terça-feira, 28 de outubro de 2008

Mais análise sobre o resultado eleitoral

Reproduzo abaixo análise sobre o resultado das eleições feita por Alon Feurwecker (já falei, bem, dele aqui). Vale a pena ler. Acesse diretamente o blog dele aqui.

De olho nos estados (28/10)

Por Alon Feuerwerker
alonfeuerwerker.df@diariosassociados.com.br

Já se sabe há três semanas, desde o primeiro turno, que o PMDB sairia desta eleição como a jóia cobiçada da próxima. Mas qual será, afinal, o peso dos resultados municipais de 2008 na corrida presidencial de 2010? E a real importância das coligações partidárias numa eleição majoritária, especialmente na escolha do presidente da República, qual é? Quem conseguir arrastar o PMDB para uma aliança terá mesmo dado o passo decisivo para ficar imbatível na corrida pelo Palácio do Planalto? O que realmente quer o PMDB?

Vamos começar pelo fim. O PMDB quer poder, o máximo possível. Nesse particular, a legenda é igualzinha às outras. Tome-se a sucessão das Mesas do Congresso. Os deputados federais do PMDB desejam o comando da Câmara. Os senadores ambicionam a Presidência do Senado. O PT e o presidente da República acham que é demais entregar ambas as cadeiras ao aliado. Mas a proposta de partilha esbarra numa dificuldade.

Como já se escreveu nesta coluna, um pedaço do PMDB (senadores) não se vê representado pelo outro (deputados). Pior, os dois grupos disputam espaço internamente na legenda e na relação política com o governo. Quem abrir mão estará cedendo poder para o principal adversário. E, como o PMDB tem a maior bancada numa e noutra Casa, ambos se julgam no direito de manter a postulação.

Um acordo em 2007 entre o PT e o PMDB decidiu pelo rodízio na Câmara, e agora é a vez de Michel Temer (PMDB-SP). Mas o Senado, que não participou do pacto, acha que não tem nada com isso. E tecnicamente não tem mesmo. Além do mais, os senadores viram o acordo de 2007 como uma manobra do governo e do PT para enfraquecê-los.

Encontrei ontem, na sala de embarque do Aeroporto de Congonhas, um amigo gaúcho, petista. Conversa vai, ele quis saber por que acho difícil o acordo, ainda que não impossível. Respondi com um exemplo. Imagine a cena, disse eu. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chama o ministro Tarso Genro e dá a notícia: “Tarso, é o seguinte, vou te tirar do Ministério da Justiça e colocar o Olívio Dutra no teu lugar. É para atender às minhas conveniências políticas. Fica elas por elas, já que o partido não perde nada. Vou anunciar daqui a pouco. Você liga para o Olívio para combinar a transição?”.

Meu interlocutor naturalmente riu. E mudamos de assunto. Fomos para 2010. O papo chegou no ponto de que alianças políticas são importantes pois garantem tempo de televisão, mas não só. O Rio de Janeiro acaba de mostrar que alianças podem fazer a diferença em eleições muito apertadas. É bem possível que a disputa de 2010 seja dura, e quem agregar um pouquinho mais poderá obter vantagem decisiva. A capacidade de reunir apoios também é importante por outro motivo: serve para transmitir ao eleitor a idéia de que o candidato tem suficiente força política para colocar em prática as propostas apresentadas na campanha.

Sem perder de vista que numa eleição majoritária a relação é direta entre o candidato e o eleitor, recomenda-se não esquecer os detalhes do parágrafo anterior. E, já que apoios e alianças são mesmo importantes, o que vai ser decisivo em 2010 para o PMDB escolher se prefere casar, comprar uma bicicleta ou nenhuma das duas anteriores?

Mais do que pelo poder (que já tem, e bastante), o PMDB provavelmente se orientará daqui por diante pela expectativa de poder, até porque a Era Lula está nas últimas. E quem tem mais expectativa de poder a oferecer para 2010, o governo ou a oposição? O governo tem Lula, uma ótima avaliação e consideráveis chances de eleger o sucessor. A oposição tem bons nomes, força regional e espera que a sucessão não aconteça em céu de brigadeiro na economia.

O PMDB pode ir para um dos dois lados. Ou, como é próprio do partido, para nenhum. Uma alternativa é a legenda ficar novamente fora das coligações formais na disputa nacional, enquanto suas seções estaduais buscam o melhor caminho para preservar e robustecer o poder local. Onde, como se viu, o PMDB é especialista. E poder local é essencial para eleger bancadas federais.

Aqui, mais um detalhe. O PMDB ganhou em seis capitais. Em quatro delas, teve que derrotar o PT, ou nomes apoiados pelo PT. Em uma, recebeu o apoio do PT no segundo turno. Só em uma os dois partidos estiveram coligados desde o começo. Se o desenho das disputas estaduais em 2010 indicar muitas polarizações entre PT e PMDB, é bom Lula começar, e logo, a procurar em outro lugar o vice de Dilma Rousseff.

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