Mostrando postagens com marcador PT. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador PT. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 29 de outubro de 2013

A INANIÇÃO POLÍTICA DA OPOSIÇÃO NO RN

Não é raro a imprensa nacional alertar para a fragilidade ou falta de apetite político da oposição ao Governo Dilma. Quando avaliamos mais de perto, descobrimos que não é bem assim. Tanto pela existência de uma coesa bancada parlamentar que fiscaliza rigorosamente o Executivo e busca desconstruir algumas das ações governamentais mais vistosas quanto pelo municiamento da mídia e dos seus seguidores com informações e proposições divergentes (nem sempre muito consistentes, é verdade) sobre as principais políticas públicas da chamada Era Lula. A mesma situação não se reproduz no Rio Grande do Norte. Vejamos como e por quê.

Enquanto a Governadora Rosalba assiste à erosão do seu capital político, traduzida particularmente na vertiginosa queda de popularidade e no estreitamente de sua base de apoio parlamentar na Assembleia Legislativa, a oposição foge da disputa política e aposta as suas fichas em acordos eleitorais. Por oposição, refiro-me ao arco de alianças que está a se construir em torno do PMDB (há uma oposição mais à esquerda, mas esta, até aqui pelo menos, tem estado fora desse debate sobre a disputa para o Governo do Estado). Tudo se passa como se o Governo Rosalba não tivesse como reconstruir sua base política e uma avenida desbloqueada estivesse à espera dessa oposição.

Sobram conversas sobre acordos e faltam notícias sobre proposições e respostas políticas. Não que não se registrem irados discursos contra o governo estadual. Isso, temos de sobra. Mas esse “isso” não é bem política. Por “política”, deixem-me aclarar, refiro-me à articulação entre proposição e articulação de uma base social.

Temos, é bem verdade, temos a atuação parlamentar de um ou dois deputados, que buscam desesperadamente articular a crítica com a proposição. Esse o caso, para citar o exemplo mais vistoso, do Deputado Fernando Mineiro (PT). Mas, aí é que está!, essa é uma postura isolada no seio da oposição. No geral, os próceres (alguns deles até ontem aboletados no governo) comportam-se como se a partida já estivesse definida e ganha, o que os desobrigaria de apontar proposições, não diria mais consistentes, mas, ao menos, mais convincentes.


O que temos é a agenda eleitoral subordinando a política no campo da oposição. Ora, nem o Governo Rosalba está findo e nem o seu entorno político vai caminhar bovinamente para o abatedouro. Tanto esse setor político pode bancar a candidatura da Governadora quanto poderá encontrar alguém para representa-lo, com alguma maquiagem, no difícil embate de 2014. E, como o demonstra o desempenho da aliança PSTU/PSOL para a Câmara Municipal de Natal, não é de todo descartado que algum ator adentre inesperadamente em cena, desarrumando acordos e previsões. 

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

As bases sociais do lulismo

Um interessante artigo, publicado no último número da Revista Brasileira de Ciências Sociais, assum o desafio de tentar apreender as múltiplas faces do lulismo. Vale a pena conferir! Leia alguns trechos abaixo:

As bases do Lulismo: a volta do personalismo, realinhamento ideológico ou não alinhamento?*

Lúcio Rennó; Andrea Cabello


--------------------------------------------------------------------------------

RESUMO

O artigo busca caracterizar o eleitor de Lula em 2006. O objetivo é analisar os fatores que diferenciam o voto em Lula do voto no PT, de modo a esclarecer quem são os eleitores que compõem a maioria que Lula construiu ao longo de seu governo e que não demonstra preferência por seu partido. Conclui-se que o lulista se assemelha ao eleitor não-alinhado que não demonstra preferências políticas ou ideológicas fortes e que vota, até certo ponto, baseado na sua avaliação retrospectiva do desempenho do governo.

Palavras-chave: Lulismo; Petismo; Voto retrospectivo; Determinantes do voto.


--------------------------------------------------------------------------------

Introdução

Em outubro de 2006, Lula foi reeleito com margem considerável de votos. Tal feito seria impensável um par de anos antes. No meio de seu primeiro mandato, a administração petista viu-se às voltas com o envolvimento de sua alta cúpula em escândalos sucessivos de corrupção. Deu-se por certa, principalmente pela oposição, a derrota do governo nas eleições de 2006. Chegou-se, inclusive, a cogitar a hipótese de um pedido de impeachment, mas não se foi adiante com a ameaça apostando em que a sina eleitoral de Lula estava traçada pelos escândalos de corrupção. Como, então, um desacreditado Lula conseguiu a reeleição em 2006, com confortável margem de votos no segundo turno das eleições?

A resposta passa por uma constatação inicial básica: desde a sua primeira candidatura à presidência, em 1989, Lula e o Partido dos Trabalhadores(PT) sedimentaram seu papel na política brasileira– mas não necessariamente na mesma intensidade. Inicialmente, o PT conseguiu consolidar-se como uma alternativa viável no Poder Legislativo no nível federal e nos níveis Executivos municipais. O partido cresceu de forma inconteste. Enquanto isso, Lula sofria derrotas eleitorais consecutivas, primeiro para Fernando Collor, em 1989, e depois para Fernando Henrique Cardoso, nas eleições de 1994 e 1998.

Em 2002, Lula renasce das cinzas eleitorais como candidato não só dos petistas, mas de uma parcela maior da população brasileira. O PT também se torna o maior partido na Câmara dos Deputados. Dessa forma, podemos afirmar que até 2002, o eleitorado de Lula não era assim tão distinto daquele do PT (Hunter e Power, 2007; Zucco, 2008).

Em 2006, no entanto, a diferença entre os eleitorados de PT e Lula tornou-se mais profunda, principalmente em sua dimensão geográfica (Idem, ibidem). Portanto, parece haver, principalmente a partir de 2002, um descolamento maior entre o voto em Lula e o voto no PT. O objetivo deste trabalho é traçar o perfil predominante, se houver algum, da parcela da população que votou em Lula em 2006, mas que não simpatiza ou tem preferência pelo PT. Em outras palavras, pretendemos explorar o que diferencia os lulistas dos petistas. Assim sendo, nossa pergunta é: o lulismo, entendido como aprovação e lealdade ao líder Luis Inácio Lula da Silva, que transcende a identificação partidária com o PT, é motivada por quais fatores? Quais são as bases do lulismo? Este artigo, portanto, contribui para o crescente debate sobre esse tema no Brasil (Samuels, 2004a; Singer, 2009).

Embasados em pesquisa de opinião pública realizada ao final das eleições de 2006, acrescentamos dois elementos ao estudo do tema ainda ignorados pela literatura especializada (Idem, ibidem). Primeiro, decompomos o voto em Lula, além de diferenciá-lo do voto nos demais candidatos. Os estudos anteriores sobre lulismo, tanto de Samuels (2004a) como de Singer (2009), não atentam para as possíveis diferenças internas no interior do dito lulismo. Samuels diferencia petistas dos demais eleitores; Singer analisa apenas cruzamentos de ideologia e renda com intenção de voto. Aqui, matizamos as potenciais diferenças entre lulistas novos, que passaram a votar em Lula em 2006, e lulistas antigos, que votaram em Lula em 2002 e 2006. Ambos os grupos são formados por eleitores que declararam voto em Lula, mas não se identificam com o PT. Iremos, portanto, desagregar o eleitorado brasileiro em diversas categorias – lulistas antigos, lulistas novos, petistas e demais eleitores Desta forma poderemos identificar o impacto de diferentes variáveis políticas, econômicas e sociais na diferenciação entre esses grupos. 1

Nossas hipóteses serão derivadas não só dos dois estudos supracitados (Samuels, 2004a; Singer, 2009), como também de uma extensa literatura sobre os determinantes de curto e longo prazo do voto. Nossas conclusões distanciam-se das alcançadas por Samuels e Singer. Os resultados indicam que os lulistas não representam um novo realinhamento político-ideológico, com base em classe e ideologia, como argumenta Singer, nem uma nova forma de personalização da política, como defende Samuels. O lulista, na verdade, é um eleitor pouco informado politicamente e desatento a campanhas eleitorais, que não apresenta afinidades partidárias de qualquer tipo ou intensas rejeições a partidos, e tampouco, identificações personalistas fortes. Contradizendo os estudos anteriores, detectamos que os eleitores que declaram identificação com o PT, os aqui chamados petistas, simpatizam mais fortemente com a pessoa de Lula do que os eleitores lulistas.

Para ler o resto do artigo, clique aqui.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

O voto religioso

Vou postar algumas matérias sobre um tema mais do que emergente: o voto religioso. Depois, assim que possível, voltarei para comentar. Abaixo, um artigo de Maria Inês Nassif, articulista do jornal VALOR ECONÔMICO. Vale a pena conferir!

07/10/2010 - 07:59h

O voto do pecado e o poder satânico

Maria Inês Nassif VALOR


A campanha religiosa contra a candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, estava em andamento e foi subestimada pelo comitê petista. O staff serrista prestou mais atenção nisso. No dia 14 de setembro, a mulher de José Serra, Mônica Serra, em campanha para o marido no município de Nova Iguaçu, no Rio, falou a um eleitor evangélico, para convencê-lo a não votar em Dilma: “Ela é a favor de matar criancinhas”, disse, segundo relato do jornal “O Estado de S. Paulo”. Mônica quis dizer, usando cores muito, muito fortes, que Dilma era a favor do aborto, e portanto não merecia o voto de um evangélico. Não deve ter sido da cabeça dela – falou porque as pesquisas qualitativas do PSDB já deviam mostrar que a onda “antiabortista” estava pegando, embalada por bispos e padres da Igreja Católica e pastores evangélicos.

Da parte da ala conservadora da Igreja Católica, a articulação foi feita com alarde, de forma a induzir os fiéis de que a recomendação de não votar em Dilma, ou em qualquer outro candidato do PT, veio da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). A CNBB reagiu timidamente a essa ofensiva, com uma carta que foi também instrumentalizada pelos conservadores, que hoje não são poucos. “Falam em nome da CNBB somente a Assembleia Geral, o Conselho Permanente e a Presidência”, diz a nota, para em seguida lembrar que o documento oficial sobre as eleições, tirado na 48ª Assembleia Geral, foi a “Declaração sobre o Momento Político Nacional”, que não faz referência direta a candidatos ou partidos. Um trecho da carta oficial, todavia, foi apresentado aos fiéis paulistanos como prova de que a Igreja, como instituição, vetava o voto aos petistas. “(…) incentivamos a todos que participem (…), procurando eleger pessoas comprometidas com o respeito incondicional à vida, à família, à liberdade religiosa e à dignidade humana”.

A campanha da Igreja conservadora contra Dilma está usando um sofisma: o “respeito incondicional à vida” torna a igreja antiabortista; o PT defendeu o aborto; logo, o voto em Dilma é pecado. É esse sofisma que foi colocado aos padres de São Paulo pela Regional Sul 1 da CNBB como uma ordem. A secção da CNBB no Estado está impondo a campanha política nas igrejas como obrigação de hierarquia: há uma determinação para que os padres falem na homilia que o voto ao PT é pecado. Os padres estão obrigados também a distribuir jornais de suas dioceses na porta das igrejas, que não raro colocam o veto ao voto no PT como uma determinação da “CNBB”, sem especificar que é da CNBB da Regional Sul 1.


Com ajuda da Igreja, Serra chega aos pobres via medo

Guarulhos é o grande foco, mas não o único. O bispo Luiz Gonzaga Bergonzini declara publicamente “ódio ao PT”. Sua diocese foi uma das formuladoras, na Comissão da Vida da Região Sul, do documento que deu “subsídios” para o manifesto anti-PT que está sendo distribuído nas paróquias como posição oficial da Igreja Católica. Um padre de Guarulhos conta que Dom Luiz Gonzaga vai se aposentar em sete meses, e tem aproveitado seus últimos momentos como bispo para militar ativamente contra o partido de Lula. Para isso, tem usado seu poder de “mordaça” – a autoridade máxima da paróquia é a diocese, e o bispo pode impor suspensões a padres que não seguirem as suas ordens, ou criticarem publicamente suas posições.

Segundo uma senhora que é católica militante, bem longe de Guarulhos, no bairro de Campo Limpo, os bispos levaram ao pé da letra a orientação da regional da CNBB. A senhora ouviu do padre da sua paróquia, durante a pregação do sermão, que os católicos que votassem em Dilma Rousseff deveriam se confessar depois, porque teriam cometido um pecado. Preferiu o discurso da corrupção ao discurso so aborto. E garantiu que recomendava o voto contra o PT por ordem do bispo.

O vereador Chico Macena (PT), da capital paulista, que é ligadíssimo à Igreja, conta que várias paróquias da região de São Lucas falaram contra o PT na homilia. Ele acredita que esse movimento da igreja conservadora paulista influenciou o voto contra Dilma em algumas regiões.

Na campanha de Dilma, soou o alarme apenas na semana anterior às eleições. Foi quando a candidata se reuniu com líderes religiosos e garantiu a eles que não havia defendido o aborto.

A guerra religiosa não se limitou a sermões de padres ou pregações de pastores evangélicos. Espalhou-se como um rastilho pela internet uma “denúncia” de envolvimento do candidato a vice de Dilma, o deputado Michel Temer (SP), com o “satanismo”. O site Hospital da Alma, ligado à Associação dos Blogueiros Evangélicos, diz que Dilma, se vencer a disputa, morrerá por obra de Satã, para que o sacerdote Temer assuma a Presidência.

As versões religiosas sobre a candidatura governista são inventivas e, no conjunto, ajudam a formar um clima de pânico que, em algum momento, pode resultar numa explosão em que a racionalidade da escolha do candidato ao segundo turno escorra pelo ralo.

Não deixa de ser irônico. A Igreja progressista esteve na base da formação do PT, embora limitada a regras da não militância política dentro das paróquias. Teve um papel fundamental em São Paulo. É aqui no Estado, que deu uma guinada conservadora durante e após os governos de Fernando Henrique Cardoso, que a Igreja Católica tem imposto os maiores prejuízos à candidata petista. Dois papados conservadores reduziram os progressistas católicos de São Paulo a um rebanho desorganizado e destituído de poder na hierarquia da Igreja.

A outra ironia da história é que, no momento em que perdem significativamente a força os chefes de política locais, em função dos programas de transferência de renda do governo, e o PT passa a ser o interlocutor preferencial junto aos pobres, os seus adversários tenham arrumado um “atalho” para chegar a esse eleitor humilde, via o temor religioso. O voto colocado como “pecado”, e a eleição como obra de um “poder satânico”, recolocam o eleitorado mais pobre e menos escolarizado nas mãos de líderes conservadores, mas pela força do medo.


Maria Inês Nassif é repórter especial de Política. Escreve às quintas-feiras

E-mail maria.inesnassif@valor.com.br

terça-feira, 5 de outubro de 2010

A vitória de Tarso

Da Carta Capital.

Tarso Genro quer governar com diálogo
Paulo Cezar da Rosa

4 de outubro de 2010 às 12:04h

A verdade das urnas é só uma. Aconteceu o que as pesquisas estavam indicando no Rio Grande do Sul. Com uma alteração. Tarso Genro vinha crescendo na esteira do crescimento de Dilma Roussef. Dilma, como em nível nacional, paralisou e começou a regredir na reta final. Os efeitos da queda de Dilma, todavia, não afetaram a onda de crescimento de Tarso. Na prática, o lulismo impulsionou o rompimento do isolamento do PT gaúcho, mas Tarso foi além e resgatou contornos próprios na reta final.

Uma explicação para isso é o fato de José Fogaça (PMDB) ter sido derrotado há quinze dias do pleito e Yeda Crusius (PSDB) ter jogado a toalha na última semana. Sem adversários à altura, Tarso continuou crescendo. Na disputa nacional, entretanto, a direita gaúcha não recuou. O festival de mentiras, boatos e panfletos apócrifos na boca da urna são prova disso. Domingo passado não faltou munição na artilharia anti-Dilma.

Em balanços realizados ao longo do dia da eleição, o governador eleito atribuiu sua vitória à recomposição das forças do PT, combinada com três movimentos: reconstituição do campo político agregando as forças do PCdoB, PSB e outras; renovação de linguagem junto às novas gerações, via internet etc; ampliação junto aos setores produtivos através de um conjunto de ações e debates sobre a economia e o desenvolvimento do Estado.

Talvez tenha sido isso (mais que o efeito Erenice) que impediu Dilma de manter-se acima dos 50% no primeiro turno. A campanha Dilma, até o momento, sinalizou apenas a continuidade e há uma parte do eleitorado sempre mais afeito às novidades. No caso, Marina, com seu discurso ambiental, por um lado, e Serra, com suas propostas sociais um tanto quanto irresponsáveis, pelo outro, apresentaram uma luz a ser seguida.

Depois da obra feita, fica fácil explicar a construção. Mas sempre é importante tentar entender o que aconteceu, até porque a engenharia só avança criticando o passado. Neste momento, o que todos devem estar começando a pensar é no que fazer para que o Brasil continue no rumo certo. Todo o resto é secundário. E definir o que fazer, é essencial entender o que aconteceu….

Tarso Genro, depois de eleito, em seu primeiro discurso, afirmou que pretende governar dialogando com todos os setores e vai ampliar seu governo para além das forças que compuseram sua frente política. Começou bem, e pode agora retribuir o apoio recebido do presidente Lula.


Paulo Cezar da Rosa é jornalista e publicitário. Publicou o livro O Marketing e a Comunicação da Esquerda. É diretor da Veraz Comunicação e da Red Marketing, ambas sediadas em Porto Alegre. paulocezar@veraz.com.br

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

O desafio de Marina

A análise política de Alon Feuerwerker sobre o cenário político colocado para a política Marina Silva é perspicaz. Confira!

A travessia (12/09)
Quem conhece Marina sabe que ela tem tutano para encarar a caminhada. Mas será que o PV dará o necessário apoio? Como fez o PT para Lula?

A três semanas do primeiro turno, os números de todos os levantamentos convergem para um padrão. Entre eles e também na comparação com as duas eleições anteriores. Três quintos do eleitorado “útil” (o que vota em candidatos) pendem para a favorita de Luiz Inácio Lula da Silva. A diferença é que em 2002 e 2006 essa configuração só se cristalizou no segundo turno. Ou seja, em vez de a ex-petista Marina Silva dividir no primeiro turno votos de seu antigo campo, os números mostram que ela semeia no terreno da potencial oposição. Não só a atual, mas a futura.

Marina segue uma estratégia à la Antanas Mockus, o verde que chegou em segundo lugar na eleição da Colômbia: fincar estaca como a alternativa para adiante. É inteligente, mas sempre será preciso ver se a senadora do Acre e seu PV vão suportar a travessia do deserto. Lula e o PT atravessaram o deserto na oposição porque partiram de duas premissas. Não apoiariam nenhum governo liderado por outros e cauterizariam todas as possíveis dissidências conciliatórias.

Quem conhece Marina sabe que ela tem tutano para encarar a caminhada. Mas será que o PV dará a ela o necessário apoio? Como fez o PT para Lula? O exemplo de Ciro Gomes está aí. Na hora H o PSB puxou o tapete, ainda que a puxada estivesse escrita nas estrelas desde o esboço da candidatura.

O recuo do PSB decorreu de uma visão estratégica sobre a necessidade de coesão do bloco governista, diz o PSB. Ou de renunciar a um projeto nacional em favor de projetos regionais, dizem os críticos. Pouco importam as explicações. Ciro Gomes ficou fora e o PSB está agarradinho a Dilma Rousseff. O amor aliás é recíproco.

Marina ainda sonha com a ida a um hipotético segundo turno, e os ganhos pontuais dela entre os grupos mais formalmente instruídos certamente vão animar. Aí seria a sopa no mel, mesmo em caso de derrota. Ela restaria como a primeira da fila, posição que José Serra conquistou em 2002. Como o cenário mais visível não é esse, vale especular então sobre o grau de resistência da própria Marina e, principalmente, do novo partido dela às forças centrípetas do poder.

O PT pôde fincar pé na oposição por funcionar em boa medida como um único organismo e pela inserção social e no poder local, com importantes orçamentos municipais sob controle. Coisas que o PV não tem. Como os parlamentares do PV irão resistir à caneta do Executivo?

De outro ângulo, entretanto, a situação de Marina é animadora. A onda peemedebista nos anos 80 trazia na testa o atendimento às aspirações democráticas, a tucana nos anos 90 contemplou os desejos modernizantes, e a petista nesta primeira década do século 21 enfatizou a justiça social.

Quem está mais bem posicionada para a agenda do ponto futuro é Marina Silva. Falta a ela massa crítica para realizar agora este potencial, e é preciso saber se conseguirá manter a tropa reunida para, como disse, fazer a travessia. Mas sua resistência a ser desidratada nesta eleição é um sinal.

Como nos primórdios

Uma boa conversa ao longo da semana passada com dois próceres petistas, separadamente, revelou certo incômodo com a perspectiva de ter uma “oposição interna” peemedebista nos próximos quatro anos, na eventualidade de vitória de Dilma Rousseff. Acham que um também eventual enfraquecimento extremo da dupla PSDB-DEM fará a oposição social ao PT deslocar-se para o polo mais viável, o PMDB, mas argumentam que há aí duas atenuantes.

Uma é a expectativa de poder futuro simbolizada na possível volta de Lula. É um trunfo petista. Um cano frio a ser encostado na testa dos permeáveis a tentações de dissidência. Outro trunfo é o previsível inconformismo da oposição tradicional com o papel de coadjuvante. Por isso, acreditam, sempre poderão contar com o PSDB para enfraquecer o PMDB, caso necessário. Como se passava, aliás, nos primórdios petistas e tucanos.


Coluna (Nas entrelinhas) publicada neste domingo (12) no Correio Braziliense.

domingo, 12 de setembro de 2010

Por que o discurso da oposição não pega?

Eis aí abaixo uma tentativa de resposta.

VINICIUS TORRES FREIRE

Você sabe com quem está falando?

--------------------------------------------------------------------------------
Eleitor relevou ou ignorou as críticas a Dilma e ao PT; talvez falte intimidade da oposição com os cidadãos
--------------------------------------------------------------------------------

O GROSSO do eleitorado até agora não se abalou com os protestos da campanha de José Serra (PSDB) contra o PT e sua candidata. Nem com as vinhetas televisivas tucanas que procuram refrescar a memória do cidadão a respeito do passivo moral do lulismo-petismo, indica pesquisa Datafolha. Mesmo assim, na noite de sexta-feira, quando era escrita esta coluna, ia forte o rumor ou o odor de que o jorro de lixo na campanha iria crescer. Lixão é que não falta para vasculhar.
Dilma Rousseff perdeu pontos relevantes apenas entre eleitores com ensino superior (14% do total da amostra do Datafolha) e/ou com renda maior que dez salários mínimos (5% do total). Note-se, porém, que as intenções de voto dessa fatia mínima do eleitorado têm flutuado de modo meio selvagem. Pode ser que a variação de Dilma nem se deva ao caso da Receita. Enfim, Serra não levou os votos que caíram da cesta de Dilma. Aparentemente, eles foram para Marina Silva (PV).
O grosso do eleitorado pode ter relevado as acusações contra o PT. Muitos podem não ter tomado conhecimento delas -faz uma semana, não cresce o número de eleitores que já viu a propaganda eleitoral na TV, ainda em 51%. O eleitor pode não entender bem o que se passa -a barafunda noticiosa da quebra de sigilos. Ou não quer ou pode se dar ao trabalho de compreendê-la.
O acesso ao noticiário não é lá tão escasso. Talvez seja difícil compreender o que se lê ou se ouve pois, na média, os brasileiros não têm mais de oito anos de escola ruim. Ainda assim, cerca de 37% das pessoas com mais de 18 anos usaram a internet no ano passado, segundo dados do IBGE (Pnad). Quase metade vê pelo menos algum noticiário televisivo. Porém, os motivos imediatos da falta de apelo do protesto tucano ou indignação diante do caso ficam no domínio da especulação, na falta de pesquisa específica.

Leia o texto integral aqui (exclusivo para assinantes UOL).

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Quem tudo quer...

Lula joga para levar tudo. Essa, nem sempre, é a melhor postura de um jogador. Mas Lula tem experiência e já demonstrou competência em garantir o seu projeto. Nem que, para isso, tenha que destroçar o PT. Leia abaixo a análise de Feuerwerker a respeito.

Escravo da ribalta (04/05)
Alon Feuerwerker.

Mais do que demonstração de força, a blitz do presidente nos últimos dias talvez seja sintoma de alguma fragilidade. Lula não quer só ganhar. Quer fazer barba, cabelo e bigode, para Dilma governar sem oposição efetiva. Terá força para tanto?A largada desta etapa da “pré-campanha” presidencial neutralizou o ambiente de euforia no campo governista que marcou os primeiros meses do ano. A oposição mostrou duas coisas não exibidas até então: disposição para o embate e capacidade de articular um discurso. Acostumados a jogarem sozinhos ao longo de muito tempo, o presidente da República e o PT dão sinais de, como se diz no boxe, terem sentido o golpe.

Um sintoma é o pronunciamento de Luiz Inácio Lula da Silva em rede nacional de TV por motivo do Dia do Trabalho. Questões procedimentais à parte, ele provoca pelo menos uma dúvida: por que o presidente precisa adotar comportamento algo heterodoxo agora, se daqui a pouquinho ele terá o gordo tempo de televisão de Dilma Rousseff na campanha, para se fartar de mandar o eleitor votar nela?

A resposta deve ser buscada na lógica das construções políticas. O presidente entrou em campo nos últimos dias menos para impressionar o público — ainda nem aí para a eleição — e mais para causar boa impressão aos aliados. O processo eleitoral entra agora na fase decisiva da costura de alianças, e Lula quis deixar claro aos amigos em potencial que ele tem sim um discurso para, como se diz nas entranhas do governo, desconstruir a oposição.

Isso para os potencialmente amigos não cederem à tentação de virarem inimigos. Um fenômeno sempre ameaçador em exércitos que, antes de tudo, estão juntos por interesses apenas materiais.

Assim, mais do que demonstração de força, a blitz do presidente nos últimos dias talvez seja sintoma de alguma fragilidade.

Lula tem objetivos ambiciosos em 2010. Além de eleger Dilma, pretende remover o PSDB do poder em São Paulo e Minas Gerais, e também encerrar a carreira política dos que lhe fizeram oposição cerrada no Congresso Nacional, com foco no Senado. Ali, Lula projeta construir para Dilma uma maioria folgada, deixando o futuro governo petista de mãos livres para as reformas constitucionais que bem entender.

Lula não quer só ganhar. Quer fazer barba, cabelo e bigode, para Dilma governar sem oposição efetiva. Terá força para tanto? Quais são os trunfos de Dilma e de Lula na eleição? A aliança dos maiores partidos, o maior tempo na tevê, a popularidade do presidente.

Tempo de TV é importante, mas a história das eleições brasileiras está cheia de exemplos de não ser tudo. As alianças são importantes, mas eleição presidencial embute bom grau de autonomia do eleitor na relação com os candidatos. E o apoio de Lula, qual será o peso efetivo dele na hora da decisão?

Há certezas e dúvidas sobre como o cidadão comum enxerga o presidente. Certezas? Ele o vê como alguém que faz um bom governo, de realizações reconhecidas. E valoriza sua trajetória. As dúvidas estão em outro lugar. Até que ponto Lula é um líder a quem a maioria seguirá incondicionalmente? Até que ponto o pragmatismo presidencial não acabou diluindo, no transcorrer do governo, uma certa relação afetiva que o eleitor não petista talvez mantivesse com o líder histórico do PT?

O filme sobre a vida de Lula, por exemplo, não foi um sucesso de bilheteria. Ao contrário. Uns dizem que a fita é simplesmente ruim, mas o insucesso não foi previsto quando ela estreou, ou pré-estreou. Muita gente boa que viu na época apostou na capacidade de a obra galvanizar emocionalmente o país, com óbvios efeitos no processo eleitoral. Simplesmente não aconteceu.

Num extremo, o entorno de Lula busca convencê-lo de que se transformou num guia condutor de almas, para além da simples racionalidade. No outro, a oposição gostaria de acreditar que Lula só transferirá a Dilma os votos que ela já teria por ser a candidata do PT. A verdade está em algum lugar no meio. Onde? Ninguém, no governo ou na oposição, tem certeza. Daí que Lula tenha precisado voltar à ribalta. De onde não consegue sair sem gerar na turma dele uma sensação chata de insegurança.

(...)
Coluna (Nas entrelinhas) publicada nesta terça (04) no Correio Braziliense.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

O PT nas eleições de 2010: a análise de César Maia

Uma das coisas que eu aprendi a detestar foi o escanteamento de um argumento pela desqualificação de quem o emite. Obviamente, não precisaria nem dizer, tenho nadado contra a corrente. No dia a dia, mesmo no espaço acadêmico no qual, em tese, deveria prevalecer um debate no qual a identificação do melhor argumento deveria se basear na sua força persuasiva e na sua consistência, predomina, com raras exceções, a postura de diminuir o emissor para deixar de lado a mensagem. Escrevo esse intróito para convidá-lo a ler o texto abaixo, escrito pelo ex-Prefeito César Maia, do DEM. Sei, sei, você não gosta do cara, e, sendo petista, menos ainda do teor do texto. Mas, faça um exercício: tente "ler" para além do texto, isto é, para além do interesse do autor em fazer o combate político e ideológico ao PT. Caso você consiga fazer isso, pode descobrir que há, aí, alguns elementos para um diagnóstico (que precisa ser feito) da metamorfose que o PT está vivendo neste ano de 2010.

A DEBILIDADE DO PT NA CAMPANHA ELEITORAL DE 2010!
César Maia


1. Na Alemanha dos anos 30, chamava-se de "Estado Total" a incorporação ao Estado, dos poderes, do partido político único, dos sindicatos e de todas as associações da sociedade civil, incluindo as manifestações artísticas. Por isso, os atos do partido único eram também atos do Estado e, por este, preparados com toda a coreografia e assumindo todas as despesas. No Brasil se avança para isso a passos largos. Boa parte das associações da sociedade civil e sindicatos são cooptados, patrocinados e seus dirigentes assalariados do Estado por nomeação.

2. Quando se analisa o quadro eleitoral de 2010, isso fica muito claro. Era de se esperar que com a popularidade do presidente e a competitividade de sua candidata, o PT entrasse nesse processo eleitoral como o partido mais forte, especialmente por ser um partido de Estado. Mas não é isso que se vê.

3. Fazendo um levantamento das candidaturas próprias do PT aos governos dos estados, se vê que elas são competitivas no Rio Grande do Sul, Bahia, Sergipe, Piauí e Acre, sendo que no Rio Grande do Sul, é competitiva para perder, e só no Acre franco favorita. Isso terá como reflexo a inevitável perda de deputados em relação aos que o PT elegeu em 2006.

4. Mas para os gerentes do Estado Total, Lula na frente, tanto faz. Pressionam seus pré-candidatos regionais para que desistam e apóiem seus parceiros, especialmente do PMDB e do PSB. Para eles, o fundamental é manter sob seu controle o Estado Total. Na medida em que a Federação foi colocada de joelhos por Lula, com um cheque de 'pacs' numa mão e um chicote na outra, ganhar ou perder estados não muda nada. Da mesma forma fazer mandatos de deputados federais. Afinal, a cooptação por cargos, emendas ou partido-patrimonialismo, pensam, vai lhes garantir o controle do Estado Total.

5. E se o partido é parte do Estado, que se transforma ele mesmo em partido, não faz diferença a origem partidária dos deputados da base aliada ou subserviente. O importante é vencer a eleição presidencial. E para isso vale qualquer arma, qualquer golpe, qualquer pressão. Não importa se o PT vai sair dessa com um só governador do Acre e com 60 deputados federais. O que importa é o controle do Estado, pois os mandatos de fato, estão com aqueles que ocupam os postos chaves da máquina pública. Especialmente os fiscais financeiros e previdenciários.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Qual o tipo de relação existe entre o PSDB e o PT

O artigo do Alon que transcrevo mais abaixo aborda a relação freudiana entre o PSDB e o PT. Vale a pena conferir!

Chega de sofrimento (02/03)
Alon Feuerwerker Brasília, DF - Brasil

Se o PSDB deseja tanto assim ser reconhecido pelo PT como igual, o melhor é apoiar Lula, o governo dele e a candidata Dilma Rousseff. O PT “reabilitou” personagens ideologicamente até mais distantes, e não teria dificuldade para dar mais este passoRegistrei em dezembro (“Rumo ao plebiscito”) que a oposição previa mudanças dramáticas nas pesquisas que viriam. Foi captado por estes tímpanos que a terra irá reciclar. Assim, se há alguém sem razão para surpresa com o estreitamento da margem entre José Serra e Dilma Rousseff, é a própria oposição.

Tal previsão, entretanto, não produziu um movimento capaz de colocar no jogo, para valer, o pessoal que deseja tirar o PT do Palácio do Planalto (cuja reforma, aliás, anda de vento em popa). As últimas pesquisas foram ruins? Sim, mas está longe de ser o maior problema de tucanos e democratas. Grave é não terem ideia de como tentar brecar o avanço do governismo e pelo menos zerar o vetor da iniciativa política. Se têm, escondem muito bem.Por que a oposição não consegue retomar a iniciativa? Será porque o governo de Luiz Inácio Lula da Silva é bom? No passado, o PT conseguia opor-se até a aumento salarial para professor. Quem deseja, de verdade, travar a luta política acaba dando um jeito de encontrar a brecha.

Já tratei de uma dificuldade oposicionista: a falta de unidade. Mas reconheço que há aqui alguma tautologia. Esse tipo de unidade costuma ser catalisado pela expectativa de poder, algo que combina vetores quantitativos e qualitativos. Pesquisas têm lá sua importância, assim como as alianças. Mas o decisivo é projetar uma visão clara de futuro. Pode até ser genérica, mas precisa encaixar no desejo do eleitor e formar um polo de aglutinação da opinião pública, tomada no sentido amplo. É uma tarefa difícil quando se enfrenta um governo popularíssimo, cuja mensagem é a continuidade. Difícil, mas não impossível.

O melhor exemplo é Marina Silva (PV), a cuja campanha os jornalistas e políticos temos prestado menos atenção do que seria saudável. A autocrítica não é tanto pelos índices dela, já bastante bons, e sim pela maneira cirúrgica e sempre adequada como a senadora do Acre intervém. Ela nunca bate de frente, mas invariavelmente busca um defeito no adversário. E assim, de modo objetivo e focalizado, vai minando o oponente e construindo um caminho. Como fazem os grandes pugilistas.

Claro que falar é fácil. Marina não carrega o estigma do passado nem precisa ficar explicando por que o governo dela não será uma volta aos tempos de Fernando Henrique Cardoso. Pode até dar-se ao luxo de fazer elogios a FHC sem abrir brecha para que colem nela o rótulo de “neoliberal”. E, se um dia crescer mais e virar ameaça, os ataques que certamente sofrerá por reunir eventuais apoios “neoliberais” terão tanto efeito quanto os sofridos por Lula devido aos aliados complicados dele: nenhum.

Marina é a prova definitiva de que na esquerda ou na centro-esquerda a oposição mais eficaz contra Lula deve ser executada na margem, como diriam os economistas. Para governar e perpetuar seu projeto de poder, Lula deslocou-se para um centro político, ali montou acampamento e ergueu muralhas. Mas sem descuidar dos elementos simbólicos que o unem à esquerda. Só que persiste uma tensão latente entre o discurso e a vida, entre as ideias originais e a prática, entre o sonho e a realidade. Há um espaço a ser ocupado, uma cabeça de praia a instalar.Haveria também outra maneira eficiente de fazer oposição a Lula: pela direita. Para isso, precisaria surgir no Brasil uma força organizada, e combativa, efetivamente liberal. Um “Tea Party” verde-amarelo. Mas as circunstâncias do liberalismo brasileiro são conhecidas. Discursos, editoriais e artigos em jornais e revistas, mas sem renunciar aos empréstimos a juros subsidiados do BNDES, ao dinheiro do Banco do Brasil que não é preciso devolver e à ordenha do Tesouro.

Quanto àquele hipotético e teórico liberalismo, o PSDB está no pior dos mundos: leva a fama mas não consegue tirar vantagem. Pois não é liberal, nem tem vontade de parecer que é. No fundo, o que o PSDB talvez deseje é ser reconhecido pelo PT como um parceiro, como cofundador do sucesso petista, da hegemonia social-democrata. Um desejo irresolvido, e que insatisfeito desemboca em mágoas muito perceptíveis.

Se o PSDB precisa tanto desse reconhecimento, eu ofereço modestamente uma sugestão: passem a apoiar o governo, Lula e a candidata dele, Dilma Rousseff. Nem que só “criticamente”. Se o PT teve a frieza e o pragmatismo necessários para repaginar as relações com José Sarney, Fernando Collor, Delfim Netto e mais um punhado de personagens que combateu mortalmente no passado, não terá dificuldade de, caso seja conveniente, “reabilitar” FHC e o PSDB. Afinal, são primos e têm uma história até certo ponto comum. Se o PSDB sofre tanto com isso, se necessita tanto disso, talvez seja o jeito.

Coluna (Nas entrelinhas) publicada nesta terça (02) no Correio Braziliense.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Agora, é só na canela...

Pois é... Foi só a Dilma Roussef subir um pouco mais nas sondagens de opinião para as eleições presidenciais de outubro próximo para que os articulistas da Nova Direita descessem ainda mais o nível do, como direi?, "debate". Hoje, o arauto da turma (tchurma, daqui prá frente), o jornalista Reinaldo Azevedo, que mantém um blog político no site da Veja, com o pretexto de atacar manifestação contra o seu candidato, o governador José Serra (PSDB), distribuiu epitetos de "fascistoides" contra os adversários.

E tem sido esse o diapasão da tchurma. Ainda no site da Veja, Augusto Nunes, exerce o seu "jornalismo" com denodo: tudo o que o Fernando Henrique Cardosos é reverberado e merece elogios. Assim, ainda ontem, propunha, que gracinha!, um debate público entre o ex-presidente e Lula. E todos quantos se posicionaram criticamente a respeito das boutades escritas pelo pai das privatizações foram tratados como "moleques de recados" e os seus nomes escritos com iniciais em letras minusculas.

A gente até se diverte um pouco com esse pessoal. Escrevem bem, dominam a língua de Camões e são deveras criativos. Mas, cá no meu cantinho provinciano, fico a me perguntar: qual o impacto desses, sejamos benevolentes!, "formadores de opinião"? Sim! Eles formam opinião, acredito. Aquela opiniãzinha (diminuída mesmo) de certos setores de classe média, que nunca leram mais do que pequenos escritos de auto-ajuda, mas que se enchem de autoridade para defenestrar o Lula como "analfabeto".

Para felicidade geral, o Serra é maior do que essa gente. Goste-se ou não dele, o governador paulista tem uma biografia pessoal respeitável. E foi um bom ministro da saúde. Além do mais, em que pese o gerenciamento complicado que os tucanos fizeram das universidades paulistas, o Serra não se situa no mesmo patamar ideológico anti-Estado da Nova Direita.

Assim sendo, essa tchurma mais prejudica do que ajuda ao governador paulista. Eles não conseguem deixar de dar vazão, para acalentar a preconceituosa audiência que formaram, à preconceitos a respeito dos trabalhadores, dos negros e dos nordestinos. E a fomentar a demanda irracional por punição...

Mas as eleições de 2010 não precisam se transformar nesse tipo de jogo. Canelada, nem em jogo de várzea, não é? E, ademais, as candidaturas postas, até agora, indicam algo melhor do que essa baixaria...

Sim, podem me esculhambar, mas eu acredito que é um luxo uma eleição presidencial em que os principais candidatos são José Serra, Dima Roussef, Ciro Gomes e Marina Silva. Basta lembrarmos do balaio de gatos que foi a eleição de 1989... Balaio que deu em Collor, na época o ungido dos papais intelectuais e financeiros da tchurma...

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Eleições 2010: qual será o jogo dos donos da bolsa...

Confira abaixo matéria publicada no VALOR ECONÔMICO dando conta dessa, digamos, decisiva questão.

O MERCADO SE DIVIDE ENTRE SERRA E DILMA
SERRA E DILMA DIVIDEM PREFERÊNCIAS NO MERCADO FINANCEIRO
Autor(es): Luiz Sérgio Guimarães, de São Paulo
Valor Econômico - 10/02/2010

O mercado financeiro prefere Serra ou Dilma? Em linhas gerais, os analistas acreditam que Dilma fará uma repetição "piorada" do segundo mandato de Lula: âncora monetária, flutuação cambial suja e política fiscal frouxa. Serra fará o que sempre fez: âncora essencialmente fiscal, contas públicas equilibradas, juro real baixo e câmbio depreciado. Os mercados poderão passar a apoiar mais claramente a ministra Dilma Rousseff se enxergarem dificuldades intransponíveis em uma gestão Serra - Dilma, teoricamente, manteria os juros mais altos que Serra, o que agrada ao mercado. O ex-ministro de FHC Luiz Carlos Mendonça de Barros considera essa visão uma "irresponsável superficialidade". Em relatório divulgado ontem, o economista-chefe do Banco Santander, Alexandre Schwartsman, diz que a evolução das contas de São Paulo entre 2006 e 2009 foi muito semelhante à do governo federal, o que não confirma a avaliação que o governador José Serra tenderia a ser mais duro que Dilma na questão fiscal.

O mercado financeiro prefere Serra ou Dilma? A austeridade fiscal defendida e posta em prática pelo governador de São Paulo, José Serra, sempre conquistou a simpatia de instituições e investidores. Mas a facilidade com que o mercado ampliou seus lucros ao longo dos dois mandatos de Lula introduz um elemento novo capaz de balançar as convicções. E os analistas não descartam uma opção mercadista pela candidatura da ministra Dilma Rousseff.

Em linhas gerais, os analistas acreditam que Dilma fará uma repetição "piorada" do segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva: a âncora persistirá monetária, a flutuação cambial permanecerá suja e a política fiscal, frouxa. Serra fará o que sempre fez: a âncora (rigorosa a ponto de reduzir crescimento no primeiro ano) será essencialmente fiscal, a política econômica se sustentará em contas públicas equilibradas, juro real baixo e câmbio depreciado. Os mercados poderão passar a apoiar mais claramente a ministra Dilma Rousseff se enxergarem dificuldades intransponíveis em uma gestão Serra.

Pelo estilo centralizador demonstrado pelo atual governador paulista, o principal risco seria o de não conquistar a máquina burocrática de Brasília. Encontraria problemas para fazer logo o ajuste fiscal pretendido, com corte das despesas públicas e reforma tributária. Essas correções seriam essenciais para o segundo passo: a desvalorização cambial e a redução dos juros. Mas Luis Otavio de Souza Leal, economista-chefe do Banco ABC Brasil, levanta a hipótese de Serra não conseguir fazer o ajuste fiscal na extensão desejada. "Serra poderá tentar colocar de pé os dois outros pilares do seu modelo, sem que a principal viga de sustentação esteja fincada, o que certamente acabaria em fracasso via uma retomada da tendência de alta da inflação. Portanto, acredito que, apesar de no papel o modelo Serra ser melhor, as dúvidas com relação a sua implementação podem levar o mercado a considerar mais confortável a vitória de Dilma", diz Leal. Sobretudo se o atual presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, vier a ocupar a chapa da candidata ou a sua equipe econômica. Com isso, o PT passaria a ideia do "um pouco mais do mesmo", o conhecido confiável, embora não do inteiro agrado dos mercados.

Em entrevista concedida ontem ao Valor, o ex-ministro do governo FHC Luiz Carlos Mendonça de Barros - o Mendonção, como é conhecido no mercado, amigo de Serra - criticou o que considera uma "irresponsável superficialidade" do mercado financeiro, a de acreditar que, num eventual governo Dilma, tudo estará muito bem pois as instituições e os investidores continuarão ganhando dinheiro, já que serão preservadas as atuais políticas monetária e cambial. "Trata-se de um tremendo erro de análise", ataca Mendonção. "O mercado só olha o próprio bolso e é um bolso de curto prazo".

Essas eleições serão, no seu entender, fundamentais para definir o desenho de Nação que se terá no futuro. O Brasil está em condições privilegiadas em relação aos países europeus. Tem dívida pequena e dinâmico mercado de consumo doméstico. O país já está dentro do centro dinâmico da economia mundial. Mas precisa alargar o seu espaço. "Antes disso, será necessário discutir o papel do Estado na economia. Não tenho dúvida de que um governo Dilma irá ampliar a presença do Estado na produção econômica. É um retrocesso, uma visão soviética das coisas", diz Mendonção. Serra tem outro tipo de visão. Quem tem de ser forte é o setor privado, as indústrias. O governo deve controlar severamente as finanças públicas e criar condições para o investimento privado. No entender do diretor da Quest Investimentos, o mercado deveria abrir mão dos seus interesses de curto prazo, em prol do crescimento que virá para todos mais adiante.

Se o mercado, a sete meses das eleições, ainda não fechou consenso sobre o candidato favorito, sabe o que não quer: torce para o deputado Ciro Gomes (PSB-CE) retirar sua candidatura. O mercado não tem medo das decisões do governador José Serra nas áreas monetária e cambial. Tem medo de suas hesitações e preferiria que o lançamento oficial de sua candidatura à Presidência da República já tivesse ocorrido. Também não tem medo de uma Dilma Rousseff supostamente mais "desenvolvimentista" que Lula. "O mercado prefere Serra", antecipa o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves. Ele não levou a sério a entrevista do presidente do PSDB, Sérgio Guerra, para quem, eleito, Serra mudará o sistema de metas de inflação, o câmbio e os juros. São "audácias de palanque", não linhas e planos de governo.

Como o restante da sociedade, o mercado faz comparações entre Serra e Dilma, mas o dólar e os juros ainda não se deixaram empolgar pelas eleições de outubro. Nem a valorização recente da moeda americana, nem a inflexão sofrida pela curva futura de juros refletem os riscos eleitorais. Mas cresce e se inflama o debate interno nas mesas de tesoureiros, gestores e economistas de bancos e consultorias sobre a influência do pleito presidencial - tido como uma reedição do embate feroz de 2002 - sobre o comportamento das duas principais variáveis. Logo, com o lançamento oficial das candidaturas, as eleições estarão incendiando as expectativas e as decisões de investimentos.

Para o mercado, com Dilma os gastos do governo persistiriam elevados, o superávit fiscal não passaria de 2,5%, exigindo uma política monetária apertada. Nesses meses finais de Lula, raciocina Leal, quanto mais viável se mostrar a candidatura Dilma, mais conservadora tenderá a ficar a política fiscal, de modo a conquistar a simpatia do mercado e reduzir a parte longa da curva de juros. O mercado gosta disso e, dependendo dos programas de governo dos dois candidatos, poderá ficar "comprado" em Dilma.

Enquanto a candidata petista deve transmitir aos mercados mensagens tranquilizadoras sobre os integrantes de sua equipe econômica, os analistas ouvidos pelo Valor não trabalham com a possibilidade de, eleito presidente da República, José Serra nomear medalhões para os postos-chave da economia. Nem o Ministério da Fazenda, nem o Banco Central seriam ocupados por estrelas com luz própria. Serra, no entender do mercado, gosta de se cercar de "luas", homens-satélites que apenas refletem o brilho do chefe.

Essa interpretação de economistas de bancos baseia-se no fato de seu atual secretariado ter sido montado com homens de sua estrita confiança, mas avessos à publicidade externa. A discrição é a marca dos secretários. Quais são as posições de Mauro Ricardo Machado Costa, o secretário da Fazenda do governo paulista, sobre juro e câmbio? O que pensa sobre isso Francisco Vidal Luna, secretário de Economia e Planejamento? Luna foi sócio do ex-ministro João Sayad no antigo banco SRL (sigla de Sayad, Reichstul e Luna). Todos sabem o que Sayad defende em matéria de política monetária. Mas Luna concordaria com as mesmas posições baixistas? Eleito, Serra manteria essa propensão de indicar homens indecifráveis, impermeáveis ao pré-julgamento mercadista. Evitaria, com isso, delegar as cruciais políticas monetária e cambial a expoentes historicamente ligados à social-democracia paulista.

Estariam de antemão descartados tanto o professor da FGV Yoshiaki Nakano, um dos mais respeitados defensores do "novo-desenvolvimentismo" quanto o keynesiano Luiz Carlos Mendonça de Barros. Mas ambos podem servir de inspiração a Serra. Os dois defendem um estrito controle das contas públicas. "A base de sustentação da política econômica será sempre uma política fiscal austera. A contenção dos gastos, a ampliação das metas de superávit primário e a busca de um déficit nominal zero são os pressupostos nos quais irão se assentar as outras políticas", diz o professor da FGV, Paulo Gala, economista do grupo liderado pelo desenvolvimentista tucano Luiz Carlos Bresser-Pereira.

Para a política monetária, o objetivo parece ser o de estabilizar o juro real no nível de 5%. Na cambial, a meta é construir uma taxa depreciada capaz de reverter a desindustrialização denunciada pelos desenvolvimentistas. Como? Por meio da regulamentação da conta de capitais, sugere Gala. As medidas tomadas na parte final da gestão de Armínio Fraga no BC de Fernando Henrique Cardoso, e continuadas no governo Lula, no sentido de liberalizar a conta de capitais do balanço de pagamentos, seriam revertidas. Não há possibilidade de se falar em "controle de capitais".

Diferentemente de 2002, o risco político não conseguirá fazer disparar o dólar. No entender do economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, a taxa de câmbio chegará ao fim do ano bem depreciada, mas em função do déficit em conta corrente, e não de uma fuga de capitais estrangeiros motivada por mudanças de regras na política cambial. "Ao não ter aumentado a poupança nos oito anos que ficou no governo, o PT dará de presente ao país um déficit em conta corrente cada vez mais difícil de financiar", diz Vale. Sobre juro, nem Serra, nem nenhum governo será irresponsável no combate à inflação. "O correto é buscar mecanismos de redução dos spreads bancários. É isso ao final que o Serra deve ter na cabeça quando fala dos juros", diz Vale.

O PT trinta anos depois II

Mais um artigo sobre os trinta anos do PT. Também foi publicado pelo jornal VALOR ECONÔMICO.

Era uma vez um partido
Cláudia Izique

O Partido dos Trabalhadores chega aos 30 anos com uma história que não se pode qualificar como de perfeita homogeneidade, nem programática, nem ideológica, nem de prática política. O que se vê é um percurso acidentado, marcado por dissensões e revisões de rumo que talvez, numa visão otimista, possam ser creditadas a um processo, natural em partidos políticos e outros ajuntamentos humanos, que faz do conflito um caminho para a integração e o fortalecimento.

Não é o que pensa o sociólogo Francisco Weffort. O fato de a candidata do partido, Dilma
Rousseff, ser escolha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e não refletir um consenso partidário inspira a análise pessimista de Weffort, que deixou o PT em 1987, candidato derrotado a deputado constituinte. "O PT está engolindo Dilma por não ter alternativas" e a eventual vitória da ministra-chefe da Casa Civil, avalia Weffort, deverá empurrar o partido para importante perda de substância. "O Lula é uma espécie de reserva de contingência das convicções que deram origem ao partido. Se ela se eleger, haverá um esvaziamento dessas convicções. Haverá um esvaziamento ideológico e programático ainda maior."

Cândido Vacarezza, líder do governo na Câmara, discorda: "O que fundamenta o PT é sua unidade política. A Dilma tem mais identidade com o nosso projeto do que outras pessoas que participaram da fundação do PT. Ela representa a materialização do projeto do partido para o futuro."

O que não se discute é a relevância do PT na vida política do país desde a fundação, em 10 de fevereiro de 1980, três meses depois da Lei da Anistia e da aprovação pelo Congresso da reforma partidária que restabeleceu o pluripartidarismo. No ocaso da ditadura, surgiu como um partido novo, diferente das agremiações tradicionais, que se organizavam em torno de elites políticas vinculadas ao Estado.

Gestado no movimento sindical, o PT juntou facções significativas da Igreja Católica e boa parte da esquerda revolucionária, além de pós-materialistas, como Claudio Couto, do departamento de gestão pública da Fundação Getúlio Vargas, qualifica lideranças comprometidas com temas ambientais, feministas, de minorias, entre outros. Ocupou um "lugar de mercado" que, em tese, ele sublinha, poderia ter sido do Partido Comunista Brasileiro (PCB) que, na ilegalidade e fragmentado por lutas internas, não conseguiu se reorganizar depois da anistia.

Essa composição heterogênea tinha um denominador comum na luta pela redemocratização do país e uma perspectiva de transformação do capitalismo, traduzida em vagas menções ao socialismo.

A heterogeneidade guardava ingredientes contraditórios. "Os segmentos representados pela Igreja se pautavam por argumentos populistas, enquanto os sindicalistas tinham uma perspectiva fortemente liberal e até neoliberal, já que seu interesse era o de obter ganhos na relação capital e trabalho e defender a livre negociação, sem interferência do Ministério do Trabalho", diz o cientista político Milton Lahuerta, da Universidade Estadual Paulista (Unesp). As contradições nas matrizes fundadoras impediam que o partido explicitasse claramente perspectivas de futuro. "Isso ajuda a entender porque o PT buscou afirmar e reafirmar sua superioridade ética em relação aos demais partidos", acrescenta Lahuerta. O PT ingressa na cena política avesso a alianças e sem forjar em sua base uma cultura política que aceitasse a ideia de compor com forças consideradas "conservadoras".

Essa indisposição começou a mudar em 1982, quando o PT optou por entrar no jogo eleitoral, conquistando algumas prefeituras e algumas vagas no parlamento, aliando-se, preferencialmente, a partidos do chamado "campo da esquerda". "O PT abriu-se para coligações e passou a compartilhar palanques", analisa Rachel Meneghello, da Universidade de Campinas (ver artigo na página 7).

O ingresso no jogo democrático teve um preço, do ponto de vista da organização interna. "No sistema eleitoral brasileiro, a competição é mais intrapartidária do que intepartidária. E isso, no PT, era mais agudo", diz Weffort. "Ingressei num partido solidário com os interesses dos trabalhadores e com a ideologia socialista. Aí veio a Constituinte e a queda do Muro de Berlim, em 1989, e esses ideais, ao meu ver, foram sendo pulverizados."

Ao longo dos primeiros anos, o partido teve características de movimento e foi pouco propositivo. Quando chegou ao governo, as duas lógicas - a de partido e de movimento social - se chocaram. "A tensão está na raiz dos conflitos da administração petista em Diadema, Santos, São Paulo e Fortaleza", exemplifica Weffort. "Muitas vezes, o partido foi o principal opositor dos governos petistas."
Nas eleições presidenciais de 1989, "a cúpula" da matriz sindical e as lideranças da esquerda revolucionária abrigadas no PT constituíram um bloco de forças, representado pelo "campo majoritário", e imprimiram ao partido uma "migração para o centro", analisa Lahuerta. "O José Dirceu queria uma aliança com o PMDB. Não deu certo porque a cultura política do partido não admitia."


As eleições de 1989 revelaram que o discurso de redemocratização, com viés socialista, não repercutira no eleitorado, sobretudo nas camadas mais pobres. A candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva foi derrotada pelos "setores menos esclarecidos e mais desfavorecidos da sociedade", reconheceu em entrevista o próprio Lula. "Temos que ir para a periferia, onde estão milhões de pessoas que se deixam seduzir pela promessa fácil de casa e comida."

André Singer, professor do departamento de ciência política da USP, ex-porta voz do primeiro governo Lula, entende a rejeição dos "setores menos esclarecidos" como uma manifestação de resistência a opções que colocassem a ordem em risco. A esquerda era preterida em favor de "uma solução pelo alto" - escreveu Singer no texto "Raízes Sociais e Ideológicas do Lulismo", publicado na revista "Novos Estudos", do Cebrap, invocando antecedentes "clássicos", descritos por Marx em "O 18 Brumário de Luís Bonaparte".

Apesar de ganhar institucionalidade nos Estados e municípios, em nível nacional o PT era visto como um partido de oposição a "tudo que existisse". "O eleitor percebia que o discurso socialista era de mentirinha", avalia Couto.

Em 1994 e em 1998, o "conservadorismo popular", acionado pela inflação e pelo medo da instabilidade, venceu Lula outra vez. Mas foi suficiente para aprofundar as mudanças no PT. "As derrotas de 1989, 1994 e 1998 foram o fundamento para o partido reconhecer que a política de alianças deveria se aprofundar e ir além do campo da esquerda, colando-se a um projeto mais amplo", analisa Rachel.

Nas eleições de 2002, o PT entrou na disputa com um perfil moderado. "Na 'Carta aos Brasileiros', o partido assumiu um discurso verdadeiro. Comprometeu-se com o controle de gastos, com o pagamento da dívida, com uma política fiscal austera e com metas de inflação", avalia Couto.

Havia, ainda, o êxito de dois governos do PSDB. "O partido reconheceu que as chances dependiam de que se abrisse para uma proposta mais próxima da social-democracia, aliando-se ao capital nacional", afirma Rachel.

Essa estratégia de alianças foi concebida pelo núcleo "pragmático" do PT, coordenado por José Dirceu e por Lula, lembra Lahuerta. "O PT não tinha como governar sem reproduzir o modelo do PSDB, de alianças mais conservadoras, e acabou por fazer acordo com partidos menores." Na campanha, sua principal base de apoio foram os eleitores de níveis superiores de escolarização nos Estados mais urbanizados e industrializados do Sul e do Sudeste, recorda Singer.

A estratégia de alianças com partidos "menores" desembocou no "mensalão" e na "crise moralista dos intelectuais do partido", diz Lahuerta. Em 2005, o PT só não se desmantelou por causa do carisma de Lula e da força de sua organização. "Depois da crise do 'mensalão'", observa Rachel, "o PT tinha 800 mil filiados, o que pode parecer pouco em relação ao tamanho do eleitorado mas, do ponto de vista da construção institucional, tem peso semelhante ao do trabalhismo na Inglaterra.

O "mensalão" fragilizou o PT diante da opinião pública e sua já comprometida unidade interna. E ainda custou a exclusão da cena política de lideranças parlamentares, como Antonio Palocci e José Dirceu. "Ao longo do segundo governo Lula, o partido não construiu lideranças nacionais", acrescenta Rachel.

Pesquisas da Fundação Perseu Abramo com delegados do PT mostram claramente a divisão que começa a ocorrer a partir de 2005, conta Rachel. "Não há consenso sobre determinações da cúpula, mas também não há uma recusa frontal."

Em 2006, Lula se reelegeu pelos feitos do governo e programas como Bolsa Família, políticas de controle de preços, aumento real do mínimo, crédito consignado. "Lula foi a grande contribuição do PT ao país", diz o senador Aloizio Mercadante. "O mundo reconhece hoje o Brasil como uma nação emergente e isso tem a ver com Lula e com os governos anteriores."

As ações governamentais do primeiro mandato aumentaram "a capacidade de consumo de milhões de pessoas de baixíssima renda", como atesta o acesso em grande escala à classe C, num contexto de manutenção da estabilidade com expansão do mercado interno, sobretudo para setores de baixa renda, diz Singer. Em 2006, ele aponta, o voto em Lula sofre uma mudança ideológica: aumenta em direção aos extremos, tanto à esquerda como à direita, e cai no centro. "Lula passa a representar uma opção nova, que mistura elementos de esquerda e de direita, contra uma alternativa de classe média organizada em torno de uma formulação de centro."

Lula começa, assim, a autonomizar sua ligação com o partido. "Ele fica maior que o PT e acima das contradições do PT, uma espécie de mito . Não é mais um representante de um setor social. Transforma-se numa espécie de mediador, acima das classes, falando tanto ao MST como aos usineiros", analisa Lahuerta. Surge o "lulismo".

"A desconexão entre as bases do lulismo e as do petismo em 2006 pode significar que entrou em cena uma força nova, constituída por Lula à frente de uma fração de classe caudatária dos partidos da ordem e que, mais do que um efeito geral de desideologização e despolitização, indicava a emergência de outra orientação ideológica, que antes não estava posta no tabuleiro", escreveu Singer.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

O PT e o debate político em 2010.

Como ocorre quase sempre, republico, mais abaixo, a coluna de hoje do jornalista Alon Feuerwerker no Correio Brasiliense. O texto também encontraa-se disponível no Blog do Alon. Boa leitura!

Uma bela sociedade (04/02)

O PT protestava nos anos 90 contra a interdição do debate econômico. Hoje quem interdita o debate é o PT, em aliança com os mesmos vendedores de ilusões do primeiro mandato de FHC. Uns lutam para manter as posições de poder. Outros, os lucros

Ciro Gomes e o PSB experimentam as vicissitudes de um projeto político que não se encaixa no do presidente da República. O script é velho e repetido. Vazam do palácio as manifestações de “carinho”, "apreço” e "consideração” de Luiz Inácio Lula da Silva pelo sonhador da vez. Pode haver até "gratidão” e, no limite, um “apoio”, que nunca se materializa. Enquanto isso, é colocada para rodar a máquina de moer outros sonhos que não os de sua excelência.

Resistirão Ciro e o PSB à blitzkrieg do Planalto? Um vetor da operação política palaciana nos últimos meses tem trabalhado para desidratar quaisquer possíveis alianças do eventual candidato socialista. A razão é sabida. O PT temia que Ciro, podendo apresentar-se como alguém do “campo lulista”, acabasse tomando o lugar de Dilma Rousseff na polarização.

Como me disse um deputado do PT-SP no fim do ano passado. "O problema do Ciro é encarnar melhor que Dilma o espírito do confronto com os tucanos. Num ambiente de disputa feroz, ele estaria mais à vontade do que ela."

Mas esses são assuntos de Ciro, do PSB, do PT e das relações mútuas. Que resolvam como acharem melhor.

E o distinto público, teria algo a ganhar com a entrada do deputado e ex-ministro na corrida? Teria sim. E muito. A começar pela desinterdição de certa agenda, a do não financismo. O PT ameaça agitar na campanha a ameaça de que o PSDB vai “mexer na economia”. Dado que os tucanos passarão os próximos meses lutando para escapar da excomunhão do mercado, por que não abrir espaço para alguém disposto a assumir o risco político de dizer que vai alterar o que precisa ser alterado?

O PT protestava nos anos 90 contra o que chamava de interdição do debate econômico. Criticou especialmente a cortina de fumaça erguida em 1998, com a colaboração da imprensa, para mascarar as fragilidades da economia na véspera da reeleição de Fernando Henrique Cardoso. Hoje quem interdita o debate é o PT, em aliança com os mesmos vendedores de ilusões do primeiro mandato de FHC. Uns lutam para manter as posições de poder. Outros, os lucros. Uma bela e rentável sociedade.

Com um agravante: FHC pelo menos tinha o argumento de que precisava da âncora cambial para quebrar a espinha da inflação inercial. Agora, nem isso.

Um sintoma do ambiente é a presença de Henrique Meirelles na lista de possíveis vices de Dilma. O presidente do BC, aliás, está em plena campanha, cuidando de produzir factoides para distrair, enquanto protege os juros altos. O alvo agora são os bônus dos executivos de bancos. Mas não deixa de fazer algum sentido. Em ambos os casos, ao propor conter os bônus e ao colocar lenha na fogueira dos juros, zela em primeiro lugar pelos dividendos dos acionistas das instituições financeiras.

A projeção realista do déficit nas transações com o exterior este ano corresponde a um quarto das nossas reservas internacionais. A conta vai fechar por causa dos investimentos diretos, que o governo espertamente chama de “produtivos”. Como se o dinheiro nas bolsas carregasse automaticamente esse rótulo. Como se não fosse um maravilhoso negócio captar dinheiro lá fora para gerar aqui dentro receitas não operacionais.

Esta semana, a produção industrial de 2009 confirmou-se desastrosa. Talvez no fim de 2010 a indústria volte ao nível de 2008. Mas há por acaso alguém estrategicamente preocupado com a indústria, com as exportações, com a geração acelerada de empregos? No establishment econômico e político, pelo jeito ninguém. Para que se ocupar disso se o dólar barato funciona como anestesia? Se coloca mais comida na mesa do pobre, garante as viagens e os gastos da classe média no exterior e alivia a vida de todo mundo que precisa importar?

Nesse ambiente, ideal para o petismo será enfrentar adversários manietados pela necessidade de defender a administração FHC. O PT poderá desfilar na campanha como o partido da "ruptura com a herança maldita”, enquanto cultiva a continuidade do que ela tem de pior.

Ciro Gomes, assim como Roberto Requião (PMDB), representaria pelo menos a possibilidade de discutir esses temas. Suas dificuldades políticas são um retrato da miséria do debate político e intelectual hoje em dia no Brasil.

Coluna (Nas entrelinhas) publicada nesta quinta (04) no Correio Braziliense.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Legalização das drogas: a posição corajosa do Deputado Paulo Teixeira (PT)

O Deputado Paulo Teixeira (PT-SP) tem assumido, com surpreendente coragem se levarmos em conta a média dos políticos brasileiros, a proposta de descriminalizar o uso das drogas. No vídeo abaixo, uma entrevista concedida pelo deputado ao jornalista Alon Feuerwerker. Feuerwerker, como vocês sabem, pilota um blog (Blog do Alon), é colunista do Correio Brasiliense e, de uns tempos prá cá, ancora o programa "Jogo do Poder", que é transmitido pela CNT, mas que você pode encontrar também no you tube.

O potencial de crescimento da candidatura de Dilma Roussef

Na Folha de São Paulo de hoje, em uma análise objetiva, diretores do Datafolha apontam o potencial de crescimento da candidatura da Ministra Dilma Roussef.

ANÁLISE

"Votos" de Lula podem igualar Dilma a Serra
MAURO PAULINO
DIRETOR-GERAL DO DATAFOLHA
ALESSANDRO JANONI
DIRETOR DE PESQUISAS DO DATAFOLHA

A capacidade de transferência de votos que o presidente Lula demonstra ter elevando sua candidata Dilma Roussef (PT) ao atual patamar de 23% não se esgotou. Uma análise mais detalhada da última pesquisa Datafolha mostra que há 15% de brasileiros que manifestam o desejo de votar no candidato apoiado pelo presidente, mas não sabem ainda que Dilma é sua escolhida, deixando de optar por ela.
(...)

Para chegar a essa conclusão o Datafolha combinou os resultados de três perguntas: intenção de voto estimulada, grau de influência de Lula como cabo eleitoral e o conhecimento de Dilma como candidata do presidente.
Somando-se os que não escolhem Dilma, mas outro candidato (58%), os que optam por votar em branco ou anular (9%) e os que não sabem em quem votar (10%) chega-se a 77% da população adulta que não declara, neste momento, apoio à petista. Dentre estes, 21% afirmam que votariam com certeza em um candidato apoiado por Lula. Estes dividem-se em 6% que identificam Dilma como candidata de Lula e 15% que não sabem quem Lula apoia.
Há, portanto, 15% da população que, neste momento, não declara intenção de votar em Dilma, não sabe que ela é a candidata de Lula, mas afirma que votaria com certeza em um candidato apoiado pelo presidente.
(...)
A característica mais marcante desse estrato é a baixa escolaridade. Enquanto na média da população brasileira adulta, 48% têm grau de escolaridade fundamental, nesse segmento, essa taxa vai a 68%.
O mesmo ocorre com a renda. Na média, 43% dos brasileiros têm renda familiar de até dois salários mínimos. No segmento dos potenciais eleitores de Dilma, esse percentual vai a 59%. Além disso, 36% vivem no Nordeste e 20% no Norte ou Centro-Oeste, índices que superam a média em oito e cinco pontos percentuais, respectivamente.

ASSINANTE UOL LÊ A MATÉRIA COMPLETA AQUI.

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Mineiro, o deputado


Fernando Mineiro (PT) foi um dos deputados mais votados para ser o Parlamentar do Ano pelos jornalistas que cobrem a Assembléia Legislativa do RN. Isso não é pouco. Mineiro não tem caneta que assine regalias e privégios. E nem está na direção da casa. É da base de apoio à governadora Vilma de Faria, mas é crítico e não deixa barato nada que atente contra os valores que defende. Em outras palavras, como dizem no interior, é árvore de pouca sombra...

E, mais importante, a lembrança do nome do deputado ocorreu antes do espetáculo deprimente de votação do orçamento (situação na qual, como já comentei aqui, os nobres parlamentares aprovaram emendas ao orçamento sem saber do que elas tratavam...). E, você sabe, Mineiro enfrentou, quase solitário, a armação feita pelos "colegas" e foi a reserva moral da casa.

Por isso mesmo, o reconhecimento que o deputado petista recebe agora não é fruto de uma impressão passageira. Longe disso! Mineiro, ao longo de sua atuação como parlamentar (lembre-se que ele foi vereador de Natal por algumas legislaturas) sempre buscou intervir propositivamente no debate público. Assim, os seus mandatos são sempre pautados em propostas e intervenções tecnicamente fundamentadas. Para isso, diga-se de passagem, conta com o apoio inestimável de sua Assessoria Parlamentar. Nesta, só entra gente qualificada. Quando você os encontra, descobre uma parte do segredo do sucesso do deputado: seus assessores são profissionais escolhidos sempre por critérios técnicos e não pela proximidade política...

Mas boa assessoria não garante um bom mandato. O parlamentar precisa trabalhar (e saber trabalhar!). E isso Mineiro faz com vontade e gosto. Um exemplo: durante os últimos sete anos tem trilhado as veredas do interior, contatando pessoas e sentido de perto o Brasil que está vindo. E, nessas viagens, trava conversas com lideranças de trabalhadores rurais e de pescadores, mas também com vereadores e prefeitos. Ou seja, faz política cotidianamente.

Por isso, para este blogueiro, em que pese as minhas discordâncias políticas com o deputado, e como não devo satisfações de minhas posições a não ser ao meu travesseiro, afirmo em alto e bom som que Mineiro é o PARLAMENTAR DO ANO.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

A pesquisa Datafolha e as miragens analíticas da Nova Direita

De vez em quando, visito o blog do Reinaldo Azevedo, no site da Veja. Mas, apresso-me em declarar, somente de vez em quando mesmo Gosto do meu fígado... O jornalista é o representante mais atilado da Nova Direita e o seu estilo já foi analisado, e copiado, por muitos. A agressividade conservadora contra tentativas, mesmo que mínimas, de substantivar a nossa frágil vida democrática é marca dele e dos seus imitadores. Diverte-me um pouco. O problema é que tem gente que o leva sério...

Bueno, faço esse comentário, pois, neste final de semana, o DataFolha divulgou pesquisa de intenções de votos para presidente na qual Dilma sobe para 23% e Serra cai para 37%. Com uma capacidade invejável de reverter o que aponta a realidade, o Reinaldo Azevedo quer, e porque quer, quer que todo mundo compre a idéia de que é o seu preferido, ou seja Serra, quem se sai melhor na pesquisa. Com os adversários agredindo a lógica, resta aos petistas comemorarem.

Mas, epa!, nem tudo é devaneio nas searas da Nova Direita. O César Maia, ex-prefeito do Rio e uma das lideranças do DEM, para surpresa geral, tem sido uma das vozes mais equilibradas na análise do quadro eleitoral de 2010. Por isso mesmo, pode apostar!, vale a pena ler a análise que ele fez da mesma pesquisa. A direção é bem diferente daquela tomada pelo Reinaldo Azevedo. Confira abaixo.

PESQUISA DATAFOLHA APONTA PARA POLARIZAÇÃO!

1. Sempre que os nomes apresentados em pesquisa são de amplo conhecimento público, os números relativos à intenção de voto "se as eleições fossem hoje", se aproximam da verdade de hoje. Especialmente numa pesquisa com mais de 11 mil eleitores, como essa realizada entre 14 e 18 de dezembro. Na pesquisa DataFolha de 25-27/03/2008, portanto mais de 20 meses atrás, Dilma tinha apenas 3%. Vem crescendo progressivamente, em função da divulgação de seu nome e o apoio de Lula: 3%, 8%, 11%, 16%, 16%, e 23%. Serra flutua no mesmo patamar: 38%, 41%, 41%, 38%, 37%, e 37%.

2. A diferença Serra-Dilma caiu de 18% e 19% nas duas pesquisas anteriores, para 14%. Para ela o dado mais importante que sua esperada ascensão com o apoio de Lula, é que a diferença num suposto primeiro turno e num segundo turno não muda. Com isso, isolando os dois no primeiro turno, Dilma tem 38% e no segundo 42%, com crescimento relativo maior que o de Serra, e absoluto igual, para uma taxa de conhecimento menor.

3. Entre as pessoas de maior renda, Serra tem 38% e Dilma surpreendentes 30%. Entre os de menor renda, provavelmente os que menos acompanham este processo pré-eleitoral, Serra tem 35% e Dilma apenas 23%, número que tende a crescer com o envolvimento de Lula, pois aqui é onde sua aprovação é maior.

4. Os números mostram que a tática do PSDB de ganhar tempo até março abriu espaço para o crescimento de Dilma, exatamente entre os eleitores potenciais de Serra. A entrevista do presidente do Banco Central, com destaque de capa no Globo de domingo, aponta nessa direção: assustar a classe média com hipotéticas mudanças.

5. Finalmente, imaginando que os 23% de Dilma entre os de menor renda suba para 30%, a diferença global cairia de 14 pontos para a metade. É um cenário provável. Claro, nas mesmas condições de hoje.

sábado, 5 de dezembro de 2009

A oposição em seu labirinto

DEM e PSDB passaram os últimos anos assumindo confortáveis papéis de campeões da moralidade pública. Os deslizes e desastres de petistas e aliados forneciam elementos para cruzadas morais. Mas, antes do que se esperava, as vestais começaram o strip-tease em praça pública. Com enredo cinematográfico, o DEM, do Governandor José Roberto Arruda, se liquefaz com rapidez. E ameaça envolver o PSDB em sua descida ao inferno. Para continuar no tema, aproveite e leia, mais abaixo, trechos da coluna de hoje do jornalista Fernando Rodrigues, da Folha.

FERNANDO RODRIGUES
A pior semana da oposição

BRASÍLIA - Acaba hoje talvez a pior semana para a oposição num ano que já havia sido péssimo para a trinca PSDB-DEM-PPS. Nem o petista mais otimista poderia imaginar um presente de Natal antecipado e assim tão completo.

As três principais siglas anti-Lula foram chamuscadas ao mesmo tempo. O mensalão do DEM quase derrubou o único governador da sigla, José Roberto Arruda, em Brasília. O Supremo Tribunal Federal abriu ação para apurar o mensalão do PSDB, no qual o ex-presidente nacional da sigla Eduardo Azeredo é acusado de ser um dos mandantes. E o presidente nacional do PPS, Roberto Freire, foi citado como beneficiário de propinas do panetonegate candango. Todos, por óbvio, negam ser culpados.
(...)
Para o PT, é uma benção manter os peemedebistas acuados. Há uma redução natural na voracidade atávica por cargos e verbas em troca do apoio a Dilma Rousseff em 2010.
Mesmo antes dos fatos devastadores recentes, as coisas já não estavam bem na seara da oposição. No final do ano passado, a Justiça Eleitoral havia cassado o então governador da Paraíba, Cássio Cunha Lima (PSDB). Há alguns meses, a governadora tucana do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius, sofreu uma ameaça de impeachment.
(...)
O impacto de toda essa desgraça em 2010 ainda é incerto para tucanos e "demos". Mas, certamente, bom o efeito não deve ser.
frodriguesbsb@uol.com.br

ASSINANTE UOL LÊ O TEXTO COMPLETO AQUI,

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Miragens pré-eleitorais: um PT mais à esquerda...

Veja abaixo artigo sobre essa miragem pré-eleitoral que é uma fantasmagórica "guinada à esquerda do PT".


O PT à esquerda
Marco Aurélio Nogueira

Circula nos ambientes políticos a informação de que o PT pretende retomar um discurso de esquerda para as próximas eleições, fato que estaria a ser demonstrado por recentes declarações e documentos do partido.

Antes de saudar o fato, que pode contribuir para que se ganhe maior clareza no jogo político, é preciso avaliar a situação. O que indica ela? A presença de um movimento para enquadrar Lula, seu governo e sua candidata à sucessão, que carregam uma imagem centrista e moderada bem consolidada? Ou o desencadeamento de uma operação para reerguer o partido e voltar a inseri-lo nos trilhos originais, de onde escapou nos últimos anos?

Enquadrar Lula é algo de que não se deveria cogitar, pois ele se tornou, com o tempo, maior que o PT. Hoje segue carreira-solo, administrada por um seleto grupo de gestores leais e por uma imponente onda de culto e adoração popular, que impede até mesmo o exercício da ponderação, proíbe críticas e lhe concede oxigênio suficiente para dispensar maiores amarras e compromissos institucionais, incluindo os partidários. Seria como imaginar, mutatis mutandis, o enquadramento de um Fidel, um Jânio ou um Prestes.

Mas partidos de esquerda são seres condenados a explicar e justificar todos os seus passos. Nesse movimento, são sistematicamente tentados a reiterar convicções de antes, com as quais foram batizados e ganharam selo de identidade. Vivem de forma dilemática: precisam renovar-se sempre, mas não conseguem fazer isso com facilidade, pois as tradições pesam e muitos de seus integrantes se recusam a seguir as novas orientações, regra geral decididas e impostas pelas cúpulas.D

á-se algo assim com o PT, que desde o final dos anos 1990 enveredou por um caminho reformista, expulsou parte de suas alas tidas como "radicais", chegou à Presidência da República e se converteu em expoente do universo social-democrata. Ao longo desse percurso, muitos erros foram cometidos, espocaram crises de identidade, diluições ideológicas e regressões fundamentalistas. Seria lógico, portanto, que suas direções se dedicassem a evitar a debandada dos militantes e eleitores saudosos dos velhos tempos, tanto quanto a atrair e soldar a adesão de novos seguidores.

A retomada de um discurso de esquerda pode ser vista como uma resposta a essa situação, uma estratégia direcionada mais ao público interno ampliado (militantes e eleitores) do que à sociedade. É como se as cúpulas partidárias estivessem a dizer: "Continuamos de esquerda, não nos abandonem, não esmoreçam!" - num apelo para que não se multipliquem eventuais fugas rumo ao PSOL ou à candidatura de Marina Silva, por exemplo.

É isso, mas não é somente isso. O PT também deseja se fazer presente nas campanhas de 2010, orientar seus candidatos, dar a eles combustível, recursos de combate e persuasão. Está a se movimentar para isso.Se pensarmos em termos abstratos, típico-ideais, um partido cumpre essa meta em dois planos: olhando para as amplas massas e para o futuro.

No primeiro deles, elabora um kit de sobrevivência, um conjunto de princípios essenciais traduzidos em expressões simbolicamente eloquentes e de fácil manuseio, estilo Estado x mercado, projeto popular e democrático x projeto do Consenso de Washington, governo nacionalista e internacionalista x governo entreguista, o nosso Brasil x o Brasil deles, e assim por diante. É nesse plano que se apresentam as realizações governamentais, as virtudes do líder e de seus sucessores, os planos sórdidos dos adversários. A intenção, aqui, é organizar um guia para a ação e, acima de tudo, formar opinião. Sim, porque os eleitores precisam de formadores de opinião, mesmo quando são de esquerda.

No segundo plano, o partido elabora uma teoria da sociedade e da transformação social que julga a ela corresponder, determinando o lugar que ele próprio, o partido, e seu entorno ocupam nesse processo. É um plano sofisticado, que requer uma análise do mundo, a definição de estratégias de longo prazo e das alianças fundamentais, o reconhecimento claro dos obstáculos e das possibilidades concretas de mudança. Nele a simplificação não tem lugar e a agitação deve ser substituída pela argumentação.

Na dimensão típico-ideal, esses dois planos caminham juntos, retroalimentam-se. O partido fala para as massas com um discurso sustentado pela tradução criteriosa de uma teoria social consistente, que é corrigida e ajustada à medida que se obtém o feedback da sociedade.

Salvo avaliação mais aprofundada, o que parece estar a ocorrer no Brasil expressa uma disjunção desses dois planos, com uma concentração unilateral no primeiro deles. O PT está esquentando as turbinas para oferecer a seu "povo" o empuxo necessário para uma ação vitoriosa em 2010. Está a produzir armas de combate, agitação e identificação. Como seria mesmo de esperar.Não há por que alguém ficar surpreso ou incomodado com isso, que é política em estado bruto, igualmente praticada pelos demais partidos. Os puros de espírito, as almas mais sensíveis poderão torcer o nariz para as acusações infundadas, os autoelogios extremados e passionais, as manobras exclusivamente para prejudicar inimigos e adversários. Terão de entender que política também é feita disso.

É feita disso, mas não só disso. Se o PT se julga ou pretende ser um partido de esquerda de fato, não pode permanecer estacionado no plano da agitação, do discurso fácil para as massas. Precisa ir além e acoplar a esse plano um segundo plano, de elaboração teórica, produção cultural e projeção do futuro, como, de resto, se espera que façam todos os demais partidos. Sem isso ficará no meio do caminho e não se completará como partido de esquerda. Poderá até ter sucesso e vencer em 2010, mas não contribuirá para integrar a sociedade, convencê-la da necessidade de uma reforma social e fornecer-lhe algo mais denso e duradouro do que um sonho para sonhar.

Marco Aurélio Nogueira é professor titular de Teoria Política da Unesp. E-mail: m.a.nogueira@globo.com
var keywords = "";

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Coluna de hoje do Alon

Leia abaixo a coluna de hoje do Alon Feuewerker.

Surpresas são difíceis de prever (27/11)
Alon Feuerwerker


De todos os números, qual o mais importante? O mano a mano do segundo turno, o termômetro da polarização entre Dilma e um tucano

Desconfiar da informação que chega é essencial nesta profissão. Daí por que não cabe aos jornalistas torcer o nariz para políticos que desconfiam de pesquisas. Ciro Gomes reagiu à última Sensus/CNT com coerência. Mostrou desdém, mesmo com o resultado supostamente bom para ele. É uma notável exceção.

Políticos adoram pesquisas favoráveis —e detestam as desfavoráveis. O caso mais agudo na minha lembrança é do comecinho de 2006, quando Luiz Inácio Lula da Silva apareceu pela primeira vez em muito tempo na frente de José Serra, segundo a mesma Sensus/CNT. Tucanos reagiram com fúria, apenas para enfiar a viola no saco um pouco mais adiante.

Desenvolvi meu método para desconfiar das pesquisas: acredito em todas. Há quem busque a pesquisa 100% certa (uma contradição em termos, diante da margem de erro). Eu procuro tentar achar em cada uma o que ela possa ter de verdadeiro. A pesquisa absolutamente errada é tão improvável quanto a completamente fiel. Então sempre há algo que se aproveite. Trata-se apenas de garimpar.

Mesmo a pesquisa fajuta tem sua utilidade. Nem que só para conhecer o que motivou a fabricação. Felizmente, o mercado de pesquisas profissionalizou-se bastante nos últimos anos, especialmente nos períodos eleitorais, quando os levantamentos se submetem a uma legislação algo rigorosa.

A lei dos grandes números também ajuda. Se você olhar para uma quantidade suficiente de pesquisas, acabará chegando a um ponto próximo da realidade. Minha sugestão para quem aprecia o assunto é esta: colecionar e seguir o máximo de pesquisas possíveis.

E o que observar então nos próximos números presidenciais?

Um detalhe é como e quanto Dilma Rousseff vai chegar em José Serra (ou por quanto irá eventualmente ultrapassá-lo) num primeiro turno sem Ciro Gomes. Outro detalhe é o ritmo de crescimento de Aécio Neves, com que velocidade o mineiro chega no potencial de votos mínimo de um candidato da oposição, cerca de 40% dos válidos. Outro ainda é como se estreita a margem entre Serra e Dilma num eventual segundo turno.

São todas coisas que vão acontecer, com alguma certeza, à medida que a taxa de conhecimento efetivo dos candidatos começar a nivelar-se. E à medida que os eleitores começarem a prestar mais atenção na corrida presidencial.

Outra providência boa é cultivar algum ceticismo diante dos motivos apresentados para eventuais oscilações. Dilma deu uma estagnada tempos atrás, depois que mergulhou. Disseram que foi por causa do caso Lina Vieira. A mim soou, com todo o respeito, um chute.

Ela caiu porque sumiu. Tanto que voltou a crescer quando reapareceu. Serra vem perdendo alguma substância, aproximando-se do estoque real de votos dele. Disseram que tem a ver com a associação a Fernando Henrique Cardoso. Outro chute. Mais provável que tenha a ver com o ânimo geral. E o fato é que Serra vinha meio escondido.

A última Sensus/CNT mostrou Dilma em leve alta. Coincide com a melhora no ambiente econômico. Outra coisa útil de acompanhar são os índices de confiança do consumidor. Com algum atraso, sua tendência acaba se refletindo na avaliação do governante. Avaliação que influi nos números da eleição.

O que não é chute para 2010? O óbvio. Que a polarização deve se dar entre um candidato do PT e outro do PSDB. É inimaginável que Lula não leve sua candidata ao segundo turno. E por enquanto nem Ciro nem Marina Silva mostram musculatura para deslocar o tucano que entrar na corrida.

E qual é o número mais importante? Talvez o mano a mano do segundo turno, o termômetro da polarização. Se todo mundo sabe que no fim das contas a parada será decidida entre Dilma e um peessedebista, que se monitore o cenário de uma eventual segunda rodada. É o que vou procurar fazer.

Pode haver surpresas? Sempre pode. Mas se existe algo difícil de prever são as surpresas.

Acacianas

A Venezuela e o Brasil não reconhecerão um eventual governo de Honduras saído da eleição marcada para este fim de semana. Os Estados Unidos reconhecerão. Cada um na sua.

É uma diferença que vai se propagar, especialmente na América do Sul. Com o tempo, todos os países irão alinhar-se. Uns de um lado, outros do outro. A unidade continental terá virado ficção.

Lula e Hugo Chávez liderarão um bloco que vai tratar Honduras como pária. Do jeito que os Estados Unidos se habituaram a tratar Cuba.

Como diria o Conselheiro Acácio —que bem poderia ter sido o autor do título desta coluna—, uma particularidade das consequências é que elas vêm depois.


Coluna (Nas entrelinhas) publicada hoje no Correio Braziliense.