sábado, 16 de agosto de 2008

Em São Paulo

Após uma noite de viagem, embalado por Morfeu no ônibus-leito que me trouxe de Londrina, cheguei em Sampa. Como é bom estar aqui! Sempre adorei esta cidade, embora ela me desconcerte. Especialmente devido ao fato da rápida metamorfose de suas paisagens. Faço o de sempre, quando de passagem rápida pela cidade. Na rodoviária, desvencilho-me das malas e cuias, pego um metrô e vou correndo para a Estação São Bento. O objetivo é chegar cedo ao Mercado Municipal. Desço pela Ladeira Geral. Hoje, lá de cima, pude assistir a uma estranha coreografia. De um lado, carros, motos e homens fardados da Guarda Civil Metropolitana; de outro, milhares de camelôs correndo com as suas sacolas plásticas pretas. Desviam-se para ruas adjacentes à 25 de março. Os guardas os perseguem, eles voltam para a rua anterior. Vou para o meio deles. É como se estivesse em um babel hegemonizada por cearenses. Em meio a coreanos, bolivianos, peruanos e nisseis, os cearenses predominam. E dão um outro contorno a esse enfrentamento cotidiano com a repressão. Riem, gritam, correm e param. Entabulam conversas. Não poucas vezes, ouvi alguém gritando "compadre". Laços de parentesco também são ressaltados: "mãe, não precisa correr, não"; "filha, entra na loja e se mistura", "vai, primo, vai...". Peguei a rua da Galeria Pajé, o centro do comércio ilegal da cidade, e fui para o Mercado. É uma beleza arquitetônica! Grande, cheio de barracas nacionalmente conhecidas. Vocês se lembram que o Toni Ramos, em uma telenovela global, era dono de uma barraca aqui. A "sua" barraca, a "barraca do juca", é uma das mais vistosas. O cheiro das frutas de um lado. Do outro, as especiarias emprestam seu perfume. E dá-lhe comida árabe! Frutas secas, queijos e vinhos. É uma festa para os olhos e para o olfato. É de embasbacar. Posto-me em frente a uma famosa barraca, tantas vezes televiosanada no Programa da Ana Maria Braga, e olho tristonho para os pastéis de bacalhau e os sanduíches de mortadela. Não posso sucumbir ao desejo, a vesícula me avisa. Fecho os olhos e sinto o cheiro, isso, sim, posso fazer. O passeio pelo Mercado, reformado na administração da Marta Suplicy, é uma das melhores coisas para se fazer em São Paulo, e, embora tenha pouco tempo, já que, daqui há pouco, estarei voando, quero aproveitar. Tomo um café e procuro escutar as conversas, guardar os sotaques. Após um pouco de tempo, olho as horas, e é tempo de ir embora. Vou caminhar até a Praça da República. Tudo está muito mudado. Mais limpo, sem comércio ambulante, mas também sem a vida de antes. Ruas, antes tão vibrantes, agora estão tomadas por financeiras querendo seduzir os passantes com empréstimos fáceis. Não vejo mais os meus pontos de referência. Meio cansado, vou tomar um outro café, agora perto do Copan, onde "mora" o Zé Bob, de "A favorita". Em frente ao prédio, moradores de rua, dentre eles crianças, dormem ao sol. É, estou em São Paulo. Pro bem e pro mal. Agora, infelizmente, é hora de me despedir. Até logo!

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