sábado, 1 de outubro de 2011

Degradação ambiental

Leia a matéria abaixo. Fundamental para quem quer analisar os (des)caminhos da degradação ambiental.

Anfíbios do cerrado ameaçados
Autor(es): » Max Milliano Melo
Correio Braziliense - 01/10/2011

Devido à degradação ambiental e às mudanças climáticas, metade das espécies da classe animal pode desaparecer do bioma até 2050, segundo pesquisa conduzida por especialistas da UnB e da USP

Eles representam um passo importante da evolução animal no planeta, marcando a transição da vida aquática para a conquista do ambiente terrestre. Os anfíbios, animais que vivem um pouco na água, um pouco no solo, são um dos grupos de animais mais antigos da Terra. Uma pesquisa feita por duas doutorandas da Universidade de Brasília (UnB) e da Universidade de São Paulo (USP) mostra, no entanto, que num dos mais brasileiros dos biomas, o cerrado, o futuro do animal não é promissor. Pressionados pelas mudanças climáticas e pela destruição ambiental, os simpáticos bichos de olhos grandes correm gravíssimo risco de desaparecer.

Uma das autoras do estudo, Débora Leite Silvano conta que os anfíbios do cerrado estão entre os grupos de animais menos estudados pela ciência. "Quando começamos nosso trabalho, percebemos que existiam poucas pesquisas que verificassem a situação dos anfíbios. Todos os artigos publicados sobre o assunto se referenciavam em uma base de dados antiga e desatualizada", lembra a pesquisadora, atualmente professora da Universidade Católica de Brasília (UCB).

Para mudar um pouco essa história, elas contaram com a ajuda de 11 coleções zoológicas. Depois de cruzar o país pesquisando depositários de espécies, as pesquisadoras criaram uma base de dados: foram catalogadas 204 espécies de anfíbios que vivem no cerrado. Dessas, cerca de metade são endêmicas, ou seja, não habitam em nenhuma outra região do mundo, o que as torna ainda mais vulneráveis. O estudo verificou que pelo menos 52 não estão protegidas, e dessas, 19 estão complemente fora das unidades de conservação.

Além da espécie de censo, o cruzamento das informações dos animais guardados em coleções levou as duas pesquisadoras a encontrarem mais de uma dezena de variantes de sapos que não eram conhecidas e nunca tinham sido catalogadas. "Verificamos e anotamos cada detalhe sobre as espécies. Quando consultamos os dados já disponíveis sobre o assunto, 12 grupos de indivíduos não correspondiam a nenhuma espécie até então conhecida", conta Débora, que dividiu o estudo com a bióloga Paula Valdujo.

Algumas candidatas a nova espécie já estavam em estudo, como é o caso da perereca P. berohoca, que teve seu processo de reconhecimento concluído no início deste ano. Outras, no entanto, ainda não tinham começado a serem estudadas e estavam sem nome ou qualquer outra identificação. "Também aplicamos modelos de distribuição e registros históricos de sua ocorrência. A partir disso, pudemos determinar a área de ocorrência das espécies no passado, presente e futuro", relata a especialista.

Êxodo para o sul
Foi nesse estágio que as pesquisadoras concluíram que, mesmo sendo ainda pouco conhecidas, as espécies correm grave risco de desaparecer. Utilizando dados do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) para identificar as prováveis áreas em que as espécies terão condições de sobreviver, elas descobriram que, aos poucos, sapos, rãs, pererecas e salamandras se deslocam rumo ao sul, já que os ambientes mais ao norte estão cada vez mais quentes e secos. Com isso, metade das espécies de anfíbios do bioma podem desaparecer até 2050.

Um exemplo é o Rhinella veredas, um tipo de sapo que, segundo a União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês), ocorre apenas nas regiões localizadas no oeste da Bahia, próximo às divisas com Tocantins e Goiás. O levantamento mostra que a espécie está se movendo em direção ao sul, e já pode ser encontrada do norte ao centro de Minas Gerais. "O grande problema é que é justamente nessas regiões que o cerrado está mais degradado", lamenta.

Isso significa dizer que se, por um lado, as mudanças no clima empurram as espécies vulneráveis para o sul, por outro, a expansão urbana e agrícola dos estados do Sudeste e de Goiás elimina os hábitats dos indivíduos. Para completar a sentença de desaparecimento dos anfíbios do cerrado, há poucos estudos que ajudem a entender os animais, o que contribui ainda mais para sua vulnerabilidade.

O professor do Departamento de Zoologia da Universidade de Brasília Guarino Colli explica que os anfíbios mantêm um papel importante no equilíbrio natural do cerrado. "Eles são animais predadores, ou seja, não se alimentam de plantas. Assim, eles são importantes no combate a insetos e outros tipos de artrópodes", conta o especialista. "Ao mesmo tempo, eles também servem de alimento para uma porção de espécies, como cobras, aves e ratos", completa. Assim, um desequilíbrio nos anfíbios pode afetar toda a cadeia alimentar.

Para ele, a pouca informação sobre as espécies é um problema estrutural. "Há poucos especialistas na área e há regiões que nunca foram estudadas", conta o especialista. "Além disso, trata-se de uma região muito degradada. Muitas vezes, quando se vai iniciar uma pesquisa em determinada região, ela já está destruída e parte do que havia já foi perdido", completa o professor da UnB.

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