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sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Deus e a eleição

Nada como um dia atrás do outro, ensina o dito popular. Na sua coluna de hoje do jornal Folha de São Paulo, o jornalista Fernando Barros e Silva reproduz famoso e decisivo diálogo, travada em debate às vésperas da eleição para prefeito de São Paulo em 1985 pelo então candidato (que viria a ser derrotado, dizem, exatamente pela resposta dada ao jornalista. Confira:

Boris Casoy - Senador, o senhor acredita em Deus?
FHC - Essa pergunta o senhor disse que não me faria.
Casoy - Eu não disse nada.
FHC - Perdão, foi num almoço, sobre esse mesmo debate.
Casoy - Mas eu não disse se faria ou não faria.
FHC - É uma pergunta típica de quem quer levar uma questão que é íntima para o público, uma pergunta típica de quem quer simplesmente usar uma armadilha para saber a convicção pessoal do senador Fernando Henrique, que não está em jogo. Devo dizer ao senhor Boris Casoy que esse nosso povo é religioso. Eu respeito a religião do povo, as várias religiões do povo, automaticamente estou abrindo uma chance para a crença em Deus.
Casoy - A pergunta não foi respondida. Não se trata de armadilha, nem de convicção pessoal.
O jornalista da Folha, após rápida análise, conclui:

Ao vestir a fantasia do neocarola, o tucano age mais ou menos como aqueles que acusavam FHC de ser ateu há um quarto de século.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

A vitória de Tarso

Da Carta Capital.

Tarso Genro quer governar com diálogo
Paulo Cezar da Rosa

4 de outubro de 2010 às 12:04h

A verdade das urnas é só uma. Aconteceu o que as pesquisas estavam indicando no Rio Grande do Sul. Com uma alteração. Tarso Genro vinha crescendo na esteira do crescimento de Dilma Roussef. Dilma, como em nível nacional, paralisou e começou a regredir na reta final. Os efeitos da queda de Dilma, todavia, não afetaram a onda de crescimento de Tarso. Na prática, o lulismo impulsionou o rompimento do isolamento do PT gaúcho, mas Tarso foi além e resgatou contornos próprios na reta final.

Uma explicação para isso é o fato de José Fogaça (PMDB) ter sido derrotado há quinze dias do pleito e Yeda Crusius (PSDB) ter jogado a toalha na última semana. Sem adversários à altura, Tarso continuou crescendo. Na disputa nacional, entretanto, a direita gaúcha não recuou. O festival de mentiras, boatos e panfletos apócrifos na boca da urna são prova disso. Domingo passado não faltou munição na artilharia anti-Dilma.

Em balanços realizados ao longo do dia da eleição, o governador eleito atribuiu sua vitória à recomposição das forças do PT, combinada com três movimentos: reconstituição do campo político agregando as forças do PCdoB, PSB e outras; renovação de linguagem junto às novas gerações, via internet etc; ampliação junto aos setores produtivos através de um conjunto de ações e debates sobre a economia e o desenvolvimento do Estado.

Talvez tenha sido isso (mais que o efeito Erenice) que impediu Dilma de manter-se acima dos 50% no primeiro turno. A campanha Dilma, até o momento, sinalizou apenas a continuidade e há uma parte do eleitorado sempre mais afeito às novidades. No caso, Marina, com seu discurso ambiental, por um lado, e Serra, com suas propostas sociais um tanto quanto irresponsáveis, pelo outro, apresentaram uma luz a ser seguida.

Depois da obra feita, fica fácil explicar a construção. Mas sempre é importante tentar entender o que aconteceu, até porque a engenharia só avança criticando o passado. Neste momento, o que todos devem estar começando a pensar é no que fazer para que o Brasil continue no rumo certo. Todo o resto é secundário. E definir o que fazer, é essencial entender o que aconteceu….

Tarso Genro, depois de eleito, em seu primeiro discurso, afirmou que pretende governar dialogando com todos os setores e vai ampliar seu governo para além das forças que compuseram sua frente política. Começou bem, e pode agora retribuir o apoio recebido do presidente Lula.


Paulo Cezar da Rosa é jornalista e publicitário. Publicou o livro O Marketing e a Comunicação da Esquerda. É diretor da Veraz Comunicação e da Red Marketing, ambas sediadas em Porto Alegre. paulocezar@veraz.com.br

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

O PSDB e a mexicanização

PRI, o partido que dominou a política mexicana por quase um século, é sempre mobilizado como um espectro quando o Presidente Lula consegue obter vitórias eleitorais e políticos. O tucanato lembra um pouco aqueles meninos de nossa infância, donos da bola, que queriam parar o jogo quando o seu time estava perdendo...

Bueno, confira abaixo, artigo de autoria do jornalista Elio Gaspari, comentando essa, digamos, face da oposição brasileira. Lembre: o artigo chega aqui via Blogo do Noblat, ok?


Enviado por Ricardo Noblat - 1.9.2010 9h26m
Deu em O Globo
Quando a oposição perde, apita: PRIiiiiii!
Elio Gaspari


Quando a oposição brasileira é devastada pelo resultado eleitoral, alguém apita: "PRIiii!". É um grito de advertência contra o perigo da instalação de um regime de partido único (de fato) no Brasil. Algo parecido com a coligação de políticos, burocratas, sindicalistas e cleptocratas que governou o México de 1926 a 2000, boa parte do tempo sob a sigla do Partido da Revolução Institucionalizada.

O apito de PRI costumava soar depois da eleição. Agora ele veio antes, com um inoportuno componente de derrotismo.

Ele soou em 1970, quando a popularidade do general Médici e os camburões da polícia esmagaram o MDB. A oposição ficou com 87 das 310 cadeiras da Câmara, perdendo até o terço necessário para requerer uma CPI. O governo elegeu 42 senadores, perdendo apenas no Rio de Janeiro e na antiga Guanabara. Era o PRI.

Quatro anos depois, o MDB elegeu os senadores em 16 dos 22 estados. Não se falou mais em PRI.

Em 1986, cavalgando o Plano Cruzado, o PMDB de José Sarney elegeu 22 governadores, 36 senadores e a maioria dos deputados. Novamente: PRI!

Três anos depois Fernando Collor de Mello elegeu-se presidente da República e, desde então, o apito calou-se, para voltar a ser ouvido agora.

Falar em PRI no Brasil quando o PSDB caminha para completar vinte anos consecutivos de poder em São Paulo é, no mínimo, uma trapaça. Sabendo-se que o PT conformou-se com uma posição subsidiária nas eleições para governadores, o espantalho torna-se risível.

É nessa hora que se deve olhar para o espantalho. Ele não é o que quer o tucanato abichornado, mas o paralelo histórico tem algo a informar.

O PRI surgiu depois de uma revolução durante a qual mataram-se três presidentes e desterraram-se outros dois. Seu criador não foi Emiliano Zapata, muitos menos Pancho Villa (ambos passados nas armas), mas um general amigo dos sindicatos e dos movimentos sociais.

Chamava-se Plutarco Elias Calles, assumiu em 1924, saiu em 28 e governou até 1935 por meio de prepostos, fazendo-se chamar de "Jefe Máximo". Esse período da história mexicana é conhecido como "Maximato".

A boa notícia para quem flerta com um Lulato é que Calles parece-se com Nosso Guia na política voltada para o andar de baixo e até mesmo fisionomicamente, sem barba.

A má notícia vai para a turma do mensalão. Um dia "El Jefe Máximo" teve uma ideia e decidiu entregar o poder ao companheiro de armas Lázaro Cárdenas. Encurtando a história, Cárdenas dobrou à esquerda, exilou meia dúzia de larápios do "Maximato", inclusive um ex-presidente, e, em 1936, despachou o próprio Calles, que ralou cinco anos de exílio.

O que está aí para todo mundo ver é o Lulato, com Nosso Guia pedindo votos para sua candidata, e uma grande parte do eleitorado, consciente e satisfeita, dizendo que atenderá com muito gosto ao seu pedido.

Um país com a sofisticação econômica do Brasil, com a qualidade da sua burocracia e com o vigor de suas instituições democráticas não cai nas mãos de um PRI qualquer. Apitando-se, faz-se barulho, e só.

O problema da oposição brasileira, com sua vertente demófoba, chama-se Lula, "El Jefe Máximo", que o embaixador Celso Amorim chamou de Nosso Guia e Dilma Rousseff qualificou como o "grande mestre, ele nos ensinou o caminho".

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quarta-feira, 3 de março de 2010

Qual o tipo de relação existe entre o PSDB e o PT

O artigo do Alon que transcrevo mais abaixo aborda a relação freudiana entre o PSDB e o PT. Vale a pena conferir!

Chega de sofrimento (02/03)
Alon Feuerwerker Brasília, DF - Brasil

Se o PSDB deseja tanto assim ser reconhecido pelo PT como igual, o melhor é apoiar Lula, o governo dele e a candidata Dilma Rousseff. O PT “reabilitou” personagens ideologicamente até mais distantes, e não teria dificuldade para dar mais este passoRegistrei em dezembro (“Rumo ao plebiscito”) que a oposição previa mudanças dramáticas nas pesquisas que viriam. Foi captado por estes tímpanos que a terra irá reciclar. Assim, se há alguém sem razão para surpresa com o estreitamento da margem entre José Serra e Dilma Rousseff, é a própria oposição.

Tal previsão, entretanto, não produziu um movimento capaz de colocar no jogo, para valer, o pessoal que deseja tirar o PT do Palácio do Planalto (cuja reforma, aliás, anda de vento em popa). As últimas pesquisas foram ruins? Sim, mas está longe de ser o maior problema de tucanos e democratas. Grave é não terem ideia de como tentar brecar o avanço do governismo e pelo menos zerar o vetor da iniciativa política. Se têm, escondem muito bem.Por que a oposição não consegue retomar a iniciativa? Será porque o governo de Luiz Inácio Lula da Silva é bom? No passado, o PT conseguia opor-se até a aumento salarial para professor. Quem deseja, de verdade, travar a luta política acaba dando um jeito de encontrar a brecha.

Já tratei de uma dificuldade oposicionista: a falta de unidade. Mas reconheço que há aqui alguma tautologia. Esse tipo de unidade costuma ser catalisado pela expectativa de poder, algo que combina vetores quantitativos e qualitativos. Pesquisas têm lá sua importância, assim como as alianças. Mas o decisivo é projetar uma visão clara de futuro. Pode até ser genérica, mas precisa encaixar no desejo do eleitor e formar um polo de aglutinação da opinião pública, tomada no sentido amplo. É uma tarefa difícil quando se enfrenta um governo popularíssimo, cuja mensagem é a continuidade. Difícil, mas não impossível.

O melhor exemplo é Marina Silva (PV), a cuja campanha os jornalistas e políticos temos prestado menos atenção do que seria saudável. A autocrítica não é tanto pelos índices dela, já bastante bons, e sim pela maneira cirúrgica e sempre adequada como a senadora do Acre intervém. Ela nunca bate de frente, mas invariavelmente busca um defeito no adversário. E assim, de modo objetivo e focalizado, vai minando o oponente e construindo um caminho. Como fazem os grandes pugilistas.

Claro que falar é fácil. Marina não carrega o estigma do passado nem precisa ficar explicando por que o governo dela não será uma volta aos tempos de Fernando Henrique Cardoso. Pode até dar-se ao luxo de fazer elogios a FHC sem abrir brecha para que colem nela o rótulo de “neoliberal”. E, se um dia crescer mais e virar ameaça, os ataques que certamente sofrerá por reunir eventuais apoios “neoliberais” terão tanto efeito quanto os sofridos por Lula devido aos aliados complicados dele: nenhum.

Marina é a prova definitiva de que na esquerda ou na centro-esquerda a oposição mais eficaz contra Lula deve ser executada na margem, como diriam os economistas. Para governar e perpetuar seu projeto de poder, Lula deslocou-se para um centro político, ali montou acampamento e ergueu muralhas. Mas sem descuidar dos elementos simbólicos que o unem à esquerda. Só que persiste uma tensão latente entre o discurso e a vida, entre as ideias originais e a prática, entre o sonho e a realidade. Há um espaço a ser ocupado, uma cabeça de praia a instalar.Haveria também outra maneira eficiente de fazer oposição a Lula: pela direita. Para isso, precisaria surgir no Brasil uma força organizada, e combativa, efetivamente liberal. Um “Tea Party” verde-amarelo. Mas as circunstâncias do liberalismo brasileiro são conhecidas. Discursos, editoriais e artigos em jornais e revistas, mas sem renunciar aos empréstimos a juros subsidiados do BNDES, ao dinheiro do Banco do Brasil que não é preciso devolver e à ordenha do Tesouro.

Quanto àquele hipotético e teórico liberalismo, o PSDB está no pior dos mundos: leva a fama mas não consegue tirar vantagem. Pois não é liberal, nem tem vontade de parecer que é. No fundo, o que o PSDB talvez deseje é ser reconhecido pelo PT como um parceiro, como cofundador do sucesso petista, da hegemonia social-democrata. Um desejo irresolvido, e que insatisfeito desemboca em mágoas muito perceptíveis.

Se o PSDB precisa tanto desse reconhecimento, eu ofereço modestamente uma sugestão: passem a apoiar o governo, Lula e a candidata dele, Dilma Rousseff. Nem que só “criticamente”. Se o PT teve a frieza e o pragmatismo necessários para repaginar as relações com José Sarney, Fernando Collor, Delfim Netto e mais um punhado de personagens que combateu mortalmente no passado, não terá dificuldade de, caso seja conveniente, “reabilitar” FHC e o PSDB. Afinal, são primos e têm uma história até certo ponto comum. Se o PSDB sofre tanto com isso, se necessita tanto disso, talvez seja o jeito.

Coluna (Nas entrelinhas) publicada nesta terça (02) no Correio Braziliense.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Agora, é só na canela...

Pois é... Foi só a Dilma Roussef subir um pouco mais nas sondagens de opinião para as eleições presidenciais de outubro próximo para que os articulistas da Nova Direita descessem ainda mais o nível do, como direi?, "debate". Hoje, o arauto da turma (tchurma, daqui prá frente), o jornalista Reinaldo Azevedo, que mantém um blog político no site da Veja, com o pretexto de atacar manifestação contra o seu candidato, o governador José Serra (PSDB), distribuiu epitetos de "fascistoides" contra os adversários.

E tem sido esse o diapasão da tchurma. Ainda no site da Veja, Augusto Nunes, exerce o seu "jornalismo" com denodo: tudo o que o Fernando Henrique Cardosos é reverberado e merece elogios. Assim, ainda ontem, propunha, que gracinha!, um debate público entre o ex-presidente e Lula. E todos quantos se posicionaram criticamente a respeito das boutades escritas pelo pai das privatizações foram tratados como "moleques de recados" e os seus nomes escritos com iniciais em letras minusculas.

A gente até se diverte um pouco com esse pessoal. Escrevem bem, dominam a língua de Camões e são deveras criativos. Mas, cá no meu cantinho provinciano, fico a me perguntar: qual o impacto desses, sejamos benevolentes!, "formadores de opinião"? Sim! Eles formam opinião, acredito. Aquela opiniãzinha (diminuída mesmo) de certos setores de classe média, que nunca leram mais do que pequenos escritos de auto-ajuda, mas que se enchem de autoridade para defenestrar o Lula como "analfabeto".

Para felicidade geral, o Serra é maior do que essa gente. Goste-se ou não dele, o governador paulista tem uma biografia pessoal respeitável. E foi um bom ministro da saúde. Além do mais, em que pese o gerenciamento complicado que os tucanos fizeram das universidades paulistas, o Serra não se situa no mesmo patamar ideológico anti-Estado da Nova Direita.

Assim sendo, essa tchurma mais prejudica do que ajuda ao governador paulista. Eles não conseguem deixar de dar vazão, para acalentar a preconceituosa audiência que formaram, à preconceitos a respeito dos trabalhadores, dos negros e dos nordestinos. E a fomentar a demanda irracional por punição...

Mas as eleições de 2010 não precisam se transformar nesse tipo de jogo. Canelada, nem em jogo de várzea, não é? E, ademais, as candidaturas postas, até agora, indicam algo melhor do que essa baixaria...

Sim, podem me esculhambar, mas eu acredito que é um luxo uma eleição presidencial em que os principais candidatos são José Serra, Dima Roussef, Ciro Gomes e Marina Silva. Basta lembrarmos do balaio de gatos que foi a eleição de 1989... Balaio que deu em Collor, na época o ungido dos papais intelectuais e financeiros da tchurma...

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

FHC seguindo o script traçado por Lula

Leia abaixo artigo de autoria de Marcos Coimbra. Trata-se de uma análise das investidas críticas do ex-presidente contra Lula, Dilma e o PT. Vale a pena conferir!

Fernando Henrique contra Lula
Autor(es): Marcos Coimbra
Correio Braziliense - 10/02/2010

Com seu cartão de visitas, o Plano Real, Fernando Henrique ganhou a admiração do país. Se não terminou seu período com a imagem que julga condizente com o que fez, ninguém pode ser responsabilizado, fora aqueles que o integraram

Em mais um capítulo da longa batalha que travam há anos, Fernando Henrique e Lula voltaram a se enfrentar no fim de semana. Agora, a iniciativa partiu do ex-presidente, que, em artigo publicado por alguns jornais, se disse “sem medo do passado”. Com isso, afirmou que aceita o desafio do atual, de fazer a comparação entre os governos dos dois na eleição deste ano.


Segundo Fernando Henrique, Lula está em meio a uma “guerra imaginária” em que distorce fatos e, assim fazendo, se glorifica no contraste com ele. Em suas palavras, o presidente quer assustar as pessoas, ameaçando-as com o caos se a oposição vencer.

Quase todo o texto é dedicado à defesa das decisões que tomou e do que fez no Planalto. O cerne de seu argumento é a ideia de que Lula (apenas) “deu passos adiante no que fora plantado por seus antecessores”. Embora falasse no plural, parece que o que ele queria dizer é que o (único) mérito de Lula foi prosseguir o que ele começou.

Nada mais compreensível que a reação de FHC. Não é preciso ter de si uma opinião muito elevada para, em situação semelhante, ficar tão desconfortável quanto ele parece estar. Depois de uma trajetória brilhante como intelectual, entrou na vida política pela porta da frente e chegou aonde chegou, tornando-se, por algum tempo, ídolo de um país que não acreditava mais que a inflação pudesse ser vencida. Hoje, sem que ele o mereça, muitos de seus amigos preferem que ele finja que não existe.

Espicaçado por Lula e Dilma, pelo PT e até por gente que esteve bem aninhada em seu governo, é difícil imaginar que ele fosse ficar quieto em seu canto, sofrendo calado. O artigo foi uma mostra de que ele não vai aceitar de braços cruzados as provocações que a campanha da ministra lhe fará. Aliás, não foi a única, pois, ainda no sábado, já havia dito que Dilma é “um boneco” e Lula seu “ventríloquo”. Em matéria de nível de debate, não se pode dizer que seja elevado.

Fernando Henrique se diz convencido que na campanha haverá um mote (“o governo do PSDB foi neoliberal”) e dois “alvos principais: as privatizações das estatais e a (sua) suposta inação na área social”. Em função disso, contra-argumenta procurando mostrar que melhorou o desempenho das empresas privatizadas em seu governo e reivindicando a invenção do Bolsa Família.

Ainda que concordássemos com o que diz, o problema do raciocínio é que as eleições, para a vasta maioria das pessoas, não são guerras (imaginárias ou reais) entre dados e teses, mas entre imagens. Se existem pessoas que tomam suas decisões de voto apenas depois de ouvir a exaustiva argumentação racional dos candidatos em torno de diagnósticos e propostas, elas são uma minoria. E não apenas aqui, onde, por nossas distorções, o eleitorado é predominantemente constituído por cidadãos de baixa escolaridade e informação. Acontece o mesmo em qualquer lugar, incluindo os mais desenvolvidos. Em todos, os eleitores votam muito mais com imagens que com números na cabeça.

Fernando Henrique teve oito anos de governo para formar uma imagem de si, seus companheiros e ideias. Com seu cartão de visitas, o Plano Real, ganhou a admiração quase unânime do país. Se não terminou seu período com a imagem que julga condizente com o que fez, ninguém pode ser responsabilizado, fora aqueles que o integraram. Basta pensar no investimento em comunicação governamental nada pequeno que foi feito e que de pouco serviu, ao que parece.

O PSDB teve mais duas oportunidades de ouro para refazer a imagem do governo FHC, as campanhas de 2002 e 2006, ambas terminadas no segundo turno. Não foi por falta de tempo de televisão e de recursos que elas foram desperdiçadas.

Serra, sabendo que a grande maioria das pessoas queria a mudança naquela eleição, não pôde assumir o lado do governo de maneira inequívoca. Alckmin preferiu falar de sua gestão em São Paulo e emudeceu quando FHC foi trazido para o palco.

Engana-se quem acha que as privatizações foram um fantasma habilmente inventado por Lula para derrotar o PSDB. Elas não passavam de um símbolo das diferenças entre tucanos e petistas, FHC e Lula, “as elites” e “o povo”, “eles” e “nós”. Denunciando-as, muito mais era expresso, coisas que não são apagadas pelo fato de que “hoje existe celular para todos”.

Toda vez que entra diretamente no debate, FHC faz o que Lula quer. Só que o ex-presidente não consegue e nem deve evitá-lo. Esse é seu drama.

Eleições 2010: qual será o jogo dos donos da bolsa...

Confira abaixo matéria publicada no VALOR ECONÔMICO dando conta dessa, digamos, decisiva questão.

O MERCADO SE DIVIDE ENTRE SERRA E DILMA
SERRA E DILMA DIVIDEM PREFERÊNCIAS NO MERCADO FINANCEIRO
Autor(es): Luiz Sérgio Guimarães, de São Paulo
Valor Econômico - 10/02/2010

O mercado financeiro prefere Serra ou Dilma? Em linhas gerais, os analistas acreditam que Dilma fará uma repetição "piorada" do segundo mandato de Lula: âncora monetária, flutuação cambial suja e política fiscal frouxa. Serra fará o que sempre fez: âncora essencialmente fiscal, contas públicas equilibradas, juro real baixo e câmbio depreciado. Os mercados poderão passar a apoiar mais claramente a ministra Dilma Rousseff se enxergarem dificuldades intransponíveis em uma gestão Serra - Dilma, teoricamente, manteria os juros mais altos que Serra, o que agrada ao mercado. O ex-ministro de FHC Luiz Carlos Mendonça de Barros considera essa visão uma "irresponsável superficialidade". Em relatório divulgado ontem, o economista-chefe do Banco Santander, Alexandre Schwartsman, diz que a evolução das contas de São Paulo entre 2006 e 2009 foi muito semelhante à do governo federal, o que não confirma a avaliação que o governador José Serra tenderia a ser mais duro que Dilma na questão fiscal.

O mercado financeiro prefere Serra ou Dilma? A austeridade fiscal defendida e posta em prática pelo governador de São Paulo, José Serra, sempre conquistou a simpatia de instituições e investidores. Mas a facilidade com que o mercado ampliou seus lucros ao longo dos dois mandatos de Lula introduz um elemento novo capaz de balançar as convicções. E os analistas não descartam uma opção mercadista pela candidatura da ministra Dilma Rousseff.

Em linhas gerais, os analistas acreditam que Dilma fará uma repetição "piorada" do segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva: a âncora persistirá monetária, a flutuação cambial permanecerá suja e a política fiscal, frouxa. Serra fará o que sempre fez: a âncora (rigorosa a ponto de reduzir crescimento no primeiro ano) será essencialmente fiscal, a política econômica se sustentará em contas públicas equilibradas, juro real baixo e câmbio depreciado. Os mercados poderão passar a apoiar mais claramente a ministra Dilma Rousseff se enxergarem dificuldades intransponíveis em uma gestão Serra.

Pelo estilo centralizador demonstrado pelo atual governador paulista, o principal risco seria o de não conquistar a máquina burocrática de Brasília. Encontraria problemas para fazer logo o ajuste fiscal pretendido, com corte das despesas públicas e reforma tributária. Essas correções seriam essenciais para o segundo passo: a desvalorização cambial e a redução dos juros. Mas Luis Otavio de Souza Leal, economista-chefe do Banco ABC Brasil, levanta a hipótese de Serra não conseguir fazer o ajuste fiscal na extensão desejada. "Serra poderá tentar colocar de pé os dois outros pilares do seu modelo, sem que a principal viga de sustentação esteja fincada, o que certamente acabaria em fracasso via uma retomada da tendência de alta da inflação. Portanto, acredito que, apesar de no papel o modelo Serra ser melhor, as dúvidas com relação a sua implementação podem levar o mercado a considerar mais confortável a vitória de Dilma", diz Leal. Sobretudo se o atual presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, vier a ocupar a chapa da candidata ou a sua equipe econômica. Com isso, o PT passaria a ideia do "um pouco mais do mesmo", o conhecido confiável, embora não do inteiro agrado dos mercados.

Em entrevista concedida ontem ao Valor, o ex-ministro do governo FHC Luiz Carlos Mendonça de Barros - o Mendonção, como é conhecido no mercado, amigo de Serra - criticou o que considera uma "irresponsável superficialidade" do mercado financeiro, a de acreditar que, num eventual governo Dilma, tudo estará muito bem pois as instituições e os investidores continuarão ganhando dinheiro, já que serão preservadas as atuais políticas monetária e cambial. "Trata-se de um tremendo erro de análise", ataca Mendonção. "O mercado só olha o próprio bolso e é um bolso de curto prazo".

Essas eleições serão, no seu entender, fundamentais para definir o desenho de Nação que se terá no futuro. O Brasil está em condições privilegiadas em relação aos países europeus. Tem dívida pequena e dinâmico mercado de consumo doméstico. O país já está dentro do centro dinâmico da economia mundial. Mas precisa alargar o seu espaço. "Antes disso, será necessário discutir o papel do Estado na economia. Não tenho dúvida de que um governo Dilma irá ampliar a presença do Estado na produção econômica. É um retrocesso, uma visão soviética das coisas", diz Mendonção. Serra tem outro tipo de visão. Quem tem de ser forte é o setor privado, as indústrias. O governo deve controlar severamente as finanças públicas e criar condições para o investimento privado. No entender do diretor da Quest Investimentos, o mercado deveria abrir mão dos seus interesses de curto prazo, em prol do crescimento que virá para todos mais adiante.

Se o mercado, a sete meses das eleições, ainda não fechou consenso sobre o candidato favorito, sabe o que não quer: torce para o deputado Ciro Gomes (PSB-CE) retirar sua candidatura. O mercado não tem medo das decisões do governador José Serra nas áreas monetária e cambial. Tem medo de suas hesitações e preferiria que o lançamento oficial de sua candidatura à Presidência da República já tivesse ocorrido. Também não tem medo de uma Dilma Rousseff supostamente mais "desenvolvimentista" que Lula. "O mercado prefere Serra", antecipa o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves. Ele não levou a sério a entrevista do presidente do PSDB, Sérgio Guerra, para quem, eleito, Serra mudará o sistema de metas de inflação, o câmbio e os juros. São "audácias de palanque", não linhas e planos de governo.

Como o restante da sociedade, o mercado faz comparações entre Serra e Dilma, mas o dólar e os juros ainda não se deixaram empolgar pelas eleições de outubro. Nem a valorização recente da moeda americana, nem a inflexão sofrida pela curva futura de juros refletem os riscos eleitorais. Mas cresce e se inflama o debate interno nas mesas de tesoureiros, gestores e economistas de bancos e consultorias sobre a influência do pleito presidencial - tido como uma reedição do embate feroz de 2002 - sobre o comportamento das duas principais variáveis. Logo, com o lançamento oficial das candidaturas, as eleições estarão incendiando as expectativas e as decisões de investimentos.

Para o mercado, com Dilma os gastos do governo persistiriam elevados, o superávit fiscal não passaria de 2,5%, exigindo uma política monetária apertada. Nesses meses finais de Lula, raciocina Leal, quanto mais viável se mostrar a candidatura Dilma, mais conservadora tenderá a ficar a política fiscal, de modo a conquistar a simpatia do mercado e reduzir a parte longa da curva de juros. O mercado gosta disso e, dependendo dos programas de governo dos dois candidatos, poderá ficar "comprado" em Dilma.

Enquanto a candidata petista deve transmitir aos mercados mensagens tranquilizadoras sobre os integrantes de sua equipe econômica, os analistas ouvidos pelo Valor não trabalham com a possibilidade de, eleito presidente da República, José Serra nomear medalhões para os postos-chave da economia. Nem o Ministério da Fazenda, nem o Banco Central seriam ocupados por estrelas com luz própria. Serra, no entender do mercado, gosta de se cercar de "luas", homens-satélites que apenas refletem o brilho do chefe.

Essa interpretação de economistas de bancos baseia-se no fato de seu atual secretariado ter sido montado com homens de sua estrita confiança, mas avessos à publicidade externa. A discrição é a marca dos secretários. Quais são as posições de Mauro Ricardo Machado Costa, o secretário da Fazenda do governo paulista, sobre juro e câmbio? O que pensa sobre isso Francisco Vidal Luna, secretário de Economia e Planejamento? Luna foi sócio do ex-ministro João Sayad no antigo banco SRL (sigla de Sayad, Reichstul e Luna). Todos sabem o que Sayad defende em matéria de política monetária. Mas Luna concordaria com as mesmas posições baixistas? Eleito, Serra manteria essa propensão de indicar homens indecifráveis, impermeáveis ao pré-julgamento mercadista. Evitaria, com isso, delegar as cruciais políticas monetária e cambial a expoentes historicamente ligados à social-democracia paulista.

Estariam de antemão descartados tanto o professor da FGV Yoshiaki Nakano, um dos mais respeitados defensores do "novo-desenvolvimentismo" quanto o keynesiano Luiz Carlos Mendonça de Barros. Mas ambos podem servir de inspiração a Serra. Os dois defendem um estrito controle das contas públicas. "A base de sustentação da política econômica será sempre uma política fiscal austera. A contenção dos gastos, a ampliação das metas de superávit primário e a busca de um déficit nominal zero são os pressupostos nos quais irão se assentar as outras políticas", diz o professor da FGV, Paulo Gala, economista do grupo liderado pelo desenvolvimentista tucano Luiz Carlos Bresser-Pereira.

Para a política monetária, o objetivo parece ser o de estabilizar o juro real no nível de 5%. Na cambial, a meta é construir uma taxa depreciada capaz de reverter a desindustrialização denunciada pelos desenvolvimentistas. Como? Por meio da regulamentação da conta de capitais, sugere Gala. As medidas tomadas na parte final da gestão de Armínio Fraga no BC de Fernando Henrique Cardoso, e continuadas no governo Lula, no sentido de liberalizar a conta de capitais do balanço de pagamentos, seriam revertidas. Não há possibilidade de se falar em "controle de capitais".

Diferentemente de 2002, o risco político não conseguirá fazer disparar o dólar. No entender do economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, a taxa de câmbio chegará ao fim do ano bem depreciada, mas em função do déficit em conta corrente, e não de uma fuga de capitais estrangeiros motivada por mudanças de regras na política cambial. "Ao não ter aumentado a poupança nos oito anos que ficou no governo, o PT dará de presente ao país um déficit em conta corrente cada vez mais difícil de financiar", diz Vale. Sobre juro, nem Serra, nem nenhum governo será irresponsável no combate à inflação. "O correto é buscar mecanismos de redução dos spreads bancários. É isso ao final que o Serra deve ter na cabeça quando fala dos juros", diz Vale.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

O potencial de crescimento da candidatura de Dilma Roussef

Na Folha de São Paulo de hoje, em uma análise objetiva, diretores do Datafolha apontam o potencial de crescimento da candidatura da Ministra Dilma Roussef.

ANÁLISE

"Votos" de Lula podem igualar Dilma a Serra
MAURO PAULINO
DIRETOR-GERAL DO DATAFOLHA
ALESSANDRO JANONI
DIRETOR DE PESQUISAS DO DATAFOLHA

A capacidade de transferência de votos que o presidente Lula demonstra ter elevando sua candidata Dilma Roussef (PT) ao atual patamar de 23% não se esgotou. Uma análise mais detalhada da última pesquisa Datafolha mostra que há 15% de brasileiros que manifestam o desejo de votar no candidato apoiado pelo presidente, mas não sabem ainda que Dilma é sua escolhida, deixando de optar por ela.
(...)

Para chegar a essa conclusão o Datafolha combinou os resultados de três perguntas: intenção de voto estimulada, grau de influência de Lula como cabo eleitoral e o conhecimento de Dilma como candidata do presidente.
Somando-se os que não escolhem Dilma, mas outro candidato (58%), os que optam por votar em branco ou anular (9%) e os que não sabem em quem votar (10%) chega-se a 77% da população adulta que não declara, neste momento, apoio à petista. Dentre estes, 21% afirmam que votariam com certeza em um candidato apoiado por Lula. Estes dividem-se em 6% que identificam Dilma como candidata de Lula e 15% que não sabem quem Lula apoia.
Há, portanto, 15% da população que, neste momento, não declara intenção de votar em Dilma, não sabe que ela é a candidata de Lula, mas afirma que votaria com certeza em um candidato apoiado pelo presidente.
(...)
A característica mais marcante desse estrato é a baixa escolaridade. Enquanto na média da população brasileira adulta, 48% têm grau de escolaridade fundamental, nesse segmento, essa taxa vai a 68%.
O mesmo ocorre com a renda. Na média, 43% dos brasileiros têm renda familiar de até dois salários mínimos. No segmento dos potenciais eleitores de Dilma, esse percentual vai a 59%. Além disso, 36% vivem no Nordeste e 20% no Norte ou Centro-Oeste, índices que superam a média em oito e cinco pontos percentuais, respectivamente.

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segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

A pesquisa Datafolha e as miragens analíticas da Nova Direita

De vez em quando, visito o blog do Reinaldo Azevedo, no site da Veja. Mas, apresso-me em declarar, somente de vez em quando mesmo Gosto do meu fígado... O jornalista é o representante mais atilado da Nova Direita e o seu estilo já foi analisado, e copiado, por muitos. A agressividade conservadora contra tentativas, mesmo que mínimas, de substantivar a nossa frágil vida democrática é marca dele e dos seus imitadores. Diverte-me um pouco. O problema é que tem gente que o leva sério...

Bueno, faço esse comentário, pois, neste final de semana, o DataFolha divulgou pesquisa de intenções de votos para presidente na qual Dilma sobe para 23% e Serra cai para 37%. Com uma capacidade invejável de reverter o que aponta a realidade, o Reinaldo Azevedo quer, e porque quer, quer que todo mundo compre a idéia de que é o seu preferido, ou seja Serra, quem se sai melhor na pesquisa. Com os adversários agredindo a lógica, resta aos petistas comemorarem.

Mas, epa!, nem tudo é devaneio nas searas da Nova Direita. O César Maia, ex-prefeito do Rio e uma das lideranças do DEM, para surpresa geral, tem sido uma das vozes mais equilibradas na análise do quadro eleitoral de 2010. Por isso mesmo, pode apostar!, vale a pena ler a análise que ele fez da mesma pesquisa. A direção é bem diferente daquela tomada pelo Reinaldo Azevedo. Confira abaixo.

PESQUISA DATAFOLHA APONTA PARA POLARIZAÇÃO!

1. Sempre que os nomes apresentados em pesquisa são de amplo conhecimento público, os números relativos à intenção de voto "se as eleições fossem hoje", se aproximam da verdade de hoje. Especialmente numa pesquisa com mais de 11 mil eleitores, como essa realizada entre 14 e 18 de dezembro. Na pesquisa DataFolha de 25-27/03/2008, portanto mais de 20 meses atrás, Dilma tinha apenas 3%. Vem crescendo progressivamente, em função da divulgação de seu nome e o apoio de Lula: 3%, 8%, 11%, 16%, 16%, e 23%. Serra flutua no mesmo patamar: 38%, 41%, 41%, 38%, 37%, e 37%.

2. A diferença Serra-Dilma caiu de 18% e 19% nas duas pesquisas anteriores, para 14%. Para ela o dado mais importante que sua esperada ascensão com o apoio de Lula, é que a diferença num suposto primeiro turno e num segundo turno não muda. Com isso, isolando os dois no primeiro turno, Dilma tem 38% e no segundo 42%, com crescimento relativo maior que o de Serra, e absoluto igual, para uma taxa de conhecimento menor.

3. Entre as pessoas de maior renda, Serra tem 38% e Dilma surpreendentes 30%. Entre os de menor renda, provavelmente os que menos acompanham este processo pré-eleitoral, Serra tem 35% e Dilma apenas 23%, número que tende a crescer com o envolvimento de Lula, pois aqui é onde sua aprovação é maior.

4. Os números mostram que a tática do PSDB de ganhar tempo até março abriu espaço para o crescimento de Dilma, exatamente entre os eleitores potenciais de Serra. A entrevista do presidente do Banco Central, com destaque de capa no Globo de domingo, aponta nessa direção: assustar a classe média com hipotéticas mudanças.

5. Finalmente, imaginando que os 23% de Dilma entre os de menor renda suba para 30%, a diferença global cairia de 14 pontos para a metade. É um cenário provável. Claro, nas mesmas condições de hoje.

sábado, 5 de dezembro de 2009

A oposição patina, Dilma surfa

O DEM está indo para o brejo, e quem o guia para o indesejado lugar é o Governador Arruda, do DF. Mas o PSDB não sai incólume, já que o seu presidente regional no DF está no meio furacão. Enquanto isso, Dilma e os petistas olham tudo de camarote... e agradecem aos céus o presente que lhes caiu no colo.

Oposição burila discurso de Dilma
Alon Feuerwerker

Com suas reações tíbias e desencontradas na crise, o Democratas e o PSDB ajudam Dilma Rousseff a, finalmente, encontrar uma janela para deixar de ser só a “candidata de Lula”

Qual é a situação ideal para um político? É a que transforma seus defeitos em qualidades e potencializa ainda mais os vetores positivos do personagem. É bom para o candidato quando ele se encaixa naturalmente na cena. Bom para ele e seus marqueteiros. O marketing eleitoral, como qualquer outro, só aparentemente vende produtos. Ele vende necessidades. E o leitor há de convir que é bem mais fácil ganhar a vida vendendo picolé nas praias do Caribe do que nas do Alasca.

A crise desencadeada a partir das acusações contra o governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda (DEM), ainda está em desenvolvimento, mas alguns efeitos dela já são claros. Agudizou-se uma demanda crônica e difusa por providências saneadoras na administração pública. A análise apressada do quadro faria concluir que o assunto não será importante numa eleição marcada, como se dizia na Guerra Fria, pelo “equilíbrio do terror”: se cada um tem os seus próprios problemas, melhor deixar quieto.

Estaria perfeito, não fosse por um detalhe: quem raciocina assim esquece que existe o eleitor. A violência semiótica desta crise fará o dito cujo deixar para lá, mais ainda, a busca do “partido puro”, formado pelas “pessoas melhores do que as outras”. Esse mito foi mortalmente ferido na crise petista de 2005-06 e será enterrado sem honras daqui até a eleição presidencial, com o féretro coberto pela bandeira brasiliense, ladeada pela gaúcha e pela paraibana.

A exposição brutal dos costumes políticos cria uma demanda. Não pelo partido “portador da verdade”, coisa que o eleitor já concluiu não existir, mas pelo líder firme, até certo ponto autoritário, que seja capaz de enfrentar o sistema. Sem porralouquice, mas com método e obcecada tenacidade. Alguém que domine os políticos e não se deixe dominar por eles. Alguém que saiba “onde estão as sacanagens”. Que seja vivo o suficiente para não ser derrubado. Mas que não vacile na hora de mandar gente para a guilhotina.

A política é mesmo fascinante. E não é que a crise começa a abrir espaço para um certo “anti-Lula”? Desde que, é claro, preservem-se as melhores qualidades do presidente, como a preocupação genuína com os pobres. Mas desde que também se superem as circunstâncias nas quais o “filho do Brasil” (o verdadeiro, não o da ficção babosa) se enredou, a ponto de perder a sensibilidade, que era sua melhor característica. Ninguém passa incólume pelo poder.

Tudo isso seria espetacular para a oposição, debruçada sobre a tarefa hercúlea de achar uma brecha no discurso da continuidade. Qual é o problema então? Infelizmente para o PSDB e o Democratas, quem por enquanto melhor se encaixa no figurino é a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Verdade que ela própria precisa percorrer a curva de aprendizado, vide sua intervenção tosca quando precisou dar a cara a tapa por José Sarney. Não será difícil para Dilma, porém, construir a narrativa de que precisa fazer concessões agora, mas que no governo, com a caneta na mão, vai ser finalmente ela mesma. Assim como Luiz Inácio Lula da Silva é ele mesmo, um conciliador. Interessante. Qual é talvez o grande desafio da ministra nesta eleição? Fazer crer que não vai ser só um fantoche de Lula, que não irá governar, nem comer, pela mão dos outros. Mas não basta dizer. É preciso construir a verossimilhança. E isso só é possível quando o perfil do candidato se encaixa naturalmente no cenário. É o caso agora.O governo do PT reclama da oposição, mas ele tem, de longe, a melhor oposição que um governo poderia desejar. Com suas reações tíbias e desencontradas na crise cujo epicentro é o DF, o Democratas e o PSDB ajudam Dilma Rousseff a, finalmente, encontrar uma janela para deixar de ser só a “candidata de Lula” e se mostrar ao país como a mulher antipática, dura com os políticos e empresários, irascível e sem jogo de cintura, a presidente de que o Brasil tanto precisa.

E com a vantagem de não ser uma petista “de raiz”, de ser uma cristã nova no PT. Ou seja, tudo de bom.

Coluna (Nas entrelinhas) publicada hoje no Correio Braziliense.

A oposição em seu labirinto

DEM e PSDB passaram os últimos anos assumindo confortáveis papéis de campeões da moralidade pública. Os deslizes e desastres de petistas e aliados forneciam elementos para cruzadas morais. Mas, antes do que se esperava, as vestais começaram o strip-tease em praça pública. Com enredo cinematográfico, o DEM, do Governandor José Roberto Arruda, se liquefaz com rapidez. E ameaça envolver o PSDB em sua descida ao inferno. Para continuar no tema, aproveite e leia, mais abaixo, trechos da coluna de hoje do jornalista Fernando Rodrigues, da Folha.

FERNANDO RODRIGUES
A pior semana da oposição

BRASÍLIA - Acaba hoje talvez a pior semana para a oposição num ano que já havia sido péssimo para a trinca PSDB-DEM-PPS. Nem o petista mais otimista poderia imaginar um presente de Natal antecipado e assim tão completo.

As três principais siglas anti-Lula foram chamuscadas ao mesmo tempo. O mensalão do DEM quase derrubou o único governador da sigla, José Roberto Arruda, em Brasília. O Supremo Tribunal Federal abriu ação para apurar o mensalão do PSDB, no qual o ex-presidente nacional da sigla Eduardo Azeredo é acusado de ser um dos mandantes. E o presidente nacional do PPS, Roberto Freire, foi citado como beneficiário de propinas do panetonegate candango. Todos, por óbvio, negam ser culpados.
(...)
Para o PT, é uma benção manter os peemedebistas acuados. Há uma redução natural na voracidade atávica por cargos e verbas em troca do apoio a Dilma Rousseff em 2010.
Mesmo antes dos fatos devastadores recentes, as coisas já não estavam bem na seara da oposição. No final do ano passado, a Justiça Eleitoral havia cassado o então governador da Paraíba, Cássio Cunha Lima (PSDB). Há alguns meses, a governadora tucana do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius, sofreu uma ameaça de impeachment.
(...)
O impacto de toda essa desgraça em 2010 ainda é incerto para tucanos e "demos". Mas, certamente, bom o efeito não deve ser.
frodriguesbsb@uol.com.br

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quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

E a Ieda?


O PSDB debandou do Governo Arruda (DEM-DF). Em nome da ética. Bueno, lindo. Mas, e o Governo da Ieda Crucius, tucana governadora do RS, não merecia ao menos uma investigação? Olha, que saber?, eu acho que a governadora gaucha compromete bem mais os emplumados tucanos...

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

O escândalo do DF impacta a disputa presidencial

A jornalista Eliane Catanhêde, na edição de hoje do jornal Folha de São Paulo, faz uma análise pertinente das implicações do escândalo político no qual está encalacrado o Governador do Distrito Federal, o demo José Roberto Arruda, sobre a disputa eleitoral que se avizinha. Confira techos abaixo!

ELIANE CANTANHÊDE

Estouro da boiada

BRASÍLIA - A profusão de panetones, vídeos e dinheiro vivo é um golpe profundo no PFL, ops!, DEM, mas não é muito menos grave na própria chapa de oposição, liderada pelo PSDB. Por isso, é até curiosa a discrição do PT.
(...)
Já o efeito sobre a candidatura de oposição, seja ela de José Serra ou de Aécio Neves, se dará na construção dos palanques e do discurso.
Enquanto Dilma Rousseff montou um leque de alianças que vai do PC do B ao PMDB, com o dobro de tempo na TV, Serra ou Aécio têm um DEM de perna quebrada, um PPS no ocaso, pedaços do PMDB e promessas -ora do PTB, ora do PP.
O mensalinho do DF também subtrai dois trunfos da oposição: já não é mais possível encenar a ira contra o mensalão do Planalto, que, de resto, já estava mesmo surrado; e vão para o lixo as fortes imagens de obras, viadutos, metrôs e coisas do gênero que o engenheiro Arruda cederia da sua gestão à campanha tucana -na qual ele vinha se insinuando como candidato a vice.
Trata-se de um golpe e tanto, e é em momentos assim que o que é ruim só pode piorar: cobranças, acusações mútuas, ameaças, racha.
Se demos, tucanos e velhos comunistas já andavam arrancando os cabelos com a diferença de ritmo entre Lula-Dilma e Serra-Aécio, devem estar todos, a esta altura, à beira de um ataque de nervos, ou da calvície profunda.
(...)

elianec@uol.com.br

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quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Capitalismo popular

A proposta de uma socialização da banda larga, formulada pelo Governo, é uma iniciativa interessante e ousada. Claro, óbvio, que é preciso encontrar o rato que vai por o guizo no gato, mas a discussão é muito pertinente. Não por acaso, está aí pautando a mídia. Veja abaixo a análise de Alon Feuerwerker sobre essa e outras questões.

Capitalismo popular (26/11)
Alon Feuerwerker

Falta na banda larga um grande jogador, que esteja disposto a entrar na partida com capacidade de investimento e coragem (e caixa) para praticar uma política de preços agressiva.

O governo federal está metido numa boa empreitada: criar as condições para universalizar o acesso à internet de alta velocidade. Avalia inclusive entrar no mercado de provimento ao consumidor final. A iniciativa deverá servir, pelo menos, para forçar as companhias de telecomunicações a ampliar os serviços e baixar os preços. Se conseguir avançar aí, Lula merecerá aplausos efusivos.

É curioso que exatamente no ramo econômico onde as privatizações são mais festejadas, a telefonia, o poder estatal precise ameaçar com intervenção para colocar as coisas em ordem e atender ao interesse público. Hoje no Brasil quase todo mundo tem telefone, uma realidade muito diferente do que se via no começo dos anos 1990. Mas pagamos preços inexplicáveis. Ou que só encontram explicação no oligopólio.

Eis a desgraça das privatizações brasileiras. Em vez do “capitalismo popular”, expressão do thatcherismo, elas promoveram uma troca de guarda: o espaço que era do Estado foi ocupado por um pequeno grupo de empresas que repartiram o mercado entre si, e operam num ambiente de negócios marcado pelo deficit de regulação. É um modelo que se esgotou. Um exemplo? A banda larga, cara e de qualidade e cobertura inferiores às dos países comparáveis.

Seria ilusão imaginar uma telefonia operando com base na concorrência perfeita. Isso exigiria grande multiplicidade de provedores do serviço, coisa impossível na prática. Daí a necessidade da regulação, e daí o problema de mercados —como o nosso — que apresentam deficit no quesito.

Mas como regular o mercado? Em teoria, com agências reguladoras e boas normas, que deveriam incluir o combate à cartelização. Ainda na teoria, nós temos tudo isso. Temos as leis, os decretos, as portarias, os órgãos governamentais encarregados de zelar pela concorrência e uma agência reguladora bem estruturada e bem dirigida, com quadros competentes a operá-la.

O que falta, então? Um grande jogador, que esteja disposto a entrar na partida com capacidade de investimento e coragem (e caixa) para praticar uma política de preços agressiva. Um jogador cuja lucratividade seja função principalmente da fatia de mercado conquistada, e não da margem unitária no negócio. Alguém que tope lucrar um pouco com cada cliente, para ter muitos clientes e lucrar muito ao final.

Quem se habilita? Se ninguém se apresentar, que venha a estatal de banda larga preparada nos laboratórios do Palácio do Planalto. Pior do que está não vai ficar.

Falta o líder

Os principais quadros brasilienses do PSDB, Democratas e PPS reuniram-se esta semana e, segundo disseram, planejam acertar as pontas na operação política. Querem mais coordenação e melhor comunicação, especialmente na internet. Para quem deseja voltar ao poder, é um passo sensato.

Mas o problema maior não é operacional, é político. Falta a oposição definir se sua prioridade é fazer a luta interna ou combater o adversário. Falta definir o que é essencial: quem é o inimigo a derrotar.

É preciso saber se cada uma das facções oposicionistas está disposta, inclusive, a apoiar de verdade um eventual concorrente interno, se isso for necessário para evitar nova vitória do PT em 2010. Sem esse detalhe fundamental, pouco adiantará o resto.

Qual foi a principal vantagem competitiva do PT nestas três décadas? A existência de um líder, Luiz Inácio Lula da Silva. Quando o PSDB ganhou duas eleições presidenciais? Quando teve um líder, Fernando Henrique Cardoso. Como o PMDB chegou ao poder? Pelas mãos de Ulysses Guimarães, que apoiou Tancredo Neves quando percebeu que não seria o melhor candidato a presidente em 1985.

Quem é o líder da oposição? Alguém sabe?

Blefe?

Os Estados Unidos apreciam que o Brasil tenha bons canais com o Irã, mas gostariam também que o Brasil defendesse junto ao Irã a posição unânime das grandes potências sobre o programa nuclear iraniano.

Esse foi o sentido da carta de Barack Obama a Lula. Não há antagonismo entre a satisfação dos americanos com as iniciativas diplomáticas brasileiras e o desconforto com o fato de o Brasil estar mais próximo do Irã do que seria desejável na Casa Branca.

Escanteado em Honduras, em Doha, com o G20 e com o etanol, o Brasil aproveitou a visita de Mahmoud Ahmadinejad para mandar o recado de que pode sair da área de controle. Blefe? Vale a pena acompanhar esse pôquer para ver quem, no final, terá cartas para arrastar as fichas.

Coluna (Nas entrelinhas) publicada hoje no Correio Braziliense.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Não rias da tragédia alheia...

Com o apagão da terça, como era de se esperar, os tucanos entraram em estado de graça. Passaram a cantar de galo e a exibir uma competência que não tiveram quando estavam a gerir a mesma máquina... Mas a semana foi passando e o mundo caiu na cabeça deles. Veja a análise abaixo!

Folha de São Paulo
segunda-feira, 16 de novembro de 2009
FERNANDO DE BARROS E SILVA

Escombros tucanos
SÃO PAULO - Que não tenha morrido ninguém foi "um milagre", disse o próprio governador de São Paulo, ao observar, in loco, o resultado do desabamento de três vigas do Rodoanel sobre a rodovia Régis Bittencourt, na noite de sexta. "Milagre" não é uma palavra que costuma frequentar o vocabulário do engenheiro José Serra, adepto obcecado da razão. Ele falou ainda em "barbeiragem" a ser esclarecida, o que soa quase como um eufemismo. "Negligência criminosa" não seria mais adequado?
Registre-se que, sim, lamentavelmente uma pessoa morreu na madrugada de sábado depois de um acidente provocado pelo congestionamento na rodovia.
(...)
Apesar dessa e de outras tantas maracutaias técnicas, o TCU viu indícios de superfaturamento pesado na obra. OAS, Mendes Jr. e Carioca Engenharia, do consórcio responsável pelo trecho, nada disseram até o momento. O silêncio traduz o descaso arrogante com que empreiteiras desacostumadas à luz do dia tratam a opinião e a coisa pública.
Como não lembrar da tragédia ainda recente na linha 4 do metrô, em janeiro de 2007? Não foi a mesma negligência criminosa que deu origem à enorme cratera para onde foram tragados seis carros e morreram soterradas sete pessoas?
Conseguirão os tucanos concluir uma obra de porte em São Paulo sem cometer desastres pelo caminho? Não há retórica da competência ou do bom gerenciamento que resista aos escombros monumentais que esses seletos homens públicos são capazes de produzir. Os tucanos precisam compatibilizar a boa imagem que fazem de si mesmos com as imagens que a realidade insiste em nos exibir.

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quinta-feira, 20 de agosto de 2009

O custo Sarney

Como de costume, transcrevo mais abaixo a coluna de hoje do jornalista Alon Feuerwerker. Confira!


Fatura remetida ao Planalto
Alon Feuerwerker

O PT está ficando com uma cara de coisa antiga. Menos do que a do tucanato associado a FHC, mas ainda assim antiga. Um eventual governo Dilma corre o risco de nascer velho? O que o eleitor vai achar disso?

A bancada do PT no Senado tem uma dívida com o líder, Aloizio Mercadante (SP). Ao insistir que José Sarney (PMDB-AP) devia explicações ao Conselho de Ética, Mercadante ajudou a proteger os colegas, deixando mais que claro de onde vinham as pressões pelo arquivamento sumário: do Palácio do Planalto. O senador João Pedro (PT-AM) também contribuiu, quando leu no conselho um texto com a posição pública do presidente do PT, deputado federal Ricardo Berzoini (SP).

Assim, se manter Sarney na Presidência do Senado interessava antes de tudo ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que o próprio assumisse o ônus. A posição de Mercadante serviu também de escudo a dois colegas em particular, Delcídio Amaral (MS) e Ideli Salvatti (SC). Ambos candidatos ano que vem poderão dizer que votaram com o partido, com o presidente Lula, que fizeram esse sacrifício em nome do projeto maior. A única coisa que não pode faltar a um político é o discurso. Se o líder não consegue oferecer aos liderados a vitória, que pelo menos dê o discurso.

Lula desenvolveu ao longo dos anos uma tecnologia. É a história do técnico de futebol para quem “eu ganhei, nós empatamos, eles perderam”. Tudo vai se desenhando para que 2010 represente o ápice da estratégia. Será a eleição do tudo ou nada. A cúpula do PT opera para não ter candidatos viáveis nos maiores colégios eleitorais. Uma exceção será o ministro da Justiça, Tarso Genro, que deu o drible da vaca na direção nacional do partido e foi também beneficiado pelo desastre político do tucanato no Rio Grande do Sul.

A tese predominante no PT é abrir mão de tudo que possa representar risco para a montagem de um palanque invencível na sucessão presidencial. Teoricamente faz sentido. O tempo de televisão do PMDB dará um belo trunfo a Dilma Rousseff, ainda mais se houver mesmo o desgarramento de outros pedaços da base do governo. O problema, de novo, é o discurso. Ao PT resta hoje a tese de que fez um governo melhor do que fizera o PSDB. É verdade. Se for só por isso, Dilma pode preparar o tailleur.

Eleições são apostas sobre o futuro. O presente pode ganhar, desde que dispute com o passado, já que em relação ao passado o presente é o futuro. Fernando Henrique Cardoso reelegeu-se em 1998 porque as pessoas não queriam de volta o passado de inflação. E Lula venceu em 2006 porque os eleitores não desejavam a volta do passado representado por FHC.

Aliás, talvez os tucanos nunca tenham entendido como a história das privatizações rendeu tanto ao PT naquele ano. Não foi porque o brasileiro se tornou um estatista fanático, mas talvez porque o ambiente de polarização ideológica tenha reavivado as brasas adormecidas da péssima memória popular sobre o segundo quadriênio do PSDB no Planalto. Que persiste até hoje. Basta olhar para as pesquisas, nas quais invariavelmente o campo político tucano-democrata aparece em minoria quando se pergunta sobre o sucessor de Lula.

Mas o discurso da continuidade encontra o limite quando se vê diante do apelo do futuro. Não qualquer futuro. Um viável. Esse é o risco do caminho pelo qual o situacionismo conduz a guerra. O PT está ficando com uma cara de coisa antiga. Menos do que a do tucanato associado a FHC, mas ainda assim antiga. Um eventual governo Dilma corre o risco de nascer velho? O que o eleitor vai achar disso? E qual é a liderança partidária que poderia encarnar hoje o sentimento de renovação política?

Não é à toa que Lula se movimenta para matar as alternativas. Ele sabe o que faz.

Homenagem

Um último detalhe. O PMDB que representou contra o senador Arthur Virgílio (PSDB-AM) votou no Conselho de Ética para arquivar sumariamente o mesmo processo que o partido havia apresentado. Foi uma posição transparente, a admissão de que a coisa se reduzia apenas à política. O PMDB poderia ter votado para abrir o processo contra o líder tucano. Não mudaria o desfecho. Mas preferiu dar os votos que garantiram a unanimidade a favor de Virgílio. Talvez tenha sido uma homenagem.

Sofisticado

Como foi notado ao longo do dia, e finalmente verbalizado pelo senador Pedro Simon (PMDB-RS), a senadora Marina Silva (sem partido-AC) escolheu deixar o PT no dia em que a legenda votou para impedir qualquer investigação sobre o presidente do Senado. Talvez agora os que a reduzem a uma “candidata temática” percebam que estão diante de algo mais sofisticado.Coluna (Nas entrelinhas) publicada hoje no Correio Braziliense.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Sucessão presidencial: o abalo provocado pela entrada em cena da Marina

Repercute, e muito, a entrada em cena, como presidenciável, da ex-Ministra Marina Silva. Confira abaixo!



Marina & Ciro

FERNANDO RODRIGUES - FOLHA SP

BRASÍLIA - A possível entrada da quase ex-petista Marina Silva na corrida presidencial demonstra como ainda é volátil o cenário em 2010. Até há um mês, o Planalto maquinava com razoável sucesso para haver apenas uma escolha plebiscitária entre Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB).
Agora, a chance de Marina entrar na disputa pelo Partido Verde pavimentou o caminho para Ciro Gomes (PSB) voltar a pensar em voos nacionais. Por tabela, congestionou a trajetória de Dilma.
Com quatro candidatos na urna eletrônica (Dilma, Serra, Marina e Ciro), a ala cirista do PSB passou a alimentar o desejo de repetir no Brasil o desempenho da eleição estadual de Pernambuco em 2006.
Naquele ano, Lula tentou a reeleição e teve dois palanques em solo pernambucano: Eduardo Campos (PSB) e Humberto Costa (PT). Lulistas, ambos concorriam para o governo local contra Mendonça Filho (PFL, hoje Democratas). No segundo turno, deu Campos versus Mendonça. O PT apoiou o PSB, que acabou vencendo a parada.
No ano que vem, o idílio imaginado por Ciro é terminar o primeiro turno à frente de Dilma. A entrada de Marina Silva seria a sua garantia de que o votos de centro e de esquerda estariam fracionados.
Esse tipo de configuração depende necessariamente da candidatura de Marina Silva. Sem ela, Ciro ficaria falando sozinho. Teria uma estrada acidentada para tentar pela terceira vez o Planalto (ele já foi candidato em 1998 e em 2002).
Já a ainda senadora petista, do seu lado, precisa ponderar muita coisa antes de entrar para ser linha auxiliar desse ou daquele candidato. Promoverá a causa verde. Mas estará em um partido político cuja metade da bancada não tem a menor ideia do que vem a ser política de meio ambiente. E todos são liderados pelo deputado Zequinha Sarney, do PV do Maranhão.

frodriguesbsb@uol.com.br

quarta-feira, 10 de junho de 2009

O jogo do poder

Abaixo, postei artigo do jornalista Alon Feuerwerker, publicado na edição de hoje do Correio Brasiliense e republicado no seu blog. Vale a pena ler! Como sempre, você vai enontrar, no texto do Alon, uma análise crítica e consistente do jogo político que os atores principais estão armando para as eleições de 2010.

Companheiro de viagem (10/06)
Alon Feuerwerker
Avalia o PT que a retomada da popularidade e da força política de Lula dificulta muito a ação de quem no PMDB deseja engatar o vagão na locomotiva tucana

A um ano da definição oficial dos candidatos, começam a se desenhar cenários em locais estratégicos. No Rio Grande do Sul PT e PMDB caminham para ter cada um seu nome na luta pelo Piratini. Entre os petistas, a tese de abrir mão em favor do PMDB gaúcho não deu nem para a largada. Tarso Genro será o candidato, tendo concordado que a ministra Dilma Rousseff suba em dois palanques no estado, o dele e o de José Fogaça (ou Germano Rigotto). Com isso, o petismo riograndense espera neutralizar as tentações pró-tucanas do peemedebismo local.

No Rio de Janeiro o governador Sergio Cabral (PMDB) e o prefeito de Nova Iguaçu, Lindberg Farias (PT), abriram, por iniciativa de terceiros, um canal de diálogo direto. Luiz Inácio Lula da Silva quer a aliança fluminense e agora o cenário mais provável é o PT oferecer o vice de Cabral na reeleição, podendo ser o próprio Lindberg. Outra opção do prefeito é o Senado. O fraco desempenho de Alessandro Molon ano passado na capital não deixa no Rio margem maior de manobra para quem no PT defende a candidatura própria.

Em Minas há um ensaio de dança para levar o ministro Hélio Costa (PMDB) à reeleição no Senado. O também ministro Patrus Ananias concorreria ao governo, com o ex-prefeito Fernando Pimentel reservado para uma função de comando na campanha de Dilma. Dos três estados Minas é onde a articulação está mais verde, dada a vantagem atual de Costa nas pesquisas. Há, porém, dúvidas, inclusive no PMDB, sobre sua capacidade de chegada num processo eleitoral polarizado com o nome apoiado pelo governador Aécio Neves.

Quando — e se— o Rio Grande do Sul, o Rio de Janeiro e as Minas Gerais afinal forem equacionados o PT espera isolar o PMDB paulista, que já marcha nas fileiras tucanas. Isso apesar de o presidente da Câmara dos Deputados, Michel Temer, ele próprio de São Paulo, movimentar-se nos bastidores pleiteando a vaga de vice na chapa de Dilma. O problema de Temer: o controle do ex-governador Orestes Quércia, hoje aliado do governador José Serra, sobre a seção regional da legenda.

Conquistado o apoio do PMDB nos três estados, espera o PT garantir folgada maioria na convenção nacional peemedebista, e com isso capturar um tempo que dará a Dilma condições ideais para durante 45 dias desfilar no rádio e na tevê falando bem da administração Lula e defendendo que o governo deve continuar, agora pelas mãos dela. Mais: o apoio oficial nacional do PMDB será usado junto à Justiça Eleitoral para impedir que os ramos pró-tucanos do peemedebismo possam, nos dias reservados às campanhas estaduais, fazer campanha para o candidato a presidente do PSDB.

Mas, perguntaria Manuel dos Santos (o Garrincha) a Vicente Feola, e os russos, estão de acordo? Avalia o PT que a retomada da popularidade e da força política de Lula dificulta muito a ação de quem no PMDB deseja engatar o vagão na locomotiva tucana. Segundo essa esperança, o PMDB não trocaria o certo pelo duvidoso. Não abriria mão da gorda fatia que controla hoje na esfera federal, onde é o principal pilar do governo, para entrar dividido e coadjuvante numa composição que já tem donos. Aliás, é consenso entre os peemedebistas em Brasília que é altamente improvável o partido alcançar com outros parceiros a influência que adquiriu ao apoiar o projeto político do PT.

Com um trunfo adicional. Agora, quem está na cadeira é Lula, que de algum modo contrabalança a fraqueza relativa do PT. Sem Lula, um governo do PT ficaria bem mais dependente do PMDB, acredita o companheiro de viagem.

Ponto futuro

Desde o início da crise, em setembro, o governo afirma que o pior ficou para trás. Como alguma hora certamente o pior terá ficado para trás, o governo vai colher no ponto futuro os dividendos políticos. A esperança agora da oposição é uma curva em W, algo que interrompa a (lenta) retomada da economia. Como de hábito, em vez de disputar a narrativa a oposição torce.


Coluna (Nas entrelinhas) publicada hoje no Correio Braziliense.

terça-feira, 2 de junho de 2009

2010 já está ali, após a esquina

Leia abaixo uma competente análise do quadro político atual. É da lavra do jornalista Alon Feuerwercker. Caso queira, acesse aqui o sempre ótimo blog do alon.

A enésima oportunidade

A política é jogo de forças, soma de vetores. E não há uma contranarrativa visível para neutralizar vetorialmente a narrativa que Lula, dia sim outro também, reforça com vigor

As pesquisas Sensus e Datafolha confirmam não apenas que estamos em plena campanha eleitoral para a Presidência da República. Mostram que ela, como já alertava o ministro José Múcio Monteiro (Relações Institucionais), apresenta características de segundo turno, dada a tendência de polarização. Outra constatação: a oposição caminha para desperdiçar a janela de oportunidade aberta com a eclosão da crise econômica mundial, em setembro. E que janela!

Por que Luiz Inácio Lula da Silva vai bem, assim como a candidata dele à sucessão, Dilma Rousseff? Porque o eleitor avalia que o presidente da República está fazendo o melhor possível, nas circunstâncias. Daí que talvez valha a pena considerar a hipótese de mais um voto de confiança. Parece simples? E é. Lula vende bem o peixe dele, o que vem incomodando a oposição, que se queixa da “máquina de propaganda” do governo federal. Um queixume que só revela impotência. Propaganda sozinha não sustenta governos, precisa estar ancorada em fatos.

A abordagem é recorrente aqui. Não há novidade para quem lê esta coluna. Em 2009, a economia brasileira vai apresentar resultados pífios. Na melhor das hipóteses, pousamos no fundo do poço. O juro real empurra a produção para baixo, quebra as exportações e ameaça o emprego. O investimento privado afundou, sem que o investimento público possa compensar a queda. E de quem é a culpa? De qualquer um, menos do chefe do governo. Nem fomos o último país a entrar na crise, nem seremos o primeiro a sair dela. E daí? E daí nada.

Não que o cidadão comum esteja em busca de debates complexos, sobre o spread bancário ou sobre o desenho da nova ordem internacional. O que falta é uma contranarrativa para tentar neutralizar vetorialmente a narrativa que Lula, dia sim outro também, reforça com vigor. A política é jogo de forças, soma de vetores. Uma oposição competente culpa o governo por tudo, exige dele o impossível, descobre defeitos até no que parece não ter e promete o paraíso se chegar ao poder.

Mas dá trabalho e exige obstinação, além de método e vontade de correr riscos. Pressupõe agarrar-se a alguma utopia e não subestimar o oponente. Você enxerga traço disso nas atitudes e atividades da oposição brasileira nos últimos seis anos e meio? Eu não enxergo. No que um Brasil governado por tucanos e democratas seria melhor do que o Brasil do PT? Nem eles próprios parecem saber. Daí que há tempos Lula esteja a falar sozinho.

Culpa dele? Não, culpa de quem deseja retirá-lo e a seu partido do poder mas espera isso acontecer como manifestação da vontade divina, como efeito das resistências do establishment a Lula, como consequência de uma suposta superioridade intelectual ou como produto da miraculosa descoberta daquele caso de corrupção que, agora sim, vai dar um jeito de colar no presidente. Ou como a soma de tudo isso.

O eleitor é pragmático. Adversários de Lula também estão bem avaliados na área de responsabilidade deles. E o eleitor é também desconfiado. Sabe que a política não se divide entre santos e demônios. Daí que tentativas de demonização tenham efeito apenas parcial. Só quem se ocupa de política 24 horas por dia são alguns jornalistas, os políticos e as pessoas cujo emprego ou cujo negócio dependem diretamente da política. É gente que trata o tema com paixão e gosto. Já a maioria tem com a política uma relação funcional. Quer saber o que vai ganhar ou perder. Quem é, entre as possibilidades, o melhor líder na situação.

2010 está perdido para a oposição? Óbvio que não. Eleição não se ganha de véspera. E a oposição tem um capital eleitoral respeitável, duas pernas bem fincadas nos dois maiores estados do país e boa capilaridade nacional. Por esse ângulo, talvez o choque trazido pelas últimas pesquisas tenha vindo em boa hora para os adversários de Lula. É a enésima oportunidade de tomarem contato com a realidade. E, diferente de 2006, o choque veio quando ainda falta um bom tempo para a eleição.

Até porque a travessia de 2009 para 2010 não será mesmo um mar de rosas. Enquanto as pesquisas mostram uma população mais otimista, o mercado anda cada vez mais pessimista, como mostrou ontem o boletim Focus. A esperança de Lula é que os profissionais da economia estejam errados. A da oposição, que estejam certos.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

2010: a armação do jogo

Este blog é construído (mania de sociólogo essa de "construção", não? Deixa prá lá...) enquanto trabalho na minha sala na UFRN. No geral, é assim: estou fazendo três coisas e lendo jornais e aí pego algo e transcrevo. Outras vezes, especialmente quando estou mais tranqüilo, coloco meus demônios prá fora e cometo meus escritos. Bueno, isso tudo é para justificar as minhas transcrições. Como a que faço neste post. Trata-se de artigo do jornalista Luiz Weiss, alguém que merece ser lido e analisado, publicado no jornal O Estado de São Paulo de hoje. O tema é a armação do jogo para a sucessão presidencial de 2010.

Conto-do-vigário na sucessão

Luiz Weis

A sucessão de 2010 começou cedo e começou mal. Cedo porque o horizonte de incerteza econômica levou o presidente Lula a pôr desde logo na avenida o bloco da candidatura Dilma Rousseff. Já não bastasse o fato de a ministra continuar desconhecida para quase a metade dos brasileiros, apesar da profusão de holofotes voltados para a sua figura, Lula não iria correr o risco de descortinar a sua campanha quando (ou se) o desemprego tiver se instalado nas manchetes - do primeiro trimestre de 2009 em diante, ao que se calcula.

Se não se instalar, sinal de que o temido contágio do colapso financeiro internacional se limitou a uma "gripe pequenininha", como prevê a ministra, tanto melhor para a operação Dilma-10: ela terá ganho tempo extra para corrigir os eventuais erros de implantação de um nome sem passagem prévia pelas urnas. O público, porém, tem mais com que se preocupar que com uma eleição a 22 meses de distância. E só lhe resta torcer para que a imersão do presidente na montagem do suporte político da candidata não embace sua concentração na crise.

Agora, a sucessão começou mal porque o PT armou um conto-do-vigário, querendo atar a eleição a uma cruzada contra o neoliberalismo. A deixa partiu do secretário nacional de Comunicação do PT, Gleber Naime, numa reunião de dirigentes partidários. "A crise tem pai e mãe", proclamou. "Ela é uma crise do modelo neoliberal, daqueles que no Brasil defenderam as idéias de desregulamentação do Estado, ou seja, o PSDB e o DEM. E esse debate o PT vai fazer. Os neoliberais perderam."

Seguiu-se, dias depois, a própria Dilma. "Nossa visão de Estado não é neoliberal. Somos governo com responsabilidade fiscal, mas também social", discursou ela para uma platéia de prefeitos petistas. "A diferença (em relação ao passado) é radical", emendou. É inconcebível que ela não saiba, antes de tudo, que o governo Fernando Henrique foi privatista, mas não neoliberal. Se fosse, o sistema financeiro nacional estaria tão desregulamentado como o dos EUA e, como este, em frangalhos.

Além disso, no atual governo, desde a hora zero, a ex-ministra de Minas e Energia não precisa que ninguém lhe ensine que Lula encampou a política econômica do antecessor, embora a desancasse como "herança maldita". Não só a encampou, mas soube tocá-la com uma competência que seus adversários, não fosse a baixaria da política, poderiam fazer a fineza de admitir, em nome da verdade. A mesma competência, por sinal, com que levou adiante o Bolsa-Família.

Este descende em linha direta dos vários programas de transferência de renda iniciados no segundo mandato de FHC, especialmente o Bolsa-Escola - cujos ancestrais, por sua vez, foram uma administração tucana (a do prefeito de Campinas já falecido José Roberto Magalhães Teixeira) e outra, petista (a do governador do Distrito Federal Cristovam Buarque).

O petismo fabrica uma diferença - "radical", ainda por cima - em relação ao PSDB para esconder as semelhanças recíprocas, para o bem e para o mal, que não tem como admitir de cara limpa. Até o primeiro caso documentado de mensalão é obra tucana (na campanha do atual senador Eduardo Azeredo ao governo de Minas em 1998).

Por último, falar em neoliberalismo no Brasil numa hora destas é de um anacronismo atroz. Qualquer que tenha sido seu apelo na década passada, hoje deve ter tantos adeptos quanto os da restauração da monarquia. E o provável adversário de Dilma, o ex-ministro e governador paulista José Serra, nunca deu nem sequer uma piscadela para a ideologia do absolutismo do mercado.

Está na cara a intenção de escamotear a inconveniente verdade da convergência de posições entre o PT - pelo menos o PT da Carta aos Brasileiros, de 2002 em diante - e o PSDB, no que toca aos problemas de fundo do País. O próprio Fernando Henrique, que também diz uma coisa para fora e outra para dentro, já deixou escapar que a disputa entre as duas legendas é puramente política.

Trata-se, pois, de uma disputa pelo poder, velha como as montanhas, entre confederações rivais de interesses cristalizados que compõem os respectivos partidos ou se exprimem por seu intermédio. Essa convergência básica não é uma jabuticaba - dá em qualquer democracia estável. Nelas, o tempo destila na sociedade e nos principais partidos um consenso sobre o núcleo essencial das políticas de Estado.

As divergências não se evaporam; ao contrário, tendem a se intensificar - mas na periferia das grandes questões em jogo. Nos EUA, por exemplo, o consenso em torno do New Deal de Roosevelt durou cinco décadas, dos anos 1930 até a contra-revolução conservadora inaugurada com a eleição de Ronald Reagan. Na Grã-Bretanha, o consenso em favor do Welfare State, a partir do primeiro governo trabalhista do pós-guerra, só se desfez com o advento do thatcherismo, em 1979.

Quando Dilma e Serra (ou, vá lá, Aécio Neves) enfim disserem a que vêm, ver-se-á que, removida a retórica, ambos estarão propondo, ao fim e ao cabo, o mesmo - desenvolvimento com justiça social, a ideologia brasileira por excelência desde a Revolução de 1930 (à parte as discordâncias posteriores sobre o papel do Estado como produtor de bens e provedor direto de serviços).

O resto - embora não seja pouco nem descartável - é questão de métodos. Métodos de construir maiorias parlamentares, métodos de ocupar e conduzir o Estado, métodos de conquistar popularidade, métodos de fazer política externa. Sem Lula a ofuscar as coisas com a sua exacerbada oralidade e seu inigualável carisma, isso ficará patente no próximo período de governo, com Dilma ou Serra.

Quantas vezes, enfim, será preciso repetir que, para os historiadores do futuro, a continuidade dará a marca do ciclo iniciado com a eleição de FHC e só terminará no dia ainda distante em que o Planalto não hospedar nem petistas nem tucanos?

Luiz Weis é jornalista