Mostrando postagens com marcador Homicídios. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Homicídios. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 29 de abril de 2010

A queda da taxa de homicídios e o narcotráfico

Do Ex-Blog do César Maia transcrevo a matéria abaixo. Fornece dados para uma análise mais profunda. Vale a pena conferir!

HOMICÍDIOS CAEM NO SUDESTE E SUL COM DESLOCAMENTO DA EXPORTAÇÃO DE COCAÍNA PELA ÁFRICA!

César Maia

1. O uso do índice de homicídios dolosos por cem mil habitantes como indicativo de violência deve ser analisado num contexto geral de criminalidade. Sempre que há um elemento exógeno aos níveis internos de violência e este se relaciona diretamente com os homicídios dolosos, há que se avaliar essa condição para não se cometer equívocos. Foi o caso das máfias antes e, nas últimas três décadas e meia, do tráfico de drogas na América Latina.

2. A correlação do tráfico de drogas com mortes violentas é direta e a correlação com outros tipos de criminalidade é indireta. E quanto maior o índice por habitantes, maior a correlação. Se algum fato novo alterar a dinâmica do tráfico de drogas, a análise da criminalidade deve ser mais abrangente que a circunscrita às mortes violentas. Incluindo, portando, os demais delitos e, em especial, Roubos e Furtos, que afetam a percepção de insegurança da população.

3. O índice de homicídios dolosos vem caindo nos últimos anos no sudeste e no sul do Brasil. Há um caso especial, que é o de S. Paulo, em que à razão geral se agrega a unificação das facções que operam no tráfico de drogas, o que acentuou a queda daquele índice. A razão geral mencionada é o deslocamento do corredor de exportação de cocaína para a Europa, que, em parte, saiu dos portos e aeroportos internacionais do Sudeste e Sul para o Nordeste.

4. Isso ocorre pela mudança da porta de entrada da cocaína na Europa, que sai da Península Ibérica e passa para a África Ocidental. Por exemplo: Guiné Bissau se transformou num narcoestado. Com isso, as plataformas por ar e por mar se deslocaram para o Nordeste, facilitadas por aeronaves e barcos de médio e pequeno porte atravessando o Atlântico.

5. Os índices de homicídios dolosos cresceram em geral no Nordeste, sendo exponenciados em cidades como Salvador e Maceió, que passaram a liderar as estatísticas entre as capitais. Recife mantém esta condição desde antes, pois seu aeroporto internacional e base portuária acompanhavam a lógica do Sudeste.

6. Por isso, ao se constatar a curva decrescente dos homicídios dolosos no Sudeste e Sul nos últimos anos, deve-se, antes de qualquer conclusão precipitada (como tem ocorrido), verificar outros indicadores, entre eles os Roubos e Furtos, que evidenciam, mais ainda que os homicídios, a exposição da população à violência e ao delito.

7. A secretaria de segurança do ERJ divulgou dias atrás, para publicação da imprensa, os números relativos a Homicídios Dolosos e mostrou a curva decrescente que vem desde quase 10 anos atrás, com oscilações eventuais. A tendência tem sido essa. De forma precipitada os números foram divulgados com manchetes favoráveis, como se houvesse uma reversão do quadro de violência. Infelizmente não foi assim. Faltaram cuidados e análise das razões e do conjunto dos indicadores

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Violência contra a mulher na Argentina

A cada 36 horas, neste ano, uma mulher foi morta na Argentina. Ficastes estarrecido? Saibas que os dados do Brasil não são melhores... É um feminicídio. Depois comentamos, com ar de superioridade, a ignomia da violência contra a mulher nos países islamicos.

Leia aqui a matéria sobre a violência contra a mulher na Argentina.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Homicídios e políticas públicas

Gláucio Ary Dillon Soares dispensa maiores apresentações. É um dos cientistas sociais que analisa com mais desassombro e menos concessão ao politicamente correto as temáticas do crime e da violência no nosso país. Por isso, republico, mais abaixo, artigo de sua autoria. Confira!


Quem vai morrer assassinado?
Gláucio Ary Dillon Soares

Algumas características aumentam o risco de morrer assassinado, ao passo que outras o diminuem. Características demográficas, como idade e sexo, contam muito. Características sociais como a educação e o estado civil também. Até características geo-políticas (em que unidade da federação) onde a pessoa mora também contam. E, como veremos, o bom uso do dinheiro público é essencial.

Não pensem que esse risco diferenciado é de hoje, dos últimos anos. Há muito tempo que é assim. Por isso, busquei dados sobre as vítimas de homicídios dos anos de 1991 e 1992 - há quase duas décadas.

No Distrito Federal houve, em 1991 e 1992, 938 homicídios, somando os dois anos. Oitocentos e quarenta eram homens, ou 89,6%. No Brasil como um todo é um pouco mais: 91,1%. Aproximando, nove em cada dez vítimas eram homens. Poucos dados sobre homicidas mostram que a grande maioria dos autores também é masculina.

As crianças têm risco baixo relativamente aos adolescentes e jovens adultos. De todas as mortes, apenas 6% eram de menores de 15 anos. Porém, aos 15 a mortalidade começava a disparar. Nos vinte anos seguintes, estão 52% dos assassinados. A frequência cumulativa mostra que aos 35, já haviam falecido 78% dos assassinados. Esse é o grupo-alvo, no qual devemos concentrar boa parte da atenção protetora das instituições e os serviços de prevenção.

O estado civil também conta e muito. O casamento protege. Ser solteiro aumenta o risco: no Distrito Federal, três de cada quatro vítimas eram solteiras. É bom saber quais as probabilidades: o x2 nos diz que a probabilidade de que essa relação seja devida ao acaso é menor do que uma em mil. O coeficiente phi, de 0,19, confirma a associação.

A educação mostra o caráter de classe dos homicídios: 93% das vítimas tinham primeiro grau ou menos, muito mais do que na população como um todo. A vitimização é um fenômeno de classe social, confirmando o encontrado em diferentes países: são pobres os que morrem, e são pobres os que matam.

Os dados nacionais permitiram análises extremamente rigorosas que demonstram que a idade, a unidade da federação e o sexo, influenciam a probabilidade de que uma pessoa seja assassinada. Estas três variáveis aumentam esta probabilidade tanto diretamente quanto em interação com as demais, duas a duas (idade x UF; idade x sexo; UF x sexo) e as três (idade x UF x sexo).

Não obstante, um dado mostra como o risco de morte muda de acordo com a unidade da federação levando em conta somente as que foram vítimas de tentativas. Essas diferenças existem há muitas décadas no Brasil. Em 1991/2, 38% das vítimas de homicídios no Distrito Federal morriam fora dos hospitais, em comparação com 63% no Brasil como um todo: morriam na rua, morriam em casa, morriam a caminho dos hospitais. O efeito das instituições governamentais e das instituições públicas se fazem sentir nesse indicador. A rapidez do atendimento é fundamental - isso vale para todas as condições que podem ameaçar a vida, desde picada de cobra, até acidente de trânsito, passando por homicídios e suicídios. A rapidez depende do número e da distribuição das ambulâncias, do fluxo do trânsito (ordenado e fluído vs. desordenado e engarrafado), do equipamento das ambulâncias, do treinamento do pessoal de primeiros socorros, da distribuição espacial dos hospitais e da sua qualidade. Dois estados com taxas de tentativas de homicídios iguais podem ter duas taxas de mortes por homicídios muito diferentes.

Mais uma vez, constatamos que bons governos salvam vidas: uns constroem, equipam seus hospitais e treinam seu pessoal; outros usam os recursos para dar emprego público a amigos, familiares e correligionários. Quem vota nesse tipo de político pode estar assinando a sua própria sentença de morte.

Publicado no Correio Braziliense, 20 de agosto de 2009

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Uma viagem ao mercado de armas

Leia mais abaixo matéria publicada no El País a respeito do impacto devastador do comércio de armas na vida política e social desta sofrida latino-américa.

Las armas ilegales desangran Latinoamérica
Más de 140.000 personas mueren tiroteadas cada año en la región - Los 'narcos' han reemplazado a las guerrillas en el negocio - Nicaragua es un gran punto de entrada
FERNANDO GUALDONI / JAVIER LAFUENTE - Madrid - 25/05/2009

Los recientes juicios contra dos de los más conocidos traficantes de armas, el ruso Víktor Bout -alias El Mercader de la Muerte- en Tailandia (pendiente de extradición a EE UU para agosto) y el sirio Monser al Kassar (condenado en febrero a 30 años de prisión en Nueva York), han revelado lo sencillo que es meter armas ilegalmente en América Latina, el papel crucial que desempeña Centroamérica, en especial Nicaragua, en este negocio, y la amenaza que supone que un país como Venezuela fabrique sus propios fusiles y municiones.

Para detener a Bout y Al Kassar, la agencia antidroga estadounidense alegó que ambos intentaron vender lanzamisiles portátiles tierra-aire rusos SAM a las Fuerzas Armadas Revolucionarias de Colombia (FARC). La ruta prevista para ambas operaciones era similar: las armas partían desde Rumania o Bulgaria y entraban por Nicaragua. Desde el país centroamericano se iban a arrojar con paracaídas sobre territorio colombiano.

"No hay pruebas de que el Gobierno de Ortega sea cómplice del tráfico, pero sin duda el país tiene enormes lagunas legales que facilitan el tráfico ilegal", dice Roberto Orozco, experto nicaragüense del Instituto de Estudios Estratégicos y Políticas Públicas. "Es verdad que no se puede afirmar que Managua esté directamente involucrada, pero hay que recordar que Ortega ha dado cobijo a narcoterroristas de las FARC", replica el colombiano Alfredo Rangel, director de la Fundación Seguridad y Democracia en Bogotá.

Los puertos nicaragüenses están entre los mayores coladeros de armas en la región, según fuentes de Defensa de EE UU. "En especial el puerto de Corinto", apunta Orozco. "Es el único de aguas profundas y está controlado por el Ejército y la policía, que hace la vista gorda. No hay estadísticas fiables sobre la cantidad de barcos que atracan allí, pero no hay que pensar en veinte o treinta, con dos o tres bien cargados es suficiente para abastecer al mercado de miles de armas", añade.

Hay más de 80 millones de armas ilegales en América Latina, según el Centro para la Información de Defensa (CID) de Washington. Cualquier criminal, hasta el más imbécil, tiene acceso a una pistola y hasta a un fusil. Ni hablar de las narcoguerrillas y el crimen organizado, éstos se hacen con un lanzacohetes como cualquier español con una barra de pan.

Los datos son brutales. La tasa de homicidios -140.000 al año, según el Banco Mundial- es más del doble del promedio mundial. Varios países tienen un índice de crímenes por cada 100.000 habitantes más que alarmante: Brasil, 28; Colombia, 65; El Salvador, 45; Guatemala, 50; Venezuela, 35. La violencia también golpea a la economía latinoamericana. El coste de esta lacra se estima en un 14,2% del PIB regional. según el informe Crimen y Violencia en el Desarrollo del Banco Mundial.

Además, el tráfico ilícito de armas está cada vez más estrechamente ligado al narcotráfico. En Perú, hace unos meses, saltaron todas las alarmas cuando el Ejército comprobó que los resquicios de la guerrilla maoísta Sendero Luminoso, hoy dedicada a la producción y venta de cocaína, tenían en su poder lanzacohetes RPG-7, ametralladoras pesadas y fusiles Kaláshnikov, todos de origen ruso. El rearme senderista ya ha costado la vida a medio centenar de soldados peruanos en 12 meses.

A finales de abril, los senderistas intentaron derribar el helicóptero en el que viajaba el comandante en jefe de las Fuerzas Armadas, el general Francisco Contreras. El coronel Jorge de Lama iba en el aparato. "Nos dispararon dos granadas de RPG, pero por suerte cayeron lejos. No creo que supieran que iba el general Contreras, simplemente apuntaron a un helicóptero militar que estaba en su zona", relata De Lama, refiriéndose al valle de los ríos Apurimac y Ene, la inaccesible zona de Ayacucho donde Sendero ha estado desde que se creó en los ochenta. El Ejército peruano se resiste a revelar las rutas de abastecimiento de armas de los senderistas, pero no se atreve a negar que el puerto amazónico de Iquitos es un agujero negro para la seguridad del país. A esta ciudad estaban destinados los 50.000 Kaláshnikov que Vladimiro Montesinos, el siniestro ex jefe de los servicios secretos peruanos durante el Gobierno de Fujimori, compró en Jordania. Sin embargo, 10.000 de esas armas acabaron en manos de las FARC. El resto nunca se entregó porque Ammán detuvo la operación.

Iquitos y la frontera entre los países andinos y Brasil, el golfo de Urabá, que une Colombia y Panamá, el triple límite entre Paraguay, Brasil y Argentina -zona donde Hezbolá tiene una fuerte influencia-, son algunos de los principales puntos de contrabando en la región. Sin embargo, Centroamérica y, en especial Guatemala y Nicaragua, han adquirido en los últimos años especial relevancia como puerta de entrada de los cargamentos.

Rangel recuerda que así como Nicaragua ya es clave en el comercio ilegal, Venezuela desempeña un papel relevante. Como buena parte de las armas que acaban en el mercado negro proceden de la policía y el Ejército -robadas o vendidas por los propios agentes o militares-, hay serios temores de que parte de los 100.000 Kaláshnikov que Caracas compró a Rusia acaben en manos de los narcos. Sin embargo, el mayor peligro, apunta Rangel, lo constituirá la fábrica venezolana, bajo licencia, de armas y municiones rusas.

Mientras que las armas abundan en la zona, las municiones escasean. El calibre 7,62 mm, que usan los fusiles rusos AK-103 adquiridos por Venezuela, es el más deseado por la región y en especial por las FARC, que aún poseen al menos 5.000 armas que necesitan esta munición. Hoy se consigue en Perú y Bolivia, pero en poca cantidad. La fabricación de este calibre en Venezuela ofrecerá a las narcoguerrillas una fuente ilimitada de municiones dentro del continente.

Aparte de los canales de tráfico de armas que se remontan a la época de auge de las guerrillas, en los setenta y ochenta, se han afianzado en la región aquellos controlados por el crimen organizado. Los intercambios de droga por armas que los carteles de la droga colombianos inauguraron a mediados de los noventa con la mafia rusa han proliferado. Así como la cocaína sale de Colombia, Perú y Bolivia hacia Europa a través de Venezuela, Ecuador y Brasil, las armas recorren el mismo camino en sentido contrario.

Adelaida Vásquez y Carolina Gabea son testigos casi a diario de este tráfico. Ambas son fiscales de Ciudad del Este, la urbe paraguaya pegada a Brasil y Argentina y uno de los mayores focos de contrabando de armas de Suramérica y paso del tráfico desde Brasil hacia Perú y Colombia. Tienen una queja común: pocos recursos y el enemigo en casa. "La policía nacional no sólo no nos ayuda, nos boicotea. Tenemos un grupo de agentes especiales, pero son pocos ante tanto delito", explica Vázquez, que sobre drogas y armas lo ha visto todo. "Una vez confiscamos una ametralladora antiaérea a unos narcos... no me lo podía creer", añade. Vázquez es de Ciudad del Este, pero Gabea lleva en la ciudad cuatro años, es de Asunción. "Es peligroso ser legal y trabajar acá, pero ¿sabe qué?, si uno se mantiene limpio el narco no suele meterse con uno. Es parte del juego", dice Gabea.

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

QUEM CHORA POR MARIA CAZILDA? A segurança pública nas eleições passadas

Maria Cazilda levantou cedo no último domingo de sua existência. Se a bala disparada pelo revolver do seu assassino ceifou sua vida exatamente as 6H25, é porque aí pelas 5 horas, não mais do que isso, ela já estava de pé. Morando na zona norte de Natal, essa cidade do “outro lado do rio”, ela deve ter feito tudo muito depressa para estar na parada de ônibus bem a tempo de pegar o veículo que faz a linha 79 (Parque das Dunas). Tomou correndo o último café da manhã de sua vida e partiu para o trabalho em um dia no qual a maior parte das pessoas da cidade, especialmente aqueles que pensam a política, dorme até mais tarde.

Envolta nas preocupações diárias e no balanço das contas que a vida teima em nos empurrar quando passamos dos quarenta (ela tinha 44 anos!), Maria Cazilda não deve ter notado que, na altura da Escola Rotary, um rapaz moreno de 26 anos, seu assassino, subira ônibus. Francisco Clerton bebera na noite de sábado. Já realizara alguns assaltos antes. À polícia, afirmou que o dinheiro do crime seria para adquirir alimentos para um filho. Verdade ou mentira? Não há o menor interesse nisso agora, a não ser que você seja o advogado do rapaz e queira dados para emocionar o júri. O certo é que Cazilda agitou-se, por medo ou por ter acordado de seus sonhos, e atraiu sobre si a atenção do assaltante (ou provocou também o seu medo!). O final já sabemos.

Nos dias posteriores à essa morte, os empresários dos transportes coletivos falaram em blecaute e os motoristas, em greve. Todos pediam segurança. A polícia realizou algumas blitzes e a imprensa alardeou mais informações sobre a insegurança na cidade. Estávamos em pleno período eleitoral. Os candidatos, obviamente, tocaram na segurança pública. Mas, como era de se esperar, com a profundidade de um pires de leite.

Ora, campanha eleitoral é feita por profissionais, certo? E profissionais da política, marqueteiros, jornalistas, assessores e toda a entourage que qualquer candidato de um grande partido deve ter, pertencem a um outro mundo. A um mundo no qual as pessoas não acordam as 5 horas da manhã para pegar ônibus. Não sabem, portanto, o que é o medo dos desvalidos. Sabem, sim, o que é o medo dos que têm bens a perder. Daí que falam tanto em câmeras para monitorar ruas e praças, por certo das áreas centrais e “nobres”, e tão pouco em intervenções concretas para enfrentar a violência que grassa na periferia.

Envolvidos em seus mundos, os partidárias das duas principais candidaturas a prefeitura de Natal não fizeram da campanha eleitoral um momento de diálogo com o universo social de Maria Cazilda. E quem mais perdeu com isso foi Fátima Bezerra. Se não tinha nada de novo a dizer, por que valeria a pena apostar nela? E ela poderia ter dito algo de novo. Poderia ter tentado dialogar com os que choram as mortes das Marias Cazildas. Não o fez. E não apenas por incompetência. É que a nossa esquerda é classe média além da conta, etnocêntrica que cansa e adora ser politicamente correta (o que, no Brasil, significa falar para o público dos mídias).

A morte de Maria Cazilda mereceu destaque na mídia local por duas semanas. Mas as mortes continuam. Em vans, ônibus, bares, ruas e praças de lugares nos quais os que saem de carreata de algum shopping da zona sul para “fazer campanha” na periferia jamais irão, senão aboletados em seus automóveis. Basta você ler os dois principais jornais de Natal na terça-feira para ter uma idéia do que está a ocorrer em algumas partes não muito iluminadas pela imprensa nesta cidade do sol. Mas quem iria tocar nesse mundo? Quem iria dialogar com ele? Quem seria solidário com as suas dores?

Em julho, ainda nos primeiros dias deste blog, escrevi alguns textos esatebelecendo uma relação entre segurança pública e administração municipal. Ali, em uma ou outra nota, apontei alguns elementos para um debate propositivo sobre a questão. Chamo especial atenção para o post intitulado Homicídios, tráfico de drogas e crise juvenil em Natal (RN): por que as candidaturas à prefeitura precisam se posicionar sobre essas questões. Em um outro texto, denominado O MUNICÍPIO E A SEGURANÇA PÚBLICA, já havia chamado a atenção sobre como a questão deveria ser tratada na disputa municipal.

Talvez eu seja presunçoso demais. Quem sabe, eu, que não sou especialista em marketing e em campanha eleitoral, não esteja a dizer asneiras além da conta? Mas, cá no meu cantinho, fico a pensar que se a esquerda brasileira não começar a dialogar com o universo social dos que têm medo, ficará fora do mundo. E de que medo eu falo? Do medo de perder a vida em um ônibus quando se vai ou se volta do trabalho, do medo de perder o pagamento de ajudante de pedreiro em um roubo, do medo de perder o filho ou filha para o tráfico de drogas...

Quantas vezes, após a morte de um jovem ou adolescente, ouvindo os soluços abafados do pai ou os gritos lancinantes das mães (esse seres mágicos que, em algumas classes sociais, parecem condenados ao sofrimento!), escuto expressões como: “era o que eu temia”, “ele se envolveu com quem não devia”, “eu não conseguia dormir pensando que algo de ruim ia lhe acontecer”, “foi a droga!”, etc. Essas mães e esses pais precisavam ver e ouvir alguém falar, com firmeza e convicção, de que, sim!, podemos ter uma saída. Que a Prefeitura Municipal pode fazer alguma coisa para retirar crianças, adolescentes e jovens dos círculos concêntricos da energia mortífera do tráfico de drogas. Não ouviram nada disso e deram as costas para um “agora, sim!” que não lhes dizia nada.

Os parentes, amigos e conhecidos de Maria Cazilda, quem sabe, ainda choram quando lembram dela. A cidade já a esqueceu. É mais uma vítima. Transformou-se em um número a mais na estatística da violência. A sua morte poderia ter acordado a muitos para a centralidade da segurança pública no debate político contemporâneo. Talvez muitos ainda chorem por não terem chorado pela enfermeira de 44 anos, assassinada no dia em que se comemora a independência do país, quando ia para o trabalho, vejam só!, que era cuidar de pessoas.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Estatística da criminalidade

Informação é fundamental na análise da violência e da criminalidade. É, também, algo fundamental para dar transparência às ações do Estado. Cá, no RN, ainda temos uma grande dificuldade em avançar neste tópico. Por isso, acho interessante, caso você seja assinante do UOL, assistir a um vídeo com a entrevista de um pesquisador do Instituto Sou da Paz. Assinante UOL assiste aqui.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Mapa da violência

Informação qualificada, essa a grande ausente, via de regra, do debate sobre segurança pública no Brasil. O emocionalismo e o achismo dominam a cena. Daí a importância de trabalhos como aquele que tem sido desenvolvido por Julio Jacobo Wailselfisz. Refiro-me, em especial, ao artigo "Mapa das motes por violência". Leia o artigo aqui.

quinta-feira, 31 de julho de 2008

Sobre a queda do número de homicídios em São Paulo

Quando muitos celebram a "política de enfrentamento" como único meio de enfrentamento da criminalidade, devemos analisar cuidadosamente os dados (mesmo que precários) sobre homicídios no Brasil. Merecem especial atenção informações acerca do Rio de Janeiro e São Paulo. Pois, de algum modo, o que ocorre nessas duas unidades da federação impacta no restante do país. Por isso mesmo, reproduzo, abaixo, parte de uma reportagem publicada hoje nno jornal Folha de São Paulo.

"Homicídios caem em SP, mas PM mata mais
No primeiro semestre, número de assassinatos caiu 13% no Estado; mortes causadas por policiais em serviço subiram 21,2%

Casos de roubo e latrocínio aumentaram no período; pesquisador credita queda nos homicídios ao maior investimento do Estado

JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
DA REPORTAGEM LOCAL

O número de homicídios dolosos manteve no semestre passado a tendência de queda verificada no Estado de São Paulo desde 1999, segundo dados divulgados ontem pelo governo José Serra (PSDB).
A comparação com o mesmo período do ano passado, no entanto, revela que a Polícia Militar está matando mais e que houve pequeno aumento nos roubos e latrocínios.
O Estado registrou 2.183 assassinatos no primeiro semestre, uma redução de 13% em relação a igual período de 2007, quando houve 2.509 casos. A redução foi uniforme, tanto em São Paulo como no interior.
Na cidade de São Paulo, o número de assassinatos caiu de 777 para 630, enquanto no interior do Estado decresceu de 1.011 para 884 casos.
As demais cidades da região metropolitana também acompanham a tendência, com 52 registros a menos neste ano.
Outro dado positivo da estatística: o número deste ano representa menos da metade das 4.521 mortes ocorridas entre janeiro e junho de 2004.
O número de mortes por PMs em serviço passou de 170 para 206 (21,2% a mais), na comparação entre o primeiro semestre de 2007 e o de 2008.
São muitos casos, mas bem abaixo das 290 mortes atribuídas a policiais militares em 2006, ano em que a PM reagiu aos ataques da facção criminosa PCC. Quatro anos atrás, o número de mortos por PMs no primeiro semestre foi de 254.
A quantidade de policiais militares mortos durante o expediente se manteve em 12 casos. No mesmo período de 2006, foram 19 casos de policiais assassinados."

Assinante UOL lê mais aqui.

Em outra postagem, voltarei ao assunto.