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terça-feira, 27 de abril de 2010

E Ciro Gomes?

Leia abaixo artigo de autoria do jornalista Alon Feuerwerker abordando, com consistência e objetividade, a posição de Ciro Gomes nas próximas eleições presidenciais. Ou, de forma mais provinciana(do ponto de vista disciplina, of course!), uma análise sobre jogo, jogador e conseqüências não-intencionais.


O amigo dos inimigos
Alon Feuerwerker


Ciro não percebeu os sinais de que o segundo mandato marcaria uma flexão importante na política de alianças de Lula: o lugar à direita de sua excelência estaria reservado não para animar os dispostos a lhe fazer o bem, mas para demover quem ameaçasse fazer-lhe o mal

Ciro Gomes é a enésima vítima de um sistema eleitoral cuidadosamente concebido para transformar a política brasileira nesta confederação de cartórios esclerosados. Oferecido pelo PSB na mesa de câmbio das negociações paroquiais, das pequenas ambições e do apetite exacerbado pelas miudezas, o razoável seria Ciro concorrer à Presidência por outro partido, ou como independente.

Não vai acontecer, porque o monopólio da política por legendas desobrigadas de praticar qualquer democracia interna foi no Brasil transformado em virtude.

Prazos de desincompatibilização, prazos de filiação, fidelidade partidária, proibição de propaganda paga nos veículos de comunicação, proibição de arrecadar recursos se você não for dono de partido (antes do “início oficial” da campanha), exigência de filiação partidária para concorrer. Todos remédios certificados para curar, mas que vão levando à morte do paciente na mão do neocoronelismo.

Houvesse uma Anvisa para o setor, os alquimistas da politicagem nacional estariam em péssimos lençóis.

Mas esta coluna não é sobre reforma política, é sobre Ciro Gomes e suas circunstâncias. Até 1994 ele teve uma carreira política brilhante. Em pouco mais de uma década já percorrera as posições de deputado estadual, prefeito de Fortaleza, governador do Ceará e ministro da Fazenda. Rompeu com o PSDB no início do governo Fernando Henrique e foi para o PPS. Conseguiu 10% dos votos na eleição presidencial de 1998, garantindo fôlego para disputar quatro anos depois com chances no primeiro turno — e participando decisivamente da vitória de Luiz Inácio Lula da Silva no segundo turno.

Ciro entrou no governo Lula e esteve na linha de frente da batalha da reeleição. Ali cometeu o primeiro erro realmente grave. Não percebeu os sinais de que o segundo mandato marcaria uma flexão importante na política de alianças do presidente: o lugar à direita de sua excelência estaria agora reservado não para animar os dispostos a lhe fazer o bem, mas para demover quem ameaçasse fazer-lhe o mal. O velho ditado de manter os inimigos mais por perto ainda.

Se a flexão era mesmo necessária, Lula operou-a de maneira tosca e amadora, detalhe surpreendente num profissional da política. O presidente vem deixando um a um os aliados históricos (uso aqui o termo com alguma flexibilidade) sucumbirem em batalhas desiguais e desmoralizantes contra os neoamigos, refregas sempre temperadas por convenientes vazamentos palacianos sobre as “preferências pessoais” e a “torcida” do presidente. E sobre a “tristeza” após cada infeliz desfecho.

São as únicas batalhas que Lula “perde”. Nas demais ele sempre tenta a vitória com a faca nos dentes.

Descartada a candidatura, o quase ex-presidenciável Ciro Gomes tem hoje dois problemas.

O PT ameaça colocar em marcha o projeto de demolir o grupo dele no Ceará, caso Ciro não se junte à operação para liquidar a carreira política de Tasso Jereissati. É uma das muitas metas de Lula nesta eleição. Como Tasso e Ciro são — aí sim — aliados históricos, ao ponto de o tucano Tasso ter largado a candidatura presidencial de José Serra em 2002 para apoiar o parceiro, é coisa que Ciro não fará.

O segundo problema de Ciro é ter dinamitado as pontes com o outro lado. Num sistema linear de pensamento, isso deveria ter engordado seu cacife com o presidente. Mas diminuiu. Ao menos por enquanto, Ciro só tem bala para fazer mal a Lula em discursos. Coisa que pode ser facilmente neutralizada com os vazamentos de sempre, difundindo-se como Lula está “triste”, “chateado” ou “irritado”.

Um belo cardápio de supostos estados de espírito.

Alienação

De todo modo, Ciro presta pelo menos um serviço ao país nesta saída, ao advertir para os riscos da situação cambial.

O Banco Central dá sinais de que vai subir para valer o juro básico nos próximos meses. A medida irá acelerar a deterioração das contas externas e agravar nossa dependência dos investimentos diretos do exterior. Ou seja, da alienação de ativos para o exterior.

Enquanto isso, Lula discursa sobre o patriotismo do seu governo e o chanceler cuida de produzir factoides para preencher o noticiário.


Coluna (Nas entrelinhas) publicada neste domingo (25) no Correio Braziliense.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

O PT nas eleições de 2010: a análise de César Maia

Uma das coisas que eu aprendi a detestar foi o escanteamento de um argumento pela desqualificação de quem o emite. Obviamente, não precisaria nem dizer, tenho nadado contra a corrente. No dia a dia, mesmo no espaço acadêmico no qual, em tese, deveria prevalecer um debate no qual a identificação do melhor argumento deveria se basear na sua força persuasiva e na sua consistência, predomina, com raras exceções, a postura de diminuir o emissor para deixar de lado a mensagem. Escrevo esse intróito para convidá-lo a ler o texto abaixo, escrito pelo ex-Prefeito César Maia, do DEM. Sei, sei, você não gosta do cara, e, sendo petista, menos ainda do teor do texto. Mas, faça um exercício: tente "ler" para além do texto, isto é, para além do interesse do autor em fazer o combate político e ideológico ao PT. Caso você consiga fazer isso, pode descobrir que há, aí, alguns elementos para um diagnóstico (que precisa ser feito) da metamorfose que o PT está vivendo neste ano de 2010.

A DEBILIDADE DO PT NA CAMPANHA ELEITORAL DE 2010!
César Maia


1. Na Alemanha dos anos 30, chamava-se de "Estado Total" a incorporação ao Estado, dos poderes, do partido político único, dos sindicatos e de todas as associações da sociedade civil, incluindo as manifestações artísticas. Por isso, os atos do partido único eram também atos do Estado e, por este, preparados com toda a coreografia e assumindo todas as despesas. No Brasil se avança para isso a passos largos. Boa parte das associações da sociedade civil e sindicatos são cooptados, patrocinados e seus dirigentes assalariados do Estado por nomeação.

2. Quando se analisa o quadro eleitoral de 2010, isso fica muito claro. Era de se esperar que com a popularidade do presidente e a competitividade de sua candidata, o PT entrasse nesse processo eleitoral como o partido mais forte, especialmente por ser um partido de Estado. Mas não é isso que se vê.

3. Fazendo um levantamento das candidaturas próprias do PT aos governos dos estados, se vê que elas são competitivas no Rio Grande do Sul, Bahia, Sergipe, Piauí e Acre, sendo que no Rio Grande do Sul, é competitiva para perder, e só no Acre franco favorita. Isso terá como reflexo a inevitável perda de deputados em relação aos que o PT elegeu em 2006.

4. Mas para os gerentes do Estado Total, Lula na frente, tanto faz. Pressionam seus pré-candidatos regionais para que desistam e apóiem seus parceiros, especialmente do PMDB e do PSB. Para eles, o fundamental é manter sob seu controle o Estado Total. Na medida em que a Federação foi colocada de joelhos por Lula, com um cheque de 'pacs' numa mão e um chicote na outra, ganhar ou perder estados não muda nada. Da mesma forma fazer mandatos de deputados federais. Afinal, a cooptação por cargos, emendas ou partido-patrimonialismo, pensam, vai lhes garantir o controle do Estado Total.

5. E se o partido é parte do Estado, que se transforma ele mesmo em partido, não faz diferença a origem partidária dos deputados da base aliada ou subserviente. O importante é vencer a eleição presidencial. E para isso vale qualquer arma, qualquer golpe, qualquer pressão. Não importa se o PT vai sair dessa com um só governador do Acre e com 60 deputados federais. O que importa é o controle do Estado, pois os mandatos de fato, estão com aqueles que ocupam os postos chaves da máquina pública. Especialmente os fiscais financeiros e previdenciários.

terça-feira, 2 de março de 2010

Dilma Roussef no El País

O El País é um dos melhores jornais da chamada grande imprensa. Pelo menos, e isso não e pouco, os seus textos têm qualidade técnica. E ainda se pratica algum jornalismo nas páginas do mais conhecido diário espanhol. É a minha primeira leitura jornalística do dia. Sempre.

E o jornal mantém um bom correspondente no Brasil. Este dedica um bom tempo de sua pauta aos assuntos relacionados ao rame-rame da disputa política nos trópicos. No geral, escreve matérias de qualidade. Na edição de hoje, por exemplo, o correspondente trata do crescimento eleitoral de Dilma Roussef. Confir abaixo!

El ascenso fulgurante de Rousseff
Inquietud en la oposición brasileña ante la subida meteórica en las encuestas de la aspirante del PT a la presidencia - El PSDB aún no tiene candidato
JUAN ARIAS Río de Janeiro 02/03/2010


El presidente de Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, tenía razón cuando dijo que su candidata favorita para disputar las elecciones presidenciales de octubre, Dilma Rousseff, crecería en las encuestas en cuanto su candidatura se hiciera oficial. Y así ha sido. El Partido de los Trabajadores (PT) la consagró oficialmente el pasado 20 de febrero y la lanzó al ruedo político. Desde entonces, la ex guerrillera y ministra de la Casa Civil ha dado un salto en los sondeos con una subida de cinco puntos (28%) y se ha colocado a sólo cuatro del que seguramente va a ser su principal contrincante electoral, el socialdemócrata José Serra, actual gobernador de São Paulo (32%).

El PT, que aceptó la candidatura de Rousseff por imposición de Lula más que por convicción propia, ahora da saltos de alegría y comienza a confiar en que volverá a ganar las elecciones. Y la verdad es que la popularidad de Rousseff no sólo ha aumentado entre el electorado más pobre, fiel a Lula, sino que le ha quitado votos a su adversario en el sur rico, donde Serra es el gran favorito.

La oposición ha recibido como un jarro de agua fría la subida de Rousseff, sobre todo porque su aspirante aún no ha querido oficializar la candidatura. Serra es un político de larga carrera. Ha sido dos veces ministro, alcalde de São Paulo y ahora gobernador de dicho Estado. Fue derrotado por Lula en las presidenciales de 2002, pero en el segundo turno. El problema es que, si ahora se incorpora a la carrera presidencial y fracasa, perdería también la oportunidad de ser reelegido en São Paulo, donde disfruta de un apoyo popular parecido al de Lula a nivel nacional. Es decir, saldría de la vida política.

El ascenso de Dilma en las encuestas ha hecho que el opositor Partido de la Social Democracia Brasileña (PSDB) se vea obligado a forzar a Serra a tomar una decisión cuanto antes. Lo ideal para el partido es que el joven Aecio Neves, actual gobernador de Minas Gerais, el segundo Estado con más votos del país después de São Paulo, aceptase optar a la vicepresidencia en la candidatura de Serra. Juntaría así los votos de dos Estados que, juntos, suponen casi la mitad del electorado. Neves, sin embargo, también aspira a ser candidato a la presidencia y por eso se hace el remolón. Tiene, además, la esperanza de que Serra pueda acabar renunciando a presentar su candidatura, a la vista de la subida de Rousseff; en ese caso, el PSDB forzosamente tendrá que lanzarle a él al ruedo electoral.

Este mes va a ser, pues, decisivo en lo que atañe a las elecciones de octubre, las primeras en 20 años sin Lula como candidato, aunque con una aspirante considerada su sombra. Para vencer, la oposición no puede presentar a su candidato como superior a Lula -al que los sondeos acaban de conceder un 73% de aprobación popular-, sino a Rousseff. Ésa será la gran batalla: no si Brasil será mejor con Serra que con Lula, sino si Serra, que brilla con luz propia, será mejor para el país que Rousseff, cuya luz proviene de su ex jefe y es en cierto modo una incógnita política, ya que nunca ha disputado unas elecciones.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

O PT e o debate político em 2010.

Como ocorre quase sempre, republico, mais abaixo, a coluna de hoje do jornalista Alon Feuerwerker no Correio Brasiliense. O texto também encontraa-se disponível no Blog do Alon. Boa leitura!

Uma bela sociedade (04/02)

O PT protestava nos anos 90 contra a interdição do debate econômico. Hoje quem interdita o debate é o PT, em aliança com os mesmos vendedores de ilusões do primeiro mandato de FHC. Uns lutam para manter as posições de poder. Outros, os lucros

Ciro Gomes e o PSB experimentam as vicissitudes de um projeto político que não se encaixa no do presidente da República. O script é velho e repetido. Vazam do palácio as manifestações de “carinho”, "apreço” e "consideração” de Luiz Inácio Lula da Silva pelo sonhador da vez. Pode haver até "gratidão” e, no limite, um “apoio”, que nunca se materializa. Enquanto isso, é colocada para rodar a máquina de moer outros sonhos que não os de sua excelência.

Resistirão Ciro e o PSB à blitzkrieg do Planalto? Um vetor da operação política palaciana nos últimos meses tem trabalhado para desidratar quaisquer possíveis alianças do eventual candidato socialista. A razão é sabida. O PT temia que Ciro, podendo apresentar-se como alguém do “campo lulista”, acabasse tomando o lugar de Dilma Rousseff na polarização.

Como me disse um deputado do PT-SP no fim do ano passado. "O problema do Ciro é encarnar melhor que Dilma o espírito do confronto com os tucanos. Num ambiente de disputa feroz, ele estaria mais à vontade do que ela."

Mas esses são assuntos de Ciro, do PSB, do PT e das relações mútuas. Que resolvam como acharem melhor.

E o distinto público, teria algo a ganhar com a entrada do deputado e ex-ministro na corrida? Teria sim. E muito. A começar pela desinterdição de certa agenda, a do não financismo. O PT ameaça agitar na campanha a ameaça de que o PSDB vai “mexer na economia”. Dado que os tucanos passarão os próximos meses lutando para escapar da excomunhão do mercado, por que não abrir espaço para alguém disposto a assumir o risco político de dizer que vai alterar o que precisa ser alterado?

O PT protestava nos anos 90 contra o que chamava de interdição do debate econômico. Criticou especialmente a cortina de fumaça erguida em 1998, com a colaboração da imprensa, para mascarar as fragilidades da economia na véspera da reeleição de Fernando Henrique Cardoso. Hoje quem interdita o debate é o PT, em aliança com os mesmos vendedores de ilusões do primeiro mandato de FHC. Uns lutam para manter as posições de poder. Outros, os lucros. Uma bela e rentável sociedade.

Com um agravante: FHC pelo menos tinha o argumento de que precisava da âncora cambial para quebrar a espinha da inflação inercial. Agora, nem isso.

Um sintoma do ambiente é a presença de Henrique Meirelles na lista de possíveis vices de Dilma. O presidente do BC, aliás, está em plena campanha, cuidando de produzir factoides para distrair, enquanto protege os juros altos. O alvo agora são os bônus dos executivos de bancos. Mas não deixa de fazer algum sentido. Em ambos os casos, ao propor conter os bônus e ao colocar lenha na fogueira dos juros, zela em primeiro lugar pelos dividendos dos acionistas das instituições financeiras.

A projeção realista do déficit nas transações com o exterior este ano corresponde a um quarto das nossas reservas internacionais. A conta vai fechar por causa dos investimentos diretos, que o governo espertamente chama de “produtivos”. Como se o dinheiro nas bolsas carregasse automaticamente esse rótulo. Como se não fosse um maravilhoso negócio captar dinheiro lá fora para gerar aqui dentro receitas não operacionais.

Esta semana, a produção industrial de 2009 confirmou-se desastrosa. Talvez no fim de 2010 a indústria volte ao nível de 2008. Mas há por acaso alguém estrategicamente preocupado com a indústria, com as exportações, com a geração acelerada de empregos? No establishment econômico e político, pelo jeito ninguém. Para que se ocupar disso se o dólar barato funciona como anestesia? Se coloca mais comida na mesa do pobre, garante as viagens e os gastos da classe média no exterior e alivia a vida de todo mundo que precisa importar?

Nesse ambiente, ideal para o petismo será enfrentar adversários manietados pela necessidade de defender a administração FHC. O PT poderá desfilar na campanha como o partido da "ruptura com a herança maldita”, enquanto cultiva a continuidade do que ela tem de pior.

Ciro Gomes, assim como Roberto Requião (PMDB), representaria pelo menos a possibilidade de discutir esses temas. Suas dificuldades políticas são um retrato da miséria do debate político e intelectual hoje em dia no Brasil.

Coluna (Nas entrelinhas) publicada nesta quinta (04) no Correio Braziliense.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

O potencial de crescimento da candidatura de Dilma Roussef

Na Folha de São Paulo de hoje, em uma análise objetiva, diretores do Datafolha apontam o potencial de crescimento da candidatura da Ministra Dilma Roussef.

ANÁLISE

"Votos" de Lula podem igualar Dilma a Serra
MAURO PAULINO
DIRETOR-GERAL DO DATAFOLHA
ALESSANDRO JANONI
DIRETOR DE PESQUISAS DO DATAFOLHA

A capacidade de transferência de votos que o presidente Lula demonstra ter elevando sua candidata Dilma Roussef (PT) ao atual patamar de 23% não se esgotou. Uma análise mais detalhada da última pesquisa Datafolha mostra que há 15% de brasileiros que manifestam o desejo de votar no candidato apoiado pelo presidente, mas não sabem ainda que Dilma é sua escolhida, deixando de optar por ela.
(...)

Para chegar a essa conclusão o Datafolha combinou os resultados de três perguntas: intenção de voto estimulada, grau de influência de Lula como cabo eleitoral e o conhecimento de Dilma como candidata do presidente.
Somando-se os que não escolhem Dilma, mas outro candidato (58%), os que optam por votar em branco ou anular (9%) e os que não sabem em quem votar (10%) chega-se a 77% da população adulta que não declara, neste momento, apoio à petista. Dentre estes, 21% afirmam que votariam com certeza em um candidato apoiado por Lula. Estes dividem-se em 6% que identificam Dilma como candidata de Lula e 15% que não sabem quem Lula apoia.
Há, portanto, 15% da população que, neste momento, não declara intenção de votar em Dilma, não sabe que ela é a candidata de Lula, mas afirma que votaria com certeza em um candidato apoiado pelo presidente.
(...)
A característica mais marcante desse estrato é a baixa escolaridade. Enquanto na média da população brasileira adulta, 48% têm grau de escolaridade fundamental, nesse segmento, essa taxa vai a 68%.
O mesmo ocorre com a renda. Na média, 43% dos brasileiros têm renda familiar de até dois salários mínimos. No segmento dos potenciais eleitores de Dilma, esse percentual vai a 59%. Além disso, 36% vivem no Nordeste e 20% no Norte ou Centro-Oeste, índices que superam a média em oito e cinco pontos percentuais, respectivamente.

ASSINANTE UOL LÊ A MATÉRIA COMPLETA AQUI.

domingo, 6 de dezembro de 2009

Mangabeira Unger aponta o que debater nas eleições de 2010

Mangabeira Unger é um dos intelectuais criativos deste país. Como político é, como diria?, uma inconstância. Mas, quem é perfeito, não é? Bueno, aproveito para colocar aí abaixo texto de sua lavra apontando tópicos para um debate sobre o futuro do Brasil. Trata-se de uma pauta para dar substância ao debate político de 2010. Confira!

OITO OPÇÕES QUE DEFINIRÃO O RUMO DO BRASIL

Roberto Mangabeira Unger



A tarefa do Brasil agora é começar a construir modelo de desenvolvimento baseado em ampliação de oportunidades para aprender, para trabalhar e para produzir. Modelo que faça da ampliação de oportunidades econômicas e educativas o motor do crescimento e que afirme a primazia do interesses do trabalho e da produção.

A construção deste modelo é a maneira -- a única maneira eficaz -- de superar a contradição que continua a acorrentar o Brasil. Num país que exibe vitalidade criativa e empreendedora desmesurada, a maior parte dos brasileiros continua sem ter os instrumentos para criar ou empreender. Por consequinte, desperdiça-se muito desta energia humana.

Para definir e desbravar e abrir este caminho, temos de resistir a uma tentação. Vista de um ângulo, é a tentação do rentismo. Por conta do grande rentismo financeiro, quem malogra como produtor pode continuar a prosperar como rentista. É a inversão da máxima de Keynes: a eutanásia dos produtores ocupa o lugar da eutanásia dos rentistas. Por conta do pequeno rentismo social, quem não consegue empregar-se ou qualificar-se ao menos não morre de fome porque recebe as migalhas dos programas sociais (justos e imprescindíveis como ponto de partida, porém inaceitáveis como ponto de chegada). Descobriram muitos que a combinação do grande rentismo financeiro e do pequeno rentismo social ganha eleições. Só que mata o país: desvia-nos do que haveria de ser a prioridade nacional: assegurar ao dinanismo brasileiro os instrumentos de que ele continua a carecer.

Considerada de outra perspectiva, é a tentação do açúcar. Na política brasileira, sobram partidos, mas faltam alternativas. Quase todos se apresentam como social-democratas ou social-liberais. O social arrisca ser o açúcar com que se doura a pílula do modelo econômico. Se o povo brasileiro vislumbrar oportunidade para reconstruir o existente, não se dará por satisfeito com o acúcar como substituto da reconstrução.

J[a existe a base social para erguer o novo modelo de desenvolvimento. É o desejo da maioria dos brasileiros de seguir o caminho da nova vanguarda de batalhadores e de emergentes que surgiu entre nós: classe média surpreendente, vinda de baixo, que encarna aos olhos da maioria de trabalhadores pobres, que lhe quer seguir o exemplo, o espírito da auto-ajuda e da iniciativa. Não o poderão seguir se deixarmos de inovar em nossas instituições, inclusive aquelas que constituem o mercado e a democracia.

Se existe base social para o projeto necessário ao país, ainda não está claro o caminho político. Os dois partidos que, a partir de seu centro de gravidade em São Paulo, polarizaram, nas últimas décadas, a disputa do poder central -- o PSDB e o PT -- pretendem-se arautos da modernidade. Atuaram com frequênciacomo agentes do atraso. Foram eles que chefiaram no Brasil a idéia hegemônica em nossa política: a inexistência de alternativas institucionais na organização da economia e da política, a conveniência da aliança entre o grande rentismo financeiro e o pequeno rentismo social, a redução do social ao papel do açúcar. O resultado, apesar da aparente bonança econômica, foi colocar-nos no caminho de virar combinação de grande fazenda, grande mina e montadora média.

Fora do eixo PSDB-PT, os partidos, grandes e pequenos, não acalentaram a alternativa do modelo de desenvolvimento que fizesse prevalecer os interesses do trabalho e da produção e que assegurasse a capacitação do povo brasileiro. Entregaram-se, as mais das vezes, a uma política programaticamente mesquinha e moralmente anárquica.

Em meio a esta abdicação generalizada, promoveu o governo Lula grandes avanços em cinco áreas principais. Consolidou a estabilidade macroeconômica, contra o espectro da hiper-inflação. Tirou milhões da pobreza extrema, ainda que não haja conseguido diminuir substancialmente a desigualdade. Abriu para outros milhões de jovens as portas da universidade e da escola técnica. Fêz obras indispensáveis ao desenvolvimento do país. Começou a construir escudo de defesa, orientado neste esforço pela Estratégia Nacional de Defesa, que promulgou.

Acima de todos estes avanços, ocorreu algo imensamente importante, ainda que impalpável. Ao se identificar com Lula, o povo brasileiro aceitou-se a si mesmo.

Tudo isso cria condições para a execução da tarefa diante da nação: a construção de modelo de desenvolvimento que dê à maioria os meios educativos e econômicos de que ela precisa para soerguer-se. Nada disso, porém, executa a tarefa. O tema da eleição de 2010 não é o passado. É o futuro.



Enumero oito série de opções que, encadeadas, definem o rumo do modelo de desenvolvimento que convém ao Brasil.

1.A posição do Brasil na divisão internacional do trabalho. Temos de optar contra um caminho, como o da Nova Zelândia ou do Chile, que pretenda combinar economia de produção e de exportação de produtos primários com elite internacionalizada de serviços. O Brasil é grande demais para isso. Não deve abandonar sua vocação industrial.

Ao manter-se fiel a ela, entretanto, precisa também optar contra estratégia como a que a China seguiu na maior parte de sua economia: apostar, por muito tempo, em trabalho e desqualificado. Não prosperaremos como uma China com menos gente. O Brasil está ameaçado, como qualquer país de renda média, de ficar preso numa prensa entre países de trabalho barato e países de alta produtividade. Interessa-nos escapar da prensa pelo lado alto, da escalada de produtividade e da qualificação do trabalho, não pelo lado baixo, do aviltamento salarial.

2.O financiamento interno de nossa estratégia de desenvolvimento. O capital estrangeiro é tanto mais útil quanto menos se precisa dele. Tratemos de dividir ao meio a seudo-ortodoxia econômica que os governos brasileiros abraçaram em décadas recentes. A parte boa -- o realismo e a responsabilidade fiscais -- haverá de ser vigorosamente reafirmada, mesmo à custa de adiar os instrumentos de uma política contra-cíclica. (As esquerdas que perderam a fé no marxismo costumam abraçar, para substitui-lo, o Keynesianismo bastardo.) A parte nociva -- a tolerância de um nível baixo de poupança pública e privada e a consequente dependência do capital estrangeiro para financiar nosso desenvolvimento -- deve ser repudiada. Nosso nível de poupança sempre esteve abaixo de 20%; o das economias asiáticas que admiramos sempre acima de 40%.

É verdade que em teoria o nível de poupança é mais efeito do que causa do crescimento. Essa verdade teórica, entretanto, não leva em conta o significado estratégico da sequência: a mobilização inicial dos recursos nacionais representa condição para a rebeldia nacional -- para fazer o que nos convém e não o que os mercados financeiros querem. Instaurado cíclo de crescimento, o capital estrangeiro vem por acréscimo e em sua melhor forma; o país que mais recebe investimento estrangeiro é a China, que sempre primou por desrespeitar a religião dos mercados.

A elevação da poupança pública exige o fortalecimento da disciplina fiscal. Já para elevar a poupança privada teríamos de construir incentivos e obrigações capazes de assegurar poupança previdenciária progressivamente proporcional à renda dos cidadãos.

A elevação da poupança privada e pública pode, porém, ser indiferente ou nociva se não fôr complementada pela construção de mecanismos que canalizem a poupança de longo prazo para o investimento produtivo de longo prazo e não permitam que seu potencial produtivo se dissipe num casino financeiro. Uma de nossas preocupações deve ser mobilizar parte da poupança previdenciária para fazer o trabalho do “venture capital”: o investimento em empreendimentos emergentes. E para fazê-lo sob gestão profissional e competitiva, longe do conúbio entre o Estado e as grandes empresas.

3.O projeto estratégico da agricultura. Agropecuária continua a ser a principal atividade econômica do Brasil. Pode virar vanguarda e paradigma, ao exemplificar o vínculo entre diversificação da produção e democratização das oportunidades. Para isso, precisa pautar-se por três objetivos entrelaçados. O primeiro objetivo é superar o contraste, meramente, ideológico, entre agricultura empresarial e agricultura familiar. Assegurar atributos empresarias à agricultura familiar, sem que com isso ela tenha de perder seu vínculo com a policultura e seu compromisso com a democratização da propriedade da terra. Não há duas agriculturas no mundo; só há uma. O segundo objetivo é aprofundar a industralização rural, a agregação de valor aos produtos agropecuários no campo. Evitar o contraste entre cidade cheia e campo vazio. E promover vida rural variada e vibrante. O terceiro objetivo é construir em todo o país, não apenas no Sul, classe média rural forte como vanguarda de massa de trabalhadorea agrícolas mais pobres que avançara atrás dela.

O projeto agrícola orientado por tais objetivos poderá vingar no contexto da solução do maior problema físico de nossas agricultura: a recuperação de pastagens degradadas que hoje formam grande parte do território nacional. (No Brasil, para cada hectar sob lavoura há quatro entregues à pecuária extensiva.) Se recuperarmos parte desta área, dobraremos em pouco tempo a área cultivada e triplicararemos nosso produto agrícola sem tocar uma única árvore.

4. A reorientação da política industrial. A política industrial do Brasil consiste, há muito, tempo em entregar o dinheiro do trabalhador, açambarcado no FAT, a umas vinte grandes empresas, por mãos do BNDES, sob o pretexto de transformá-las em campeãs mundiais. O discurso é francês. A prática é koreana.

Se, ao contrário, tratássemos de abrir para as pequenas e médias empresas o acesso ao crédito, à tecnologia, ao conhecimento, aos mercados globais, criaríamos o que mais quer o país: dínamo de crescimento includente. São elas a parte mais importante de nossa economia; é ali que se gera a maior parte do produto e é ali que está a vasta maioria dos empregos.

O objetivo maior é organizar fora dos centros industriais uma travessia direta do pré-Fordismo industrial para o pós-Fordismo industrial, sem que o todo o país tenha de penar no purgatório de um paradigma de produção -- produção em grande escala de bens e sereviços padronizados, por meio de mão de obra semi-qualificados e processos produtivos rígidos e hierárquicos -- que já se vai tornando superado no mundo e que inibe nossa ascensão na escalada da produtividade. O Brasil todo não deve ter de virar a São Paulo de meados do século passado para depois tornar-se outra realidade.

O objetivo subsidiário é dotar nossas maiores empresas, parte indispensável de nossa estratégia de desenvolvimento, da periferia que lhes falta, de empresas menores porém vanguardista. Pois é nesta periferia, mais do que nas grandes empresas, que se costumam acalentar, em todo o mundo, as inovações tecnológicas e organizativas mais arrojadas.

5. Trabalho e capital. Não se toma no Brasil grande iniciativa institucional em matéria de relações entre trabalho e capital desde Vargas. Precisamos tomar, se quisermos fazer justiça aos trabalhadores e apostar em trabalho valorizado e qualificado como base de nosso desenvolvimento: a maior parte do povo brasileiro está fora do regime legal, de uma forma ou outra. Quase metade da população economicamente ativa continua presa na economia informal, obrigada a trabalhar nas sombras da ilegalidade. E parte crescente dos empregados na economia formal encontra-se em situações precarizadas, de trabalho temporário, terceirizado ou autônomo.

Nenhum dos dois discursos disponíveis a respeito do trabalho e do capital resolve o problema. O discurso neoliberal da flexibilização é corretamente interpretado pelos trabalhadores como eufemismo para descrever a corrosão de seus direitos. O discurso corporativista-sindical do direito adquirido resguarda a minoria que está dentro, porém não a maoiria que está fora.

O lugar para começar é a construção, ao lado do regime estabelecido de leis trabalhistas, de segundo corpo de regras, destinado a proteger, a organizar e a representar os trabalhadores inseguros das economias informal e formal. É obra cujo êxito depende de sua convergência com a reorientação das políticas agrícola, industrial e educativa.

6. Capacitação do povo brasileiro. Pelo menos tão importante quanto a democratização das oportunidades econômicas é a democratização das oportunidades educativas. Há duas prioridades.

A primeira prioridade é reconciliar, num país grande, desigual e federativo, a gestão local das escolas pelos estados e municípios com padrões nacionais de investimento e qualidade: federalizar -- na prática, não apenas na lei -- os padrões. A qualidade do ensino que uma criança recebe não deve depender do acaso do lugar onde ela nasce. Para reconciliar gestão local com padrões nacionais, não basta ter sistema nacional de avaliação, como já temos, e mecanismo para redistribuir recursos de lugares mais ricos para lugares mais pobres, como estamos começando a ter. É preciso forjar instrumento para consertar redes de escolas locais que caiam repetidamente abaixo do patamar mínimo aceitável de qualidade. O meio é associar os três níveis da federação em órgãos conjuntos que possam vir em socorro destas escolas, assumi-las temporariamente, confiá-las a gestores profissionais independentes (como se faria com empresas em processo de recuperação falimentar) e devolvê-las consertadas.

A segunda prioridade é mudar a maneira de aprender e de ensinar no Brasil. Substituir ensino ainda pautado por decoreba por ensino analítico e capacitador, com foco no básico: análise verbal e análise numérica. Não há por que escolher entre o enciclopedismo informativo superficial e os modismos pedagógicos.

O lugar para iniciar esta obra é o elo fraco do sistema escolar: a escola média. E o instrumento mais promissor é escola secundáriacom fronteira aberta entre o ensino geral de orientação analítica e ensino técnico que priorize o domínio de capacitações práticas flexíveis e genéricas em vez de priorizar a aprendizagem de ofícios rígidos.

Esta reorientação do paradigma pedgógico em todos os níveis do ensino, a partir da escola média, há de ocorrer em paralelo a esforço para avançar na pré-escola. Resgatar milhões de crianças pobres de uma insuficiência alimentar e cognitiva de efeitos duradouros.

Premissa para tudo isso é a formação de carreira nacional de professor, construída por colaboração federativa e comprometida com a requalificação periódica dos quadros.

7.A reconstrução do Estado. Não existe ainda no Brasil o Estado capaz de executar o programa que aqui se esboça. Nosso Estado continua a ser balofo e incapaz.

Há três agendas de gestão pública a executar. Embora estejam associadas a três séculos diferentes, não nos podemos contentar em executá-las em sequência, aguardando a execução de cada uma para iniciar a execução da seguinte. Precisamos executá-las simultaneamente, ainda que passo por passo, porque todas três são necessárias ao avanço desta alternativa nacional.

A primeira agenda, a do profissionalismo burocrático, é a obra incompleta do século 19 em matéria de administração pública. Temos ilhas de profissionalismo no Estado que continuam a flutuar em oceano de discricionariedade política.

A segunda agenda, a da eficiência administrativa, está associada ao século 20. Reinventar para o setor público práticas de gestão tradicionalmente empregadas no setor privado: padrões de desempenho, garantias de transparência, mecanismos, dentro e fora do Estado, para avaliar, incentivar e cobrar resultados. Transformar radicalmente o direito e o processo administrativos. Metade do que temos é camisa-de-força, baseada em desconfiança. A outra metade é o oposto: a delegação de poderes discricionários a potentados administrativos. Ambas as metades teriam de ser substituídas por regras e procedimentos que subordinassem, de maneira flexível, a objetivos definidos o trabalho da administração pública em cada campo.

A terceira agenda, a tornar-se cada vez mais importante no curso do século 21, é a do experimentalismo na maneira de prover e de qualificar os serviços públicos, inclusive de educaçaõ e de saúde. Nada de escolher apenas entre a provisão burocrática de serviços padronizados de baixa qualidade e a privatização destes serviços em favor de empresas orientadas por objetivo de lucro. Há terceira possibilidade: o Estado ajudar a organizar, a equipar, a financiar, a coordenar e a monitorar a sociedade civil independente para que ela participe da provisão competitiva e experimental dos serviços prestados pelo Estado ao cidadão. É a melhor maneira de qualificá-los.

8. O aprofundamento da democracia brasileira por meio da institucionalização da cultura republicana. Há dois pontos de partida.

O primeiro ponto de partida é a reconstrução de nosso federalismo, pela qual passam quase todas as soluções de nossos problemas nacionais. Substituir federalismo de repartição rígida de competências entre os três níveis da federalismo por um federalismo cooperativo que os associe em ações conjuntas e em experimentos compartilhados. Substituiremos o velho movimento pendular -- mais poder para o governo central ou para os estados e municípios -- por mudança na natureza da relação.

O segundo ponto de partida é a adoção de medidas que comecem a tirar a política da sombra corruptora do dinheiro. A primeira medida é o financiamento público das campanhas eleitorais, que por sí acordo com a variabilidade da receita, para que o orçamento deixe de ser o só diminui a influência do dinheiro privado. A segunda medida é a revisão do processo orçamento: o orçamento para valer, ainda que com partes variáveis de acordo com a variabilidade da receita pública, para que o orçamento deixe de serpalco pantanoso da negociação entre os grandes interesses do país. A terceira medida é a substituição da grande maioria dos cargos comissionados, de nomeação política, por carreiras de Estado.



Estas oito séries de opções, que juntas definem rumo nacional capaz de basear o desenvolvimento na ampliação de oportunidades, têm seu complemento e sua contrapartida em grandes iniciativas regionais. A tarefa é abordar as grandes regiões não resolvidas do país -- o Nordeste, a Amazônia e o Centro-Oeste --, que compõem de longe a maior parte do território nacional, não como regiões atrasadas a mendigar favores senão como vanguardas potenciais na reoreintação da estratégia de desenvolvimento.

No Nordeste, que não tem projeto abrangente há cinquenta anos e onde vive um terço dos brasileiros, começar pela instrumentalização das duas maiores forças construtivas que já atuam: um emprendendorismo emergente encarnado em redes de pequenas e médias empresas, inclusive e sobretudo no semi-árido, e uma inventividade tecnológica popular, difusa porém desequipada. Entender que assim como não há caminho para o Brasil sem caminho para o Nordeste, não há solução para o Nordeste sem solução para o semi-árido.

Na Amazônia, tanto da floresta como cerrado, teimar em dar conteúdo prático ao consenso abstrato em favor de um desenvolvimento que seja ao mesmo tempo sustentável e includente. Em toda a Amazônia, persistir na dinâmica, já iniciada, da regularização fundiária e ambiental -- a base de tudo. Na Amazônia da floresta, lutar pelo soerguimento do extrativismo madereiro e não madereiro, montado na conjunção de ciência e tecnologia avançadas com escala econômica. O bioma amazônico não pode ser salvo pela polícia; só pode ser salvo por alternativas. Na Amazônia do cerrado, começar pela recuperação de pastagens degradadas e, portanto, pelo resgate do cerrado.

No Centro-Oeste, não permitir que esta versão concentrada do dinamismo brasileiro se transforme em celeiro maculado por desigualdades extremas. Insistir na combinação de diversificação produtiva, com agregação de valor aos produtos agropecuários, e democratização de oportunidades. Substituir progressivamente a pecuária extensiva por pecuária intensiva, agricultura de alto valor agregado, muitas escalas de propriedade e de produção, agrocombustíveis e manejo florestal sustentável. Trabalhar por rede de cidades médias e pela disponibilidade de serviços públicos e privados de alta qualidade. Junto com o aprofundamento da indstrialização rural, construirão as bases de sociedade diversificada e democrática no planalto.



Utopia? Tudo isso é factível com instrumentos que já temos à mão. Nada disso é mero amontoado de iniciativas desconcexas. Estas opções setoriais e regionais demarcam um rumo para o Brasil. E propõem os primeiros passos.

O objetivo que as unifica é dar braços, asas e olhos à vitalidade brasileira.

sábado, 5 de dezembro de 2009

A oposição patina, Dilma surfa

O DEM está indo para o brejo, e quem o guia para o indesejado lugar é o Governador Arruda, do DF. Mas o PSDB não sai incólume, já que o seu presidente regional no DF está no meio furacão. Enquanto isso, Dilma e os petistas olham tudo de camarote... e agradecem aos céus o presente que lhes caiu no colo.

Oposição burila discurso de Dilma
Alon Feuerwerker

Com suas reações tíbias e desencontradas na crise, o Democratas e o PSDB ajudam Dilma Rousseff a, finalmente, encontrar uma janela para deixar de ser só a “candidata de Lula”

Qual é a situação ideal para um político? É a que transforma seus defeitos em qualidades e potencializa ainda mais os vetores positivos do personagem. É bom para o candidato quando ele se encaixa naturalmente na cena. Bom para ele e seus marqueteiros. O marketing eleitoral, como qualquer outro, só aparentemente vende produtos. Ele vende necessidades. E o leitor há de convir que é bem mais fácil ganhar a vida vendendo picolé nas praias do Caribe do que nas do Alasca.

A crise desencadeada a partir das acusações contra o governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda (DEM), ainda está em desenvolvimento, mas alguns efeitos dela já são claros. Agudizou-se uma demanda crônica e difusa por providências saneadoras na administração pública. A análise apressada do quadro faria concluir que o assunto não será importante numa eleição marcada, como se dizia na Guerra Fria, pelo “equilíbrio do terror”: se cada um tem os seus próprios problemas, melhor deixar quieto.

Estaria perfeito, não fosse por um detalhe: quem raciocina assim esquece que existe o eleitor. A violência semiótica desta crise fará o dito cujo deixar para lá, mais ainda, a busca do “partido puro”, formado pelas “pessoas melhores do que as outras”. Esse mito foi mortalmente ferido na crise petista de 2005-06 e será enterrado sem honras daqui até a eleição presidencial, com o féretro coberto pela bandeira brasiliense, ladeada pela gaúcha e pela paraibana.

A exposição brutal dos costumes políticos cria uma demanda. Não pelo partido “portador da verdade”, coisa que o eleitor já concluiu não existir, mas pelo líder firme, até certo ponto autoritário, que seja capaz de enfrentar o sistema. Sem porralouquice, mas com método e obcecada tenacidade. Alguém que domine os políticos e não se deixe dominar por eles. Alguém que saiba “onde estão as sacanagens”. Que seja vivo o suficiente para não ser derrubado. Mas que não vacile na hora de mandar gente para a guilhotina.

A política é mesmo fascinante. E não é que a crise começa a abrir espaço para um certo “anti-Lula”? Desde que, é claro, preservem-se as melhores qualidades do presidente, como a preocupação genuína com os pobres. Mas desde que também se superem as circunstâncias nas quais o “filho do Brasil” (o verdadeiro, não o da ficção babosa) se enredou, a ponto de perder a sensibilidade, que era sua melhor característica. Ninguém passa incólume pelo poder.

Tudo isso seria espetacular para a oposição, debruçada sobre a tarefa hercúlea de achar uma brecha no discurso da continuidade. Qual é o problema então? Infelizmente para o PSDB e o Democratas, quem por enquanto melhor se encaixa no figurino é a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Verdade que ela própria precisa percorrer a curva de aprendizado, vide sua intervenção tosca quando precisou dar a cara a tapa por José Sarney. Não será difícil para Dilma, porém, construir a narrativa de que precisa fazer concessões agora, mas que no governo, com a caneta na mão, vai ser finalmente ela mesma. Assim como Luiz Inácio Lula da Silva é ele mesmo, um conciliador. Interessante. Qual é talvez o grande desafio da ministra nesta eleição? Fazer crer que não vai ser só um fantoche de Lula, que não irá governar, nem comer, pela mão dos outros. Mas não basta dizer. É preciso construir a verossimilhança. E isso só é possível quando o perfil do candidato se encaixa naturalmente no cenário. É o caso agora.O governo do PT reclama da oposição, mas ele tem, de longe, a melhor oposição que um governo poderia desejar. Com suas reações tíbias e desencontradas na crise cujo epicentro é o DF, o Democratas e o PSDB ajudam Dilma Rousseff a, finalmente, encontrar uma janela para deixar de ser só a “candidata de Lula” e se mostrar ao país como a mulher antipática, dura com os políticos e empresários, irascível e sem jogo de cintura, a presidente de que o Brasil tanto precisa.

E com a vantagem de não ser uma petista “de raiz”, de ser uma cristã nova no PT. Ou seja, tudo de bom.

Coluna (Nas entrelinhas) publicada hoje no Correio Braziliense.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Para relembrar: alguns dados sobre as eleições presidenciais de 1989.

Há vinte anos, direto do túnel do tempo.

Eu morava em Porto Alegre, até hoje o meu sonho feliz de cidade, e a capital gaucha respirava política. No Brique da Redenção, nas manhãs de domingo, todas as tribos se encontravam. E a mítica (e, parece-me, agora desaparecida) militância petista local também. Panfletagens e bandeiraços. Gente bonita. Esperança no ar. E isso em plena estagnação econômica e uma inflação que qualquer pessoa com menos de vinte anos não tem a menor idéia do que significa na vida cotidiana. Pois bem, deixemos de coisa e vamos ao central: transcrevo abaixo nota publicada no Ex-Blog do César Maia com algumas informações sobre as primeiras eleições livres e diretas após o fim do regime militar. Confira! Acho que podemos aprender alguma coisa e tirar algumas lições para analisar a disputa de 2010.

COMENTÁRIOS SOBRE AS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS DE 1989!
César Maia

1. O folclore pós-eleitoral atribuiu ao marketing dos programas eleitorais de Collor importância na sua vitória. Mas a verdade é outra: Collor abriu a campanha com 45% das intenções de voto e fechou o primeiro turno com 28% e mais uma semana cairia ainda mais.
2. Lula abriu com 8% e Brizola com 16%. Brizola manteve-se estacionário nestes 16% e Lula subiu para 16% vencendo Brizola por margem estreita.


3. Os setores empresariais oscilaram entre os candidatos. Inicialmente apoiando a Afif Domingues, depois a Collor(erro do César Maia. Onde lê-se Collor, leia-se Covas...) e só já perto da campanha, aderindo a Collor.

4. No segundo escalão veio Covas com 11% e Maluf com 8%, Afif e Ulysses com 4%. Ulysses e Aureliano,(0,83%), tinham 70% dos deputados e senadores e mais da metade do tempo de TV.

5. Silvio Santos, aproveitando uma brecha na legislação, apresentou sua candidatura pelo PMB 40 dias antes da eleição, e disparou na frente nas primeiras pesquisas. Os advogados de Collor recorreram e o presidente do TSE deu a liminar. Esse-após a eleição- renunciou a condição de ministro do STF e foi ser ministro de Collor. Em seguida foi designado para a Corte de Haia.

6. A pasta que Collor levou para o debate e a citação a um aparelho " Três em Um" ,(TV,Rádio e Som), que Lula teria na sala do apartamento em Brasília, (segundo o oficial que trabalhou na segurança de Collor disse depois reservadamente e ainda não se dispõe a abrir a informação), seria a comprovação que Lula havia sido fotografado naquele período e que as fotos poderiam criar constrangimento para ele. Por isso a tensão.

7. Collor venceu no segundo turno por 50% a 44% e diferença de 4 milhões de votos. No segundo turno votaram menos 4 milhões de eleitores.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

As eleições de 2010

Transcrevo abaixo análise desenvolvida pelo Alon Feuerwerker em seu blog a respeito do cenário político que começa a se desenhar para as eleições presidenciais de 2010. Confira!

Mau humor não dará as cartas
Alon Feuerwerker

O ambiente no país é otimista. E mau humor não combina com otimismo. O eleitor não sairá de casa no dia da eleição querendo comer o fígado de ninguém.

Uma característica desta sucessão presidencial é que ela vai ser disputada por gente assertiva e objetiva, ainda que cada um a seu modo. Uns menos suaves, outros mais. É a chance de uma campanha eleitoral razoavelmente “técnica”, o que seria uma bênção. Talvez nos aproximássemos de um cenário “americano”, com o carisma, a empatia e a simpatia servindo mais ao debate programático do que o inverso.

Qual será o foco da discussão? Se depender do que alardeia o governo, o país estará mobilizado para “evitar a volta da turma do Fernando Henrique”. Já a oposição procurará convencer-nos do quanto seria inconveniente “dar mais quatro anos ao PT”. Haverá certamente arranca-tocos relativos à “ética”. Mas todos sabem que não poderá ser só isso.

Agitar espectros não garante eleição, até porque os nomes do PSDB colocados têm garrafas para entregar em suas administrações. E o PT faz um governo com altas taxas de aprovação — e Dilma Rousseff é a ministra mais importante desse governo. E Marina Silva é uma candidata respeitável e consistente.

Teremos escaramuças. Mas, no fritar dos ovos, os concorrentes precisarão apresentar uma visão de futuro, com propostas inteligíveis em pelo menos alguns pontos estratégicos: educação, saúde, segurança e, principalmente, desenvolvimento. Não se trata de ficar debatendo tecnicalidades, mas de convencer o eleitor sobre a capacidade de o candidato ou candidata liderarem o país rumo à remoção das correntes que ainda nos amarram ao subdesenvolvimento.

Quem é o melhor para acabar definitivamente com o tratamento desumano dos pacientes que procuram atendimento médico? Quem é o melhor para fazer as nossas crianças saírem da escola sabendo ler, escrever e fazer contas? Quem é o melhor para reduzir os índices de criminalidade e proteger os cidadãos contra os bandidos? E quem é o melhor para conduzir a economia gerando ao mesmo tempo empregos e equilíbrio ambiental?

No fim das contas, o eleitor prestará atenção aí. Assim como elegeu Luiz Inácio Lula da Silva quando concluiu que a principal coisa a fazer era combater a pobreza e a desigualdade. E cada um dos candidatos terá trunfos. Todos têm currículos respeitáveis. Que a turma da campanha negativa tire o cavalinho da chuva: não será com ataques que vão derrubar Dilma, José Serra ou Aécio Neves e Marina Silva. Quem tentar vai desperdiçar energia, dinheiro e tempo de rádio e televisão. Talvez sirva para tirar o adversário do eixo, o que já é alguma coisa. Mas só.

Até porque o ambiente no país é de otimismo. E deverá continuar assim no ano que vem. E mau humor não combina com otimismo. O eleitor não sairá de casa no dia da eleição querendo comer o fígado de ninguém. Será um belo desafio para os candidatos e seus marqueteiros: como fazer uma campanha combativa, que enfraqueça o adversário, sem entretanto bater de frente com o espírito do tempo, com o sentimento geral.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

O custo Sarney

Como de costume, transcrevo mais abaixo a coluna de hoje do jornalista Alon Feuerwerker. Confira!


Fatura remetida ao Planalto
Alon Feuerwerker

O PT está ficando com uma cara de coisa antiga. Menos do que a do tucanato associado a FHC, mas ainda assim antiga. Um eventual governo Dilma corre o risco de nascer velho? O que o eleitor vai achar disso?

A bancada do PT no Senado tem uma dívida com o líder, Aloizio Mercadante (SP). Ao insistir que José Sarney (PMDB-AP) devia explicações ao Conselho de Ética, Mercadante ajudou a proteger os colegas, deixando mais que claro de onde vinham as pressões pelo arquivamento sumário: do Palácio do Planalto. O senador João Pedro (PT-AM) também contribuiu, quando leu no conselho um texto com a posição pública do presidente do PT, deputado federal Ricardo Berzoini (SP).

Assim, se manter Sarney na Presidência do Senado interessava antes de tudo ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que o próprio assumisse o ônus. A posição de Mercadante serviu também de escudo a dois colegas em particular, Delcídio Amaral (MS) e Ideli Salvatti (SC). Ambos candidatos ano que vem poderão dizer que votaram com o partido, com o presidente Lula, que fizeram esse sacrifício em nome do projeto maior. A única coisa que não pode faltar a um político é o discurso. Se o líder não consegue oferecer aos liderados a vitória, que pelo menos dê o discurso.

Lula desenvolveu ao longo dos anos uma tecnologia. É a história do técnico de futebol para quem “eu ganhei, nós empatamos, eles perderam”. Tudo vai se desenhando para que 2010 represente o ápice da estratégia. Será a eleição do tudo ou nada. A cúpula do PT opera para não ter candidatos viáveis nos maiores colégios eleitorais. Uma exceção será o ministro da Justiça, Tarso Genro, que deu o drible da vaca na direção nacional do partido e foi também beneficiado pelo desastre político do tucanato no Rio Grande do Sul.

A tese predominante no PT é abrir mão de tudo que possa representar risco para a montagem de um palanque invencível na sucessão presidencial. Teoricamente faz sentido. O tempo de televisão do PMDB dará um belo trunfo a Dilma Rousseff, ainda mais se houver mesmo o desgarramento de outros pedaços da base do governo. O problema, de novo, é o discurso. Ao PT resta hoje a tese de que fez um governo melhor do que fizera o PSDB. É verdade. Se for só por isso, Dilma pode preparar o tailleur.

Eleições são apostas sobre o futuro. O presente pode ganhar, desde que dispute com o passado, já que em relação ao passado o presente é o futuro. Fernando Henrique Cardoso reelegeu-se em 1998 porque as pessoas não queriam de volta o passado de inflação. E Lula venceu em 2006 porque os eleitores não desejavam a volta do passado representado por FHC.

Aliás, talvez os tucanos nunca tenham entendido como a história das privatizações rendeu tanto ao PT naquele ano. Não foi porque o brasileiro se tornou um estatista fanático, mas talvez porque o ambiente de polarização ideológica tenha reavivado as brasas adormecidas da péssima memória popular sobre o segundo quadriênio do PSDB no Planalto. Que persiste até hoje. Basta olhar para as pesquisas, nas quais invariavelmente o campo político tucano-democrata aparece em minoria quando se pergunta sobre o sucessor de Lula.

Mas o discurso da continuidade encontra o limite quando se vê diante do apelo do futuro. Não qualquer futuro. Um viável. Esse é o risco do caminho pelo qual o situacionismo conduz a guerra. O PT está ficando com uma cara de coisa antiga. Menos do que a do tucanato associado a FHC, mas ainda assim antiga. Um eventual governo Dilma corre o risco de nascer velho? O que o eleitor vai achar disso? E qual é a liderança partidária que poderia encarnar hoje o sentimento de renovação política?

Não é à toa que Lula se movimenta para matar as alternativas. Ele sabe o que faz.

Homenagem

Um último detalhe. O PMDB que representou contra o senador Arthur Virgílio (PSDB-AM) votou no Conselho de Ética para arquivar sumariamente o mesmo processo que o partido havia apresentado. Foi uma posição transparente, a admissão de que a coisa se reduzia apenas à política. O PMDB poderia ter votado para abrir o processo contra o líder tucano. Não mudaria o desfecho. Mas preferiu dar os votos que garantiram a unanimidade a favor de Virgílio. Talvez tenha sido uma homenagem.

Sofisticado

Como foi notado ao longo do dia, e finalmente verbalizado pelo senador Pedro Simon (PMDB-RS), a senadora Marina Silva (sem partido-AC) escolheu deixar o PT no dia em que a legenda votou para impedir qualquer investigação sobre o presidente do Senado. Talvez agora os que a reduzem a uma “candidata temática” percebam que estão diante de algo mais sofisticado.Coluna (Nas entrelinhas) publicada hoje no Correio Braziliense.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

A candidatura Marina na avaliação de Marcos Rolim

Marcos Rolim foi, de longe, um dos melhores deputados que o parlamento brasileiro já teve. E o parlamentar do PT que mais deu contribuições substantivas aos debates sobre segurança pública, homofobia, violência de gênero e racismo. Articulado, corajoso e com uma grande sensibilidade crítica, como era de se esperar, Rolim foi tratorado pelas máquinas mobilizadas por "companheiros" mais flexíveis do ponto de vista moral. Mas ele continua por aí, trabalhando e defendendo de cabeça erguida o que pensa. Algo raro, nesses tempos de vale tudo. Para alguns amigos petistas, ele é demodé e não entende o que "está em jogo". C'est la vie. Eu continuo levando muito a sério o que Rolim escreve. Por isso, coloco mais aí abaixo a sua posição sobre a possível candidatura da ex-ministra e Senadora Marina Silva.

MARINA
Marcos Rolim

Conheci Marina Silva no início dos anos 80. Havia, ainda, uma ditadura no país e sonhávamos com a revolução socialista.

Muito jovens e totalmente dedicados à militância, nos encontramos em reuniões onde usávamos codinomes. Fui saber que Marina era Marina, alguns anos depois. Com ela, havia um baixinho de bigode, figura cativante, de olhar compenetrado e voz pausada, que organizava a luta dos seringueiros no Acre. Os dois nos falavam da defesa “dos povos da floresta”. Ele foi assassinado em 1988 e seu nome verdadeiro era Chico Mendes. Desde aquela época, acompanho a trajetória de Marina com respeito e admiração. Se aceitar o convite do PV, Marina será candidata à Presidência da República, o que seria a melhor notícia da política brasileira nos últimos anos.

Consta que o PT está empenhado em convencer Marina a permanecer no Partido. Compreensível. Para o PT, o cenário ideal da campanha presidencial seria aquele onde houvesse uma dinâmica plebiscitária. Dilma seria, então, apresentada como a continuidade das políticas sociais do governo contra os riscos de um retrocesso. O que é bom para um partido, entretanto, nem sempre é bom para o país. Uma campanha presidencial confinada à polarização entre o PT e o PSDB será também uma campanha pequena diante dos desafios que precisamos superar. Marina representa a possibilidade de se colocar no centro da discussão política o tema do desenvolvimento sustentável, o que permitiria sintonizar o País com o debate sobre a utopia final, aquela que envolve a sobrevivência da espécie humana.

Ainda que a maioria de seus políticos não perceba, o Brasil já está no centro da polêmica mundial por conta da Amazônia. Nossos governos têm sido incapazes de formular projetos de desenvolvimento que não sejam devastadores do ponto de vista ambiental. A simples presença de Marina na disputa obrigará os demais candidatos a se posicionar com mais clareza sobre estes temas. Mas Marina pode – melhor do que ninguém – pautar questões difíceis para os partidos tradicionais, a começar pelo enfrentamento da barafunda ética em que a política brasileira se meteu – especialmente desde que seu mais importante partido de esquerda foi “reformado” pela tradição. Dilma e Serra não podem apresentar qualquer proposta de reforma política. Suas candidaturas são já a expressão de poderosas coalisões conservadoras e de máquinas eleitorais financiadas precisamente pelos interessados na manutenção do status quo. Não são iguais, por óbvio. Por aquilo que representam, Dilma e Serra estão em uma relação equivalente ao que expressam na política norte-americana democratas e republicanos. Mas se há alguém que pode ser o que Obama representou para os EUA, este alguém é Marina Silva.

Posso estar completamente enganado e não temos sequer pesquisas que permitam qualquer prognóstico. Penso, entretanto, que há um imenso vazio na política brasileira. Um espaço que nunca será preenchido por outro vazio, como com a idéia irresponsável do voto nulo que só piora as coisas, deixando a decisão nas mãos de quem tem menor senso crítico. O Brasil precisa de um projeto moderno e ético e do retorno da paixão à política, o que só pode ser traduzido por candidaturas muito especiais, dessas que fazem a gente se orgulhar ao votar. Anotem aí: Marina é a cara!

Eleições de 2010: uma disputa político-ideológica

O que está em jogo nas eleições de 2010? Esta questão deve se constituir em um dos eixos do debate político neste resto de ano e durante todo o ano vindouro. Por isso, de vez em quando, postarei aqui posições a respeito. Hoje, disponibilizo um artigo do Deputado José Genoíno (PT-SP) sobre qual deve ser a posição do PT. Acesse aqui o artigo.

quinta-feira, 30 de abril de 2009

A doença de Dilma e a guerra da sucessão presidencial

No seu blog, o Alon Feuerwecker transcreve artigo de sua autoria publicado no jornal Correio Brasiliense. No texto, uma análise sóbria a respeito do cenário que se descortina para as eleições presidenciais de 2010, especialmente após a divulgação de que a Ministra Dilma, presidenciável do PT e de Lula, está realizando tratamento médico de um câncer. Leia-o aqui.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Mais análise sobre o resultado eleitoral

Reproduzo abaixo análise sobre o resultado das eleições feita por Alon Feurwecker (já falei, bem, dele aqui). Vale a pena ler. Acesse diretamente o blog dele aqui.

De olho nos estados (28/10)

Por Alon Feuerwerker
alonfeuerwerker.df@diariosassociados.com.br

Já se sabe há três semanas, desde o primeiro turno, que o PMDB sairia desta eleição como a jóia cobiçada da próxima. Mas qual será, afinal, o peso dos resultados municipais de 2008 na corrida presidencial de 2010? E a real importância das coligações partidárias numa eleição majoritária, especialmente na escolha do presidente da República, qual é? Quem conseguir arrastar o PMDB para uma aliança terá mesmo dado o passo decisivo para ficar imbatível na corrida pelo Palácio do Planalto? O que realmente quer o PMDB?

Vamos começar pelo fim. O PMDB quer poder, o máximo possível. Nesse particular, a legenda é igualzinha às outras. Tome-se a sucessão das Mesas do Congresso. Os deputados federais do PMDB desejam o comando da Câmara. Os senadores ambicionam a Presidência do Senado. O PT e o presidente da República acham que é demais entregar ambas as cadeiras ao aliado. Mas a proposta de partilha esbarra numa dificuldade.

Como já se escreveu nesta coluna, um pedaço do PMDB (senadores) não se vê representado pelo outro (deputados). Pior, os dois grupos disputam espaço internamente na legenda e na relação política com o governo. Quem abrir mão estará cedendo poder para o principal adversário. E, como o PMDB tem a maior bancada numa e noutra Casa, ambos se julgam no direito de manter a postulação.

Um acordo em 2007 entre o PT e o PMDB decidiu pelo rodízio na Câmara, e agora é a vez de Michel Temer (PMDB-SP). Mas o Senado, que não participou do pacto, acha que não tem nada com isso. E tecnicamente não tem mesmo. Além do mais, os senadores viram o acordo de 2007 como uma manobra do governo e do PT para enfraquecê-los.

Encontrei ontem, na sala de embarque do Aeroporto de Congonhas, um amigo gaúcho, petista. Conversa vai, ele quis saber por que acho difícil o acordo, ainda que não impossível. Respondi com um exemplo. Imagine a cena, disse eu. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chama o ministro Tarso Genro e dá a notícia: “Tarso, é o seguinte, vou te tirar do Ministério da Justiça e colocar o Olívio Dutra no teu lugar. É para atender às minhas conveniências políticas. Fica elas por elas, já que o partido não perde nada. Vou anunciar daqui a pouco. Você liga para o Olívio para combinar a transição?”.

Meu interlocutor naturalmente riu. E mudamos de assunto. Fomos para 2010. O papo chegou no ponto de que alianças políticas são importantes pois garantem tempo de televisão, mas não só. O Rio de Janeiro acaba de mostrar que alianças podem fazer a diferença em eleições muito apertadas. É bem possível que a disputa de 2010 seja dura, e quem agregar um pouquinho mais poderá obter vantagem decisiva. A capacidade de reunir apoios também é importante por outro motivo: serve para transmitir ao eleitor a idéia de que o candidato tem suficiente força política para colocar em prática as propostas apresentadas na campanha.

Sem perder de vista que numa eleição majoritária a relação é direta entre o candidato e o eleitor, recomenda-se não esquecer os detalhes do parágrafo anterior. E, já que apoios e alianças são mesmo importantes, o que vai ser decisivo em 2010 para o PMDB escolher se prefere casar, comprar uma bicicleta ou nenhuma das duas anteriores?

Mais do que pelo poder (que já tem, e bastante), o PMDB provavelmente se orientará daqui por diante pela expectativa de poder, até porque a Era Lula está nas últimas. E quem tem mais expectativa de poder a oferecer para 2010, o governo ou a oposição? O governo tem Lula, uma ótima avaliação e consideráveis chances de eleger o sucessor. A oposição tem bons nomes, força regional e espera que a sucessão não aconteça em céu de brigadeiro na economia.

O PMDB pode ir para um dos dois lados. Ou, como é próprio do partido, para nenhum. Uma alternativa é a legenda ficar novamente fora das coligações formais na disputa nacional, enquanto suas seções estaduais buscam o melhor caminho para preservar e robustecer o poder local. Onde, como se viu, o PMDB é especialista. E poder local é essencial para eleger bancadas federais.

Aqui, mais um detalhe. O PMDB ganhou em seis capitais. Em quatro delas, teve que derrotar o PT, ou nomes apoiados pelo PT. Em uma, recebeu o apoio do PT no segundo turno. Só em uma os dois partidos estiveram coligados desde o começo. Se o desenho das disputas estaduais em 2010 indicar muitas polarizações entre PT e PMDB, é bom Lula começar, e logo, a procurar em outro lugar o vice de Dilma Rousseff.

Quem se fortaleceu nacionalmente?

Você não precisa concordar com o César Maia para levar em conta, não digo nem a sério, algumas de suas análises. Em meio a enxurrada, muita coisa se salva. Assim sendo, vale a pena ler a sua análise a respeito de perdedores e ganhadores do pleito findo no domingo passado. Por isso mesmo, aí abaixo, você tem acesso a um trecho do seu ex-blog de hoje.

QUEM SE FORTALECEU NACIONALMENTE?

1. É natural que a imprensa avalie o fortalecimento ou debilitamento dos partidos nas campanhas municipais através de dados quantitativos de eleitos, votos e população. Mas num país de partidos inorgânicos, plásticos e voláteis, isso vale muito pouco para fazer projeções para frente.

2. Na medida em que a política no Brasil é personalizadora, é inevitável ir repassando os resultados em base aos políticos com dimensão nacional que influenciaram substancialmente os eleitores, ou mesmo que foram percebidos como tais. Tomemos as capitais de maior expressão nacional medida pela cobertura da imprensa: Recife, Fortaleza, Natal, Salvador, Belo Horizonte, Rio, S. Paulo, Curitiba e Porto Alegre.

3. Em Recife a vitória não foi do governador, mas do prefeito que sai. Em Fortaleza o governador foi derrotado e Ciro Gomes não comprovou a força que se supunha que tinha. Em Natal da mesma forma. Em Salvador o governador foi derrotado e Geddel venceu, mas não tem expressão nacional. Em Belo Horizonte o que parecia uma vitória da estratégia política, se desfez no final do primeiro turno e só se refez, com muito esforço, no final do segundo turno, aguando a cerveja da vitória. E logo na primeira entrevista (JN, ontem) o prefeito eleito disse que terá que melhorar muito os postos de saúde e a qualidade do ensino, marcas publicitárias do prefeito que sai e o apoiou.

4. No Rio, o governador vitorioso passou como comandante de uma máquina de pressão, incluindo panfletos, agressões e feriado. Foi a única vitória onde não houve comemoração. Com um enorme desgaste na classe média. E ainda perdeu na região metropolitana toda. E seu desafeto no PMDB venceu em Campos e elegeu a filha vereadora da capital com grande votação.

5. Em Curitiba, o governador nem apareceu e o prefeito se reelegeu com votação recorde por si mesmo. Em Porto Alegre a reeleição do prefeito nada teve a ver com as lideranças nacionais gaúchas, que ficaram minimizadas não aparecendo na foto.

6. Nem Lula capitalizou nada, perdendo em S. Paulo e Natal onde fez força para vencer, indo para os comícios e TV. Para não ficar mal, na noite da eleição no segundo turno disse que nenhum candidato criticou o governo federal. Mas é assim sempre, pois quem nacionaliza a eleição municipal, perde.

7. Finalmente uma exceção: S. Paulo. A dobradinha entre o prefeito Kassab e o governador Serra, veio desde antes da eleição, criando constrangimentos dentro do PSDB. E foi consagrada pelo próprio prefeito eleito. Serra foi o único político de dimensão nacional que saiu mais forte que entrou. O único.

sábado, 25 de outubro de 2008

Uma entrevista com Renato Lessa

Leia abaixo uma entrevista com o Professor Renato Lessa (IUPERJ). Trata-se de uma análise arguta sobre o pano de fundo (ou, como diria minha Avó, sobre o buraco que está atrás do pano) das disputas eleitorais que terminam amanhã.

“Pragmatismo despolitiza as campanhas”
Heloisa Magalhães, do Rio - VALOR

Renato Lessa: “O PT tem teto em São Paulo.


“A política está sendo varrida . Existe uma cultura há anos no Brasil repetindo a idéia de que o bom candidato é aquele que responde a problemas práticos. Esquerda e direita acabaram. O eleitor pensa nas questões práticas, escola do filho, transporte e esgoto”, diz o cientista político Renato Lessa.

Ele critica o cenário que levou ao que atribuiu a um certo “enfado” com relação aos políticos e critica a “tendência crescente do eleitor pragmático, aquele que vota com foco na administração o que, na sua avaliação, vem se repetido à exaustão em todos os níveis do Executivo.

O professor do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj) diz que neste universo do voto racional, “outra coisa terrível é a idéia de que esse eleitor vota no candidato que é amigo do prefeito, governador e do presidente”. diz. E frisa que há tendência de um corte deste processo com a provável vitória de Gilberto Kassab, em São Paulo, e a disputa acirrada no Rio e Belo Horizonte, mostrando o questionamento do eleitor à força do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e dos governadores Sérgio Cabral e Aécio Neves

Em conversa com o Valor, o professor falou do perfil do eleitor que cresceu mas pouco se politizou depois do golpe de 1964.

Abaixo os principais trechos da entrevista:

Valor: As prefeituras hoje com mais recursos financeiros permitindo maiores realizações estão influenciando a reeleição? O eleitor está cada vez mais deixando a política de lado?

Renato Lessa: Primeiro, acho que se trata de uma hipótese com tinturas mitológicas, que por todo o Brasil os prefeitos que tiveram mais dinheiro foram bem avaliados e o eleitor votou neles. Não acredito que as coisas funcionam desse jeito. Política é mais complicada. E também não acredito que exista um eleitor médio. Tenho colegas que acreditam nessas ficções estatísticas. Eu acredito em eleitores reais. E os casos são diferentes. A mesma motivação que podem levar os eleitores de Salvador (João Henrique, PMDB) a reeleger um prefeito não são necessariamente as mesmas motivações que levam os paulistas a reeleger o (Gilberto) Kassab (DEM), embora em ambos os casos você tenha um prefeito bem avaliado. Há fatores locais que não podem deixar de ser levados em conta porque as eleições não são coordenadas nacionalmente.

Valor: Mas o senhor concorda que os eleitores estão partindo para o voto mais pragmático?

Lessa: A hipótese do eleitor pragmático está posta. Merece algum tipo de atenção. Pode também estar decantando na cabeça do eleitor a maneira correta de votar diante de um certo enfado com relação a questões de política. Há décadas vem sendo repetido que política é uma coisa ruim, horrorosa, que só interessa a gente corrupta e que tem relações escusas. Então política é tudo aquilo de que devemos nos afastar e a gestão é tudo aquilo que devemos apreciar.

Valor: Mas ao mesmo tempo o número de candidatos a cada eleição só cresce…

Lessa: No Brasil, dois em cada três brasileiros votam. É um eleitorado imenso. São 138 milhões de eleitores para 183 milhões de habitantes. Na última, foram 350 mil candidatos a vereador, 17 mil a 18 mil para prefeito. O tamanho disso não é brincadeira de dois em dois anos temos uma multidão incalculável que se mobiliza e vai às urnas. Esse eleitorado teve dois piques de crescimento na fabricação de um eleitor mas despolitizado. Depois do golpe de 64, foram dois momentos de expansão forte. O eleitorado disparou mais de 180%. É uma coisa extraordinária que é um caso de crescimento eleitoral sem política. Foi a única ditadura do mundo com aumento exponencial do eleitorado.

Valor: Por que cresceu tanto?

Lessa: A população cresceu mas entre as razões estão o aumento da alfabetização e da urbanização. E aumentou nesse eleitorado o número imenso de eleitores desqualificados em termos educacionais, com os analfabetos funcionais que entraram nisso. Outro espasmo se deu depois da Nova República.

Valor: E a redemocratização de 1988?

Lessa: Se pegarmos a Carta de 1998 duas grandes novidades institucionais vamos ver uma mudança de papeis. Uma é do Ministério Público e do Judiciário. O MP deixou de de ter as funções tradicionais do promotor, acusador e passou a defensor da cidadania. E a partir daí toda uma difusão de uma ideologia, uma mentalidade, um imaginário de que os brasileiros são portadores de direitos.

Valor: Foi a busca dos cidadãos em fazer prevalecer seus direitos que diferenciou as instituições?

Lessa: Os direitos dos brasileiros não são expressos através dos partidos. E não é apenas porque o Legislativo está asfixiado e insulado pelas medidas provisórias do Executivo. O eleitor hoje vai buscar os direitos no Judiciário. O Congresso hoje é um conjunto de pessoas eleitas que ficam à disposição do presidente para fazer maiorias, para compor maiorias de governo, muito distante da população aqui em baixo. E a população está aprendendo, cada vez, a mobilizar o Judiciário e o sistema de Justiça para defender suas causas.

Valor: O senhor fala em um eleitor focado em questões práticas. A candidatura Gabeira, no Rio, se enquadra neste perfil?

Lessa: O Gabeira nessa eleição no Rio está tentando animar a questão da grande política. O Rio é uma cidade global, uma das maiores metrópoles do mundo, não pode ser pensada como um problema local tem a ver com o pais e o mundo. A candidatura dele é teste interessante para ver se há espaço na cidade do Rio para quem se apresenta de uma maneira mais politizada no sentido mais amplo. Diz que vai pensar a cidade, as milícias ilegais, o meio ambiente. Contrapõe o estilo completamente asséptico sem política, do gestor, do prefeitinho da Barra (função que foi ocupada pelo opositor a Gaberia, Eduardo Paes, do PMDB, no início da trajetória política) contra a idéia que uma cidade dessa complexidade tem que ter estadista.

Valor: Em São Paulo não está sendo posto em questão a capacidade de Lula tranferir voto?

Lessa: O que está acontecendo em São Paulo é o que sempre aconteceu. Não está acontecendo nada novo. O PT em São Paulo tem o que a Marta (Suplicy) tem. Não é que Kassab é o administrador bem sucedido e admirado. É que o PT tem teto eleitoral. A Marta só ganhou quando disputou com o (Paulo) Maluf. Só ganhou quando Mario Covas desembarcou do consultório médico, quando estava proibido de sair, e foi fazer campanha para ela, colocou o PSDB ao seu lado. Marta com Covas ganhou do Maluf, mas sozinha não ganhou do (José) Serra e não ganha do Kassab. É questão do tamanho eleitoral que o PT tem em São Paulo. É imenso mas é menor do que a metade. Pode até existir transferência de voto em tese, mas em São Paulo o que está acontecendo é a repetição de um padrão eleitoral que está consolidado.

Valor: E para presidente da República, transfere?

Lessa: Depende muito, é totalmente circunstancial. Depende de quem é a pessoa e de quem é o inimigo. Não há uma teoria geral. Mario Covas transferiu para Marta porque o inimigo era o Maluf. (Leonel Brizola) transferiu voto no Rio para Lula quando o inimigo era (Fernando) Collor. Se o candidato que disputasse contra Lula fosse Mario Covas ou Ulysses Guimarães dava para transferir aquela quantidade toda de votos? Não sei, a ver. É muito circunstancial.

Valor: O que sai dessa eleição agora já permite projetar a tendência do quadro partidário para 2010?

Lessa: Tendência para 2010 é complicado mas força é algo a considerar. É força partidária para disputar eleições que virão. Três grandes partidos PT, PSDB e PMDB. Pegando a distribuição de votos nas cidades com mais de 200 mil votos no primeiro turno esses três partidos são os campeões. Mais abaixo vem o DEM. Nas 80 cidades maiores, o DEM teve desempenho quase de pequeno partido, ficou lá em baixo. Perdeu as lideranças e o palanque. O partido foi comido no interior pelo PT que entrou nos grotões e o PSDB se consolida como o principal partido de oposição. Mesmo com a vitória do Kassab, em São Paulo, ninguém vai acreditar que será uma vitória do DEM. Os três maiores partidos com escala nacional são o PMDB, PSDB e PT tem base e densidade eleitoral. O Lula não sai enfraquecido. Há uma teoria que com uma derrota da Marta elimina a Dilma (Rousseff). Eu não entendi essa dialética.