segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Eleições na Argentina

Confira abaixo matéria a respeito.

Dama do poder
Autor(es): Rodrigo Craveiro
Correio Braziliense - 17/10/2011

Fortalecida pelos êxitos de seu governo e pela simpatia de que desfruta desde a morte do marido e antecessor, Cristina Kirchner caminha para ser reeleita no próximo domingo, sem necessidade de segundo turno

"Tua canção tem o frio do último encontro. Tua canção se faz amarga no sal da recordação." A letra do tango Malena, de Carlos Gardel, parece personificada na figura da presidente da Argentina, Cristina Fernández de Kirchner, 58 anos. Desde a morte do marido, Néstor Kirchner, em 27 de outubro de 2010, ela mergulhou no luto e praticamente aboliu qualquer vestimenta que não seja de cor preta. "Estamos vivendo um espetáculo circense. Está claro que Cristina mente. O luto faz parte do disfarce", afirmou ao jornal Clarín a candidata da Coalizão Cívica, Elisa Carrió. Esse mesmo luto ajudou a chefe de Estado a capitalizar a simpatia da população.

As últimas pesquisas indicam que Cristina será reeleita no próximo domingo, sem necessidade de segundo turno. A sondagem da empresa de consultoria Aresco revela que a presidente peronista teria cerca de 52,8% dos votos, contra 12,2% para o socialista Hermes Binner. Em terceiro lugar aparece o social-democrata Ricardo Alfonsín, com 9,9%. Ex-presidente interino por uma semana, em 2001, Alberto Rodríguez Saá ficaria com 9,8%, seguido do ex-mandatário peronista Eduardo Duhalde, com 8,1%. Outra pesquisa, da Giacobe & Associados, mostra pouca diferença: Cristina Kirchner (53,1%), Binner (16,6%), Saá (10,2%), Alfonsín (9,1%) e Duhalde (7,9%).

A viúva de Néstor Kirchner detém a maior diferença de intenção de votos em relação ao segundo colocado desde o início do ciclo democrático, em 1983. O sucesso da ex-primeira-dama, lançada à Casa Rosada pelo marido, se deve a uma política social arrojada, a uma economia estável e à incapacidade da oposição de forjar alianças consistentes.

"Nos últimos meses, a candidatura de Cristina se consolidou por vários fatores. Em primeiro lugar, a conjuntura econômica marcada por indicadores positivos. Em segundo lugar, o resultado amplamente favorável nas primárias (50,7% dos votos), que contrasta com a imagem de uma oposição fragmentada e dispersa. Em terceiro, uma eficaz campanha eleitoral, que sublinhou os êxitos do governo", afirma ao Correio, por e-mail, Miguel De Luca, cientista político da Universidad de Buenos Aires e presidente da Sociedade Argentina de Análise Política (Saap).

Populismo
Facundo Galván, professor de ciências políticas e relações internacionais da Universidad Católica Argentina e da Universidad del Salvador, pontua medidas populistas adotadas por Cristina que surtiram efeito positivo. Um exemplo é a "gratificação universal por filho", uma espécie de seguro social concedido a trabalhadores desempregados ou informais, que oferece subsídio a cada descendente menor de 18 anos. "Somado a um contexto macroeconômico favorável, a Casa Rosada tem acertado em diversas políticas que foram bem recebidas por grandes segmentos da população", acrescenta. O sucesso de uma campanha também depende da perícia dos candidatos em costurar coalizões. Para Galván, além de possuir tal habilidade, Cristina Kirchner soube tirar partido do cenário. "A Argentina assiste a uma falta de lideranças opositoras, capazes de seduzir e de unificar o eleitorado e as forças "não kirchneristas". Esse fator potencializou-se com a ausência de vontade política dos candidatos opositores para forjar alianças plurais e multipartidárias, com a capacidade real para enfrentar o governismo."

Miguel De Luca comenta que medidas implantadas pela equipe econômica promoveram uma melhora nos setores sociais menos favorecidos, apesar da alta de preços. "Políticas orientadas ao consumo e ao subsídio dos serviços públicos têm conquistado setores das classes médias urbanas, tradicionalmente relutantes em votar nos peronistas", lembra De Luca. Além disso, Cristina vem manejado com êxito o principal problema que enfrenta desde 2008: o denominado "conflito com o campo". Por todos esses motivos, ela logrou construir uma coalizão eleitoral imbatível.

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