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sábado, 10 de setembro de 2011

Imprensa e política

Leia, abaixo, o artigo da semana de Paulo Linhares. Vale a pena conferir!

A OBSESSÃO DA VEJA
Paulo Afonso Linhares

Recentemente, alguém alertou que a Veja, revista semanal da família Civita, trazia uma matéria em que desancava o ex-ministro José Dirceu, um verdadeiro tiro de misericórdia. Anos após de ter abandonado a leitura desse faccioso hebdomadário, justo em razão da extremada parcialidade de como tratava certos temas da política nacional. Uma mocinha bem simpática até ligou oferecendo alguns meses de assinatura dessa revista gratuitamente. Ainda assim não foi aceita. Jornalismo amarelo nunca mais. Todavia, aquela informação sobre o massacre de Dirceu que a revista fazia, açulou-me a curiosidade. Até mesmo para medir o grau de sandice nestes tempos em que os redatores, colunistas e repórteres da Veja não poupam elogios à presidente Dilma Rousseff.

De fato, já na capa a imagem de José Dirceu lembrava essa gente da Cosa Nostra e a chamada prometia incríveis revelações sobre suas estrepolias nas cercanias do Palácio do Planalto. Depois de muitas páginas enfadonhas com publicidade de carros de luxo, chega-se à matéria tão bombasticamente anunciada. Um factóide da pior estirpe. Parafraseando o poeta Horácio, a montanha (dos Civita) rugiu e pariu um ridículo rato. Uma atitude estúpida capaz de fazer corar o velho Keith Rupert Murdoch, dono de um balaio de tablóides sensacionalistas: os repórteres de Veja coletaram horas de filmagem de uma câmera montada em frente ao apartamento que o líder petista ocupa em hotel brasiliense e a partir daí descreveram todas as visitas recebidas por ele, ademais de fazer (dasautorizadas) ilações acerca do que esses políticos e ocupantes de cargos relevantes no governo federal tratavam com Dirceu, terminando por afirmar genericamente que ali se conspirava contra o governo Dilma Rousseff. Claro, tiveram dificuldades de explicar porque algumas lideranças políticas de outras extrações, inclusive membros importantes do PSDB, visitavam o político petista. Mesmo espezinhado como tem sido, Dirceu tem direito à incolumidade de sua vida privada.

Entrevistados, os visitantes, em sua maioria, disseram que eram amigos de Dirceu; outros, após constatar que Dirceu é um dos mais articulados quadros políticos da República – coisa que sua cassação nem o processo do “Mensalão” puderam tirar – afirmaram que gostavam de ouvir suas opiniões sobre o momento político brasileiro. E daí? Seriam crimes a amizade e a admiração que devotam àquele político que, a despeito de tudo que se disse, até agora nada se provou contra ele? Que crime praticou José Dirceu para merecer esse tipo de assédio moral que lhe impõe a revista Veja? Quando usou uma câmera para bisbilhotar a entrada do quarto de hotel onde se hospeda Dirceu, a Veja criou o fato jornalístico sobre o qual se assenta a matéria publicada, atropelando ética jornalística. Ao jornalista não cabe produzir fatos, mas, divulgá-los e sobre eles produzir reflexões.

Ressalte-se que em favor de José Dirceu milita o princípio da presunção de inocência, de raiz constitucional, segundo o qual até prova em contrário presume-se inocente o acusado de delito. Assim, os duros epítetos contra o petista, largamente disseminados no texto, são descabidos, pois até presente momento nenhuma condenação lhe foi imposta pelo Supremo Tribunal Federal, eis que pende de julgamento o processo do “Mensalão”. Até que venha a lume uma decisão dessa Corte, José Dirceu deve ser tratado de um modo bem diverso daquele como a Veja o tratou. Como um malfeitor que porta doença tão contagiosa que o distancia do contato com os mortais comuns, mesmo que sejam seus amigos e admiradores. Pelo que demonstra a matéria jornalística antes referida, além de todas as reprimendas e infortúnios impostos à pessoa de Dirceu, certamente mereceria que sua casa fosse derrubada, derramado sal sobre os escombros, e seus descendentes declarados infames até a quinta geração, como dito na sentença de D. Maria I, a Louca, que condenou o alferes Tiradentes. Ou, se preferir, a revista dos Civitas poderia parafrasear aquele conhecido bordão gritado diariamente por Catão, o Antigo, no Senado romano, e jogar no frontispício de todas as capas de sua edição semanal, para demarcar sua intolerância e obsessão: José Dirceu delenda est! (“José Dirceu deve ser destruído!”). Com a rica e bela Cartago até que deu certo...

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Os atores da crise no Senado: uma avaliação

Estou em uma roda-viva. Na semana passada, fiquei no Rio, participando da SBS; nesta, estou em Brasília, trabalhando na CAPES. Aí falta tempo para postar. No momento, estou em uma sala de trabalho, no intervalo. Aproveito, então, para postar algo sobre a interminável crise no Senado. Tomo de empréstimo, então, artigo de análise feito pelo Alon Feurewercker. Confira!

Válvula de escape para os fatos (04/08)
O PMDB precisa oferecer uma saída para a crise. Mesmo o maior partido do país não tem como manter indefinidamente reféns o Legislativo e o presidente da República

Para um partido de profissionais, o PMDB vem se conduzindo de modo surpreendentemente amador nesta crise do Senado. Pressionado pelas revelações sobre os malfeitos na Casa, o partido reage com uma atitude defensiva, debitando tudo ao ambiente de luta política e ameaçando retaliar contra os adversários. Tem-se a impressão de que o profissionalismo do PMDB esgota-se no operar da pequena política, na interface entre esta e a máquina estatal. Já quando se trata de trabalhar com a opinião pública, aparece o amadorismo.

Talvez o estranho comportamento do PMDB se fundamente num mito: se a opinião pública foi neutralizada na crise de 2005, permitindo a reeleição do presidente da República no ano seguinte, e se a internet limita o poder dos grandes veículos de comunicação, basta agora formar uma maioria aritmética, denunciar os propósitos políticos dos adversários e acenar com retaliações violentas. Será?

Na crise de 2005, Luiz Inácio Lula da Silva sobreviveu, mas pagou um preço. Aceitou que fossem à bandeja quase todas as cabeças coroadas do Partido dos Trabalhadores, companheiros da longa marcha que levou a legenda ao poder. Para que na campanha da reeleição, quando confrontado com as muitas denúncias de corrupção no seu governo, pudesse responder que a diferença sobre os presidentes anteriores era uma só: agora a corrupção estava sendo combatida de verdade. Doesse a quem doesse.

Além do mais, não há como comparar os respectivos cacifes políticos, de Lula e do Senado. Acho que nem o mais fanático defensor de Sarney discorda disso.

Outro equívoco é imaginar que a emergência da internet enfraquece a opinião pública. É o contrário. Ao dar voz a muito mais gente, a massificação da internet obriga os atores públicos a dialogar permanentemente com a opinião pública. Uma confusão frequente é imaginar que vence esse tipo de batalha na rede quem grita mais, quem coloca mais gente para gritar ou quem ataca mais. Não é assim. Sempre é preciso oferecer uma válvula de escape para os fatos.

Há alguns fatos no Senado. Há atos secretos, às centenas. Atos celebrados e não publicados ao longo de diversos mandatos de presidentes da Casa. A gravidade do assunto foi reconhecida pelo próprio Sarney, quando divulgou a anulação de tais atos. Se bem que a revogação efetiva esteja a tardar, certamente por dificuldades burocráticas e políticas. Atos secretos do poder são graves porque, como já dito antes, deixam o cidadão à mercê dos poderosos, sem possibilidade de defesa. São um atentado à democracia, uma sombra ditatorial a pairar cobre o estado de direito.

O PMDB talvez imagine que a opinião pública aceitará a tese de que os problemas do Senado são administrativos, e que a mesma cúpula que, na melhor das hipóteses, conviveu com os malfeitos por anos deve agora estar encarregada de corrigi-los. Aritmeticamente, isso pode até alcançar (ou manter) o apoio da maioria dos senadores. Mas não tem apoio social. É por isso que o custo de sustentar o status quo no Senado vem sendo lançado no cheque especial de Lula.

Para além de se mostrar coeso em torno do próprio poder, o PMDB precisa oferecer uma saída para a crise. Mesmo o maior partido do país não tem como manter indefinidamente reféns o Legislativo e o presidente da República.


É pouco

A sessão de ontem do Senado foi uma boa medida da temperatura da crise. Com acusações e ameaças. O núcleo duro do situacionismo abriu fogo em plenário contra o senador Pedro Simon (PMDB-RS), que pela enésima vez pedia a renúncia do comandante da Casa. A dúvida é até quando os demais segmentos da base governista estarão alinhados ao PMDB na guerra total, sem quartel. A maioria da bancada do PT não caminha mais com o aliado. No PSB e no PDT, a relação com o peemedebismo está em franca deterioração. Assim, restam o próprio PMDB e o PTB como forças ponderáveis a resistir. Parece pouco. No PMDB há certa consciência da situação. Mas há também a confiança de que o Palácio do Planalto não tem alternativa, a não ser continuar sustentando o grupo dominante no Senado. E segue o jogo.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Lula recebe importante prêmio, mas a grande imprensa finge que nada aconteceu...

Reproduzo aí abaixo a interessante nota postada pelo sempre arguto jornalista Ricardo Kostho em seu criativo balaio.

Prêmio de Lula orgulha o país, mas imprensa esconde

Caros leitores,

são onze e meia da noite e não venço liberar os comentários. Ainda restam mais de 130 na fila e estou morrendo de sono. Passei a tarde toda viajando e aqui onde estou, em São Sebastião, a conexão da internet é muito lenta.

Por favor, não pensem em censura. Os comentários excluídos até agora foram muito poucos _ só aqueles que continham ofensas graves ou eram pura baixaria. Volto daqui a pouco, assim que acordar, para liberar os comentários. Boa noite a todos e muito obrigado pela participação de voces neste debate acalorado aqui no Balaio.

Manhã de quinta-feira: só agora consegui liberar todos os comentários, mais de 400, inclusive os que foram enviados ontem.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu na noite desta terça-feira, em Paris, o prêmio Félix Houphouët-Boigny concedido pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a educação, a ciência e a cultura).

Presidido por Henry Kissinger, ex-secretário de Estado dos Estados Unidos, o júri premiou Lula “por sua atuação na promoção da paz e da igualdade de direitos”.

Não é um premiozinho qualquer. Entre as 23 personalidades mundiais que receberam o prêmio até hoje _ anteriormente nenhum deles brasileiro _ , estão Nelson Mandela, ex-presidente da África do Sul, Yitzhak Rabin, ex-premiê israelense, Yasser Arafat, ex-presidente da Autoridade Nacional Palestina, e Jimmy Carter, ex-presidente dos Estados Unidos.

Secretário-executivo do prêmio, Alioune Traoré lembrou durante a cerimonia na sede da Unesco que um terço dos vencedores anteriores ganhou depois o Prêmio Nobel da Paz.
Pode-se imaginar no Brasil o trauma que isto causaria a certos setores políticos e da mídia caso o mesmo aconteça com Lula.


Thaoré disse a Lula que, ao receber este prêmio, “o senhor assume novas responsabilidades na história”.

Mas nada disso foi capaz de comover os editores dos dois jornalões paulistas, Folha e Estadão, que simplesmente ignoraram o fato em suas primeiras páginas. Dos três grandes jornais nacionais, apenas O Globo destacou a entrega do prêmio no alto da capa.

Para o Estadão, mais importante do que o prêmio recebido por Lula foi a manifestão de dois ativistas do Greenpeace que exibiram faixas conclamando Lula a salvar a Amazônia e o clima. “Ambientalistas protestam durante premiação de Lula”, foi o título da página A7 do Estadão.
O protesto do Greenpeace foi também o tema das únicas fotografias publicadas pela Folha e pelo Estadão. No final do texto, o Estadão registrou que Lula pediu desculpas aos jovens ativistas, retirados com truculência pela segurança, e “reverteu o constragimento a seu favor, sendo ovacionado pelo público que lotava o auditório”.


“O alerta destes jovens vale para todos nós, porque a Amazônia tem que ser realmente preservada”, afirmou Lula em seu discurso, ao longo do qual foi aplaudido três vezes quando pediu o fim do embargo a Cuba e a criação do Estado palestino, e condenou o golpe em Honduras.
“Sinto-me honrado de partilhar desta distinção. Recebo esse prêmio em nome das conquistas recentes do povo brasileiro”, afirmou Lula para os convidados das Nações Unidas.


A honraria inédita concedida a um presidente brasileiro, motivo de orgulho para o país, também não mereceu constar da escalada de manchetes do Jornal Nacional. A notícia da entrega do prêmio no principal telejornal noturno saiu ensanduichada entre declarações de Lula sobre a crise no Senado e o protesto do Greenpeace.

É verdade que ontem foi o dia do grande show promovido nos funerais de Michael Jackson, mas também ganhou destaque na escalada e no noticiário a comemoração pelos quinze anos do Plano Real (tema tratado neste Balaio na semana passada) promovida no plenário do Senado, em que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso aproveitou para atacar Lula.

Diante da manifesta má-vontade demonstrada pela imprensa neste episódio da cobertura da entrega do Prêmio da Unesco, dá para entender porque o governo Lula procura formas alternativas para se comunicar com a população fora da grande mídia.

Muitas vezes, quando trabalhava no governo, e mesmo depois que saí, discordei dele nas críticas que fazia à atuação da imprensa, a ponto de dizer recentemente que não lia mais jornais porque lhe davam azia.

Exageros à parte, mesmo que esta atitude beligerante lhe cause mais prejuízos do que dividendos, na minha modesta opinião, o fato é que Lula não deixa de ter razão quando se queixa de uma tendência da nossa mídia de inverter a máxima de Rubens Ricupero, aquele que deu uma banana para os escrúpulos.

“O que é bom a gente esconde, o que é ruim a gente divulga”, parece ser mesmo a postura de boa parte dos editores da nossa imprensa com um estranho gosto pelo noticiário negativo, priorizando as desgraças e minimizando as coisas boas que também acontecem no país.

Valeu, Lula. Parabéns!

quinta-feira, 18 de junho de 2009

A internet e a liberdade dos adversários

Mais abaixo, como tem ocorrido sempre, transcrevo o artigo que o jornalista Alon Feuerwerker publica semanalmente no Correio Brasiliense (e disponibiliza no seu blog).

A liberdade dos adversários (18/06)
As pessoas adoram a internet, desde que ela sirva aos seus propósitos. Já quando pode ser usada pelos adversários, ela é odiada. É uma contradição curiosa, mas previsívelEm meio a contestações sobre o recente resultado eleitoral, o governo do Irã vem cerceando o trabalho da imprensa e tentando limitar o fluxo de informações pela internet. O mundo mudou com as novas tecnologias da informação, mas ainda é possível em algum grau estabelecer restrições à atuação do jornalismo dito empresarial. Mais difícil de conter, entretanto, é a atividade jornalística difusa, pulverizada, exercida pelo cidadão comum. Graças exatamente à popularização da internet.

A principal novidade introduzida pela rede global digital é a redução do custo de distribuir informação. Essa queda levou ao colapso a tradicional unidirecionalidade ensinada nas escolas. Na prática, é possível dizer que todo mundo hoje em dia pode ser um jornalista. Inclusive para criticar os jornalistas e o jornalismo. Somos profissionais que ao longo do tempo nos acostumamos a dar a última palavra sobre tudo. Agora, devemos nos adaptar ao fato de que nosso veredito, além de não mais ser o último, está, com a internet, a anos-luz de ser o único.

A nova realidade vem sendo recebida com satisfação por quem habita o polo da contra-hegemonia. Quem está por baixo, quem se sente esmagado pelo pensamento único dominante, esse adora a internet. Já quem tem o domínio dos canais ditos hegemônicos, esse a vê com desconfiança. Dia sim outro também tem gente falando mal dos blogs. E no Senado Federal está para ser votado um texto com restrições ao uso da rede. A proposta, do senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG), é draconiana, completamente inadaptada aos novos tempos. Por isso mesmo tem chance de passar. Ainda mais no Senado que aí está.

Comum é a posição do sujeito oscilar de acordo com as conveniências. Ele adora a internet, desde que sirva aos seus propósitos. Já quando pode ser usada pelos inimigos, ele a odeia. É uma contradição curiosa, mas previsível. O difícil na democracia é aceitar e reconhecer a legitimidade do oposto, do adversário. Um caso emblemático são os direitos humanos. O que mais se vê é gente inchando a veia do pescoço para defender os direitos humanos dos amigos, enquanto relativiza os de quem circunstancialmente está na trincheira oposta.

Daí a importância de uma Justiça realmente dotada de independência, e de termos leis democráticas, a começar da Constituição. A Carta de 1988 pode ter vários defeitos, mas vem garantindo ao Brasil o mais longo e mais estável período de democracia na nossa História. Não é pouca coisa. Por isso, sempre que se fala em reformar a Constituição para lhe dar "mais funcionalidade" é preciso olhar com lupa e tentar enxergar os interesses envolvidos. Num país de tradição autoritária, é medida sempre prudente.

Ontem, o Supremo Tribunal Federal decidiu por 8 votos a 1 que é livre o exercício da profissão de jornalista, independente de o profissional ser portador de diploma universitário de jornalismo. No caso deste colunista, a decisão do STF tem pelo menos uma consequência prática: poderei exercer com tranquilidade, e alma leve, a atividade que escolhi (ou pela qual fui escolhido) há quase três décadas. Aqui, faço uma referência a meus colegas que, mesmo sem o diploma, têm ao longo destes anos procurado exercer com dignidade e competência a profissão.

Como parte interessada, sou suspeito para opinar. Mas que o Brasil está melhor depois da sessão de ontem do Supremo, isso está.

Começar pelos números

Saltitando no óleo quente, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), afirmou que vai dar publicidade à lista dos salários dos funcionários da Casa. Espera-se que sejam os vencimentos brutos. Vamos ver se ele terá força para cumprir o prometido. Em São Paulo, o prefeito Gilberto Kassab (DEM) já fez o que Sarney promete. Kassab enfrenta resistências na Justiça, mas tomara que tenha sucesso na empreitada.

Para evitar protelações, o presidente do Senado poderia começar com uma medida mais modesta. Divulgar só a relação dos vencimentos brutos, sem os nomes. Seria bom saber qual o maior salário do Senado, qual é a média salarial, qual é a concentração de renda entre os servidores. Não atingiria a privacidade de ninguém e serviria para lançar alguma luz sobre o assunto.

Coluna (Nas entrelinhas) publicada hoje no Correio Braziliense.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Eugênio Bucci e a tragedia com o avião da Air France

Há anos, muitos anos, para ser sincero, acompanho o que o jornalista e professor Eugênio Bucci escreve. Seus escritos sempre levam-nos a pensar um pouco mais sobre a nossa tragicômica realidade cotidiana no Brasil e a sua, digamos, apreensão pela mídia nativa. Por isso, reproduzo, abaixo, artigo de sua autoria, publicado na edição de hoje do Estadão, comentando o acidente com o avião da Air France. Confira!


Essa viagem para o vazio
Eugênio Bucci


Para tudo na vida há um poema de Drummond. Para quase tudo na morte, também. Para um desastre aéreo, por exemplo, lá está ele, Carlos Drummond de Andrade, com as palavras necessárias:

"A morte dispôs poltronas para o conforto/ da espera. Aqui se encontram/ os que vão morrer e não sabem."(...)

"Sinto-me natural a milhares de metros de altura,/ nem ave nem mito,/ guardo consciência de meus poderes,/ e sem mistificação eu voo,/ sou um corpo voante e conservo bolsos, relógios, unhas,/ ligado à terra pela memória/ e pelo costume dos músculos,/ carne em breve explodindo."(...)

"Ó brancura, serenidade sob a violência/ da morte sem aviso prévio,/ cautelosa, não obstante irreprimível/ aproximação de um perigo atmosférico/ golpe vibrado no ar, lâmina de vento/ no pescoço, raio/ choque estrondo fulguração/ rolamos pulverizados/ caio verticalmente e me transformo em notícia."

Os versos de Morte no avião compareceram, ainda que em silêncio, ao noticiário da semana. Sempre é assim quando somos sobressaltados por um acidente aéreo de proporções tão graves como o do voo 447 da Air France. A gente quase não fala desses versos, talvez para não provocar mais dor sobre a dor já instalada, mas eles estão ali, presentes, doendo. O Airbus A330-200, que sumiu do mapa às 23h14 do domingo, quando sobrevoava o Atlântico, não pousou em Paris, como programado, mas nas páginas dos jornais. Cada uma das 228 pessoas a bordo "caiu verticalmente e se transformou em notícia". Exatamente como Drummond avisa.

A palavra "notícia" fecha o poema como se o cortasse bruscamente. Ela é chave para compreendermos como o jornalismo, nesses casos, nos ajuda a aplacar o sofrimento. No verso final, a palavra "notícia" subverte o que seria a ordem natural das coisas. A "notícia" ocupa o lugar de "cadáver" ou mesmo de "espírito": surge como o destino certo dos que encontram a morte no avião. Dificilmente eles poderão ter um funeral como outros mortos normais, pois seus corpos se perderam. Nessas circunstâncias tão "antinaturais", é pelas manchetes que eles são velados - e é assim, velando-os, que as notícias confortam os que ficam.

Os jornais os velam, verdadeiramente, mas os velam a seu modo: não pelo silêncio, mas pelo excesso de palavras, em letras garrafais. É o que se passa agora, com o voo 447. Os noticiários se desdobram para resgatar não os corpos, mas a biografia das vítimas. Suas histórias e suas fotografias ocupam o lugar dos restos mortais. São elas, as biografias sintéticas e as fotografias, que são pranteadas. A moça que tinha medo de avião - e que, por isso, adiou o embarque por vários dias - está lá. O casal em lua de mel, também. O tripulante brasileiro que falava muitas línguas sorri. Nós os vemos em seus álbuns de família. Os parentes comparecem às mesmas páginas, desolados em saguões. É uma cerimônia fúnebre e ruidosa ao mesmo tempo. É o modo que a notícia tem de fazer seu luto.

Para alguns, a cobertura peca pelo sensacionalismo, mas não é bem assim. Nesses casos, pelo menos, não só assim. A própria poesia de Drummond fala em "choque, estrondo, fulguração", fala em "pulverização" de corpos humanos. Ela chama para si as cores espetaculares da catástrofe. Mais que denunciar "sensacionalismo", ela localiza na notícia a "morada final" desses mortos. A notícia sobre eles cumpriria uma função não declarada de consolar os que sobrevivem, atônitos. Sem o jornalismo nós talvez não tivéssemos como recobrir com palavras o vazio deixado pelos desaparecidos, e sem essas palavras não teríamos como superar a perda. Nessas ocasiões, as notícias seriam, então, o ritual que nos resta.

Assim é que, diante do que se passou com o voo AF 447, os jornais não descansam. Não conseguiriam descansar. As reportagens, as entrevistas com os especialistas - entrevistas exaustivas, mais que exclusivas -, as revelações das investigações sobre as causas do acidente, tudo se multiplica. Os jornais lidam com o trauma quase insuportável deixado por um avião que cai do ar e depois naufraga no oceano. Eles representam uma ansiedade que é de todos: a ansiedade de explicar o inexplicável, de processar a aceitação do inaceitável, simbolizar um sepultamento que na prática é inviável.

Na capa dos jornais de ontem apareceu a foto de um militar francês que, da janela de uma aeronave, olhava para o mar, com binóculos. Procurava sinais. Olhava para o que ainda não enxerga. Tentava ver o invisível. Estamos todos assim, à espera de um sinal, de uma forma de decifrar o desastre, precisamos de algo que nos convença de que existe, em algum lugar, de algum modo, uma explicação para o que aconteceu, uma falha mecânica, um erro humano. Precisamos de algo que nos autorize a acreditar que tudo não passou de um lamentável engano, uma distração que poderia ter sido evitada pela técnica e pela ciência.

Ainda ontem, no meio do dia, surgiram pistas: uma mancha de óleo, um objeto de sete metros de diâmetro, estilhaços flutuantes. A isso nos vamos apegar, a partir de agora. O noticiário vai-se abastecer desses resquícios e das ilações que eles permitirem. É assim que as notícias cuidarão de fechar a ferida que nos pôs cara a cara com o vazio que engoliu o Airbus 330-200. Cuidarão de soterrá-la. Quanto mais elas falarem do avião, menos pensaremos sobre o pesadelo que elas encobrem. Depois, a comoção vai passar. Aos poucos, saturados de notícias, nós vamos nos esquecer do acidente, do poema de Drummond e do vazio que nos espreita.

Eugênio Bucci é professor-doutor da Escola de Comunicações e Artes da USP e pesquisador do Instituto de Estudos Avançados da mesma universidade

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

A Bolívia, o referendo e a "nossa" imprensa



O presidente da Bolívia, Evo Morales, obteve mais de 60% dos votos no referendo de ontem. Nesse singular processo eleitoral, estava em jogo o mandato do presidente, de governadores e prefeitos. Bom, a cobertura da imprensa brasileira sobre a Bolívia, e mais especialmente sobre Evo Morales, é caricata e preconceituosa. E não se trata apenas da cada vez pior revista Veja. A Folha de São Paulo, nesse quesito, consegue ser pior do que o vetusto Estadão. Este post ficará gigantesco, mas é o jeito. Leia as coberturas da Folha e do Estadão, abaixo, e compare com aquela que é feita pelo jornal argentino Página 12.

FOLHA DE SÃO PAULO
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“Referendo ratifica Morales e autonomistas

Boca-de-urna indica prosseguimento do impasse político na Bolívia, já que presidente e principais opositores devem manter cargos

Devem perder cargo dois oposicionistas e um aliado de Morales; presidente diz que vai buscar agora a "reconciliação do país"

FLÁVIA MARREIRO
ENVIADA ESPECIAL A COCHABAMBA

Pesquisas de bocas-de-urna divulgadas por TVs na Bolívia apontavam que a população do país disse "sim" à gestão do presidente Evo Morales -mas também ao quarteto de governadores oposicionistas do leste do país- no referendo revogatório de ontem.
Segundo o dados do instituto Captura Consulting, Morales teria obtido 60% de "sim", contra 40% de "não", com grandes diferenças regionais. O presidente venceu em 5 dos 9 departamentos do país.
Seu principal rival, o governador de Santa Cruz, Rubén Costas, teria alcançado, segundo o mesmo instituto, 79% de votos favoráveis, enquanto seus companheiros oposicionistas de Tarija, Pando e Beni também permaneceriam em seus cargos. A margem de erro do estudo é de cinco pontos para mais ou menos.
Os únicos governadores revogados devem ser os oposicionistas Manfred Reyes Villa, de Cochabamba e José Luiz Paredes, de La Paz e o governista Alberto Aguilar, de Oruro. Os três deixariam os cargos independentemente da regra aplicada para interpretar os resultados, a aprovada pelo Congresso ou a modificada pelo Conselho Nacional Eleitoral (veja quadro).
Paredes, em coletiva à imprensa, admitiu a derrota, mas fez duras críticas ao governo, a quem acusou de instalar o medo no departamento de La Paz. "O político está sempre à frente da gestão", disse.
Já Reyes Villa disse ontem à tarde à Folha que não se submeteria ao resultado. "O povo me apoiará", disse (leia mais na pág. A15). Mais tarde, em coletiva, disse que seguirá "batalhando legalmente" para ficar no cargo. A polícia reforçou a segurança da sede do governo de Cochabamba para impedir que grupos ligados ao ao partido do presidente, o MAS (Movimento ao Socialismo), tentassem tomá-la à força.
Apesar da tensão que antecedeu o dia da votação, só foram registrados incidentes pontuais ontem no país inteiro. Houve várias denúncias de duplicação de títulos eleitorais, mas a opinião dos observadores internacionais do país era de que o processo transcorreu sem maiores problemas.
Se confirmado, o cenário era o esperado pelas últimas pesquisas de opinião e analistas e mantém, a princípio, o eixo de conflito na Bolívia: o altiplano, liderado por La Paz, com Morales, e a meia-lua, no leste, com lideranças regionais que desejam autonomia.
Ontem, após votar em Villa Tanuri , no Chapare, seu berço político no departamento de Cochabamba, o presidente boliviano voltou a dizer que buscaria a "reconciliação" do país após o referendo. Disse também que prentendia retomar a discussão, com a oposição, sobre a Constituição aprovada no ano passado e pendente de referendo. A nova Carta é um dos principais pontos de divergência entre as partes."


Assinante UOL lê a matéria completa aqui.


ESTADÃO
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Após vitória em referendo, Evo faz apelo pela unidade do país

LA PAZ - Depois de seu governo ser ratificado no referendo deste domingo, 9, o presidente da Bolívia, Evo Morales, fez um apelo à unidade dos bolivianos que, segundo disse, será alcançada "juntando a nova Constituição Política do Estado com os estatutos autônomos", mas respeitando a legalidade.
Morales emitiu uma mensagem ao país do balcão presidencial do Palácio do Governo de La Paz, após o referendo sobre os mandatos no qual, segundo as pesquisas, saiu ratificado com um apoio mais amplo que o que teve em sua vitória eleitoral de 2005.

Perante uma multidão reunida na Praça Murillo, Morales expressou seu respeito pelos governadores regionais autonomistas que foram ratificados neste domingo, segundo as pesquisas, e os convocou para trabalhar "de maneira conjunta" a fim de garantir a unidade e a identidade da Bolívia. "Respeitaremos a legitimidade que os governadores regionais ratificados têm", garantiu Morales.

O referendo de revogação realizado na Bolívia representa um ponto de inflexão na grave crise do país, caracterizada pela luta entre o projeto constitucionalista de Morales e o plano autonomista empreendido por vários governadores opositores à margem do Governo e o Congresso Nacional.

Segundo Evo Morales, a vontade expressada nas urnas é um voto "para consolidar a mudança" empreendida por seu Governo e avançar "na recuperação dos recursos naturais, aprofundar na nacionalização e recuperar as empresas do Estado", convidando todos os governadores regionais e prefeitos do país para se somar a este processo.

Também os convidou a trabalhar junto com seu Governo para conseguir o objetivo de acabar com a "extrema pobreza" da Bolívia com uma visão unitária e não pensando só "em regiões e determinados setores".

Evo Morales destacou que a vontade dos bolivianos é continuar lutando "por sua dignidade, unidade e identidade, e que esperava que "essa vontade fosse escutada" pelos setores da oposição. Por último, o presidente dedicou o sucesso do referendo "a todos os revolucionários da América e do mundo".

Leia a cobertura completa aqui (livre).


Página 12
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Evo se fortaleció y convocó a la oposición

Las encuestas de boca de urna coincidían en otorgarle entre el 62 y el 63 por ciento en todo el país. Perdieron dos prefectos opositores y uno oficialista. Pero en la Media Luna, los cinco opositores también salieron fortalecidos.

La angustia, incertidumbre y parálisis política boliviana encontraron ayer un desahogo cuando el presidente Evo Morales y su vice, Alvaro García Linera, salieron claramente ratificados en el referéndum revocatorio con el 63 por ciento de los votos en el orden nacional, según los sondeos a boca de urna. Así, a dos años y medio de un mandato repleto de obstáculos y resistencias, el mandatario logró superar el ya histórico 53,7 obtenido en 2005 lo que, de cara al futuro, le permite retomar la iniciativa política. Cinco horas después de concluidos los comicios, desde el balcón presidencial del Palacio El Quemado, Morales festejó el triunfo y, en abierto contraste con el belicoso discurso del mandamás cruceño Rubén Costas, convocó a los prefectos (gobernadores) al diálogo en un marco de profundización del modelo nacionalizador: “Estamos convencidos de que es importante unir a los bolivianos. Esto fue para unir a oriente y occidente y eso se hará juntando a la Nueva Constitución Política del Estado con los Estatutos Autonómicos”, aseguró.

Pero esa no fue la única novedad de la jornada de ayer. El escenario de los ocho prefectos que sometieron también sus mandatos a la voluntad popular se mantuvo estable. Al cierre de esta edición y con un margen de error de 2 por ciento, sólo los opositores de Cochabamba, Manfred Reyes Villa, con el 60 por ciento en contra, y de La Paz, José Luis “Papelucho” Paredes, con el 57 por ciento, fueron revocados. La misma suerte corrió el masista orureño, Alberto Luis Aguilar, con el 52 por ciento por el no. Según la Constitución, en dichos departamentos el Ejecutivo deberá poner un prefecto interino hasta que se realice una nueva elección en un plazo máximo de noventa días. Las encuestas auguran que en estas tres regiones un candidato masista se alzaría con la victoria.

Ante el nuevo escenario, el gobierno sostiene que con esta reconfiguración del mapa político en la que obtuvo un firme respaldo se redefine la correlación de fuerzas, mientras que la oposición insiste en que nada se resolvió con este panorama. Esta caracterización tiene su raíz en la ratificación obtenida por el bloque de cuatro gobernadores autonomistas: tanto el cruceño Costas (66 por ciento), como el pandino Leopoldo Fernández (61 por ciento), el beniano Ernesto Suárez (56 por ciento) y el tarijeño Mario Cossío (64 por ciento) fueron consolidados en sus cargos. Lo propio obtuvo el masista potosino Mario Virreira Iporre con el 76 por ciento de los votos por el sí.

La Paz y El Alto constituyen la principal retaguardia política del masismo. Es por eso que en El Alto, esa periferia obrera hija de las migraciones internas, que rodea desde el cielo a la olla paceña, Morales cerró el jueves su campaña con una movilización que superó los 300 mil manifestantes. Es también por eso que esta vez para los festejos se eligió la plaza Murillo, el equivalente a nuestra Plaza de Mayo. Al atardecer, columnas con wilpalas y banderas bolivianas se fueron acercando hasta estallar con la confirmación de los resultados. Desde allí Morales aseguró: “Es una obligación garantizar este proceso de cambio. Ahora que el pueblo boliviano expresó el cambio del modelo económico neoliberal quiero convocar a todos los prefectos a sumarse a la nacionalización de todos los recursos naturales”. Y agregó: “Este triunfo de la revolución democrático-cultural está dedicado a todos los revolucionarios de América y el mundo”.

De madrugada, con la certeza del triunfo, esta ciudad había amanecido en calma a pesar del clima general de incertidumbre. Sus casi un millón trescientos mil votantes habilitados (el total nacional son cuatro) tuvieron que trasladarse a pie a los centros de votación, ya que a lo largo de la jornada se paralizaron el transporte y el comercio.

En el corazón de El Alto, flanqueado por la imponente Cordillera Real, se erige humilde el Colegio de Tarapacá Untumes. Afuera, un mercado improvisado sobre calles de tierra ajada en el que las polleras se entremezclaban con los perros y los almuerzos a menos de tres pesos argentinos. Adentro, Francisca Sinca Suñaga lucía orgullosa su dedo meñique pintado de violeta como prueba irrebatible de su voto en apoyo “al cambio”. Con sus manos curtidas tejía una chompa naranja para su hija mayor. “Si hacen fraude, va a ser peor que octubre negro”, advirtió. La referencia era a aquel octubre de 2003 en el que esta ciudad se sublevó contra el régimen del ex mandatario Gonzalo Sánchez de Lozada. “Hay un complot contra el Evo. Ellos dicen: ‘Ejecuten al indio campesino’ y eso quiere decir que lo maten porque es el único que está con los pobres. Pero la gente se levantará si pasa esto. Habrá guerra civil”, ensayó, a modo de respuesta a las declaraciones del alcalde de Santa Cruz, Percy Fernández, quien en los días previos había pedido abiertamente a las Fuerzas Armadas que intervinieran para derrocar al gobierno.

–¿Estima que habrá efectivamente enfrentamientos? –preguntó este diario.

–A Dios pedimos que esto no pase, que Dios nos escuche por amor a los pobres. Pero si ellos no largan la mamadera... –contestó insinuante.

En el colegio 1º de Mayo, también en El Alto, Elisa Condori orientaba sus críticas a los gobernadores: “Será un día de cambios. Los prefectos se tienen que ir porque sólo tienen apetitos personales. Tienen que dejar la mamadera para que llegue a la gente”, decía. En referencia a la huelga de hambre que llevan adelante los dirigentes cruceños, la cabeza visible y radical de la autonómica Media Luna, agregaba: “Está muy mal lo de esta gente, no quieren soltar los privilegios. Dicen que hacen huelga de hambre, pero en realidad hacen dieta...”, ironizaba.

Más allá de la parsimonia general que se vivió en el transcurso del día, fue en Cochabamba, donde Reyes Villa insistió en su postura de desconocer la consulta, y en Santa Cruz donde se dieron algunos episodios de violencia encabezados en este caso por la Unión Juvenil Cruceñista (ver aparte). Fue por eso que el dirigente campesino Zacarías Maqueda improvisó un paralelismo entre el actual proceso y la revolución de los ’50: “Si acá hay otro 1952, es por culpa de ellos, por su violencia, por su racismo. Tenemos que seguir avanzando, ¿por qué tener miedo? Hay que ir para adelante porque lo que estamos haciendo es justo”, se convenció.

La radicalidad expresada en los suburbios de El Alto es la fuente de poder del Ejecutivo. De esto son conscientes en el Palacio Quemado, a pesar de que por su rol institucional deban matizar sus declaraciones. Ese fue el objetivo del desayuno con los periodistas convocado por el vicepresidente Alvaro García Linera. Consultado por las múltiples interpretaciones de los resultados que se harán a partir de hoy (el Congreso dictaminó que para revocar a los prefectos éstos no deben alcanzar la cantidad de votos, más uno, conseguidos por ellos en 2005, mientras que el Consejo Nacional Electoral resolvió que para todos los casos menos el del presidente se debe alcanzar el 50 más uno). Agregó que existe una ley aprobada por el Congreso y que esa norma es la que se debe acatar.

A su vez, insistió en que el voto de ayer será el medio para resolver aquellas grandes demandas de la sociedad boliviana. El objetivo que explicitó es que con este referéndum se “sincere la configuración política” para con un nuevo escenario volver a una mesa de negociaciones: “A partir de mañana tenemos una correlación de fuerzas realistas”.

Ante el clima de incertidumbre imperante, Página 12 quiso saber si las elecciones de ayer servirían efectivamente para resolver el famoso “empate catastrófico” que hace años castiga al país. Linera aseguró: “En este país hay tres grandes deudas históricas a resolver. En primer lugar, la igualdad entre los pueblos, esa herida colonial no curada que estamos resolviendo. Luego, la democratización y descentralización del poder que permita al ciudadano estar más cerca del poder, deuda a la que podemos llamar autonómica. Por último, el desarrollo de una economía capaz de generar riqueza y distribución de recursos. En otros países como EE.UU. y Sudáfrica una sola de estas deudas ha generado guerras civiles. En Bolivia, en cambio, se están resolviendo democráticamente”.

sábado, 9 de agosto de 2008

Os jogos, a mídia e a China

A superficialidade e a mediocridade arrogante marcam, no geral, a cobertura da mídia brasileira da China. E isso fica muito evidente agora, nos jogos olímpicos. Incapazes de produzir, se não análises, ao menos informações substantivas sobre o país e seu povo, nossos órgãos de imprensa se rendem aos lugares-comuns e aos clichês ideológicos. Por isso, reproduzo, abaixo, artigo publicado hoje no jornal Folha de São Paulo de autoria de César Benjamim. Você e eu não precisamos concordar com as posições do Benjamim (e com a sua temerária secundarização do caráter autoritário do regime chinês), mas, penso eu, podemos levar à sério sua crítica ao unilateralismo de nossos bravos jornalistas.

CÉSAR BENJAMIN

Tomara que seja linda
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Agora que os Jogos começaram, torço para que o lixo ideológico se retraia, para que possamos prestar atenção nos atletas
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"É DEVERAS impressionante o lixo ideológico que a imprensa tem produzido ao cobrir a Olimpíada. Em geral, os repórteres buscam sempre os ângulos mais negativos, mesmo à custa de adentrar o ridículo. Vi coisas incríveis.
O locutor ressalta o caráter repressivo do regime chinês, enquanto as imagens mostram, como prova disso, um grupo de guardas de trânsito e câmeras de televisão que monitoram avenidas. O locutor fala do controle do Partido Comunista sobre as pessoas, enquanto na tela aparecem torcedores que preparam uma coreografia. Manifestações com menos de cinco indivíduos são tratadas como acontecimentos épicos. Se houver um pouco maiores, é a prova de que o povo está contra o governo. Se não houver, é a prova de que a repressão é terrível.
Ideologias não se subordinam a fatos. Elas criam fatos e se realimentam de suas criações. Formam sistemas fechados. Por isso, a China não tem saída: aconteça o que acontecer, faça o que fizer, é culpada. Se fizer o bem, é por dissimulação. Ela é má.
Atletas americanos desembarcaram em Pequim usando máscaras contra a poluição, mas tiveram azar.
Nesse dia, excepcionalmente, o ar na capital chinesa estava mais limpo que o de Nova York, de onde haviam partido. Apoiamos essas grosserias como se fossem gestos nobres.
George W. Bush, que praticamente não havia saído do Texas até se tornar presidente dos Estados Unidos, acredita que os chineses só não praticam maciçamente o cristianismo porque o governo deles não deixa. Ignora uma civilização que tem 7.000 anos de história. Ela construiu uma sofisticada visão do homem, do mundo e do cosmo, nem melhor nem pior do que a nossa, mas diferente, e sem a qual a existência humana seria muito mais pobre.
Repórteres monotemáticos escrevem todos os dias sobre falta de liberdade de expressão, carregando nas tintas, para cumprir a pauta que receberam dos chefes. Se não a cumprirem, serão demitidos. Defendem, pois, uma liberdade que eles mesmos não têm. "Os chineses estão perplexos com tantas manifestações contra o seu regime em todo o mundo", escreveu um deles, sem se importar com o fato de que em nenhum lugar tem havido nenhuma manifestação relevante.
Perplexos estamos nós, pois a China não nos obedece mais. Sua economia será maior que a dos Estados Unidos em 15 anos. Dos 200 milhões de pessoas que deixaram a pobreza na última década, no mundo, 150 milhões são chinesas. O Estado é forte, mas isso não quer dizer que seja ilegítimo. Se ainda fosse fraco, como já foi, lá continuaria a ser o lugar dos negócios da China."


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