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terça-feira, 29 de outubro de 2013

A INANIÇÃO POLÍTICA DA OPOSIÇÃO NO RN

Não é raro a imprensa nacional alertar para a fragilidade ou falta de apetite político da oposição ao Governo Dilma. Quando avaliamos mais de perto, descobrimos que não é bem assim. Tanto pela existência de uma coesa bancada parlamentar que fiscaliza rigorosamente o Executivo e busca desconstruir algumas das ações governamentais mais vistosas quanto pelo municiamento da mídia e dos seus seguidores com informações e proposições divergentes (nem sempre muito consistentes, é verdade) sobre as principais políticas públicas da chamada Era Lula. A mesma situação não se reproduz no Rio Grande do Norte. Vejamos como e por quê.

Enquanto a Governadora Rosalba assiste à erosão do seu capital político, traduzida particularmente na vertiginosa queda de popularidade e no estreitamente de sua base de apoio parlamentar na Assembleia Legislativa, a oposição foge da disputa política e aposta as suas fichas em acordos eleitorais. Por oposição, refiro-me ao arco de alianças que está a se construir em torno do PMDB (há uma oposição mais à esquerda, mas esta, até aqui pelo menos, tem estado fora desse debate sobre a disputa para o Governo do Estado). Tudo se passa como se o Governo Rosalba não tivesse como reconstruir sua base política e uma avenida desbloqueada estivesse à espera dessa oposição.

Sobram conversas sobre acordos e faltam notícias sobre proposições e respostas políticas. Não que não se registrem irados discursos contra o governo estadual. Isso, temos de sobra. Mas esse “isso” não é bem política. Por “política”, deixem-me aclarar, refiro-me à articulação entre proposição e articulação de uma base social.

Temos, é bem verdade, temos a atuação parlamentar de um ou dois deputados, que buscam desesperadamente articular a crítica com a proposição. Esse o caso, para citar o exemplo mais vistoso, do Deputado Fernando Mineiro (PT). Mas, aí é que está!, essa é uma postura isolada no seio da oposição. No geral, os próceres (alguns deles até ontem aboletados no governo) comportam-se como se a partida já estivesse definida e ganha, o que os desobrigaria de apontar proposições, não diria mais consistentes, mas, ao menos, mais convincentes.


O que temos é a agenda eleitoral subordinando a política no campo da oposição. Ora, nem o Governo Rosalba está findo e nem o seu entorno político vai caminhar bovinamente para o abatedouro. Tanto esse setor político pode bancar a candidatura da Governadora quanto poderá encontrar alguém para representa-lo, com alguma maquiagem, no difícil embate de 2014. E, como o demonstra o desempenho da aliança PSTU/PSOL para a Câmara Municipal de Natal, não é de todo descartado que algum ator adentre inesperadamente em cena, desarrumando acordos e previsões. 

terça-feira, 10 de abril de 2012

A popularidade de Dilma

Reproduzo, abaixo, artigo de autoria do jurista Paulo Linhares. Dê uma conferida!

O FATOR DILMA

Paulo Afonso Linhares

E o patinho feio se tornou um portentoso cisne... Quando o ex-presidente Lula anunciou, dois anos antes de terminar o seu segundo governo, que sua candidata seria a então ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, muitos analistas políticos acharam que ele estava absolutamente equivocado, por vários motivos, sobretudo, porque o seu governo acabaria a partir daquele anúncio. Outro problema era a própria candidata que, ademais de jamais ter sido eleita para qualquer coisa, era sabidamente uma pessoa de comportamento extremamente hard e avesso aos trejeitos da política rasteira e barateira, que marca o clientelismo ainda bem presente no cenário político brasileiro. Todos achavam que a "xerifona" colocada na Casa Civil numa das maiores crises institucionais que se tem notícia nestes últimos trinta anos, que foi a ruidosa saída do ex-ministro José Dirceu e que desencadeou a defenestração de todos os auxiliares mais importantes e próximos ao presidente Lula, seria uma aposta perdida.

Aliás, ressalte-se que a oposição encastelada, sobretudo, no DEM e no PSDB, fez um enorme estrago político na esteira do "Mensalão", quando detonou com precisão e competência, literalmente, todos o staff do então presidente, sendo Dilma uma das poucas exceções de sobrevivência. E foi a escolhida para apagar o incêndio, o que fez com mão de ferro e absoluto sucesso, o que valeu a sua indicação para a candidatura presidencial. A despeito do bombardeio de que foi alvo a partir de então, a candidatura de Dilma se consolidou e redundou na vitória sobre José Serra, posto que num apertado segundo turno. As apostas da oposição, cada vez mais desfalcada com as derrotas de alguns dos seus eminentes próceres regionais (na guilhotina eleitoral de 2010 rolaram os mandatos de Tasso Jereissati, Marco Maciel, Artur Virgílio, Mão Santa etc.), eram de que o governo Dilma seria um retumbante fracasso. Até agora, todos os indicativos mostram que o governo austero e avesso a quaisquer pirotecnias da presidente Dilma alcança uma aprovação popular em torno de 77%, segundo recente pesquisa CNI/Ibope, algo inédito na recente história repúblicana. As apostas foram perdidas pela oposição.

O quê de especial tem o governo Dilma? Com efeito, ele incorpora todos os acertos de uma política econômica que iniciou no governo Fernando Henrique Cardoso, aperfeiçoou-se no governo Lula, todavia, mantém como características a sobriedade, a rapidez e firmeza nas ações para debelar graves focos de corrupção que vieram à tona e o avanço das políticas sociais do governo.

Ademais, no plano da política externa, a ofensiva do governo Dilma fortalece laços do Brasil com tradicionais parceiros, como o Estados Unidos da América e os países da União Europeia, sem abrir mão de efetiva participação no movimento dos países emergentes, especialmente dos seus parceiros do BRIC, o bloco de interesses econômicos formado pelo Brasil, Rússia, Índia e China, que se destacam no cenário mundial como países em desenvolvimento. Ao que parece, alguns rumos da política externa brasileira começa a ser corrigidos, com substituição das questões mais marcadamente ideológicas por outras de perfil mais substancial, de cunho econômico e político. E tem enfrentado problemas como a condenação recente do Brasil pela Corte Interamericana de Direitos Humanos, situada em San José, Costa Rica, pela morte do jornalista Vladmir Herzog, além da questão dos desaparecidos da Guerrilha do Araguaia. Pela lei brasileira, segundo interpretação dos conservadores, essa questão foi resolvida com a Lei de Anistia (Lei n° 6.683 - de 28 de agosto de 1979). Os juízes da Corte de San José dizem que não e o mesmo disse o próprio Congresso Nacional quando aprovou, recentemente, a Comissão da Verdade, para apuração de agressões aos direitos humanos por mais de cinco décadas, no Brasil. Claro que isto abriu um vasto campo de enfrentamento entre o bloco conservador mais vinculado às forças armadas, sobretudo, os generais de pijamas do Clube Militar, e os setores que se autodenominam como progressistas. Aliás, a recente comemoração de aniversário do Movimento Militar de 1964, foi recebida com manifestação contrária que resultou em pancadarias, gás lacrimogêneo e prisões. Coisas da democracia, embora caiba à presidente Dilma manter essas situações sob controle, evitando que pequenos focos possam tornar-se incêndios de maiores proporções. Por enquanto, Dilma surfa em índices de popularidades inéditos na "história deste país". Que assim permaneça. A meninada agradece.

sexta-feira, 2 de março de 2012

DILMA E OS MILITARES

Mais do que oportuno o artigo de Paulo Linhares desta semana. Confira abaixo!

DILMA E O PODER MILITAR
Paulo Afonso Linhares


Entre as competências privativas do presidente da República, a Constituição Federal estabelece no inciso XIII do seu artigo 84, que cabe àquele “exercer o comando supremo das Forças Armadas, nomear os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, promover seus oficiais-generais e nomeá-los para os cargos que lhes são privativos.” Ressalte-se que isto não foi invenção do PT, de Lula ou da presidente Dilma. Essa redação foi dada pela Emenda Constitucional nº 23, de 02/09/99, aprovada pelo Congresso Nacional, quando era presidente o sociólogo Fernando Henrique Cardoso, o mesmo que teve a iniciativa de criar um Ministério da Defesa sob comando civil, através Lei Complementar n° 97, de 10 de junho de 1999, aliás, enorme contributo para uma visão moderna, democrática e republicana do Estado brasileiro. Obviamente que os militares das três forças armadas torcem o nariz para essas modificações até hoje, mormente porque os seus comandantes são subordinados ao ministro da Defesa que, por definição, é civil.

Nos oito anos de governo Lula, ocorreram algumas crises com o chamado “poder militar”, que não chega a ser uma instituição formal, mas, um sentimento que mantém coesas as forças armadas (Exército, Marinha e Aeronáutica), cujos oficiais têm, atualmente, um perfil mais profissional, embora mantenha forte presença dos ideais conservadores. A mais grave dessas crises envolveu crítica duras feitas às políticas do governo Lula, em especial à indigenista, pelo então Comandante militar da Amazônia, general-de-exército Augusto Heleno Ribeiro Pereira. Naquele momento houve reações as mais diversas, ou de solidariedade ao militar ou condenando-o pela evidente quebra da hierarquia em face do comandante supremo das forças armadas, o então presidente Lula. Apeado do importante comando, o general Augusto Heleno ficou sem auditório.

No governo Dilma, o fogaréu da atual crise com os militares é mais grave. O pomo da discórdia entre os oficiais superiores das forças armadas e o governo Dilma é relativo à recente Comissão da Verdade criada por lei do Congresso Nacional “com a finalidade de examinar e esclarecer as graves violações de direitos humanos praticadas” no período entre 18 de setembro de 1946 até 5 de outubro de 1988, “a fim de efetivar o direito à memória e à verdade histórica e promover a reconciliação nacional”. Para os militares, a Lei de Anistia (Lei n° 6.683, de 28 de agosto de 1979) resolveu essa questão, de lado a lado, não merecendo mais qualquer revisão. No entanto, em 24 de novembro de 2010, a Corte Interamericana de Direitos Humanos da OEA, ao examinar o caso dos desaparecidos na “Guerrilha do Araguaia”, por unanimidade decidiu pela “incompatibilidade das anistias relativas a graves violações de direito humanos, com o direito internacional”, porquanto a Lei de Anistia brasileira teria afetado “o dever do Estado de investigar e punir ao impedir que os familiares das vítimas fossem ouvidos por um juiz”. A condenação do Brasil pela Corte de São José deve ser considerada, no mínimo, como muito incômoda.

Definitivamente as relações da presidente Dilma Rousseff com os militares, sobretudo os de pijamas, azedaram com as com declarações sobre a ditadura militar, feitas por duas ministras do seu governo (Eleonora Menicucci, da Secretaria de Políticas para as Mulheres, e Maria do Rosário, dos Direitos Humanos), ademais das especulações que vêm circulando acerca dos sete nomes que ela indicará para compor a Comissão da Verdade. Recentemente circulou um manifesto de militares contra essas declarações das ministras, em 16 de fevereiro de 2012, assinado pelos presidentes dos três clubes militares brasileiros, cuja conclusão é a de que “[...] Os Clubes Militares expressam a preocupação com as manifestações de auxiliares da Presidente sem que ela, como a mandatária maior da nação, venha a público expressar desacordo com a posição assumida por eles e pelo partido ao qual é filiada e aguardam com expectativa positiva a postura de Presidente de todos os brasileiros e não de minorias sectárias ou de partidos políticos”.

A presidente Dilma Rousseff determinou aos comandantes das Forças Armadas que os mais de 150 signatários da nota sejam punidos com advertência por ato de insubordinação, o que deu origem a mais uma manifesto de militares, dessa feita com declaração de não reconhecimento da autoridade do Ministro da Defesa. Para agravar mais essa crise, só falta a negação da autoridade presidencial como Comandante Supremo das Forças Armadas. Os da oposição, vendo de longe o fogaréu a arder, receiam a pecha de “como vivandeiras alvoroçadas” que “vêm aos bivaques bolir com os granadeiros e provocar extravagâncias do poder militar”, segundo conhecida afirmativa do marechal Castello Branco. É uma situação muito grave, a requerer bons e competentes bombeiros, civis e militares, de ambos os lados. A democracia é o valor maior, a ser preservado a qualquer custo. Aguardemos
.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Uma boa análise da conjuntura econômica

Você é daqueles, como eu e mais alguns gatos pingados, que, em não estando em cargos no governo e nem em consultorias para o tal do mercado, preocupa-se com a vida econômica? Bueno, então gostas de quem escreve bem e sem papas na língua, não é? Aproveite e leia o artigo abaixo. Você vai encontrar um conjunto de informações fundamentais para pensar a conjuntura econômica que atravessamos no nosso país.


A taxa de juro natural e a Amazônia
O Brasil está com sinais vitais razoáveis, mas tem de aumentar o emprego e a poupança e gerir melhor o setor público
Antônio Delfim Netto*

A mais óbvia razão pela qual os economistas não foram capazes de antecipar a tragédia que se preparava no mercado financeiro internacional, e que se concretizou em 2008, talvez resida no fato que a Teoria Macroeconômica e a Teoria da Economia Financeira foram separadas, a ponto de se ignorarem, contrariamente ao sugerido por Keynes e Fisher. James Tobin chamou a atenção para isso em meados dos anos 80 do século passado. Uma provocação curiosa a respeito dessa questão. Aquela separação não encontrou eco na conflagrada economia marxista (Hilferding, Luxemburgo, etc.). Marx, aliás, já advertira que “quando há um colapso total do crédito, nada mais conta, só o pagamento em moeda…e que legislações bancárias como a de 1844-45 (na Inglaterra) podem intensificar a crise monetária. Profeticamente, acrescentou, “nenhuma legislação bancária pode eliminar a crise”, como mais um século depois estamos aprendendo…

O Brasil está vivendo um momento interessante depois de ter superado muito bem a crise. Há, entretanto, uma dúvida ampla, geral e irrestrita sobre: 1) a natureza do processo inflacionário que atinge, em grau maior ou menor, todos os países do mundo e 2) as consequências no longo prazo da supervalorização do Real que está destruindo a sofisticada indústria nacional.

Todo processo inflacionário se explica por uma combinação variável de três causas: 1) um desequilíbrio persistente entre a oferta e a demanda global de bens e serviços; 2) uma desancoragem (por múltiplas razões, inclusive a anterior) da “expectativa” inflacionária, e 3) um “choque de oferta” interno ou externo. No caso brasileiro é preciso incluir a indexação ainda generalizada que sobrou como resíduo do bem-sucedido Plano Real e para cuja eliminação se fez muito pouco (de fato, acrescentou-se mais veneno) nos últimos oito anos.

“Temos hoje, praticamente, uma taxa de câmbio fixa. Trata-se de um mecanismo de legítima defesa.”

No regime de câmbio flutuante, quando o choque externo é um grande aumento das relações de troca, ele é “filtrado” por uma valorização da taxa de câmbio. O cabo de guerra estabelecido entre os “falcões” e o governo parece estar amainando, com o reconhecimento que o ajuste dos juros pelo Banco Central (BC) será suficientemente prolongado para promover a convergência da taxa de inflação para o centro da meta de 2012.

Aparentemente isto está sendo conseguido: a taxa de juros real produzida pela Selic (que importa mais para o custo da dívida pública) tem sido elevada moderadamente, mas a taxa de juros real do setor privado que controla o consumo e boa parte dos investimentos (não privilegiado por programas especiais), tem se elevado mais fortemente. Este ano a despesa com juros da dívida pública deve beirar a R$ 180 bilhões, uma respeitável Bolsa-Rentista.

A comunicação do Banco Central deve ser dirigida à sociedade e não apenas ao sistema financeiro. No fundo, os seus clientes são os cidadãos comuns que só podem ser informados por meio da mídia. São eles (e não apenas os analistas financeiros) que lhe conferem credibilidade. É fundamental para o sucesso da política econômica a informação preventiva, rápida, transparente e honesta do Banco Central, para contrarrestar a natural diversidade de opiniões.

Há muitos anos os economistas reconheceram as estreitas relações que existem entre o movimento de capitais, os regimes da taxa de câmbio e a autonomia monetária de cada país. Teorizando sobre situações limites: 1) liberdade absoluta ou controle absoluto dos movimentos de capitais nas relações externas; 2) taxa de câmbio absolutamente flutuante ou taxa de câmbio absolutamente fixa; 3) liberdade absoluta ou constrangimento absoluto para que a política monetária atenda às condições econômicas domésticas e estabilize a economia; e 4) adicionando a hipótese que os agentes são absolutamente racionais e exploram qualquer oportunidade de lucro que possa ser apropriado pela livre arbitragem, demonstra-se, logicamente, que a política econômica de um país não pode satisfazer, simultaneamente, mais do que duas, das três primeiras condições expostas acima. Essa construção lógica constitui o já velho e famoso trilema que condiciona o exercício da política econômica.

“A ascensão social da última década produz um desequilíbrio entre a demanda e a oferta.”


Em outras palavras, ela pode incorporar quatro situações resumidas a seguir:

1) Liberdade de movimento de capitais e câmbio fixo. Nessa circunstância, o país não pode ter uma política monetária que cuide dos seus interesses internos. Para que haja equilíbrio no longo prazo, a sua taxa de inflação deve ser igual à externa e a taxa real de juros deve ser igual à do “resto do mundo”. Se a taxa de juros interna for maior do que a externa, a acumulação de reservas produzida pela entrada de capital precisa ser neutralizada com o aumento crescente da dívida pública (e do seu custo) e, no limite, será monetizada, criando as condições para a emergência de um processo inflacionário;

2) Controle do movimento de capitais e câmbio fixo. Nesse caso há plena liberdade para a política monetária perseguir os interesses internos do país. Nestas circunstâncias, a taxa de câmbio fixo deve ser o preço relativo que equilibra o valor do fluxo dos bens e serviços exportados com os importados. Se a taxa de inflação gerada pela política monetária autônoma for sistematicamente maior do que a do mundo, a taxa real de câmbio sofre uma lenta valorização e, mais dia, menos dia, acumula-se um déficit em conta corrente. Este regime induz a política monetária a perseguir uma taxa de inflação parecida com a do “resto do mundo”. Trata-se do sistema construído originalmente no Acordo de Bretton Woods que foi erodido pela dominança abusiva do dólar como unidade de conta internacional e moeda reserva;

3) Liberdade de movimento de capitais e câmbio flutuante. Nesse caso a política monetária precisa manter a taxa real de juros interna igual à externa para construir o equilíbrio de longo prazo. Para reduzir a volatilidade da taxa de câmbio ele deve manter também sua taxa de inflação parecida com a de seus parceiros internacionais; e

4) Controle do movimento de capitais e taxa de câmbio flutuante. Nesse caso pode-se ter uma política monetária que atenda aos interesses internos do país. A taxa de câmbio flutuante volta a ser o velho preço relativo que equilibra o valor do fluxo de bens e serviços exportados com o valor do fluxo de bens e serviços importados.

A experiência mostra que nenhum país pratica políticas econômicas com a “pureza” suposta na construção lógica do “trilema”. Todos tendem a acomodar (de acordo com as circunstâncias que enfrentam dentro e fora do país e dos interesses do poder incumbente), uma combinação variável da liberdade do movimento de capitais, do regime cambial e da política monetária.

Assistimos isso agora no Brasil. Com três instrumentos de intervenção, o Banco Central transformou o regime cambial. Temos hoje, praticamente, uma taxa de câmbio fixa. Trata-se de um mecanismo de “legítima defesa” justificado pela destruição interna causada pela supervalorização do Real. Ninguém discute que a tendência do Real é de valorizar-se, se não por outras causas, apenas pela velha teoria e empiricamente reconhecida relação da taxa de câmbio real com a elevação do Produto Interno Bruto (PIB) per capita. No momento essa tendência é ajudada pela enorme melhoria das relações de troca (enquanto durarem). O que se discute é a “super” valorização causada pelo imenso diferencial entre as taxas de juros reais interna e externa.

O “trilema” não é apenas uma proposição logicamente deduzida. Pesquisas empíricas que se vão acumulando, mostram sua relevância. É preciso insistir que não importa qual seja a combinação escolhida pela nossa política
econômica: é pouco provável que ela seja exitosa no longo prazo se a taxa de juro real interna continuar 4 vezes maior que a externa!

Há dezenas de explicações para tal “fenômeno” produzidas por sofisticados e tecnicamente bem apetrechados economistas, às vezes apoiados numa econometria de “pé quebrado”. Em algumas de suas “regressões” só não acrescentaram, ainda, como variável “explicativa”, os quilômetros quadrados desmatados na Amazônia. Todo o resto já foi tentado”.

Do nosso ponto de vista a melhor explicação para o fato é a que tem sido trabalhada e promovida há muito tempo, entre outros, pelo ilustre professor Yoshiaki Nakano: continuamos a praticar as regras operacionais que, também em “legítima defesa”, inventamos no período de hiper-inflação e que foram funcionais naquele momento. Para começar a desmontá-las precisamos reduzir o financiamento da dívida pública com títulos remunerados à taxa Selic, exatamente o objetivo perseguido pela Secretaria do Tesouro Nacional (STN). É preciso criar condições e estímulos para que o mercado reduza em seu portfólio os papéis remunerados pela taxa Selic, o que será muito positivo, inclusive, para aumentar a potência da política monetária convencional.

A notícia mais importante do Plano Anual de Financiamento (PAF) da STN para 2011, é que existe tal possibilidade durante o atual mandato da presidente Dilma Rousseff: 80% da dívida remunerada em Selic vence entre 2011 e 2014. Como afirma a STN, o ajustamento será lento, cauteloso e oportunístico, refletindo o “desenvolvimento do mercado financeiro”. O fundamental é saber que a janela está aí e que o seu aproveitamento depende, apenas, de uma forte coordenação entre um seguro esforço fiscal e uma fina política monetária que deem musculatura à STN para fechá-la.

A nossa situação cambial é ainda mais delicada devido à extrema liquidez proporcionada pelo Federal Reserve (Fed, banco central americano) para acelerar a taxa de crescimento dos EUA, sem o que não haverá solução para sua dívida interna. O problema dos EUA é que sua política econômica não conseguiu, até agora, conquistar credibilidade e reduzir o nível de incerteza que continua a cercá-la. O gráfico tenta mostrar nossas dificuldades.

A falta de confiança tem levado a uma recuperação lenta de economia americana (particularmente no nível de emprego). Isso produziu uma política monetária extremamente laxista – o “quantitative easing” 1 e 2 (QE1 e QE2) – que levou a taxa de juro nominal a zero, o que tende a desvalorizar o dólar. Como ele é a unidade de conta no mercado internacional, a sua desvalorização aumenta ainda mais os preços nominais das commodities (petróleo, metais e alimentos), já pressionados por uma aceleração da demanda global dos emergentes (China, Índia etc.). O aumento do petróleo por sua vez, corta a renda dos americanos e diminui o consumo de outros bens, dificultando ainda mais a recuperação. Além do mais, deteriora o saldo comercial dos EUA e exige maior desvalorização do dólar.

Quais os efeitos disso sobre a nossa taxa de câmbio? Primeiro, uma valorização do Real pela melhoria das nossas relações de troca. Paralelamente, os preços externos são internalizados pela taxa de câmbio. Quando o câmbio não pode mais valorizar-se pelo estrago que está produzindo, aumenta a taxa de inflação interna. Isso leva o Banco Central a aumentar a taxa de juro real, o que estimula ainda mais o fluxo de capitais que vem arbitrar a diferença de juros e reforça a valorização do Real. A arbitragem não termina porque o juro real interno não cai devido à política monetária que absorve os reais vendendo papéis do governo à taxa Selic. Estamos presos numa armadilha. Ela se agravará ainda mais se o FED, diante da fraqueza da economia americana, decidir por um terceiro “quantitative easing” (QE3).

Com relação à inflação, a política econômica destina-se a controlar diretamente a demanda global e ajustá-la à oferta global, e, indiretamente (por sua credibilidade), fixar a expectativa de inflação que ancora a formação dos preços e dos salários. Trata-se de um processo não trivial, cheio de armadilhas conceituais e largamente determinado pelas crenças sobre o estado da economia e sobre as respostas dos agentes à própria política (o efeito do déficit fiscal nominal, os efeitos da relação dívida/PIB os efeitos das manobras de juros etc.), de forma que os efeitos diretos e indiretos se auto-estimulam.

Choques internos, rapidamente superados, como é o caso de uma quebra de safra em que os preços têm a tendência de retornar à média, precisam de um tratamento cauteloso porque, se incorporados pela indexação aos salários, elimina-se o papel principal do aumento dos preços que é cortar temporariamente a demanda física para ajustá-la à oferta física. O mesmo acontece quando se trata de desequilíbrios estruturais produzidos por uma redistribuição de renda que altera a demanda de serviços. É exatamente o aumento dos seus preços relativos que estimulará a expansão da oferta para atendê-la. Logo, o ajuste deve ser acompanhado por ações não monetárias (”estruturais”) que ajudem e acelerem o efeito das manobras com a taxa de juros.

Toda mudança de preços relativos exerce uma pressão sobre a inflação devido à rigidez para baixo de todos os preços. Um movimento de ascensão social como vimos vivendo na última década, tende a produzir um desequilíbrio qualitativo entre a demanda e a oferta de serviços e nos preços dos produtos consumidos pelas classes em ascensão. Imagine a destruição de PIB, do emprego e o aumento da pobreza que seriam necessários para desconstruir aquele processo civilizatório apenas com manobra da taxa de juros.

Um problema interessante com relação à escassez de mão de obra refere-se, por exemplo, à engenharia. Devido à pequena demanda e baixos salários da profissão nos anos 90 do século passado, quase 40% do estoque de nossos engenheiros trabalham fora da sua especialidade, principalmente na administração e finanças. Para trazê-los de volta (e estimular a formação de novos) o sistema de preços já está funcionando e os salários deverão ajustar-se relativamente às outras atividades. Isso, entretanto, também não é “prova” de que exista um desajuste sério entre a demanda e a oferta globais de mão de obra, o que exigiria uma redução da taxa de crescimento do PIB. É preciso pensar em outras soluções, inclusive estimular a volta ao trabalho dos engenheiros que se aposentaram e dos que abandonaram o País por falta de oportunidades. E por que não importar profissionais estrangeiros oferecendo-lhes condições adequadas de vida e de trabalho como fazem vários países? Isso fez inteligentemente o Canadá (inclusive conosco).

O Brasil está com sinais vitais bastante razoáveis. Seu problema principal, entretanto, é preparar a nossa estrutura produtiva interna para dar emprego de boa qualidade a 145 milhões de brasileiros – com idade entre 15 e 64 anos – em 2030. Isso não será feito apenas com o nosso modelo agrominerador extremamente eficiente, mas induzido e dependente do crescimento externo. Não tenhamos ilusões. Com tempo suficiente (e que não será coisa muito superior a 4 anos ou 5 anos) a oferta mundial de alimento e petróleo criada pelos próprios países que hoje exercem a pressão de demanda, crescerá estimulada pelo aumento dos preços. Aí tudo mudará.

É hora, portanto, de aproveitar o tamanho e estimular a expansão do nosso mercado interno para ampliar o setor industrial e o de serviços (sem desestimular a agricultura e a mineração) para atender ao crescimento inclusivo que nos impõe a própria Constituição de 1988. Para atender ao aumento da oferta demográfica de mão de obra, o Brasil precisa de um crescimento anual nos próximos 20 anos, da ordem de 5% ao ano, com estabilidade interna e externa.

Para consegui-lo temos de fazer muita coisa. Fundamentalmente, elevar a taxa de poupança interna para qualquer coisa parecida como 24% a 25% do PIB (com um déficit em conta corrente não maior do que 1%), o que exige estímulo à poupança privada e um grande aumento da poupança governamental (sem aumentar a carga tributária), ou seja, cumprir o que foi anunciado pela presidente Dilma: “Fazer um pouco mais com um pouco menos”. Em poucas palavras, gerir mais eficientemente o setor público.
Pode parecer pedestre (e até enganoso), mas todos os nossos problemas (inclusive o cambial) podem ser minorados com tal programa. Ao fim e ao cabo – como insiste em dizer um velho amigo -, tudo se resume em: 1) ter uma rigorosa política fiscal (equilíbrio fiscal cíclico e relação dívida/PIB estritamente controlada; 2) melhorar a qualidade da gestão pública e reduzir o crescimento dos gastos de custeio e transferências abaixo do crescimento do PIB; 3) assegurar a boa regulação concorrencial do mercado e coordenar, com ele, o papel do Estado-Indutor com o uso de estímulos adequados; e 4) resistir à permanente sedução (que costuma cegar o poder incumbente), de tentar violar as identidades da contabilidade nacional.
O resto é creme chantilly para enfeitar a receita…

* Antonio Delfim Netto é professor emérito da FEA-USP, ex-ministro da Fazenda, Agricultura e Planejamento.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

O voto religioso

Vou postar algumas matérias sobre um tema mais do que emergente: o voto religioso. Depois, assim que possível, voltarei para comentar. Abaixo, um artigo de Maria Inês Nassif, articulista do jornal VALOR ECONÔMICO. Vale a pena conferir!

07/10/2010 - 07:59h

O voto do pecado e o poder satânico

Maria Inês Nassif VALOR


A campanha religiosa contra a candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, estava em andamento e foi subestimada pelo comitê petista. O staff serrista prestou mais atenção nisso. No dia 14 de setembro, a mulher de José Serra, Mônica Serra, em campanha para o marido no município de Nova Iguaçu, no Rio, falou a um eleitor evangélico, para convencê-lo a não votar em Dilma: “Ela é a favor de matar criancinhas”, disse, segundo relato do jornal “O Estado de S. Paulo”. Mônica quis dizer, usando cores muito, muito fortes, que Dilma era a favor do aborto, e portanto não merecia o voto de um evangélico. Não deve ter sido da cabeça dela – falou porque as pesquisas qualitativas do PSDB já deviam mostrar que a onda “antiabortista” estava pegando, embalada por bispos e padres da Igreja Católica e pastores evangélicos.

Da parte da ala conservadora da Igreja Católica, a articulação foi feita com alarde, de forma a induzir os fiéis de que a recomendação de não votar em Dilma, ou em qualquer outro candidato do PT, veio da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). A CNBB reagiu timidamente a essa ofensiva, com uma carta que foi também instrumentalizada pelos conservadores, que hoje não são poucos. “Falam em nome da CNBB somente a Assembleia Geral, o Conselho Permanente e a Presidência”, diz a nota, para em seguida lembrar que o documento oficial sobre as eleições, tirado na 48ª Assembleia Geral, foi a “Declaração sobre o Momento Político Nacional”, que não faz referência direta a candidatos ou partidos. Um trecho da carta oficial, todavia, foi apresentado aos fiéis paulistanos como prova de que a Igreja, como instituição, vetava o voto aos petistas. “(…) incentivamos a todos que participem (…), procurando eleger pessoas comprometidas com o respeito incondicional à vida, à família, à liberdade religiosa e à dignidade humana”.

A campanha da Igreja conservadora contra Dilma está usando um sofisma: o “respeito incondicional à vida” torna a igreja antiabortista; o PT defendeu o aborto; logo, o voto em Dilma é pecado. É esse sofisma que foi colocado aos padres de São Paulo pela Regional Sul 1 da CNBB como uma ordem. A secção da CNBB no Estado está impondo a campanha política nas igrejas como obrigação de hierarquia: há uma determinação para que os padres falem na homilia que o voto ao PT é pecado. Os padres estão obrigados também a distribuir jornais de suas dioceses na porta das igrejas, que não raro colocam o veto ao voto no PT como uma determinação da “CNBB”, sem especificar que é da CNBB da Regional Sul 1.


Com ajuda da Igreja, Serra chega aos pobres via medo

Guarulhos é o grande foco, mas não o único. O bispo Luiz Gonzaga Bergonzini declara publicamente “ódio ao PT”. Sua diocese foi uma das formuladoras, na Comissão da Vida da Região Sul, do documento que deu “subsídios” para o manifesto anti-PT que está sendo distribuído nas paróquias como posição oficial da Igreja Católica. Um padre de Guarulhos conta que Dom Luiz Gonzaga vai se aposentar em sete meses, e tem aproveitado seus últimos momentos como bispo para militar ativamente contra o partido de Lula. Para isso, tem usado seu poder de “mordaça” – a autoridade máxima da paróquia é a diocese, e o bispo pode impor suspensões a padres que não seguirem as suas ordens, ou criticarem publicamente suas posições.

Segundo uma senhora que é católica militante, bem longe de Guarulhos, no bairro de Campo Limpo, os bispos levaram ao pé da letra a orientação da regional da CNBB. A senhora ouviu do padre da sua paróquia, durante a pregação do sermão, que os católicos que votassem em Dilma Rousseff deveriam se confessar depois, porque teriam cometido um pecado. Preferiu o discurso da corrupção ao discurso so aborto. E garantiu que recomendava o voto contra o PT por ordem do bispo.

O vereador Chico Macena (PT), da capital paulista, que é ligadíssimo à Igreja, conta que várias paróquias da região de São Lucas falaram contra o PT na homilia. Ele acredita que esse movimento da igreja conservadora paulista influenciou o voto contra Dilma em algumas regiões.

Na campanha de Dilma, soou o alarme apenas na semana anterior às eleições. Foi quando a candidata se reuniu com líderes religiosos e garantiu a eles que não havia defendido o aborto.

A guerra religiosa não se limitou a sermões de padres ou pregações de pastores evangélicos. Espalhou-se como um rastilho pela internet uma “denúncia” de envolvimento do candidato a vice de Dilma, o deputado Michel Temer (SP), com o “satanismo”. O site Hospital da Alma, ligado à Associação dos Blogueiros Evangélicos, diz que Dilma, se vencer a disputa, morrerá por obra de Satã, para que o sacerdote Temer assuma a Presidência.

As versões religiosas sobre a candidatura governista são inventivas e, no conjunto, ajudam a formar um clima de pânico que, em algum momento, pode resultar numa explosão em que a racionalidade da escolha do candidato ao segundo turno escorra pelo ralo.

Não deixa de ser irônico. A Igreja progressista esteve na base da formação do PT, embora limitada a regras da não militância política dentro das paróquias. Teve um papel fundamental em São Paulo. É aqui no Estado, que deu uma guinada conservadora durante e após os governos de Fernando Henrique Cardoso, que a Igreja Católica tem imposto os maiores prejuízos à candidata petista. Dois papados conservadores reduziram os progressistas católicos de São Paulo a um rebanho desorganizado e destituído de poder na hierarquia da Igreja.

A outra ironia da história é que, no momento em que perdem significativamente a força os chefes de política locais, em função dos programas de transferência de renda do governo, e o PT passa a ser o interlocutor preferencial junto aos pobres, os seus adversários tenham arrumado um “atalho” para chegar a esse eleitor humilde, via o temor religioso. O voto colocado como “pecado”, e a eleição como obra de um “poder satânico”, recolocam o eleitorado mais pobre e menos escolarizado nas mãos de líderes conservadores, mas pela força do medo.


Maria Inês Nassif é repórter especial de Política. Escreve às quintas-feiras

E-mail maria.inesnassif@valor.com.br

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

O debate na avaliação insuspeita do César Maia

César Maia, candidato ao Senado pelo DEM no RJ, provavelmente derrotado na eleição de domingo, tem uma verve singular. Mesmo quando está por baixo, não perde o humor corrosivo. Não, mil vezes não, a sua análise não é isenta. Que besteira é essa de isenção? Lembrem-se das lições de Max Weber sobre a "objetividade na ciência social e na política" e não cobrem o impossível...

Ok. Tá, desculpe-me pelo destempero... Her... Como eu ia dizendo, o César Maia, mesmo a caminho do cadafalso, continua impagável. Leia a sua "insuspeita" avaliação do debate entre os candidatos à presidência, ocorrido ontem na TV Globo.

UM ANTI-DEBATE NA TV GLOBO! PESQUISA INDICA EMPATE..., NA MEDIOCRIDADE! NINGUÉM MERECE!
César Maia

1. Marina ficou insistindo o tempo todo que estava em S. Paulo. Descobriu o uso do advérbio vazio, tão ironizado nos anos 70.

2. Serra não quis perguntar a Dilma, que lidera as pesquisas, evitando diferenciar-se. Deve ter sido orientado por quem colocou o Lula em seu segundo programa de TV.

3. Plínio nem engraçado foi desta vez. Sua pasta não tinha indicador dos temas e ficava folheando as "colinhas".

4. Dilma tocou seu realejo, gaguejou e não respondeu sobre a jornada de trabalho. Disse e ganhou risos que "no site estão registradas todas as doações que são oficiais". Saiu como entrou, provavelmente feliz com o empate no debate da mediocridade.

domingo, 12 de setembro de 2010

Por que o discurso da oposição não pega?

Eis aí abaixo uma tentativa de resposta.

VINICIUS TORRES FREIRE

Você sabe com quem está falando?

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Eleitor relevou ou ignorou as críticas a Dilma e ao PT; talvez falte intimidade da oposição com os cidadãos
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O GROSSO do eleitorado até agora não se abalou com os protestos da campanha de José Serra (PSDB) contra o PT e sua candidata. Nem com as vinhetas televisivas tucanas que procuram refrescar a memória do cidadão a respeito do passivo moral do lulismo-petismo, indica pesquisa Datafolha. Mesmo assim, na noite de sexta-feira, quando era escrita esta coluna, ia forte o rumor ou o odor de que o jorro de lixo na campanha iria crescer. Lixão é que não falta para vasculhar.
Dilma Rousseff perdeu pontos relevantes apenas entre eleitores com ensino superior (14% do total da amostra do Datafolha) e/ou com renda maior que dez salários mínimos (5% do total). Note-se, porém, que as intenções de voto dessa fatia mínima do eleitorado têm flutuado de modo meio selvagem. Pode ser que a variação de Dilma nem se deva ao caso da Receita. Enfim, Serra não levou os votos que caíram da cesta de Dilma. Aparentemente, eles foram para Marina Silva (PV).
O grosso do eleitorado pode ter relevado as acusações contra o PT. Muitos podem não ter tomado conhecimento delas -faz uma semana, não cresce o número de eleitores que já viu a propaganda eleitoral na TV, ainda em 51%. O eleitor pode não entender bem o que se passa -a barafunda noticiosa da quebra de sigilos. Ou não quer ou pode se dar ao trabalho de compreendê-la.
O acesso ao noticiário não é lá tão escasso. Talvez seja difícil compreender o que se lê ou se ouve pois, na média, os brasileiros não têm mais de oito anos de escola ruim. Ainda assim, cerca de 37% das pessoas com mais de 18 anos usaram a internet no ano passado, segundo dados do IBGE (Pnad). Quase metade vê pelo menos algum noticiário televisivo. Porém, os motivos imediatos da falta de apelo do protesto tucano ou indignação diante do caso ficam no domínio da especulação, na falta de pesquisa específica.

Leia o texto integral aqui (exclusivo para assinantes UOL).

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Bulgaria acompanha com interesse a eleição brasileira


Dilma Roussef estaria eleita também na Bulgaria. Lá, está todo mundo vidrado no que acontece por aqui. Entusiamados, jornais e blogues comentam que uma filha de búlgaros poderá comandar a 7ª economia do planeta. Confira abaixo matéria publicada em jornal búlgaro (em inglês, não em búlgaro, claro!)


Woman of Bulgarian Descent Closer to Becoming Brazil's President
World August 5, 2010, Thursday


Brazilian incumbent Chief of Staff Dilma Rousseff (L) and Brazilian President Luiz Inacio Lula da Silva greet their supporters during the IV National Congress of the Workers' Party. Photo by BGNES
The candidate of the ruling Brazilian Workers Party, Dilma Rousseff, has real chance to win the October elections, a recent poll shows.

According to the results, Russeff is 10 points ahead of her main opponent and opposition rival from the party of the Social Democrats, Jose Serra, the current Governor of the Eastern province of São Paolo.

The poll of the Sensus agency shows the nominee of President Luiz Inácio Lula da Silva can count on nearly 42% support while Serra has 32%. The third ranking is held by the candidate of the Greens party, Marina Silva, but she has only 8.5%.

The poll has been conducted between July 31 and August 2 and has a margin of error of 2%. It confirms earlier results showing a trend of growing chances for Rousseff. The previous one gave her 39%.

Rousseff’s unanimous nomination was made in February this year, during the 4th Congress of the Party in the presence of da Silva and several of his ministers. She says she never imagined she would face such challenge in her life, but added she has confidence in her own abilities.

Rousseff is of Bulgarian origin. She was born in Brazil on December 18, 1947. The daughter of a Bulgarian immigrant lawyer and a Brazilian mother, Rousseff was raised in an upper-middle class household in the Southeastern city of Belo Horizonte. She has a degree in economics.

Rousseff has been da Silva’s Chief of Staff since 2005 while the position is considered equal to the one of a Prime Minister since Brazil doesn’t have a Premier.

Rousseff was promoted as Chief of Staff after her predecessor resigned amidst accusations of vote buying. At the time she was Brazil’s Energy Minister.

Rousseff quickly proved her leadership abilities; she is credited of helping the President to carry out his social programs for assistance to the poor along with providing effective control over infrastructure projects for billions of USD.

In the beginning of 2009, Rousseff publicly admitted doctors had removed a cancerous tumor from her chest. She began chemotherapy for lymphoma and in the fall announced the cancer was gone.

Da Silva already served two terms in office and cannot be reelected.

Rousseff is running on promises for more flexible labor market and labor unions’ laws along with a plan to reform the retirement system, and the pay scales such as introducing bonuses based on performance.

During the Rio de Janeiro carnival Rousseff appeared in public in the company of pop diva Madonna and her family. In another effort to gain popularity, she underwent several plastic surgeries, and lost weight and began wearing contact lenses, instead of glasses, according to a France Press report.

Dilma Rousseff, called the Iron Lady, is known for her strong will and the habit to openly scorn the Brazilian ministers. She belongs to the generation of leftist radicals during the turbulent 1960s, when Brazil was ruled by a military government. A committed socialist, she joined an armed militant force after the 1964 coup d’état against President João Goulart. The military dictatorship lasted until 1985 when Tancredo Neves was democratically elected president.

Her alleged participation in the 1965 armed robbery of a São Paulo governor’s safe has been highly controversial in Brazil. Although she denies ever participating in an armed attack, the Brazilian press has repeatedly reported her involvement in the now infamous robbery.

Her radical politics saw her arrested in 1970 by the military authorities. She was then held captive for three years and allegedly tortured with electrical shocks. Rousseff says she doesn’t regret her militant past.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

O PSDB e a mexicanização

PRI, o partido que dominou a política mexicana por quase um século, é sempre mobilizado como um espectro quando o Presidente Lula consegue obter vitórias eleitorais e políticos. O tucanato lembra um pouco aqueles meninos de nossa infância, donos da bola, que queriam parar o jogo quando o seu time estava perdendo...

Bueno, confira abaixo, artigo de autoria do jornalista Elio Gaspari, comentando essa, digamos, face da oposição brasileira. Lembre: o artigo chega aqui via Blogo do Noblat, ok?


Enviado por Ricardo Noblat - 1.9.2010 9h26m
Deu em O Globo
Quando a oposição perde, apita: PRIiiiiii!
Elio Gaspari


Quando a oposição brasileira é devastada pelo resultado eleitoral, alguém apita: "PRIiii!". É um grito de advertência contra o perigo da instalação de um regime de partido único (de fato) no Brasil. Algo parecido com a coligação de políticos, burocratas, sindicalistas e cleptocratas que governou o México de 1926 a 2000, boa parte do tempo sob a sigla do Partido da Revolução Institucionalizada.

O apito de PRI costumava soar depois da eleição. Agora ele veio antes, com um inoportuno componente de derrotismo.

Ele soou em 1970, quando a popularidade do general Médici e os camburões da polícia esmagaram o MDB. A oposição ficou com 87 das 310 cadeiras da Câmara, perdendo até o terço necessário para requerer uma CPI. O governo elegeu 42 senadores, perdendo apenas no Rio de Janeiro e na antiga Guanabara. Era o PRI.

Quatro anos depois, o MDB elegeu os senadores em 16 dos 22 estados. Não se falou mais em PRI.

Em 1986, cavalgando o Plano Cruzado, o PMDB de José Sarney elegeu 22 governadores, 36 senadores e a maioria dos deputados. Novamente: PRI!

Três anos depois Fernando Collor de Mello elegeu-se presidente da República e, desde então, o apito calou-se, para voltar a ser ouvido agora.

Falar em PRI no Brasil quando o PSDB caminha para completar vinte anos consecutivos de poder em São Paulo é, no mínimo, uma trapaça. Sabendo-se que o PT conformou-se com uma posição subsidiária nas eleições para governadores, o espantalho torna-se risível.

É nessa hora que se deve olhar para o espantalho. Ele não é o que quer o tucanato abichornado, mas o paralelo histórico tem algo a informar.

O PRI surgiu depois de uma revolução durante a qual mataram-se três presidentes e desterraram-se outros dois. Seu criador não foi Emiliano Zapata, muitos menos Pancho Villa (ambos passados nas armas), mas um general amigo dos sindicatos e dos movimentos sociais.

Chamava-se Plutarco Elias Calles, assumiu em 1924, saiu em 28 e governou até 1935 por meio de prepostos, fazendo-se chamar de "Jefe Máximo". Esse período da história mexicana é conhecido como "Maximato".

A boa notícia para quem flerta com um Lulato é que Calles parece-se com Nosso Guia na política voltada para o andar de baixo e até mesmo fisionomicamente, sem barba.

A má notícia vai para a turma do mensalão. Um dia "El Jefe Máximo" teve uma ideia e decidiu entregar o poder ao companheiro de armas Lázaro Cárdenas. Encurtando a história, Cárdenas dobrou à esquerda, exilou meia dúzia de larápios do "Maximato", inclusive um ex-presidente, e, em 1936, despachou o próprio Calles, que ralou cinco anos de exílio.

O que está aí para todo mundo ver é o Lulato, com Nosso Guia pedindo votos para sua candidata, e uma grande parte do eleitorado, consciente e satisfeita, dizendo que atenderá com muito gosto ao seu pedido.

Um país com a sofisticação econômica do Brasil, com a qualidade da sua burocracia e com o vigor de suas instituições democráticas não cai nas mãos de um PRI qualquer. Apitando-se, faz-se barulho, e só.

O problema da oposição brasileira, com sua vertente demófoba, chama-se Lula, "El Jefe Máximo", que o embaixador Celso Amorim chamou de Nosso Guia e Dilma Rousseff qualificou como o "grande mestre, ele nos ensinou o caminho".

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quarta-feira, 18 de agosto de 2010

O horário eleitoral

Leia abaixo a análise do jornalista Alon Feuerwerker a respeito do primeiro dia de propanda eleitoral na TV.

Atributos e benefícios (18/08)
Alon Feuerwerker

A arte está também na construção do elo entre os dois pontos. Não basta só o cara ser bacana, tem que entregar a mercadoria. Mas um cara bacana desperta mais esperança de entregar a mercadoria

O horário eleitoral foi inaugurado no previsível, com cada candidato buscando principalmente enfatizar atributos, especialmente em facetas que possam ser atacadas pelos adversários. Para vacinar ou blindar. E a campanha começou razoavelmente positiva, afinal haverá ainda tempo suficiente para começar a despejar chumbo grosso sobre os outros. Ninguém chega na casa do telespectador, assim de primeira, já chutando a canela. Seria desagradável. Não ficaria bem.

Uma curiosidade nas campanhas eleitorais brasileiras é a propaganda regulamentar radiofônica e televisiva dirigir-se apenas a certo país, que não necessariamente é o Brasil. No rádio e na tevê os postulantes falam a quem — imaginam eles — forma opinião a partir desses dois meios. Costuma funcionar, especialmente quando a primeira etapa deve ser usada para tornar alguém conhecido.

Mas incomoda que a tevê e o rádio pratiquem a infantilização de modo algo excessivo. Compare com os debates e notará a assimetria.

Nesta largada, a arma do PT é Luiz Inácio Lula da Silva, ainda que no subliminar. Sem surpresas. A dúvida é como vão agir (e quantos são) os eleitores que ainda não sabem da preferência de Lula por Dilma Rousseff. Mas esse dado é relativo, pois a presença forte do presidente na tela poderá, quem sabe?, até converter quem estava inclinado a escolher outro caminho, mesmo sabendo da opção presidencial.

No campo de José Serra, aparentemente a estratégia é alcançar incrementos graduais. Deu certo com Geraldo Alckmin em 2006 e o tucano conseguiu levar a contenda para o segundo turno. Depois perdeu-se, mas aí foi menos culpa da estratégia que da tática. Da sofreguidão e da falta de medida. Fazer a disputa com Lula exige know-how, profissionalismo, e Alckmin era estreante no jogo.

Na área de Dilma, calculam-se as medidas necessárias para liquidar a fatura já, não dando margem para grandes riscos. Mas se Lula não conseguiu vencer de cara nas duas vezes em que se elegeu, por que Dilma conseguiria? A pergunta faz sentido, mas na comparação, por exemplo, com 2006, a dúvida omite um fato: a situação econômica vai melhor que quatro anos atrás.

A análise jornalística tende a reduzir, a simplificar. É da nossa natureza. Se precisássemos destrinchar todas as variáveis até o limite do erro zero nunca chegaríamos a concluir um texto e estaríamos todos desempregados. É fácil dizer que o eleitor satisfeito com Lula tende a votar em Dilma, mas ela estar no patamar dos 40% sendo a candidata de um governo com mais de 70% de aprovação deveria dizer algo sobre a relatividade da conclusão.

Quem é o eleitor satisfeito com Lula mas menos disposto a votar na candidata dele? Por que essa separação entre juízos e consequências? Quem souber dissecar melhor o enigma estará em vantagem.

De volta à campanha, há uma curiosidade no ar sobre como serão as críticas mútuas, quando vierem para valer. O que vai colar e o que não? Ainda está por ser verificado o resultado do investimento na tese da suposta incompetência de Dilma para a função que pleiteia. Bem como a tentativa de pintar Serra como um elitista insensível.

Meu palpite é que foram desperdícios. Como nem Dilma é a incompetente que pinta a oposição nem Serra poderá ser facilmente desconstruído a partir do rótulo de “candidato dos ricos”, resultará em soma zero de vetores.

É o óbvio e o banal, mas a disputa deve decidir-se na reflexão de “quem é melhor para o Brasil”, a versão açucarada da mensagem real: o “quem é melhor para mim”. Novidade? Não, mas nem sempre a notícia é sinônimo de novidade, com o perdão dos dicionários.

Ou seja, se estamos na fase dos atributos, ela é apenas o aquecimento para a etapa decisiva, a dos benefícios, como se aprende em qualquer curso básico de vendas. Mas seria um erro imaginar a existência de uma muralha chinesa entre as duas variáveis. Capacidade de trazer benefícios tem a ver com atributos.

A arte está também na construção do elo entre os dois. Não basta só o cara ser bacana, tem que entregar a mercadoria. Mas um cara bacana desperta mais esperança de entregar a mercadoria.

Coluna (Nas entrelinhas) publicada nesta quarta (18) no Correio Braziliense.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Uma disputa sem espaço para deslizes

Leia abaixo a sempre lúcida análise do jornalista Alon Feuerwerker.

Sem espaço para errar (15/08)
Alon Feuerwerker

Quando você precisa se explicar a toda hora é porque alguma coisa não vai bem. Essa é uma regra geral, sem margem de erro ou grau de incerteza

Na véspera dos programas e inserções eleitorais de rádio e televisão, não apenas os candidatos estão alinhados para a largada, mas também os institutos de pesquisa. Após meses de alguma dissonância, os quatro (Datafolha, Ibope, Sensus, Vox Populi) dizem mais ou menos a mesma coisa: Dilma Rousseff (PT) abre esta etapa na frente de José Serra (PSDB). Por poucos pontos, ainda na casa de um dígito.

Enquanto afirmavam coisas diferentes, os institutos andaram estranhando-se nos números e nas interpretações, com a natural repercussão entre as torcidas. Assim como no jornalismo, o “pesquisismo” também tem sido cenário para o “você está dizendo isso só porque apoia fulano”. É a conversa da arquibancada. Na versão benigna.

Já no campo de jogo a peleja tem outras regras: as caneladas e carrinhos vêm na forma de polêmicas entre o “ponto de fluxo” e a “consulta domiciliar”, entre fazer a indagação sobre o voto antes ou depois de perguntar o que acha do governo, entre dizer ou não que o candidato “x” é apoiado pelo político “y”. E, se não é suficiente, tem sempre a margem de erro para dar uma mãozinha.

Mais ainda. Tem uma coisa chamada “incerteza”. Com as mesmas letras miudinhas dos contratos duvidosos, os institutos avisam sempre haver uma chance (geralmente 5%) de a pesquisa estar completamente errada. De o resultado colhido na amostra ser diferente (para além da margem de erro) do que seria se todo o universo fosse auscultado.

Nas pesquisas, como nos consultórios médicos, o doutor sempre tem razão, até quando não tem. Pois ciência mesmo é dar a si próprio uma probabilidade generosa de estar errado. O tratamento não funcionou? Lamento, mas você está naqueles poucos casos em que não funciona. Tudo bem, doutor, mas o senhor me devolve então o dinheiro das consultas? E dos remédios?

Um consenso é que institutos de pesquisa vivem da credibilidade. Será? Assim como políticos vivem de ganhar eleição, pesquiseiros precisam acertar. No desfecho, claro, mas também nas parciais. Com um detalhe: é fácil verificar se a pesquisa de véspera de eleição acertou, basta compará-la com o resultado. Já nas parciais é mais complicado, pois só dá para comparar mesmo umas pesquisas com as outras.

Agora, por enquanto Sensus e Vox Populi estão levando vantagem sobre o Datafolha, com o Ibope mais ou menos no zero a zero. Já duas vezes o Datafolha chegou a resultados parecidos com os dos concorrentes, mas depois. Hoje as pessoas creem que Dilma ultrapassou Serra, e quem apontou nisso primeiro anda numa boa. Já os outros têm que se explicar.

E quando você precisa se explicar a toda hora é porque alguma coisa não vai bem. Essa é uma regra geral, sem margem de erro ou grau de incerteza.

Isso garante que uns estejam “certos” e os outros, “errados”? Claro que não. No limite podem estar todos errados.

E daí? O drama para os institutos de pesquisa é que a disputa entre eles na maior parte do tempo se passa numa esfera intangível, a das percepções. Daí o valor da tal “credibilidade”. Se eu tenho credibilidade, tenho e ponto final. Mas credibilidade nenhuma resiste intocada ao erro. Menos ainda ao erro sistemático e à necessidade sistemática de se explicar.

E mesmo quem não larga na corrida com muita credibilidade pode acumular capital político, se acertar mais do que os outros, se der sistematicamente a impressão de que vai na frente e os adversários vão atrás. Aliás, quem precisa recorrer muito à própria credibilidade está a meio caminho dar um tchauzinho a ela.

Vai começar

O desafio para para os profissionais de Marina Siva é impedir que seja tragada pelo escasso tempo de tela e pela polarização há muito anunciada. Já no caso de José Serra, a tarefa, não trivial, é explicar por que mudar se as coisas vão bem. A missão de Dilma Rousseff é mais simples, basta impedir que Serra consiga dar essa explicação.

Dilma chega na frente na largada, o que é bom para ela. Estar na frente é sempre melhor. Serra chega precisando segurar um punhado de votos para levar a eleição ao segundo turno. E virar um punhado deles para ganhar.

Numa eleição em que esse punhado é de cinco milhões num universo de 135 milhões, dizer que ela já acabou parece algo precipitado.

Mas é óbvio que o grande desafio está no campo de Serra e não no de Dilma.


quarta-feira, 5 de maio de 2010

Quem tudo quer...

Lula joga para levar tudo. Essa, nem sempre, é a melhor postura de um jogador. Mas Lula tem experiência e já demonstrou competência em garantir o seu projeto. Nem que, para isso, tenha que destroçar o PT. Leia abaixo a análise de Feuerwerker a respeito.

Escravo da ribalta (04/05)
Alon Feuerwerker.

Mais do que demonstração de força, a blitz do presidente nos últimos dias talvez seja sintoma de alguma fragilidade. Lula não quer só ganhar. Quer fazer barba, cabelo e bigode, para Dilma governar sem oposição efetiva. Terá força para tanto?A largada desta etapa da “pré-campanha” presidencial neutralizou o ambiente de euforia no campo governista que marcou os primeiros meses do ano. A oposição mostrou duas coisas não exibidas até então: disposição para o embate e capacidade de articular um discurso. Acostumados a jogarem sozinhos ao longo de muito tempo, o presidente da República e o PT dão sinais de, como se diz no boxe, terem sentido o golpe.

Um sintoma é o pronunciamento de Luiz Inácio Lula da Silva em rede nacional de TV por motivo do Dia do Trabalho. Questões procedimentais à parte, ele provoca pelo menos uma dúvida: por que o presidente precisa adotar comportamento algo heterodoxo agora, se daqui a pouquinho ele terá o gordo tempo de televisão de Dilma Rousseff na campanha, para se fartar de mandar o eleitor votar nela?

A resposta deve ser buscada na lógica das construções políticas. O presidente entrou em campo nos últimos dias menos para impressionar o público — ainda nem aí para a eleição — e mais para causar boa impressão aos aliados. O processo eleitoral entra agora na fase decisiva da costura de alianças, e Lula quis deixar claro aos amigos em potencial que ele tem sim um discurso para, como se diz nas entranhas do governo, desconstruir a oposição.

Isso para os potencialmente amigos não cederem à tentação de virarem inimigos. Um fenômeno sempre ameaçador em exércitos que, antes de tudo, estão juntos por interesses apenas materiais.

Assim, mais do que demonstração de força, a blitz do presidente nos últimos dias talvez seja sintoma de alguma fragilidade.

Lula tem objetivos ambiciosos em 2010. Além de eleger Dilma, pretende remover o PSDB do poder em São Paulo e Minas Gerais, e também encerrar a carreira política dos que lhe fizeram oposição cerrada no Congresso Nacional, com foco no Senado. Ali, Lula projeta construir para Dilma uma maioria folgada, deixando o futuro governo petista de mãos livres para as reformas constitucionais que bem entender.

Lula não quer só ganhar. Quer fazer barba, cabelo e bigode, para Dilma governar sem oposição efetiva. Terá força para tanto? Quais são os trunfos de Dilma e de Lula na eleição? A aliança dos maiores partidos, o maior tempo na tevê, a popularidade do presidente.

Tempo de TV é importante, mas a história das eleições brasileiras está cheia de exemplos de não ser tudo. As alianças são importantes, mas eleição presidencial embute bom grau de autonomia do eleitor na relação com os candidatos. E o apoio de Lula, qual será o peso efetivo dele na hora da decisão?

Há certezas e dúvidas sobre como o cidadão comum enxerga o presidente. Certezas? Ele o vê como alguém que faz um bom governo, de realizações reconhecidas. E valoriza sua trajetória. As dúvidas estão em outro lugar. Até que ponto Lula é um líder a quem a maioria seguirá incondicionalmente? Até que ponto o pragmatismo presidencial não acabou diluindo, no transcorrer do governo, uma certa relação afetiva que o eleitor não petista talvez mantivesse com o líder histórico do PT?

O filme sobre a vida de Lula, por exemplo, não foi um sucesso de bilheteria. Ao contrário. Uns dizem que a fita é simplesmente ruim, mas o insucesso não foi previsto quando ela estreou, ou pré-estreou. Muita gente boa que viu na época apostou na capacidade de a obra galvanizar emocionalmente o país, com óbvios efeitos no processo eleitoral. Simplesmente não aconteceu.

Num extremo, o entorno de Lula busca convencê-lo de que se transformou num guia condutor de almas, para além da simples racionalidade. No outro, a oposição gostaria de acreditar que Lula só transferirá a Dilma os votos que ela já teria por ser a candidata do PT. A verdade está em algum lugar no meio. Onde? Ninguém, no governo ou na oposição, tem certeza. Daí que Lula tenha precisado voltar à ribalta. De onde não consegue sair sem gerar na turma dele uma sensação chata de insegurança.

(...)
Coluna (Nas entrelinhas) publicada nesta terça (04) no Correio Braziliense.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

O PT nas eleições de 2010: a análise de César Maia

Uma das coisas que eu aprendi a detestar foi o escanteamento de um argumento pela desqualificação de quem o emite. Obviamente, não precisaria nem dizer, tenho nadado contra a corrente. No dia a dia, mesmo no espaço acadêmico no qual, em tese, deveria prevalecer um debate no qual a identificação do melhor argumento deveria se basear na sua força persuasiva e na sua consistência, predomina, com raras exceções, a postura de diminuir o emissor para deixar de lado a mensagem. Escrevo esse intróito para convidá-lo a ler o texto abaixo, escrito pelo ex-Prefeito César Maia, do DEM. Sei, sei, você não gosta do cara, e, sendo petista, menos ainda do teor do texto. Mas, faça um exercício: tente "ler" para além do texto, isto é, para além do interesse do autor em fazer o combate político e ideológico ao PT. Caso você consiga fazer isso, pode descobrir que há, aí, alguns elementos para um diagnóstico (que precisa ser feito) da metamorfose que o PT está vivendo neste ano de 2010.

A DEBILIDADE DO PT NA CAMPANHA ELEITORAL DE 2010!
César Maia


1. Na Alemanha dos anos 30, chamava-se de "Estado Total" a incorporação ao Estado, dos poderes, do partido político único, dos sindicatos e de todas as associações da sociedade civil, incluindo as manifestações artísticas. Por isso, os atos do partido único eram também atos do Estado e, por este, preparados com toda a coreografia e assumindo todas as despesas. No Brasil se avança para isso a passos largos. Boa parte das associações da sociedade civil e sindicatos são cooptados, patrocinados e seus dirigentes assalariados do Estado por nomeação.

2. Quando se analisa o quadro eleitoral de 2010, isso fica muito claro. Era de se esperar que com a popularidade do presidente e a competitividade de sua candidata, o PT entrasse nesse processo eleitoral como o partido mais forte, especialmente por ser um partido de Estado. Mas não é isso que se vê.

3. Fazendo um levantamento das candidaturas próprias do PT aos governos dos estados, se vê que elas são competitivas no Rio Grande do Sul, Bahia, Sergipe, Piauí e Acre, sendo que no Rio Grande do Sul, é competitiva para perder, e só no Acre franco favorita. Isso terá como reflexo a inevitável perda de deputados em relação aos que o PT elegeu em 2006.

4. Mas para os gerentes do Estado Total, Lula na frente, tanto faz. Pressionam seus pré-candidatos regionais para que desistam e apóiem seus parceiros, especialmente do PMDB e do PSB. Para eles, o fundamental é manter sob seu controle o Estado Total. Na medida em que a Federação foi colocada de joelhos por Lula, com um cheque de 'pacs' numa mão e um chicote na outra, ganhar ou perder estados não muda nada. Da mesma forma fazer mandatos de deputados federais. Afinal, a cooptação por cargos, emendas ou partido-patrimonialismo, pensam, vai lhes garantir o controle do Estado Total.

5. E se o partido é parte do Estado, que se transforma ele mesmo em partido, não faz diferença a origem partidária dos deputados da base aliada ou subserviente. O importante é vencer a eleição presidencial. E para isso vale qualquer arma, qualquer golpe, qualquer pressão. Não importa se o PT vai sair dessa com um só governador do Acre e com 60 deputados federais. O que importa é o controle do Estado, pois os mandatos de fato, estão com aqueles que ocupam os postos chaves da máquina pública. Especialmente os fiscais financeiros e previdenciários.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Alan Daniel e o crescimento de Dilma

Alan Daniel Freire é professor de Departamento de Políticas Públicas da UFRN. É um estudioso da política nacional, tendo produzido uma tese de doutoramento, defendida no prestigiado IUPERJ, a respeito da dinâmica parlamentar brasileira. É um analista criterioso e frio, distante das paixões partidárias que pululam por aí.

Pois bem, meses atrás, em uma conversa de corredor, ele desfiou, pacientemente, as razões pelas quais a então recém lançada candidatura da ministra Dilma Roussef seria vitoriosa. A tese central do Alan é que faltava (e, pelo visto, ainda falta) um discurso para a oposição. E Dilma teria um discurso pronto: o da continuidade. Como o Governo Lula, aos olhos da grande maioria da população, está dando certo, a tendência, argumentava ele, seria a de que uma candidatura que representasse a continuidade ter tudo para deslanchar. E, arrematava, o PT criou uma máquina e redes sociais de capilaridade que o tornam uma força política positivamente superior do ponto de vista eleitoral.

A publicação da mais recente pesquisa IBOPE/CNI vai confirmando o prognóstico eleitoral do Professor Alan.

Vantagem de Serra cai de 11 para 5 pontos
Vantagem de Serra sobre Dilma cai para 5 pontos, indica CNI/Ibope
Autor(es): Daniel Bramatti
O Estado de S. Paulo - 18/03/2010

Sucessão.

Levantamento mostra tendência de crescimento da ministra da Casa Civil,que passou de 25% para 30% das intenções de voto em um mês; 53% dos entrevistados disseram querer votar em candidato apoiado pelopresidente Luiz Inácio Lula da Silva

A vantagem do tucano José Serra sobre a petista Dilma Rousseff na corrida presidencial caiu para cinco pontos porcentuais, segundo a última pesquisa CNI/Ibope. Em fevereiro, de acordo com o mesmo instituto, a distância entre os dois era de 11 pontos.
Serra teve 35% das preferências no levantamento divulgado ontem, feito a pedido da Confederação Nacional da Indústria. Em fevereiro, em pesquisa encomendada pela Associação Comercial de São Paulo, ele aparecia com36%.
Dilma, por sua vez, cresceu cinco pontos e atingiu pela primeira vez a marca dos 30% de preferências, em um cenário que inclui ainda Ciro Gomes (11%) e Marina Silva (6%).
Um dado inédito do levantamento mede o potencial de transferência de votos do presidente:53% dos eleitores querem eleger um candidato apoiado por Luiz Inácio Lula da Silva, e 10% pretendem optar por um nome da oposição. Outros33% afirmam que não levarão em conta a posição do presidente.
A desinformação é o que explica o descompasso entre o potencial eleitorado lulista e o desempenho de Dilma. Nada menos que 42% dos entrevistados ignoram o fato de que a ministra é a candidata de Lula.
Segundo Márcia Cavallari, diretora executiva do Ibope, esse nível de desconhecimento não é anormal a mais de seis meses das eleições. "Hoje,só quem busca informações sabe algo sobre as eleições. Quando começar o horário eleitoral gratuito, as informações chegarão a todos de forma homogênea." Ela afirma que o apoio de Lula tende a impulsionar a ministra, mas ressalva que, no decorrer da campanha, Serra também tendea se beneficiar por ganhar mais exposição.
O potencial de crescimento da ministra da Casa Civil se revela, por exemplo, no Nordeste, onde 69% do eleitorado se declara inclinado a votar em um governista, mas pouco mais da metade da população sabe quem é a escolhida pelo presidente.
Cruzamentos. O Ibope mostra que Serra deve às mulheres sua posição de liderança. No eleitorado feminino, o governador de São Paulo tem 12 pontos de vantagem sobre Dilma (37% a25%). Entre os homens, Dilma tem 36%, e o adversário, 34%.
Em um mês, as intenções de voto na petista subiram em três das regiões pesquisadas. No Sul, ela passou de 19% para 34% e ficou em situação dee mpate técnico com Serra (36%). No Nordeste, onde lidera por 14 pontos,a petista subiu de 33% para 39%.
Na região Sudeste, a mais populosa do País, é Serra quem está na frente (40% a 25%). NoNorte/Centro-Oeste, o tucano saiu de uma situação de empate técnico para uma vantagem de 15 pontos (41% a 26%).
Na divisão da população pelo grau de instrução, o governador paulista tem a maior vantagem entre os eleitores que estudaram até o ensino médio (37% a30%). Na segmentação por faixa de renda, Dilma lidera entre os que têm renda mensal de até um salário mínimo (32% a 28%).
No cenário sem o nome de Ciro Gomes, Serra aparece com 38%, Dilma, com 33%, e Marina, com 8%.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Qual o tipo de relação existe entre o PSDB e o PT

O artigo do Alon que transcrevo mais abaixo aborda a relação freudiana entre o PSDB e o PT. Vale a pena conferir!

Chega de sofrimento (02/03)
Alon Feuerwerker Brasília, DF - Brasil

Se o PSDB deseja tanto assim ser reconhecido pelo PT como igual, o melhor é apoiar Lula, o governo dele e a candidata Dilma Rousseff. O PT “reabilitou” personagens ideologicamente até mais distantes, e não teria dificuldade para dar mais este passoRegistrei em dezembro (“Rumo ao plebiscito”) que a oposição previa mudanças dramáticas nas pesquisas que viriam. Foi captado por estes tímpanos que a terra irá reciclar. Assim, se há alguém sem razão para surpresa com o estreitamento da margem entre José Serra e Dilma Rousseff, é a própria oposição.

Tal previsão, entretanto, não produziu um movimento capaz de colocar no jogo, para valer, o pessoal que deseja tirar o PT do Palácio do Planalto (cuja reforma, aliás, anda de vento em popa). As últimas pesquisas foram ruins? Sim, mas está longe de ser o maior problema de tucanos e democratas. Grave é não terem ideia de como tentar brecar o avanço do governismo e pelo menos zerar o vetor da iniciativa política. Se têm, escondem muito bem.Por que a oposição não consegue retomar a iniciativa? Será porque o governo de Luiz Inácio Lula da Silva é bom? No passado, o PT conseguia opor-se até a aumento salarial para professor. Quem deseja, de verdade, travar a luta política acaba dando um jeito de encontrar a brecha.

Já tratei de uma dificuldade oposicionista: a falta de unidade. Mas reconheço que há aqui alguma tautologia. Esse tipo de unidade costuma ser catalisado pela expectativa de poder, algo que combina vetores quantitativos e qualitativos. Pesquisas têm lá sua importância, assim como as alianças. Mas o decisivo é projetar uma visão clara de futuro. Pode até ser genérica, mas precisa encaixar no desejo do eleitor e formar um polo de aglutinação da opinião pública, tomada no sentido amplo. É uma tarefa difícil quando se enfrenta um governo popularíssimo, cuja mensagem é a continuidade. Difícil, mas não impossível.

O melhor exemplo é Marina Silva (PV), a cuja campanha os jornalistas e políticos temos prestado menos atenção do que seria saudável. A autocrítica não é tanto pelos índices dela, já bastante bons, e sim pela maneira cirúrgica e sempre adequada como a senadora do Acre intervém. Ela nunca bate de frente, mas invariavelmente busca um defeito no adversário. E assim, de modo objetivo e focalizado, vai minando o oponente e construindo um caminho. Como fazem os grandes pugilistas.

Claro que falar é fácil. Marina não carrega o estigma do passado nem precisa ficar explicando por que o governo dela não será uma volta aos tempos de Fernando Henrique Cardoso. Pode até dar-se ao luxo de fazer elogios a FHC sem abrir brecha para que colem nela o rótulo de “neoliberal”. E, se um dia crescer mais e virar ameaça, os ataques que certamente sofrerá por reunir eventuais apoios “neoliberais” terão tanto efeito quanto os sofridos por Lula devido aos aliados complicados dele: nenhum.

Marina é a prova definitiva de que na esquerda ou na centro-esquerda a oposição mais eficaz contra Lula deve ser executada na margem, como diriam os economistas. Para governar e perpetuar seu projeto de poder, Lula deslocou-se para um centro político, ali montou acampamento e ergueu muralhas. Mas sem descuidar dos elementos simbólicos que o unem à esquerda. Só que persiste uma tensão latente entre o discurso e a vida, entre as ideias originais e a prática, entre o sonho e a realidade. Há um espaço a ser ocupado, uma cabeça de praia a instalar.Haveria também outra maneira eficiente de fazer oposição a Lula: pela direita. Para isso, precisaria surgir no Brasil uma força organizada, e combativa, efetivamente liberal. Um “Tea Party” verde-amarelo. Mas as circunstâncias do liberalismo brasileiro são conhecidas. Discursos, editoriais e artigos em jornais e revistas, mas sem renunciar aos empréstimos a juros subsidiados do BNDES, ao dinheiro do Banco do Brasil que não é preciso devolver e à ordenha do Tesouro.

Quanto àquele hipotético e teórico liberalismo, o PSDB está no pior dos mundos: leva a fama mas não consegue tirar vantagem. Pois não é liberal, nem tem vontade de parecer que é. No fundo, o que o PSDB talvez deseje é ser reconhecido pelo PT como um parceiro, como cofundador do sucesso petista, da hegemonia social-democrata. Um desejo irresolvido, e que insatisfeito desemboca em mágoas muito perceptíveis.

Se o PSDB precisa tanto desse reconhecimento, eu ofereço modestamente uma sugestão: passem a apoiar o governo, Lula e a candidata dele, Dilma Rousseff. Nem que só “criticamente”. Se o PT teve a frieza e o pragmatismo necessários para repaginar as relações com José Sarney, Fernando Collor, Delfim Netto e mais um punhado de personagens que combateu mortalmente no passado, não terá dificuldade de, caso seja conveniente, “reabilitar” FHC e o PSDB. Afinal, são primos e têm uma história até certo ponto comum. Se o PSDB sofre tanto com isso, se necessita tanto disso, talvez seja o jeito.

Coluna (Nas entrelinhas) publicada nesta terça (02) no Correio Braziliense.

terça-feira, 2 de março de 2010

Dilma Roussef no El País

O El País é um dos melhores jornais da chamada grande imprensa. Pelo menos, e isso não e pouco, os seus textos têm qualidade técnica. E ainda se pratica algum jornalismo nas páginas do mais conhecido diário espanhol. É a minha primeira leitura jornalística do dia. Sempre.

E o jornal mantém um bom correspondente no Brasil. Este dedica um bom tempo de sua pauta aos assuntos relacionados ao rame-rame da disputa política nos trópicos. No geral, escreve matérias de qualidade. Na edição de hoje, por exemplo, o correspondente trata do crescimento eleitoral de Dilma Roussef. Confir abaixo!

El ascenso fulgurante de Rousseff
Inquietud en la oposición brasileña ante la subida meteórica en las encuestas de la aspirante del PT a la presidencia - El PSDB aún no tiene candidato
JUAN ARIAS Río de Janeiro 02/03/2010


El presidente de Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, tenía razón cuando dijo que su candidata favorita para disputar las elecciones presidenciales de octubre, Dilma Rousseff, crecería en las encuestas en cuanto su candidatura se hiciera oficial. Y así ha sido. El Partido de los Trabajadores (PT) la consagró oficialmente el pasado 20 de febrero y la lanzó al ruedo político. Desde entonces, la ex guerrillera y ministra de la Casa Civil ha dado un salto en los sondeos con una subida de cinco puntos (28%) y se ha colocado a sólo cuatro del que seguramente va a ser su principal contrincante electoral, el socialdemócrata José Serra, actual gobernador de São Paulo (32%).

El PT, que aceptó la candidatura de Rousseff por imposición de Lula más que por convicción propia, ahora da saltos de alegría y comienza a confiar en que volverá a ganar las elecciones. Y la verdad es que la popularidad de Rousseff no sólo ha aumentado entre el electorado más pobre, fiel a Lula, sino que le ha quitado votos a su adversario en el sur rico, donde Serra es el gran favorito.

La oposición ha recibido como un jarro de agua fría la subida de Rousseff, sobre todo porque su aspirante aún no ha querido oficializar la candidatura. Serra es un político de larga carrera. Ha sido dos veces ministro, alcalde de São Paulo y ahora gobernador de dicho Estado. Fue derrotado por Lula en las presidenciales de 2002, pero en el segundo turno. El problema es que, si ahora se incorpora a la carrera presidencial y fracasa, perdería también la oportunidad de ser reelegido en São Paulo, donde disfruta de un apoyo popular parecido al de Lula a nivel nacional. Es decir, saldría de la vida política.

El ascenso de Dilma en las encuestas ha hecho que el opositor Partido de la Social Democracia Brasileña (PSDB) se vea obligado a forzar a Serra a tomar una decisión cuanto antes. Lo ideal para el partido es que el joven Aecio Neves, actual gobernador de Minas Gerais, el segundo Estado con más votos del país después de São Paulo, aceptase optar a la vicepresidencia en la candidatura de Serra. Juntaría así los votos de dos Estados que, juntos, suponen casi la mitad del electorado. Neves, sin embargo, también aspira a ser candidato a la presidencia y por eso se hace el remolón. Tiene, además, la esperanza de que Serra pueda acabar renunciando a presentar su candidatura, a la vista de la subida de Rousseff; en ese caso, el PSDB forzosamente tendrá que lanzarle a él al ruedo electoral.

Este mes va a ser, pues, decisivo en lo que atañe a las elecciones de octubre, las primeras en 20 años sin Lula como candidato, aunque con una aspirante considerada su sombra. Para vencer, la oposición no puede presentar a su candidato como superior a Lula -al que los sondeos acaban de conceder un 73% de aprobación popular-, sino a Rousseff. Ésa será la gran batalla: no si Brasil será mejor con Serra que con Lula, sino si Serra, que brilla con luz propia, será mejor para el país que Rousseff, cuya luz proviene de su ex jefe y es en cierto modo una incógnita política, ya que nunca ha disputado unas elecciones.

domingo, 28 de fevereiro de 2010

O crescimento de Dilma na pesquisa DATAFOLHA

Na pesquisa Datafolha, divulgada hoje pelo jornal Folha de São Paulo, a ministra Dilma Roussef, candidata do PT, avançou e já está quase no empate técnico com o Governador José Serra. Leia abaixo trechos da matéria.

Vantagem de Serra sobre Dilma baixa para 4 pontos

Em cenário com Ciro, tucano cai 5 pontos e vai a 32%, e petista sobe 5, para 28%Candidato do PSB tem 12% e está estagnado, assim como Marina Silva, do PV, que mantém o patamar de 8% do levantamento anterior FERNANDO RODRIGUESDA SUCURSAL DE BRASÍLIA A pré-candidata a presidente pelo PT, Dilma Rousseff, registrou crescimento de cinco pontos percentuais na sua taxa de intenções de voto de dezembro para cá. Atingiu 28% e encurtou de 14 para 4 pontos percentuais a distância que a separa de seu principal adversário, José Serra, do PSDB, hoje com 32%.Esse é o principal resultado da pesquisa Datafolha realizada nos dias 24 e 25 de fevereiro, com 2.623 pessoas de 16 anos ou mais. Confirmou-se a curva ascendente de Dilma, não importando o cenário nem quais são os candidatos em disputa.

Apesar do crescimento da petista, é impreciso dizer que o levantamento indica um empate estatístico entre Dilma e Serra. A margem de erro da pesquisa é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.
ASSINANTE UOL LÊ A MATÉRIA COMPLETA AQUI.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Agora, é só na canela...

Pois é... Foi só a Dilma Roussef subir um pouco mais nas sondagens de opinião para as eleições presidenciais de outubro próximo para que os articulistas da Nova Direita descessem ainda mais o nível do, como direi?, "debate". Hoje, o arauto da turma (tchurma, daqui prá frente), o jornalista Reinaldo Azevedo, que mantém um blog político no site da Veja, com o pretexto de atacar manifestação contra o seu candidato, o governador José Serra (PSDB), distribuiu epitetos de "fascistoides" contra os adversários.

E tem sido esse o diapasão da tchurma. Ainda no site da Veja, Augusto Nunes, exerce o seu "jornalismo" com denodo: tudo o que o Fernando Henrique Cardosos é reverberado e merece elogios. Assim, ainda ontem, propunha, que gracinha!, um debate público entre o ex-presidente e Lula. E todos quantos se posicionaram criticamente a respeito das boutades escritas pelo pai das privatizações foram tratados como "moleques de recados" e os seus nomes escritos com iniciais em letras minusculas.

A gente até se diverte um pouco com esse pessoal. Escrevem bem, dominam a língua de Camões e são deveras criativos. Mas, cá no meu cantinho provinciano, fico a me perguntar: qual o impacto desses, sejamos benevolentes!, "formadores de opinião"? Sim! Eles formam opinião, acredito. Aquela opiniãzinha (diminuída mesmo) de certos setores de classe média, que nunca leram mais do que pequenos escritos de auto-ajuda, mas que se enchem de autoridade para defenestrar o Lula como "analfabeto".

Para felicidade geral, o Serra é maior do que essa gente. Goste-se ou não dele, o governador paulista tem uma biografia pessoal respeitável. E foi um bom ministro da saúde. Além do mais, em que pese o gerenciamento complicado que os tucanos fizeram das universidades paulistas, o Serra não se situa no mesmo patamar ideológico anti-Estado da Nova Direita.

Assim sendo, essa tchurma mais prejudica do que ajuda ao governador paulista. Eles não conseguem deixar de dar vazão, para acalentar a preconceituosa audiência que formaram, à preconceitos a respeito dos trabalhadores, dos negros e dos nordestinos. E a fomentar a demanda irracional por punição...

Mas as eleições de 2010 não precisam se transformar nesse tipo de jogo. Canelada, nem em jogo de várzea, não é? E, ademais, as candidaturas postas, até agora, indicam algo melhor do que essa baixaria...

Sim, podem me esculhambar, mas eu acredito que é um luxo uma eleição presidencial em que os principais candidatos são José Serra, Dima Roussef, Ciro Gomes e Marina Silva. Basta lembrarmos do balaio de gatos que foi a eleição de 1989... Balaio que deu em Collor, na época o ungido dos papais intelectuais e financeiros da tchurma...

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Eleições 2010: qual será o jogo dos donos da bolsa...

Confira abaixo matéria publicada no VALOR ECONÔMICO dando conta dessa, digamos, decisiva questão.

O MERCADO SE DIVIDE ENTRE SERRA E DILMA
SERRA E DILMA DIVIDEM PREFERÊNCIAS NO MERCADO FINANCEIRO
Autor(es): Luiz Sérgio Guimarães, de São Paulo
Valor Econômico - 10/02/2010

O mercado financeiro prefere Serra ou Dilma? Em linhas gerais, os analistas acreditam que Dilma fará uma repetição "piorada" do segundo mandato de Lula: âncora monetária, flutuação cambial suja e política fiscal frouxa. Serra fará o que sempre fez: âncora essencialmente fiscal, contas públicas equilibradas, juro real baixo e câmbio depreciado. Os mercados poderão passar a apoiar mais claramente a ministra Dilma Rousseff se enxergarem dificuldades intransponíveis em uma gestão Serra - Dilma, teoricamente, manteria os juros mais altos que Serra, o que agrada ao mercado. O ex-ministro de FHC Luiz Carlos Mendonça de Barros considera essa visão uma "irresponsável superficialidade". Em relatório divulgado ontem, o economista-chefe do Banco Santander, Alexandre Schwartsman, diz que a evolução das contas de São Paulo entre 2006 e 2009 foi muito semelhante à do governo federal, o que não confirma a avaliação que o governador José Serra tenderia a ser mais duro que Dilma na questão fiscal.

O mercado financeiro prefere Serra ou Dilma? A austeridade fiscal defendida e posta em prática pelo governador de São Paulo, José Serra, sempre conquistou a simpatia de instituições e investidores. Mas a facilidade com que o mercado ampliou seus lucros ao longo dos dois mandatos de Lula introduz um elemento novo capaz de balançar as convicções. E os analistas não descartam uma opção mercadista pela candidatura da ministra Dilma Rousseff.

Em linhas gerais, os analistas acreditam que Dilma fará uma repetição "piorada" do segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva: a âncora persistirá monetária, a flutuação cambial permanecerá suja e a política fiscal, frouxa. Serra fará o que sempre fez: a âncora (rigorosa a ponto de reduzir crescimento no primeiro ano) será essencialmente fiscal, a política econômica se sustentará em contas públicas equilibradas, juro real baixo e câmbio depreciado. Os mercados poderão passar a apoiar mais claramente a ministra Dilma Rousseff se enxergarem dificuldades intransponíveis em uma gestão Serra.

Pelo estilo centralizador demonstrado pelo atual governador paulista, o principal risco seria o de não conquistar a máquina burocrática de Brasília. Encontraria problemas para fazer logo o ajuste fiscal pretendido, com corte das despesas públicas e reforma tributária. Essas correções seriam essenciais para o segundo passo: a desvalorização cambial e a redução dos juros. Mas Luis Otavio de Souza Leal, economista-chefe do Banco ABC Brasil, levanta a hipótese de Serra não conseguir fazer o ajuste fiscal na extensão desejada. "Serra poderá tentar colocar de pé os dois outros pilares do seu modelo, sem que a principal viga de sustentação esteja fincada, o que certamente acabaria em fracasso via uma retomada da tendência de alta da inflação. Portanto, acredito que, apesar de no papel o modelo Serra ser melhor, as dúvidas com relação a sua implementação podem levar o mercado a considerar mais confortável a vitória de Dilma", diz Leal. Sobretudo se o atual presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, vier a ocupar a chapa da candidata ou a sua equipe econômica. Com isso, o PT passaria a ideia do "um pouco mais do mesmo", o conhecido confiável, embora não do inteiro agrado dos mercados.

Em entrevista concedida ontem ao Valor, o ex-ministro do governo FHC Luiz Carlos Mendonça de Barros - o Mendonção, como é conhecido no mercado, amigo de Serra - criticou o que considera uma "irresponsável superficialidade" do mercado financeiro, a de acreditar que, num eventual governo Dilma, tudo estará muito bem pois as instituições e os investidores continuarão ganhando dinheiro, já que serão preservadas as atuais políticas monetária e cambial. "Trata-se de um tremendo erro de análise", ataca Mendonção. "O mercado só olha o próprio bolso e é um bolso de curto prazo".

Essas eleições serão, no seu entender, fundamentais para definir o desenho de Nação que se terá no futuro. O Brasil está em condições privilegiadas em relação aos países europeus. Tem dívida pequena e dinâmico mercado de consumo doméstico. O país já está dentro do centro dinâmico da economia mundial. Mas precisa alargar o seu espaço. "Antes disso, será necessário discutir o papel do Estado na economia. Não tenho dúvida de que um governo Dilma irá ampliar a presença do Estado na produção econômica. É um retrocesso, uma visão soviética das coisas", diz Mendonção. Serra tem outro tipo de visão. Quem tem de ser forte é o setor privado, as indústrias. O governo deve controlar severamente as finanças públicas e criar condições para o investimento privado. No entender do diretor da Quest Investimentos, o mercado deveria abrir mão dos seus interesses de curto prazo, em prol do crescimento que virá para todos mais adiante.

Se o mercado, a sete meses das eleições, ainda não fechou consenso sobre o candidato favorito, sabe o que não quer: torce para o deputado Ciro Gomes (PSB-CE) retirar sua candidatura. O mercado não tem medo das decisões do governador José Serra nas áreas monetária e cambial. Tem medo de suas hesitações e preferiria que o lançamento oficial de sua candidatura à Presidência da República já tivesse ocorrido. Também não tem medo de uma Dilma Rousseff supostamente mais "desenvolvimentista" que Lula. "O mercado prefere Serra", antecipa o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves. Ele não levou a sério a entrevista do presidente do PSDB, Sérgio Guerra, para quem, eleito, Serra mudará o sistema de metas de inflação, o câmbio e os juros. São "audácias de palanque", não linhas e planos de governo.

Como o restante da sociedade, o mercado faz comparações entre Serra e Dilma, mas o dólar e os juros ainda não se deixaram empolgar pelas eleições de outubro. Nem a valorização recente da moeda americana, nem a inflexão sofrida pela curva futura de juros refletem os riscos eleitorais. Mas cresce e se inflama o debate interno nas mesas de tesoureiros, gestores e economistas de bancos e consultorias sobre a influência do pleito presidencial - tido como uma reedição do embate feroz de 2002 - sobre o comportamento das duas principais variáveis. Logo, com o lançamento oficial das candidaturas, as eleições estarão incendiando as expectativas e as decisões de investimentos.

Para o mercado, com Dilma os gastos do governo persistiriam elevados, o superávit fiscal não passaria de 2,5%, exigindo uma política monetária apertada. Nesses meses finais de Lula, raciocina Leal, quanto mais viável se mostrar a candidatura Dilma, mais conservadora tenderá a ficar a política fiscal, de modo a conquistar a simpatia do mercado e reduzir a parte longa da curva de juros. O mercado gosta disso e, dependendo dos programas de governo dos dois candidatos, poderá ficar "comprado" em Dilma.

Enquanto a candidata petista deve transmitir aos mercados mensagens tranquilizadoras sobre os integrantes de sua equipe econômica, os analistas ouvidos pelo Valor não trabalham com a possibilidade de, eleito presidente da República, José Serra nomear medalhões para os postos-chave da economia. Nem o Ministério da Fazenda, nem o Banco Central seriam ocupados por estrelas com luz própria. Serra, no entender do mercado, gosta de se cercar de "luas", homens-satélites que apenas refletem o brilho do chefe.

Essa interpretação de economistas de bancos baseia-se no fato de seu atual secretariado ter sido montado com homens de sua estrita confiança, mas avessos à publicidade externa. A discrição é a marca dos secretários. Quais são as posições de Mauro Ricardo Machado Costa, o secretário da Fazenda do governo paulista, sobre juro e câmbio? O que pensa sobre isso Francisco Vidal Luna, secretário de Economia e Planejamento? Luna foi sócio do ex-ministro João Sayad no antigo banco SRL (sigla de Sayad, Reichstul e Luna). Todos sabem o que Sayad defende em matéria de política monetária. Mas Luna concordaria com as mesmas posições baixistas? Eleito, Serra manteria essa propensão de indicar homens indecifráveis, impermeáveis ao pré-julgamento mercadista. Evitaria, com isso, delegar as cruciais políticas monetária e cambial a expoentes historicamente ligados à social-democracia paulista.

Estariam de antemão descartados tanto o professor da FGV Yoshiaki Nakano, um dos mais respeitados defensores do "novo-desenvolvimentismo" quanto o keynesiano Luiz Carlos Mendonça de Barros. Mas ambos podem servir de inspiração a Serra. Os dois defendem um estrito controle das contas públicas. "A base de sustentação da política econômica será sempre uma política fiscal austera. A contenção dos gastos, a ampliação das metas de superávit primário e a busca de um déficit nominal zero são os pressupostos nos quais irão se assentar as outras políticas", diz o professor da FGV, Paulo Gala, economista do grupo liderado pelo desenvolvimentista tucano Luiz Carlos Bresser-Pereira.

Para a política monetária, o objetivo parece ser o de estabilizar o juro real no nível de 5%. Na cambial, a meta é construir uma taxa depreciada capaz de reverter a desindustrialização denunciada pelos desenvolvimentistas. Como? Por meio da regulamentação da conta de capitais, sugere Gala. As medidas tomadas na parte final da gestão de Armínio Fraga no BC de Fernando Henrique Cardoso, e continuadas no governo Lula, no sentido de liberalizar a conta de capitais do balanço de pagamentos, seriam revertidas. Não há possibilidade de se falar em "controle de capitais".

Diferentemente de 2002, o risco político não conseguirá fazer disparar o dólar. No entender do economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, a taxa de câmbio chegará ao fim do ano bem depreciada, mas em função do déficit em conta corrente, e não de uma fuga de capitais estrangeiros motivada por mudanças de regras na política cambial. "Ao não ter aumentado a poupança nos oito anos que ficou no governo, o PT dará de presente ao país um déficit em conta corrente cada vez mais difícil de financiar", diz Vale. Sobre juro, nem Serra, nem nenhum governo será irresponsável no combate à inflação. "O correto é buscar mecanismos de redução dos spreads bancários. É isso ao final que o Serra deve ter na cabeça quando fala dos juros", diz Vale.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Diretor da DATAFOLHA comprova: Lula transfere votos para Dilma


Transcrevo abaixo matéria publicada no site Terra Magazine, pilotado, com a competência de sempre, pelo jornalista Bob Fernandes.




Marcela Rocha

Sociólogo de formação, Mauro Paulino, há mais de 20 anos vasculha e divulga anseios e intenções do eleitorado brasileiro. No instituto de pesquisa Datafolha, coordena a realização de pesquisas eleitorais desde 1988. Em entrevista a Terra Magazine, ele fala do "tabuleiro de xadrez" em que estão a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), e o governador José Serra (PSDB-SP) no pleito presidencial de outubro.
- Comprovadamente Lula já está transferindo muitos votos para Dilma - diz.

Ela é a "mulher forte do governo" e "já está em campanha". Serra é "um administrador muito bem avaliado" e "conhecido nacionalmente". Mas, para Paulino, a "peça chave" desse tabuleiro é o presidente Lula. "Os dois candidatos estarão com os olhos voltados para ele e o eleitorado, por sua vez, também", acrescenta.
- Do ponto de vista da ministra, Lula pode ser a peça chave para o bem e para o mal. Meu bem, meu mal (risos). (...) O contraste entre o carisma de Dilma e Lula pode fazer com que o eleitor não vote nela.


Leia abaixo a íntegra da entrevista:


Terra Magazine - Algumas pessoas questionam a legitimidade das pesquisas eleitorais. Como o Datafolha faz para evitar esse tipo de questionamento?


Mauro Paulino - A pesquisa sempre é questionada, principalmente por quem se sente prejudicado, ou por quem não estava à frente, ou quem se vê ameaçado por uma candidatura ascendente. Mas a legitimidade das pesquisas se comprova pelo histórico do desempenho dos institutos, que é a base da credibilidade adquirida por cada um deles. Então, há os mais e menos questionados. Outro fator é o uso abundante de pesquisas pelos partidos políticos. Ou seja, se pesquisas não ajudassem e não fossem um instrumento eficaz, os partidos não gastariam tanto dinheiro comprando pesquisa.


O senhor acredita que as pessoas já tomaram conhecimento de que a ministra Dilma seja a candidata do presidente Lula?


Já há um conhecimento para lá de razoável da candidatura de Dilma. O Datafolha publicou um artigo no final do ano passado mostrando que ainda há 15% de eleitores afirmando que votariam em um candidato indicado por Lula, mas dizem não saber quem é esse candidato ainda. Então, isso dá uma dimensão do desconhecimento dela e do potencial de crescimento que tem a candidatura Dilma.
Qual o principal motivo do crescimento dela nas pesquisas? Isso é referente ao conhecimento que as pessoas têm dela ou ao fato de já saberem que ela dará continuidade ao trabalho de Lula? É uma questão mais política ou personalista?


São vários fatores ocorrendo simultaneamente. As pessoas vêm tomando conhecimento. O processo eleitoral hoje ainda é restrito às pessoas com mais informações, restrito às pessoas com taxa de escolaridade mais alta e pertencentes a um segmento menor da população. Na medida em que as pessoas com menos acesso à informação, com uma renda mais baixa - que formam a maior parte do eleitorado de Lula - forem tomando conhecimento da candidata Dilma e que Lula não pode ser candidato - porque ainda 20% vota nele na pesquisa espontânea -, teremos um panorama mais claro do potencial de votos dela. Porque quando essas pessoas tomarem conhecimento de Dilma como candidata de Lula, darão o apoio e a transferência de votos. Contudo, ela pode sofrer com a comparação com Lula.


Como assim?O contraste entre o carisma de Dilma e Lula pode fazer com que o eleitor não vote nela. As pesquisas não têm como avaliar isso, mas acompanhar.


Sobre o carisma e a transferência de voto, o senhor acredita na transferência de votos de Lula para Dilma?Lula tem uma penetração muito forte nos segmentos que relacionam os benefícios sociais à ação do governo federal. E também tem algo que é incomparável: o poder de comunicação, essa facilidade que ele tem de conquistar a simpatia desse segmento da população. Hoje ele é aprovado por maioria absoluta em todos os segmentos da sociedade, não só nessa camada. Isto nos permite afirmar que há potencial de crescimento em Dilma, mas que depende das comparações que o eleitor fará: Dilma e Serra, Dilma e Lula.


Apesar de registrar índice inédito de aprovação, a presidente do Chile, Michelle Bachelet, não elegeu um sucessor de sua legenda para o cargo. O Chile pode ser usado como um exemplo para o caso brasileiro?


São realidades muito diferentes. O quadro brasileiro é bem diferente do chileno.


O senhor acredita que o fato de os dois candidatos serem um pouco menos carismáticos, como o presidente eleito do PT, José Eduardo Dutra, já destacou, do que os antecessores tucano (FHC) e petista (Lula) no Planalto seja um fator que colabore para politizar a campanha?


O brasileiro está naturalmente refletindo mais sobre política em consequência do desenvolvimento da sua própria cultura nessa área. E ter uma eleição a cada dois anos ajuda muito. O eleitor vai se habituando ao voto e às consequências dele. Então, hoje, o eleitor pensa mais sobre seu voto, elabora melhor esse voto, de uma forma muito mais racional do que na primeira eleição a presidente em 1989, após a redemocratização. Ali, valia muito mais a paixão, a novidade... Nessa época, o marketing tinha um peso muito grande. Hoje, acho que o marketing político tem um peso menor e o eleitor toma suas decisões de forma mais pensada e mais autônoma, independente do carisma, que pesa, claro, mas a capacidade de administração tem sido muito valorizada. A conta que o eleitor faz é: "quem tem mais condições de resolver os nossos problemas imediatos".


O fato de a ministra Dilma nunca ter disputado uma eleição é melhor ou pior, tendo em vista que a política tem sido vista de maneira desconfiada após sucessivos escândalos de corrupção?


Mais do que não ter participado, o que beneficia Dilma é o fato de ela não estar no cenário político quando do Mensalão. Quando surgiram todas aquelas acusações de Mensalão, Dilma praticamente não existia para a maioria da população. Então, ela entrou em cena para substituir aquele que foi considerado o grande culpado, José Dirceu. E, a partir daí, a economia começou a melhorar também, ela passou a ser a figura mais forte do governo - afinal Lula sempre fez questão de deixar isso muito claro -, o país passou por uma crise mundial e saiu bem... Isso tudo é muito valorizado e anula a inexperiência. É claro que ela tem um caminho muito mais longo do que Serra para se tornar conhecida, mas isso é facilmente superado porque a coalizão do governo tem muito mais tempo de propaganda na televisão. E acho que o fato de ela nunca ter disputado um pleito acaba não pesando muito.


Observamos um crescimento da ministra e estabilidade do governador nas pesquisas. A que se deve essa estabilidade?


Serra tem uma ótima avaliação como governador de São Paulo, teve uma ótima avaliação como ministro, tem a imagem de ser um administrador competente e de quem resolve os problemas da saúde, que é hoje o principal problema do país apontado pelos eleitores. Então, ele tem todas essas vantagens e sai na frente por conta disso, também por ter disputado eleições anteriores e estar na lembrança do eleitorado como alguém com porte de candidato a presidente. Isto justifica a permanência dele na liderança das pesquisas. Mas o que tem sido mostrado é que há uma candidata em ascensão, Dilma, há um candidato com estabilidade, Serra, e Ciro Gomes (PSB) caindo.


O fator Ciro tem enfraquecido Dilma ou Serra?


As pesquisas mostram que, com Ciro na disputa, a diferença entre Serra e Dilma diminui. Sem ele, aumenta e Serra tem mais vantagens. Então, há uma boa parte que vota em Ciro aparentemente por não querer votar num candidato do PT.


Nas eleições de 1998, 2002 e 2006, quem liderava as pesquisas um ano antes acabou por vencer as eleições. O cenário de 2010 é previsível?


Essa eleição é muito mais imprevisível do que as quatro anteriores. É a primeira vez que não temos Lula como candidato, é primeira vez que há um cabo eleitoral com esse apoio popular que Lula tem. Estes fatores já tornam essa eleição diferente de todas as outras. Não se sabe como o eleitor vai reagir. Na verdade a peça chave dessa eleição é o próprio Lula e não sabemos como o eleitor vai lidar com esse fato. Lula não pode ser candidato e Dilma é a candidata dele contra Serra, que é comprovadamente um bom administrador. Como essa equação será resolvida pelo eleitorado? Não temos como prever.


O senhor disse que a peça chave dessa eleição é Lula...


Os dois candidatos estarão com os olhos voltados para Lula e o eleitorado, por sua vez, também. Ele tem um governo com uma taxa de aprovação inédita e o peso que isso terá nesse pleito já está sendo demonstrado. Comprovadamente ele já está transferindo muitos votos para Dilma. Agora, qual é o teto disso e até que ponto isso tira votos de Serra? Não sabemos. Mas a eleição vai girar em torno de Lula, por isso que ele é a peça chave. Do ponto de vista de Dilma, pode ser a peça chave para o bem e para o mal. Meu bem, meu mal (risos).


Como o senhor avalia a tática petista de polarização? Uns defendem que ela é boa para Dilma, outros, para Serra, e há aqueles que afirmam não ser bom para o eleitorado...


A polarização é inevitável, não tem como fugir. A meu ver, para o bem da democracia, é bom que haja muitos pontos de vista sendo discutidos. O segundo turno existe para que haja essa polarização, mas, no primeiro, quanto mais candidatos expuserem suas ideias, melhor para o desenvolvimento da cultura política do brasileiro.


E o que o senhor acha da comparação entre Lula e FHC?


É inevitável também. Não consigo imaginar a campanha sem essa comparação. O marketing político vive dessas comparações, de tentar jogar o bem contra o mal. Não tem como fugir disso, mas espero que não fique só nisso. É saudável que existam candidatos como Marina Silva, por exemplo, que traz o tema do meio ambiente. Seria importante que houvesse mais candidatos trazendo outros temas para que o debate fosse mais rico.


Voltando à temática da polarização, alguns tucanos defendem que Serra ganha com ela por ter mais experiência em processos eleitorais.


A campanha começa de fato para o total do eleitorado a partir de março, abril, quando as candidaturas estão oficializadas e começam as entrevistas. Aí, o desempenho de cada um pesará e pode ser, então, que a experiência de Serra seja decisiva. Mas não dá para saber como será o desempenho de Dilma, que ainda não foi vista em debate, ou em uma entrevista mais incisiva.

O fato de o PSDB não ter determinado seu candidato influencia em que medida o desempenho de José Serra nas pesquisas?


A consequência disso é só existir uma pessoa fazendo campanha abertamente: Dilma Rousseff.


Mas Serra é muito bem avaliado em São Paulo e Dilma corre a passos largos em direção à liderança nas campanhas eleitorais...


Equação complexa...Mas esse é o grande dilema do PSDB e do Serra. Não será uma eleição presidencial fácil e isso já está mais do que comprovado. Além disto, o tempo na televisão é muito importante e o PT fez alianças que dão a ele quase o dobro do tempo que tem o PSDB. Por outro lado, se Serra desistir, deixa praticamente entregue a eleição para o PT. Por quanto tempo mais o PT vai permanecer no poder? Porque, em 2014, Lula volta como candidato. Serra é o candidato mais forte do PSDB, pelo menos é o que tem o caminho mais curto. Aécio Neves (governador de Minas Gerais) teria que conquistar São Paulo e isso não é tarefa fácil. Enquanto Serra já é figura nacional por já ter participado de eleições presidenciais e por ter sido ministro da Saúde. É um tabuleiro de xadrez