Reproduzo, abaixo, artigo de autoria do jurista Paulo Linhares. Dê uma conferida!
O FATOR DILMA
Paulo Afonso Linhares
E o patinho feio se tornou um portentoso cisne... Quando o ex-presidente Lula anunciou, dois anos antes de terminar o seu segundo governo, que sua candidata seria a então ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, muitos analistas políticos acharam que ele estava absolutamente equivocado, por vários motivos, sobretudo, porque o seu governo acabaria a partir daquele anúncio. Outro problema era a própria candidata que, ademais de jamais ter sido eleita para qualquer coisa, era sabidamente uma pessoa de comportamento extremamente hard e avesso aos trejeitos da política rasteira e barateira, que marca o clientelismo ainda bem presente no cenário político brasileiro. Todos achavam que a "xerifona" colocada na Casa Civil numa das maiores crises institucionais que se tem notícia nestes últimos trinta anos, que foi a ruidosa saída do ex-ministro José Dirceu e que desencadeou a defenestração de todos os auxiliares mais importantes e próximos ao presidente Lula, seria uma aposta perdida.
Aliás, ressalte-se que a oposição encastelada, sobretudo, no DEM e no PSDB, fez um enorme estrago político na esteira do "Mensalão", quando detonou com precisão e competência, literalmente, todos o staff do então presidente, sendo Dilma uma das poucas exceções de sobrevivência. E foi a escolhida para apagar o incêndio, o que fez com mão de ferro e absoluto sucesso, o que valeu a sua indicação para a candidatura presidencial. A despeito do bombardeio de que foi alvo a partir de então, a candidatura de Dilma se consolidou e redundou na vitória sobre José Serra, posto que num apertado segundo turno. As apostas da oposição, cada vez mais desfalcada com as derrotas de alguns dos seus eminentes próceres regionais (na guilhotina eleitoral de 2010 rolaram os mandatos de Tasso Jereissati, Marco Maciel, Artur Virgílio, Mão Santa etc.), eram de que o governo Dilma seria um retumbante fracasso. Até agora, todos os indicativos mostram que o governo austero e avesso a quaisquer pirotecnias da presidente Dilma alcança uma aprovação popular em torno de 77%, segundo recente pesquisa CNI/Ibope, algo inédito na recente história repúblicana. As apostas foram perdidas pela oposição.
O quê de especial tem o governo Dilma? Com efeito, ele incorpora todos os acertos de uma política econômica que iniciou no governo Fernando Henrique Cardoso, aperfeiçoou-se no governo Lula, todavia, mantém como características a sobriedade, a rapidez e firmeza nas ações para debelar graves focos de corrupção que vieram à tona e o avanço das políticas sociais do governo.
Ademais, no plano da política externa, a ofensiva do governo Dilma fortalece laços do Brasil com tradicionais parceiros, como o Estados Unidos da América e os países da União Europeia, sem abrir mão de efetiva participação no movimento dos países emergentes, especialmente dos seus parceiros do BRIC, o bloco de interesses econômicos formado pelo Brasil, Rússia, Índia e China, que se destacam no cenário mundial como países em desenvolvimento. Ao que parece, alguns rumos da política externa brasileira começa a ser corrigidos, com substituição das questões mais marcadamente ideológicas por outras de perfil mais substancial, de cunho econômico e político. E tem enfrentado problemas como a condenação recente do Brasil pela Corte Interamericana de Direitos Humanos, situada em San José, Costa Rica, pela morte do jornalista Vladmir Herzog, além da questão dos desaparecidos da Guerrilha do Araguaia. Pela lei brasileira, segundo interpretação dos conservadores, essa questão foi resolvida com a Lei de Anistia (Lei n° 6.683 - de 28 de agosto de 1979). Os juízes da Corte de San José dizem que não e o mesmo disse o próprio Congresso Nacional quando aprovou, recentemente, a Comissão da Verdade, para apuração de agressões aos direitos humanos por mais de cinco décadas, no Brasil. Claro que isto abriu um vasto campo de enfrentamento entre o bloco conservador mais vinculado às forças armadas, sobretudo, os generais de pijamas do Clube Militar, e os setores que se autodenominam como progressistas. Aliás, a recente comemoração de aniversário do Movimento Militar de 1964, foi recebida com manifestação contrária que resultou em pancadarias, gás lacrimogêneo e prisões. Coisas da democracia, embora caiba à presidente Dilma manter essas situações sob controle, evitando que pequenos focos possam tornar-se incêndios de maiores proporções. Por enquanto, Dilma surfa em índices de popularidades inéditos na "história deste país". Que assim permaneça. A meninada agradece.
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terça-feira, 10 de abril de 2012
sábado, 5 de novembro de 2011
Artigo de Paulo Linhares
A política estadual passada a limpo, com a verve sem igual do nosso amigo Paulo.
ROSA E CRAVO
Paulo Afonso Linhares
Sim, tão efêmera como a famosa “rosa” de Malherbe (geralmente fala-se de “flores”...) foi a decantada aliança política celebrada pelo então presidente da Assembleia Legislativa estadual, deputado Robinson Faria, com a tríade que lidera o DEM no Rio Grande do Norte (senadores José Agripino Maia e Rosalba Ciarlini Rosado, além do marido desta, ex-deputado estadual Carlos Augusto Rosado, soi-disant “mentor, marido e marqueteiro” daquela...), cujo resultado palpável foi à eleição de uma chapa encabeçada por Rosalba Ciarlini Rosado (DEM) para o governo do Estado e daquele como vice-governador, nas eleições de 2010. Não precisava ser gênio em política para prever com precisão o fim desse acordo: em Mossoró, dizia-se nas emissoras de rádio que Rosalba e Robinson não comeriam juntos o mesmo peru natalino. Palpite certeiro, porém, sem qualquer mérito. Tudo muito evidente, como é ilógico uma rosa sem espinho.
Aparentemente tudo correria bem, a despeito de uma série de dificuldades que esse governo teve de enfrentar desde o seu início, sobretudo, em razão de vários movimentos grevistas que paralisaram setores chaves da Administração Pública estadual nos primeiros meses der 2011. Fortalecido com a manobra política bem sucedida que teve como marco inicial o abandono de seus antigos aliados (leia-se: os governadores Wilma de Faria e Iberê Ferreira de Souza, principalmente) e desaguou na montagem de um governo em que seu grupo passou a ocupar generoso espaço (inclusive ele próprio acumulou o cargo de Vice-Governador com o de Secretário de Estado dos Recursos Hídricos e Meio Ambiente), Robinson Faria imediatamente iniciou a montagem de um projeto mais ambicioso: tornou-se o comandante, no RN, do novel partido encabeçado nacionalmente pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, que é o Partido Social Democrático (PSD), que além de ser uma instituição partidária anacrônica “ab ovo”, foi definida pelo seu líder máximo como um partido que não é de direita, de esquerda nem de centro. Pode, “seu” Kassab?
O problema do PSD de Robinson Faria, que já nasceria no RN como uma bancada de seis deputados estaduais, o vice-governador, o deputado federal Fábio Faria e uma “récua” de prefeitos e vereadores. Claro, para montar esse exército o vice-governador avançou com força e determinação nos redutos dos demos potiguares, comandados pelo senador José Agripino Maia que, também na condição de presidente nacional do Democratas, viu seu partido sofrer uma esvaziamento mortal em todos os Estados da federação, com a perda de figuras emblemáticas do porte da (bela e charmosa) senadora Kátia Abreu (PSD-GO), a maior liderança ruralista do país que preside a poderosa Confederação Nacional da Agricultura (CNA). Zé Agripino fez ver a Robinson que não toleraria a invasão de seu terreiro no Rio Grande do Norte. Questão de honra. E jogou pesado na base do canhoneio verbal a ponto que acusou o vice-governador de querer “tutelar o governo” de Rosalba.
Daí para o desenlace foi um pulo, em especial após a astuciosa armação montada contra Robinson Faria, que foi a sua exoneração do cargo de titular da Secretaria de Recursos Hídricos e Meio Ambiente para assumir o governo em face da viagem que a titular faria aos Estados Unidos da América para “negociar uns empréstimos”. São desconhecidos os resultados práticos da viagem, a não ser o de alijar o vice-governador daquela secretaria: reassumindo o governo Rosalba não mais nomeou o vice para o cargo de secretário. A clara humilhação de Robinson Faria tornou inevitável o rompimento político de ambos. O inesperado dessa pendenga política foi aposição tomada pelo secretário-chefe do Gabinete Civil, jurista Paulo de Tarso Fernandes, que ficou solidário a Robinson Faria e também deixou o governo, o que representou uma enorme baixa.
O caminho pouco iluminado e quase sempre íngreme da oposição foi o que restou a Robinson. Diante do seu rompimento com o governo estadual, muitos dos políticos que pretendiam filiar-se ao PSD puxaram o freio de mão, a começar pelo presidente da Assembleia, deputado estadual Ricardo Mota e mais três outros colegas seus (deputados Raimundo Fernandes, Vivaldo Costa e Gustavo Carvalho). O mesmo se diga com prefeitos, vereadores e outras lideranças, que passaram a fugir do PSD como o diabo da cruz. Um problema: a maior liderança oposicionista do RN ainda é a professora Wilma de Faria, antiga aliada de Robinson em quase oito anos de governo e por ele abandonada nas eleições de 2010. Terão que navegar num mesmo barco, se quiserem ter alguns ganhos em 2012 e, sobretudo, nas eleições de 2014. Muita calma nessas horas, afinal, ensina François La Rochefoucauld que “[...] A verdadeira esperança é uma qualidade, uma determinação heróica da alma. E a mais elevada forma de esperança é o desespero superado.” E o que têm, afinal, as flores com esse ninho da cancão? Somente a breve existência: o francês François Malherbe, ao tentar consolar um amigo cuja filha morreu adolescente escreve estes inspirados versos: “Mas ela era do mundo em que vivem as coisas mais belas / Têm o pior destino: / E Rosa viveu o que vivem as Rosas, / O espaço de uma manhã.” O resto é conversa para boi dormir.
ROSA E CRAVO
Paulo Afonso Linhares
Sim, tão efêmera como a famosa “rosa” de Malherbe (geralmente fala-se de “flores”...) foi a decantada aliança política celebrada pelo então presidente da Assembleia Legislativa estadual, deputado Robinson Faria, com a tríade que lidera o DEM no Rio Grande do Norte (senadores José Agripino Maia e Rosalba Ciarlini Rosado, além do marido desta, ex-deputado estadual Carlos Augusto Rosado, soi-disant “mentor, marido e marqueteiro” daquela...), cujo resultado palpável foi à eleição de uma chapa encabeçada por Rosalba Ciarlini Rosado (DEM) para o governo do Estado e daquele como vice-governador, nas eleições de 2010. Não precisava ser gênio em política para prever com precisão o fim desse acordo: em Mossoró, dizia-se nas emissoras de rádio que Rosalba e Robinson não comeriam juntos o mesmo peru natalino. Palpite certeiro, porém, sem qualquer mérito. Tudo muito evidente, como é ilógico uma rosa sem espinho.
Aparentemente tudo correria bem, a despeito de uma série de dificuldades que esse governo teve de enfrentar desde o seu início, sobretudo, em razão de vários movimentos grevistas que paralisaram setores chaves da Administração Pública estadual nos primeiros meses der 2011. Fortalecido com a manobra política bem sucedida que teve como marco inicial o abandono de seus antigos aliados (leia-se: os governadores Wilma de Faria e Iberê Ferreira de Souza, principalmente) e desaguou na montagem de um governo em que seu grupo passou a ocupar generoso espaço (inclusive ele próprio acumulou o cargo de Vice-Governador com o de Secretário de Estado dos Recursos Hídricos e Meio Ambiente), Robinson Faria imediatamente iniciou a montagem de um projeto mais ambicioso: tornou-se o comandante, no RN, do novel partido encabeçado nacionalmente pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, que é o Partido Social Democrático (PSD), que além de ser uma instituição partidária anacrônica “ab ovo”, foi definida pelo seu líder máximo como um partido que não é de direita, de esquerda nem de centro. Pode, “seu” Kassab?
O problema do PSD de Robinson Faria, que já nasceria no RN como uma bancada de seis deputados estaduais, o vice-governador, o deputado federal Fábio Faria e uma “récua” de prefeitos e vereadores. Claro, para montar esse exército o vice-governador avançou com força e determinação nos redutos dos demos potiguares, comandados pelo senador José Agripino Maia que, também na condição de presidente nacional do Democratas, viu seu partido sofrer uma esvaziamento mortal em todos os Estados da federação, com a perda de figuras emblemáticas do porte da (bela e charmosa) senadora Kátia Abreu (PSD-GO), a maior liderança ruralista do país que preside a poderosa Confederação Nacional da Agricultura (CNA). Zé Agripino fez ver a Robinson que não toleraria a invasão de seu terreiro no Rio Grande do Norte. Questão de honra. E jogou pesado na base do canhoneio verbal a ponto que acusou o vice-governador de querer “tutelar o governo” de Rosalba.
Daí para o desenlace foi um pulo, em especial após a astuciosa armação montada contra Robinson Faria, que foi a sua exoneração do cargo de titular da Secretaria de Recursos Hídricos e Meio Ambiente para assumir o governo em face da viagem que a titular faria aos Estados Unidos da América para “negociar uns empréstimos”. São desconhecidos os resultados práticos da viagem, a não ser o de alijar o vice-governador daquela secretaria: reassumindo o governo Rosalba não mais nomeou o vice para o cargo de secretário. A clara humilhação de Robinson Faria tornou inevitável o rompimento político de ambos. O inesperado dessa pendenga política foi aposição tomada pelo secretário-chefe do Gabinete Civil, jurista Paulo de Tarso Fernandes, que ficou solidário a Robinson Faria e também deixou o governo, o que representou uma enorme baixa.
O caminho pouco iluminado e quase sempre íngreme da oposição foi o que restou a Robinson. Diante do seu rompimento com o governo estadual, muitos dos políticos que pretendiam filiar-se ao PSD puxaram o freio de mão, a começar pelo presidente da Assembleia, deputado estadual Ricardo Mota e mais três outros colegas seus (deputados Raimundo Fernandes, Vivaldo Costa e Gustavo Carvalho). O mesmo se diga com prefeitos, vereadores e outras lideranças, que passaram a fugir do PSD como o diabo da cruz. Um problema: a maior liderança oposicionista do RN ainda é a professora Wilma de Faria, antiga aliada de Robinson em quase oito anos de governo e por ele abandonada nas eleições de 2010. Terão que navegar num mesmo barco, se quiserem ter alguns ganhos em 2012 e, sobretudo, nas eleições de 2014. Muita calma nessas horas, afinal, ensina François La Rochefoucauld que “[...] A verdadeira esperança é uma qualidade, uma determinação heróica da alma. E a mais elevada forma de esperança é o desespero superado.” E o que têm, afinal, as flores com esse ninho da cancão? Somente a breve existência: o francês François Malherbe, ao tentar consolar um amigo cuja filha morreu adolescente escreve estes inspirados versos: “Mas ela era do mundo em que vivem as coisas mais belas / Têm o pior destino: / E Rosa viveu o que vivem as Rosas, / O espaço de uma manhã.” O resto é conversa para boi dormir.
segunda-feira, 24 de outubro de 2011
Mineiro e a briga na coalização rosalbista
O Deputado Fernando Mineiro (PT) analisa uma briga que deverá tomar um pouquinho da atenção de quem se preocupa com a vida política na província nos próximos meses. Refiro-me ao rompimento do Vice-Governador, Robinson Faria (PSD), com a Governadora Rosalba Ciarline (DEM). Confira abaixo!
Alguma Novidade?
Fernando Mineiro
Sexta passada, 21, fui a Mossoró abraçar o poeta Antônio Francisco, que completou 62 anos de idade naquele dia.
Respeitado e querido, a festa em homenagem ao cordelista mor do RN e do Brasil contou com representantes de todas as alas dos cordões azuis, encarnados e multicoloridos da cidade.
No meio de tanta gente encontrei um rosalbista/carlista de quatrocentos costados que, ao me cumprimentar, fez a pergunta de praxe: “Alguma novidade?”. De pronto respondi: “A saída de Paulo de Tarso do governo Rosalba”. Depois de alguns segundos em silêncio ele disse; “É, por essa ninguém esperava”.
De fato, a saída de PTF do Gov.Rosa.Dem se transformou na surpresa política do final de semana. O Dr. Paulo de Tarso Fernandes, ex-chefe do Gabinete, não foi um simples auxiliar do Governo Rosalba. Era o segundo-ministro dessa versão de parlamentarismo papa-jerimum que se instalou no estado em 1 de janeiro de 2011.
PTF, desde o início da gestão, exerceu voz de mando e comando sobre o conjunto do secretariado, executando rigorosa e competentemente as ordens e orientações dadas por Carlos Augusto Rosado, esposo da governadora Rosalba e primeiro-ministro de fato do governo do DEM.
Foi o próprio Paulo de Tarso quem declarou à blogueira Thaisa Galvão: “Foram 10 meses de governo onde todas as decisões do Estado foram do marido da governadora”. Não à toa, os(as) outros(as) secretários(as) obedeciam. Entende-se muito bem porque um deles, porta-voz dos demais e mantendo o anonimato, declarou à Tribuna do Norte, edição de sábado (22), referindo-se a PTF: “Ele falava e nós assinávamos embaixo”.
Pode-se dizer que o Gov.Rosa.Dem inicia uma segunda fase com a saída do número 2 do seu governo. Resta saber se encontrará quem substitua o Dr. Paulo de Tarso Fernandes com a mesma competência, dedicação e autoridade.
Já o rompimento do vice Robinson Farias não foi nenhuma surpresa ou novidade. Era apenas questão de tempo.
Depois de cooptar a maioria da ex-futura bancada do PSD e obter o apoio integral do PMDB-RN, Robinson Farias, ao não deter mais o controle majoritário da Assembléia Legislativa, tornou-se descartável para o governo do DEM e seus novos aliados. Por isso foi empurrado para fora.
A não (re)nomeação de Robinson para a Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos, exonerado que foi para assumir o Governo quando da viagem de Rosalba Ciarlini aos EUA, foi apenas o estopim para o seu rompimento.
Já para Paulo de Tarso, essa não (re)nomeação foi, segundo ele, o motivo de seu pedido de exoneração.
PTF também revelou a Thaisa Galvão parte dos bastidores do episódio. Relata ele: “Primeiro fui à governadora e ela me disse que eu resolvesse com Carlos Augusto”. Ao insistir, ficou sabendo que “esse assunto não tem pressa. O vice-governador foi à minha cidade (Mossoró) e fez três discursos contra minha mulher. Minha mulher foi para os Estados Unidos e ele foi pra rua humilhar a governadora.”
Mais do que revelador das vísceras do governo, este episódio expõe de forma cristalina o descaramento e a sem cerimônia com que determinados grupos tratam assuntos públicos como extensões de interesses e humores privados.
Pensando bem, eu deveria ter respondido ao carlista/rosalbista de quatrocentos costados que não tinha nenhuma novidade na política do Rio Grande do Norte. Apesar de inesperada, a saída de Paulo de Tarso do Gov.Rosa.Dem não pode ser considerada como tal.
Foi apenas mais um desdobramento da reacomodação de grupos que, carentes de projetos político-administrativos estratégicos para o desenvolvimento do Estado, ora se juntam ora se separam de acordo com seus interesses pessoais.
Para além disso, o episódio joga luzes sobre um estilo de governo, de um modus operandi onde o público e o privado se mesclam em uma zona cinzenta (ou rosada), própria de uma forma particular de se operar a máquina pública.
Aliás, estilo este bastante famoso e comentado nas terras outrora ocupadas pelos bravos monxorós
Alguma Novidade?
Fernando Mineiro
Sexta passada, 21, fui a Mossoró abraçar o poeta Antônio Francisco, que completou 62 anos de idade naquele dia.
Respeitado e querido, a festa em homenagem ao cordelista mor do RN e do Brasil contou com representantes de todas as alas dos cordões azuis, encarnados e multicoloridos da cidade.
No meio de tanta gente encontrei um rosalbista/carlista de quatrocentos costados que, ao me cumprimentar, fez a pergunta de praxe: “Alguma novidade?”. De pronto respondi: “A saída de Paulo de Tarso do governo Rosalba”. Depois de alguns segundos em silêncio ele disse; “É, por essa ninguém esperava”.
De fato, a saída de PTF do Gov.Rosa.Dem se transformou na surpresa política do final de semana. O Dr. Paulo de Tarso Fernandes, ex-chefe do Gabinete, não foi um simples auxiliar do Governo Rosalba. Era o segundo-ministro dessa versão de parlamentarismo papa-jerimum que se instalou no estado em 1 de janeiro de 2011.
PTF, desde o início da gestão, exerceu voz de mando e comando sobre o conjunto do secretariado, executando rigorosa e competentemente as ordens e orientações dadas por Carlos Augusto Rosado, esposo da governadora Rosalba e primeiro-ministro de fato do governo do DEM.
Foi o próprio Paulo de Tarso quem declarou à blogueira Thaisa Galvão: “Foram 10 meses de governo onde todas as decisões do Estado foram do marido da governadora”. Não à toa, os(as) outros(as) secretários(as) obedeciam. Entende-se muito bem porque um deles, porta-voz dos demais e mantendo o anonimato, declarou à Tribuna do Norte, edição de sábado (22), referindo-se a PTF: “Ele falava e nós assinávamos embaixo”.
Pode-se dizer que o Gov.Rosa.Dem inicia uma segunda fase com a saída do número 2 do seu governo. Resta saber se encontrará quem substitua o Dr. Paulo de Tarso Fernandes com a mesma competência, dedicação e autoridade.
Já o rompimento do vice Robinson Farias não foi nenhuma surpresa ou novidade. Era apenas questão de tempo.
Depois de cooptar a maioria da ex-futura bancada do PSD e obter o apoio integral do PMDB-RN, Robinson Farias, ao não deter mais o controle majoritário da Assembléia Legislativa, tornou-se descartável para o governo do DEM e seus novos aliados. Por isso foi empurrado para fora.
A não (re)nomeação de Robinson para a Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos, exonerado que foi para assumir o Governo quando da viagem de Rosalba Ciarlini aos EUA, foi apenas o estopim para o seu rompimento.
Já para Paulo de Tarso, essa não (re)nomeação foi, segundo ele, o motivo de seu pedido de exoneração.
PTF também revelou a Thaisa Galvão parte dos bastidores do episódio. Relata ele: “Primeiro fui à governadora e ela me disse que eu resolvesse com Carlos Augusto”. Ao insistir, ficou sabendo que “esse assunto não tem pressa. O vice-governador foi à minha cidade (Mossoró) e fez três discursos contra minha mulher. Minha mulher foi para os Estados Unidos e ele foi pra rua humilhar a governadora.”
Mais do que revelador das vísceras do governo, este episódio expõe de forma cristalina o descaramento e a sem cerimônia com que determinados grupos tratam assuntos públicos como extensões de interesses e humores privados.
Pensando bem, eu deveria ter respondido ao carlista/rosalbista de quatrocentos costados que não tinha nenhuma novidade na política do Rio Grande do Norte. Apesar de inesperada, a saída de Paulo de Tarso do Gov.Rosa.Dem não pode ser considerada como tal.
Foi apenas mais um desdobramento da reacomodação de grupos que, carentes de projetos político-administrativos estratégicos para o desenvolvimento do Estado, ora se juntam ora se separam de acordo com seus interesses pessoais.
Para além disso, o episódio joga luzes sobre um estilo de governo, de um modus operandi onde o público e o privado se mesclam em uma zona cinzenta (ou rosada), própria de uma forma particular de se operar a máquina pública.
Aliás, estilo este bastante famoso e comentado nas terras outrora ocupadas pelos bravos monxorós
quarta-feira, 1 de setembro de 2010
O PSDB e a mexicanização
PRI, o partido que dominou a política mexicana por quase um século, é sempre mobilizado como um espectro quando o Presidente Lula consegue obter vitórias eleitorais e políticos. O tucanato lembra um pouco aqueles meninos de nossa infância, donos da bola, que queriam parar o jogo quando o seu time estava perdendo...
Bueno, confira abaixo, artigo de autoria do jornalista Elio Gaspari, comentando essa, digamos, face da oposição brasileira. Lembre: o artigo chega aqui via Blogo do Noblat, ok?
Enviado por Ricardo Noblat - 1.9.2010 9h26m
Deu em O Globo
Quando a oposição perde, apita: PRIiiiiii!
Elio Gaspari
Quando a oposição brasileira é devastada pelo resultado eleitoral, alguém apita: "PRIiii!". É um grito de advertência contra o perigo da instalação de um regime de partido único (de fato) no Brasil. Algo parecido com a coligação de políticos, burocratas, sindicalistas e cleptocratas que governou o México de 1926 a 2000, boa parte do tempo sob a sigla do Partido da Revolução Institucionalizada.
O apito de PRI costumava soar depois da eleição. Agora ele veio antes, com um inoportuno componente de derrotismo.
Ele soou em 1970, quando a popularidade do general Médici e os camburões da polícia esmagaram o MDB. A oposição ficou com 87 das 310 cadeiras da Câmara, perdendo até o terço necessário para requerer uma CPI. O governo elegeu 42 senadores, perdendo apenas no Rio de Janeiro e na antiga Guanabara. Era o PRI.
Quatro anos depois, o MDB elegeu os senadores em 16 dos 22 estados. Não se falou mais em PRI.
Em 1986, cavalgando o Plano Cruzado, o PMDB de José Sarney elegeu 22 governadores, 36 senadores e a maioria dos deputados. Novamente: PRI!
Três anos depois Fernando Collor de Mello elegeu-se presidente da República e, desde então, o apito calou-se, para voltar a ser ouvido agora.
Falar em PRI no Brasil quando o PSDB caminha para completar vinte anos consecutivos de poder em São Paulo é, no mínimo, uma trapaça. Sabendo-se que o PT conformou-se com uma posição subsidiária nas eleições para governadores, o espantalho torna-se risível.
É nessa hora que se deve olhar para o espantalho. Ele não é o que quer o tucanato abichornado, mas o paralelo histórico tem algo a informar.
O PRI surgiu depois de uma revolução durante a qual mataram-se três presidentes e desterraram-se outros dois. Seu criador não foi Emiliano Zapata, muitos menos Pancho Villa (ambos passados nas armas), mas um general amigo dos sindicatos e dos movimentos sociais.
Chamava-se Plutarco Elias Calles, assumiu em 1924, saiu em 28 e governou até 1935 por meio de prepostos, fazendo-se chamar de "Jefe Máximo". Esse período da história mexicana é conhecido como "Maximato".
A boa notícia para quem flerta com um Lulato é que Calles parece-se com Nosso Guia na política voltada para o andar de baixo e até mesmo fisionomicamente, sem barba.
A má notícia vai para a turma do mensalão. Um dia "El Jefe Máximo" teve uma ideia e decidiu entregar o poder ao companheiro de armas Lázaro Cárdenas. Encurtando a história, Cárdenas dobrou à esquerda, exilou meia dúzia de larápios do "Maximato", inclusive um ex-presidente, e, em 1936, despachou o próprio Calles, que ralou cinco anos de exílio.
O que está aí para todo mundo ver é o Lulato, com Nosso Guia pedindo votos para sua candidata, e uma grande parte do eleitorado, consciente e satisfeita, dizendo que atenderá com muito gosto ao seu pedido.
Um país com a sofisticação econômica do Brasil, com a qualidade da sua burocracia e com o vigor de suas instituições democráticas não cai nas mãos de um PRI qualquer. Apitando-se, faz-se barulho, e só.
O problema da oposição brasileira, com sua vertente demófoba, chama-se Lula, "El Jefe Máximo", que o embaixador Celso Amorim chamou de Nosso Guia e Dilma Rousseff qualificou como o "grande mestre, ele nos ensinou o caminho".
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Bueno, confira abaixo, artigo de autoria do jornalista Elio Gaspari, comentando essa, digamos, face da oposição brasileira. Lembre: o artigo chega aqui via Blogo do Noblat, ok?
Enviado por Ricardo Noblat - 1.9.2010 9h26m
Deu em O Globo
Quando a oposição perde, apita: PRIiiiiii!
Elio Gaspari
Quando a oposição brasileira é devastada pelo resultado eleitoral, alguém apita: "PRIiii!". É um grito de advertência contra o perigo da instalação de um regime de partido único (de fato) no Brasil. Algo parecido com a coligação de políticos, burocratas, sindicalistas e cleptocratas que governou o México de 1926 a 2000, boa parte do tempo sob a sigla do Partido da Revolução Institucionalizada.
O apito de PRI costumava soar depois da eleição. Agora ele veio antes, com um inoportuno componente de derrotismo.
Ele soou em 1970, quando a popularidade do general Médici e os camburões da polícia esmagaram o MDB. A oposição ficou com 87 das 310 cadeiras da Câmara, perdendo até o terço necessário para requerer uma CPI. O governo elegeu 42 senadores, perdendo apenas no Rio de Janeiro e na antiga Guanabara. Era o PRI.
Quatro anos depois, o MDB elegeu os senadores em 16 dos 22 estados. Não se falou mais em PRI.
Em 1986, cavalgando o Plano Cruzado, o PMDB de José Sarney elegeu 22 governadores, 36 senadores e a maioria dos deputados. Novamente: PRI!
Três anos depois Fernando Collor de Mello elegeu-se presidente da República e, desde então, o apito calou-se, para voltar a ser ouvido agora.
Falar em PRI no Brasil quando o PSDB caminha para completar vinte anos consecutivos de poder em São Paulo é, no mínimo, uma trapaça. Sabendo-se que o PT conformou-se com uma posição subsidiária nas eleições para governadores, o espantalho torna-se risível.
É nessa hora que se deve olhar para o espantalho. Ele não é o que quer o tucanato abichornado, mas o paralelo histórico tem algo a informar.
O PRI surgiu depois de uma revolução durante a qual mataram-se três presidentes e desterraram-se outros dois. Seu criador não foi Emiliano Zapata, muitos menos Pancho Villa (ambos passados nas armas), mas um general amigo dos sindicatos e dos movimentos sociais.
Chamava-se Plutarco Elias Calles, assumiu em 1924, saiu em 28 e governou até 1935 por meio de prepostos, fazendo-se chamar de "Jefe Máximo". Esse período da história mexicana é conhecido como "Maximato".
A boa notícia para quem flerta com um Lulato é que Calles parece-se com Nosso Guia na política voltada para o andar de baixo e até mesmo fisionomicamente, sem barba.
A má notícia vai para a turma do mensalão. Um dia "El Jefe Máximo" teve uma ideia e decidiu entregar o poder ao companheiro de armas Lázaro Cárdenas. Encurtando a história, Cárdenas dobrou à esquerda, exilou meia dúzia de larápios do "Maximato", inclusive um ex-presidente, e, em 1936, despachou o próprio Calles, que ralou cinco anos de exílio.
O que está aí para todo mundo ver é o Lulato, com Nosso Guia pedindo votos para sua candidata, e uma grande parte do eleitorado, consciente e satisfeita, dizendo que atenderá com muito gosto ao seu pedido.
Um país com a sofisticação econômica do Brasil, com a qualidade da sua burocracia e com o vigor de suas instituições democráticas não cai nas mãos de um PRI qualquer. Apitando-se, faz-se barulho, e só.
O problema da oposição brasileira, com sua vertente demófoba, chama-se Lula, "El Jefe Máximo", que o embaixador Celso Amorim chamou de Nosso Guia e Dilma Rousseff qualificou como o "grande mestre, ele nos ensinou o caminho".
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quinta-feira, 11 de março de 2010
Daniel comenta Flaubert que comentou Macos Nobre comentado por Reinaldo Azevedo
Poxa, Flaubert!
Não quero nem entrar no mérito da discussão. Penso só que você foi injusto com o Marcos Nobre. O texto dele fala sobre a "cota do DEM", uma pseudo reserva moral, que vem se mostrando cada vez mais frágil. O rei está nu e, para nossa felicidade, ao contrário do conto, as pessoas estão vendo. O professor pouco toca na questão das cotas para negros.Penso que, nesta questão, sua mira estava desfocada.
Daniel
Não quero nem entrar no mérito da discussão. Penso só que você foi injusto com o Marcos Nobre. O texto dele fala sobre a "cota do DEM", uma pseudo reserva moral, que vem se mostrando cada vez mais frágil. O rei está nu e, para nossa felicidade, ao contrário do conto, as pessoas estão vendo. O professor pouco toca na questão das cotas para negros.Penso que, nesta questão, sua mira estava desfocada.
Daniel
quinta-feira, 31 de dezembro de 2009
Uma análise interessante e interessada sobre as eleições de 2010
César Maia, ex-prefeito do Rio, do DEM, faz a sua análise prospectiva sobre as eleições de 2010. Como escreve de uma posição definida e interessada, a análise de César Maia pode e deve ser levada em conta por todos quantos queiram entender como está se armando o quadro para a disputa que já começou. Confira abaixo!
2009: AS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS DE 2010!
Ex-Blog do César Maia
1. Aqui sim Lula termina 2009 com um quadro muito mais favorável que o que iniciou 2009. Uma escolha açodada de candidata sem currículo e sem charme eleitoral terminou chegando ao ponto que Lula queria: acima dos 20%. E com cruzamentos em pesquisa que indicam que crescerá ainda mais nos meses iniciais de 2010.
2. A oposição se mostrou incapaz de entrar em campo com seu time escalado. A tática de ganhar tempo não só abriu caminho a Dilma, como afetou a situação em vários Estados importantes e ainda produziu feridas, que são certamente sanáveis, mas que sempre deixam uma casquinha ou outra.
3. Cabe a candidatura presidencial da oposição usar bem o primeiro trimestre de 2010 para curar as feridas, reerguer nomes em vários Estados e voltar ao quadro de favoritismo que apontava no início de 2009. Ainda há tempo. Mas nem tanto assim.
2009: AS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS DE 2010!
Ex-Blog do César Maia
1. Aqui sim Lula termina 2009 com um quadro muito mais favorável que o que iniciou 2009. Uma escolha açodada de candidata sem currículo e sem charme eleitoral terminou chegando ao ponto que Lula queria: acima dos 20%. E com cruzamentos em pesquisa que indicam que crescerá ainda mais nos meses iniciais de 2010.
2. A oposição se mostrou incapaz de entrar em campo com seu time escalado. A tática de ganhar tempo não só abriu caminho a Dilma, como afetou a situação em vários Estados importantes e ainda produziu feridas, que são certamente sanáveis, mas que sempre deixam uma casquinha ou outra.
3. Cabe a candidatura presidencial da oposição usar bem o primeiro trimestre de 2010 para curar as feridas, reerguer nomes em vários Estados e voltar ao quadro de favoritismo que apontava no início de 2009. Ainda há tempo. Mas nem tanto assim.
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segunda-feira, 21 de dezembro de 2009
A pesquisa Datafolha e as miragens analíticas da Nova Direita
De vez em quando, visito o blog do Reinaldo Azevedo, no site da Veja. Mas, apresso-me em declarar, somente de vez em quando mesmo Gosto do meu fígado... O jornalista é o representante mais atilado da Nova Direita e o seu estilo já foi analisado, e copiado, por muitos. A agressividade conservadora contra tentativas, mesmo que mínimas, de substantivar a nossa frágil vida democrática é marca dele e dos seus imitadores. Diverte-me um pouco. O problema é que tem gente que o leva sério...
Bueno, faço esse comentário, pois, neste final de semana, o DataFolha divulgou pesquisa de intenções de votos para presidente na qual Dilma sobe para 23% e Serra cai para 37%. Com uma capacidade invejável de reverter o que aponta a realidade, o Reinaldo Azevedo quer, e porque quer, quer que todo mundo compre a idéia de que é o seu preferido, ou seja Serra, quem se sai melhor na pesquisa. Com os adversários agredindo a lógica, resta aos petistas comemorarem.
Mas, epa!, nem tudo é devaneio nas searas da Nova Direita. O César Maia, ex-prefeito do Rio e uma das lideranças do DEM, para surpresa geral, tem sido uma das vozes mais equilibradas na análise do quadro eleitoral de 2010. Por isso mesmo, pode apostar!, vale a pena ler a análise que ele fez da mesma pesquisa. A direção é bem diferente daquela tomada pelo Reinaldo Azevedo. Confira abaixo.
PESQUISA DATAFOLHA APONTA PARA POLARIZAÇÃO!
1. Sempre que os nomes apresentados em pesquisa são de amplo conhecimento público, os números relativos à intenção de voto "se as eleições fossem hoje", se aproximam da verdade de hoje. Especialmente numa pesquisa com mais de 11 mil eleitores, como essa realizada entre 14 e 18 de dezembro. Na pesquisa DataFolha de 25-27/03/2008, portanto mais de 20 meses atrás, Dilma tinha apenas 3%. Vem crescendo progressivamente, em função da divulgação de seu nome e o apoio de Lula: 3%, 8%, 11%, 16%, 16%, e 23%. Serra flutua no mesmo patamar: 38%, 41%, 41%, 38%, 37%, e 37%.
2. A diferença Serra-Dilma caiu de 18% e 19% nas duas pesquisas anteriores, para 14%. Para ela o dado mais importante que sua esperada ascensão com o apoio de Lula, é que a diferença num suposto primeiro turno e num segundo turno não muda. Com isso, isolando os dois no primeiro turno, Dilma tem 38% e no segundo 42%, com crescimento relativo maior que o de Serra, e absoluto igual, para uma taxa de conhecimento menor.
3. Entre as pessoas de maior renda, Serra tem 38% e Dilma surpreendentes 30%. Entre os de menor renda, provavelmente os que menos acompanham este processo pré-eleitoral, Serra tem 35% e Dilma apenas 23%, número que tende a crescer com o envolvimento de Lula, pois aqui é onde sua aprovação é maior.
4. Os números mostram que a tática do PSDB de ganhar tempo até março abriu espaço para o crescimento de Dilma, exatamente entre os eleitores potenciais de Serra. A entrevista do presidente do Banco Central, com destaque de capa no Globo de domingo, aponta nessa direção: assustar a classe média com hipotéticas mudanças.
5. Finalmente, imaginando que os 23% de Dilma entre os de menor renda suba para 30%, a diferença global cairia de 14 pontos para a metade. É um cenário provável. Claro, nas mesmas condições de hoje.
Bueno, faço esse comentário, pois, neste final de semana, o DataFolha divulgou pesquisa de intenções de votos para presidente na qual Dilma sobe para 23% e Serra cai para 37%. Com uma capacidade invejável de reverter o que aponta a realidade, o Reinaldo Azevedo quer, e porque quer, quer que todo mundo compre a idéia de que é o seu preferido, ou seja Serra, quem se sai melhor na pesquisa. Com os adversários agredindo a lógica, resta aos petistas comemorarem.
Mas, epa!, nem tudo é devaneio nas searas da Nova Direita. O César Maia, ex-prefeito do Rio e uma das lideranças do DEM, para surpresa geral, tem sido uma das vozes mais equilibradas na análise do quadro eleitoral de 2010. Por isso mesmo, pode apostar!, vale a pena ler a análise que ele fez da mesma pesquisa. A direção é bem diferente daquela tomada pelo Reinaldo Azevedo. Confira abaixo.
PESQUISA DATAFOLHA APONTA PARA POLARIZAÇÃO!
1. Sempre que os nomes apresentados em pesquisa são de amplo conhecimento público, os números relativos à intenção de voto "se as eleições fossem hoje", se aproximam da verdade de hoje. Especialmente numa pesquisa com mais de 11 mil eleitores, como essa realizada entre 14 e 18 de dezembro. Na pesquisa DataFolha de 25-27/03/2008, portanto mais de 20 meses atrás, Dilma tinha apenas 3%. Vem crescendo progressivamente, em função da divulgação de seu nome e o apoio de Lula: 3%, 8%, 11%, 16%, 16%, e 23%. Serra flutua no mesmo patamar: 38%, 41%, 41%, 38%, 37%, e 37%.
2. A diferença Serra-Dilma caiu de 18% e 19% nas duas pesquisas anteriores, para 14%. Para ela o dado mais importante que sua esperada ascensão com o apoio de Lula, é que a diferença num suposto primeiro turno e num segundo turno não muda. Com isso, isolando os dois no primeiro turno, Dilma tem 38% e no segundo 42%, com crescimento relativo maior que o de Serra, e absoluto igual, para uma taxa de conhecimento menor.
3. Entre as pessoas de maior renda, Serra tem 38% e Dilma surpreendentes 30%. Entre os de menor renda, provavelmente os que menos acompanham este processo pré-eleitoral, Serra tem 35% e Dilma apenas 23%, número que tende a crescer com o envolvimento de Lula, pois aqui é onde sua aprovação é maior.
4. Os números mostram que a tática do PSDB de ganhar tempo até março abriu espaço para o crescimento de Dilma, exatamente entre os eleitores potenciais de Serra. A entrevista do presidente do Banco Central, com destaque de capa no Globo de domingo, aponta nessa direção: assustar a classe média com hipotéticas mudanças.
5. Finalmente, imaginando que os 23% de Dilma entre os de menor renda suba para 30%, a diferença global cairia de 14 pontos para a metade. É um cenário provável. Claro, nas mesmas condições de hoje.
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sábado, 5 de dezembro de 2009
A oposição patina, Dilma surfa
O DEM está indo para o brejo, e quem o guia para o indesejado lugar é o Governador Arruda, do DF. Mas o PSDB não sai incólume, já que o seu presidente regional no DF está no meio furacão. Enquanto isso, Dilma e os petistas olham tudo de camarote... e agradecem aos céus o presente que lhes caiu no colo.
Oposição burila discurso de Dilma
Alon Feuerwerker
Com suas reações tíbias e desencontradas na crise, o Democratas e o PSDB ajudam Dilma Rousseff a, finalmente, encontrar uma janela para deixar de ser só a “candidata de Lula”
Qual é a situação ideal para um político? É a que transforma seus defeitos em qualidades e potencializa ainda mais os vetores positivos do personagem. É bom para o candidato quando ele se encaixa naturalmente na cena. Bom para ele e seus marqueteiros. O marketing eleitoral, como qualquer outro, só aparentemente vende produtos. Ele vende necessidades. E o leitor há de convir que é bem mais fácil ganhar a vida vendendo picolé nas praias do Caribe do que nas do Alasca.
A crise desencadeada a partir das acusações contra o governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda (DEM), ainda está em desenvolvimento, mas alguns efeitos dela já são claros. Agudizou-se uma demanda crônica e difusa por providências saneadoras na administração pública. A análise apressada do quadro faria concluir que o assunto não será importante numa eleição marcada, como se dizia na Guerra Fria, pelo “equilíbrio do terror”: se cada um tem os seus próprios problemas, melhor deixar quieto.
Estaria perfeito, não fosse por um detalhe: quem raciocina assim esquece que existe o eleitor. A violência semiótica desta crise fará o dito cujo deixar para lá, mais ainda, a busca do “partido puro”, formado pelas “pessoas melhores do que as outras”. Esse mito foi mortalmente ferido na crise petista de 2005-06 e será enterrado sem honras daqui até a eleição presidencial, com o féretro coberto pela bandeira brasiliense, ladeada pela gaúcha e pela paraibana.
A exposição brutal dos costumes políticos cria uma demanda. Não pelo partido “portador da verdade”, coisa que o eleitor já concluiu não existir, mas pelo líder firme, até certo ponto autoritário, que seja capaz de enfrentar o sistema. Sem porralouquice, mas com método e obcecada tenacidade. Alguém que domine os políticos e não se deixe dominar por eles. Alguém que saiba “onde estão as sacanagens”. Que seja vivo o suficiente para não ser derrubado. Mas que não vacile na hora de mandar gente para a guilhotina.
A política é mesmo fascinante. E não é que a crise começa a abrir espaço para um certo “anti-Lula”? Desde que, é claro, preservem-se as melhores qualidades do presidente, como a preocupação genuína com os pobres. Mas desde que também se superem as circunstâncias nas quais o “filho do Brasil” (o verdadeiro, não o da ficção babosa) se enredou, a ponto de perder a sensibilidade, que era sua melhor característica. Ninguém passa incólume pelo poder.
Tudo isso seria espetacular para a oposição, debruçada sobre a tarefa hercúlea de achar uma brecha no discurso da continuidade. Qual é o problema então? Infelizmente para o PSDB e o Democratas, quem por enquanto melhor se encaixa no figurino é a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Verdade que ela própria precisa percorrer a curva de aprendizado, vide sua intervenção tosca quando precisou dar a cara a tapa por José Sarney. Não será difícil para Dilma, porém, construir a narrativa de que precisa fazer concessões agora, mas que no governo, com a caneta na mão, vai ser finalmente ela mesma. Assim como Luiz Inácio Lula da Silva é ele mesmo, um conciliador. Interessante. Qual é talvez o grande desafio da ministra nesta eleição? Fazer crer que não vai ser só um fantoche de Lula, que não irá governar, nem comer, pela mão dos outros. Mas não basta dizer. É preciso construir a verossimilhança. E isso só é possível quando o perfil do candidato se encaixa naturalmente no cenário. É o caso agora.O governo do PT reclama da oposição, mas ele tem, de longe, a melhor oposição que um governo poderia desejar. Com suas reações tíbias e desencontradas na crise cujo epicentro é o DF, o Democratas e o PSDB ajudam Dilma Rousseff a, finalmente, encontrar uma janela para deixar de ser só a “candidata de Lula” e se mostrar ao país como a mulher antipática, dura com os políticos e empresários, irascível e sem jogo de cintura, a presidente de que o Brasil tanto precisa.
E com a vantagem de não ser uma petista “de raiz”, de ser uma cristã nova no PT. Ou seja, tudo de bom.
Coluna (Nas entrelinhas) publicada hoje no Correio Braziliense.
Oposição burila discurso de Dilma
Alon Feuerwerker
Com suas reações tíbias e desencontradas na crise, o Democratas e o PSDB ajudam Dilma Rousseff a, finalmente, encontrar uma janela para deixar de ser só a “candidata de Lula”
Qual é a situação ideal para um político? É a que transforma seus defeitos em qualidades e potencializa ainda mais os vetores positivos do personagem. É bom para o candidato quando ele se encaixa naturalmente na cena. Bom para ele e seus marqueteiros. O marketing eleitoral, como qualquer outro, só aparentemente vende produtos. Ele vende necessidades. E o leitor há de convir que é bem mais fácil ganhar a vida vendendo picolé nas praias do Caribe do que nas do Alasca.
A crise desencadeada a partir das acusações contra o governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda (DEM), ainda está em desenvolvimento, mas alguns efeitos dela já são claros. Agudizou-se uma demanda crônica e difusa por providências saneadoras na administração pública. A análise apressada do quadro faria concluir que o assunto não será importante numa eleição marcada, como se dizia na Guerra Fria, pelo “equilíbrio do terror”: se cada um tem os seus próprios problemas, melhor deixar quieto.
Estaria perfeito, não fosse por um detalhe: quem raciocina assim esquece que existe o eleitor. A violência semiótica desta crise fará o dito cujo deixar para lá, mais ainda, a busca do “partido puro”, formado pelas “pessoas melhores do que as outras”. Esse mito foi mortalmente ferido na crise petista de 2005-06 e será enterrado sem honras daqui até a eleição presidencial, com o féretro coberto pela bandeira brasiliense, ladeada pela gaúcha e pela paraibana.
A exposição brutal dos costumes políticos cria uma demanda. Não pelo partido “portador da verdade”, coisa que o eleitor já concluiu não existir, mas pelo líder firme, até certo ponto autoritário, que seja capaz de enfrentar o sistema. Sem porralouquice, mas com método e obcecada tenacidade. Alguém que domine os políticos e não se deixe dominar por eles. Alguém que saiba “onde estão as sacanagens”. Que seja vivo o suficiente para não ser derrubado. Mas que não vacile na hora de mandar gente para a guilhotina.
A política é mesmo fascinante. E não é que a crise começa a abrir espaço para um certo “anti-Lula”? Desde que, é claro, preservem-se as melhores qualidades do presidente, como a preocupação genuína com os pobres. Mas desde que também se superem as circunstâncias nas quais o “filho do Brasil” (o verdadeiro, não o da ficção babosa) se enredou, a ponto de perder a sensibilidade, que era sua melhor característica. Ninguém passa incólume pelo poder.
Tudo isso seria espetacular para a oposição, debruçada sobre a tarefa hercúlea de achar uma brecha no discurso da continuidade. Qual é o problema então? Infelizmente para o PSDB e o Democratas, quem por enquanto melhor se encaixa no figurino é a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Verdade que ela própria precisa percorrer a curva de aprendizado, vide sua intervenção tosca quando precisou dar a cara a tapa por José Sarney. Não será difícil para Dilma, porém, construir a narrativa de que precisa fazer concessões agora, mas que no governo, com a caneta na mão, vai ser finalmente ela mesma. Assim como Luiz Inácio Lula da Silva é ele mesmo, um conciliador. Interessante. Qual é talvez o grande desafio da ministra nesta eleição? Fazer crer que não vai ser só um fantoche de Lula, que não irá governar, nem comer, pela mão dos outros. Mas não basta dizer. É preciso construir a verossimilhança. E isso só é possível quando o perfil do candidato se encaixa naturalmente no cenário. É o caso agora.O governo do PT reclama da oposição, mas ele tem, de longe, a melhor oposição que um governo poderia desejar. Com suas reações tíbias e desencontradas na crise cujo epicentro é o DF, o Democratas e o PSDB ajudam Dilma Rousseff a, finalmente, encontrar uma janela para deixar de ser só a “candidata de Lula” e se mostrar ao país como a mulher antipática, dura com os políticos e empresários, irascível e sem jogo de cintura, a presidente de que o Brasil tanto precisa.
E com a vantagem de não ser uma petista “de raiz”, de ser uma cristã nova no PT. Ou seja, tudo de bom.
Coluna (Nas entrelinhas) publicada hoje no Correio Braziliense.
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A oposição em seu labirinto
DEM e PSDB passaram os últimos anos assumindo confortáveis papéis de campeões da moralidade pública. Os deslizes e desastres de petistas e aliados forneciam elementos para cruzadas morais. Mas, antes do que se esperava, as vestais começaram o strip-tease em praça pública. Com enredo cinematográfico, o DEM, do Governandor José Roberto Arruda, se liquefaz com rapidez. E ameaça envolver o PSDB em sua descida ao inferno. Para continuar no tema, aproveite e leia, mais abaixo, trechos da coluna de hoje do jornalista Fernando Rodrigues, da Folha.
FERNANDO RODRIGUES
A pior semana da oposição
BRASÍLIA - Acaba hoje talvez a pior semana para a oposição num ano que já havia sido péssimo para a trinca PSDB-DEM-PPS. Nem o petista mais otimista poderia imaginar um presente de Natal antecipado e assim tão completo.
As três principais siglas anti-Lula foram chamuscadas ao mesmo tempo. O mensalão do DEM quase derrubou o único governador da sigla, José Roberto Arruda, em Brasília. O Supremo Tribunal Federal abriu ação para apurar o mensalão do PSDB, no qual o ex-presidente nacional da sigla Eduardo Azeredo é acusado de ser um dos mandantes. E o presidente nacional do PPS, Roberto Freire, foi citado como beneficiário de propinas do panetonegate candango. Todos, por óbvio, negam ser culpados.
(...)
Para o PT, é uma benção manter os peemedebistas acuados. Há uma redução natural na voracidade atávica por cargos e verbas em troca do apoio a Dilma Rousseff em 2010.
Mesmo antes dos fatos devastadores recentes, as coisas já não estavam bem na seara da oposição. No final do ano passado, a Justiça Eleitoral havia cassado o então governador da Paraíba, Cássio Cunha Lima (PSDB). Há alguns meses, a governadora tucana do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius, sofreu uma ameaça de impeachment.
(...)
O impacto de toda essa desgraça em 2010 ainda é incerto para tucanos e "demos". Mas, certamente, bom o efeito não deve ser.
frodriguesbsb@uol.com.br
ASSINANTE UOL LÊ O TEXTO COMPLETO AQUI,
FERNANDO RODRIGUES
A pior semana da oposição
BRASÍLIA - Acaba hoje talvez a pior semana para a oposição num ano que já havia sido péssimo para a trinca PSDB-DEM-PPS. Nem o petista mais otimista poderia imaginar um presente de Natal antecipado e assim tão completo.
As três principais siglas anti-Lula foram chamuscadas ao mesmo tempo. O mensalão do DEM quase derrubou o único governador da sigla, José Roberto Arruda, em Brasília. O Supremo Tribunal Federal abriu ação para apurar o mensalão do PSDB, no qual o ex-presidente nacional da sigla Eduardo Azeredo é acusado de ser um dos mandantes. E o presidente nacional do PPS, Roberto Freire, foi citado como beneficiário de propinas do panetonegate candango. Todos, por óbvio, negam ser culpados.
(...)
Para o PT, é uma benção manter os peemedebistas acuados. Há uma redução natural na voracidade atávica por cargos e verbas em troca do apoio a Dilma Rousseff em 2010.
Mesmo antes dos fatos devastadores recentes, as coisas já não estavam bem na seara da oposição. No final do ano passado, a Justiça Eleitoral havia cassado o então governador da Paraíba, Cássio Cunha Lima (PSDB). Há alguns meses, a governadora tucana do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius, sofreu uma ameaça de impeachment.
(...)
O impacto de toda essa desgraça em 2010 ainda é incerto para tucanos e "demos". Mas, certamente, bom o efeito não deve ser.
frodriguesbsb@uol.com.br
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quarta-feira, 2 de dezembro de 2009
E a Ieda?
Ah! , se o Arruda falasse...
Transcrevo abaixo alguns trechos da coluna de hoje do jornalista Élio Gaspari, do jornal Folha de São Paulo.
ELIO GASPARI
Ah, se meu panetone falasse...
--------------------------------------------------------------------------------
O governador de Brasília tornou-se um ativo tóxico para o DEM, capaz de contaminar o PSDB
--------------------------------------------------------------------------------
É SEMPRE a mesma história. Apanhado, o magano chantageia seus pares ameaçando contar o que sabe. O tempo passa, ele mede as consequências, sai de fininho, e restabelece-se a paz no andar de cima. (Se for o caso, o DEM, ex-Arena, ex-PDS, ex-PFL, muda de nome.) Em 2001, quando foi apanhado no episódio da violação do sigilo do painel eletrônico do Senado, José Roberto Arruda ameaçou contar o que sabia caso fosse deixado ao relento. À época ele era um quadro do PSDB e líder do governo de Fernando Henrique Cardoso no Senado. Arruda recebeu a visita de dois grão-tucanos, renunciou ao mandato de senador, escapou da cassação e foi cuidar da vida.
Ah, se o Arruda falasse... Em 2001 ele poderia ter contado como se formaram as maiorias parlamentares do tucanato. Algumas, como a da reforma da previdência, nasceram da troca de favores, outras, como a que permitiu a reeleição dos presidentes, governadores e prefeitos, precisaram de mais alavancagem. É verdade que Arruda nunca soube tanto quanto o ministro Sérgio Motta, mas soube bastante.
A crise dos pacotes de dinheiro nas meias de um deputado, na cueca de um dono de jornal e na bolsa de uma educadora transformou Arruda num ativo tóxico.
(...)
Arruda sabe que as versões apresentadas por seus advogados e pelos seus colegas são pouco mais que um exercício de escárnio. Esse foi um estilo consagrado pelos petistas quando criaram a figura dos "recursos não contabilizados". Quatro anos depois do estouro do mensalão, os companheiros estão protegidos, alguns com mandato, outros com posições na direção partidária, todos com acesso a gestores de fundos capazes de se comover com uma história de abandono.
Arruda, com as meias e as cuecas de seus aliados, é uma conta que deve ir para o DEM, respingando nos seus tradicionais parceiros do tucanato. Não é justo falar em mensalão numa hora dessas, mas a sorte pregou uma peça ao novo presidente do PT, o comissário José Eduardo Dutra. No mesmo dia em que as bandalheiras de Brasília chegavam ao café da manhã da choldra, ele deu uma entrevista à repórter Vera Rosa e disse o seguinte: "Em toda eleição há o risco de você ter desvios, caixa dois. É inerente ao modelo".
(...)
Em 2001 Arruda tinha a rota de fuga da renúncia. Agora essa porta perdeu a funcionalidade, pois, se for posto para fora do DEM, ele não participa da próxima eleição. Se o Ministério Público e a Polícia Federal conseguirem a colaboração de mais um ou dois deputados distritais, os doutores (inclusive Arruda) terão motivos para temer a cadeia.
(...)
Assinante UOL lê a matéria completa aqui.
ELIO GASPARI
Ah, se meu panetone falasse...
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O governador de Brasília tornou-se um ativo tóxico para o DEM, capaz de contaminar o PSDB
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É SEMPRE a mesma história. Apanhado, o magano chantageia seus pares ameaçando contar o que sabe. O tempo passa, ele mede as consequências, sai de fininho, e restabelece-se a paz no andar de cima. (Se for o caso, o DEM, ex-Arena, ex-PDS, ex-PFL, muda de nome.) Em 2001, quando foi apanhado no episódio da violação do sigilo do painel eletrônico do Senado, José Roberto Arruda ameaçou contar o que sabia caso fosse deixado ao relento. À época ele era um quadro do PSDB e líder do governo de Fernando Henrique Cardoso no Senado. Arruda recebeu a visita de dois grão-tucanos, renunciou ao mandato de senador, escapou da cassação e foi cuidar da vida.
Ah, se o Arruda falasse... Em 2001 ele poderia ter contado como se formaram as maiorias parlamentares do tucanato. Algumas, como a da reforma da previdência, nasceram da troca de favores, outras, como a que permitiu a reeleição dos presidentes, governadores e prefeitos, precisaram de mais alavancagem. É verdade que Arruda nunca soube tanto quanto o ministro Sérgio Motta, mas soube bastante.
A crise dos pacotes de dinheiro nas meias de um deputado, na cueca de um dono de jornal e na bolsa de uma educadora transformou Arruda num ativo tóxico.
(...)
Arruda sabe que as versões apresentadas por seus advogados e pelos seus colegas são pouco mais que um exercício de escárnio. Esse foi um estilo consagrado pelos petistas quando criaram a figura dos "recursos não contabilizados". Quatro anos depois do estouro do mensalão, os companheiros estão protegidos, alguns com mandato, outros com posições na direção partidária, todos com acesso a gestores de fundos capazes de se comover com uma história de abandono.
Arruda, com as meias e as cuecas de seus aliados, é uma conta que deve ir para o DEM, respingando nos seus tradicionais parceiros do tucanato. Não é justo falar em mensalão numa hora dessas, mas a sorte pregou uma peça ao novo presidente do PT, o comissário José Eduardo Dutra. No mesmo dia em que as bandalheiras de Brasília chegavam ao café da manhã da choldra, ele deu uma entrevista à repórter Vera Rosa e disse o seguinte: "Em toda eleição há o risco de você ter desvios, caixa dois. É inerente ao modelo".
(...)
Em 2001 Arruda tinha a rota de fuga da renúncia. Agora essa porta perdeu a funcionalidade, pois, se for posto para fora do DEM, ele não participa da próxima eleição. Se o Ministério Público e a Polícia Federal conseguirem a colaboração de mais um ou dois deputados distritais, os doutores (inclusive Arruda) terão motivos para temer a cadeia.
(...)
Assinante UOL lê a matéria completa aqui.
terça-feira, 1 de dezembro de 2009
Morte política de Arruda enfraquece a candidatura de José Serra
A análise de Jânio de Freitas, na edição de hoje do jornal Folha de São Paulo, vai direto ao ponto. Confira trechos abaixo.
Um rombo na sucessão
Janio de Freitas
A figura mais eminente que o DEM construiu para a eleição só pode ser candidato a votos de uma sentença criminal
O EFEITO POLÍTICO mais importante da ilustrada e ilustrativa presença do governador José Roberto Arruda no novo mensalão é o seu reflexo, direto e traumático, no esquema previsto pelo PSDB para disputar a sucessão presidencial.
Há mais de cinco anos José Serra desenvolve um trabalho de atração do PFL, lá atrás, hoje DEM. (...)
O menor dos êxitos esperáveis por Serra nessa investida seria o apoio, em âmbito nacional, do enfraquecido mas bem organizado DEM. A rigor, os demistas já vinham e vêm condenados a apoiar um candidato do PSDB, por falta de alternativa entre as possibilidades de candidaturas de razoável viabilidade. À parte tal circunstância, a estratégia de Serra deu o resultado que ele poderia esperar.
E foi além, de fato. No desempenho bem conceituado de José Roberto Arruda como governador do Distrito Federal, Serra e os demistas encontraram uma perspectiva nova e comum, por motivos diferentes, aos dois lados.
(...)
O estrelato de José Roberto Arruda nos vídeos da bandidagem política reabre a vaga mais proeminente nas considerações de Serra para a sua possível chapa. E o desastre nem se limita a esse rombo. Arruda enfraqueceu muito o apoio eleitoral do DEM, ao presentear os candidatos e partidos contrários com uma arma eficaz contra os demistas: a figura mais eminente que construíram para as próximas eleições, no plano local como no federal, só pode ser candidato aos votos de uma sentença criminal.
(...)
Assinante UOL lê o artigo completo aqui.
Um rombo na sucessão
Janio de Freitas
A figura mais eminente que o DEM construiu para a eleição só pode ser candidato a votos de uma sentença criminal
O EFEITO POLÍTICO mais importante da ilustrada e ilustrativa presença do governador José Roberto Arruda no novo mensalão é o seu reflexo, direto e traumático, no esquema previsto pelo PSDB para disputar a sucessão presidencial.
Há mais de cinco anos José Serra desenvolve um trabalho de atração do PFL, lá atrás, hoje DEM. (...)
O menor dos êxitos esperáveis por Serra nessa investida seria o apoio, em âmbito nacional, do enfraquecido mas bem organizado DEM. A rigor, os demistas já vinham e vêm condenados a apoiar um candidato do PSDB, por falta de alternativa entre as possibilidades de candidaturas de razoável viabilidade. À parte tal circunstância, a estratégia de Serra deu o resultado que ele poderia esperar.
E foi além, de fato. No desempenho bem conceituado de José Roberto Arruda como governador do Distrito Federal, Serra e os demistas encontraram uma perspectiva nova e comum, por motivos diferentes, aos dois lados.
(...)
O estrelato de José Roberto Arruda nos vídeos da bandidagem política reabre a vaga mais proeminente nas considerações de Serra para a sua possível chapa. E o desastre nem se limita a esse rombo. Arruda enfraqueceu muito o apoio eleitoral do DEM, ao presentear os candidatos e partidos contrários com uma arma eficaz contra os demistas: a figura mais eminente que construíram para as próximas eleições, no plano local como no federal, só pode ser candidato aos votos de uma sentença criminal.
(...)
Assinante UOL lê o artigo completo aqui.
O escândalo do DF impacta a disputa presidencial
A jornalista Eliane Catanhêde, na edição de hoje do jornal Folha de São Paulo, faz uma análise pertinente das implicações do escândalo político no qual está encalacrado o Governador do Distrito Federal, o demo José Roberto Arruda, sobre a disputa eleitoral que se avizinha. Confira techos abaixo!
ELIANE CANTANHÊDE
Estouro da boiada
BRASÍLIA - A profusão de panetones, vídeos e dinheiro vivo é um golpe profundo no PFL, ops!, DEM, mas não é muito menos grave na própria chapa de oposição, liderada pelo PSDB. Por isso, é até curiosa a discrição do PT.
(...)
Já o efeito sobre a candidatura de oposição, seja ela de José Serra ou de Aécio Neves, se dará na construção dos palanques e do discurso.
Enquanto Dilma Rousseff montou um leque de alianças que vai do PC do B ao PMDB, com o dobro de tempo na TV, Serra ou Aécio têm um DEM de perna quebrada, um PPS no ocaso, pedaços do PMDB e promessas -ora do PTB, ora do PP.
O mensalinho do DF também subtrai dois trunfos da oposição: já não é mais possível encenar a ira contra o mensalão do Planalto, que, de resto, já estava mesmo surrado; e vão para o lixo as fortes imagens de obras, viadutos, metrôs e coisas do gênero que o engenheiro Arruda cederia da sua gestão à campanha tucana -na qual ele vinha se insinuando como candidato a vice.
Trata-se de um golpe e tanto, e é em momentos assim que o que é ruim só pode piorar: cobranças, acusações mútuas, ameaças, racha.
Se demos, tucanos e velhos comunistas já andavam arrancando os cabelos com a diferença de ritmo entre Lula-Dilma e Serra-Aécio, devem estar todos, a esta altura, à beira de um ataque de nervos, ou da calvície profunda.
(...)
elianec@uol.com.br
Assinante UOL lê o artigo completo aqui.
ELIANE CANTANHÊDE
Estouro da boiada
BRASÍLIA - A profusão de panetones, vídeos e dinheiro vivo é um golpe profundo no PFL, ops!, DEM, mas não é muito menos grave na própria chapa de oposição, liderada pelo PSDB. Por isso, é até curiosa a discrição do PT.
(...)
Já o efeito sobre a candidatura de oposição, seja ela de José Serra ou de Aécio Neves, se dará na construção dos palanques e do discurso.
Enquanto Dilma Rousseff montou um leque de alianças que vai do PC do B ao PMDB, com o dobro de tempo na TV, Serra ou Aécio têm um DEM de perna quebrada, um PPS no ocaso, pedaços do PMDB e promessas -ora do PTB, ora do PP.
O mensalinho do DF também subtrai dois trunfos da oposição: já não é mais possível encenar a ira contra o mensalão do Planalto, que, de resto, já estava mesmo surrado; e vão para o lixo as fortes imagens de obras, viadutos, metrôs e coisas do gênero que o engenheiro Arruda cederia da sua gestão à campanha tucana -na qual ele vinha se insinuando como candidato a vice.
Trata-se de um golpe e tanto, e é em momentos assim que o que é ruim só pode piorar: cobranças, acusações mútuas, ameaças, racha.
Se demos, tucanos e velhos comunistas já andavam arrancando os cabelos com a diferença de ritmo entre Lula-Dilma e Serra-Aécio, devem estar todos, a esta altura, à beira de um ataque de nervos, ou da calvície profunda.
(...)
elianec@uol.com.br
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Radicaliza, Arruda...
Leia abaixo pequeno trecho de matéria postada no blog do Josias de Sousa, da Folha. Comento depois.
Ao final de uma reunião tensa com integrantes da cúpula do DEM, José Roberto Arruda lançou no ar uma frase enigmática:
“Se o partido radicalizar comigo, vou radicalizar também”, disse o governador do Distrito Federal, em timbre de ameaça.
Ficou boiando na atmosfera a impressão de que Arruda dispõe de munição. Pior: Levado ao pelourinho, não hesitaria em abrir o paiol.
A conversa com os mandachuvas do DEM consumiu duas horas da tarde desta segunda (30).
Comentário
Ora, ora, então tem farinha (para não usar uma metáfora escatológica aqui...) para ser lançada no vestilador? Oba, oba... Então, fiquemos na torcida pela radicalização do Arruda.
Ao final de uma reunião tensa com integrantes da cúpula do DEM, José Roberto Arruda lançou no ar uma frase enigmática:
“Se o partido radicalizar comigo, vou radicalizar também”, disse o governador do Distrito Federal, em timbre de ameaça.
Ficou boiando na atmosfera a impressão de que Arruda dispõe de munição. Pior: Levado ao pelourinho, não hesitaria em abrir o paiol.
A conversa com os mandachuvas do DEM consumiu duas horas da tarde desta segunda (30).
Comentário
Ora, ora, então tem farinha (para não usar uma metáfora escatológica aqui...) para ser lançada no vestilador? Oba, oba... Então, fiquemos na torcida pela radicalização do Arruda.
quinta-feira, 26 de novembro de 2009
Capitalismo popular
A proposta de uma socialização da banda larga, formulada pelo Governo, é uma iniciativa interessante e ousada. Claro, óbvio, que é preciso encontrar o rato que vai por o guizo no gato, mas a discussão é muito pertinente. Não por acaso, está aí pautando a mídia. Veja abaixo a análise de Alon Feuerwerker sobre essa e outras questões.
Capitalismo popular (26/11)
Alon Feuerwerker
Falta na banda larga um grande jogador, que esteja disposto a entrar na partida com capacidade de investimento e coragem (e caixa) para praticar uma política de preços agressiva.
O governo federal está metido numa boa empreitada: criar as condições para universalizar o acesso à internet de alta velocidade. Avalia inclusive entrar no mercado de provimento ao consumidor final. A iniciativa deverá servir, pelo menos, para forçar as companhias de telecomunicações a ampliar os serviços e baixar os preços. Se conseguir avançar aí, Lula merecerá aplausos efusivos.
É curioso que exatamente no ramo econômico onde as privatizações são mais festejadas, a telefonia, o poder estatal precise ameaçar com intervenção para colocar as coisas em ordem e atender ao interesse público. Hoje no Brasil quase todo mundo tem telefone, uma realidade muito diferente do que se via no começo dos anos 1990. Mas pagamos preços inexplicáveis. Ou que só encontram explicação no oligopólio.
Eis a desgraça das privatizações brasileiras. Em vez do “capitalismo popular”, expressão do thatcherismo, elas promoveram uma troca de guarda: o espaço que era do Estado foi ocupado por um pequeno grupo de empresas que repartiram o mercado entre si, e operam num ambiente de negócios marcado pelo deficit de regulação. É um modelo que se esgotou. Um exemplo? A banda larga, cara e de qualidade e cobertura inferiores às dos países comparáveis.
Seria ilusão imaginar uma telefonia operando com base na concorrência perfeita. Isso exigiria grande multiplicidade de provedores do serviço, coisa impossível na prática. Daí a necessidade da regulação, e daí o problema de mercados —como o nosso — que apresentam deficit no quesito.
Mas como regular o mercado? Em teoria, com agências reguladoras e boas normas, que deveriam incluir o combate à cartelização. Ainda na teoria, nós temos tudo isso. Temos as leis, os decretos, as portarias, os órgãos governamentais encarregados de zelar pela concorrência e uma agência reguladora bem estruturada e bem dirigida, com quadros competentes a operá-la.
O que falta, então? Um grande jogador, que esteja disposto a entrar na partida com capacidade de investimento e coragem (e caixa) para praticar uma política de preços agressiva. Um jogador cuja lucratividade seja função principalmente da fatia de mercado conquistada, e não da margem unitária no negócio. Alguém que tope lucrar um pouco com cada cliente, para ter muitos clientes e lucrar muito ao final.
Quem se habilita? Se ninguém se apresentar, que venha a estatal de banda larga preparada nos laboratórios do Palácio do Planalto. Pior do que está não vai ficar.
Falta o líder
Os principais quadros brasilienses do PSDB, Democratas e PPS reuniram-se esta semana e, segundo disseram, planejam acertar as pontas na operação política. Querem mais coordenação e melhor comunicação, especialmente na internet. Para quem deseja voltar ao poder, é um passo sensato.
Mas o problema maior não é operacional, é político. Falta a oposição definir se sua prioridade é fazer a luta interna ou combater o adversário. Falta definir o que é essencial: quem é o inimigo a derrotar.
É preciso saber se cada uma das facções oposicionistas está disposta, inclusive, a apoiar de verdade um eventual concorrente interno, se isso for necessário para evitar nova vitória do PT em 2010. Sem esse detalhe fundamental, pouco adiantará o resto.
Qual foi a principal vantagem competitiva do PT nestas três décadas? A existência de um líder, Luiz Inácio Lula da Silva. Quando o PSDB ganhou duas eleições presidenciais? Quando teve um líder, Fernando Henrique Cardoso. Como o PMDB chegou ao poder? Pelas mãos de Ulysses Guimarães, que apoiou Tancredo Neves quando percebeu que não seria o melhor candidato a presidente em 1985.
Quem é o líder da oposição? Alguém sabe?
Blefe?
Os Estados Unidos apreciam que o Brasil tenha bons canais com o Irã, mas gostariam também que o Brasil defendesse junto ao Irã a posição unânime das grandes potências sobre o programa nuclear iraniano.
Esse foi o sentido da carta de Barack Obama a Lula. Não há antagonismo entre a satisfação dos americanos com as iniciativas diplomáticas brasileiras e o desconforto com o fato de o Brasil estar mais próximo do Irã do que seria desejável na Casa Branca.
Escanteado em Honduras, em Doha, com o G20 e com o etanol, o Brasil aproveitou a visita de Mahmoud Ahmadinejad para mandar o recado de que pode sair da área de controle. Blefe? Vale a pena acompanhar esse pôquer para ver quem, no final, terá cartas para arrastar as fichas.
Coluna (Nas entrelinhas) publicada hoje no Correio Braziliense.
Capitalismo popular (26/11)
Alon Feuerwerker
Falta na banda larga um grande jogador, que esteja disposto a entrar na partida com capacidade de investimento e coragem (e caixa) para praticar uma política de preços agressiva.
O governo federal está metido numa boa empreitada: criar as condições para universalizar o acesso à internet de alta velocidade. Avalia inclusive entrar no mercado de provimento ao consumidor final. A iniciativa deverá servir, pelo menos, para forçar as companhias de telecomunicações a ampliar os serviços e baixar os preços. Se conseguir avançar aí, Lula merecerá aplausos efusivos.
É curioso que exatamente no ramo econômico onde as privatizações são mais festejadas, a telefonia, o poder estatal precise ameaçar com intervenção para colocar as coisas em ordem e atender ao interesse público. Hoje no Brasil quase todo mundo tem telefone, uma realidade muito diferente do que se via no começo dos anos 1990. Mas pagamos preços inexplicáveis. Ou que só encontram explicação no oligopólio.
Eis a desgraça das privatizações brasileiras. Em vez do “capitalismo popular”, expressão do thatcherismo, elas promoveram uma troca de guarda: o espaço que era do Estado foi ocupado por um pequeno grupo de empresas que repartiram o mercado entre si, e operam num ambiente de negócios marcado pelo deficit de regulação. É um modelo que se esgotou. Um exemplo? A banda larga, cara e de qualidade e cobertura inferiores às dos países comparáveis.
Seria ilusão imaginar uma telefonia operando com base na concorrência perfeita. Isso exigiria grande multiplicidade de provedores do serviço, coisa impossível na prática. Daí a necessidade da regulação, e daí o problema de mercados —como o nosso — que apresentam deficit no quesito.
Mas como regular o mercado? Em teoria, com agências reguladoras e boas normas, que deveriam incluir o combate à cartelização. Ainda na teoria, nós temos tudo isso. Temos as leis, os decretos, as portarias, os órgãos governamentais encarregados de zelar pela concorrência e uma agência reguladora bem estruturada e bem dirigida, com quadros competentes a operá-la.
O que falta, então? Um grande jogador, que esteja disposto a entrar na partida com capacidade de investimento e coragem (e caixa) para praticar uma política de preços agressiva. Um jogador cuja lucratividade seja função principalmente da fatia de mercado conquistada, e não da margem unitária no negócio. Alguém que tope lucrar um pouco com cada cliente, para ter muitos clientes e lucrar muito ao final.
Quem se habilita? Se ninguém se apresentar, que venha a estatal de banda larga preparada nos laboratórios do Palácio do Planalto. Pior do que está não vai ficar.
Falta o líder
Os principais quadros brasilienses do PSDB, Democratas e PPS reuniram-se esta semana e, segundo disseram, planejam acertar as pontas na operação política. Querem mais coordenação e melhor comunicação, especialmente na internet. Para quem deseja voltar ao poder, é um passo sensato.
Mas o problema maior não é operacional, é político. Falta a oposição definir se sua prioridade é fazer a luta interna ou combater o adversário. Falta definir o que é essencial: quem é o inimigo a derrotar.
É preciso saber se cada uma das facções oposicionistas está disposta, inclusive, a apoiar de verdade um eventual concorrente interno, se isso for necessário para evitar nova vitória do PT em 2010. Sem esse detalhe fundamental, pouco adiantará o resto.
Qual foi a principal vantagem competitiva do PT nestas três décadas? A existência de um líder, Luiz Inácio Lula da Silva. Quando o PSDB ganhou duas eleições presidenciais? Quando teve um líder, Fernando Henrique Cardoso. Como o PMDB chegou ao poder? Pelas mãos de Ulysses Guimarães, que apoiou Tancredo Neves quando percebeu que não seria o melhor candidato a presidente em 1985.
Quem é o líder da oposição? Alguém sabe?
Blefe?
Os Estados Unidos apreciam que o Brasil tenha bons canais com o Irã, mas gostariam também que o Brasil defendesse junto ao Irã a posição unânime das grandes potências sobre o programa nuclear iraniano.
Esse foi o sentido da carta de Barack Obama a Lula. Não há antagonismo entre a satisfação dos americanos com as iniciativas diplomáticas brasileiras e o desconforto com o fato de o Brasil estar mais próximo do Irã do que seria desejável na Casa Branca.
Escanteado em Honduras, em Doha, com o G20 e com o etanol, o Brasil aproveitou a visita de Mahmoud Ahmadinejad para mandar o recado de que pode sair da área de controle. Blefe? Vale a pena acompanhar esse pôquer para ver quem, no final, terá cartas para arrastar as fichas.
Coluna (Nas entrelinhas) publicada hoje no Correio Braziliense.
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quarta-feira, 25 de novembro de 2009
Fui desmascarado: sou financiado pelo DEM
A incapacidade de convivência com a crítica é, para alguns, uma "disposição incorporada". Algo assim, sei lá!, como a forma mesma do ser. Eu me divirto com eles. Muito embora não abra muito a guarda; gente cheia de certeza e avessa à crítica, quase sempre, te fazem mal sem nenhum remorso.
Bueno. Tudo isso a troco de quê? Pois não é que, ao comentar as eleições internas do PT (Lula com Síndrome de Fátima Bezerra), pisei nos calos de alguém. Veja só a belezura que me escreveram:
Edmilson não perde a oportunidade de continuar dando seu pitaco sobre o pt local. Aliás, Edmilson, corre à boca grande que sua postura de professor decente só funciona até quando os prefeitos das prefeituras corruptas do DEMO o contratam a peso de ouro para suas consultorias.
Nofssa! Choquei! Euzinho só funciono com a grana de consultorias de prefeituras do DEMO? Geeente do céu! Essa rapaziada é mesmo criativa. Mas, por favor, continuem fazendo propaganda de mimzinho. Eu estou à disposição de qualquer prefeitura, do DEM, do PMDB, do PR, do PL, do PC do B, do PT e de qualquer outro P que apareça, para consultorias nas áreas de segurança pública (especialmente, na formulação de planos municipais de segurança pública). Tudo dentro dos conformes, claro! Mas, oh, que pena!, aparecem poucas oportunidades.
Agora, falando sério, vamos a alguns pontos interessantes da missiva:
1) "Edmilson não perde a oportunidade de continuar dando seu pitaco sobre o pt local".
Eu e a torcida do Flamengo temos todo o direito de dar pitaco sobre qualquer partido. Ora, ora, o PT, até onde eu sei, é um ator público atuando na esfera pública. E, mais que isso, funciona, em parte, com grana do fundo partidário (grana dos nossos impostos!). Ou seja, para que a máquina gire, ela precisa ser azeitada com o meu, o seu, o nosso suado dinheirinho. Então, tome pitaco! Se não querem pitaco, saiam da arena pública e fundem uma organização secreta...
2) "....os prefeitos das prefeituras corruptas do DEMO o contratam a peso de ouro".
Hum! Sei, os prefeitos do DEMO são corruptos? Quais? Quem? Onde? Eu não ponho a minha calejada mão no fogo por ninguém, mas acusar sem provas é tão, como diria, demodê, especialmente, depois das ondas de escândalos que tivemos nos últimos anos... Já o(a) missivista poderia levar em conta certas notícias sobre práticas não muito ortodoxas em prefeituras vistosas e, em passado distante, associadas a essa produção ideológica mitificadora chamada "modo petista de governar"... Só para equilibrar um pouco o jogo.
3) "contrata a peso de ouro"
Isso! Massageiem meu ego. Não faz mal nenhum! Embora, infelzmente, o comentário não corresponda à realidade, deu-me um grande alento. E cá estou eu a sonhar com contratos a peso de ouro. Uau!
Bueno. Tudo isso a troco de quê? Pois não é que, ao comentar as eleições internas do PT (Lula com Síndrome de Fátima Bezerra), pisei nos calos de alguém. Veja só a belezura que me escreveram:
Edmilson não perde a oportunidade de continuar dando seu pitaco sobre o pt local. Aliás, Edmilson, corre à boca grande que sua postura de professor decente só funciona até quando os prefeitos das prefeituras corruptas do DEMO o contratam a peso de ouro para suas consultorias.
Nofssa! Choquei! Euzinho só funciono com a grana de consultorias de prefeituras do DEMO? Geeente do céu! Essa rapaziada é mesmo criativa. Mas, por favor, continuem fazendo propaganda de mimzinho. Eu estou à disposição de qualquer prefeitura, do DEM, do PMDB, do PR, do PL, do PC do B, do PT e de qualquer outro P que apareça, para consultorias nas áreas de segurança pública (especialmente, na formulação de planos municipais de segurança pública). Tudo dentro dos conformes, claro! Mas, oh, que pena!, aparecem poucas oportunidades.
Agora, falando sério, vamos a alguns pontos interessantes da missiva:
1) "Edmilson não perde a oportunidade de continuar dando seu pitaco sobre o pt local".
Eu e a torcida do Flamengo temos todo o direito de dar pitaco sobre qualquer partido. Ora, ora, o PT, até onde eu sei, é um ator público atuando na esfera pública. E, mais que isso, funciona, em parte, com grana do fundo partidário (grana dos nossos impostos!). Ou seja, para que a máquina gire, ela precisa ser azeitada com o meu, o seu, o nosso suado dinheirinho. Então, tome pitaco! Se não querem pitaco, saiam da arena pública e fundem uma organização secreta...
2) "....os prefeitos das prefeituras corruptas do DEMO o contratam a peso de ouro".
Hum! Sei, os prefeitos do DEMO são corruptos? Quais? Quem? Onde? Eu não ponho a minha calejada mão no fogo por ninguém, mas acusar sem provas é tão, como diria, demodê, especialmente, depois das ondas de escândalos que tivemos nos últimos anos... Já o(a) missivista poderia levar em conta certas notícias sobre práticas não muito ortodoxas em prefeituras vistosas e, em passado distante, associadas a essa produção ideológica mitificadora chamada "modo petista de governar"... Só para equilibrar um pouco o jogo.
3) "contrata a peso de ouro"
Isso! Massageiem meu ego. Não faz mal nenhum! Embora, infelzmente, o comentário não corresponda à realidade, deu-me um grande alento. E cá estou eu a sonhar com contratos a peso de ouro. Uau!
quinta-feira, 18 de junho de 2009
A internet e a liberdade dos adversários
Mais abaixo, como tem ocorrido sempre, transcrevo o artigo que o jornalista Alon Feuerwerker publica semanalmente no Correio Brasiliense (e disponibiliza no seu blog).
A liberdade dos adversários (18/06)
As pessoas adoram a internet, desde que ela sirva aos seus propósitos. Já quando pode ser usada pelos adversários, ela é odiada. É uma contradição curiosa, mas previsívelEm meio a contestações sobre o recente resultado eleitoral, o governo do Irã vem cerceando o trabalho da imprensa e tentando limitar o fluxo de informações pela internet. O mundo mudou com as novas tecnologias da informação, mas ainda é possível em algum grau estabelecer restrições à atuação do jornalismo dito empresarial. Mais difícil de conter, entretanto, é a atividade jornalística difusa, pulverizada, exercida pelo cidadão comum. Graças exatamente à popularização da internet.
A principal novidade introduzida pela rede global digital é a redução do custo de distribuir informação. Essa queda levou ao colapso a tradicional unidirecionalidade ensinada nas escolas. Na prática, é possível dizer que todo mundo hoje em dia pode ser um jornalista. Inclusive para criticar os jornalistas e o jornalismo. Somos profissionais que ao longo do tempo nos acostumamos a dar a última palavra sobre tudo. Agora, devemos nos adaptar ao fato de que nosso veredito, além de não mais ser o último, está, com a internet, a anos-luz de ser o único.
A nova realidade vem sendo recebida com satisfação por quem habita o polo da contra-hegemonia. Quem está por baixo, quem se sente esmagado pelo pensamento único dominante, esse adora a internet. Já quem tem o domínio dos canais ditos hegemônicos, esse a vê com desconfiança. Dia sim outro também tem gente falando mal dos blogs. E no Senado Federal está para ser votado um texto com restrições ao uso da rede. A proposta, do senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG), é draconiana, completamente inadaptada aos novos tempos. Por isso mesmo tem chance de passar. Ainda mais no Senado que aí está.
Comum é a posição do sujeito oscilar de acordo com as conveniências. Ele adora a internet, desde que sirva aos seus propósitos. Já quando pode ser usada pelos inimigos, ele a odeia. É uma contradição curiosa, mas previsível. O difícil na democracia é aceitar e reconhecer a legitimidade do oposto, do adversário. Um caso emblemático são os direitos humanos. O que mais se vê é gente inchando a veia do pescoço para defender os direitos humanos dos amigos, enquanto relativiza os de quem circunstancialmente está na trincheira oposta.
Daí a importância de uma Justiça realmente dotada de independência, e de termos leis democráticas, a começar da Constituição. A Carta de 1988 pode ter vários defeitos, mas vem garantindo ao Brasil o mais longo e mais estável período de democracia na nossa História. Não é pouca coisa. Por isso, sempre que se fala em reformar a Constituição para lhe dar "mais funcionalidade" é preciso olhar com lupa e tentar enxergar os interesses envolvidos. Num país de tradição autoritária, é medida sempre prudente.
Ontem, o Supremo Tribunal Federal decidiu por 8 votos a 1 que é livre o exercício da profissão de jornalista, independente de o profissional ser portador de diploma universitário de jornalismo. No caso deste colunista, a decisão do STF tem pelo menos uma consequência prática: poderei exercer com tranquilidade, e alma leve, a atividade que escolhi (ou pela qual fui escolhido) há quase três décadas. Aqui, faço uma referência a meus colegas que, mesmo sem o diploma, têm ao longo destes anos procurado exercer com dignidade e competência a profissão.
Como parte interessada, sou suspeito para opinar. Mas que o Brasil está melhor depois da sessão de ontem do Supremo, isso está.
Começar pelos números
Saltitando no óleo quente, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), afirmou que vai dar publicidade à lista dos salários dos funcionários da Casa. Espera-se que sejam os vencimentos brutos. Vamos ver se ele terá força para cumprir o prometido. Em São Paulo, o prefeito Gilberto Kassab (DEM) já fez o que Sarney promete. Kassab enfrenta resistências na Justiça, mas tomara que tenha sucesso na empreitada.
Para evitar protelações, o presidente do Senado poderia começar com uma medida mais modesta. Divulgar só a relação dos vencimentos brutos, sem os nomes. Seria bom saber qual o maior salário do Senado, qual é a média salarial, qual é a concentração de renda entre os servidores. Não atingiria a privacidade de ninguém e serviria para lançar alguma luz sobre o assunto.
Coluna (Nas entrelinhas) publicada hoje no Correio Braziliense.
A liberdade dos adversários (18/06)
As pessoas adoram a internet, desde que ela sirva aos seus propósitos. Já quando pode ser usada pelos adversários, ela é odiada. É uma contradição curiosa, mas previsívelEm meio a contestações sobre o recente resultado eleitoral, o governo do Irã vem cerceando o trabalho da imprensa e tentando limitar o fluxo de informações pela internet. O mundo mudou com as novas tecnologias da informação, mas ainda é possível em algum grau estabelecer restrições à atuação do jornalismo dito empresarial. Mais difícil de conter, entretanto, é a atividade jornalística difusa, pulverizada, exercida pelo cidadão comum. Graças exatamente à popularização da internet.
A principal novidade introduzida pela rede global digital é a redução do custo de distribuir informação. Essa queda levou ao colapso a tradicional unidirecionalidade ensinada nas escolas. Na prática, é possível dizer que todo mundo hoje em dia pode ser um jornalista. Inclusive para criticar os jornalistas e o jornalismo. Somos profissionais que ao longo do tempo nos acostumamos a dar a última palavra sobre tudo. Agora, devemos nos adaptar ao fato de que nosso veredito, além de não mais ser o último, está, com a internet, a anos-luz de ser o único.
A nova realidade vem sendo recebida com satisfação por quem habita o polo da contra-hegemonia. Quem está por baixo, quem se sente esmagado pelo pensamento único dominante, esse adora a internet. Já quem tem o domínio dos canais ditos hegemônicos, esse a vê com desconfiança. Dia sim outro também tem gente falando mal dos blogs. E no Senado Federal está para ser votado um texto com restrições ao uso da rede. A proposta, do senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG), é draconiana, completamente inadaptada aos novos tempos. Por isso mesmo tem chance de passar. Ainda mais no Senado que aí está.
Comum é a posição do sujeito oscilar de acordo com as conveniências. Ele adora a internet, desde que sirva aos seus propósitos. Já quando pode ser usada pelos inimigos, ele a odeia. É uma contradição curiosa, mas previsível. O difícil na democracia é aceitar e reconhecer a legitimidade do oposto, do adversário. Um caso emblemático são os direitos humanos. O que mais se vê é gente inchando a veia do pescoço para defender os direitos humanos dos amigos, enquanto relativiza os de quem circunstancialmente está na trincheira oposta.
Daí a importância de uma Justiça realmente dotada de independência, e de termos leis democráticas, a começar da Constituição. A Carta de 1988 pode ter vários defeitos, mas vem garantindo ao Brasil o mais longo e mais estável período de democracia na nossa História. Não é pouca coisa. Por isso, sempre que se fala em reformar a Constituição para lhe dar "mais funcionalidade" é preciso olhar com lupa e tentar enxergar os interesses envolvidos. Num país de tradição autoritária, é medida sempre prudente.
Ontem, o Supremo Tribunal Federal decidiu por 8 votos a 1 que é livre o exercício da profissão de jornalista, independente de o profissional ser portador de diploma universitário de jornalismo. No caso deste colunista, a decisão do STF tem pelo menos uma consequência prática: poderei exercer com tranquilidade, e alma leve, a atividade que escolhi (ou pela qual fui escolhido) há quase três décadas. Aqui, faço uma referência a meus colegas que, mesmo sem o diploma, têm ao longo destes anos procurado exercer com dignidade e competência a profissão.
Como parte interessada, sou suspeito para opinar. Mas que o Brasil está melhor depois da sessão de ontem do Supremo, isso está.
Começar pelos números
Saltitando no óleo quente, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), afirmou que vai dar publicidade à lista dos salários dos funcionários da Casa. Espera-se que sejam os vencimentos brutos. Vamos ver se ele terá força para cumprir o prometido. Em São Paulo, o prefeito Gilberto Kassab (DEM) já fez o que Sarney promete. Kassab enfrenta resistências na Justiça, mas tomara que tenha sucesso na empreitada.
Para evitar protelações, o presidente do Senado poderia começar com uma medida mais modesta. Divulgar só a relação dos vencimentos brutos, sem os nomes. Seria bom saber qual o maior salário do Senado, qual é a média salarial, qual é a concentração de renda entre os servidores. Não atingiria a privacidade de ninguém e serviria para lançar alguma luz sobre o assunto.
Coluna (Nas entrelinhas) publicada hoje no Correio Braziliense.
quarta-feira, 10 de junho de 2009
O jogo do poder
Abaixo, postei artigo do jornalista Alon Feuerwerker, publicado na edição de hoje do Correio Brasiliense e republicado no seu blog. Vale a pena ler! Como sempre, você vai enontrar, no texto do Alon, uma análise crítica e consistente do jogo político que os atores principais estão armando para as eleições de 2010.
Companheiro de viagem (10/06)
Alon Feuerwerker
Avalia o PT que a retomada da popularidade e da força política de Lula dificulta muito a ação de quem no PMDB deseja engatar o vagão na locomotiva tucana
A um ano da definição oficial dos candidatos, começam a se desenhar cenários em locais estratégicos. No Rio Grande do Sul PT e PMDB caminham para ter cada um seu nome na luta pelo Piratini. Entre os petistas, a tese de abrir mão em favor do PMDB gaúcho não deu nem para a largada. Tarso Genro será o candidato, tendo concordado que a ministra Dilma Rousseff suba em dois palanques no estado, o dele e o de José Fogaça (ou Germano Rigotto). Com isso, o petismo riograndense espera neutralizar as tentações pró-tucanas do peemedebismo local.
No Rio de Janeiro o governador Sergio Cabral (PMDB) e o prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Farias (PT), abriram, por iniciativa de terceiros, um canal de diálogo direto. Luiz Inácio Lula da Silva quer a aliança fluminense e agora o cenário mais provável é o PT oferecer o vice de Cabral na reeleição, podendo ser o próprio Lindberg. Outra opção do prefeito é o Senado. O fraco desempenho de Alessandro Molon ano passado na capital não deixa no Rio margem maior de manobra para quem no PT defende a candidatura própria.
Em Minas há um ensaio de dança para levar o ministro Hélio Costa (PMDB) à reeleição no Senado. O também ministro Patrus Ananias concorreria ao governo, com o ex-prefeito Fernando Pimentel reservado para uma função de comando na campanha de Dilma. Dos três estados Minas é onde a articulação está mais verde, dada a vantagem atual de Costa nas pesquisas. Há, porém, dúvidas, inclusive no PMDB, sobre sua capacidade de chegada num processo eleitoral polarizado com o nome apoiado pelo governador Aécio Neves.
Quando — e se— o Rio Grande do Sul, o Rio de Janeiro e as Minas Gerais afinal forem equacionados o PT espera isolar o PMDB paulista, que já marcha nas fileiras tucanas. Isso apesar de o presidente da Câmara dos Deputados, Michel Temer, ele próprio de São Paulo, movimentar-se nos bastidores pleiteando a vaga de vice na chapa de Dilma. O problema de Temer: o controle do ex-governador Orestes Quércia, hoje aliado do governador José Serra, sobre a seção regional da legenda.
Conquistado o apoio do PMDB nos três estados, espera o PT garantir folgada maioria na convenção nacional peemedebista, e com isso capturar um tempo que dará a Dilma condições ideais para durante 45 dias desfilar no rádio e na tevê falando bem da administração Lula e defendendo que o governo deve continuar, agora pelas mãos dela. Mais: o apoio oficial nacional do PMDB será usado junto à Justiça Eleitoral para impedir que os ramos pró-tucanos do peemedebismo possam, nos dias reservados às campanhas estaduais, fazer campanha para o candidato a presidente do PSDB.
Mas, perguntaria Manuel dos Santos (o Garrincha) a Vicente Feola, e os russos, estão de acordo? Avalia o PT que a retomada da popularidade e da força política de Lula dificulta muito a ação de quem no PMDB deseja engatar o vagão na locomotiva tucana. Segundo essa esperança, o PMDB não trocaria o certo pelo duvidoso. Não abriria mão da gorda fatia que controla hoje na esfera federal, onde é o principal pilar do governo, para entrar dividido e coadjuvante numa composição que já tem donos. Aliás, é consenso entre os peemedebistas em Brasília que é altamente improvável o partido alcançar com outros parceiros a influência que adquiriu ao apoiar o projeto político do PT.
Com um trunfo adicional. Agora, quem está na cadeira é Lula, que de algum modo contrabalança a fraqueza relativa do PT. Sem Lula, um governo do PT ficaria bem mais dependente do PMDB, acredita o companheiro de viagem.
Ponto futuro
Desde o início da crise, em setembro, o governo afirma que o pior ficou para trás. Como alguma hora certamente o pior terá ficado para trás, o governo vai colher no ponto futuro os dividendos políticos. A esperança agora da oposição é uma curva em W, algo que interrompa a (lenta) retomada da economia. Como de hábito, em vez de disputar a narrativa a oposição torce.
Coluna (Nas entrelinhas) publicada hoje no Correio Braziliense.
Companheiro de viagem (10/06)
Alon Feuerwerker
Avalia o PT que a retomada da popularidade e da força política de Lula dificulta muito a ação de quem no PMDB deseja engatar o vagão na locomotiva tucana
A um ano da definição oficial dos candidatos, começam a se desenhar cenários em locais estratégicos. No Rio Grande do Sul PT e PMDB caminham para ter cada um seu nome na luta pelo Piratini. Entre os petistas, a tese de abrir mão em favor do PMDB gaúcho não deu nem para a largada. Tarso Genro será o candidato, tendo concordado que a ministra Dilma Rousseff suba em dois palanques no estado, o dele e o de José Fogaça (ou Germano Rigotto). Com isso, o petismo riograndense espera neutralizar as tentações pró-tucanas do peemedebismo local.
No Rio de Janeiro o governador Sergio Cabral (PMDB) e o prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Farias (PT), abriram, por iniciativa de terceiros, um canal de diálogo direto. Luiz Inácio Lula da Silva quer a aliança fluminense e agora o cenário mais provável é o PT oferecer o vice de Cabral na reeleição, podendo ser o próprio Lindberg. Outra opção do prefeito é o Senado. O fraco desempenho de Alessandro Molon ano passado na capital não deixa no Rio margem maior de manobra para quem no PT defende a candidatura própria.
Em Minas há um ensaio de dança para levar o ministro Hélio Costa (PMDB) à reeleição no Senado. O também ministro Patrus Ananias concorreria ao governo, com o ex-prefeito Fernando Pimentel reservado para uma função de comando na campanha de Dilma. Dos três estados Minas é onde a articulação está mais verde, dada a vantagem atual de Costa nas pesquisas. Há, porém, dúvidas, inclusive no PMDB, sobre sua capacidade de chegada num processo eleitoral polarizado com o nome apoiado pelo governador Aécio Neves.
Quando — e se— o Rio Grande do Sul, o Rio de Janeiro e as Minas Gerais afinal forem equacionados o PT espera isolar o PMDB paulista, que já marcha nas fileiras tucanas. Isso apesar de o presidente da Câmara dos Deputados, Michel Temer, ele próprio de São Paulo, movimentar-se nos bastidores pleiteando a vaga de vice na chapa de Dilma. O problema de Temer: o controle do ex-governador Orestes Quércia, hoje aliado do governador José Serra, sobre a seção regional da legenda.
Conquistado o apoio do PMDB nos três estados, espera o PT garantir folgada maioria na convenção nacional peemedebista, e com isso capturar um tempo que dará a Dilma condições ideais para durante 45 dias desfilar no rádio e na tevê falando bem da administração Lula e defendendo que o governo deve continuar, agora pelas mãos dela. Mais: o apoio oficial nacional do PMDB será usado junto à Justiça Eleitoral para impedir que os ramos pró-tucanos do peemedebismo possam, nos dias reservados às campanhas estaduais, fazer campanha para o candidato a presidente do PSDB.
Mas, perguntaria Manuel dos Santos (o Garrincha) a Vicente Feola, e os russos, estão de acordo? Avalia o PT que a retomada da popularidade e da força política de Lula dificulta muito a ação de quem no PMDB deseja engatar o vagão na locomotiva tucana. Segundo essa esperança, o PMDB não trocaria o certo pelo duvidoso. Não abriria mão da gorda fatia que controla hoje na esfera federal, onde é o principal pilar do governo, para entrar dividido e coadjuvante numa composição que já tem donos. Aliás, é consenso entre os peemedebistas em Brasília que é altamente improvável o partido alcançar com outros parceiros a influência que adquiriu ao apoiar o projeto político do PT.
Com um trunfo adicional. Agora, quem está na cadeira é Lula, que de algum modo contrabalança a fraqueza relativa do PT. Sem Lula, um governo do PT ficaria bem mais dependente do PMDB, acredita o companheiro de viagem.
Ponto futuro
Desde o início da crise, em setembro, o governo afirma que o pior ficou para trás. Como alguma hora certamente o pior terá ficado para trás, o governo vai colher no ponto futuro os dividendos políticos. A esperança agora da oposição é uma curva em W, algo que interrompa a (lenta) retomada da economia. Como de hábito, em vez de disputar a narrativa a oposição torce.
Coluna (Nas entrelinhas) publicada hoje no Correio Braziliense.
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