quinta-feira, 20 de agosto de 2009

O custo Sarney

Como de costume, transcrevo mais abaixo a coluna de hoje do jornalista Alon Feuerwerker. Confira!


Fatura remetida ao Planalto
Alon Feuerwerker

O PT está ficando com uma cara de coisa antiga. Menos do que a do tucanato associado a FHC, mas ainda assim antiga. Um eventual governo Dilma corre o risco de nascer velho? O que o eleitor vai achar disso?

A bancada do PT no Senado tem uma dívida com o líder, Aloizio Mercadante (SP). Ao insistir que José Sarney (PMDB-AP) devia explicações ao Conselho de Ética, Mercadante ajudou a proteger os colegas, deixando mais que claro de onde vinham as pressões pelo arquivamento sumário: do Palácio do Planalto. O senador João Pedro (PT-AM) também contribuiu, quando leu no conselho um texto com a posição pública do presidente do PT, deputado federal Ricardo Berzoini (SP).

Assim, se manter Sarney na Presidência do Senado interessava antes de tudo ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que o próprio assumisse o ônus. A posição de Mercadante serviu também de escudo a dois colegas em particular, Delcídio Amaral (MS) e Ideli Salvatti (SC). Ambos candidatos ano que vem poderão dizer que votaram com o partido, com o presidente Lula, que fizeram esse sacrifício em nome do projeto maior. A única coisa que não pode faltar a um político é o discurso. Se o líder não consegue oferecer aos liderados a vitória, que pelo menos dê o discurso.

Lula desenvolveu ao longo dos anos uma tecnologia. É a história do técnico de futebol para quem “eu ganhei, nós empatamos, eles perderam”. Tudo vai se desenhando para que 2010 represente o ápice da estratégia. Será a eleição do tudo ou nada. A cúpula do PT opera para não ter candidatos viáveis nos maiores colégios eleitorais. Uma exceção será o ministro da Justiça, Tarso Genro, que deu o drible da vaca na direção nacional do partido e foi também beneficiado pelo desastre político do tucanato no Rio Grande do Sul.

A tese predominante no PT é abrir mão de tudo que possa representar risco para a montagem de um palanque invencível na sucessão presidencial. Teoricamente faz sentido. O tempo de televisão do PMDB dará um belo trunfo a Dilma Rousseff, ainda mais se houver mesmo o desgarramento de outros pedaços da base do governo. O problema, de novo, é o discurso. Ao PT resta hoje a tese de que fez um governo melhor do que fizera o PSDB. É verdade. Se for só por isso, Dilma pode preparar o tailleur.

Eleições são apostas sobre o futuro. O presente pode ganhar, desde que dispute com o passado, já que em relação ao passado o presente é o futuro. Fernando Henrique Cardoso reelegeu-se em 1998 porque as pessoas não queriam de volta o passado de inflação. E Lula venceu em 2006 porque os eleitores não desejavam a volta do passado representado por FHC.

Aliás, talvez os tucanos nunca tenham entendido como a história das privatizações rendeu tanto ao PT naquele ano. Não foi porque o brasileiro se tornou um estatista fanático, mas talvez porque o ambiente de polarização ideológica tenha reavivado as brasas adormecidas da péssima memória popular sobre o segundo quadriênio do PSDB no Planalto. Que persiste até hoje. Basta olhar para as pesquisas, nas quais invariavelmente o campo político tucano-democrata aparece em minoria quando se pergunta sobre o sucessor de Lula.

Mas o discurso da continuidade encontra o limite quando se vê diante do apelo do futuro. Não qualquer futuro. Um viável. Esse é o risco do caminho pelo qual o situacionismo conduz a guerra. O PT está ficando com uma cara de coisa antiga. Menos do que a do tucanato associado a FHC, mas ainda assim antiga. Um eventual governo Dilma corre o risco de nascer velho? O que o eleitor vai achar disso? E qual é a liderança partidária que poderia encarnar hoje o sentimento de renovação política?

Não é à toa que Lula se movimenta para matar as alternativas. Ele sabe o que faz.

Homenagem

Um último detalhe. O PMDB que representou contra o senador Arthur Virgílio (PSDB-AM) votou no Conselho de Ética para arquivar sumariamente o mesmo processo que o partido havia apresentado. Foi uma posição transparente, a admissão de que a coisa se reduzia apenas à política. O PMDB poderia ter votado para abrir o processo contra o líder tucano. Não mudaria o desfecho. Mas preferiu dar os votos que garantiram a unanimidade a favor de Virgílio. Talvez tenha sido uma homenagem.

Sofisticado

Como foi notado ao longo do dia, e finalmente verbalizado pelo senador Pedro Simon (PMDB-RS), a senadora Marina Silva (sem partido-AC) escolheu deixar o PT no dia em que a legenda votou para impedir qualquer investigação sobre o presidente do Senado. Talvez agora os que a reduzem a uma “candidata temática” percebam que estão diante de algo mais sofisticado.Coluna (Nas entrelinhas) publicada hoje no Correio Braziliense.

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