Transcrevo abaixo trechos de um artigo publicado na última edição da REVISTA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS SOCIAIS. Trata-se de uma discussão mais do que atual a respeito do papel das universidades brasileiras na inovação científica. Confira!
Inovar para transformar a universidade brasileira*
Glauco Arbix; Flávia Consoni
Qual o lugar das instituições de ensino superior e de pesquisa no Brasil em relação ao estímulo de geração e difusão de inovações na economia e na sociedade?
Mudanças recentes efetivadas no ambiente econômico e social para tornar a economia brasileira mais amigável à inovação e à tecnologia geraram impactos positivos na estrutura institucional das universidades, com avanços importantes nas áreas de proteção do conhecimento gerado por seus pesquisadores, nos sistemas de licenciamento de patentes e de transferência de tecnologia. Porém, em que pesem os passos positivos, ainda há um longo caminho a ser trilhado. A universidade brasileira permanece insulada e carece de canais de ligação capazes de viabilizar a estreita sintonia c om os esforços que faz o país para se desenvolver. A realização desse debate, muitas vezes tomado falsamente como um ataque à autonomia universitária, é cada vez mais urgente. A universidade, no mundo todo, vive uma segunda revolução acadêmica. Ensino e pesquisa combinam-se agora com forte atuação de transferência de conhecimento para a sociedade. No Brasil, é urgente a necessidde de se ampliar a sinergia e os fluxos de conhecimento entre universidade e sociedade, determinantes para a absorção, a aprendizagem e a geração de inovação e tecnologia.
Nosso ponto de partida é que os processos de inovação em países emergentes possuem características peculiares e distintas da inovação que ocorre em países avançados. Isso se deve principalmente à maior distância da fronteira do conhecimento em que atuam majoritariamente as principais instituições que respondem pelos processos inovadores, em especial as empresas privadas. De um modo geral, os países desenvolvidos estão capacitados para investir em inovações que determinam tendências e rotas tecnológicas e, por isso mesmo, se caracterizam como criadores de "novidades para o mercado mundial". A estrutura de sua economia e a expertise de suas empresas baseiam-se em conhecimento novo, seja no uso de tecnologias orientadas para a manutenção de sua posição avançada na economia mundial, seja nos processos de ampliação de sua liderança no concerto das nações.
Diferentemente, os países em desenvolvimento, em quase todas as áreas da economia, buscam equiparar-se (catch up) aos países desenvolvidos, basicamente via o domínio de técnicas e absorção de tecnologias maduras que resultam em inovações "para o país", "para um ramo industrial", ou mesmo "para uma empresa".
Em geral, esses processos envolvem uma combinação de tecnologias já conhecidas, disponíveis, e procedimentos de assimilação e adaptação de novas técnicas, em processos extensivamente estudados pela literatura. Para combinar, adaptar e absorver tecnologias, as economias emergentes desenvolvem estratégias de aprendizagem que se baseiam na imitação, na cópia e na adaptação. Ou seja, para inovarem, as empresas, os centros de pesquisa e mesmo as universidades dos países em desenvolvimento servem-se do conhecimento já disponível para: (i) elevar a qualificação da economia e, principalmente, das empresas; e (ii) otimizar o desenvolvimento de atividades inovadoras em ambientes de escassez de recursos (Hobday, 1994; Kim, 1997; Mathews, 2001; Sheehan, 2008; Caraça et al., 2009). Amsden (1989, 2001) e Kim (1997) mostraram como a adoção de estratégias de catching up está na raiz da evolução de um grupo de países asiáticos - em especial a Coreia do Sul e Taiwan - que conseguiram capacitar suas empresas e transformá-las em players globais num curto espaço de tempo. Esses autores enfatizaram também a insubstituível atuação do setor público nesse processo, seja via políticas de incentivo, seja por meio da reconfiguração ou criação de instituições voltadas para absorção e desenvolvimento de tecnologias e inovação. Foi nessas condições que Taiwan, por exemplo, conseguiu migrar da imitação para a inovação a partir do uso sofisticado de instituições como Centros Públicos de Pesquisa e Parques Tecnológicos, que potencializaram os investimentos empresariais em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D). O governo taiwanês desenvolveu também novos sistemas de adaptação, adoção e difusão de tecnologias, difundiu consórcios de P&D, estimulou o depósito de patentes nos Estados Unidos (no USPTO - United States Patent and Trademark Office) e adotou estratégias de apoio à sua utilização na competição internacional nos segmentos de alta tecnologia (Mathews e Hu, 2007, p. 2-3).
Estudos mais recentes mostram como nesses países asiáticos o sistema universitário ocupou posição de destaque precisamente por mostrar-se capaz de gerar e incentivar inovações que desencadearam fortes processos de qualificação e elevação do grau de competitividade das empresas e de suas respectivas economias (Caraça et al., 2009).
Para Mathews e Hu (2007), a participação das universidades no desenvolvimento desses países não constrangeu a dinâmica da pesquisa, não inibiu a criatividade e a liberdade dos pesquisadores, tampouco afetou negativamente a necessária autonomia que as instituições de pesquisa precisam ter para gerar conhecimento novo. Pelo contrário, segundo seus estudos, ao entrarem em sintonia com o esforço de superação desses países, e diminuírem seu insulamento, a universidade aumentou sua contribuição para a sociedade e também para o próprio conhecimento. Em outras palavras, foi graças ao reordenamento de suas práticas e objetivos que a universidade pôde se sobressair no arco das instituições voltadas para a inovação e contribuir para o rápido desenvolvimento dos países asiáticos. Por conta dos avanços significativos alcançados, esses países concorrem atualmente de igual para igual com as economias mais avançadas em vários domínios da economia, da ciência e da tecnologia.
Desde o início dos anos de 1990, outros países enveredaram por trilhas semelhantes, buscando o catch up e ensaiando avanços ainda maiores. Embora com estilos e estruturas distintas, a China (Kim e Mah, 2009; Hu e Mathews, 2008), a Índia (Vaidyanathan, 2007; Athreye e Godley, 2009; Alfaro e Chari, 2009) e, mais recentemente, também o Brasil (Arbix e De Negri, 2009; Arbix e Martin, 2009; Armijo e Burges, 2010; Sheehan, 2008), para citar algumas das grandes economias, revalorizaram as políticas industriais e de inovação, criaram novas instituições e passaram a se utilizar mais intensamente de um conjunto de políticas públicas, elaboradas e executadas a partir de uma presença mais vigorosa do Estado na economia e na sociedade.
Na China e na Índia as universidades ocuparam - e ocupam cada vez mais - um lugar especial para a realização de suas estratégias de desenvolvimento. Consideradas a principal fonte de produção de conhecimento novo, as universidades receberam os mais variados incentivos para construir sistemas de reconhecimento de inovações, patenteamento, licenciamento, difusão e transferência de conhecimento e tecnologia.
A visão difundida por Etzkowitz (2003), de que a universidade é tanto fonte de conhecimento como espaço propício à inovação, e de que essas inovações são passíveis de serem transferidas para a sociedade, encontra suporte em várias experiências chinesas e indianas atuais. Nesses países, as universidades modificaram sua estrutura legal, organizacional e de governança, com profundo impacto em suas atividades de pesquisa e em suas relações com a sociedade (Kim e Mah, 2009; Sheehan, 2008). Essas mudanças adaptaram, reformaram ou criaram instituições multidisciplinares de ensino e pesquisa, sofisticaram os mecanismos de geração e incubação de empresas de base tecnológica, assim como estimularam a implantação de sistemas de proteção do conhecimento produzido e desenvolvido pela comunidade de pesquisadores, seus núcleos, centros e laboratórios.
No Brasil, apenas mais recentemente e ainda em menor intensidade, motivações semelhantes também estimularam mudanças no sistema universitário para além das preocupações com sua expansão e melhoria de qualidade do ensino. Nesse sentido, a aprovação da Lei de Inovação (Lei nº 10.973/2004) pelo Congresso em 2004 marcou uma inflexão na trajetória do sistema de gestão da propriedade intelectual e de transferência de tecnologia na universidade brasileira, ao dar amparo legal e definir incentivos para a comercialização dos resultados das pesquisas científicas e tecnológicas.
A Lei de Inovação estabeleceu um conjunto de instrumentos e facilitou a cooperação entre a pesquisa acadêmica e as empresas. Nesse novo marco encontra-se a obrigatoriedade de criação de Núcleos de Inovação Tecnológica (NITs) nas Instituições de Ciência e Tecnologia (ICTs).1 Os NITs, concebidos para se tornarem referências no diálogo e no relacionamento com o setor empresarial, devem também se responsabilizar pela defesa e proteção da propriedade intelectual e da inovação. Dessa forma tais núcleos, pensados como facilitadores, promoveriam parcerias com agentes externos e zelariam pela disseminação de uma cultura de transferência de tecnologia, ainda pouco consolidada nas instituições de Ciência e Tecnologia (C&T) no Brasil.
Nos primeiros cinco anos após a aprovação da Lei de Inovação, dezenas de NITs foram criados no Brasil. Dados de 2009 indicam que, das 101 ICTs públicas que anualmente encaminham informações ao Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT), 75 já haviam criado um NIT. Como há benefícios para esse tipo de iniciativa, mesmo as universidades privadas ou quase-privadas (que respondem por uma parcela menor da pesquisa científica no Brasil) têm empreendido esforços para estruturarem seus NITs (Torkomian, 2009).
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segunda-feira, 26 de dezembro de 2011
terça-feira, 9 de março de 2010
A lógica perversa do crescimento das Universidades Federais
O filósofo José Arthur Giannotti, em artigo publicado no jornal Folha de São Paulo de domingo passado, aponta alguns elementos para uma discussão mais substantiva sobre a realidade da Universidade brasileira. Em que pese o abuso de certas generalizações e a preocupação em mostrar-se oposição ao atual governo, Giannotti acerta o alvo, e indica um importante ponto de pauta: porque o aumento significativo de recursos não se traduz em um aumento correspondente nas vagas, em formação e na produção docente?
A questão tem fundamento. Ora, para ser um pouquinho original, nunca na história deste país se investiu tanto no ensino superior. As universidades federais transformaram-se em canteiros de obras, você sabe. E quase todos os dias têm-se anúncios de concursos para professor. Mas a Universidade, tal qual um paquiderme cansado, caminha devagar. E incorpora com muitas dificuldades as propostas governamentais de democratização do acesso. E, mesmo quando os alunos entram, as tais taxas de sucesso são vexaminosas.
Uma lógica insustentável parece presidir o processo de crescimento das universidades federais nos últimos anos. Gasta-se dinheiro a rodo com prédios e aquisição de equipamentos, mas poucos se perguntam como iremos, em alguns anos, pagar as contas de água e luz desses novos edifícios. Um probleminha de somenos importância: o que fazer com lixo eletrônico produzido pela renovação constante dos parques de informática?
Mas onde essa lógica se apresenta de forma mais perversa é na contratação de novos docentes. Tudo foi deixado à mercê dos departamentos. E estes, como é do conhecimento até do reino mineral, funcionam à base dos interesses corporativistas, quando não daqueles de pequenos e cavernosos grupos. Vagas e mais vagas são entregues para concursos que são decididos em reuniões pouco participativas e dominadas por interesses que, nem de longe, referem-se à consolidação da Universidade. E aí temos de tudo, verdadeiramente. Tem departamento que faz concurso para 20 horas semanais e, depois de algum tempo, decide que os aprovados para aquela carga horária tenham seus contratos transformados para 40 horas com dedicação exclusiva. Outros, fazem concurso para professor com dedicação exclusiva e, logo após a posse do aprovado, mudam a carga horária para 40 horas sem DE.
Existem coisas piores. Concursos que são feitos de forma tão descaradamente corporativista (tipo graduação em dinossauros, mestrado em dinossauros e doutorado em dinossauros) que, não raro, menos de meia dúzia de pessoas no país inteiro estão habilitadas a se candidatar. E isso em instituições que produzem documentos e mais documentos sobre interdisciplinaridade, flexibilidade na formação e abertura do conhecimento. Seria cômico, não fosse trágico, que universidades que, na esteira do REUNI, abriram cursos de graduação transversais e pós-graduações interdisciplinares, na hora de contratação de seus docentes o façam seguindo uma lógica totalmente disciplinar e restritiva.
Há anos, não poucos achávamos que a Universidade estava sendo dinamitada pela falta de verbas do período FHC. Pensávamos que mais verbas e mais autonomia incrementariam positivamente as nossas instituições. Após meia década de crescimento vertiginoso, cá no meu cantinho provinciano, sou assomado pelas mesmas dúvidas do emérito professor uspiano a respeito das positividades do tão propalado crescimento da Universidade...
A questão tem fundamento. Ora, para ser um pouquinho original, nunca na história deste país se investiu tanto no ensino superior. As universidades federais transformaram-se em canteiros de obras, você sabe. E quase todos os dias têm-se anúncios de concursos para professor. Mas a Universidade, tal qual um paquiderme cansado, caminha devagar. E incorpora com muitas dificuldades as propostas governamentais de democratização do acesso. E, mesmo quando os alunos entram, as tais taxas de sucesso são vexaminosas.
Uma lógica insustentável parece presidir o processo de crescimento das universidades federais nos últimos anos. Gasta-se dinheiro a rodo com prédios e aquisição de equipamentos, mas poucos se perguntam como iremos, em alguns anos, pagar as contas de água e luz desses novos edifícios. Um probleminha de somenos importância: o que fazer com lixo eletrônico produzido pela renovação constante dos parques de informática?
Mas onde essa lógica se apresenta de forma mais perversa é na contratação de novos docentes. Tudo foi deixado à mercê dos departamentos. E estes, como é do conhecimento até do reino mineral, funcionam à base dos interesses corporativistas, quando não daqueles de pequenos e cavernosos grupos. Vagas e mais vagas são entregues para concursos que são decididos em reuniões pouco participativas e dominadas por interesses que, nem de longe, referem-se à consolidação da Universidade. E aí temos de tudo, verdadeiramente. Tem departamento que faz concurso para 20 horas semanais e, depois de algum tempo, decide que os aprovados para aquela carga horária tenham seus contratos transformados para 40 horas com dedicação exclusiva. Outros, fazem concurso para professor com dedicação exclusiva e, logo após a posse do aprovado, mudam a carga horária para 40 horas sem DE.
Existem coisas piores. Concursos que são feitos de forma tão descaradamente corporativista (tipo graduação em dinossauros, mestrado em dinossauros e doutorado em dinossauros) que, não raro, menos de meia dúzia de pessoas no país inteiro estão habilitadas a se candidatar. E isso em instituições que produzem documentos e mais documentos sobre interdisciplinaridade, flexibilidade na formação e abertura do conhecimento. Seria cômico, não fosse trágico, que universidades que, na esteira do REUNI, abriram cursos de graduação transversais e pós-graduações interdisciplinares, na hora de contratação de seus docentes o façam seguindo uma lógica totalmente disciplinar e restritiva.
Há anos, não poucos achávamos que a Universidade estava sendo dinamitada pela falta de verbas do período FHC. Pensávamos que mais verbas e mais autonomia incrementariam positivamente as nossas instituições. Após meia década de crescimento vertiginoso, cá no meu cantinho provinciano, sou assomado pelas mesmas dúvidas do emérito professor uspiano a respeito das positividades do tão propalado crescimento da Universidade...
Minifúndios improdutivos do saber: por uma reforma agrária nas universidades federais
Prestígio, em algumas universidades federais, é você ter uma grande sala atulhada de computadores. Nem todo mundo tem disposição (ou competência) para aprovar projetos de pesquisa e conseguir esses latifúndios pós-modernos. Resta, então, para muitos, a criação de uma “base de pesquisa” para legitimar o uso de uma “média propriedade”. Nesses “laboratórios”, orientandos privilegiados tornam-se posseiros das pequenas capitanias. Não raro, comportam-se como arrendatários. E o são, de fato. Isso porque os divinos mestres aparecem raramente nas capitanias.
Na estrutura agrária das universidades, sobram ainda os pequenos proprietários. Apossam-se de salas, mas quase nunca as usam. Comportam-se como especuladores imobiliários. Talvez pensem, vá lá saber!, em negociar o privilegiado espaço em um futuro próximo... O fato é que temos, em algumas federais, verdadeiros corredores fantasmas.
Alguns outros dividem salas com colegas e, como estão todos os dias no batente, atendem alunos, pessoas da imprensa, membros da comunidade e colegas, além de responderem às demandas burocráticas dos departamentos. São os “burros de carga”, dizem. Não raro, como a sala em que trabalham também conta com a presença de outro professor, para não incomodar o colega, atendem os alunos em algum banco no corredor. Enquanto isso, ao lado, salas ficam fechadas por semanas...
Por que uma instituição como a Universidade, que conta com o aporte de anos de expertise em avaliação da produção intelectual de agências como a CAPES e o CNPq, não alicerça a sua, como direi?, estrutura agrária em algo menos injusto do que pressão, não raro traduzida em caras e bocas intimidatórias, dos donatários das novas capitanias hereditárias? Ora, como pode uma sala, com computador, mesas e cadeiras, passar dias e dias sem nenhum uso? Como pode uma base de pesquisa funcionar apenas para ser uma espécie de lan house de luxo de estudantes de pós-graduação? Porque uma dessas pró-reitorias que adoram inventar coisas para torrar a paciência dos que efetivamente trabalham não realiza um levantamento da produção intelectual dessas “bases”?
Aqui do meu canto faço uma sugestão: peguem o QUALIS da CAPES como referência. Com base nele,verifiquem as produções dos componentes das tais bases... Pode-se tomar como referência um determinado período de tempo. E, para não se ser taxado de autoritário, questione-se dos integrantes da própria base em que área de avaliação sua produção deveria ser analisada. Aí teríamos um Raio-X da nossa produção. E poderíamos constatar se os recursos públicos investidos na manutenção desses espaços estão sendo bem aplicados.
Quantos artigos em periódicos acima de B2 a "base de pesquisa" que se assenhora de uma sala e de equipamentos públicos produziu? Quantos projetos de pesquisa com financiamento externo conseguiu? Com informações como essas, teríamos algo concreto para balizar uma mais do que necessária "reforma agrária" nas universidades federais.
Aqui na minha sala, tentando trabalhar e sendo interrompido a cada cinco minutos por um estudante, enfrento o barulho do ar condicionado (que só refresca depois de três horas ligado...) e a tremedeira dos vidros das janelas. Resta-me a esperança de que um dia aumentem os impostos (com cobranças de produção acadêmica) sobre os minifúndios improdutivos e que estes sejam abertos para uma vida universitária de verdade.
Na estrutura agrária das universidades, sobram ainda os pequenos proprietários. Apossam-se de salas, mas quase nunca as usam. Comportam-se como especuladores imobiliários. Talvez pensem, vá lá saber!, em negociar o privilegiado espaço em um futuro próximo... O fato é que temos, em algumas federais, verdadeiros corredores fantasmas.
Alguns outros dividem salas com colegas e, como estão todos os dias no batente, atendem alunos, pessoas da imprensa, membros da comunidade e colegas, além de responderem às demandas burocráticas dos departamentos. São os “burros de carga”, dizem. Não raro, como a sala em que trabalham também conta com a presença de outro professor, para não incomodar o colega, atendem os alunos em algum banco no corredor. Enquanto isso, ao lado, salas ficam fechadas por semanas...
Por que uma instituição como a Universidade, que conta com o aporte de anos de expertise em avaliação da produção intelectual de agências como a CAPES e o CNPq, não alicerça a sua, como direi?, estrutura agrária em algo menos injusto do que pressão, não raro traduzida em caras e bocas intimidatórias, dos donatários das novas capitanias hereditárias? Ora, como pode uma sala, com computador, mesas e cadeiras, passar dias e dias sem nenhum uso? Como pode uma base de pesquisa funcionar apenas para ser uma espécie de lan house de luxo de estudantes de pós-graduação? Porque uma dessas pró-reitorias que adoram inventar coisas para torrar a paciência dos que efetivamente trabalham não realiza um levantamento da produção intelectual dessas “bases”?
Aqui do meu canto faço uma sugestão: peguem o QUALIS da CAPES como referência. Com base nele,verifiquem as produções dos componentes das tais bases... Pode-se tomar como referência um determinado período de tempo. E, para não se ser taxado de autoritário, questione-se dos integrantes da própria base em que área de avaliação sua produção deveria ser analisada. Aí teríamos um Raio-X da nossa produção. E poderíamos constatar se os recursos públicos investidos na manutenção desses espaços estão sendo bem aplicados.
Quantos artigos em periódicos acima de B2 a "base de pesquisa" que se assenhora de uma sala e de equipamentos públicos produziu? Quantos projetos de pesquisa com financiamento externo conseguiu? Com informações como essas, teríamos algo concreto para balizar uma mais do que necessária "reforma agrária" nas universidades federais.
Aqui na minha sala, tentando trabalhar e sendo interrompido a cada cinco minutos por um estudante, enfrento o barulho do ar condicionado (que só refresca depois de três horas ligado...) e a tremedeira dos vidros das janelas. Resta-me a esperança de que um dia aumentem os impostos (com cobranças de produção acadêmica) sobre os minifúndios improdutivos e que estes sejam abertos para uma vida universitária de verdade.
domingo, 7 de março de 2010
A Universidade brasileira em debate: Giannotti acerta o alvo
Em bom artigo publicado na edição de hoje do jornal Folha de São Paulo, o professor da USP e pesquisador do CEBRAP José Arthur Giannotti aponta corretamente os obstáculos à consolidação da Universidade entre nós. Você pode até discordar do tom ou de uma outra alfinetada no Governo Lula, mas o alvo do artigo está bem identificado. E, ao meu ver, é correto. Confira abaixo alguns trechos.
Universidade da bonança
Falta de verba não é mais desculpa para o pouco desenvolvimento do ensino superior no Brasil
JOSÉ ARTHUR GIANNOTTI
COLUNISTA DA FOLHA
A todo momento, se anuncia a fraqueza de nosso sistema de ensino. Uma notícia na Folha (3/3) a resume: "País só cumpre 33% de metas de educação". E, como sempre, os responsáveis oficiais culpam a falta de verbas. Já que a questão é complexa, limito-me ao caso do sistema superior.
Um bom governo espera que 30% dos jovens de 18 a 24 anos devam estar matriculados nele. Havia uma demanda reprimida por mais vagas e o governo Lula escancarou-lhe as portas.
O sistema tem crescido impressionantemente. O orçamento da rede federal pulou de R$ 9 bilhões para R$ 13 bilhões sem os inativos, segundo a professora Maria Paula Dallari Bucci, secretária do Ensino Superior do Ministério da Educação, em entrevista ao "Estado de S. Paulo" (em 28/2).
Ela ainda se refere a uma universidade revitalizada que tem mais de 15 mil professores e técnicos e mais de 20 mil funcionários.
Outros dados, porém, apontam noutra direção. Respondendo à pergunta a respeito das vagas ociosas, uma sobra de mais de 7.000 postos nos vestibulares, o que dá mais de 4% da oferta, ela responde: "Haviam [sic, a professora emula com o linguajar do presidente] informações erradas. Na verdade, o número está em 5.000."
Outras informações, porém, continuam confirmando o excesso. Depois de duas seleções, ainda é muito baixo o número de matrículas por meio da nota do Enem [Exame Nacional do Ensino Médio]. Apenas metade das vagas estão sendo preenchidas.
No caso do ProUni [Programa Universidade para Todos], o próprio ministério reclama da quantidade de alunos que se inscrevem sem posteriormente confirmar a matrícula.
Não dá para tapar o sol com a peneira. Se o governo FHC foi pão-duro com o sistema federal do ensino superior e abriu as pernas para a expansão do ensino privado, o governo Lula escancarou as portas de ambos os sistemas. Tenta empurrar os jovens para as escolas sem levar em conta o sentido profundo dessa demanda e pouco se lixa se o diploma conquistado corresponde a ensino de qualidade. A permissão para que as universidades privadas entupam o espaço público com ensino à distância, sem regras de diversificação e rígidos procedimentos de avaliação, comprova o que afirmo.
Crise da expansão Por que os dois governos, cuja continuidade cada vez fica mais patente, tendo bom sucesso em outros domínios, fracassaram diante dos desafios postos pelo sistema educacional brasileiro como um todo? E, se alguém disso duvidar, que verifique o desempenho de nossos alunos quando comparados com seus colegas de outros países.
Não estaria eu exagerando? Diante da enorme expansão do ensino superior, considerando o volume das verbas que está recebendo, os problemas não seriam apenas pontuais? A rede de ensino se expandiu, os alunos serão mais patriotas e deixarão de se matricular em várias escolas, por conseguinte não mais bloquearão vagas.
É natural que a expansão provoque queda na qualidade de ensino, mas com o tempo tudo vai melhorar.
Isso seria verdade se o sistema universitário fosse apenas uma planta que, para crescer, necessitasse de bom estrume. Este o governo Lula tem lhe dado, mas lhe falta boa política. E esta só poderá ser levada a cabo se levar em conta as peculiaridades dinâmicas do sistema, internas e externas. Primeiramente, é preciso estabelecer um diálogo franco e firme entre as lideranças universitárias e os sindicatos de professores, funcionários e alunos.
Se hoje é bem verdade que nas universidades federais se quebrou aquele ritmo perverso das greves do primeiro semestre, reivindicando aumentos salariais e "mais verbas para a educação" -monotonia que ainda perdura na USP-, isso é porque todos estão nadando em dinheiro. Este, entretanto, está sendo bem aplicado?
Não creio. Uma política efetiva, baseada num programa de ensino e de pesquisa segundo metas precisas, necessita partir das condições e vocações regionais. É insano imaginar o Brasil inteiro povoado por universidades imitando a USP, a Universidade Federal do Rio de Janeiro, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul e outras de porte semelhante. Um projeto centralizado que cumpra modelos desenhados em Brasília nada mais será do que o simulacro incapaz de ser nacional porque não passa pelo regional.
Joio e trigo
E este governo tem a mania e, pior, a ideologia de tudo centralizar. Que se levem em conta as trapalhadas do Enem. Exame indispensável para dar unidade a nosso ensino e apontar suas falhas a serem corrigidas. Que ainda sirva de ponte entre o ensino médio e o ensino superior, evitando o martírio dos vestibulares. Mas o exame emperrou desde o início.
Um bom projeto, que deveria ser implementado passo a passo, terminou manco por causa de tudo organizar a partir de Brasília e da pressa de um jovem ministro [Fernando Haddad] que, a despeito de ter começado muito bem, tem se atrapalhado depois de picado pela mosca azul do poder.
(...)
Segundo, a extraordinária expansão do ensino superior torna premente reformular a carreira do professor universitário. As universidades estão contratando enorme número de docentes. Muitos por concurso, como é devido. Adquirem, então, estabilidade funcional.
(...)
O corpo docente necessita de avaliação periódica. E pouco adianta institutos avaliadores, como a Capes [Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior], caírem no "produtivismo", como dizia a esquerda de araque, e gargarejarem estatísticas, se a própria carreira do funcionário não for modificada.
Não se trata de botar na rua o docente emperrado, mas de encontrar para ele funções diferentes que dignifiquem seu trabalho em outros empregos públicos ou privados.
JOSÉ ARTHUR GIANNOTTI é professor emérito da USP e pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento. Escreve na seção "Autores", do Mais!.
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Universidade da bonança
Falta de verba não é mais desculpa para o pouco desenvolvimento do ensino superior no Brasil
JOSÉ ARTHUR GIANNOTTI
COLUNISTA DA FOLHA
A todo momento, se anuncia a fraqueza de nosso sistema de ensino. Uma notícia na Folha (3/3) a resume: "País só cumpre 33% de metas de educação". E, como sempre, os responsáveis oficiais culpam a falta de verbas. Já que a questão é complexa, limito-me ao caso do sistema superior.
Um bom governo espera que 30% dos jovens de 18 a 24 anos devam estar matriculados nele. Havia uma demanda reprimida por mais vagas e o governo Lula escancarou-lhe as portas.
O sistema tem crescido impressionantemente. O orçamento da rede federal pulou de R$ 9 bilhões para R$ 13 bilhões sem os inativos, segundo a professora Maria Paula Dallari Bucci, secretária do Ensino Superior do Ministério da Educação, em entrevista ao "Estado de S. Paulo" (em 28/2).
Ela ainda se refere a uma universidade revitalizada que tem mais de 15 mil professores e técnicos e mais de 20 mil funcionários.
Outros dados, porém, apontam noutra direção. Respondendo à pergunta a respeito das vagas ociosas, uma sobra de mais de 7.000 postos nos vestibulares, o que dá mais de 4% da oferta, ela responde: "Haviam [sic, a professora emula com o linguajar do presidente] informações erradas. Na verdade, o número está em 5.000."
Outras informações, porém, continuam confirmando o excesso. Depois de duas seleções, ainda é muito baixo o número de matrículas por meio da nota do Enem [Exame Nacional do Ensino Médio]. Apenas metade das vagas estão sendo preenchidas.
No caso do ProUni [Programa Universidade para Todos], o próprio ministério reclama da quantidade de alunos que se inscrevem sem posteriormente confirmar a matrícula.
Não dá para tapar o sol com a peneira. Se o governo FHC foi pão-duro com o sistema federal do ensino superior e abriu as pernas para a expansão do ensino privado, o governo Lula escancarou as portas de ambos os sistemas. Tenta empurrar os jovens para as escolas sem levar em conta o sentido profundo dessa demanda e pouco se lixa se o diploma conquistado corresponde a ensino de qualidade. A permissão para que as universidades privadas entupam o espaço público com ensino à distância, sem regras de diversificação e rígidos procedimentos de avaliação, comprova o que afirmo.
Crise da expansão Por que os dois governos, cuja continuidade cada vez fica mais patente, tendo bom sucesso em outros domínios, fracassaram diante dos desafios postos pelo sistema educacional brasileiro como um todo? E, se alguém disso duvidar, que verifique o desempenho de nossos alunos quando comparados com seus colegas de outros países.
Não estaria eu exagerando? Diante da enorme expansão do ensino superior, considerando o volume das verbas que está recebendo, os problemas não seriam apenas pontuais? A rede de ensino se expandiu, os alunos serão mais patriotas e deixarão de se matricular em várias escolas, por conseguinte não mais bloquearão vagas.
É natural que a expansão provoque queda na qualidade de ensino, mas com o tempo tudo vai melhorar.
Isso seria verdade se o sistema universitário fosse apenas uma planta que, para crescer, necessitasse de bom estrume. Este o governo Lula tem lhe dado, mas lhe falta boa política. E esta só poderá ser levada a cabo se levar em conta as peculiaridades dinâmicas do sistema, internas e externas. Primeiramente, é preciso estabelecer um diálogo franco e firme entre as lideranças universitárias e os sindicatos de professores, funcionários e alunos.
Se hoje é bem verdade que nas universidades federais se quebrou aquele ritmo perverso das greves do primeiro semestre, reivindicando aumentos salariais e "mais verbas para a educação" -monotonia que ainda perdura na USP-, isso é porque todos estão nadando em dinheiro. Este, entretanto, está sendo bem aplicado?
Não creio. Uma política efetiva, baseada num programa de ensino e de pesquisa segundo metas precisas, necessita partir das condições e vocações regionais. É insano imaginar o Brasil inteiro povoado por universidades imitando a USP, a Universidade Federal do Rio de Janeiro, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul e outras de porte semelhante. Um projeto centralizado que cumpra modelos desenhados em Brasília nada mais será do que o simulacro incapaz de ser nacional porque não passa pelo regional.
Joio e trigo
E este governo tem a mania e, pior, a ideologia de tudo centralizar. Que se levem em conta as trapalhadas do Enem. Exame indispensável para dar unidade a nosso ensino e apontar suas falhas a serem corrigidas. Que ainda sirva de ponte entre o ensino médio e o ensino superior, evitando o martírio dos vestibulares. Mas o exame emperrou desde o início.
Um bom projeto, que deveria ser implementado passo a passo, terminou manco por causa de tudo organizar a partir de Brasília e da pressa de um jovem ministro [Fernando Haddad] que, a despeito de ter começado muito bem, tem se atrapalhado depois de picado pela mosca azul do poder.
(...)
Segundo, a extraordinária expansão do ensino superior torna premente reformular a carreira do professor universitário. As universidades estão contratando enorme número de docentes. Muitos por concurso, como é devido. Adquirem, então, estabilidade funcional.
(...)
O corpo docente necessita de avaliação periódica. E pouco adianta institutos avaliadores, como a Capes [Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior], caírem no "produtivismo", como dizia a esquerda de araque, e gargarejarem estatísticas, se a própria carreira do funcionário não for modificada.
Não se trata de botar na rua o docente emperrado, mas de encontrar para ele funções diferentes que dignifiquem seu trabalho em outros empregos públicos ou privados.
JOSÉ ARTHUR GIANNOTTI é professor emérito da USP e pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento. Escreve na seção "Autores", do Mais!.
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quinta-feira, 26 de novembro de 2009
A morte de um jovem e promissor intelectual
Humana, demasiada humana, mas chocante. É a história retratada na notícia publicada na edição de hoje do jornal Folha de São Paulo. Eu, que não o conheci pessoalmente, senti essa perda. Por outro lado, a forma como a morte foi noticiada é, para mim, um bom exemplo de um texto jornalístico de qualidade.
LUIS FERNANDO SCHUARTZ(1966-2009)
O jovem professor citado no rodapé por Habermas
ESTÊVÃO BERTONIDA
REPORTAGEM LOCAL
Aparecer numa notinha de rodapé enchia Luis Fernando Schuartz de orgulho. Não era por menos: seu nome está lá, no pé de página de um trabalho recente do filósofo alemão Jürgen Habermas.
A citação remete à tese que Luis apresentou na Alemanha em 1999, quando concluiu seu doutorado. Nela, critica conceitos do filósofo.Só que seus estudos lhe renderam mais dividendos.Recentemente, Luis pediu a Habermas uma carta de recomendação para uma bolsa que tentava. Não só foi atendido como chamado de brilhante pelo autor alemão.A aprovação da bolsa, pela Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), veio. Em janeiro do próximo ano, Luis pretendia se mudar para os Estados Unidos, onde dividiria um apartamento com um colega. Faria o pós-doutorado na Universidade Yale.Formado em direito pela PUC-SP em 1988, era atualmente professor da Escola de Direito da FGV (Fundação Getulio Vargas) no Rio.
O amigo Guilherme Leite Gonçalves, também professor, diz que Luis era muito preocupado em criar na faculdade de direito um espaço que fosse além do preparo dos alunos para o mercado de trabalho -sua vontade era que se produzisse mais ciência.Esportista, jogava muito bem futebol, adorava surfar e andar de bicicleta à noite, pois, muito estudioso, era o único tempo livre que tinha.Morreu domingo, aos 43. Segundo a família, teve uma morte súbita. Não deixa filhos.
LUIS FERNANDO SCHUARTZ(1966-2009)
O jovem professor citado no rodapé por Habermas
ESTÊVÃO BERTONIDA
REPORTAGEM LOCAL
Aparecer numa notinha de rodapé enchia Luis Fernando Schuartz de orgulho. Não era por menos: seu nome está lá, no pé de página de um trabalho recente do filósofo alemão Jürgen Habermas.
A citação remete à tese que Luis apresentou na Alemanha em 1999, quando concluiu seu doutorado. Nela, critica conceitos do filósofo.Só que seus estudos lhe renderam mais dividendos.Recentemente, Luis pediu a Habermas uma carta de recomendação para uma bolsa que tentava. Não só foi atendido como chamado de brilhante pelo autor alemão.A aprovação da bolsa, pela Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), veio. Em janeiro do próximo ano, Luis pretendia se mudar para os Estados Unidos, onde dividiria um apartamento com um colega. Faria o pós-doutorado na Universidade Yale.Formado em direito pela PUC-SP em 1988, era atualmente professor da Escola de Direito da FGV (Fundação Getulio Vargas) no Rio.
O amigo Guilherme Leite Gonçalves, também professor, diz que Luis era muito preocupado em criar na faculdade de direito um espaço que fosse além do preparo dos alunos para o mercado de trabalho -sua vontade era que se produzisse mais ciência.Esportista, jogava muito bem futebol, adorava surfar e andar de bicicleta à noite, pois, muito estudioso, era o único tempo livre que tinha.Morreu domingo, aos 43. Segundo a família, teve uma morte súbita. Não deixa filhos.
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quinta-feira, 19 de novembro de 2009
Lattes em nova roupagem
Notícia publicada no site do CNPq anuncia a mudança. Confira mais abaixo.
CNPq lança nova versão do Currículo Lattes
O CNPq lançou hoje (19) a nova versão do Currículo Lattes (CVLattes) com novas funcionalidades e amplas possibilidades de cruzamento de dados. O lançamento coincide com o aniversário de uma década da Plataforma Lattes.
O CNPq vem buscando aperfeiçoar essa ferramenta que já é conhecida por todos os pesquisadores brasileiros e se tornou um patrimônio da comunidade científica. Os últimos avanços estão sendo incorporados a essa nova versão que inclui a possibilidade de consulta às citações dos artigos publicados em revistas indexadas no Web of Science e que estejam registradas nos currículos com o DOI (Digital Object Identifier- um identificador digital único) correspondente. Para que isso fosse possível um acordo com a empresa Thomson&Reuters, administradora do Instituto para a Informação Científica (ISI), foi firmado há dois meses pela diretoria do CNPq. A base Web of Science é a mais relevante do mundo, cobrindo mais de 10 mil periódicos científicos desde 1954. Também foi firmado acordo com o Scielo, uma base com mais de 230 mil artigos registrados, que permitirá a recuperação das citações dos artigos registrados no Lattes. A base Scielo conta, atualmente, com mais de 600 periódicos científicos cadastrados.
Outra novidade é o acordo com a Receita Federal que permite a certificação dos dados da pessoa que se registra na base Lattes e deve impedir a introdução de currículos fantasmas. Além de conferir os dados no momento em que o currículo é criado, o CNPq já está fazendo uma varredura dos currículos já depositados na base Lattes para depurar os dados. O processo está se iniciando pelo segmento dos doutores. Para o professor Roberto Passetto Falcão, presidente da Comissão de Acompanhamento do Sistema de Currículos da Plataforma Lattes, a incorporação dos dados do ISI ao CVLattes acrescentará informações extremamente importantes para os usuários da Plataforma Lattes e para a comunidade científica. “A qualidade de um trabalho científico é avaliado indiretamente pelo periódico onde ele é publicado e pelo número de citações do artigo por outros cientistas que atuam na área do conhecimento do trabalho publicado. Este acordo com o ISI permitirá que estes aspectos estejam disponíveis quando se analisa o CV Lattes”, disse ele. Da mesma forma pensa o professor Antonio Martins Figueiredo Neto, membro da Comissão: “os acordos firmados aprimoram o CV Lattes de maneira profunda, dando tanto maior credibilidade quanto novos instrumentos de análise da produção científica ao usuário”. Figueiredo acredita que fraudes serão praticamente impossíveis com o novo sistema de certificação e só aumentará a credibilidade da ferramenta. “Além disso, o CV Lattes passará a ter uma inserção internacional quando parcela significativa dos currículos estiver disponível em Inglês. Esse trabalho vai auxiliar as entidades de fomento e governamentais do exterior a ter uma visão mais realista da comunidade científica brasileira”, finalizou.
O coordenador geral de Informática do CNPq e também membro da Comissão de Acompanhamento do Lattes, Geraldo Sorte, informou que outra funcionalidade interessante é a Rede de Colaboração, em que será possível visualizar graficamente a rede de co-autores de um pesquisador que tenham também o Currículo Lattes. “Esta rede é composta pelos outros pesquisadores que trabalharam em conjunto com o pesquisador em questão em co-autoria de artigos científicos”, esclareceu.
Sorte disse que outras modificações deverão ocorrer nos próximos meses no currículo, tais como acréscimos de campos e do módulo “Patentes e Registros”, alterações no layout e de navegabilidade, implementos de apoio ao usuário e alterações de ordem técnica, bem como detalhamento e validação de dados para maior segurança.
Sobre o Lattes
A Plataforma Lattes representa a experiência do CNPq na integração de bases de dados de currículos e de instituições da área de ciência e tecnologia em um único Sistema de Informações, cuja importância atual se estende, não só às atividades operacionais de fomento do CNPq, como também às ações de fomento de outras agências federais e estaduais.
Criada em 1999, contém, atualmente, mais de 1,5 milhão de currículos. Desse total, 120 mil, ou 8%, são currículos de pessoas com doutorado. Estão disponíveis informações relativas à educação formal, experiência profissional, áreas de pesquisa, projetos e linhas de pesquisa, artigos em periódicos, livros e capítulos publicados, produtos e patentes, produções artísticas e culturais, entre outras.
As informações do Currículo Lattes têm sido utilizadas por todas as agências de fomento, universidades e institutos e centros de pesquisas do Brasil para avaliar as propostas de financiamento para projetos de pesquisa. O banco de dados também é utilizado por estudantes para selecionar orientadores, assim como as instituições também a consultam para contratar consultores científicos ou assessores.
CNPq lança nova versão do Currículo Lattes
O CNPq lançou hoje (19) a nova versão do Currículo Lattes (CVLattes) com novas funcionalidades e amplas possibilidades de cruzamento de dados. O lançamento coincide com o aniversário de uma década da Plataforma Lattes.
O CNPq vem buscando aperfeiçoar essa ferramenta que já é conhecida por todos os pesquisadores brasileiros e se tornou um patrimônio da comunidade científica. Os últimos avanços estão sendo incorporados a essa nova versão que inclui a possibilidade de consulta às citações dos artigos publicados em revistas indexadas no Web of Science e que estejam registradas nos currículos com o DOI (Digital Object Identifier- um identificador digital único) correspondente. Para que isso fosse possível um acordo com a empresa Thomson&Reuters, administradora do Instituto para a Informação Científica (ISI), foi firmado há dois meses pela diretoria do CNPq. A base Web of Science é a mais relevante do mundo, cobrindo mais de 10 mil periódicos científicos desde 1954. Também foi firmado acordo com o Scielo, uma base com mais de 230 mil artigos registrados, que permitirá a recuperação das citações dos artigos registrados no Lattes. A base Scielo conta, atualmente, com mais de 600 periódicos científicos cadastrados.
Outra novidade é o acordo com a Receita Federal que permite a certificação dos dados da pessoa que se registra na base Lattes e deve impedir a introdução de currículos fantasmas. Além de conferir os dados no momento em que o currículo é criado, o CNPq já está fazendo uma varredura dos currículos já depositados na base Lattes para depurar os dados. O processo está se iniciando pelo segmento dos doutores. Para o professor Roberto Passetto Falcão, presidente da Comissão de Acompanhamento do Sistema de Currículos da Plataforma Lattes, a incorporação dos dados do ISI ao CVLattes acrescentará informações extremamente importantes para os usuários da Plataforma Lattes e para a comunidade científica. “A qualidade de um trabalho científico é avaliado indiretamente pelo periódico onde ele é publicado e pelo número de citações do artigo por outros cientistas que atuam na área do conhecimento do trabalho publicado. Este acordo com o ISI permitirá que estes aspectos estejam disponíveis quando se analisa o CV Lattes”, disse ele. Da mesma forma pensa o professor Antonio Martins Figueiredo Neto, membro da Comissão: “os acordos firmados aprimoram o CV Lattes de maneira profunda, dando tanto maior credibilidade quanto novos instrumentos de análise da produção científica ao usuário”. Figueiredo acredita que fraudes serão praticamente impossíveis com o novo sistema de certificação e só aumentará a credibilidade da ferramenta. “Além disso, o CV Lattes passará a ter uma inserção internacional quando parcela significativa dos currículos estiver disponível em Inglês. Esse trabalho vai auxiliar as entidades de fomento e governamentais do exterior a ter uma visão mais realista da comunidade científica brasileira”, finalizou.
O coordenador geral de Informática do CNPq e também membro da Comissão de Acompanhamento do Lattes, Geraldo Sorte, informou que outra funcionalidade interessante é a Rede de Colaboração, em que será possível visualizar graficamente a rede de co-autores de um pesquisador que tenham também o Currículo Lattes. “Esta rede é composta pelos outros pesquisadores que trabalharam em conjunto com o pesquisador em questão em co-autoria de artigos científicos”, esclareceu.
Sorte disse que outras modificações deverão ocorrer nos próximos meses no currículo, tais como acréscimos de campos e do módulo “Patentes e Registros”, alterações no layout e de navegabilidade, implementos de apoio ao usuário e alterações de ordem técnica, bem como detalhamento e validação de dados para maior segurança.
Sobre o Lattes
A Plataforma Lattes representa a experiência do CNPq na integração de bases de dados de currículos e de instituições da área de ciência e tecnologia em um único Sistema de Informações, cuja importância atual se estende, não só às atividades operacionais de fomento do CNPq, como também às ações de fomento de outras agências federais e estaduais.
Criada em 1999, contém, atualmente, mais de 1,5 milhão de currículos. Desse total, 120 mil, ou 8%, são currículos de pessoas com doutorado. Estão disponíveis informações relativas à educação formal, experiência profissional, áreas de pesquisa, projetos e linhas de pesquisa, artigos em periódicos, livros e capítulos publicados, produtos e patentes, produções artísticas e culturais, entre outras.
As informações do Currículo Lattes têm sido utilizadas por todas as agências de fomento, universidades e institutos e centros de pesquisas do Brasil para avaliar as propostas de financiamento para projetos de pesquisa. O banco de dados também é utilizado por estudantes para selecionar orientadores, assim como as instituições também a consultam para contratar consultores científicos ou assessores.
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quarta-feira, 11 de novembro de 2009
Nenhuma nudez será castigada.
Leia a matéria e assista ao vídeo mais abaixo, produzidos pelo site UOL. Alunas e alunos da UNB ficaram nus em solidariedade à Geisy, a aluna da UNIBAN que quase foi linchada por estar vestindo uma roupa um pouco mais curta que o usual.
Alunos da UnB tiram a roupa em apoio à Geisy Arruda
Da Redação*
Em São Paulo
Cerca de 250 alunos da UnB (Universidade de Brasília) fizeram protesto nesta quarta-feira (11) em apoio à estudante Geisy Arruda. Às 14h, cerca de 250 estudantes foram à reitoria da universidade nus ou com pouca roupa, em protesto à atitude considerada como "machista" dos estudantes da Uniban de São Bernardo do Campo (SP).Os manifestantes também entregaram reitor José Geraldo de Sousa Júnior um documento com reivindicações de políticas institucionais para a segurança da mulher na instituição
O grupo considera o caso de Geisy "absurdo" e o comparou com situações de preconceito e machismo registrados na UnB. Um exemplo citado durante a manifestação foram os atos de violência sexual ocorridos na universidade em abril deste ano."Todos os dias as mulheres e outras minorias sofrem agressões na universidade. São agressões verbais, falta de segurança e assédios por parte de professores e funcionários. Todas as minorias, aqui, estão vulneráveis e expostas", diz Luana Gaudad, 20 anos, estudante de serviço social e militante do Klaus, grupo da causa GLBT da UnB.
Alunos da UnB tiram a roupa em apoio à Geisy Arruda
Da Redação*
Em São Paulo
Cerca de 250 alunos da UnB (Universidade de Brasília) fizeram protesto nesta quarta-feira (11) em apoio à estudante Geisy Arruda. Às 14h, cerca de 250 estudantes foram à reitoria da universidade nus ou com pouca roupa, em protesto à atitude considerada como "machista" dos estudantes da Uniban de São Bernardo do Campo (SP).Os manifestantes também entregaram reitor José Geraldo de Sousa Júnior um documento com reivindicações de políticas institucionais para a segurança da mulher na instituição
O grupo considera o caso de Geisy "absurdo" e o comparou com situações de preconceito e machismo registrados na UnB. Um exemplo citado durante a manifestação foram os atos de violência sexual ocorridos na universidade em abril deste ano."Todos os dias as mulheres e outras minorias sofrem agressões na universidade. São agressões verbais, falta de segurança e assédios por parte de professores e funcionários. Todas as minorias, aqui, estão vulneráveis e expostas", diz Luana Gaudad, 20 anos, estudante de serviço social e militante do Klaus, grupo da causa GLBT da UnB.
quinta-feira, 18 de junho de 2009
O ProUni e as cotas: a avaliação de Elio Gaspari.
Gaspari: a cota de sucesso do ProUni
Na edição de hoje da Folha de São Paulo, um ótimo artigo do jornalista Elio Gaspari sobre o ProUni.
A DEMOFOBIA pedagógica perdeu mais uma para a teimosa insubordinação dos jovens pobres e negros. Ao longo dos últimos anos o elitismo convencional ensinou que, se um sistema de cotas levasse estudantes negros para as universidades públicas, eles não seriam capazes de acompanhar as aulas e acabariam fugindo das escolas. Lorota. Cinco anos de vigência das cotas na UFRJ e na Federal da Bahia ensinaram que os cotistas conseguem um desempenho médio equivalente ao dos demais estudantes, com menor taxa de evasão. Quando Nosso Guia criou o ProUni, abrindo o sistema de bolsas em faculdades privadas para jovens de baixa renda (põe baixa nisso, 1,5 salário mínimo per capita de renda familiar para a bolsa integral), com cotas para negros, foi acusado de nivelar por baixo o acesso ao ensino superior. De novo, especulou-se que os pobres, por serem pobres, teriam dificuldade para se manter nas escolas.
Os repórteres Denise Menchen e Antonio Gois contaram que, pela segunda vez em dois anos, o desempenho dos bolsistas do ProUni ficou acima da média dos demais estudantes que prestaram o Provão. Em 2004, os beneficiados foram cerca de 130 mil jovens que dificilmente chegariam ao ensino superior (45% dos bolsistas do ProUni são afrodescendentes, ou descendentes de escravos, para quem não gosta da expressão).
O DEM (ex-PFL) e a Confederação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino foram ao Supremo Tribunal Federal, arguindo a inconstitucionalidade dos mecanismos do ProUni. Sustentam que a preferência pelos estudantes pobres e as cotas para negros (igualmente pobres) ofendiam a noção segundo a qual todos são iguais perante a lei. O caso ainda não foi julgado pelo tribunal, mas já foi relatado pelo ministro Carlos Ayres Britto, em voto memorável. Ele lembrou um trecho da Oração aos Moços de Rui Barbosa: "Tratar com desigualdade a iguais, ou a desiguais com igualdade, seria desigualdade flagrante, e não igualdade real".
A "Oração aos Moços" é de 1921, quando Rui já prevalecera com sua contribuição abolicionista. A discussão em torno do sistema de acesso dos afrodescendentes às universidades teve a virtude de chamar a atenção para o passado e para a esplêndida produção historiográfica sobre a situação do negro brasileiro no final do século 19. Acaba de sair um livro exemplar dessa qualidade, é "O jogo da Dissimulação - Abolição e Cidadania Negra no Brasil", da professora Wlamyra de Albuquerque, da Federal da Bahia. Ela mostra o que foi o peso da cor. Dezesseis negros africanos que chegaram à Bahia em 1877 para comerciar foram deportados, apesar de serem súditos britânicos. Negros ingleses negros eram, e o Brasil não seria o lugar deles.
A professora Albuquerque transcreve em seu livro uma carta de escravos libertos endereçada a Rui Barbosa em 1889, um ano depois da Abolição. Nela havia um pleito, que demorou para começar a ser atendido, mas que o DEM e os donos de faculdades ainda lutam para derrubar:
"Nossos filhos jazem imersos em profundas trevas. É preciso esclarecê-los e guiá-los por meio da instrução".
A comissão pedia o cumprimento de uma lei de 1871 que prometia educação para os libertos. Mais de cem anos depois, iniciativas como o ProUni mostraram não só que isso era possível mas que, surgindo a oportunidade, a garotada faria bonito
Na edição de hoje da Folha de São Paulo, um ótimo artigo do jornalista Elio Gaspari sobre o ProUni.
A DEMOFOBIA pedagógica perdeu mais uma para a teimosa insubordinação dos jovens pobres e negros. Ao longo dos últimos anos o elitismo convencional ensinou que, se um sistema de cotas levasse estudantes negros para as universidades públicas, eles não seriam capazes de acompanhar as aulas e acabariam fugindo das escolas. Lorota. Cinco anos de vigência das cotas na UFRJ e na Federal da Bahia ensinaram que os cotistas conseguem um desempenho médio equivalente ao dos demais estudantes, com menor taxa de evasão. Quando Nosso Guia criou o ProUni, abrindo o sistema de bolsas em faculdades privadas para jovens de baixa renda (põe baixa nisso, 1,5 salário mínimo per capita de renda familiar para a bolsa integral), com cotas para negros, foi acusado de nivelar por baixo o acesso ao ensino superior. De novo, especulou-se que os pobres, por serem pobres, teriam dificuldade para se manter nas escolas.
Os repórteres Denise Menchen e Antonio Gois contaram que, pela segunda vez em dois anos, o desempenho dos bolsistas do ProUni ficou acima da média dos demais estudantes que prestaram o Provão. Em 2004, os beneficiados foram cerca de 130 mil jovens que dificilmente chegariam ao ensino superior (45% dos bolsistas do ProUni são afrodescendentes, ou descendentes de escravos, para quem não gosta da expressão).
O DEM (ex-PFL) e a Confederação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino foram ao Supremo Tribunal Federal, arguindo a inconstitucionalidade dos mecanismos do ProUni. Sustentam que a preferência pelos estudantes pobres e as cotas para negros (igualmente pobres) ofendiam a noção segundo a qual todos são iguais perante a lei. O caso ainda não foi julgado pelo tribunal, mas já foi relatado pelo ministro Carlos Ayres Britto, em voto memorável. Ele lembrou um trecho da Oração aos Moços de Rui Barbosa: "Tratar com desigualdade a iguais, ou a desiguais com igualdade, seria desigualdade flagrante, e não igualdade real".
A "Oração aos Moços" é de 1921, quando Rui já prevalecera com sua contribuição abolicionista. A discussão em torno do sistema de acesso dos afrodescendentes às universidades teve a virtude de chamar a atenção para o passado e para a esplêndida produção historiográfica sobre a situação do negro brasileiro no final do século 19. Acaba de sair um livro exemplar dessa qualidade, é "O jogo da Dissimulação - Abolição e Cidadania Negra no Brasil", da professora Wlamyra de Albuquerque, da Federal da Bahia. Ela mostra o que foi o peso da cor. Dezesseis negros africanos que chegaram à Bahia em 1877 para comerciar foram deportados, apesar de serem súditos britânicos. Negros ingleses negros eram, e o Brasil não seria o lugar deles.
A professora Albuquerque transcreve em seu livro uma carta de escravos libertos endereçada a Rui Barbosa em 1889, um ano depois da Abolição. Nela havia um pleito, que demorou para começar a ser atendido, mas que o DEM e os donos de faculdades ainda lutam para derrubar:
"Nossos filhos jazem imersos em profundas trevas. É preciso esclarecê-los e guiá-los por meio da instrução".
A comissão pedia o cumprimento de uma lei de 1871 que prometia educação para os libertos. Mais de cem anos depois, iniciativas como o ProUni mostraram não só que isso era possível mas que, surgindo a oportunidade, a garotada faria bonito
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quarta-feira, 17 de junho de 2009
Sobre o esvaziamento de algumas atividades acadêmicas na UFRN
Palestras, amplamente divulgadas e com custo altíssimo, para as quais comparecem dez pessoas. Eventos, como lançamentos de livros, restritos aos amigos do autor da obra. O esvaziamento das atividades, comentam alguns colegas, é crescente no Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes da UFRN. Há quem se aventure a longas digressões, com análises sofisticadas sobre a produção do conhecimento na pós-modernidade e firulas assemelhadas. Talvez, como dizem em Apodi, "o buraco seja mais embaixo". Quem sabe, não esteja na programação mesma das atividades e na ausência de sintonia com o que realmente as pessoas querem e fazem? Como assim? Ora, ainda temos atividades com grande comparecimento de público. Quais as suas características? No geral, são patrocinadas por grupos ou bases de pesquisas ancoradas em densas redes de relacionamentos. Ou, o que também deve se levar em conta, por professores que, carismáticos, contam com o apoio e a adesão dos seus alunos e colegas. No geral, atividades pretensamente grandiosas, cercadas de pompas ("abertura de semana disso ou aquilo", "conferência tal"...), estão condenadas ao ostracismo.
Deve-se levar em conta também o fato de que, com a entronização da lógica de avaliação de agências como CAPES e CNPq, o tempo nas universidades passa a ser regida pela instrumentabilidade. Ora, se são tantas as atividades ocorrendo ao mesmo tempo, as pessoas procurarão ir às atividades relacionadas com o que elas fazem. Vai ficando, portanto, distante aquele tempo em que um grande literato ou um historiador famoso proferiam palestras para alunos e professores de todo um centro. Hoje, apenas os pensadores mais inseridos (e incensados) nos mass media - um Maffesoli ou um Morin - atraem grandes públicos.
Talvez seja o momento de, como diria minha prima, "levantarmos alguns questionamentos" (minha prima gosta de levantamentos...). Penso em algumas perguntinhas simples. Palestras-comícios são realmente produtivas? Que efeitos produzem, além da auto-satisfação dos promotores? Uma "oficina de trabalho", na qual um pequeno grupo trabalho concentrado, não tem menor custo e mais ganhos?
Há ainda que se levar em conta o fato de que as diversas instâncias da instituição parecem que só se asseguram de sua existência se nos convocarem para uma reunião. Ocupe um cargo qualquer, coordenador de curso, por exemplo, e aí você vai ser convocado para trezentas reuniões. Cada pró-reitoria te quer em uma delas, cada colegiado também. Aí, pragmaticamente, você vai escolhendo àquelas que irá, do contrário não terá tempo nem para se coçar...
Deve-se levar em conta também o fato de que, com a entronização da lógica de avaliação de agências como CAPES e CNPq, o tempo nas universidades passa a ser regida pela instrumentabilidade. Ora, se são tantas as atividades ocorrendo ao mesmo tempo, as pessoas procurarão ir às atividades relacionadas com o que elas fazem. Vai ficando, portanto, distante aquele tempo em que um grande literato ou um historiador famoso proferiam palestras para alunos e professores de todo um centro. Hoje, apenas os pensadores mais inseridos (e incensados) nos mass media - um Maffesoli ou um Morin - atraem grandes públicos.
Talvez seja o momento de, como diria minha prima, "levantarmos alguns questionamentos" (minha prima gosta de levantamentos...). Penso em algumas perguntinhas simples. Palestras-comícios são realmente produtivas? Que efeitos produzem, além da auto-satisfação dos promotores? Uma "oficina de trabalho", na qual um pequeno grupo trabalho concentrado, não tem menor custo e mais ganhos?
Há ainda que se levar em conta o fato de que as diversas instâncias da instituição parecem que só se asseguram de sua existência se nos convocarem para uma reunião. Ocupe um cargo qualquer, coordenador de curso, por exemplo, e aí você vai ser convocado para trezentas reuniões. Cada pró-reitoria te quer em uma delas, cada colegiado também. Aí, pragmaticamente, você vai escolhendo àquelas que irá, do contrário não terá tempo nem para se coçar...
quinta-feira, 11 de setembro de 2008
O atraso na nossa produção de conhecimento
Notícia preocupante, publicada no Estadão de hoje.
País fica atrás em inovação, diz Bird
Estudo do Banco Mundial aponta que universidade é distante da indústria e que Brasil só adapta tecnologias
Simone Iwasso e Maria Rehder
O Brasil está ficando para trás na comparação com outros países em desenvolvimento quando se trata de produzir conhecimento novo e de convertê-lo em resultados práticos.
Leia a íntegra da entrevista com o pesquisador do Banco Mundial
A conclusão é de um estudo inédito do Banco Mundial (Bird), que será divulgado hoje em seminário promovido pela Fundação Lemann. Ele aponta os fatores da deficiência brasileira na área: ensino básico precário, que resulta em profissionais pouco qualificados, universidades distantes do setor produtivo e voltadas mais para conhecimento teórico do que prático e tradição de importar e adaptar tecnologias, em vez de criá-las.
“O Brasil está publicando pesquisas em um ritmo bastante aceitável, tendo hoje 2% dos artigos científicos de revistas e jornais internacionais. Mas o número de patentes é baixo, 0,18% das patentes internacionais são brasileiras”, explica Alberto Rodriguez, um dos principais autores, que está no País esta semana para lançar o estudo.
“Há a necessidade de que a pesquisa feita na universidade e nos laboratórios seja mais voltada para aplicações práticas e menos para a teoria. E há excessiva falta de investimento em pesquisa e desenvolvimento por parte do setor privado, que precisa se envolver mais.”
Segundo ele, enquanto outros países em desenvolvimento, como China, Índia e Coréia, estão se transformando em produtores de conhecimento graças a investimentos na formação de pesquisadores em áreas tecnológicas - e, com isso, alavancando suas economias -, o Brasil segue dependente de seus bens naturais, crescendo em um ritmo menor. “Apenas 19% dos estudantes de ensino superior no Brasil estão nas áreas de ciências e engenharias. No Chile são 33% e, na China, 53%”, afirma o relatório.
De acordo com levantamento feito pelo Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT) da Unesp com base em dados do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), as universidades hoje representam 0,78% do total de depositantes de patentes no País - que conta com cerca de 50 mil pesquisadores.
A assessora da pró-reitoria de pesquisa da Unesp, Tânia Regina de Luca, reconhece a necessidade de as universidades investirem em inovação para a sua incorporação pelo setor produtivo, além da transformação do conhecimento científico em conhecimento técnico e gerencial. “Não podemos negar que isso contribui para o crescimento econômico do País”, avalia. “Temos de manter relações próximas com as indústrias, mas não podemos deixar de lado a autonomia das universidades, a nossa preocupação é com o conhecimento pelo conhecimento, com a pesquisa livre, e às vezes a empresa está mais preocupada com a gestão do conhecimento para gerar lucro.”
Para Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), um dos motivos que explicam o descompasso entre indústria e academia é a falta de doutores trabalhando em pesquisa nas empresas. “A universidade muitas vezes não tem com quem dialogar na empresa porque ela não faz pesquisa e há poucos doutores”, avalia Cruz.
“Concordo com o relatório quando ele aponta que precisamos ter algumas universidades de excelência, com padrão de pesquisa internacional, e isso está na contramão da nossa política educacional, que não valoriza a excelência e prega a homogeneização”, afirma.
País fica atrás em inovação, diz Bird
Estudo do Banco Mundial aponta que universidade é distante da indústria e que Brasil só adapta tecnologias
Simone Iwasso e Maria Rehder
O Brasil está ficando para trás na comparação com outros países em desenvolvimento quando se trata de produzir conhecimento novo e de convertê-lo em resultados práticos.
Leia a íntegra da entrevista com o pesquisador do Banco Mundial
A conclusão é de um estudo inédito do Banco Mundial (Bird), que será divulgado hoje em seminário promovido pela Fundação Lemann. Ele aponta os fatores da deficiência brasileira na área: ensino básico precário, que resulta em profissionais pouco qualificados, universidades distantes do setor produtivo e voltadas mais para conhecimento teórico do que prático e tradição de importar e adaptar tecnologias, em vez de criá-las.
“O Brasil está publicando pesquisas em um ritmo bastante aceitável, tendo hoje 2% dos artigos científicos de revistas e jornais internacionais. Mas o número de patentes é baixo, 0,18% das patentes internacionais são brasileiras”, explica Alberto Rodriguez, um dos principais autores, que está no País esta semana para lançar o estudo.
“Há a necessidade de que a pesquisa feita na universidade e nos laboratórios seja mais voltada para aplicações práticas e menos para a teoria. E há excessiva falta de investimento em pesquisa e desenvolvimento por parte do setor privado, que precisa se envolver mais.”
Segundo ele, enquanto outros países em desenvolvimento, como China, Índia e Coréia, estão se transformando em produtores de conhecimento graças a investimentos na formação de pesquisadores em áreas tecnológicas - e, com isso, alavancando suas economias -, o Brasil segue dependente de seus bens naturais, crescendo em um ritmo menor. “Apenas 19% dos estudantes de ensino superior no Brasil estão nas áreas de ciências e engenharias. No Chile são 33% e, na China, 53%”, afirma o relatório.
De acordo com levantamento feito pelo Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT) da Unesp com base em dados do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), as universidades hoje representam 0,78% do total de depositantes de patentes no País - que conta com cerca de 50 mil pesquisadores.
A assessora da pró-reitoria de pesquisa da Unesp, Tânia Regina de Luca, reconhece a necessidade de as universidades investirem em inovação para a sua incorporação pelo setor produtivo, além da transformação do conhecimento científico em conhecimento técnico e gerencial. “Não podemos negar que isso contribui para o crescimento econômico do País”, avalia. “Temos de manter relações próximas com as indústrias, mas não podemos deixar de lado a autonomia das universidades, a nossa preocupação é com o conhecimento pelo conhecimento, com a pesquisa livre, e às vezes a empresa está mais preocupada com a gestão do conhecimento para gerar lucro.”
Para Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), um dos motivos que explicam o descompasso entre indústria e academia é a falta de doutores trabalhando em pesquisa nas empresas. “A universidade muitas vezes não tem com quem dialogar na empresa porque ela não faz pesquisa e há poucos doutores”, avalia Cruz.
“Concordo com o relatório quando ele aponta que precisamos ter algumas universidades de excelência, com padrão de pesquisa internacional, e isso está na contramão da nossa política educacional, que não valoriza a excelência e prega a homogeneização”, afirma.
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quinta-feira, 10 de julho de 2008
A Universidade está se tornando uma fábrica de doentes
Cobranças burocráticas, superposições de reuniões, predominância da avaliação quantitativa sobre a qualitativa, eis alguns dos males que rondam as nossas universidades e que estão tornando a dita atividade docente em algo desgastante e pouco prazeroso. O pior é que alguns poucos se matam e uma boa parte parasita e ganha pontos (já que tem tempo de sobra para preencher os formulários de registro de suas "produções"). E nunca se adoeceu tanto na universidade! Como tenho encontrando gente doente!
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