segunda-feira, 24 de outubro de 2011

As eleições confirmaram o que já era esperado na Argentina: a esmagadora vitória da Presidente Cristina Kirchner

As eleições argentinas confirmaram a vitória da Presidente Cristina Fernández de Kirchner. Resultado previsto por todas as pesquisas eleitorais.

A novidade foi o segundo lugar alcançado pelo candidato dos socialistas, Hermes Binner, um competente, mas nada carismático, ex-governador de província. A sua colocação desbancou aquele que seria o candidato das oposições, o Ricardo Alfonsin, da União Cívica Radical.

Com a força alcançada nas elçeições de ontem, é possível que Cristina fortaleça a centralização governamental. A sua sustentação na Câmara não é, entretanto, muito forte. As eleições parlamentares são distribuídas na Argentina: parte dos deputados e senadores é escolhida nas eleições parlamentares; outra parte, em outras eleições, dois anos depois.

Os meios de comunicação, especialmente os grandes jornais, serão os focos de ataque ao governo. Desse ponto de vista, combinemos, não há novidades. E nem diferenças substanciais em relação ao Brasil
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Cristina arrasa nas urnas
Cristina arrasadora
Autor(es): Max Milliano Melo
Correio Braziliense - 24/10/2011



Presidente argentina é reeleita com 54% dos votos, segundo pesquisas, o maior percentual desde a redemocratização. Resultado oficial só sairá em alguns dias.


Boca de urna e primeiros resultados oficiais selam a reeleição da presidente, com mais de 52% dos votos. De quebra, o governo reconquista a Câmara. Ela dedicou a vitória ao marido, Néstor Kirchner



"Na vitória, sempre é preciso ser maior ainda e mais generoso." Em discurso diante da Casa Rosada, a presidente Cristina Fernández de Kirchner admitiu sua reeleição no primeiro turno. Sem abandonar o vestido preto — símbolo do luto pela morte de Néstor Kirchner —, ela dedicou a conquista ao marido e sinalizou um gesto de reconciliação com os opositores. "Quero convocar todos os argentinos à unidade nacional", declarou. "Kirchner foi o fundador desta vitória."

Às 23h20 (em Brasília), com 37,70% das urnas apuradas, Cristina tinha uma diferença folgada para o segundo colocado, o socialista Hermes Binner: 52,89% dos votos contra 17,17%. As pesquisas de boca de urna divulgadas no fim da tarde davam à presidente 54% dos votos. Se confirmada após a longa apuração, será a mais ampla vitória de um candidato desde o retorno da Argentina à democracia, em 1983. Além de se manter no cargo por mais quatro anos, Cristina e o vice, Amado Boudou, ampliaram a maioria no Senado e reconquistaram a Câmara dos Deputados, perdido em 2009.

Se Cristina e o seu peronismo foram as estrelas da eleição, o ex-presidente Eduardo Duhalde e a oposicionista Elisa Carrió foram destacados pela imprensa local como os grandes derrotados. Ele governou o país entre 2002 e 2003 e não conseguiu alcançar 6% dos votos, segundo as projeções feitas depois do pleito. Elisa, que ganhou 20% dos eleitores em 2007, conquistando uma segunda colocação, agora precisou amargar a sexta posição, com 1% da preferência.

O bom momento da economia — o Produto Interno Bruto (PIB) deve crescer 5% este ano — empurrou a atual presidente para a vitória histórica. Outro fator foi decisivo para o resultado avassalador nas urnas: a crise econômica de 2001, que esmagou a oposição. Dez anos depois de um dos momentos mais conturbados da história do país, a União Cívica Radical (UCR), então no poder, não conseguiu se reorganizar e recuperar o apoio popular. "Ainda está muito claro, na memória da população, a crise do neoliberalismo, e isso se reflete nas urnas. A UCR entrou em crise após a renúncia do presidente Fernando de la Rúa e, desde então, o peronismo de Cristina ficou sozinho no poder", contou ao Correio Facundo Galván, professor de ciências políticas da Universidade Católica Argentina e da Universidade del Salvador.

Dificuldades
O início do primeiro governo de CFK — como Cristina também é chamada — foi difícil. Ela enfrentou uma crise no setor agrícola, em função de divergências em relação à política de exportação de alimentos, o que a fez perder mais de 20 pontos de popularidade. A recuperação econômica e a queda do desemprego deram mais fôlego à imagem da presidente, que conquistou de vez o coração dos argentinos após a morte de Kirchner, em outubro do ano passado. Foi esse o ponto de partida para a vitória de ontem.

Há um ano ela guarda o luto. Veste-se de preto e em várias ocasiões relembra o marido. "Emocionalmente vivo um momento muito particular. Sou uma mulher que viveu com um homem que marcou a vida da política argentina e entrou definitivamente para a história", disse, em lágrimas, após votar em Río Gallegos, ao sul de Buenos Aires.

Nas eleições de 2009, com a imagem ainda abalada pela crise agrária e por embates com outros setores, como a imprensa, o casal Kirchner saiu derrotado. Perdeu o espaço no Congresso Nacional, em especial na capital e na província de Buenos Aires, que concentra 38% do eleitorado. O governo viu-se derrotado nas eleições em 11 dos 24 distritos eleitorais do país, que somam 77,5% dos votos nacionais. E Cristina foi obrigada a fazer o que menos gosta: negociar (Leia o perfil).

Fortalecida, a "viúva de negro que conquistou os argentinos", como já foi descrita pela imprensa internacional, recupera o poder perdido na Câmara e no Senado. Segundo as projeções do jornal argentino La Nación, a Frente Para a Vitória, partido de CFK, deve confirmar os cargos que já possui, ampliando a sua maioria. No Senado, onde já possuíam maioria, devem retirar da oposição duas ou três vagas. Cristina terá sua maior vitória na Câmara: ela recuperará a maioria dos 257 assentos. A projeção é de que os governistas detenham 132 lugares, contra 125 dos oposicionistas.

Embora a vitória nas urnas demonstre o apoio de uma parcela da população, CFK está longe de ser unanimidade. O desemprego em alta, o deficit nas contas públicas e a dívida externa alarmante são desafios que Cristina precisará vencer para conquistar a outra metade da população e conseguir a indicação de um candidato nas próximas eleições, em 2015. "Nunca é saudável manter um projeto nacional apenas no valor de um nome ou uma imagem criada pelo marketing político. Mais importante é analisar o projeto de democracia por trás do governo. Hoje é mais do que evidente que os Kirchner abandonaram as bandeiras do peronismo", opinou ao Correio Fernando Tocco, candidato a deputado pela Frente Ampla Progressista (FAP).

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