domingo, 9 de outubro de 2011

Artigo de Paulo Linhares

PODER DA HIPNOSE

Paulo Afonso Linhares


Difícil de acreditar, mas, afirmo que vi espichada numa rua de Natal uma faixa que dizia: “Curso de Hipnose – Antonio Carreiro-BA”. Achei o máximo que nestes tempos de Internet, I-Pad, I-Pod e suas imitações que pouca coisa podem alguém se dispusesse a ensinar hipnose. É bem verdade que estranhei o “BA” depois do nome do professor (?). Será que quer dizer “bacharel em artimanhas”? Ou Antonio Carreiro é uma cidade da Bahia onde se realizará o curso de hipnose? Não deu para saber. E o mais grave: que tivesse “alunos” interessados em aprender essa técnica que, aliás, exerceu algum fascínio na primeira geração da Psicanálise, à frente o próprio Sigmund Freud quando estudante e no início de sua carreira. Claro, ele abjurou essa prática que, segunda definição da American Psycological Association nada mais é que “[...] procedimento durante o qual um pesquisador ou profissional da saúde sugere que um cliente, paciente ou indivíduo experimente mudanças nas sensações, percepções, pensamentos ou comportamentos”.

Bom, a faixa trouxe-me à mente coisas mais singelas, com aquelas tentativas de hipnotizar animais – quase todas redundantes fracassos – dos ilusionistas dos pequenos circos que aportavam nas pequenas cidades do interior deste Estado. No máximo conseguiam que uma velha e sonolenta galinha fizesse “croc” e botasse um ovo sem graça. E o Abel dos Pãos (não esqueçamos que "pão ou pães, é questão de opiniães...”, segundo o mestre Guimarães Rosa) aprendiz de mágico lá de Caraúbas? (depois conhecido como “Professor Nakaren”, um herculano quintanilha de segunda mão sertanejo), nas tentativas de hipnotizar tudo que era bicho. E nada. Só mais uma galinha sonolenta a botar molhado ovo sem graça. Aliás, seguindo seus passos, o máximo que conseguíamos era fazer dormitar aqueles calanguinhos verdes que pegávamos nos mata-pastos (Cássia tora, linn) invernais.

Com efeito, dominar corações e mentes, sobretudo estas, tem sido atração e desafio desde tempos imemoriais. Um mundo fascinante e não menos aterrador aquele do mágico Flautista de Hamelin, conto do folclore germânico reescrito pelos irmãos Grimm, uma narrativa do sinistro ocorrido na cidade alemã de Hamelin, em 26 de julho de 1284. Nesse ano, a cidade de Hamelin sofria com uma praga de ratos que devoravam toda as provisões do celeiros, até que apareceu um estranho homem dizendo-se “caçador de ratos” e que acabaria com aquela infestação. Os cidadãos apavorados prometeram-lhe régia compensação: para cada rato uma dourada moeda. Sem se fazer de rogado aceitou o acordo. Ato contínuo sacou uma pequena flauta e começou a tocar, hipnotizando todos os ratos que o seguiram até serem afogado pelas águas do Rio Weser. Os cidadãos de Hamelin não pagaram ao homenzinho o prometido e este, como vingança, dias depois, tocou a sua flauta para hipnotizar todas as crianças da cidade, levando-as para uma remota caverna de onde jamais retornaram.

É bem verdade que o flautista de Hamelin ou mais precisamente Der Rattenfänger von Hameln (título original do conto, literalmente, “o caçador de ratos de Hamelin”) bem que poderia dar um passadinha por estas bandas, em especial, pela capital de República, onde os “meninos maus de famílias boas” teimam em corromper tudo aquilo que suas enlameadas mãos ousam tocar, inclusive nas tantas “meninas boas de famílias más” que infestam o Planalto Central. Imagino aquela fila enorme de condestáveis da República (senadores, deputados, ministros dos Tribunais Superiores, ministros dos ministérios, lobistas, empreiteiros, diplomatas, putas de gabinete etc.) a seguir o som da flauta do homenzinho misterioso que os afogaria nas poluídas águas do Paranoá. Tudo rápido, indolor, limpo e sem aquele barulho e o cheiro de cão queimado que faz e exala a faxina de Dona Dilma Rousseff. Com a tal de hipnose é mais cruzeiro (ou real). Certamente, o Brasil agradeceria comovido. Com as bênçãos do nosso Padim Cícero do Juazeiro.

Nenhum comentário: