sábado, 9 de agosto de 2008

A volta do boicote

Leia o que foi publicado hoje no blog da jornalista Renata Cafardo, do Estadão. Mais abaixo, o meu comentário.
A volta do boicote
por Renata Cafardo, Seção: Ensino Superior s 11:33:57.
O boicote ressurgiu no último Exame Nacional de Desempenho do Estudante (Enade), cujos resultados foram divulgados nesta semana. Depois de anos de trégua, a União Nacional dos Estudantes (UNE) iniciou em 2007 um movimento contra o exame. "Enade, uma avaliação pela metade" foi o slogan da campanha contra a prova feita pelo Ministério da Educação (MEC) desde 2004. A avaliação subsitituiu o Provão, seguidamente boicotado por milhares de estudantes - o bordão era "O Provão não prova nada" - enquanto existiu.
O argumento para o boicote foi o de que o governo estava, como fazia na época do Provão, focando a avaliação do ensino superior no aluno. Ou seja, as instituições continuavam a ser julgadas apenas pela nota que o estudante tirava no Enade, deixando com peso menor a estrutura, os professores, o currículo do curso.
Pelo menos em um curso importante do Estado, o boicote pegou. A tradicional Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) teve conceito 3 no Enade. A avaliação vai de 1 a 5 e a antiga Escola Paulista de Medicina ficou a um pulinho de integrar o grupo dos "piores do País", aqueles que tiveram conceito 1 e 2. “Os alunos não percebem que, assim, prejudicam a própria instituição na qual estudam, porque processos avaliativos são importantes, inclusive para nós mesmos”, disse o pró-reitor de graduação da Unifesp, Luiz Eugênio Mello.
Quase como uma resposta à UNE, o MEC criou neste ano mais uma nota que faz parte da avaliação, chamado de conceito preliminar de curso. Ele é composto pela nota dos alunos no Enade, pelo índice que mostra quanto a instituição agregou ao aluno durante o curso (chamado IDD) e ainda itens como a titulação de professores e a opinião dos estudantes sobre o curso. Todos os 508 cursos que tiveram conceitos 1 e 2passarão por vistoria in loco do governo.


Comentário:

Conheço essa história de perto. Em 2005, os estudantes de ciêcias sociais, quando do Enade do curso,boicotaram-no por ser, segundo alguns deles, "expressão da política neoliberal (sic)" do Governo Lula. É uma postura irresponsável que só contribui para prejudicar a própria instituição dos estudantes. E é uma burrice também: quando as notas são divulgadas, quem se lembra do boicote? O filme que fica queimado é mesmo o dos estudantes...

Um comentário:

Guru disse...

Oi professor!
(seu blog foi propagandeado no orkut de cs/ufrn. Confesso que mereceu um ctrl+d no meu firefox)

Acho interessante os docentes se interessarem pelas atitudes dos estudantes - a maioria não está nem aí para o que acontece na "sub-pós-graduação".

Enfim, após ler esse comentário quanto 'a volta...', andei bolindo em minhas memórias e vi que o contexto de 2005 provocava um posicionamento da sociedade em seus diversos setores.

Isso porque a chamada 'reforma universitária' chegava mediante medida provisória. Eram pipocos e pipocos duvidosamente democráticos de alterações no sistema superior de ensino.

Lembrando mais, colo um pedaço da carta ao boicote do ENADE dos estudantes de ciências sociais daquele ano, reunidos no Fórum de Estudantes de Ciências Sociais.

"Nós defendemos sim uma avaliação institucional que esteja apoiada em políticas propositivas, que não só exponham os defeitos das instituições, mas que também apontem soluções e comprometimento com a educação. Seu princípio básico deve ser o diálogo aberto com a sociedade, do qual o governo tem se esquivado A avaliação deve ouvir e dar o direito de opinar àqueles que vivem o dia-a-dia e as particularidades de sua universidade e não deve ser imposta nem se apoiar em punições. Essas são as diretrizes para a construção de um sistema que reafirme o compromisso com a educação superior pública e gratuita por parte do Estado e da sociedade."

Vendo assim, não me parece algo burro nem irresponsável.

O malogro do "boicote" não foi pelo mérito do mesmo, e sim por problemas graves do movimento estudantil, que tem errado nessa pauta desde o início - em matéria de organização, democracia, organicidade e um bocado de quesitos mais. Um conjunto que complica analisar o fato em ditames de escolha racional.

No mais, feliz 2008.2.