Norte. Tem um problema de base: é uma idéia generosa e igualitária em um país dominado pelo ethos da casta. Por mais recursos que se injete, sempre produzirá referentes para a sua mais do que interessada desqualificação. As máfias corporativas, a corrupção desbragada, o peso da indústria farmacêutica e a inépcia do funcionalismo público o estão levando a morte. Assim, ao contrário do que deseja a Presidente Dilma, os próximos serão anos de crise grave na saúde pública nacional. Dessa forma, Rosalba não poderá ser responsabilizada por algo que é maior, nacional. Além disso, é médica. Seu discurso terá autoridade moral não apenas perante a poderosa categoria profissional da saúde, mas também para a população mais geral.
5. Segurança pública. Fez boas escolhas. Técnicas. E essa é uma área onde os donos do poder (as ditas “elites”, como diria a minha aluna petista) não cobram economia. Pode-se gastar a rodo, desde que os governantes mantenham os bairros nobres em paz e a patuléia no seu devido lugar, se possível nos distantes bantustões da periferia. Então, nessa área, a Governadora poderá mostrar serviço. E aqui, se for generosa, pode afirmar que recebeu uma herança bendita da gestão de Iberê: a redução da taxa de homicídios na Zona Norte de Natal.
Bom. Tem mais. Mas esse “mais” vai ficar para o próximo post.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário