sábado, 8 de agosto de 2009

Um novo ator vai entrar em cena?

A possibilidade de que a ex-ministra do meio ambiente e Senadora Marina Silva (PT-AC) venha a ser a candidata do PV à presidência é o fato político mais significativo da semana que finda. E olha que tivemos de tudo nestes dias. Mas, sob o prisma do impacto político dos fatos, o "debate" entre os senadores Renan Calheiros e Tasso Jereissanti é apenas uma nota de rodapé. Não estou nem considerando a mediocridade e pobreza moral de ambos. Pois bem, mais abaixo, coloco análise do jornalista Alon Feuerwerker a respeito da candidatura Marina. Como sempre, o jornalista e blogueiro produz uma análise crítica, distanciada e criativa da nossa seara política. Ler os seus artigos é sempre um prazer. Confira!

Marina não está blefando
Segundo Lula, o Brasil está completamente preparado para eleger uma mulher, desde que tenha história, coragem e compromisso com as grandes causas sociais. Se serve para uma, por que não para duas?

A arrogância instintiva levará alguns a concluir, apressadamente, que o gesto suavemente favorável da senadora Marina Silva (PT-AC) a respeito de uma possível candidatura presidencial pelo PV é só um balão de ensaio, fadado a murchar logo ali. Um movimento para cacifar-se e reverter o esvaziamento do capital político dela no PT. Coisa para ser resolvida com alguns telefonemas (um deles de Luiz Inácio Lula da Silva), palavras doces em público, ameaças veladas em privado e acenos de poder futuro. E bola pra frente.

Eu tenho sinceras dúvidas sobre esse enredo. Eis um capítulo complicado na análise do teatro político: diagnosticar o que percorre o espírito dos atores que fazem os personagens. O problema é que sem tal diagnóstico o analista corre um risco grande: ao auscultar só o que vai pela própria alma e enxergar o exterior apenas “objetivamente”, acaba confundindo a realidade com o desejo dele próprio. Como se o seu desejo fosse o único. Claro que não é.

O desejo sincero e profundo no PT é que a candidatura da ex-ministra do Meio Ambiente seja mesmo só um blefe. Já no PSDB, o desejo é que seja para valer, mas nem tanto. Um vetor que complique a vida de Dilma Rousseff no primeiro turno, ajude a provocar um segundo turno (ou mesmo um triunfo oposicionista no primeiro) e evite o cenário de plebiscito que Lula arquiteta 24 horas por dia para 2010. Mas que fique por aí. Uma linha auxiliar.

Daí que no PT pululem teorias sobre o dedo tucano nessa história. Se o PSDB estiver mesmo por trás do assédio do PV a Marina Silva, o partido de Aécio Neves e José Serra está de parabéns. No PT não se discute outra coisa nos últimos dois dias. Nem que seja nos intervalos da reflexão sobre como conseguir ao mesmo tempo apoiar José Sarney e ficar bem com a opinião pública.

Mas, e Marina, o que quer? Talvez a análise devesse fugir um pouco do achismo e das teorias conspiratórias e concentrar-se aí. Ela deseja cacifar-se no Acre? Para que exatamente? O estado é dominado pelo PT e ali a eleição está definida antes de começar. Se o próximo governador não for Tião Viana e se os senadores não forem Jorge Viana e Marina Silva (no caso de ficar no PT), vai ser a maior zebra das eleições brasileiras em todos os tempos. Algo como o Fluminense ganhar este Campeonato Brasileiro de 2009.

Marina tampouco será vice. E voltar ao Ministério do Meio Ambiente num governo do PT? De novo: para quê? Para ficar demissível por Dilma? Políticos não caminham voluntariamente para trás, e por esse estágio Marina já passou. Aliás, sobreviveu à experiência. Conseguiu inclusive um feito: surpreender com a demissão um Lula habituado a fritar, desidratar e demitir na hora que mais lhe convém. Como aliás faz todo príncipe.

Tive a oportunidade de entrevistar por quase uma hora Marina Silva há pouco mais de um mês na tevê. Ela havia falado ao Valor Econômico, com críticas ao governo. A ex-ministra acusou haver um desmonte da agenda ambiental. Na tevê, Marina não só repetiu a crítica como incluiu o PT no rol de partidos que não têm compromisso estratégico com tal agenda. Ela sequer se preocupou em fazer a gradação de praxe, habitual na política. Foi na jugular.

Se eu tivesse que apostar, apostaria que a senadora não está blefando. Se for isso mesmo, e se o PV resistir às inevitáveis pressões palacianas para que desista do projeto, Lula, Dilma e companhia bela estarão com um belo abacaxi para descascar. Segundo nosso presidente, o Brasil está completamente preparado para eleger uma mulher, desde que ela tenha história, coragem e compromisso com as grandes causas sociais. É isso que Lula vem repetindo sempre que pode. Se serve para uma, por que não para duas?

Bósnia

Quando Lula ameaçava ser arrastado para a crise em 2005, outros absorveram o choque, assumiram a responsabilidade e salvaram o presidente da República. Nesta crise do Senado, há aparentemente o desejo de matar o caso sem que haja culpados. Centenas de atos deixaram de ser publicados, como Sarney exibiu em plenário, mas nenhum presidente nunca soube. Difícil. Talvez por esse motivo o Senado ameace se transformar numa Bósnia.

Coluna (Nas entrelinhas) publicada hoje no Correio Braziliense.

twitter.com/AlonFeuerwerker

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