sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Plágio

Ontem, quando adentrava o CCHLA, fui parado por uma colega que, com ares de preocupada, dizia-me ter uma notícia ruim para me dar. Fiquei preocupado. Pronto!, pensei, alguém morreu. Ou, o que seria menos grave, mas muito embaraçoso, descobriram que eu também fui beneficiado pelo Sarney. Ou, menos grave e mais prazeroso, descobriram que eu fui para Bariloche com despesas pagas pela Câmara... Mas não era nada disso, felizmente. A colega me dizia que alguns alunos estavam comentando no corredor do Departamento de Antropologia que uma orientanda minha havia plagiada, na sua monografia de conclusão de curso, uma outra monografia, esta última orientada pelo Professor Alex Galeno. Menos preocupado, respirei aliviado, mas a "coisa" me perturbou um pouco, devo confessar. Claro!, ninguém em sã consciência (muito embora gente assim esteja fazendo falta em nossas universidades!) acreditaria que um orientador iria mandar uma incauta aluna copiar o trabalho de outra. Mas o lance fica no ar, não é mesmo? E o seu nome começa a freqüentar, com maledicências, bocas nem sempre limpas. E cabecinhas nem sempre dispostas a fazer uma avaliação mais isenta dos fatos podem começar a fazer, como direi?, ilações indevidas.

Estava postando esta nota quando o colega Gabriel Vitullo entrou com a prova do crime em minha sala. Agora não é mais fofoca, é fato. O assunto irá para o Colegiado de Curso. Vamos ver! Sinto-me ludibriado. E os colegas que participaram da banca (Bosco Araújo e Homero Costa) certamente sentir-se-ão também assim. Afinal de contas, ruim ou boa, todos que partipamos da defesa da aluna acreditavamos piamente que a monografia apresentada era realmente da aluna.

Infelizmente, não é primeira vez que me deparo com situações como essa por aqui. Já suspendi bancas por causa de plágios. Agora, convenhamos, essa é uma praga díficil de combater. Eu sempre vou nos sites de busca quando me deparo com trabalhos muito bem feitos. Em uma disciplina que ministrei com outro colega, dos trabalhos que corrigi (dezessete) encontrei três plágios. Nota zero, of course! Uma das figuras era aluna de um doutorado (não era das Ciências Sociais, esclareça-se). Alunos já perderam bolsas por causa de traquinagens assim...

Já estou meio calejado. Sei que existe na cidade uma fábrica de monografias. A gente, como direi?, sente a coisa no ar... Já participei de bancas em que a pergunta que me vinha à cabeça era: "foi você mesmo quem fez essa 'coisa' ou você pagou por ela?". Obviamente, minha educação sertaneja me impede de transformar a intenção em gesto nesses casos.

Mas, voltando ao plágio, ele é uma praga, sim. E transforma a atividade intelectual em algo desgastante. Ora, bolas, como eu posso saber que o texto pertinente que a aluna ou aluno está me passando não é de sua própria lavra? Para mim, ou talvez para a minha geração, sei lá!, o texto que a gente escreve, bom ou ruim, carrega um pedaço da gente. Tanto assim que, acredito, muitos de nós, especialmente quem foi de alguma organização de esquerda, escreveu e não assinou muita coisa. Nesses casos, a gente sentia orgulho de saber que alguém lia e discutia o que você tinha produzido e a autoria nem era algo a nos preocupar.

Hoje, infelizmente, quando a lógica da produção se sobrepõe a tudo, multiplicam-se os plágios. E a praga não envolve somente os alunos. Mas entre estes, permitam-me esta digressão, ela é mais grave. Por que? Porque eles são o futuro, queiramos ou não. Entre nós, mais velhos, quando um plágio é descoberto, o autor se cobre de vergonha. Torna-se, para usar termo da hora, um dalit. Parece não ocorrer a mesma coisa com os alunos, acho. Uma aluna teve a pachorra de me dizer, diante de uma prova de plágio que lhe apsentava, que havia apenas "incorporado criativamente" outro texto. Sei de um caso de um colega de outra universidade que colocou, na folha de divulgação dos resultados de uma disciplina, a nota zero, e, na frente da nota, com letras vermelhas, a palavra "plágio". Pois bem, foi admoestado (e ameaçado de processo judicial) pela família da traquina por estar criando "constrangimentos" para a larápia intelectual.

O meu amigo Nelson Tomazzi, ex-colega da UEL (agora aposentado), ao se deparar com um plágio de uma aluna, ficou, disse-me ele, uma noite sem dormir. Pensava no constrangimente que seria comunicar o fato à fraudadora. Compungido, foi encontrar-se com a figurinha. Com muito tato, e temendo uma atitude inesperada (um choro convulsivo, pelo menos), relatou a situação. A reação da futura intelectual foi rir e dizer: "ih, não colou, né, professor?"

"Oh! Tempora, Oh! Mores"

Um comentário:

Anônimo disse...
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