quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Sobre as eleições

Tá mesmo uma coisa repetitiva o processo eleitoral em curso. Não dá nem disposição para analisar a mesmice. Aqui em Natal, então, tá, como se diz, "sem a menor graça".
Beuno, mas não é apenas aqui. Veja, abaixo, parte do artigo de Fernando Rodrigues, na Folha.

FERNANDO RODRIGUES

Monotonia eleitoral

BRASÍLIA - A primeira fornada de pesquisas neste início de campanha eleitoral para prefeitos e vereadores mostra uma monótona semelhança com 2004. Agora, como há quatro anos, os partidos mais tradicionais dominam as disputas nas capitais e nos municípios grandes e médios.
Já há pesquisas disponíveis em 61 cidades brasileiras. O eleitorado nessas localidades soma 41,2 milhões, o equivalente a 32% dos que votarão em 5 de outubro.
Quatro partidos são hegemônicos no processo: PT, PMDB, DEM e PSDB. Essas siglas têm 51 candidatos em primeiro lugar isolados ou empatados nas 61 capitais e cidades grandes e médias pesquisadas.
Em 2004, essas mesmas quatro agremiações já haviam sido vitoriosas. Receberam 60,5% dos votos para prefeito em todo o país.


Assinante UOL lê o artigo completo aqui.

Mais sobre Raposa Serra do Sol.

Ontem, aqui na UFRN, teve uma defesa de dissertação sobre o tema. Depois, quando der, procuro mais informações a respeito. Sei que o autor, Vanderley, foi meu aluno há algum tempo, em outra instituição, e é um cara muito competente. Bueno, mas o que eu queria mesmo, neste dia em que o STF inicia o julgamento a respeito da reserva, era indicar mais uma reflexão sobre a questão. Dias atrás, indiquei artigo de Novaes, hoje, vou pro outro lado e indico artigo de Alon Feuerwecker. Intitulado "STF e defesa nacional", o texto está disponível no blog do jornalista. Leia-o aqui.

Blog devagar

Tenho estado meio adoentado nos últimos dias. Não pude atualizar o blog diariamente, como gosto de fazer. Amanhã, se tudo der certo, serei submetido a uma cirurgia, e, espero, tudo ficará melhor.

Sobre a propaganda eleitoral na TV

Leia, abaixo, artigo de autoria do jornalista Luiz Wess publicado no Estadão de hoje.


CONTRA ARGUMENTOS NÃO HÁ FATOS

Luiz Weis

Entra eleição, sai eleição - e duas lendas continuam inabaláveis. Uma é a de que o horário gratuito é uma enganação. Outra é a de que o eleitor não dá a mínima para os partidos. A persistência desses clichês, apesar do acúmulo de evidências em contrário, parece dar razão aos que acham que, sendo as mentalidades o que são, o ditado certo é o que põe de ponta-cabeça a forma original: contra argumentos não há fatos.

No caso da propaganda no rádio e na TV, os fatos conhecidos não batem com a visão preconcebida - ou preconceituosa - de que ela afeta perversamente o voto popular, ao mistificar um público tosco o bastante, em geral, para aceitar pelo valor de face as patranhas que os marqueteiros lhe infligem. Isso, segue o raciocínio, quando o eleitor lhes dá trela, em vez de fazer qualquer outra coisa naquele período, o que seria, afinal, a atitude da grande maioria.

Na realidade, parcela do eleitorado suficientemente ampla para fazer diferença, porque repassa as suas impressões aos desligados, conta com o horário político para balizar as suas decisões e não se deixa levar por pirotecnias de imagem - acostumada que está a identificá-las na programação normal. Além disso, as pesquisas para uso interno das campanhas indicam que a audiência quer menos blablablá e mais propostas terra-a-terra, um sinal eloqüente de amadurecimento.

Quando atendido, o espectador considera que o candidato se dirige a ele diretamente, presta atenção no que ouve e faz comparações - o que o induz a manter ou mudar a sua intenção de voto, se é que já tinha. O horário gratuito, pois, é uma fonte decisiva de informações. A sua influência, para ficar no aqui e agora, ficou nítida no primeiro levantamento do Datafolha depois do início da atual temporada, na última terça-feira. O maior exemplo foi a reviravolta dos números em Belo Horizonte.

Até então, para surpresa de muita gente, as prévias ali eram lideradas pela obscura candidata do PCdoB, Jô Moraes, com 20% dos apoios. Márcio Lacerda, do PSB, candidato do governador tucano Aécio Neves e do prefeito petista Fernando Pimentel, era pouco mais do que um zé-ninguém, com 6% das preferências. Na pesquisa feita na quinta e na sexta-feira passadas, Jô perdeu a dianteira para Lacerda, que avançou olímpicos 15 pontos, depois de ser exibido ao lado de seus populares patronos e de dizer a que vem.

O horário eleitoral também propeliu a candidatura do petista João da Costa, no Recife. Em São Paulo, mudou a relação de forças entre o ex-governador Geraldo Alckmin e o prefeito Gilberto Kassab, do DEM. A diferença entre eles caiu de 21 para 10 pontos (Marta passou para 41%, ou 17 pontos acima do tucano). O peso do horário gratuito - com os acertos da mensagem de Marta, a nova visibilidade de Kassab e a desorientação da propaganda de Alckmin - parece inegável.

As pesquisas também confirmam o outro fato que, para o senso comum, simplesmente não existe: a influência partidária nas escolhas eleitorais. Não é por acaso que a região paulistana onde o predomínio da ex-prefeita alcança seu maior nível - o extremo sul - seja um forte reduto petista. Já se tornou uma referência, a propósito, o estudo Partidos e distribuição espacial dos votos na cidade de São Paulo, dos cientistas políticos Argelina Figueiredo, Fernando Limongi, Maria Paula Ferreira e Paulo Henrique da Silva, do Cebrap.

Debulhando as eleições entre 1994 e 2000, os pesquisadores verificaram que as bases geográficas dos partidos mais votados na capital - PSDB, PT e PPB - são claramente delimitadas. O primeiro tem o seu forte nas áreas centrais e de maior renda; o segundo, nas zonas mais pobres, em especial no leste; e o terceiro, nos bairros tradicionais de classe média baixa. Além disso, o desempenho das três legendas tende a se repetir nas eleições municipais, estaduais e federais, para o Legislativo e o Executivo.

A distribuição do voto por regiões, exprimindo preferências políticas que se relacionam com o perfil social da maioria dos seus moradores, "significa que cada partido conta com um capital de votos nessas regiões que, embora longe de garantir seu êxito eleitoral, constitui uma base de apoio sólida que lhe dá viabilidade em qualquer disputa eleitoral", apontam os cientistas. A associação entre votações em diferentes eleições "é mais alta no partido mais fortemente organizado, o PT, e mais baixa no mais dependente de liderança individual (Paulo Maluf), o PPB".

Outro estudo na mesma linha, As eleições municipais em São Paulo: 1985-2004, de Fernando Limongi e Lara Mesquita, trata dos nexos entre as estratégias dos partidos e as mudanças nas preferências dos eleitores. O trabalho comprova que a distribuição dessas preferências pode ser conhecida ou estimada com algum grau de certeza - e que "o eleitorado paulistano tem apresentado considerável estabilidade em suas opções" -, o que dificilmente aconteceria se as vinculações partidárias dos candidatos não contassem na hora do voto.

Claro que o estilo que cada político projeta pode fazer diferença. "Maluf construiu a reputação de um candidato obstinado, aguerrido e radical", observam os autores. "A estratégia surtiu efeito, garantindo para o seu partido o controle sobre o eleitorado de direita." O mesmo se aplica à imagem que os principais partidos querem passar ao público. "Não foi outra a estratégia perseguida pelo PT para conquistar o voto até então controlado pelo PMDB", escrevem.

É sugestiva a constatação de que, analisando em conjunto as seis eleições no período pesquisado, "a direita e a esquerda foram as grandes vencedoras. O centro, representado inicialmente pelo PMDB e depois pelo PSDB, é o mais fraco dos competidores". Em suma, o voto do paulistano é político-partidário, por menos que aceitem admiti-lo os defensores da ficção de que as pessoas votam em pessoas e os partidos pouco ou nada significam.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

O mundo escolar em crise e as experiências juvenis

Espaço sempre tomado como referente nos discursos de criminalização das experiências juvenis, a escola é, especialmente nas cidades situados no interior nordestino, um lócus privilegiado para se pensar o esgotamento das instituições socializadoras. O acento dado à escola no interior nordestino, deve-se ao fato que, no amplo território incluído nessa precária rubrica, esse é um dos únicos espaços públicos aos quais adolescentes e jovens têm acesso. Situação um pouco diferente daquela das cidades litorâneas, nas quais as praias modulam a geografia imaginária e potencializam espaços para os encontros e os “descontroles controlados das emoções” (Featherstone, 1995, p. 122). Por isso mesmo vale a pena determo-nos um pouco mais sobre esse tópico.

Os clássicos do pensamento político e social, dentre eles Hobbes, Durkheim e Freud, chamaram a atenção para o fato de que, na maioria das sociedades conhecidas, há uma zona de “violência tolerada”. Indo além do imediatismo das visões moralistas, eles foram capazes de perceber que a violência era algo como uma resposta “natural” à agressão do meio – natural e social – e um elemento necessário à sobrevivência. Assim sendo, as sociedades procuraram muito mais “canalizar” do que interditar a violência. E, no que diz respeito à socialização das novas gerações, criaram espaços e momentos, aos quais os antropólogos referem-se como “liminares”, nos quais práticas violentas faziam parte dos momentos de iniciação.

François Dubet, sociólogo francês que tem se dedicado a analisar a crise escolar e a violência juvenil, reforça essa nossa argumentação:
“as sociedades fortemente integradas têm sempre oferecido aos jovens, sobretudo aos jovens de sexo masculino, espaços de violência tolerada. A violência dos jovens é, então, explicitamente condenada e implicitamente encorajada”.

Abordagens como as de Dubet contribuem tanto para a relativização de nosso modo de encarar a violência juvenil quanto para uma melhor percepção do entrelaçamento entre escola, violência e vulnerabilidade juvenil. Isso porque o que vem se denominando comumente de “crise do mundo escolar” é a expressão manifesta de algo mais profundo, impreciso e que, por ser amedrontador, temos dificuldade em encarar: o esgotamento dos sistemas integradoras produzidos (ou redefinidos e ampliados) pela modernidade, dentre eles o sistema educacional. Ora, esse sistema, apostando em promessas de um lugar num mundo social futuro, contribuiu para domesticar as pulsões juvenis na modernidade. Os seus responsáveis (autoridades, supervisores pedagógicos, diretores e professores), auto-imbuídos de uma missão histórica (“educar”, “civilizar”, “podar”, “lapidar” os “homens e mulheres de amanhã”) cumpriram bem o seu papel até o momento em que o admirável mundo novo do mercado instituiu a sua temporalidade e fizesse do “aqui e agora” o único momento merecedor de preocupação e atenção.

Nesse momento, no qual foi-se percebendo o esgotamento institucional da escola enquanto meio de socialização, os colégios particulares, sempre atentos às demandas dos consumidores, foram canalizando a insatisfação e a agressividade juvenil através da multiplicação de espaços e momentos para o lúdico. Os seus professores, apeados de missões grandiosas, tiveram que se contentar/adaptar com a tarefa de guardiãs simpáticos e bem-humorados de meninas e meninos. Sabem-se portadores de informações desatualizadas e, na maioria dos casos, completamente sem sentido para adolescentes e jovens que adquirem, reflexivamente, as suas informações através de modernas estruturas de informação e comunicação (Internet, TV a cabo, viagens corporais ou virtuais, etc.).

No mundo escolar das redes públicas de ensino, a auto-representação dos educadores como missionários de uma tarefa redentora não encontra mais referentes na realidade. Confrontados com a agressividade de meninos e meninas que perderam os espaços de expressão da “violência tolerada”, os educadores percebem-se agora como a vanguarda de um exército invasor cujo objetivo é menos o de “civilizar” e mais o de “exterminar” os “bárbaros”. Não raro, aderem aos discursos criminalizadores das ações juvenis e têm no sindicalismo corporativista o único alívio para as dores da fratura de suas identidades partidas de “educadores”. Desilusão, sensação de fracasso e um niilismo só interrompido pelo ritual corporativista de suas manifestações sindicalistas, esse os elementos que caracterizam o estado de ânimo desses profissionais. Não deixa de ser, no entanto, paradoxal que boa parte desses mesmos profissionais atuem, com êxito, na rede privada de ensino.

A verdade é que o sistema de ensino público, redefinido nos últimos anos pela democratização do seu acesso, foi perdendo gradativamente a sua capacidade integradora. Essa situação significou a retirada de um chão social que possibilitava a realização dos rituais típicos da “violência tolerada” – transgressões institucionalmente reprimidas e socialmente encorajadas. A escola torna-se, assim, um espaço intolerável para os seus principais atores – professores e alunos.

A escola, que nunca esteve à parte dos momentos e eventos violentos da sociedade (sendo muitas vezes espaço da “violência tolerada” dos rituais iniciáticos ), mas assumia um papel regulador, torna-se, na atualidade, um espaço da desregulação social. O resultado é que o que havia de “normal” na “violência” juvenil vai se tornado socialmente insuportável. Sem se aperceber de que essa violência mais visível é apenas a tradução da impotência de meninos e meninas em produzir, a partir da sensação muito viva de que seus anseios e suas demandas não têm o menor espaço na instituição escolar pública atual, conflitos sociais que instituam respostas positivas a um modelo cultural de socialização já esgotado, estamos, enquanto sociedade, deixando de tematizar a violência mais forte que é aquela de um modelo cultural que alimenta a vulnerabilidade juvenil.

Referências:

FEATHERSTONE, Mike. Cultura de consumo e pós-modernismo. São Paulo: Nobel, 1995.

Raposa Serra do Sol: a posição de Washington Novaes

Novaes é um dos jornalistas brasileiros que mais tem se dedicado a socializar informações qualificadas sobre as questões indíginas e ambientais. Vale a pena, por isso, ler artigo de sua autoria publicado hoje no jornal O Estado de São Paulo.

Leia, abaixo, trechos do artigo.

Raposa Serra do Sol à luz do Direito

Washington Novaes

Ao mesmo tempo que a demarcação da área indígena Raposa Serra do Sol se vai transformando em delicada questão internacional - com a decisão do relator especial da ONU para direitos indígenas de visitar a região -, o Supremo Tribunal Federal (STF) decide na próxima semana se confirma a demarcação homologada pelo presidente da República em 2005 ou se dá razão aos plantadores de arroz que ocuparam porções ali, recusam-se a sair e são apoiados por grande parte da corporação política do Estado, em sua pretensão de que o STF mande fazer uma demarcação apenas em "ilhas" ao redor das aldeias e permita aos invasores permanecer onde estão.

O presidente da República já deu declarações confirmando a demarcação contínua que ele mesmo homologou em 2005. O STF já rejeitara cerca de 30 ações contra a demarcação. A Funai já depositara R$ 5 milhões para indenizar os invasores. A Procuradoria-Geral da República recomendara a retirada dessas pessoas. O governo federal até prometera pôr à disposição outras terras da União para receber os plantadores. Mas, surpreendentemente, o próprio STF mandou suspender a retirada e até ministros de Estado foram à área, embora não haja questões de fato a julgar, e sim questões jurídicas.

Neste momento surge, para clarear o panorama, a pedido do Conselho Indígena de Roraima, parecer do constitucionalista José Afonso da Silva, professor de duas universidades públicas, autor de vários tratados, ex-secretário de Assuntos Jurídicos da Prefeitura de São Paulo, ex-secretário de Segurança do Estado, assessor brilhante na Constituinte de 1988. E seu parecer é arrasador. (...)

Para ler o artigo completo, clique aqui.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Estatística da criminalidade

Informação é fundamental na análise da violência e da criminalidade. É, também, algo fundamental para dar transparência às ações do Estado. Cá, no RN, ainda temos uma grande dificuldade em avançar neste tópico. Por isso, acho interessante, caso você seja assinante do UOL, assistir a um vídeo com a entrevista de um pesquisador do Instituto Sou da Paz. Assinante UOL assiste aqui.

Aperfeiçoe o seu inglês

Melhore o seu domínio do inglês, assitindo uma boa TV na internet. A GRITtv, ligada ao The Nation, uma publicação norte-americana de esquerda, é uma boa opção. Assista, abaixo, um dos programas da TV.

Milícias

Abaixo, matéria publicada hoje no jornal O Estado de São Paulo. Após, o meu comentário.

Câmara aprova projeto que criminaliza as milícias
Pena prevista para quem participar, custear ou organizar os crimes vai de 4 a 8 anos de prisão

Denise Madueño, de O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - O plenário da Câmara aprovou no inicio da tarde desta quarta-feira, 20, o projeto que altera o Código Penal tipificando como crime a milícia e o extermínio e aumenta a pena para quem cometer esse tipo de delito. O projeto define como crime constituir, organizar, integrar, manter ou custear organização paramilitar, milícia particular, grupo ou esquadrão com finalidade de praticar crimes. A pena prevista é de quatro a oito anos de prisão.


Além de tipificar o crime de milícia e de extermínio, o projeto transfere a competência e o julgamento desses crimes para a Polícia Federal, Ministério Público e Justiça Federal por considerá-los "ofensa ao Estado democrático de Direito e de interesse da União".



Em outro artigo, o projeto aumenta a pena para crimes praticados por grupos de extermínio ou milícias privadas. A pena pode ser aumentada de um terço à metade, se o crime é praticado com a intenção de fazer justiça pelas próprias mãos ou para quem pratica o crime sob o pretexto de oferecer serviços de segurança.



Oferecer ou prometer serviço de segurança sem autorização legal também passa a ser crime com pena prevista de um a dois anos de prisão. O projeto, que segue agora para o Senado, é do deputado Luiz Couto (PT-PB) e foi alterado em votação hoje pela manhã pela Comissão de Segurança Pública.

Comento:
Um medida civilizadora. O enfrentamento dos aparatos para-militares é fundamental para a consolidação da democracia no nosso país. As milícias são agências para-estatais de controle de espaços físicos e sociais. Não há porque tratá-las como algo menos danoso do que o narcotráfico. Ela confrontam o Estado e a democracia. O deputado Luiz Couto, que tem tudo uma atuação destacada nas áreas de segurança pública e enfrentamento da criminalidade, está de parabéns pelo seu trabalho.

O debate sobre o pré-sal

No Estadão de hoje, Roberto Macedo, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda na gestão FHC, em um artigo intitulado "A Petrosal e o bacalhau da Noruega", entra no debate sobre o que fazer com as descobertas petroliféras. Você sabe que eu acho esse debate importante. Assim, coloco aqui, sempre que possível, links para todas as posições políticas e ideológicas sobre a questão. Leia o artigo aqui.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Avner Greif. Preste atenção nesse nome.

Há pouco mais de um ano, entrei em contato com a extraordinária obra de Avner Greif. Professor do Departamento de Economia da Stanford University, este historiador econômico tem produzido uma obra que fornece importantes aportes para pensar as transações econômicas em situações de incerteza, como é o caso do intercâmbio nos mercados ilegais.

Ricardo Abramovay, que entende das coisas, disse-me que aposta as suas fichas no Greif para um Nobel em Economia. Se você entrar em contato com o obra dele, talvez, passe a achar o mesmo.

Sem descurar de uma apurada investigação histórica, e nem se desviar para uma leitura pobremente funcionalista, Greif mobiliza a teoria dos jogos para construir um modelo razoavelmente convincente a respeito do desenvolvimento institucional distinto no Magreb e nas cidades comerciais italianas nos século X e XI. A questão que Greif toma como ponto de partida é: como é possível o cumprimento dos contratos na vida econômica em um contexto no qual as separações espaciais fornecem poucas garantias aos agentes? Obviamente, para o “raciocínio sociológico” dominante (mesmo na Nova Sociologia Econômica), esta é uma questão tão curtida nos barris do institucionalismo econômico que é difícil de ser facilmente assimilada.

Bom. Não vou encher você com sociologuês ou com economês. Tenho um artigo aprovado pela revista sociologias no qual trato, com mais cuidado, da importância da obra do Greif para os estudos sociológicos de situações de incerteza (meu foco, como você sabe, é o crime organizado). Quando o artigo for publicado, colocarei um link para o mesmo. Por enquanto, faço questão de indicar-lhe uma visita à página do Avner Greif na Stanford. Por que? Porque ele faz uma coisa fantástica: disponibiliza, nessa página o acesso gratuito à boa parte de sua produção, inclusive alguns livros, os quais comentarei em outra oportunidade. Acesse aqui (toda a produção está em inglês). Logo postarei um link para um artigo dele em espanhol.

Na página dele, você vai encontrar o curriculum (em PDF). Para uma informação rápida, acesse aqui.

Quer mais? Assista, abaixo, um vídeo com uma rápida intervenção de Greif.

As descobertas de petróleo e a briga de cachorros grandes

Você tem acompanhado a discussão sobre as descobertas petroliféras no litoral sul do Brasil? Tem alguma posição sobre a criação ou não de uma nova empresa estatal para tratar dessa nova área de exploração? Bom, esse não é um debate qualquer. Ele diz muito sobre o que nós queremos ser quando crescermos, para usar aqui um velho e surrado lugar-comum. Então, para início de conversa, é bom ir se acostumando aí com informações sobre o pré-sal (saiba mais sobre o Campo de Tupi e o pré-sal aqui) e sobre o que está por trás da discussão sobre a criação de uma nova estatal. É briga de cachorro grande, pode apostar. Então, não podemos ficar a ver navios, como se diz em terras d'além mar, não é mesmo? Passo, então, a partir de agora, a coloar alguns links com posições de atores sociais e políticos os mais diversos. Vamos lá?

Bueno, você pode começar sabendo o que pensa a respeito o ex-ministro Palocci. Em artigo, publicado no site do PT, o atual deputado defende uma posição que tem crescido em determinados setores do Governo Lula. Acesse o artigo aqui. Siga adiante e veja o que pensa um dos diretores da Casa das Garças, um think tank tucano, em artigo publicado no jornal O Estado de São Paulo. Leia-o aqui. Se ainda tiver disposição, então leia uma entrevista do Beluzzo, publicada no Estadão de ontem. Eu coloco aqui o link para a entrevista no Jornal da Ciência. Por dois motivos: não conseguiu localizar o artigo no jornal paulista e, não menos importante, porque, quem sabe, você não passa a se tornar um eleitor assíduo dessa ótima publicação eletrônica (o JC).

Um bom estudo sobre gangues juvenis



Sociedade de Esquina não é apenas um bom livro de ciências sociais, é também uma boa leitura. Um marco na pesquisa qualitativa, especialmente na chamada "observação partcipante". Escrito por William Foot Whyte, o livro é uma leitura obrigatória para quem quer pensar, ou pesquisar, sobre o universo das gangues juvenis. Resultado de um trabalho de investigação realizado nos EUA, no início da década de quarenta do século passado, a obra pode ser instrutiva também para quem quer se iniciar na arte da pesquisa antropológica.

Bom. Aproveito para indicar uma resenha do livro, publicada na revista "Sociedade e Estado" da UNB. Acesse aqui.

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Micarla leva a melhor no último bloco

Fátima e Micarla, presenteadas com direitos de resposta, defenderam as alianças que sustentam as suas candidaturas. Neste bloco, cada candidato faz sua última intervenção. Joanilson iniciou o bloco falando com a empolgação de um causídico em tribunal. Discorreu sobre a sua candidatura. Miguel Mossoró veio em seguida. Não juntou alhos com bugalhos. Fátima foi a terceira. Tensa, fez uma apresentação sintética de suas propostas. No final, citando letra de Caetano Veloso, afirmou que "quando a gente ama, a gente cuida". Tentou sorrir, mas não conseguiu. É o peso de ter que se sair bem. Dário fez ataques aos "acordões". Nada de novo. Sandro falou que também amadureceu. E nos brindou com Karl Marx: "a prática é o critério da verdade". Preocupado com o tempo, ficou dirigindo o seu olhar para o mediador. Foi o traço negativo. Pedro Quithê quer aprender. Vai ter tempo, vai ter tempo. E terminou pedindo um real. Wolber, o penúltimo a intervir, falou sobre as suas andanças por Natal e de sua biografia política. E Micarla, enfim, fez a intervenção final. Só sorrisos e agradecimentos. Nada de novo, mas também nada que comprometa. Soube dosar seriedade e leveza.

Parei um pouco...

Não consegui manter o ritmo. Fui tomar um drink. Voltei! Bem no momento da intervenção de Dário Barbosa. Uma tabelinha entre Joanilson e Dário, contra a corrupção. Moralismo demais, política de menos. Trotsky de braços dados com o conservadorismo cristão!

O grande confronto do debate: Miguel Mossoró X Pedro Quithê

Pronto! Ocorreu o grande enfrentamento do debate: Miguel Mossoró e Pedro Quithê. Mãozada ou tapa? Pedro Quithê critica a violência verbal de Mossoró contra os turistas. E Mossoró ameaçou revelar uma conversa de bastidores, em sua conversa, com o tal Pedro. Eu, hein? Aí tem!

Plano 100, sem saída.

Fátima questiona Miguel Mossoró sobre educação. E Miguel Mossoró apresenta, enfim, uma novidade: levar os melhores alunos das escolas públicas municipais para a Disney. Bueno, Pateta e Pato Donald para todos!

Fátima defende a aliança com Vilma e com o PMDB

Fátima, questionada por Sandro, tentou defender a aliança de partidos que dá sustentação à sua candidatura. Fez menção ao amadurecimento dela, de Vilma e do PMDB. E esse amadurecimento, diz ela, é próprio da democracia. De quebra, elogios à Henirque Alves.

Micarla está bem

Micarla, não é surpresa, utiliza bem a TV. Dirige-se, com segurança, ao telespectador. E é menos agressiva do que Fátima. Na TV, dizem os marqueteiros, não dá para ser agressivo. O candidato, quando fala na televisão, está, na maioria das vezes, há apenas um ou dois metros de distância de quem está assiti-lo.

Dário encosta Micarla na parede

Sua candidatura também não é um acordão? Essa a questão formulada por Dário Barbosa. Dário diz ainda que Micarla, e o seu partido, o PV, estão na base do Lula e de Vilma. E Micarla, serelepe, não se fez de rogada. Rechacou o acordão e, como não é boba, afirmou, sim, que o seu PV faz parte da base de Lula e de Vilma. Não foi besta, por exemplo, de realçar o apoio de Zé Agripino (DEM) à sua candidatura. Agora, Micarla alfineta Carlos Eduardo em uma pergunta a Sandro Pimentel. E Sandro, como era de se esperar, foi de pau. E aí caiu um pouco. Pela oposição genérica. E escorregou um pouco na maionese. Não dá para culpar o prefeito pelos assaltos aos ônibus. No final, saiu-se melhor fazendo um ataque indireto à Fátima.

Pelo menos tem diversão...

Essa é a opinião de minha mulher, Andréa, após o término do terceiro bloco. Refere-se aos questionamentos sobre turismo feitos pelo Quithê.

Turismo, tapas e preconceitos

Pedro Quithé questiona Dário Barbosa sobre o turismo. Lugares-comuns e preconceitos afloraram. Barbosa, apesar de uma análise crítica razoável sobre a atividade turística em Natal, não conseguiu propor nada de muito razoável. Mais uma vez, ecoando vozes conservadoras e xenófobas, fez-se uma equalização entre turismo, prostituição e prostituição infantil. O Quithé (ou será Quithê, ainda não sei) fez uma pequena provocação: falou que não vai se resolver os problemas do turismo com tapas. Miguel Mossoró, conhecido por sua proposta de tratar os "gringos" no tapa, sentiu-se ofendido. Uma diversão à parte.

Wolber e Fátima

Fátima, questionada sobre o transporte urbano em Natal, não se saiu tambem. Além de um problema prático com o microfone, Fátima se enrolou na demagogia. Segundo ela, já andou de ônibus. Bom, alguém mais irônico poderia dizer, mas isso faz muito tempo, deputada. Wolber melhorou, falou com mais segurança e firmeza na tréplica.

Sandro questiona Micarla sobre trânsito em Natal

Sandro questionou Micarla sobre o que fazer com o trânsito em Natal. Micarla respondeu bem. Apontou dados sobre o crescimento do número de veículos na cidade. E fez menção a algumas propostas "verdes" (e irreais, convenhamos), como a bicicleta como alternativa de transporte. Sandro, na tréplica, também foi bem. Muito diferente do que faziam os candidatos do PT nos anos 80, para tomar uma referência de esquerda sem chances reais de conquistar o poder, Sandro fez uma análise da realidade local, apontou dados e se dirigiu a setores específicos, como os motoristas de taxi.

Começou o terceiro bloco

Miguel Mossoró deveria fazer a primeira pergunta de candidato para candidato. Deveria. Atrapalhou-se, e, somente depois de alertado pelo apresentador, dirigiu-se a Joanilson. Na sua tréplica, foi, digamos, infeliz. Joanilson tentou se firmar como o representante dos cristãos.

Fátima se sai melhor no segundo bloco

O segundo bloco mostra o quão esdrúxulo é o processo eleitoral eleitoral brasileiro. Por que todos os candidatos precisam participar de todos os debates? A presença de todos, penso eu, mais atrapalha do que ajuda o debate. Miguel Mossoró, nesse bloco, tentou reviver as boutades da última eleição para prefeito. A sua verve de humorista parece que está esgotada. Wolber foi melhor e falou com mais segurança. Micarla também evoluiu, falou de esgotamento sanitário, e, embora genérica, apontou críticas razoáveis à atual administração municipal. Sandro continuou bem. Dário não conseguiu demarcar um espaço próprio. Joanilson falou da cultura... do seridó. E Pedro Quithé? Não dá prá lembrar... Fátima falou com veemência, mostrou que é candidata de continuação e fez menção ao Governo Lula. Foi um movimento objetivo: procurou se vincular à Carlos Eduardo e à Lula. Foi competente! Foi a melhor candidata nesse segundo bloco.

O primeiro bloco: Sandro surpreende.

O apresentador perdeu um precioso tempo com as urnas de vidro nas quais estão colocados papéis com os nomes dos candidatos e os temas para o debate. Fátima iniciou o debate e fez uma pergunta a Wolber Jr. Wolber não foi bem. Sinceramente, esperava mais dele. Fátima, na tréplica, demonstrou segurança. E isso é importante, sabemos bem, na avaliação geral que o telespectador faz do desempenho dos candidatos. Micarla não foi muito longe, mas, como está na frente nas pesquisas, não pode é escorregar em alguma casca de banana (algo que não ocorrerá, devido ao engessamento das regras do debate). E os demais candidatos? Joanilson, Pedro Quithé e Dário corresponderam à expectativa geral: falar como candidatos sem chance e que estão apenas "marcando posição". O tom destoante, nesse primeiro bloco, deveu-se ao desempenho de Sandro Pimentel. De longe, foi o candidato que melhor usou o tempo. Falou sobre segurança pública. E falou bem. Demonstrou conhecimento sobre o tema e até alfinetou os que identificam a solução dos problemas de segurança pública condicionada à resolução da questão social. Soube ainda diferenciar o que é responsabilidade de cada alçada de governo em relação ao tema. No primeiro bloco, foi o candidato que se saiu melhor.

Iniciado o debate com os candidatos à prefeitura de Natal

Iniciado há pouco, na TV Universitária, o debate com os candidatos à prefeitura de Natal. Trata-se de uma promoção do Centro Acadêmico Amaro Cavalcanti, entidade estudantil representativa dos estudantes de Direito da UFRN, e pioneira na promoção de debates públicos eleitorais no Rio Grande do Norte.

O importante é que o debate ocorre um dia antes do início do horário eleitoral. O momento, entretanto, não é o melhor, dado que as atenções ainda estão voltadas para os Jogos Olímpicos de Pequim. Por outro lado, embora em concorrência direta com o Jornal Nacional, da TV Globo, o horário do debate não poderia ser melhor. Acredito que não poucas pessoas, zapeando na TV, acompanharão, nem que seja por alguns minutos, esse primeiro confronto. Daí a sua importância. Daqui em diante, na medida do possível, tecerei alguns comentários sobre o desempenho dos(as) candidatos (as) e sobre a evolução do debate.

Violência na escola

Leia, abaixo, trecho de matéria publicada hoje no jornal Folha de São Paulo.

comportamento

Celular do mal
Violência, constrangimento e trapaças entram no foco das câmeras de celulares em colégios de SP; torpedos divulgam "brincadeiras"


LETICIA DE CASTRO
DA REPORTAGEM LOCAL

"As escolas vetaram e o governo proibiu. Mas todo esse esforço não é suficiente para banir de vez os celulares das escolas. Seja para gravar vídeos, ouvir música ou passar cola, os adolescentes driblam a atenção dos professores e continuam usando o aparelho em plena sala de aula.
A nova mania é filmar brigas e outras "brincadeiras" violentas e constrangedoras, como tapões na cara e montinhos (quando um garoto é derrubado no chão e um grupo se joga em cima dele), e depois distribuir as imagens por bluetooth ou MSN para a turma e ainda jogar o vídeo no YouTube.
Em uma tradicional escola particular de São Paulo, a moda ganhou um nome: "cinco minutos sem perder a amizade".
"É quando um amigo desafia o outro para uma briga de cinco minutos. A idéia é ver quem chora e desiste primeiro", conta André, 16, aluno do segundo ano do ensino médio.(..,)

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sábado, 16 de agosto de 2008

Em São Paulo

Após uma noite de viagem, embalado por Morfeu no ônibus-leito que me trouxe de Londrina, cheguei em Sampa. Como é bom estar aqui! Sempre adorei esta cidade, embora ela me desconcerte. Especialmente devido ao fato da rápida metamorfose de suas paisagens. Faço o de sempre, quando de passagem rápida pela cidade. Na rodoviária, desvencilho-me das malas e cuias, pego um metrô e vou correndo para a Estação São Bento. O objetivo é chegar cedo ao Mercado Municipal. Desço pela Ladeira Geral. Hoje, lá de cima, pude assistir a uma estranha coreografia. De um lado, carros, motos e homens fardados da Guarda Civil Metropolitana; de outro, milhares de camelôs correndo com as suas sacolas plásticas pretas. Desviam-se para ruas adjacentes à 25 de março. Os guardas os perseguem, eles voltam para a rua anterior. Vou para o meio deles. É como se estivesse em um babel hegemonizada por cearenses. Em meio a coreanos, bolivianos, peruanos e nisseis, os cearenses predominam. E dão um outro contorno a esse enfrentamento cotidiano com a repressão. Riem, gritam, correm e param. Entabulam conversas. Não poucas vezes, ouvi alguém gritando "compadre". Laços de parentesco também são ressaltados: "mãe, não precisa correr, não"; "filha, entra na loja e se mistura", "vai, primo, vai...". Peguei a rua da Galeria Pajé, o centro do comércio ilegal da cidade, e fui para o Mercado. É uma beleza arquitetônica! Grande, cheio de barracas nacionalmente conhecidas. Vocês se lembram que o Toni Ramos, em uma telenovela global, era dono de uma barraca aqui. A "sua" barraca, a "barraca do juca", é uma das mais vistosas. O cheiro das frutas de um lado. Do outro, as especiarias emprestam seu perfume. E dá-lhe comida árabe! Frutas secas, queijos e vinhos. É uma festa para os olhos e para o olfato. É de embasbacar. Posto-me em frente a uma famosa barraca, tantas vezes televiosanada no Programa da Ana Maria Braga, e olho tristonho para os pastéis de bacalhau e os sanduíches de mortadela. Não posso sucumbir ao desejo, a vesícula me avisa. Fecho os olhos e sinto o cheiro, isso, sim, posso fazer. O passeio pelo Mercado, reformado na administração da Marta Suplicy, é uma das melhores coisas para se fazer em São Paulo, e, embora tenha pouco tempo, já que, daqui há pouco, estarei voando, quero aproveitar. Tomo um café e procuro escutar as conversas, guardar os sotaques. Após um pouco de tempo, olho as horas, e é tempo de ir embora. Vou caminhar até a Praça da República. Tudo está muito mudado. Mais limpo, sem comércio ambulante, mas também sem a vida de antes. Ruas, antes tão vibrantes, agora estão tomadas por financeiras querendo seduzir os passantes com empréstimos fáceis. Não vejo mais os meus pontos de referência. Meio cansado, vou tomar um outro café, agora perto do Copan, onde "mora" o Zé Bob, de "A favorita". Em frente ao prédio, moradores de rua, dentre eles crianças, dormem ao sol. É, estou em São Paulo. Pro bem e pro mal. Agora, infelizmente, é hora de me despedir. Até logo!

Uma despedida com estilo

Passei os últimos dias curtindo a companhia do meu filho, que mora em Londrina. Também re-encontrei velhos amigos. Com Tomazzi e Eliana, tomei uma cervas e comi uns bolinhos de bacalhau, na quinta. Com o Felipe, meu filho, passei bem mais tempo. Ontem, almoçamos, como em todos esses dias, em um restaurante vegetariano de uns amigos chineses. Depois, fomos ao Shopping assitir a um filme. Vimos Zohan, uma comédia bem pastelão, mas muito legal. Rimos sem parar. Já era final de tarde, fomos a um ótimo restaurante italiano, localizado em um dos mercados públicos da cidade. Lá, comemos um maravilhoso conchilhone verde envolto em um molho de gorgonzola com espinafre. Para acompanhar, um salmão grelhado. Estava divino. Há décadas não comia um peixe tão gostoso! Para dar conta desse manjar, só tomando uma taça do vinho da casa. Uma maravilha! Depois de tudo, para satisfazer a gula, um sorvete de creme atolado em uma calda de banana flambada. A depesa, bom, essa a gente empurra para o futuro. E dá-lhe cartão de crédito! Como era aconselhável, caminhamos um pouco na agradável noite londrinense. Tomamos um ônibus, deixei o meu herdeiro em casa e fui para a rodoviária, dividido entre a saudade que já sangrava no meu peito e o bem-estar dessa noite tão agradável. Maravilha! Valeu, Felipe!

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

O combate à prostituição é a cara do fascismo


A fota acima choca a Itália. Ou, ao menos, envergonha as pessoas de bom senso do país. Trata-se de uma suposta "prostituta" nigeriana, visivelmente alvo de maus-tratos, abandonada em uma delegacia da cidade de Parma. É a face mais cruenta da xenofobia e da onda fascistizante que se espalha pelo país (e por outras partes da Europa), após a ascensão ao poder da direita representada pelo magnata Sílvio Berluscone. A jovem da foto, segundo o Estadão, foi detida em uma operação anti-prostituição. A onda anti-imigrantes, na Itália, também tem a cara do moralismo dos fariseus.

Parada gay, respeito à diferença e violência

Em Israel, os religiosos ultra-ortodoxos têm tentado, nos últimos anos, impedir a realização de paradas gays no país. Há até um projeto de lei, proposto pelos parlamentares representantes dos partidos religiosos, proibindo a realização das manifestações gays.

Já em Natal, capital do Rio Grande do Norte, no ano passado, a parada gay reuniu cerca de 70 mil pessoas. Quase 10% da população local esteve participando do evento. E tem sido assim em quase todas as edições do evento. Com a exceção de Joacy Pascoal, os políticos locais têm disputado um lugar nos palanques do evento. O prefeito se faz presente. Algumas vezes, a governadora também.

Além da parada Gay, durante o carnaval, Natal realiza o famoso "desfile das Kengas". É mais uma festa gay na cidade. Eu já ia dizendo, e sendo impreciso, como se verá mais adiante, da "comunidade gay da cidade". Travestis são celebrados nessas ocasiões. Os políticos aparecem. O prefeito faz discursos.

O que podemos concluir? Em Natal, há respeito à diferença e existe uma saudável cultura de tolerância. Já em Israel, somos obrigados a concluir, há um obscurantismo religioso. Assim, em Natal, os gays sofrem menos violência, têm apoio para enfrentar situações de restrição à sua cidadania. Em Israel, não. Travestis devem ser molestados nas ruas. E os crimes contra homossexuais devem ser elevados.

Perdoe-me, mas as conclusões acima estão completamente equivocadas. Nos últimos dois anos, a violência contra gays em Natal tem sido crescente. Já chega a uma dezena o número de homicídios contra homossexuais. E, caso se tenha curiosidade, basta conversar com os travestis da cidade, especialmente com aqueles que atuam na Avenida Roberto Freire, para se tomar conhecimento de uma assustadora escalada de violência. Experimentados, os travestis não procuram mais a polícia para denunciar os maus-tratos e o não cumprimento de contratos pelos seus clientes. E em Israel? Lá, um homicídio é um homicídio e é tratado e investigado enquanto tal pela polícia. No país em que são feitas manifestações contra as paradas gays, a idéia de que o assassinato de um gay mereça menos atenção investigativa da polícia seria tomada como uma afronta, um escândalo. No Brasil, aparentemente tão cioso do respeito à diferença, infelizmente, isso é a coisa mais comum do mundo.

O que podemos depreender dessa realidade? Uma primeira e importante constatação é a de que a diferença, no Brasil, é muito mais canibalizada do que realmente aceita, reconhecida. A aparente pluralidade sublima uma perigosa intolerância para com o(a) outro(a). É bom que tenhamos festa, mas, enquanto celebramos a beleza das paradas, podíamos e, cá do meu canto atrevo-me a propor, devíamos fazer algo mais. E esse algo mais, no que diz respeito ao mundo acadêmico, seria apontar dados, fazer levantamentos sobre a violência contra gays e lésbicas em cidades como Natal e construir análises substantivas corroboradas por referentes empíricos razoáveis. Trata-se, por certo, de coisa trabalhosa e desagradável. Especialmente para quem é acostumado a resolver tudo com base na retórica e no recurso aos lugares-comuns pseudo-críticos de sempre.

E aí fico me perguntando: existem acadêmicos nas instituições universitárias de Natal preocupados com a violência contra gays em Natal? O que eles têm produzido a respeito? Existem teses, dissertações e monografias que tomam gays e lésbicas como referentes, reconheço. Mas, diga-me você se connhece, quantos desses trabalhos fizeram levantamentos exaustivos de casos de violência contra gays e lésbicas da cidade? E mais importante: quantos apontaram, a partir de um criterioso levantamento empiríco, os fios condutores que unem os crimes contra os homossexuais? Sem esse "dever de casa", como municiar os atores políticos e sociais com indicações seguras sobre como atuar propositivamente para enfrentar uma violência que diminui a cidadania no Brasil? Ou, ao contrário, alguém pensa que já tem a resposta e esse tipo de pesquisa não é importante?

Me vem à mente o exemplo da academia nos EUA. Conheço não poucos trabalhos, de boa qualidade científica, dedicados a analisar os crimes contra os homossexuais naquele país. Trata-se de uma outra cultura acadêmica, tá certo. Lá, apenas conversa bonita não resolve. Como faz falta essa disposição entre nós!

Voltando à Natal. Certamente existem personalidades que têm empenhado suas vidas na luta pelo direito à diferença. São pessoas combativas, que denunciam a violência homofóbica, e, procuram, com os recursos de que dispõem, enfrentar a intolerância. Mas são eles expressões de uma "comunidade"? Tenho minhas dúvidas. Uma comunidade pressupõe laços fortes e redes sociais extensivas. Em situações de cercamento por um mundo hostil, é uma fortaleza a proteger o indíviduo. Ora, caso tal comunidade realmente existisse em Natal, ela já teria cobrado dos acadêmicos locais algo mais do que belas demonstrações de retórica.

Cá no meu canto, modestamente e sem alarde, tenho tentado construir um banco de dados sobre a violência homofóbica na Grande Natal. Mas é um trabalho dentre outros que desenvolvo. Sem apoios, vagaroso. E a realidade está a exigir respostas rápidas. Seria muito bom saber que existe algum grupo de pesquisa sistematizando dados e processando informações sobre essa realidade. Bom para cidadania. Bom para a pluralidade.

Para concluir, penso que, paradoxalmente, um gay talvez esteja mais seguro em Israel do que em Natal. Mesmo com as paradas sendo aceitas aqui e tão rejeitadas lá.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Trânsito e transporte público em Londrina

Continuo em Londrina. Foi um dia de chuva por aqui. A temperatura baixou um pouco e está bem agradável. Há uma semanana por aqui, chama-me a atenção o fato de, em que pese a reclamação de alguns amigos, a cidade que conta com mais de 500 mil habitantes, continue tendo um bom trânsito e uma boa oferta de transporte coletivo. Muito diferente de Natal, cidade onde moro nos últimos anos. Aqui, há uma boa estrutura de estacionamento no centro e avenidas largas onde o trânsito flui com razoável tranqüilidade. Para quem, como eu, transita todos os dias pela Br 101, e tem começado a se estressar com os engarrafamentos da "cidade do sol", isso aqui parece um modelo ideal.

Para se ter uma idéia, cheguei há pouco do outro lado da cidade. Estou hospedado em um hotel perto da rodoviária, na parte central da cidade, e estive visitando velhos amigos de uma comunidade chinesa local. Uma noite de chá e de conversa sobre temas amenos, como o I Ching por exemplo. Pois bem, após muito chá, caminhei até o ponto de ônibus, e, as 9:30, peguei um ônibus para o terminal central. Nesse terminal, sem pagar nada, peguei um outro ônibus. Caminhei mais algumas quadras. Cheguei no hotel exatamente as 9:50 horas. Uma cidade assim causa um pouco de inveja, não?

Violência e polícia: a visão de quem mora na favela

Qual a percepção das pessoas que moram nas favelas cariocas sobre a violêcia e as ações policiais? Em artigo publicado na revista Sociedade e Estado, da UNB, Luiz Antônio Machado da Silva e Márcia Pereira Leite investigam essa questão. Intitulado "Violência, crime e polícia: o que os favelados dizem quando falam desses temas?", o artigo está disponível aqui.

Mapa da violência

Informação qualificada, essa a grande ausente, via de regra, do debate sobre segurança pública no Brasil. O emocionalismo e o achismo dominam a cena. Daí a importância de trabalhos como aquele que tem sido desenvolvido por Julio Jacobo Wailselfisz. Refiro-me, em especial, ao artigo "Mapa das motes por violência". Leia o artigo aqui.

Violência e segurança pública

A antropóloga Alba Zaluar é uma especialista sobre violência e segurança pública no Brasil. Durante algum tempo, manteve uma ótima coluna semanal no jornal Folha de São Paulo para tratar das temáticas às quais se dedica. Recentemente publicou, na revista Estudos Avançados, um artigo intitulado "Democratização inacabada: fracasso da segurança pública". Trata-se de uma instigante análise sobre o não enfrentamento do "legado" autoritário da ditadura e de como essa ausência impacta a segurança pública nos nossos dias. O caminho seguido é o de uma abordagem sobre os vetores institucionais da impunidade, da criminalidade organizada e da violência no Brasil atual sem deixar de articular esses elementos com forças estruturais transnacionais. Vale a pena conferir! Acesse aqui o artigo.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Crime organizado e transações econômicas: o caso do roubo de cargas.Notas para um projeto de pesquisa.

O roubo de cargas é uma das principais expressões do crime organizado no Brasil contemporâneo. Diferente de outras atividades criminosas, como o tráfico de drogas, trata-se de um tipo de atividade que propicia uma articulação profunda com o mundo econômico formal. Enquanto em outras atividades criminosas, os laços com a economia formal se concretizam mais fortemente quando da legalização do dinheiro obtido através de atividades delituosas, no roubo de cargas, essa conexão é parte constitutiva mesma do empreendimento. Assim, o roubo de cargas pode ser apreendido como uma espécie de “sistema”, no qual os assaltos e roubos de cargas são apenas a parte “submersa” de um campo de ação que se alastra largamente pela vida social brasileira, particularmente nas transações econômicas.

Por isso mesmo, entendo que tomar essa atividade como objeto de reflexão sociológica exige-nos, em primeiro lugar, a ruptura com as narrativas insinuantes a respeito de uma engenhosa máquina criminosa, geralmente legitimada pela imaginação cinematográfica sobre a máfia. Assim, ao invés de se buscar super-organizações, dirige-se o olhar para as redes que conectam atividades legais (venda de remédios, combustíveis e produtos eletrônicos, por exemplo) com práticas claramente delituosas.

Esse caminho possibilita uma investigação sociológica mais fecunda, dado que pode fornecer elementos para uma compreensão a respeito das bases sociais do desenvolvimento dessa atividade criminosa. Isso porque direciona o nosso olhar sobre as demandas sociais que produzem, em grande parte como efeitos não-intencionados, os contornos do mercado de cargas roubadas.

Por outro lado, do ponto vista da sociologia, trata-se de ter como objetivo analítico não o desvendamento da natureza mesma da atividade do roubo de cargas no Brasil, mas a apreensão mesma da configuração do mercado de cargas roubadas tal qual este se estruturou no país a partir do início da década de noventa.

Essa questão central expressa, sobremaneira, a perspectiva epistemológica subjacente ao projeto de análise do social proposto por Mustafa Emirbayer (nos arquivos do blog, encontra-se uma apresentação desse importante centista social), a chamada “sociologia relacional”. A sua tradução concreta é a superação da tentativa de impor, a priori, uma estrutura à realidade e aos atores. Assim, tomando o mercado de cargas roubadas (e o “sistema” maior que o engloba que é o do “roubo de cargas”) como uma configuração social que é tanto resultado previsível de ações deliberadas de atores quanto o resultado não-previsto de ações realizadas por atores que, embora tenham competência para articular discursivamente uma resposta a respeito de porque fazem o que fazem, não têm nunca o controle do resultado de tais ações.

E essas ações dizem respeito não a atributos (elementos que antecipadamente definiriam tais atores), mas a resultados das suas interações. Interações que também não são realizadas por unidades atomizadas, mas por atores situados em redes sociais mais ou menos flexíveis. Esse tipo de apreensão aponta para uma outra questão que funcionará como um complemento daquela anunciada mais acima como central. Refiro-me à natureza dessas redes. Entender como esse mercado se configura e os elementos que o instituem deve necessariamente ser complementado por interrogações também sobre as redes que o atravessam e as posições dos atores dentro delas.

Essa abordagem legitima algumas questões importantes. Qual o padrão de estruturação das redes sociais do crime organizado no Brasil atualmente? São marcadamente hierárquicas ou se articulam, de forma precária e flexível, tendo como suporte os recursos à violência física (assassinatos, intimidações, seqüestros) para, nas situações limites, garantir a execução dos contratos?

Finalmente, questionar sobre o que é, como se configura e o que constitui o mercado do roubo de cargas implica em aposta numa perspectiva analítica distinta daquela que têm sido normalmente seguida por alguns dos mais importantes pesquisadores da violência no Brasil, como é o caso de Sérgio Adorno, que, em geral, partem do fato de que o crime produz uma “economia subterrânea”. Assim, trata-se de procurar cá no chão social, tido como formal, as bases e os elementos que dão forma e legitimidade àquelas ações e transações econômicas tidas como submersas.

Justiça julga nesta 3ª ação contra Ustra, acusado de tortura

Leia, abaixo, matéria publicada hoje no Estadão. Mais abaixo, comento.

Ação de família de jornalista, morto no DOI-Codi na ditadura, pretende declarar a responsabilidade do coronel
da Redação

SÃO PAULO - O Tribunal de Justiça de São Paulo julgará nesta terça-feira, 12, ação que pretende declarar a responsabilidade civil do coronel reformado do Exército Carlos Alberto Brilhante Ustra pela morte do jornalista Luiz Eduardo da Rocha Merlino, em 1971.

Ustra comandava entre 1970 e 1974 o Departamento de Operações e Informações do Exército (DOI-Codi), em São Paulo, órgão de inteligência e repressão do governo militar. Três desembargadores do TJ vão julgar o recurso de Ustra para barrar a ação que tem o ministro da Secretaria Especial de Direitos Humanos, Paulo Vanucchi como testemunha de acusação.

No último dia 31, o ministro da Justiça, Tarso Genro, defendeu a punição aos torturadores e provocou a ira dos militares. Segundo Tarso, quem torturou cometeu crime comum, e não político, e deve estar sujeito ao Código Penal. Os militares reagiram à declaração e convocaram um ato com a presença de altas patentes das Forças Armadas na ativa na semana passada.


É por esse motivo que a "nova direita" anda mais agressiva do que nunca nos últimos dias. Tarso Genro, de forma irretocável, tem apontado a direção correta para o enfrenamento dessa questão, central para a superação da nossa cultura de impunidade. Devia merecer maior apoio de todos quantos nos preocupamos com a efetivação dos direitos humanos neste país.

Clóvis Rossi e a tortura

Tarso Genro, ao tocar em uma questão fundamental para a vida democrática brasilieira como a punição dos envolvidos com os crimes de tortura durante a ditadura militar, provocou uma reação irada não apenas dos militares, mas também dos escribas da "nova direita" na grande imprensa. Clóvis Rossi, com lucidez, aponta em outra direção. Vale a pena conferir o que ele escreveu hoje no jornal Folha de São Paulo. Abaixo, uma parte da coluna.

"CLÓVIS ROSSI

De torturas e punições

SÃO PAULO - Há duas confusões, que parecem pura má-fé, na equiparação que setores das Forças Armadas estão fazendo entre a ação dos que pegaram em armas contra o regime militar e a ação dos militares que os reprimiram.
Primeiro, agentes do Estado não podem recorrer à delinqüência para reprimir delinqüência de inimigos. Matar em combate é uma coisa, matar (ou torturar) quem já está preso é borrar a fronteira entre a civilização e a barbárie, tal como ocorre quando, em nome de um projeto político, se matam ou torturam não-combatentes.
A segunda -e principal confusão, porque não é conceitual, mas factual- trata da impunidade. Praticamente todos os que pegaram em armas contra a ditadura foram punidos. Punidos foram muitos que nem pegaram em armas (vide o caso do jornalista Vladimir Herzog, assassinado nos porões do aparelho repressivo, mesmo não tendo aderido à luta armada).
Alguns oposicionistas foram punidos no marco da lei, ainda que certas leis repressivas fossem ilegítimas, porque editadas por um governo não surgido do voto livre dos cidadãos. Mas um punhado deles foi punido muito além da lei, com assassinatos, torturas (inclusive de parentes não envolvidos na luta), desaparecimentos (caso de Rubens Paiva, que nada tinha a ver com a luta armada), banimento e por aí vai.
Do lado oposto, no entanto, ninguém foi punido. Muitos, ao contrário, foram promovidos. A impunidade deu margem, por exemplo, ao atentado do Riocentro, em que só um acidente de trabalho impediu uma tragédia inenarrável (a bomba explodiu no colo do militar que ia atacar um show musical supostamente de esquerda).(...)"


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A classe média

No vídeo abaixo, um retrato, com humor corrosivo, da classe média brasileira, por Max Gonzaga e Banda Marginal.

Ainda sobre a vitória de Evo Morales

Leia aqui análise do Gilson Caroni Filho, da Carta Maior, sobre a vitória do Presidente Evo Morales no referendo ocorrido no domingo passado na Bolívia.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Saindo do Bolsa-Família

Leia a matéria abaixo, publicada hoje no Estadão. Comento mais abaixo.

Beneficiários que melhoram de vida pedem para sair do Bolsa-Família
Desde a criação do programa, em 2004, 60.165 famílias pediram voluntariamente seu desligamento
Roldão Arruda
"Bom dia! Eu, Sueli Miranda de Carvalho Silva, venho, por meio destas linhas, agradecer os idealizadores do Bolsa-Família, os anos que fui beneficiada. Ajudou-me na mesa, o pão de cada dia. Agora, empregada estou e quero que outro sinta o mesmo prazer que eu, de todo mês ser beneficiada. Obrigado."

Com essa cartinha, enviada à coordenação municipal do Programa Bolsa-Família em Belo Horizonte, a ajudante de serviços gerais Sueli Miranda, de 47 anos, pediu dias atrás seu desligamento. Mãe de quatro filhos, moradora do bairro Jaqueline, na periferia da capital mineira e com uma renda familiar mensal de R$ 200, há um ano e meio ela recebia R$ 122 de ajuda do programa de transferência de renda. Agora, recém-contratada por uma revenda de automóveis e "fichada", como ela diz, ao se referir ao registro em carteira profissional, acha que deve deixar a vaga para alguém mais precisado.

A cartinha foi festejada na coordenação municipal do programa, que despachou uma cópia para Brasília, para a sede do Ministério do Desenvolvimento Social - o quartel-general do programa que atende 11,2 milhões de famílias, distribuídas por todos os municípios brasileiros. Lá, o caso de Sueli ajudou a engrossar uma estatística que soa como música aos ouvidos do ministro Patrus Ananias: recém-atualizada, ela mostra que desde a criação do programa, em 2004, um total de 60.165 famílias pediram voluntariamente seu desligamento .

"Isso mostra que as pessoas pobres não estão se acomodando", diz o ministro. "Em todos esses casos, as famílias tomaram a iniciativa."

RENDA

Mais da metade dos pedidos - 34.185 - veio das Regiões Sul e Sudeste do País. E na maior parte das vezes a justificativa foi o aumento na renda das famílias.

Creunilde de Oliveira, empregada doméstica, com 33 anos, pediu desligamento depois que sua patroa decidiu registrá-la. Mãe solteira de um garoto de 8 anos, estava desempregada e vivia da venda de panos de prato nas feiras de Cidade Soberana, bairro pobre da periferia de Guarulhos, na região metropolitana de São Paulo, quando se inscreveu no programa e passou a receber R$ 75 por mês.

Seguiu assim até que conseguiu o emprego, o registro em carteira e um empurrão da patroa para matricular-se num curso de auxiliar de enfermagem. "Fui salva pelo Bolsa-Família. Me ajudou pra caramba", conta Creunilde. "Mas agora não estou precisando. Liguei para a assistente social e disse: não acho justo."

A lavadeira Mercedes dos Santos Oliveira, de 53 anos, também procurou o serviço de assistência social da Prefeitura de Santo André, na região do ABC paulista, para pedir o desligamento. Seu motivo, porém, foi diferente: "Rasguei meu cartão porque minha filha mais nova, de 14 anos, parou de estudar. Então eu disse que não era justo continuar recebendo aqueles R$ 75 por mês. Me ajudava? Claro que ajudava: eu pagava o gás, comprava um calçado, material escolar... Mas não posso pegar mais esse dinheiro."

CADASTRO

À primeira vista, a devolução dos cartões revela um sentimento de cidadania entre os pobres beneficiados, além de indicar que o programa tem portas de saída. Mas não é só. Existem fortes indicadores de que esse movimento está ligado a outra questão: o aprimoramento do cadastro único do governo federal, que reúne as informações dos programas sociais.

Quem chama a atenção para o fato é o economista Marcelo Neri, chefe do Centro de Pesquisas Sociais da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Diante da estatística, ele comenta: "Sei que o pobre brasileiro é muito humilde e já soube de casos exemplares de pessoas que devolveram o cartão. Mas esse número, de 60 mil devoluções, aponta um grau espetacular de civilidade. É surpreendente."

Em seguida ele observa que, com o auxílio da informática, o cadastro único vem se transformando num mapa cada vez mais preciso da pobreza, com informações sobre renda, consumo, registros de emprego formal, educação, saúde, alimentação, mudança de endereço. "Isso melhorou muito a capacidade de gestão social no País", diz Neri.

A análise é partilhada por Rosani Cunha, que dirige a Secretaria Nacional de Renda e Cidadania. Ela diz que desde junho de 2006 o Bolsa-Família reúne um conjunto aproximado de 11 milhões de famílias. Isso não significa, no entanto, que esteja parado: "Nesse período, já saíram quase 2,7 milhões de famílias. Tem de tudo aí: desde as que saem por vontade própria às que são localizadas em auditorias. As prefeituras estão cada vez mais presentes no cotidiano dessas famílias. Podem detectar qualquer mudança e ir atrás."

TRANSPARÊNCIA

Em Santo André, o secretário municipal de Desenvolvimento Social, Ademar de Oliveira, confirma essa visão: "Na rotina do atendimento sócio-familiar, notamos que as famílias são transparentes. Além disso, temos um sistema de cruzamento de dados que permite acompanhar tudo o que acontece."

Se uma criança de família beneficiada deixa de ir à escola, a direção comunica o fato ao Conselho Tutelar da Criança e do Adolescente. Se não houver uma solução, a informação chega à assistência social, que controla o programa de transferência de renda e a família pode ser desligada. Da mesma forma, empregos com registro em carteira acabam sendo logo detectados pelo cadastro.

Diante disso, a família prefere se afastar voluntariamente, quando melhora de vida, a ser flagrada em irregularidade. A vantagem é que, se a situação tornar a piorar, ela pode pedir a reinscrição.

Isso não significa que não existam casos de pura solidariedade e cidadania. "Eles fazem parte da nossa rotina de trabalho", assegura o secretário Oliveira.


Comentário:

Lembro-me bem de que não poucos dentre os opositores do Presidente Lula, especialmente àqueles oriundos da classe média, encastelados no seu etnocentrismo de classe, denominam o Bolsa-Família de "bolsa-miséria" (sic) e afirmam que ele eterniza a dependência dos mais pobres em relação ao Estado. Ouvi isso, muitas vezes, até de bem pensantes, professores e alunos de nossas universidades. Esquecem, esses, o fato de que a pobreza não elimina regras morais e compromissos éticos. De vez em quando, sinto a vontade, quando escuto essas boutades pseudo-críticas, de mandar o distinto ou distinta que as pronuncia, especialmente se professor das ciências sociais, de volta para as aulas de introdução à antropologia. Nesse caso, uma boa leitura de Mary Douglas, particularmente do fantástico "Como pensam as instituições" ajudaria e muito.

A Bolívia, o referendo e a "nossa" imprensa



O presidente da Bolívia, Evo Morales, obteve mais de 60% dos votos no referendo de ontem. Nesse singular processo eleitoral, estava em jogo o mandato do presidente, de governadores e prefeitos. Bom, a cobertura da imprensa brasileira sobre a Bolívia, e mais especialmente sobre Evo Morales, é caricata e preconceituosa. E não se trata apenas da cada vez pior revista Veja. A Folha de São Paulo, nesse quesito, consegue ser pior do que o vetusto Estadão. Este post ficará gigantesco, mas é o jeito. Leia as coberturas da Folha e do Estadão, abaixo, e compare com aquela que é feita pelo jornal argentino Página 12.

FOLHA DE SÃO PAULO
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“Referendo ratifica Morales e autonomistas

Boca-de-urna indica prosseguimento do impasse político na Bolívia, já que presidente e principais opositores devem manter cargos

Devem perder cargo dois oposicionistas e um aliado de Morales; presidente diz que vai buscar agora a "reconciliação do país"

FLÁVIA MARREIRO
ENVIADA ESPECIAL A COCHABAMBA

Pesquisas de bocas-de-urna divulgadas por TVs na Bolívia apontavam que a população do país disse "sim" à gestão do presidente Evo Morales -mas também ao quarteto de governadores oposicionistas do leste do país- no referendo revogatório de ontem.
Segundo o dados do instituto Captura Consulting, Morales teria obtido 60% de "sim", contra 40% de "não", com grandes diferenças regionais. O presidente venceu em 5 dos 9 departamentos do país.
Seu principal rival, o governador de Santa Cruz, Rubén Costas, teria alcançado, segundo o mesmo instituto, 79% de votos favoráveis, enquanto seus companheiros oposicionistas de Tarija, Pando e Beni também permaneceriam em seus cargos. A margem de erro do estudo é de cinco pontos para mais ou menos.
Os únicos governadores revogados devem ser os oposicionistas Manfred Reyes Villa, de Cochabamba e José Luiz Paredes, de La Paz e o governista Alberto Aguilar, de Oruro. Os três deixariam os cargos independentemente da regra aplicada para interpretar os resultados, a aprovada pelo Congresso ou a modificada pelo Conselho Nacional Eleitoral (veja quadro).
Paredes, em coletiva à imprensa, admitiu a derrota, mas fez duras críticas ao governo, a quem acusou de instalar o medo no departamento de La Paz. "O político está sempre à frente da gestão", disse.
Já Reyes Villa disse ontem à tarde à Folha que não se submeteria ao resultado. "O povo me apoiará", disse (leia mais na pág. A15). Mais tarde, em coletiva, disse que seguirá "batalhando legalmente" para ficar no cargo. A polícia reforçou a segurança da sede do governo de Cochabamba para impedir que grupos ligados ao ao partido do presidente, o MAS (Movimento ao Socialismo), tentassem tomá-la à força.
Apesar da tensão que antecedeu o dia da votação, só foram registrados incidentes pontuais ontem no país inteiro. Houve várias denúncias de duplicação de títulos eleitorais, mas a opinião dos observadores internacionais do país era de que o processo transcorreu sem maiores problemas.
Se confirmado, o cenário era o esperado pelas últimas pesquisas de opinião e analistas e mantém, a princípio, o eixo de conflito na Bolívia: o altiplano, liderado por La Paz, com Morales, e a meia-lua, no leste, com lideranças regionais que desejam autonomia.
Ontem, após votar em Villa Tanuri , no Chapare, seu berço político no departamento de Cochabamba, o presidente boliviano voltou a dizer que buscaria a "reconciliação" do país após o referendo. Disse também que prentendia retomar a discussão, com a oposição, sobre a Constituição aprovada no ano passado e pendente de referendo. A nova Carta é um dos principais pontos de divergência entre as partes."


Assinante UOL lê a matéria completa aqui.


ESTADÃO
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Após vitória em referendo, Evo faz apelo pela unidade do país

LA PAZ - Depois de seu governo ser ratificado no referendo deste domingo, 9, o presidente da Bolívia, Evo Morales, fez um apelo à unidade dos bolivianos que, segundo disse, será alcançada "juntando a nova Constituição Política do Estado com os estatutos autônomos", mas respeitando a legalidade.
Morales emitiu uma mensagem ao país do balcão presidencial do Palácio do Governo de La Paz, após o referendo sobre os mandatos no qual, segundo as pesquisas, saiu ratificado com um apoio mais amplo que o que teve em sua vitória eleitoral de 2005.

Perante uma multidão reunida na Praça Murillo, Morales expressou seu respeito pelos governadores regionais autonomistas que foram ratificados neste domingo, segundo as pesquisas, e os convocou para trabalhar "de maneira conjunta" a fim de garantir a unidade e a identidade da Bolívia. "Respeitaremos a legitimidade que os governadores regionais ratificados têm", garantiu Morales.

O referendo de revogação realizado na Bolívia representa um ponto de inflexão na grave crise do país, caracterizada pela luta entre o projeto constitucionalista de Morales e o plano autonomista empreendido por vários governadores opositores à margem do Governo e o Congresso Nacional.

Segundo Evo Morales, a vontade expressada nas urnas é um voto "para consolidar a mudança" empreendida por seu Governo e avançar "na recuperação dos recursos naturais, aprofundar na nacionalização e recuperar as empresas do Estado", convidando todos os governadores regionais e prefeitos do país para se somar a este processo.

Também os convidou a trabalhar junto com seu Governo para conseguir o objetivo de acabar com a "extrema pobreza" da Bolívia com uma visão unitária e não pensando só "em regiões e determinados setores".

Evo Morales destacou que a vontade dos bolivianos é continuar lutando "por sua dignidade, unidade e identidade, e que esperava que "essa vontade fosse escutada" pelos setores da oposição. Por último, o presidente dedicou o sucesso do referendo "a todos os revolucionários da América e do mundo".

Leia a cobertura completa aqui (livre).


Página 12
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Evo se fortaleció y convocó a la oposición

Las encuestas de boca de urna coincidían en otorgarle entre el 62 y el 63 por ciento en todo el país. Perdieron dos prefectos opositores y uno oficialista. Pero en la Media Luna, los cinco opositores también salieron fortalecidos.

La angustia, incertidumbre y parálisis política boliviana encontraron ayer un desahogo cuando el presidente Evo Morales y su vice, Alvaro García Linera, salieron claramente ratificados en el referéndum revocatorio con el 63 por ciento de los votos en el orden nacional, según los sondeos a boca de urna. Así, a dos años y medio de un mandato repleto de obstáculos y resistencias, el mandatario logró superar el ya histórico 53,7 obtenido en 2005 lo que, de cara al futuro, le permite retomar la iniciativa política. Cinco horas después de concluidos los comicios, desde el balcón presidencial del Palacio El Quemado, Morales festejó el triunfo y, en abierto contraste con el belicoso discurso del mandamás cruceño Rubén Costas, convocó a los prefectos (gobernadores) al diálogo en un marco de profundización del modelo nacionalizador: “Estamos convencidos de que es importante unir a los bolivianos. Esto fue para unir a oriente y occidente y eso se hará juntando a la Nueva Constitución Política del Estado con los Estatutos Autonómicos”, aseguró.

Pero esa no fue la única novedad de la jornada de ayer. El escenario de los ocho prefectos que sometieron también sus mandatos a la voluntad popular se mantuvo estable. Al cierre de esta edición y con un margen de error de 2 por ciento, sólo los opositores de Cochabamba, Manfred Reyes Villa, con el 60 por ciento en contra, y de La Paz, José Luis “Papelucho” Paredes, con el 57 por ciento, fueron revocados. La misma suerte corrió el masista orureño, Alberto Luis Aguilar, con el 52 por ciento por el no. Según la Constitución, en dichos departamentos el Ejecutivo deberá poner un prefecto interino hasta que se realice una nueva elección en un plazo máximo de noventa días. Las encuestas auguran que en estas tres regiones un candidato masista se alzaría con la victoria.

Ante el nuevo escenario, el gobierno sostiene que con esta reconfiguración del mapa político en la que obtuvo un firme respaldo se redefine la correlación de fuerzas, mientras que la oposición insiste en que nada se resolvió con este panorama. Esta caracterización tiene su raíz en la ratificación obtenida por el bloque de cuatro gobernadores autonomistas: tanto el cruceño Costas (66 por ciento), como el pandino Leopoldo Fernández (61 por ciento), el beniano Ernesto Suárez (56 por ciento) y el tarijeño Mario Cossío (64 por ciento) fueron consolidados en sus cargos. Lo propio obtuvo el masista potosino Mario Virreira Iporre con el 76 por ciento de los votos por el sí.

La Paz y El Alto constituyen la principal retaguardia política del masismo. Es por eso que en El Alto, esa periferia obrera hija de las migraciones internas, que rodea desde el cielo a la olla paceña, Morales cerró el jueves su campaña con una movilización que superó los 300 mil manifestantes. Es también por eso que esta vez para los festejos se eligió la plaza Murillo, el equivalente a nuestra Plaza de Mayo. Al atardecer, columnas con wilpalas y banderas bolivianas se fueron acercando hasta estallar con la confirmación de los resultados. Desde allí Morales aseguró: “Es una obligación garantizar este proceso de cambio. Ahora que el pueblo boliviano expresó el cambio del modelo económico neoliberal quiero convocar a todos los prefectos a sumarse a la nacionalización de todos los recursos naturales”. Y agregó: “Este triunfo de la revolución democrático-cultural está dedicado a todos los revolucionarios de América y el mundo”.

De madrugada, con la certeza del triunfo, esta ciudad había amanecido en calma a pesar del clima general de incertidumbre. Sus casi un millón trescientos mil votantes habilitados (el total nacional son cuatro) tuvieron que trasladarse a pie a los centros de votación, ya que a lo largo de la jornada se paralizaron el transporte y el comercio.

En el corazón de El Alto, flanqueado por la imponente Cordillera Real, se erige humilde el Colegio de Tarapacá Untumes. Afuera, un mercado improvisado sobre calles de tierra ajada en el que las polleras se entremezclaban con los perros y los almuerzos a menos de tres pesos argentinos. Adentro, Francisca Sinca Suñaga lucía orgullosa su dedo meñique pintado de violeta como prueba irrebatible de su voto en apoyo “al cambio”. Con sus manos curtidas tejía una chompa naranja para su hija mayor. “Si hacen fraude, va a ser peor que octubre negro”, advirtió. La referencia era a aquel octubre de 2003 en el que esta ciudad se sublevó contra el régimen del ex mandatario Gonzalo Sánchez de Lozada. “Hay un complot contra el Evo. Ellos dicen: ‘Ejecuten al indio campesino’ y eso quiere decir que lo maten porque es el único que está con los pobres. Pero la gente se levantará si pasa esto. Habrá guerra civil”, ensayó, a modo de respuesta a las declaraciones del alcalde de Santa Cruz, Percy Fernández, quien en los días previos había pedido abiertamente a las Fuerzas Armadas que intervinieran para derrocar al gobierno.

–¿Estima que habrá efectivamente enfrentamientos? –preguntó este diario.

–A Dios pedimos que esto no pase, que Dios nos escuche por amor a los pobres. Pero si ellos no largan la mamadera... –contestó insinuante.

En el colegio 1º de Mayo, también en El Alto, Elisa Condori orientaba sus críticas a los gobernadores: “Será un día de cambios. Los prefectos se tienen que ir porque sólo tienen apetitos personales. Tienen que dejar la mamadera para que llegue a la gente”, decía. En referencia a la huelga de hambre que llevan adelante los dirigentes cruceños, la cabeza visible y radical de la autonómica Media Luna, agregaba: “Está muy mal lo de esta gente, no quieren soltar los privilegios. Dicen que hacen huelga de hambre, pero en realidad hacen dieta...”, ironizaba.

Más allá de la parsimonia general que se vivió en el transcurso del día, fue en Cochabamba, donde Reyes Villa insistió en su postura de desconocer la consulta, y en Santa Cruz donde se dieron algunos episodios de violencia encabezados en este caso por la Unión Juvenil Cruceñista (ver aparte). Fue por eso que el dirigente campesino Zacarías Maqueda improvisó un paralelismo entre el actual proceso y la revolución de los ’50: “Si acá hay otro 1952, es por culpa de ellos, por su violencia, por su racismo. Tenemos que seguir avanzando, ¿por qué tener miedo? Hay que ir para adelante porque lo que estamos haciendo es justo”, se convenció.

La radicalidad expresada en los suburbios de El Alto es la fuente de poder del Ejecutivo. De esto son conscientes en el Palacio Quemado, a pesar de que por su rol institucional deban matizar sus declaraciones. Ese fue el objetivo del desayuno con los periodistas convocado por el vicepresidente Alvaro García Linera. Consultado por las múltiples interpretaciones de los resultados que se harán a partir de hoy (el Congreso dictaminó que para revocar a los prefectos éstos no deben alcanzar la cantidad de votos, más uno, conseguidos por ellos en 2005, mientras que el Consejo Nacional Electoral resolvió que para todos los casos menos el del presidente se debe alcanzar el 50 más uno). Agregó que existe una ley aprobada por el Congreso y que esa norma es la que se debe acatar.

A su vez, insistió en que el voto de ayer será el medio para resolver aquellas grandes demandas de la sociedad boliviana. El objetivo que explicitó es que con este referéndum se “sincere la configuración política” para con un nuevo escenario volver a una mesa de negociaciones: “A partir de mañana tenemos una correlación de fuerzas realistas”.

Ante el clima de incertidumbre imperante, Página 12 quiso saber si las elecciones de ayer servirían efectivamente para resolver el famoso “empate catastrófico” que hace años castiga al país. Linera aseguró: “En este país hay tres grandes deudas históricas a resolver. En primer lugar, la igualdad entre los pueblos, esa herida colonial no curada que estamos resolviendo. Luego, la democratización y descentralización del poder que permita al ciudadano estar más cerca del poder, deuda a la que podemos llamar autonómica. Por último, el desarrollo de una economía capaz de generar riqueza y distribución de recursos. En otros países como EE.UU. y Sudáfrica una sola de estas deudas ha generado guerras civiles. En Bolivia, en cambio, se están resolviendo democráticamente”.

Palestra sobre a análise de classes em Marx e Weber

No dia 19 de agosto, terça-feira, o Professor Manuel Carlos Ferreira da Silva, do Departamento de Sociologia da Universidade do Minho e diretor do Centro de Investigações em Ciências Sociais da mesma universidade, ministrará palestra na UFRN. Atividade promovida pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais, a palestra versará sobre a análise de classes nos clássicos da sociologia. O Professor tomará como referência as obras de Karl Marx e Max Weber. Imperdível! Depois eu divulgo o local.

Para Andrea, pelas razões do coração

Monica Salmaso, penso, dispensa apresentações. Mas, quem não a conhece, pode saber algo mais clicando aqui. A apresentação, abaixo, é impecável. Peço desculpas a todos, mas essa é dedicada a uma pessoa. É para Andrea, minha mulher, pelas razões do coração.

Tem a vida que escorre, mas também os amigos, o vinho e uma música do chico

Acabei de chegar ao hotel. Foi uma noite agradável, na companhia de Raquel e Andreas, amigos do coração. Uma boa massa, um bom vinho e boas companhias. O que se pode querer mais? Nesses momentos a gente quase esquece do tempo que escorre e dos cabelos brancos que se multiplicam semanalmente na cabeça. Tarde demais para telefonar para casa, então, aproveito e mando a música preferida da minha filha Raquel, e que a anima todos os dias na escola.

domingo, 10 de agosto de 2008

Uma canção do mar

Há anos descobri Dulce Pontes. Estava um dia zapeando e vi a abertura de uma telenovela do SBT. Fiquei encantado com a canção de entrada e fui procurar saber quem era dona de tão divina voz. Descobri Dulce Pontes. Minha ignorância musical era, então, tremenda! Como me era dado o direito de desconhecer nada menos do que uma das mais famosas e importantes cantoras portuguesas da atualidade? Não passo mais esse vexame. E descobri outras vozes maravilhosas lá na terrinha. Depois mando mais. Por ora, fiquem com a "canção do mar". Se querem saber mais sobre a divina cantora, cliquem aqui.

Música para uma tarde

Se você acessou o blogue agora, com certeza, não está se drogando com Faustão ou Sílvio Santos. Muito bem! Então, como prêmio, mando-te, abaixo, uma fenomenal apresentação de Salif Keita e Cesária Évora. Cesária já lhes apresentei em outro post, Keita ainda não. Se quiser saber mais do cantor e músico (que aparece na letra de uma canção de Chico César) acesse aqui.

Redes sociais e migração: a muamba e a sulanca

Uma dos fenômenos nos quais a aplicação da análise de redes tem rendido mais frutos tem sido o das migrações. Pesquisadores como Douglas Massey e Alejandro Portes têm desenvolvido importantes trabalhos com essa perspectiva. Aos poucos, começam a emergir, também no Brasil, bons trabalhos nessa direção. E isso tem contribuído para uma melhor compreensão de dimensões sociais fundamentais do Brasil atual. Esse o caso das redes de migração nordestina para São Paulo.

Quem conhece as feiras das pequenas e médias cidades do interior do Nordeste, de algum modo, intui o quanto as redes, alicerçadas na migração, são pontos de suporte para o desenvolvimento do comércio. Pense, por exemplo, no vistoso comércio da sulanca, que, de Caruaru (PE) se espraia por todo o Nordeste. Ou, ainda, na profusão de pequenas lojas, dedicadas ao comércio de produtos contrabandeados do Paraguai, nos mais recônditos lugares.

Por isso mesmo, chamo a atenção para um artigo, intitulado "SulancaXMuamba: rede social que alimenta migração de retorno". Clique aqui e leia o artigo (em PDF), escrito por Maria Rejane Souza de Britto Lyra, pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco.

O Papa e a camisinha



Esta charge foi publicada hoje no jornal argentino Página 12.

Um artigo de Aluizio Mercadante

O jornal Folha de São Paulo de hoje publica excelente artigo do Senador Aluizio Mercandante. Trata-se de uma análise sobre o significado da exploração do petróleo para a economia interna dos países exportadores do "ouro negro" e a proposição de algumas regras para tratar da exploração das recentes descobertas de reservas de gás e petróleo no nosso litoral. Mercandante chama-nos a atenção para o fato de que, excetuando-se a Noruega, todos os países de petróleo vivem a trágica situação de terem suas economias atreladas a uma única atividade econômica. E, o que mais dramático, como é o exemplo da Guiné Equatorial, se o petróleo faz aumentar o PIB per capita, esse aumento não se traduz em progresso social e em melhor qualidade de vida para a população. Em tempo: a Guiné tem o nono PIB per capita médio do mundo e ocupa a posição 127 no IDH (o indicador que realmente interessa, que mede o desenvolvimento humano). Tendo como referência essa realidade, o senador paulista aponta caminhos para o Brasil aproveitar a descoberta de novas jazidas petroliféras em seu litoral. Vale a pena conferir!

Abaixo, trascrevo partes do artigo, intitulado "O mal do avestruz".

A GUINÉ Equatorial, minúsculo país da África, exporta 400 mil barris de petróleo por dia e tem PIB per capita de cerca de US$ 50 mil, medido pelo poder de compra, o nono maior do mundo. Apesar da riqueza, o país ainda não conseguiu diversificar a sua economia, que continua dependente da exportação de commodities.
(...)
A Guiné Equatorial ocupa a 127ª posição no ranking do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) da ONU.
Embora o exemplo da Guiné Equatorial seja extremo, ele reflete um mal que afeta a maioria dos países exportadores de petróleo: a chamada "doença holandesa". Tal doença levou esses países a desperdiçar sua riqueza em consumo de bens importados e gastos perdulários, a criar gigantescas burocracias e a não construir os fundamentos destinados a promover o desenvolvimento sustentado.
Assim, entre os 15 maiores exportadores mundiais de petróleo, só um tem lugar de destaque no ranking do IDH da ONU: a Noruega, que ocupa a segunda colocação. O resto não figura sequer entre os 30 primeiros -a maioria está abaixo da 50ª posição.
(...)
Felizmente, a doença e a tragédia a ela associada, como demonstra a Noruega, são evitáveis. No caso do Brasil, temos algumas características que podem nos ajudar. O país tem o décimo PIB mundial, economia bastante diversificada, abundância de recursos naturais e mercado interno dinâmico e em crescimento. Esses fatores nos colocam em melhor posição e nos distinguem dos membros da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), embora continuemos a ser sociedade muito desigual.
Mas nosso grande diferencial é a democracia, que nos permite discutir todas as questões relevantes, inclusive a do petróleo. Na Noruega, tal questão foi amplamente debatida, tendo resultado na decisão do Parlamento norueguês de criar fundo soberano para gerir os recursos não-renováveis do petróleo com critérios intergeracionais, que hoje soma US$ 400 bilhões.
(...)
É imprescindível debater a criação de fundo soberano para gerir os novos recursos.
Também é preciso discutir a regulação da exploração, que não pode mais ser feita com base em "contratos de risco", pois é provável que o risco exploratório do pré-sal, jazida quase que certamente contínua, seja zero.
Outro debate que necessita ser enfrentado é relativo à espinhosa questão da hiperconcentração dos royalties do petróleo, que faz com que 62% dos recursos do país sejam apropriados por apenas nove municípios do Rio, Estado com 92 cidades. Essa hiperconcentração, que já é ofensiva ao pacto federativo, transformar-se-á em tragédia com a enxurrada de novos recursos. Será que queremos criar uma Guiné Equatorial no Brasil?
O que proponho não é um debate provinciano para ver que Estado fica com a maior parte dos recursos das novas jazidas, mas sim uma discussão estratégica para o futuro do país.
Não se pretende arranhar o pacto federativo, mas fortalecê-lo mediante distribuição e uso mais racional dos recursos, que poderá revolucionar nossa educação e inovação científica.
(...)
As resistências às novas propostas são intensas. Tais resistências são legítimas e fazem parte do jogo democrático. O que não é legítimo e democrático é a intenção de alguns de não fazer o debate sobre assunto tão relevante para o país. A sociedade brasileira tem o direito de ser informada sobre esse tema. Não se pode ignorar a nova realidade do petróleo e fazer como avestruz, que julga que o desafio desaparece quando enterra a cabeça na terra. Cedo ou tarde, esse é um debate que o Brasil terá de fazer. Melhor cedo, ou o mal do avestruz nos conduzirá à doença holandesa e nos condenará à tragédia do petróleo.


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sábado, 9 de agosto de 2008

MEGACIDADES

No Estadão, você encontra um conjunto de interessantes reportagens sobre as megacidades deste século. Vale a pena conferir. Acesse aqui. Para quem lida com sociologia urbana, as matérias podem ser usadas como referentes para discussões substantivas. Destaco, em particular, a entrevista de Saskia Sassen.

A volta do boicote

Leia o que foi publicado hoje no blog da jornalista Renata Cafardo, do Estadão. Mais abaixo, o meu comentário.
A volta do boicote
por Renata Cafardo, Seção: Ensino Superior s 11:33:57.
O boicote ressurgiu no último Exame Nacional de Desempenho do Estudante (Enade), cujos resultados foram divulgados nesta semana. Depois de anos de trégua, a União Nacional dos Estudantes (UNE) iniciou em 2007 um movimento contra o exame. "Enade, uma avaliação pela metade" foi o slogan da campanha contra a prova feita pelo Ministério da Educação (MEC) desde 2004. A avaliação subsitituiu o Provão, seguidamente boicotado por milhares de estudantes - o bordão era "O Provão não prova nada" - enquanto existiu.
O argumento para o boicote foi o de que o governo estava, como fazia na época do Provão, focando a avaliação do ensino superior no aluno. Ou seja, as instituições continuavam a ser julgadas apenas pela nota que o estudante tirava no Enade, deixando com peso menor a estrutura, os professores, o currículo do curso.
Pelo menos em um curso importante do Estado, o boicote pegou. A tradicional Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) teve conceito 3 no Enade. A avaliação vai de 1 a 5 e a antiga Escola Paulista de Medicina ficou a um pulinho de integrar o grupo dos "piores do País", aqueles que tiveram conceito 1 e 2. “Os alunos não percebem que, assim, prejudicam a própria instituição na qual estudam, porque processos avaliativos são importantes, inclusive para nós mesmos”, disse o pró-reitor de graduação da Unifesp, Luiz Eugênio Mello.
Quase como uma resposta à UNE, o MEC criou neste ano mais uma nota que faz parte da avaliação, chamado de conceito preliminar de curso. Ele é composto pela nota dos alunos no Enade, pelo índice que mostra quanto a instituição agregou ao aluno durante o curso (chamado IDD) e ainda itens como a titulação de professores e a opinião dos estudantes sobre o curso. Todos os 508 cursos que tiveram conceitos 1 e 2passarão por vistoria in loco do governo.


Comentário:

Conheço essa história de perto. Em 2005, os estudantes de ciêcias sociais, quando do Enade do curso,boicotaram-no por ser, segundo alguns deles, "expressão da política neoliberal (sic)" do Governo Lula. É uma postura irresponsável que só contribui para prejudicar a própria instituição dos estudantes. E é uma burrice também: quando as notas são divulgadas, quem se lembra do boicote? O filme que fica queimado é mesmo o dos estudantes...

Paulo Linhares e a arte da superação

Advogado de sucesso, o Professor Paulo Linhares é um dos poucos políticos que conheço dotado de grande capacidade administrativa. Abnegado, Linhares consegue enfrentar desafios onde outros desistem. Essa arte de superação, obviamente, não se traduz sempre em reconhecimento dos seus superiores e colegas da administração pública. Muito pelo contrário, cria ciúme e intrigas. Junte a isso o fato, quase inadmissível para um político, de que Paulo Linhares pensa e assume publicamente os seus posicionamentos. Nesses casos, sabemos bem, o ciúme, não raramente, transforma-se em ódio.

Mas Paulo Linhares dá trabalho aos seus (poucos e enrustidos) adversários. Responde com dedicação ao trabalho. Tornou-se uma especialista na arte de transformar lugares e posições administrativas antes tidas como problemáticas em províncias administrativas vistosas que logam adquirem atratividade. No início do Governo Vilma de Faria, em 2003, todos imaginavam que o professor ocuparia uma pasta de relevo. Era o esperado. Linhares abrira, anos antes, as portas do PSB para Vilma. Militante histórico do partido no estado, fora apeado da indicação de candidato a vice-governador por uma ação incoseqüente do seu então colega de partido, Renato Fernandes. Mas Paulo não foi indicado para ser titular de nenhuma secretaria de estado. Como todos temiam o que ele poderia fazer de positivo à frente de uma pasta de relevo, enviaram-no para a Sibéria, no caso a presidência do IP.

E o que fez Paulo diante da situação? Não ficou, como dizem, chorando as pitangas. Arregaçou as mangas e foi à luta. O instituto de previdencia do RN estava combalido. Paulo se dedicou ao estudo da previdência, inteirou-se de tudo sobre o instituto (da legislação previdenciária ao cálculo atuarial se fez especialista). O resultado? Logo o IPE tornou-se uma máquina azeitada. O que ocorreu? Foi reconhecido? Não! Retiraram-no do instituto e enviaram-no para a Defensoria Pública, uma espécie de Azerbaijão da administração pública do RN até então. Para se ter uma idéia, naquele momento, a Defensoria tinha uma existência quase cartorial.

Mais uma vez Paulo se fez mestre na arte da superação. Com tino político, iniciou uma luta pelo reconhecimento, para a segurança pública e a construção de uma cultura de direitos humanos entre nós, da importância estratégica do fortalecimento da Defensoria. Como tinha que fazer quase tudo do zero, começou brigando, ao seu modo, sem estardalhaço, pela realização de concurso público para defensores. Ao mesmo tempo, passou a construir uma articulação nacional das defensorias públicas. O seu trabalho começa a mostrar resultados. Novos defensores estão sendo contratados e a máquina começa a ganhar forma.

O trabalho de Paulo, agora, ganha reconhecimento nacional. Fernando Calmon, presidente da Associação Nacional dos Defensores Públicos, em documento intitulado "III Diagnóstico da Defensoria Pública", ressalva a importância do que está ocorrendo no Rio Grande do Norte. Veja aqui o documento.

Eu, cá no meu canto, comecei a temer por Paulo. Será quea ciumeira vai começar e irão encontrar algum lugar remoto na Sibéria para enviá-lo?

Espero que a ciumeira não comece e Paulo seja enviado para o Alasca.

Os jogos, a mídia e a China

A superficialidade e a mediocridade arrogante marcam, no geral, a cobertura da mídia brasileira da China. E isso fica muito evidente agora, nos jogos olímpicos. Incapazes de produzir, se não análises, ao menos informações substantivas sobre o país e seu povo, nossos órgãos de imprensa se rendem aos lugares-comuns e aos clichês ideológicos. Por isso, reproduzo, abaixo, artigo publicado hoje no jornal Folha de São Paulo de autoria de César Benjamim. Você e eu não precisamos concordar com as posições do Benjamim (e com a sua temerária secundarização do caráter autoritário do regime chinês), mas, penso eu, podemos levar à sério sua crítica ao unilateralismo de nossos bravos jornalistas.

CÉSAR BENJAMIN

Tomara que seja linda
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Agora que os Jogos começaram, torço para que o lixo ideológico se retraia, para que possamos prestar atenção nos atletas
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"É DEVERAS impressionante o lixo ideológico que a imprensa tem produzido ao cobrir a Olimpíada. Em geral, os repórteres buscam sempre os ângulos mais negativos, mesmo à custa de adentrar o ridículo. Vi coisas incríveis.
O locutor ressalta o caráter repressivo do regime chinês, enquanto as imagens mostram, como prova disso, um grupo de guardas de trânsito e câmeras de televisão que monitoram avenidas. O locutor fala do controle do Partido Comunista sobre as pessoas, enquanto na tela aparecem torcedores que preparam uma coreografia. Manifestações com menos de cinco indivíduos são tratadas como acontecimentos épicos. Se houver um pouco maiores, é a prova de que o povo está contra o governo. Se não houver, é a prova de que a repressão é terrível.
Ideologias não se subordinam a fatos. Elas criam fatos e se realimentam de suas criações. Formam sistemas fechados. Por isso, a China não tem saída: aconteça o que acontecer, faça o que fizer, é culpada. Se fizer o bem, é por dissimulação. Ela é má.
Atletas americanos desembarcaram em Pequim usando máscaras contra a poluição, mas tiveram azar.
Nesse dia, excepcionalmente, o ar na capital chinesa estava mais limpo que o de Nova York, de onde haviam partido. Apoiamos essas grosserias como se fossem gestos nobres.
George W. Bush, que praticamente não havia saído do Texas até se tornar presidente dos Estados Unidos, acredita que os chineses só não praticam maciçamente o cristianismo porque o governo deles não deixa. Ignora uma civilização que tem 7.000 anos de história. Ela construiu uma sofisticada visão do homem, do mundo e do cosmo, nem melhor nem pior do que a nossa, mas diferente, e sem a qual a existência humana seria muito mais pobre.
Repórteres monotemáticos escrevem todos os dias sobre falta de liberdade de expressão, carregando nas tintas, para cumprir a pauta que receberam dos chefes. Se não a cumprirem, serão demitidos. Defendem, pois, uma liberdade que eles mesmos não têm. "Os chineses estão perplexos com tantas manifestações contra o seu regime em todo o mundo", escreveu um deles, sem se importar com o fato de que em nenhum lugar tem havido nenhuma manifestação relevante.
Perplexos estamos nós, pois a China não nos obedece mais. Sua economia será maior que a dos Estados Unidos em 15 anos. Dos 200 milhões de pessoas que deixaram a pobreza na última década, no mundo, 150 milhões são chinesas. O Estado é forte, mas isso não quer dizer que seja ilegítimo. Se ainda fosse fraco, como já foi, lá continuaria a ser o lugar dos negócios da China."


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