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domingo, 7 de março de 2010

A Universidade brasileira em debate: Giannotti acerta o alvo

Em bom artigo publicado na edição de hoje do jornal Folha de São Paulo, o professor da USP e pesquisador do CEBRAP José Arthur Giannotti aponta corretamente os obstáculos à consolidação da Universidade entre nós. Você pode até discordar do tom ou de uma outra alfinetada no Governo Lula, mas o alvo do artigo está bem identificado. E, ao meu ver, é correto. Confira abaixo alguns trechos.

Universidade da bonança
Falta de verba não é mais desculpa para o pouco desenvolvimento do ensino superior no Brasil

JOSÉ ARTHUR GIANNOTTI
COLUNISTA DA FOLHA

A todo momento, se anuncia a fraqueza de nosso sistema de ensino. Uma notícia na Folha (3/3) a resume: "País só cumpre 33% de metas de educação". E, como sempre, os responsáveis oficiais culpam a falta de verbas. Já que a questão é complexa, limito-me ao caso do sistema superior.
Um bom governo espera que 30% dos jovens de 18 a 24 anos devam estar matriculados nele. Havia uma demanda reprimida por mais vagas e o governo Lula escancarou-lhe as portas.
O sistema tem crescido impressionantemente. O orçamento da rede federal pulou de R$ 9 bilhões para R$ 13 bilhões sem os inativos, segundo a professora Maria Paula Dallari Bucci, secretária do Ensino Superior do Ministério da Educação, em entrevista ao "Estado de S. Paulo" (em 28/2).
Ela ainda se refere a uma universidade revitalizada que tem mais de 15 mil professores e técnicos e mais de 20 mil funcionários.
Outros dados, porém, apontam noutra direção. Respondendo à pergunta a respeito das vagas ociosas, uma sobra de mais de 7.000 postos nos vestibulares, o que dá mais de 4% da oferta, ela responde: "Haviam [sic, a professora emula com o linguajar do presidente] informações erradas. Na verdade, o número está em 5.000."
Outras informações, porém, continuam confirmando o excesso. Depois de duas seleções, ainda é muito baixo o número de matrículas por meio da nota do Enem [Exame Nacional do Ensino Médio]. Apenas metade das vagas estão sendo preenchidas.
No caso do ProUni [Programa Universidade para Todos], o próprio ministério reclama da quantidade de alunos que se inscrevem sem posteriormente confirmar a matrícula.
Não dá para tapar o sol com a peneira. Se o governo FHC foi pão-duro com o sistema federal do ensino superior e abriu as pernas para a expansão do ensino privado, o governo Lula escancarou as portas de ambos os sistemas. Tenta empurrar os jovens para as escolas sem levar em conta o sentido profundo dessa demanda e pouco se lixa se o diploma conquistado corresponde a ensino de qualidade. A permissão para que as universidades privadas entupam o espaço público com ensino à distância, sem regras de diversificação e rígidos procedimentos de avaliação, comprova o que afirmo.

Crise da expansão Por que os dois governos, cuja continuidade cada vez fica mais patente, tendo bom sucesso em outros domínios, fracassaram diante dos desafios postos pelo sistema educacional brasileiro como um todo? E, se alguém disso duvidar, que verifique o desempenho de nossos alunos quando comparados com seus colegas de outros países.
Não estaria eu exagerando? Diante da enorme expansão do ensino superior, considerando o volume das verbas que está recebendo, os problemas não seriam apenas pontuais? A rede de ensino se expandiu, os alunos serão mais patriotas e deixarão de se matricular em várias escolas, por conseguinte não mais bloquearão vagas.
É natural que a expansão provoque queda na qualidade de ensino, mas com o tempo tudo vai melhorar.
Isso seria verdade se o sistema universitário fosse apenas uma planta que, para crescer, necessitasse de bom estrume. Este o governo Lula tem lhe dado, mas lhe falta boa política. E esta só poderá ser levada a cabo se levar em conta as peculiaridades dinâmicas do sistema, internas e externas. Primeiramente, é preciso estabelecer um diálogo franco e firme entre as lideranças universitárias e os sindicatos de professores, funcionários e alunos.
Se hoje é bem verdade que nas universidades federais se quebrou aquele ritmo perverso das greves do primeiro semestre, reivindicando aumentos salariais e "mais verbas para a educação" -monotonia que ainda perdura na USP-, isso é porque todos estão nadando em dinheiro. Este, entretanto, está sendo bem aplicado?
Não creio. Uma política efetiva, baseada num programa de ensino e de pesquisa segundo metas precisas, necessita partir das condições e vocações regionais. É insano imaginar o Brasil inteiro povoado por universidades imitando a USP, a Universidade Federal do Rio de Janeiro, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul e outras de porte semelhante. Um projeto centralizado que cumpra modelos desenhados em Brasília nada mais será do que o simulacro incapaz de ser nacional porque não passa pelo regional.

Joio e trigo
E este governo tem a mania e, pior, a ideologia de tudo centralizar. Que se levem em conta as trapalhadas do Enem. Exame indispensável para dar unidade a nosso ensino e apontar suas falhas a serem corrigidas. Que ainda sirva de ponte entre o ensino médio e o ensino superior, evitando o martírio dos vestibulares. Mas o exame emperrou desde o início.
Um bom projeto, que deveria ser implementado passo a passo, terminou manco por causa de tudo organizar a partir de Brasília e da pressa de um jovem ministro [Fernando Haddad] que, a despeito de ter começado muito bem, tem se atrapalhado depois de picado pela mosca azul do poder.
(...)
Segundo, a extraordinária expansão do ensino superior torna premente reformular a carreira do professor universitário. As universidades estão contratando enorme número de docentes. Muitos por concurso, como é devido. Adquirem, então, estabilidade funcional.
(...)
O corpo docente necessita de avaliação periódica. E pouco adianta institutos avaliadores, como a Capes [Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior], caírem no "produtivismo", como dizia a esquerda de araque, e gargarejarem estatísticas, se a própria carreira do funcionário não for modificada.
Não se trata de botar na rua o docente emperrado, mas de encontrar para ele funções diferentes que dignifiquem seu trabalho em outros empregos públicos ou privados.

JOSÉ ARTHUR GIANNOTTI é professor emérito da USP e pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento. Escreve na seção "Autores", do Mais!.

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quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

FHC seguindo o script traçado por Lula

Leia abaixo artigo de autoria de Marcos Coimbra. Trata-se de uma análise das investidas críticas do ex-presidente contra Lula, Dilma e o PT. Vale a pena conferir!

Fernando Henrique contra Lula
Autor(es): Marcos Coimbra
Correio Braziliense - 10/02/2010

Com seu cartão de visitas, o Plano Real, Fernando Henrique ganhou a admiração do país. Se não terminou seu período com a imagem que julga condizente com o que fez, ninguém pode ser responsabilizado, fora aqueles que o integraram

Em mais um capítulo da longa batalha que travam há anos, Fernando Henrique e Lula voltaram a se enfrentar no fim de semana. Agora, a iniciativa partiu do ex-presidente, que, em artigo publicado por alguns jornais, se disse “sem medo do passado”. Com isso, afirmou que aceita o desafio do atual, de fazer a comparação entre os governos dos dois na eleição deste ano.


Segundo Fernando Henrique, Lula está em meio a uma “guerra imaginária” em que distorce fatos e, assim fazendo, se glorifica no contraste com ele. Em suas palavras, o presidente quer assustar as pessoas, ameaçando-as com o caos se a oposição vencer.

Quase todo o texto é dedicado à defesa das decisões que tomou e do que fez no Planalto. O cerne de seu argumento é a ideia de que Lula (apenas) “deu passos adiante no que fora plantado por seus antecessores”. Embora falasse no plural, parece que o que ele queria dizer é que o (único) mérito de Lula foi prosseguir o que ele começou.

Nada mais compreensível que a reação de FHC. Não é preciso ter de si uma opinião muito elevada para, em situação semelhante, ficar tão desconfortável quanto ele parece estar. Depois de uma trajetória brilhante como intelectual, entrou na vida política pela porta da frente e chegou aonde chegou, tornando-se, por algum tempo, ídolo de um país que não acreditava mais que a inflação pudesse ser vencida. Hoje, sem que ele o mereça, muitos de seus amigos preferem que ele finja que não existe.

Espicaçado por Lula e Dilma, pelo PT e até por gente que esteve bem aninhada em seu governo, é difícil imaginar que ele fosse ficar quieto em seu canto, sofrendo calado. O artigo foi uma mostra de que ele não vai aceitar de braços cruzados as provocações que a campanha da ministra lhe fará. Aliás, não foi a única, pois, ainda no sábado, já havia dito que Dilma é “um boneco” e Lula seu “ventríloquo”. Em matéria de nível de debate, não se pode dizer que seja elevado.

Fernando Henrique se diz convencido que na campanha haverá um mote (“o governo do PSDB foi neoliberal”) e dois “alvos principais: as privatizações das estatais e a (sua) suposta inação na área social”. Em função disso, contra-argumenta procurando mostrar que melhorou o desempenho das empresas privatizadas em seu governo e reivindicando a invenção do Bolsa Família.

Ainda que concordássemos com o que diz, o problema do raciocínio é que as eleições, para a vasta maioria das pessoas, não são guerras (imaginárias ou reais) entre dados e teses, mas entre imagens. Se existem pessoas que tomam suas decisões de voto apenas depois de ouvir a exaustiva argumentação racional dos candidatos em torno de diagnósticos e propostas, elas são uma minoria. E não apenas aqui, onde, por nossas distorções, o eleitorado é predominantemente constituído por cidadãos de baixa escolaridade e informação. Acontece o mesmo em qualquer lugar, incluindo os mais desenvolvidos. Em todos, os eleitores votam muito mais com imagens que com números na cabeça.

Fernando Henrique teve oito anos de governo para formar uma imagem de si, seus companheiros e ideias. Com seu cartão de visitas, o Plano Real, ganhou a admiração quase unânime do país. Se não terminou seu período com a imagem que julga condizente com o que fez, ninguém pode ser responsabilizado, fora aqueles que o integraram. Basta pensar no investimento em comunicação governamental nada pequeno que foi feito e que de pouco serviu, ao que parece.

O PSDB teve mais duas oportunidades de ouro para refazer a imagem do governo FHC, as campanhas de 2002 e 2006, ambas terminadas no segundo turno. Não foi por falta de tempo de televisão e de recursos que elas foram desperdiçadas.

Serra, sabendo que a grande maioria das pessoas queria a mudança naquela eleição, não pôde assumir o lado do governo de maneira inequívoca. Alckmin preferiu falar de sua gestão em São Paulo e emudeceu quando FHC foi trazido para o palco.

Engana-se quem acha que as privatizações foram um fantasma habilmente inventado por Lula para derrotar o PSDB. Elas não passavam de um símbolo das diferenças entre tucanos e petistas, FHC e Lula, “as elites” e “o povo”, “eles” e “nós”. Denunciando-as, muito mais era expresso, coisas que não são apagadas pelo fato de que “hoje existe celular para todos”.

Toda vez que entra diretamente no debate, FHC faz o que Lula quer. Só que o ex-presidente não consegue e nem deve evitá-lo. Esse é seu drama.