sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Relações internacionais? Política externa? Quem liga?

A maioria dos brasileiros mantém uma indiferença olímpica em relação ao que ocorre nos países vizinhos. No século XIX, nossas elites compravam até a água que bebiam da França. Hoje, todos acompanham o que ocorre nos EUA. Nossos telejornais dedicam longos minutos para a campanha presidencial norte-americana. Nada de errado. Mas e o que ocorre na nossa vizinhança? A Bolívia está em uma encruzilhada, dividida entre a população mestiça e indigena que dá sustentação ao presidente Evo Morales e as elites locais de regiões inteiras (como a de Santa Cruz de la Sierra) que reivindicam maior autonomia e a manutenção de privilégios, e nós, brasileiros, nem aí. Converse com um português minimamente informado (gente da universidade, por exemplo) e questione-o sobre Cabo Verde ou Timor Leste, e, ele, sem ser especialista em política internacional, te brindará com uma longa exposição sobre o papel de Portugal nesses países e o que pode ser feito e mudado. Aqui, mesmo colegas professores das ciênciais sociais, quando falam da Venezuela, Equador, Bolívia ou Peru, dentre outros, é para reproduzir caricaturas de uma imprensa etnocêntrica e arrogante de sua ignorância.

Relações internacionais? Quem liga para isso no Brasil? O que os nossos irmãos de continente pensam de nós? Quem liga? Preocupa-nos o que os norte-americanos pensam ou que os franceses pensam... Mas, de vez em quando, a realidade bate na nossa cara e cobra uma compreensão das coisas que as leituras da revista Veja não supre. Por que estou comentando isso? Porque, desde a vitória de Evo Morales, a Bolívia e o Paraguai têm cobrado do Brasil (e também da Argentina) uma outra postura (menos hegemonista e autoritária) nos relacionamentos comerciais e políticos. Agora, com a ascensão de Fernando Lugo à presidência do Paraguai (vitorioso em uma campanha na qual a renegociação do contrato de uso da energia de Itaipu deu o tom), somos chamados à realidade. Mais uma vez, acredito, assistiremos àquelas tristes bravatas imperialistas de jornalistas e políticos propondo algo como um "endurecimento" com os "adversários". Lembram-se dos discursos no Congresso Nacional quando da crise do gás boliviano? Ninguém precisa de repeteco.

Por falar em Fernando Lugo, ontem, o bispo que assumirá a presidência de seu país, carregando muita esperança dos paraguaios, criticou duramente o hegemonismo brasileiro e apontou a Venezuela, para ser mais claro, Hugo Chavez, como uma contraposição ao Brasil. Isso tudo aponta o quão importante é começarmos a superar a nossa ignorância com o que ocorre no restante do continente.

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