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quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Uma defesa do voto obrigatório

Em artigo publicado na edição de hoje do jornal FOLHA DE SÃO PAULO, dois cientistas políticos defendem, com argumentos convincentes, a continuidade do voto obrigatório. Os "bem-pensantes", você sabe, descarregam as mazelas da política nacional na conta da obrigatoriedade do voto. Esse é um mito que serve a interesses bem identificáveis. Confira abaixo trechos do artigo.

JOÃO FERES JÚNIOR E FÁBIO KERCHE
Em defesa do
voto obrigatório
Seria irracional para um político eleito implementar políticas populares em um contexto em que o eleitorado de baixa renda vota menos
Uma das consequências das manifestações de junho foi ter colocado a reforma política mais uma vez em pauta. O grupo de trabalho constituído na Câmara apontou para avanços importantes, como a questão do financiamento de campanhas e das coligações nas eleições proporcionais. Entretanto, o fim do voto obrigatório é uma proposta que pode piorar o que se busca consertar.

Não há qualquer comprovação do argumento de que o voto obrigatório prejudica a qualidade de nossa democracia. O único dado concreto é que mantemos altas doses de participação em nosso processo eleitoral, mesmo sendo a obrigatoriedade do voto no Brasil muito mais simbólica do que real.

O eleitor pode justificar seu voto em qualquer seção eleitoral do país e aqueles que nem sequer isso fazem recebem a multa irrisória de R$ 3,50! Além disso, o eleitor pode inclusive manifestar sua indignação ao escolher anular seu voto nas modernas urnas de nosso sistema.

Quer ler o texto integral? Acesse aqui o site da Folha.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

A vida política natalense desafia a análise

A Prefeita Micarla de Sousa (PV) consegue a façanha de ter menos de dois pontos percentuais de apoio para as eleições do próximo ano. Os seus patrocinadores, o DEM à frente, fingem que isso não lhes diz respeito e comportam-se como se de oposição tivessem sido sempre.

Carlos Eduardo , último prefeito, surfa na onda da derrocada política da prefeita. Segundo as pesquisas, ganharia de lavada se as eleições fossem realizadas hoje. Bom, mas as eleições não se real(PDT)izarão nem hoje e nem amanhã. E muito água, parte dela bem poluída, ainda vai passar por debaixo da ponte.

Vilma de Faria (PSB) parece que caminha para o seu ocaso. Vive o seu outono político. Cálculos políticos equivocados a levaram para essa situação. E quando político está em queda, os ataques triplicam e se originam dos mais diversos lugares. Abre flancos impensáveis.

Ora, tivesse Vilma sido eleita Senadora, cê sabe bem, alguém aí estaria produzindo denúncias e mais denúncias contra ela? Há quase um ano e meio, depois eu cato o post, escrevi aqui que a sua candidatura ao Senado era um desastre. Teve quem não gostasse de minha análise e visse ali o dedo de algum interesse menor. Nada disso! Bastava juntar dois mais dois para se dar conta de que, a partir do final do ano de 2009, a vida política de Vilma era algo assim como a crônica de um desastre anunciado.

Vilma será logo ultrapassada por um outro postulante à cadeira de alcaide desta cidade do sol. Podem apostar! Acho que será Fernando Mineiro, do PT, o responsável por deslocar a ex-guerreira para um lugar secundário na disputa política local. Vocês verão! Não duvidem! Acompanho eleição desde os tempos em que quem mandava em Apodi era Isauro Camilo, o Véio Isauro, e sempre tive um bom tino para essas coisas.

Minha lição: como a vida política destas plagas desafia a análise tradicional, incorpore mais aportes aos seus diagnósticos.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

O que (não) está em jogo na Argentina

As eleições argentinas ocorrem no próximo final de semana. Vale a pena, então, dedicar um pouco do seu tempo para entender o que está a ocorrer no país vizinho. Diz muito também sobre os dilemas que cá enfrentamos. Dê uma confirada na matéria abaixo, então. Foi publicada no EL PÁIS, um dos melhores jornais do mundo.

El kirchnerismo aglutina derecha e izquierda para lograr el poder
Alejandro Rebossio Buenos Aires 18 OCT 2011 - 09:37 CET

Al progresismo latinoamericano no le es fácil llegar al poder. El Partido de los Trabajadores (PT) de Brasil gobierna en una coalición que incluye sectores conservadores. El kirchnerismo en Argentina, mezcla de políticas de centroizquierda y del peronismo más tradicional, también cobija dentro del propio Partido Justicialista (PJ, peronista) elementos que tampoco se pueden definir como progresistas, sobre todo, entre los gobernadores de las 15 provincias que tiene bajo su poder (sobre un total de 23).

“Hay que distinguir entre las políticas públicas y la coalición de apoyo”, opina el politólogo Sebastián Etchemendy, de la Universidad Torcuato Di Tella. “Las políticas públicas están más a la izquierda de [José Luis Rodríguez] Zapatero”, añade Etchemendy. Cita los ejemplos de una política económica más expansiva, la ampliación de la cobertura de las pensiones, la reactivación de los sindicatos, cuyo poder había quedado adormecido en la década neoliberal de los 90, y la ley del matrimonio gay. Pero el Gobierno de Cristina Fernández de Kirchner cuenta con el respaldo de “elementos del PJ tradicional, que apoyaban a Carlos Menem [presidente argentino entre 1989 y 1999]”, según Etchemendy. “Es muy difícil gobernar estos países y por eso Fernández necesita de esa gente. Es real politik”, agrega el profesor de Di Tella.

Entre los kirchneristas no progresistas está Scioli, el exempresario y corredor de lanchas que ingresó en política de la mano de Menem y que ahora se mantiene fiel a Fernández como gobernador de la provincia de Buenos Aires. Tanto es así que en las elecciones generales del próximo domingo en este distrito, el más popular de Argentina, compite contra Scioli otro candidato kirchnerista, pero progresista y no peronista, el diputado Martín Sabbatella.

En la sede de su partido, Nuevo Encuentro, Sabbatella dice que se diferencia del gobernador bonaerense en cuestiones como la política de seguridad. “Scioli expresa una concepción de mano dura, endurecimiento de las penas y autogobierno de las fuerzas de seguridad, en lugar de que estén bajo el gobierno civil y de tener coraje parar enfrentar los nichos de corrupción policial”, opina Sabbatella, que en las elecciones primarias de agosto pasado acabó quinto, con el 5,7% de los votos, muy por detrás de Scioli, con el 46,9%. Sabbatella critica también los niveles de la inversión social, educativa y en viviendas del gobernador bonaerense. Opina que la “profunda transformación” que han aplicado los Kirchner en los últimos años tarda en llegar a provincias y municipios y justifica su derrota, así como la de otros kirchneristas progresistas en elecciones locales de este año (en la capital argentina y en la provincia de Santa Fe), en el hecho de que todos los gobernadores y alcaldes, más allá de sus colores políticos, están beneficiándose de la actual bonanza económica de Argentina.

Sabbatella también se diferencia de otros gobernadores kirchneristas, como el de Formosa (noreste de Argentina), Gildo Insfrán, cuya policía provincial mató en noviembre pasado a un indígena cuando éste y sus pares cortaban una carretera en demanda por sus tierras. También toma distancia del gobernador de Salta (noroeste), Juan Manuel Urtubey, que elogió a sus diputados cuando votaron contra la ley de matrimonio gay. El politólogo Ignacio Labaqui, de la Universidad Católica Argentina, también observa que el pensamiento económico de Urtubey es abiertamente más liberal, a diferencia del de sus otros colegas, más pragmáticos. Sabbatella también critica al jefe de San Juan (este), José Luis Gioja, un ferviente defensor de la minería a cielo abierto, por encima de su impacto ambiental. El apoyo a la minería también distingue al gobernador de La Rioja (noroeste), Luis Beder Herrera, el mismo que apoya la reelección de Menem como senador, según apunta Labaqui.

Etchemendy observa que en la mayoría de las provincias del norte argentino, las más pobres del país y casi todas kirchneristas, no se aplica en forma correcta la política nacional de salud reproductiva, que consiste básicamente en distribución de métodos anticonceptivos. En el Este argentino también observa que el gobernador de Mendoza, Celso Jaque, está a la derecha de Fernández.

Existen, de todos modos, algunas excepciones de jefes provinciales kirchneristas con políticas más acordes con las del Gobierno argentino. Los politólogos consultados citan los casos de los gobernadores de Chaco (noreste), Jorge Capitanich, críticado por casos de desnutrición infantil, y de Entre Ríos (oeste), Sergio Urribarri, que cuenta con el apoyo de Sabbatella. Esta distinción no es menor si se tiene en cuenta que la Constitución argentina prohíbe que Fernández busque otra reelección en 2015 y que el kirchnerismo deberá buscar en los próximos cuatro años un sucesor afín y con cierto poder, como el que tienen los barones del PJ.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Eleições na Argentina

Confira abaixo matéria a respeito.

Dama do poder
Autor(es): Rodrigo Craveiro
Correio Braziliense - 17/10/2011

Fortalecida pelos êxitos de seu governo e pela simpatia de que desfruta desde a morte do marido e antecessor, Cristina Kirchner caminha para ser reeleita no próximo domingo, sem necessidade de segundo turno

"Tua canção tem o frio do último encontro. Tua canção se faz amarga no sal da recordação." A letra do tango Malena, de Carlos Gardel, parece personificada na figura da presidente da Argentina, Cristina Fernández de Kirchner, 58 anos. Desde a morte do marido, Néstor Kirchner, em 27 de outubro de 2010, ela mergulhou no luto e praticamente aboliu qualquer vestimenta que não seja de cor preta. "Estamos vivendo um espetáculo circense. Está claro que Cristina mente. O luto faz parte do disfarce", afirmou ao jornal Clarín a candidata da Coalizão Cívica, Elisa Carrió. Esse mesmo luto ajudou a chefe de Estado a capitalizar a simpatia da população.

As últimas pesquisas indicam que Cristina será reeleita no próximo domingo, sem necessidade de segundo turno. A sondagem da empresa de consultoria Aresco revela que a presidente peronista teria cerca de 52,8% dos votos, contra 12,2% para o socialista Hermes Binner. Em terceiro lugar aparece o social-democrata Ricardo Alfonsín, com 9,9%. Ex-presidente interino por uma semana, em 2001, Alberto Rodríguez Saá ficaria com 9,8%, seguido do ex-mandatário peronista Eduardo Duhalde, com 8,1%. Outra pesquisa, da Giacobe & Associados, mostra pouca diferença: Cristina Kirchner (53,1%), Binner (16,6%), Saá (10,2%), Alfonsín (9,1%) e Duhalde (7,9%).

A viúva de Néstor Kirchner detém a maior diferença de intenção de votos em relação ao segundo colocado desde o início do ciclo democrático, em 1983. O sucesso da ex-primeira-dama, lançada à Casa Rosada pelo marido, se deve a uma política social arrojada, a uma economia estável e à incapacidade da oposição de forjar alianças consistentes.

"Nos últimos meses, a candidatura de Cristina se consolidou por vários fatores. Em primeiro lugar, a conjuntura econômica marcada por indicadores positivos. Em segundo lugar, o resultado amplamente favorável nas primárias (50,7% dos votos), que contrasta com a imagem de uma oposição fragmentada e dispersa. Em terceiro, uma eficaz campanha eleitoral, que sublinhou os êxitos do governo", afirma ao Correio, por e-mail, Miguel De Luca, cientista político da Universidad de Buenos Aires e presidente da Sociedade Argentina de Análise Política (Saap).

Populismo
Facundo Galván, professor de ciências políticas e relações internacionais da Universidad Católica Argentina e da Universidad del Salvador, pontua medidas populistas adotadas por Cristina que surtiram efeito positivo. Um exemplo é a "gratificação universal por filho", uma espécie de seguro social concedido a trabalhadores desempregados ou informais, que oferece subsídio a cada descendente menor de 18 anos. "Somado a um contexto macroeconômico favorável, a Casa Rosada tem acertado em diversas políticas que foram bem recebidas por grandes segmentos da população", acrescenta. O sucesso de uma campanha também depende da perícia dos candidatos em costurar coalizões. Para Galván, além de possuir tal habilidade, Cristina Kirchner soube tirar partido do cenário. "A Argentina assiste a uma falta de lideranças opositoras, capazes de seduzir e de unificar o eleitorado e as forças "não kirchneristas". Esse fator potencializou-se com a ausência de vontade política dos candidatos opositores para forjar alianças plurais e multipartidárias, com a capacidade real para enfrentar o governismo."

Miguel De Luca comenta que medidas implantadas pela equipe econômica promoveram uma melhora nos setores sociais menos favorecidos, apesar da alta de preços. "Políticas orientadas ao consumo e ao subsídio dos serviços públicos têm conquistado setores das classes médias urbanas, tradicionalmente relutantes em votar nos peronistas", lembra De Luca. Além disso, Cristina vem manejado com êxito o principal problema que enfrenta desde 2008: o denominado "conflito com o campo". Por todos esses motivos, ela logrou construir uma coalizão eleitoral imbatível.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Deus e a eleição

Nada como um dia atrás do outro, ensina o dito popular. Na sua coluna de hoje do jornal Folha de São Paulo, o jornalista Fernando Barros e Silva reproduz famoso e decisivo diálogo, travada em debate às vésperas da eleição para prefeito de São Paulo em 1985 pelo então candidato (que viria a ser derrotado, dizem, exatamente pela resposta dada ao jornalista. Confira:

Boris Casoy - Senador, o senhor acredita em Deus?
FHC - Essa pergunta o senhor disse que não me faria.
Casoy - Eu não disse nada.
FHC - Perdão, foi num almoço, sobre esse mesmo debate.
Casoy - Mas eu não disse se faria ou não faria.
FHC - É uma pergunta típica de quem quer levar uma questão que é íntima para o público, uma pergunta típica de quem quer simplesmente usar uma armadilha para saber a convicção pessoal do senador Fernando Henrique, que não está em jogo. Devo dizer ao senhor Boris Casoy que esse nosso povo é religioso. Eu respeito a religião do povo, as várias religiões do povo, automaticamente estou abrindo uma chance para a crença em Deus.
Casoy - A pergunta não foi respondida. Não se trata de armadilha, nem de convicção pessoal.
O jornalista da Folha, após rápida análise, conclui:

Ao vestir a fantasia do neocarola, o tucano age mais ou menos como aqueles que acusavam FHC de ser ateu há um quarto de século.

domingo, 10 de outubro de 2010

Jânio de Freitas põe as coisas no seu devido lugar

Transcrevo abaixo trechos da coluna de hoje do jornalista Jânio de Freitas escrita na Folha de São Paulo. Lá embaixo, coloco um link para que os assinantes do jornal ou do UOL possam lê-la integralmente.

JANIO DE FREITAS

Na porta de entrada

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Em uma República presente no século 21, a eleição de seu presidente reduz-se ao aborto, se crime ou não
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ENTRE PRÉ-SAL, Brasil no jogo político planetário, células tronco, construção de foguetes, submarinos nucleares, feitos esplêndidos e silenciosos de laboratórios científicos, liderança mundial em exportação de vários alimentos -enfim uma República presente no século 21 sob tantos aspectos, de repente a eleição de seu presidente reduz-se ao aborto, se crime ou não. Os candidatos tremem, docilizam-se, mentem. Os bispos e pastores, no velho e no novo púlpito da tv, troam passando-se pela voz divina. Um país com meio milênio de atraso.

O caminho para a conquista do eleitor não são os projetos, não são as ideias, não são os circunstantes técnicos e políticos, não é o diagnóstico do presente e a visão de futuro. É a benção. Proveniente de sedes de bispados e cardinalatos, dos palcos e templos onde os que fazem riqueza inventando seitas recolhem os 10% "de dízimo".
(...)
Se o eleitor se convence da insinceridade dos candidatos, testemunha que é da submissão oportunista em quem deveria demonstrar inteireza, ignoro a existência de argumento respeitável para convencê-lo do contrário. Ignoro e duvido que haja.
A eleição dita republicana leva o Brasil ao portal do mundo dos fundamentalismos, essa patologia cujos fins e formas variados são idênticos nas marcas deixadas na história: sempre guerras, mortes impiedosas, sofrimento de inocentes em massa, dominação, e atraso -tantas vezes irreparável no possível caminho do crescimento humano.
(...)
Mas o que os candidatos à Presidência disputam é a sua possibilidade de influir, decisivamente em inúmeros casos, no futuro de quase 200 milhões de pessoas. Adeptos de religião ou não. E a maioria dos adeptos, só para fins de declaração.


ASSINANTE UOL OU FOLHA LÊ O TEXTO INTEGRAL AQUI.

Brincando com o fundamentalismo

E os ditos formadores de opinião começam a se chocar com a criatura que eles começaram a cevar. Refiro-me ao fundamentalismo religioso. Agora, no processo eleitoral, é conveninte açular carismáticos e evangélicos contra a Dilma. E, ao PT, faz-se necessário mostrar-se aliado dos eleitores religiosos. Mas, amanhã, a fatura dessa brincadeira pode ser mais alta do que ambos os lados pensam pagar.

Os jornalistas modernosos (ou pós-modernos da Folha) e os produtores culturais tucanos, tão avançados e contra a caretice petista, dão-se conta de que serão os seus amigos (ou eles próprios) as primeiras vítimas de um mundo no qual as regras morais sejam ditadas pelos pastores da Assembléia de Deus. Nesse admirável mundo novo, não tenho dúvidas, espaço nenhum haverá para performances desconstrucionistas. Parada Gay, Caderno "Mais", Segundo Caderno, dinheiro para programas de prevenção à AIDS e contra a violência homofôbica e similares desaparecerão. Como nos EUA da era Bush, o dinheiro público ira financiar campanhas de abstinência sexual. Pois, religiosos extremistas vêm nessas campanhas o caminho para enfrentar a AIDS...

Vejam o Afeganistão. Para escorraçar os russos de lá, os norte-americanos treinaram uma figurinha chamada Osama Bin Lader e deram dinheiro a rodo para a guerrilha islâmica. Pariu a Al Qaeda e o Talibã. E toda a vida social laica, que um dia fez do Afeganistão um país respirável para as mulheres, foi destruído. E o resto, você já sabe.

Quem goza com o gozo fariseu dos pastores e os seus vídeos escatológicos, como aquele de um proto-fascista curitibano, tem que se lembrar que, para os representantes políticos evengélicos, ainda ontem, quando da discussão sobre a nova Cosntituição brasileira, era inaceitável a tipificação de ato sexual forçado no casamento como estupro. Por quê? Ora, porque o casamento é sempre sagrado. Imaginem o retrocesso na discussão sobre a respeito da violência doméstica que vem embutido por trás desses discursos em defesa da família.

O PSDB, mais até do que o PT, tem os pés fincados na classe média. Parte dela se pensa ilustrada. Adora, em São Paulo, os programas culturais corretamente custeados pelo dinheiro público. Alguém pensa que no admirável mundo novo da Assembléia de Deus haverá dinheiro para coisas que não aquelas do "louvor"?

Quem brinca com fundamentalismo, podem apostar, paga um preço alto. E, nestas eleições, estamos indo além da conta.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Marina pode surpreender

Tenho conversado com muita gente jovem nos últimos dias. Não é fácil fazê-los(as) falarem sobre as eleições vindouras. Mas, quando falam, botam os pingos nos is. Tenho observado, especialmente entre jovens escolarizados (com ensino médio concluído ou estudantes universitários), um certo brilho no olhar quando abordam a candidatura de Marina Silva.

Eles e elas estão, para dizer o mínimo, entusiamados com a candidatura verde. Tá, tá, não é nenhuma amostra. E o meu "universo" é mais do que restrito, mas que isso indica alguma coisa, vamos lá!, indica... Ao menos que a Marina Silva pode conquistar muito mais do que os 10% de votos que as pesquisas eleitorais até agora realizadas indicam.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Quem tudo quer...

Lula joga para levar tudo. Essa, nem sempre, é a melhor postura de um jogador. Mas Lula tem experiência e já demonstrou competência em garantir o seu projeto. Nem que, para isso, tenha que destroçar o PT. Leia abaixo a análise de Feuerwerker a respeito.

Escravo da ribalta (04/05)
Alon Feuerwerker.

Mais do que demonstração de força, a blitz do presidente nos últimos dias talvez seja sintoma de alguma fragilidade. Lula não quer só ganhar. Quer fazer barba, cabelo e bigode, para Dilma governar sem oposição efetiva. Terá força para tanto?A largada desta etapa da “pré-campanha” presidencial neutralizou o ambiente de euforia no campo governista que marcou os primeiros meses do ano. A oposição mostrou duas coisas não exibidas até então: disposição para o embate e capacidade de articular um discurso. Acostumados a jogarem sozinhos ao longo de muito tempo, o presidente da República e o PT dão sinais de, como se diz no boxe, terem sentido o golpe.

Um sintoma é o pronunciamento de Luiz Inácio Lula da Silva em rede nacional de TV por motivo do Dia do Trabalho. Questões procedimentais à parte, ele provoca pelo menos uma dúvida: por que o presidente precisa adotar comportamento algo heterodoxo agora, se daqui a pouquinho ele terá o gordo tempo de televisão de Dilma Rousseff na campanha, para se fartar de mandar o eleitor votar nela?

A resposta deve ser buscada na lógica das construções políticas. O presidente entrou em campo nos últimos dias menos para impressionar o público — ainda nem aí para a eleição — e mais para causar boa impressão aos aliados. O processo eleitoral entra agora na fase decisiva da costura de alianças, e Lula quis deixar claro aos amigos em potencial que ele tem sim um discurso para, como se diz nas entranhas do governo, desconstruir a oposição.

Isso para os potencialmente amigos não cederem à tentação de virarem inimigos. Um fenômeno sempre ameaçador em exércitos que, antes de tudo, estão juntos por interesses apenas materiais.

Assim, mais do que demonstração de força, a blitz do presidente nos últimos dias talvez seja sintoma de alguma fragilidade.

Lula tem objetivos ambiciosos em 2010. Além de eleger Dilma, pretende remover o PSDB do poder em São Paulo e Minas Gerais, e também encerrar a carreira política dos que lhe fizeram oposição cerrada no Congresso Nacional, com foco no Senado. Ali, Lula projeta construir para Dilma uma maioria folgada, deixando o futuro governo petista de mãos livres para as reformas constitucionais que bem entender.

Lula não quer só ganhar. Quer fazer barba, cabelo e bigode, para Dilma governar sem oposição efetiva. Terá força para tanto? Quais são os trunfos de Dilma e de Lula na eleição? A aliança dos maiores partidos, o maior tempo na tevê, a popularidade do presidente.

Tempo de TV é importante, mas a história das eleições brasileiras está cheia de exemplos de não ser tudo. As alianças são importantes, mas eleição presidencial embute bom grau de autonomia do eleitor na relação com os candidatos. E o apoio de Lula, qual será o peso efetivo dele na hora da decisão?

Há certezas e dúvidas sobre como o cidadão comum enxerga o presidente. Certezas? Ele o vê como alguém que faz um bom governo, de realizações reconhecidas. E valoriza sua trajetória. As dúvidas estão em outro lugar. Até que ponto Lula é um líder a quem a maioria seguirá incondicionalmente? Até que ponto o pragmatismo presidencial não acabou diluindo, no transcorrer do governo, uma certa relação afetiva que o eleitor não petista talvez mantivesse com o líder histórico do PT?

O filme sobre a vida de Lula, por exemplo, não foi um sucesso de bilheteria. Ao contrário. Uns dizem que a fita é simplesmente ruim, mas o insucesso não foi previsto quando ela estreou, ou pré-estreou. Muita gente boa que viu na época apostou na capacidade de a obra galvanizar emocionalmente o país, com óbvios efeitos no processo eleitoral. Simplesmente não aconteceu.

Num extremo, o entorno de Lula busca convencê-lo de que se transformou num guia condutor de almas, para além da simples racionalidade. No outro, a oposição gostaria de acreditar que Lula só transferirá a Dilma os votos que ela já teria por ser a candidata do PT. A verdade está em algum lugar no meio. Onde? Ninguém, no governo ou na oposição, tem certeza. Daí que Lula tenha precisado voltar à ribalta. De onde não consegue sair sem gerar na turma dele uma sensação chata de insegurança.

(...)
Coluna (Nas entrelinhas) publicada nesta terça (04) no Correio Braziliense.

terça-feira, 27 de abril de 2010

E Ciro Gomes?

Leia abaixo artigo de autoria do jornalista Alon Feuerwerker abordando, com consistência e objetividade, a posição de Ciro Gomes nas próximas eleições presidenciais. Ou, de forma mais provinciana(do ponto de vista disciplina, of course!), uma análise sobre jogo, jogador e conseqüências não-intencionais.


O amigo dos inimigos
Alon Feuerwerker


Ciro não percebeu os sinais de que o segundo mandato marcaria uma flexão importante na política de alianças de Lula: o lugar à direita de sua excelência estaria reservado não para animar os dispostos a lhe fazer o bem, mas para demover quem ameaçasse fazer-lhe o mal

Ciro Gomes é a enésima vítima de um sistema eleitoral cuidadosamente concebido para transformar a política brasileira nesta confederação de cartórios esclerosados. Oferecido pelo PSB na mesa de câmbio das negociações paroquiais, das pequenas ambições e do apetite exacerbado pelas miudezas, o razoável seria Ciro concorrer à Presidência por outro partido, ou como independente.

Não vai acontecer, porque o monopólio da política por legendas desobrigadas de praticar qualquer democracia interna foi no Brasil transformado em virtude.

Prazos de desincompatibilização, prazos de filiação, fidelidade partidária, proibição de propaganda paga nos veículos de comunicação, proibição de arrecadar recursos se você não for dono de partido (antes do “início oficial” da campanha), exigência de filiação partidária para concorrer. Todos remédios certificados para curar, mas que vão levando à morte do paciente na mão do neocoronelismo.

Houvesse uma Anvisa para o setor, os alquimistas da politicagem nacional estariam em péssimos lençóis.

Mas esta coluna não é sobre reforma política, é sobre Ciro Gomes e suas circunstâncias. Até 1994 ele teve uma carreira política brilhante. Em pouco mais de uma década já percorrera as posições de deputado estadual, prefeito de Fortaleza, governador do Ceará e ministro da Fazenda. Rompeu com o PSDB no início do governo Fernando Henrique e foi para o PPS. Conseguiu 10% dos votos na eleição presidencial de 1998, garantindo fôlego para disputar quatro anos depois com chances no primeiro turno — e participando decisivamente da vitória de Luiz Inácio Lula da Silva no segundo turno.

Ciro entrou no governo Lula e esteve na linha de frente da batalha da reeleição. Ali cometeu o primeiro erro realmente grave. Não percebeu os sinais de que o segundo mandato marcaria uma flexão importante na política de alianças do presidente: o lugar à direita de sua excelência estaria agora reservado não para animar os dispostos a lhe fazer o bem, mas para demover quem ameaçasse fazer-lhe o mal. O velho ditado de manter os inimigos mais por perto ainda.

Se a flexão era mesmo necessária, Lula operou-a de maneira tosca e amadora, detalhe surpreendente num profissional da política. O presidente vem deixando um a um os aliados históricos (uso aqui o termo com alguma flexibilidade) sucumbirem em batalhas desiguais e desmoralizantes contra os neoamigos, refregas sempre temperadas por convenientes vazamentos palacianos sobre as “preferências pessoais” e a “torcida” do presidente. E sobre a “tristeza” após cada infeliz desfecho.

São as únicas batalhas que Lula “perde”. Nas demais ele sempre tenta a vitória com a faca nos dentes.

Descartada a candidatura, o quase ex-presidenciável Ciro Gomes tem hoje dois problemas.

O PT ameaça colocar em marcha o projeto de demolir o grupo dele no Ceará, caso Ciro não se junte à operação para liquidar a carreira política de Tasso Jereissati. É uma das muitas metas de Lula nesta eleição. Como Tasso e Ciro são — aí sim — aliados históricos, ao ponto de o tucano Tasso ter largado a candidatura presidencial de José Serra em 2002 para apoiar o parceiro, é coisa que Ciro não fará.

O segundo problema de Ciro é ter dinamitado as pontes com o outro lado. Num sistema linear de pensamento, isso deveria ter engordado seu cacife com o presidente. Mas diminuiu. Ao menos por enquanto, Ciro só tem bala para fazer mal a Lula em discursos. Coisa que pode ser facilmente neutralizada com os vazamentos de sempre, difundindo-se como Lula está “triste”, “chateado” ou “irritado”.

Um belo cardápio de supostos estados de espírito.

Alienação

De todo modo, Ciro presta pelo menos um serviço ao país nesta saída, ao advertir para os riscos da situação cambial.

O Banco Central dá sinais de que vai subir para valer o juro básico nos próximos meses. A medida irá acelerar a deterioração das contas externas e agravar nossa dependência dos investimentos diretos do exterior. Ou seja, da alienação de ativos para o exterior.

Enquanto isso, Lula discursa sobre o patriotismo do seu governo e o chanceler cuida de produzir factoides para preencher o noticiário.


Coluna (Nas entrelinhas) publicada neste domingo (25) no Correio Braziliense.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Entrevista de Luiz Felipe de Alencastro

Clique aqui e leia uma boa entrevista dada pelo historiador Luis Felipe de Alencastro ao jornal VALOR ECONÔMICO. Nela, o reconhecido intelectual aborda o processo político brasileiro e o cenário no qual realizar-se-ão as próximas eleições.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

O PT nas eleições de 2010: a análise de César Maia

Uma das coisas que eu aprendi a detestar foi o escanteamento de um argumento pela desqualificação de quem o emite. Obviamente, não precisaria nem dizer, tenho nadado contra a corrente. No dia a dia, mesmo no espaço acadêmico no qual, em tese, deveria prevalecer um debate no qual a identificação do melhor argumento deveria se basear na sua força persuasiva e na sua consistência, predomina, com raras exceções, a postura de diminuir o emissor para deixar de lado a mensagem. Escrevo esse intróito para convidá-lo a ler o texto abaixo, escrito pelo ex-Prefeito César Maia, do DEM. Sei, sei, você não gosta do cara, e, sendo petista, menos ainda do teor do texto. Mas, faça um exercício: tente "ler" para além do texto, isto é, para além do interesse do autor em fazer o combate político e ideológico ao PT. Caso você consiga fazer isso, pode descobrir que há, aí, alguns elementos para um diagnóstico (que precisa ser feito) da metamorfose que o PT está vivendo neste ano de 2010.

A DEBILIDADE DO PT NA CAMPANHA ELEITORAL DE 2010!
César Maia


1. Na Alemanha dos anos 30, chamava-se de "Estado Total" a incorporação ao Estado, dos poderes, do partido político único, dos sindicatos e de todas as associações da sociedade civil, incluindo as manifestações artísticas. Por isso, os atos do partido único eram também atos do Estado e, por este, preparados com toda a coreografia e assumindo todas as despesas. No Brasil se avança para isso a passos largos. Boa parte das associações da sociedade civil e sindicatos são cooptados, patrocinados e seus dirigentes assalariados do Estado por nomeação.

2. Quando se analisa o quadro eleitoral de 2010, isso fica muito claro. Era de se esperar que com a popularidade do presidente e a competitividade de sua candidata, o PT entrasse nesse processo eleitoral como o partido mais forte, especialmente por ser um partido de Estado. Mas não é isso que se vê.

3. Fazendo um levantamento das candidaturas próprias do PT aos governos dos estados, se vê que elas são competitivas no Rio Grande do Sul, Bahia, Sergipe, Piauí e Acre, sendo que no Rio Grande do Sul, é competitiva para perder, e só no Acre franco favorita. Isso terá como reflexo a inevitável perda de deputados em relação aos que o PT elegeu em 2006.

4. Mas para os gerentes do Estado Total, Lula na frente, tanto faz. Pressionam seus pré-candidatos regionais para que desistam e apóiem seus parceiros, especialmente do PMDB e do PSB. Para eles, o fundamental é manter sob seu controle o Estado Total. Na medida em que a Federação foi colocada de joelhos por Lula, com um cheque de 'pacs' numa mão e um chicote na outra, ganhar ou perder estados não muda nada. Da mesma forma fazer mandatos de deputados federais. Afinal, a cooptação por cargos, emendas ou partido-patrimonialismo, pensam, vai lhes garantir o controle do Estado Total.

5. E se o partido é parte do Estado, que se transforma ele mesmo em partido, não faz diferença a origem partidária dos deputados da base aliada ou subserviente. O importante é vencer a eleição presidencial. E para isso vale qualquer arma, qualquer golpe, qualquer pressão. Não importa se o PT vai sair dessa com um só governador do Acre e com 60 deputados federais. O que importa é o controle do Estado, pois os mandatos de fato, estão com aqueles que ocupam os postos chaves da máquina pública. Especialmente os fiscais financeiros e previdenciários.

terça-feira, 2 de março de 2010

Dilma Roussef no El País

O El País é um dos melhores jornais da chamada grande imprensa. Pelo menos, e isso não e pouco, os seus textos têm qualidade técnica. E ainda se pratica algum jornalismo nas páginas do mais conhecido diário espanhol. É a minha primeira leitura jornalística do dia. Sempre.

E o jornal mantém um bom correspondente no Brasil. Este dedica um bom tempo de sua pauta aos assuntos relacionados ao rame-rame da disputa política nos trópicos. No geral, escreve matérias de qualidade. Na edição de hoje, por exemplo, o correspondente trata do crescimento eleitoral de Dilma Roussef. Confir abaixo!

El ascenso fulgurante de Rousseff
Inquietud en la oposición brasileña ante la subida meteórica en las encuestas de la aspirante del PT a la presidencia - El PSDB aún no tiene candidato
JUAN ARIAS Río de Janeiro 02/03/2010


El presidente de Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, tenía razón cuando dijo que su candidata favorita para disputar las elecciones presidenciales de octubre, Dilma Rousseff, crecería en las encuestas en cuanto su candidatura se hiciera oficial. Y así ha sido. El Partido de los Trabajadores (PT) la consagró oficialmente el pasado 20 de febrero y la lanzó al ruedo político. Desde entonces, la ex guerrillera y ministra de la Casa Civil ha dado un salto en los sondeos con una subida de cinco puntos (28%) y se ha colocado a sólo cuatro del que seguramente va a ser su principal contrincante electoral, el socialdemócrata José Serra, actual gobernador de São Paulo (32%).

El PT, que aceptó la candidatura de Rousseff por imposición de Lula más que por convicción propia, ahora da saltos de alegría y comienza a confiar en que volverá a ganar las elecciones. Y la verdad es que la popularidad de Rousseff no sólo ha aumentado entre el electorado más pobre, fiel a Lula, sino que le ha quitado votos a su adversario en el sur rico, donde Serra es el gran favorito.

La oposición ha recibido como un jarro de agua fría la subida de Rousseff, sobre todo porque su aspirante aún no ha querido oficializar la candidatura. Serra es un político de larga carrera. Ha sido dos veces ministro, alcalde de São Paulo y ahora gobernador de dicho Estado. Fue derrotado por Lula en las presidenciales de 2002, pero en el segundo turno. El problema es que, si ahora se incorpora a la carrera presidencial y fracasa, perdería también la oportunidad de ser reelegido en São Paulo, donde disfruta de un apoyo popular parecido al de Lula a nivel nacional. Es decir, saldría de la vida política.

El ascenso de Dilma en las encuestas ha hecho que el opositor Partido de la Social Democracia Brasileña (PSDB) se vea obligado a forzar a Serra a tomar una decisión cuanto antes. Lo ideal para el partido es que el joven Aecio Neves, actual gobernador de Minas Gerais, el segundo Estado con más votos del país después de São Paulo, aceptase optar a la vicepresidencia en la candidatura de Serra. Juntaría así los votos de dos Estados que, juntos, suponen casi la mitad del electorado. Neves, sin embargo, también aspira a ser candidato a la presidencia y por eso se hace el remolón. Tiene, además, la esperanza de que Serra pueda acabar renunciando a presentar su candidatura, a la vista de la subida de Rousseff; en ese caso, el PSDB forzosamente tendrá que lanzarle a él al ruedo electoral.

Este mes va a ser, pues, decisivo en lo que atañe a las elecciones de octubre, las primeras en 20 años sin Lula como candidato, aunque con una aspirante considerada su sombra. Para vencer, la oposición no puede presentar a su candidato como superior a Lula -al que los sondeos acaban de conceder un 73% de aprobación popular-, sino a Rousseff. Ésa será la gran batalla: no si Brasil será mejor con Serra que con Lula, sino si Serra, que brilla con luz propia, será mejor para el país que Rousseff, cuya luz proviene de su ex jefe y es en cierto modo una incógnita política, ya que nunca ha disputado unas elecciones.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

FHC seguindo o script traçado por Lula

Leia abaixo artigo de autoria de Marcos Coimbra. Trata-se de uma análise das investidas críticas do ex-presidente contra Lula, Dilma e o PT. Vale a pena conferir!

Fernando Henrique contra Lula
Autor(es): Marcos Coimbra
Correio Braziliense - 10/02/2010

Com seu cartão de visitas, o Plano Real, Fernando Henrique ganhou a admiração do país. Se não terminou seu período com a imagem que julga condizente com o que fez, ninguém pode ser responsabilizado, fora aqueles que o integraram

Em mais um capítulo da longa batalha que travam há anos, Fernando Henrique e Lula voltaram a se enfrentar no fim de semana. Agora, a iniciativa partiu do ex-presidente, que, em artigo publicado por alguns jornais, se disse “sem medo do passado”. Com isso, afirmou que aceita o desafio do atual, de fazer a comparação entre os governos dos dois na eleição deste ano.


Segundo Fernando Henrique, Lula está em meio a uma “guerra imaginária” em que distorce fatos e, assim fazendo, se glorifica no contraste com ele. Em suas palavras, o presidente quer assustar as pessoas, ameaçando-as com o caos se a oposição vencer.

Quase todo o texto é dedicado à defesa das decisões que tomou e do que fez no Planalto. O cerne de seu argumento é a ideia de que Lula (apenas) “deu passos adiante no que fora plantado por seus antecessores”. Embora falasse no plural, parece que o que ele queria dizer é que o (único) mérito de Lula foi prosseguir o que ele começou.

Nada mais compreensível que a reação de FHC. Não é preciso ter de si uma opinião muito elevada para, em situação semelhante, ficar tão desconfortável quanto ele parece estar. Depois de uma trajetória brilhante como intelectual, entrou na vida política pela porta da frente e chegou aonde chegou, tornando-se, por algum tempo, ídolo de um país que não acreditava mais que a inflação pudesse ser vencida. Hoje, sem que ele o mereça, muitos de seus amigos preferem que ele finja que não existe.

Espicaçado por Lula e Dilma, pelo PT e até por gente que esteve bem aninhada em seu governo, é difícil imaginar que ele fosse ficar quieto em seu canto, sofrendo calado. O artigo foi uma mostra de que ele não vai aceitar de braços cruzados as provocações que a campanha da ministra lhe fará. Aliás, não foi a única, pois, ainda no sábado, já havia dito que Dilma é “um boneco” e Lula seu “ventríloquo”. Em matéria de nível de debate, não se pode dizer que seja elevado.

Fernando Henrique se diz convencido que na campanha haverá um mote (“o governo do PSDB foi neoliberal”) e dois “alvos principais: as privatizações das estatais e a (sua) suposta inação na área social”. Em função disso, contra-argumenta procurando mostrar que melhorou o desempenho das empresas privatizadas em seu governo e reivindicando a invenção do Bolsa Família.

Ainda que concordássemos com o que diz, o problema do raciocínio é que as eleições, para a vasta maioria das pessoas, não são guerras (imaginárias ou reais) entre dados e teses, mas entre imagens. Se existem pessoas que tomam suas decisões de voto apenas depois de ouvir a exaustiva argumentação racional dos candidatos em torno de diagnósticos e propostas, elas são uma minoria. E não apenas aqui, onde, por nossas distorções, o eleitorado é predominantemente constituído por cidadãos de baixa escolaridade e informação. Acontece o mesmo em qualquer lugar, incluindo os mais desenvolvidos. Em todos, os eleitores votam muito mais com imagens que com números na cabeça.

Fernando Henrique teve oito anos de governo para formar uma imagem de si, seus companheiros e ideias. Com seu cartão de visitas, o Plano Real, ganhou a admiração quase unânime do país. Se não terminou seu período com a imagem que julga condizente com o que fez, ninguém pode ser responsabilizado, fora aqueles que o integraram. Basta pensar no investimento em comunicação governamental nada pequeno que foi feito e que de pouco serviu, ao que parece.

O PSDB teve mais duas oportunidades de ouro para refazer a imagem do governo FHC, as campanhas de 2002 e 2006, ambas terminadas no segundo turno. Não foi por falta de tempo de televisão e de recursos que elas foram desperdiçadas.

Serra, sabendo que a grande maioria das pessoas queria a mudança naquela eleição, não pôde assumir o lado do governo de maneira inequívoca. Alckmin preferiu falar de sua gestão em São Paulo e emudeceu quando FHC foi trazido para o palco.

Engana-se quem acha que as privatizações foram um fantasma habilmente inventado por Lula para derrotar o PSDB. Elas não passavam de um símbolo das diferenças entre tucanos e petistas, FHC e Lula, “as elites” e “o povo”, “eles” e “nós”. Denunciando-as, muito mais era expresso, coisas que não são apagadas pelo fato de que “hoje existe celular para todos”.

Toda vez que entra diretamente no debate, FHC faz o que Lula quer. Só que o ex-presidente não consegue e nem deve evitá-lo. Esse é seu drama.

Eleições 2010: qual será o jogo dos donos da bolsa...

Confira abaixo matéria publicada no VALOR ECONÔMICO dando conta dessa, digamos, decisiva questão.

O MERCADO SE DIVIDE ENTRE SERRA E DILMA
SERRA E DILMA DIVIDEM PREFERÊNCIAS NO MERCADO FINANCEIRO
Autor(es): Luiz Sérgio Guimarães, de São Paulo
Valor Econômico - 10/02/2010

O mercado financeiro prefere Serra ou Dilma? Em linhas gerais, os analistas acreditam que Dilma fará uma repetição "piorada" do segundo mandato de Lula: âncora monetária, flutuação cambial suja e política fiscal frouxa. Serra fará o que sempre fez: âncora essencialmente fiscal, contas públicas equilibradas, juro real baixo e câmbio depreciado. Os mercados poderão passar a apoiar mais claramente a ministra Dilma Rousseff se enxergarem dificuldades intransponíveis em uma gestão Serra - Dilma, teoricamente, manteria os juros mais altos que Serra, o que agrada ao mercado. O ex-ministro de FHC Luiz Carlos Mendonça de Barros considera essa visão uma "irresponsável superficialidade". Em relatório divulgado ontem, o economista-chefe do Banco Santander, Alexandre Schwartsman, diz que a evolução das contas de São Paulo entre 2006 e 2009 foi muito semelhante à do governo federal, o que não confirma a avaliação que o governador José Serra tenderia a ser mais duro que Dilma na questão fiscal.

O mercado financeiro prefere Serra ou Dilma? A austeridade fiscal defendida e posta em prática pelo governador de São Paulo, José Serra, sempre conquistou a simpatia de instituições e investidores. Mas a facilidade com que o mercado ampliou seus lucros ao longo dos dois mandatos de Lula introduz um elemento novo capaz de balançar as convicções. E os analistas não descartam uma opção mercadista pela candidatura da ministra Dilma Rousseff.

Em linhas gerais, os analistas acreditam que Dilma fará uma repetição "piorada" do segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva: a âncora persistirá monetária, a flutuação cambial permanecerá suja e a política fiscal, frouxa. Serra fará o que sempre fez: a âncora (rigorosa a ponto de reduzir crescimento no primeiro ano) será essencialmente fiscal, a política econômica se sustentará em contas públicas equilibradas, juro real baixo e câmbio depreciado. Os mercados poderão passar a apoiar mais claramente a ministra Dilma Rousseff se enxergarem dificuldades intransponíveis em uma gestão Serra.

Pelo estilo centralizador demonstrado pelo atual governador paulista, o principal risco seria o de não conquistar a máquina burocrática de Brasília. Encontraria problemas para fazer logo o ajuste fiscal pretendido, com corte das despesas públicas e reforma tributária. Essas correções seriam essenciais para o segundo passo: a desvalorização cambial e a redução dos juros. Mas Luis Otavio de Souza Leal, economista-chefe do Banco ABC Brasil, levanta a hipótese de Serra não conseguir fazer o ajuste fiscal na extensão desejada. "Serra poderá tentar colocar de pé os dois outros pilares do seu modelo, sem que a principal viga de sustentação esteja fincada, o que certamente acabaria em fracasso via uma retomada da tendência de alta da inflação. Portanto, acredito que, apesar de no papel o modelo Serra ser melhor, as dúvidas com relação a sua implementação podem levar o mercado a considerar mais confortável a vitória de Dilma", diz Leal. Sobretudo se o atual presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, vier a ocupar a chapa da candidata ou a sua equipe econômica. Com isso, o PT passaria a ideia do "um pouco mais do mesmo", o conhecido confiável, embora não do inteiro agrado dos mercados.

Em entrevista concedida ontem ao Valor, o ex-ministro do governo FHC Luiz Carlos Mendonça de Barros - o Mendonção, como é conhecido no mercado, amigo de Serra - criticou o que considera uma "irresponsável superficialidade" do mercado financeiro, a de acreditar que, num eventual governo Dilma, tudo estará muito bem pois as instituições e os investidores continuarão ganhando dinheiro, já que serão preservadas as atuais políticas monetária e cambial. "Trata-se de um tremendo erro de análise", ataca Mendonção. "O mercado só olha o próprio bolso e é um bolso de curto prazo".

Essas eleições serão, no seu entender, fundamentais para definir o desenho de Nação que se terá no futuro. O Brasil está em condições privilegiadas em relação aos países europeus. Tem dívida pequena e dinâmico mercado de consumo doméstico. O país já está dentro do centro dinâmico da economia mundial. Mas precisa alargar o seu espaço. "Antes disso, será necessário discutir o papel do Estado na economia. Não tenho dúvida de que um governo Dilma irá ampliar a presença do Estado na produção econômica. É um retrocesso, uma visão soviética das coisas", diz Mendonção. Serra tem outro tipo de visão. Quem tem de ser forte é o setor privado, as indústrias. O governo deve controlar severamente as finanças públicas e criar condições para o investimento privado. No entender do diretor da Quest Investimentos, o mercado deveria abrir mão dos seus interesses de curto prazo, em prol do crescimento que virá para todos mais adiante.

Se o mercado, a sete meses das eleições, ainda não fechou consenso sobre o candidato favorito, sabe o que não quer: torce para o deputado Ciro Gomes (PSB-CE) retirar sua candidatura. O mercado não tem medo das decisões do governador José Serra nas áreas monetária e cambial. Tem medo de suas hesitações e preferiria que o lançamento oficial de sua candidatura à Presidência da República já tivesse ocorrido. Também não tem medo de uma Dilma Rousseff supostamente mais "desenvolvimentista" que Lula. "O mercado prefere Serra", antecipa o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves. Ele não levou a sério a entrevista do presidente do PSDB, Sérgio Guerra, para quem, eleito, Serra mudará o sistema de metas de inflação, o câmbio e os juros. São "audácias de palanque", não linhas e planos de governo.

Como o restante da sociedade, o mercado faz comparações entre Serra e Dilma, mas o dólar e os juros ainda não se deixaram empolgar pelas eleições de outubro. Nem a valorização recente da moeda americana, nem a inflexão sofrida pela curva futura de juros refletem os riscos eleitorais. Mas cresce e se inflama o debate interno nas mesas de tesoureiros, gestores e economistas de bancos e consultorias sobre a influência do pleito presidencial - tido como uma reedição do embate feroz de 2002 - sobre o comportamento das duas principais variáveis. Logo, com o lançamento oficial das candidaturas, as eleições estarão incendiando as expectativas e as decisões de investimentos.

Para o mercado, com Dilma os gastos do governo persistiriam elevados, o superávit fiscal não passaria de 2,5%, exigindo uma política monetária apertada. Nesses meses finais de Lula, raciocina Leal, quanto mais viável se mostrar a candidatura Dilma, mais conservadora tenderá a ficar a política fiscal, de modo a conquistar a simpatia do mercado e reduzir a parte longa da curva de juros. O mercado gosta disso e, dependendo dos programas de governo dos dois candidatos, poderá ficar "comprado" em Dilma.

Enquanto a candidata petista deve transmitir aos mercados mensagens tranquilizadoras sobre os integrantes de sua equipe econômica, os analistas ouvidos pelo Valor não trabalham com a possibilidade de, eleito presidente da República, José Serra nomear medalhões para os postos-chave da economia. Nem o Ministério da Fazenda, nem o Banco Central seriam ocupados por estrelas com luz própria. Serra, no entender do mercado, gosta de se cercar de "luas", homens-satélites que apenas refletem o brilho do chefe.

Essa interpretação de economistas de bancos baseia-se no fato de seu atual secretariado ter sido montado com homens de sua estrita confiança, mas avessos à publicidade externa. A discrição é a marca dos secretários. Quais são as posições de Mauro Ricardo Machado Costa, o secretário da Fazenda do governo paulista, sobre juro e câmbio? O que pensa sobre isso Francisco Vidal Luna, secretário de Economia e Planejamento? Luna foi sócio do ex-ministro João Sayad no antigo banco SRL (sigla de Sayad, Reichstul e Luna). Todos sabem o que Sayad defende em matéria de política monetária. Mas Luna concordaria com as mesmas posições baixistas? Eleito, Serra manteria essa propensão de indicar homens indecifráveis, impermeáveis ao pré-julgamento mercadista. Evitaria, com isso, delegar as cruciais políticas monetária e cambial a expoentes historicamente ligados à social-democracia paulista.

Estariam de antemão descartados tanto o professor da FGV Yoshiaki Nakano, um dos mais respeitados defensores do "novo-desenvolvimentismo" quanto o keynesiano Luiz Carlos Mendonça de Barros. Mas ambos podem servir de inspiração a Serra. Os dois defendem um estrito controle das contas públicas. "A base de sustentação da política econômica será sempre uma política fiscal austera. A contenção dos gastos, a ampliação das metas de superávit primário e a busca de um déficit nominal zero são os pressupostos nos quais irão se assentar as outras políticas", diz o professor da FGV, Paulo Gala, economista do grupo liderado pelo desenvolvimentista tucano Luiz Carlos Bresser-Pereira.

Para a política monetária, o objetivo parece ser o de estabilizar o juro real no nível de 5%. Na cambial, a meta é construir uma taxa depreciada capaz de reverter a desindustrialização denunciada pelos desenvolvimentistas. Como? Por meio da regulamentação da conta de capitais, sugere Gala. As medidas tomadas na parte final da gestão de Armínio Fraga no BC de Fernando Henrique Cardoso, e continuadas no governo Lula, no sentido de liberalizar a conta de capitais do balanço de pagamentos, seriam revertidas. Não há possibilidade de se falar em "controle de capitais".

Diferentemente de 2002, o risco político não conseguirá fazer disparar o dólar. No entender do economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, a taxa de câmbio chegará ao fim do ano bem depreciada, mas em função do déficit em conta corrente, e não de uma fuga de capitais estrangeiros motivada por mudanças de regras na política cambial. "Ao não ter aumentado a poupança nos oito anos que ficou no governo, o PT dará de presente ao país um déficit em conta corrente cada vez mais difícil de financiar", diz Vale. Sobre juro, nem Serra, nem nenhum governo será irresponsável no combate à inflação. "O correto é buscar mecanismos de redução dos spreads bancários. É isso ao final que o Serra deve ter na cabeça quando fala dos juros", diz Vale.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

O PT e o debate político em 2010.

Como ocorre quase sempre, republico, mais abaixo, a coluna de hoje do jornalista Alon Feuerwerker no Correio Brasiliense. O texto também encontraa-se disponível no Blog do Alon. Boa leitura!

Uma bela sociedade (04/02)

O PT protestava nos anos 90 contra a interdição do debate econômico. Hoje quem interdita o debate é o PT, em aliança com os mesmos vendedores de ilusões do primeiro mandato de FHC. Uns lutam para manter as posições de poder. Outros, os lucros

Ciro Gomes e o PSB experimentam as vicissitudes de um projeto político que não se encaixa no do presidente da República. O script é velho e repetido. Vazam do palácio as manifestações de “carinho”, "apreço” e "consideração” de Luiz Inácio Lula da Silva pelo sonhador da vez. Pode haver até "gratidão” e, no limite, um “apoio”, que nunca se materializa. Enquanto isso, é colocada para rodar a máquina de moer outros sonhos que não os de sua excelência.

Resistirão Ciro e o PSB à blitzkrieg do Planalto? Um vetor da operação política palaciana nos últimos meses tem trabalhado para desidratar quaisquer possíveis alianças do eventual candidato socialista. A razão é sabida. O PT temia que Ciro, podendo apresentar-se como alguém do “campo lulista”, acabasse tomando o lugar de Dilma Rousseff na polarização.

Como me disse um deputado do PT-SP no fim do ano passado. "O problema do Ciro é encarnar melhor que Dilma o espírito do confronto com os tucanos. Num ambiente de disputa feroz, ele estaria mais à vontade do que ela."

Mas esses são assuntos de Ciro, do PSB, do PT e das relações mútuas. Que resolvam como acharem melhor.

E o distinto público, teria algo a ganhar com a entrada do deputado e ex-ministro na corrida? Teria sim. E muito. A começar pela desinterdição de certa agenda, a do não financismo. O PT ameaça agitar na campanha a ameaça de que o PSDB vai “mexer na economia”. Dado que os tucanos passarão os próximos meses lutando para escapar da excomunhão do mercado, por que não abrir espaço para alguém disposto a assumir o risco político de dizer que vai alterar o que precisa ser alterado?

O PT protestava nos anos 90 contra o que chamava de interdição do debate econômico. Criticou especialmente a cortina de fumaça erguida em 1998, com a colaboração da imprensa, para mascarar as fragilidades da economia na véspera da reeleição de Fernando Henrique Cardoso. Hoje quem interdita o debate é o PT, em aliança com os mesmos vendedores de ilusões do primeiro mandato de FHC. Uns lutam para manter as posições de poder. Outros, os lucros. Uma bela e rentável sociedade.

Com um agravante: FHC pelo menos tinha o argumento de que precisava da âncora cambial para quebrar a espinha da inflação inercial. Agora, nem isso.

Um sintoma do ambiente é a presença de Henrique Meirelles na lista de possíveis vices de Dilma. O presidente do BC, aliás, está em plena campanha, cuidando de produzir factoides para distrair, enquanto protege os juros altos. O alvo agora são os bônus dos executivos de bancos. Mas não deixa de fazer algum sentido. Em ambos os casos, ao propor conter os bônus e ao colocar lenha na fogueira dos juros, zela em primeiro lugar pelos dividendos dos acionistas das instituições financeiras.

A projeção realista do déficit nas transações com o exterior este ano corresponde a um quarto das nossas reservas internacionais. A conta vai fechar por causa dos investimentos diretos, que o governo espertamente chama de “produtivos”. Como se o dinheiro nas bolsas carregasse automaticamente esse rótulo. Como se não fosse um maravilhoso negócio captar dinheiro lá fora para gerar aqui dentro receitas não operacionais.

Esta semana, a produção industrial de 2009 confirmou-se desastrosa. Talvez no fim de 2010 a indústria volte ao nível de 2008. Mas há por acaso alguém estrategicamente preocupado com a indústria, com as exportações, com a geração acelerada de empregos? No establishment econômico e político, pelo jeito ninguém. Para que se ocupar disso se o dólar barato funciona como anestesia? Se coloca mais comida na mesa do pobre, garante as viagens e os gastos da classe média no exterior e alivia a vida de todo mundo que precisa importar?

Nesse ambiente, ideal para o petismo será enfrentar adversários manietados pela necessidade de defender a administração FHC. O PT poderá desfilar na campanha como o partido da "ruptura com a herança maldita”, enquanto cultiva a continuidade do que ela tem de pior.

Ciro Gomes, assim como Roberto Requião (PMDB), representaria pelo menos a possibilidade de discutir esses temas. Suas dificuldades políticas são um retrato da miséria do debate político e intelectual hoje em dia no Brasil.

Coluna (Nas entrelinhas) publicada nesta quinta (04) no Correio Braziliense.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Diretor da DATAFOLHA comprova: Lula transfere votos para Dilma


Transcrevo abaixo matéria publicada no site Terra Magazine, pilotado, com a competência de sempre, pelo jornalista Bob Fernandes.




Marcela Rocha

Sociólogo de formação, Mauro Paulino, há mais de 20 anos vasculha e divulga anseios e intenções do eleitorado brasileiro. No instituto de pesquisa Datafolha, coordena a realização de pesquisas eleitorais desde 1988. Em entrevista a Terra Magazine, ele fala do "tabuleiro de xadrez" em que estão a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), e o governador José Serra (PSDB-SP) no pleito presidencial de outubro.
- Comprovadamente Lula já está transferindo muitos votos para Dilma - diz.

Ela é a "mulher forte do governo" e "já está em campanha". Serra é "um administrador muito bem avaliado" e "conhecido nacionalmente". Mas, para Paulino, a "peça chave" desse tabuleiro é o presidente Lula. "Os dois candidatos estarão com os olhos voltados para ele e o eleitorado, por sua vez, também", acrescenta.
- Do ponto de vista da ministra, Lula pode ser a peça chave para o bem e para o mal. Meu bem, meu mal (risos). (...) O contraste entre o carisma de Dilma e Lula pode fazer com que o eleitor não vote nela.


Leia abaixo a íntegra da entrevista:


Terra Magazine - Algumas pessoas questionam a legitimidade das pesquisas eleitorais. Como o Datafolha faz para evitar esse tipo de questionamento?


Mauro Paulino - A pesquisa sempre é questionada, principalmente por quem se sente prejudicado, ou por quem não estava à frente, ou quem se vê ameaçado por uma candidatura ascendente. Mas a legitimidade das pesquisas se comprova pelo histórico do desempenho dos institutos, que é a base da credibilidade adquirida por cada um deles. Então, há os mais e menos questionados. Outro fator é o uso abundante de pesquisas pelos partidos políticos. Ou seja, se pesquisas não ajudassem e não fossem um instrumento eficaz, os partidos não gastariam tanto dinheiro comprando pesquisa.


O senhor acredita que as pessoas já tomaram conhecimento de que a ministra Dilma seja a candidata do presidente Lula?


Já há um conhecimento para lá de razoável da candidatura de Dilma. O Datafolha publicou um artigo no final do ano passado mostrando que ainda há 15% de eleitores afirmando que votariam em um candidato indicado por Lula, mas dizem não saber quem é esse candidato ainda. Então, isso dá uma dimensão do desconhecimento dela e do potencial de crescimento que tem a candidatura Dilma.
Qual o principal motivo do crescimento dela nas pesquisas? Isso é referente ao conhecimento que as pessoas têm dela ou ao fato de já saberem que ela dará continuidade ao trabalho de Lula? É uma questão mais política ou personalista?


São vários fatores ocorrendo simultaneamente. As pessoas vêm tomando conhecimento. O processo eleitoral hoje ainda é restrito às pessoas com mais informações, restrito às pessoas com taxa de escolaridade mais alta e pertencentes a um segmento menor da população. Na medida em que as pessoas com menos acesso à informação, com uma renda mais baixa - que formam a maior parte do eleitorado de Lula - forem tomando conhecimento da candidata Dilma e que Lula não pode ser candidato - porque ainda 20% vota nele na pesquisa espontânea -, teremos um panorama mais claro do potencial de votos dela. Porque quando essas pessoas tomarem conhecimento de Dilma como candidata de Lula, darão o apoio e a transferência de votos. Contudo, ela pode sofrer com a comparação com Lula.


Como assim?O contraste entre o carisma de Dilma e Lula pode fazer com que o eleitor não vote nela. As pesquisas não têm como avaliar isso, mas acompanhar.


Sobre o carisma e a transferência de voto, o senhor acredita na transferência de votos de Lula para Dilma?Lula tem uma penetração muito forte nos segmentos que relacionam os benefícios sociais à ação do governo federal. E também tem algo que é incomparável: o poder de comunicação, essa facilidade que ele tem de conquistar a simpatia desse segmento da população. Hoje ele é aprovado por maioria absoluta em todos os segmentos da sociedade, não só nessa camada. Isto nos permite afirmar que há potencial de crescimento em Dilma, mas que depende das comparações que o eleitor fará: Dilma e Serra, Dilma e Lula.


Apesar de registrar índice inédito de aprovação, a presidente do Chile, Michelle Bachelet, não elegeu um sucessor de sua legenda para o cargo. O Chile pode ser usado como um exemplo para o caso brasileiro?


São realidades muito diferentes. O quadro brasileiro é bem diferente do chileno.


O senhor acredita que o fato de os dois candidatos serem um pouco menos carismáticos, como o presidente eleito do PT, José Eduardo Dutra, já destacou, do que os antecessores tucano (FHC) e petista (Lula) no Planalto seja um fator que colabore para politizar a campanha?


O brasileiro está naturalmente refletindo mais sobre política em consequência do desenvolvimento da sua própria cultura nessa área. E ter uma eleição a cada dois anos ajuda muito. O eleitor vai se habituando ao voto e às consequências dele. Então, hoje, o eleitor pensa mais sobre seu voto, elabora melhor esse voto, de uma forma muito mais racional do que na primeira eleição a presidente em 1989, após a redemocratização. Ali, valia muito mais a paixão, a novidade... Nessa época, o marketing tinha um peso muito grande. Hoje, acho que o marketing político tem um peso menor e o eleitor toma suas decisões de forma mais pensada e mais autônoma, independente do carisma, que pesa, claro, mas a capacidade de administração tem sido muito valorizada. A conta que o eleitor faz é: "quem tem mais condições de resolver os nossos problemas imediatos".


O fato de a ministra Dilma nunca ter disputado uma eleição é melhor ou pior, tendo em vista que a política tem sido vista de maneira desconfiada após sucessivos escândalos de corrupção?


Mais do que não ter participado, o que beneficia Dilma é o fato de ela não estar no cenário político quando do Mensalão. Quando surgiram todas aquelas acusações de Mensalão, Dilma praticamente não existia para a maioria da população. Então, ela entrou em cena para substituir aquele que foi considerado o grande culpado, José Dirceu. E, a partir daí, a economia começou a melhorar também, ela passou a ser a figura mais forte do governo - afinal Lula sempre fez questão de deixar isso muito claro -, o país passou por uma crise mundial e saiu bem... Isso tudo é muito valorizado e anula a inexperiência. É claro que ela tem um caminho muito mais longo do que Serra para se tornar conhecida, mas isso é facilmente superado porque a coalizão do governo tem muito mais tempo de propaganda na televisão. E acho que o fato de ela nunca ter disputado um pleito acaba não pesando muito.


Observamos um crescimento da ministra e estabilidade do governador nas pesquisas. A que se deve essa estabilidade?


Serra tem uma ótima avaliação como governador de São Paulo, teve uma ótima avaliação como ministro, tem a imagem de ser um administrador competente e de quem resolve os problemas da saúde, que é hoje o principal problema do país apontado pelos eleitores. Então, ele tem todas essas vantagens e sai na frente por conta disso, também por ter disputado eleições anteriores e estar na lembrança do eleitorado como alguém com porte de candidato a presidente. Isto justifica a permanência dele na liderança das pesquisas. Mas o que tem sido mostrado é que há uma candidata em ascensão, Dilma, há um candidato com estabilidade, Serra, e Ciro Gomes (PSB) caindo.


O fator Ciro tem enfraquecido Dilma ou Serra?


As pesquisas mostram que, com Ciro na disputa, a diferença entre Serra e Dilma diminui. Sem ele, aumenta e Serra tem mais vantagens. Então, há uma boa parte que vota em Ciro aparentemente por não querer votar num candidato do PT.


Nas eleições de 1998, 2002 e 2006, quem liderava as pesquisas um ano antes acabou por vencer as eleições. O cenário de 2010 é previsível?


Essa eleição é muito mais imprevisível do que as quatro anteriores. É a primeira vez que não temos Lula como candidato, é primeira vez que há um cabo eleitoral com esse apoio popular que Lula tem. Estes fatores já tornam essa eleição diferente de todas as outras. Não se sabe como o eleitor vai reagir. Na verdade a peça chave dessa eleição é o próprio Lula e não sabemos como o eleitor vai lidar com esse fato. Lula não pode ser candidato e Dilma é a candidata dele contra Serra, que é comprovadamente um bom administrador. Como essa equação será resolvida pelo eleitorado? Não temos como prever.


O senhor disse que a peça chave dessa eleição é Lula...


Os dois candidatos estarão com os olhos voltados para Lula e o eleitorado, por sua vez, também. Ele tem um governo com uma taxa de aprovação inédita e o peso que isso terá nesse pleito já está sendo demonstrado. Comprovadamente ele já está transferindo muitos votos para Dilma. Agora, qual é o teto disso e até que ponto isso tira votos de Serra? Não sabemos. Mas a eleição vai girar em torno de Lula, por isso que ele é a peça chave. Do ponto de vista de Dilma, pode ser a peça chave para o bem e para o mal. Meu bem, meu mal (risos).


Como o senhor avalia a tática petista de polarização? Uns defendem que ela é boa para Dilma, outros, para Serra, e há aqueles que afirmam não ser bom para o eleitorado...


A polarização é inevitável, não tem como fugir. A meu ver, para o bem da democracia, é bom que haja muitos pontos de vista sendo discutidos. O segundo turno existe para que haja essa polarização, mas, no primeiro, quanto mais candidatos expuserem suas ideias, melhor para o desenvolvimento da cultura política do brasileiro.


E o que o senhor acha da comparação entre Lula e FHC?


É inevitável também. Não consigo imaginar a campanha sem essa comparação. O marketing político vive dessas comparações, de tentar jogar o bem contra o mal. Não tem como fugir disso, mas espero que não fique só nisso. É saudável que existam candidatos como Marina Silva, por exemplo, que traz o tema do meio ambiente. Seria importante que houvesse mais candidatos trazendo outros temas para que o debate fosse mais rico.


Voltando à temática da polarização, alguns tucanos defendem que Serra ganha com ela por ter mais experiência em processos eleitorais.


A campanha começa de fato para o total do eleitorado a partir de março, abril, quando as candidaturas estão oficializadas e começam as entrevistas. Aí, o desempenho de cada um pesará e pode ser, então, que a experiência de Serra seja decisiva. Mas não dá para saber como será o desempenho de Dilma, que ainda não foi vista em debate, ou em uma entrevista mais incisiva.

O fato de o PSDB não ter determinado seu candidato influencia em que medida o desempenho de José Serra nas pesquisas?


A consequência disso é só existir uma pessoa fazendo campanha abertamente: Dilma Rousseff.


Mas Serra é muito bem avaliado em São Paulo e Dilma corre a passos largos em direção à liderança nas campanhas eleitorais...


Equação complexa...Mas esse é o grande dilema do PSDB e do Serra. Não será uma eleição presidencial fácil e isso já está mais do que comprovado. Além disto, o tempo na televisão é muito importante e o PT fez alianças que dão a ele quase o dobro do tempo que tem o PSDB. Por outro lado, se Serra desistir, deixa praticamente entregue a eleição para o PT. Por quanto tempo mais o PT vai permanecer no poder? Porque, em 2014, Lula volta como candidato. Serra é o candidato mais forte do PSDB, pelo menos é o que tem o caminho mais curto. Aécio Neves (governador de Minas Gerais) teria que conquistar São Paulo e isso não é tarefa fácil. Enquanto Serra já é figura nacional por já ter participado de eleições presidenciais e por ter sido ministro da Saúde. É um tabuleiro de xadrez

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Segurança pública e as eleições de 2010 no RN

Qual a importância de um plano estadual de segurança pública para orientar a intervenção dos candidatos nas eleições para o governo do estado em 2010? Este post busca abordar, embora de forma um tanto quanto panorâmica, esta questão. Voltarei a bater mais vezes nesta tecla.

A demanda por segurança pública tende a ser abordada, nas eleições estaduais, especialmente aqui no Rio Grande do Norte, de forma superficial e, para dizer o mínimo, irresponsável. Uma parte dos políticos, dando eco à demanda irracional por punição impulsionada pelos programas policiais das rádios e tvs, clamam (e dizem que vão coloca) "mais polícia" nas ruas. À esquerda, repete-se aquela retórica vazia de enfrentar "a questão social".

Enquanto isso, em territórios vastos, a criminalidade aumenta, o consumo de crack alimenta uma máquina mortífera que devora jovens e adolescentes. E não apenas nas periferias de Natal e Mossoró. Não! O crack já devasta áreas rurais de municípios encravados no sertão. É o caso, só para tomar um exemplo, do município de Apodi, situado na região oeste do estado.

Diante desse quadro, há que se apresentar propostas consistentes e fundamentadas racionalmente. Um bom plano de governo estadual, para o RN, exige, como pré-condição, a elaboração de um plano estadual de segurança pública. Se possível, alicerçado em pesquisas de vitimização e no levantamento rigoroso das estatística da violência em todo o estado. Igualmente importante é a realização de pesquisas sobre a letalidade das forças policiais.

Esse plano de segurança pública deve propor uma nova estrutura organizacional para a segurança pública no RN. Para tanto, deve se fundamentar em um conhecimento realista da máquina policial atual (e, em especial, de suas deficiências estruturais em termos de pontos de apoio e bases de formação dos operadores da segurança). E, não menso importante, deve prever instrumentos de accountability da atividade policial e de participação cidadã no seu controle.

Devidamente articulado a uma política de direitos humanos, o plano estadual de segurança deve prever ações integradas dos órgãos do executivo com o Ministério Público e entidades da sociedade civil, especialmente àquelas dedicadas à defesa das vítimas da violência de gênero.

O plano deve ser concebido como algo "aberto" e que interage com todas as outras esferas de ação governamental. Assim sendo, ele deve ser uma baliza, por exemplo, para as políticas educacionais e de juventude.

E mesmo em campos aparentemente distantes, o plano estadual de segurança pública deve buscar impactar. Refiro-me, por exemplo, às políticas para a agricultura. Como é possível conceber uma ação do Governo do Estado no campo, por exemplo apoiando a pequena produção, sem tocar nos problemas da insegurança que ameaça a produtividade em muitas áreas (lembremo-nos dos roubos de máquinas agrícolas nas regiões produtoras de frutas...).

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Será jogo de campeonato a eleição para governador(a) no RN

Em jogo de campeonato, sabemos todos quantos amamos o futebol, a estética subordina-se à necessidade imperiosa de somar pontos. Daí porque, se você é uma das pessos que vira as costas para o nobre esporte bretão e para a locução esportiva, os narradores esportivos (que, não raro, torcedores apaixonadas) criaram o bordão impagável: "joga a bola pro mato que o jogo é de campeonato".

E é assim... Em jogo de campeonato vale a catimba (uma enrolação, um "boneco", como diriam os apodienses) e, se o time estiver na frente no campeonato, "deixar o tempo correr".

Por isso mesmo, há sempre a possibilidade de que, ao final, o campeonato revele-se realmente uma "caixinha de surpresas". E aí, time que esteve na frente por muitas rodadas, derrapa na curva. E feio. Foi o que aconteceu, dentre outros, com o time do São Paulo no último brasileirão.

E daí? O que diabos queres dizer, ô meu? O que isso diz sobre as eleições para o governo do Rio Grande do Norte? Daí, meus lindos e lindas, quero apenas chamar-lhes a atenção para o fato de que quem está na ponta, liderando nas pesquisas, ainda terá que fazer muito esforço para levar a taça nas eleições de outubro.

É bom lembrar essa lição simples porque, não raramente, os defensores da candidatura da Senadora Rosalba Ciarline (DEM), líder disparada nas pesquisas de opinião para ocupar o Palácio Potengi, comportam-se como se o campeonato, digo as eleições de outubro próximo, fossem algo assim como um passeio. E, convenhamos, elas nunca são um passeio aqui no RN.

Por outro lado, não existe WO na política. O time adversário nunca falta ao encontro...

O mais provável adversário de Rosalba, o Vice-Governador Iberê Ferreira de Sousa (PSB), irá para as eleições com a retaguarda da máquina estatal. E isso não é pouco em nenhuma eleição no Brasil. Terá ainda o apoio do PT e do Presidente Lula. Outros elementos tampouco desprezíveis.

Ah, mas estás a subestimar as pesquisas? Eu? Nunquinha... Mas pesquisa eleitoral, caríssimos, não podem ser tratadas como informações estanques e absolutas. Os cenários mudam. E mudam muito, especialmente quando o jogo esquenta. E o jogo vai esquentar. Basta lembrar um dado: mesmo o rosalbismo (e o proto-rosalbismo) jogando na canela contra Iberê na Assembléia Legislativa, ainda assim, ele terá como "agradar" muitas lideranças locais. E isso redefine muitas coisas.

Não, as eleições não terão a beleza estética de um jogo da Seleção de 1982, mas valem bem uma boa cobertura crítica. Tentaremos fazer isso aqui. Pode apostar!

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Em Lula, o povo confia

Pesquisa realizada pelo DATAFOLHA e publicada na edição do jornal Folha de São Paulo de hoje indica que Lula é a personalidade pública brasileira em quem o brasileiro mais confia. Confira textos da matéria abaixo.

Lula é o brasileiro mais confiável, aponta Datafolha
FERNANDO BARROS DE MELLO
DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva é a pessoa mais confiável para os brasileiros, segundo ranking com 27 personalidades elaborado pelo Datafolha. Lula está à frente de apresentadores de TV como William Bonner e Silvio Santos, do padre Marcelo Rossi e de cantores como Roberto Carlos e Chico Buarque.
Os 11.258 entrevistados, de 14 a 18 de dezembro, deram nota de 0 (menos confiável) a 10 (mais confiável) às personalidades apresentadas. Lula lidera a lista, com nota média de 7,9.
(...)
De todas as personalidades, apenas duas -Lula e Silvio Santos- são conhecidas por todos os entrevistados.
Maria Celina D'Araújo, professora de ciência política da PUC-RJ, diz que os primeiros lugares são ocupados por "homens de mídia". "Lula é um grande artista, sabe se comunicar. É um aspecto das novas sociedades de espetáculo. Poucos sabem se aproveitar disso, e o Lula sabe", diz.
Para Maria Celina, especialista nos governos Getúlio Vargas, nenhum presidente explorou tanto a comunicação de massa, principalmente via programas de rádio e TV e colunas em jornais.

Ex-presidentes
Chama a atenção o fato de que, dos últimos cinco colocados, quatro são ex-presidentes: Fernando Henrique Cardoso, Itamar Franco, José Sarney e Fernando Collor, este o menos confiável de todos.
(...)
O cientista político Luciano Dias diz que "a imagem positiva ou negativa é resultado do fluxo de notícias sobre essa pessoa". Segundo Dias, artistas como Chico Buarque ou o padre Marcelo Rossi raramente são expostos a um noticiário negativo, o que explica o bom desempenho deles na consulta.
Para o cientista político, o raciocínio também pode ser aplicado ao presidente Lula, que hoje sofre ataques menos contundentes da oposição. "Na medida em que ele foi ampliando sua popularidade e não é candidato, o interesse em atacá-lo é muito baixo."