Maria Cazilda Batista Palhares tinha 44 anos quando foi assassinada, dentro de um ônibus, no dia 07 de setembro passado. Eram 06 horas da manhã e ela estava no transporte que a levaria para o trabalho de enfermeira no Pronto-Atendimento Infantil Sandra Celeste. Na semana seguinte ao ocorrido, o acontecimento mereceu algum destaque na imprensa local. Logo, outras acontecimentos trágicos eclipsaram a tragédia. Os motoristas de ônibus falaram em greve, a polícia fez algumas blitzes em transportes coletivos, e foi só. Logo o assunto desapareceu da pauta.
Qual o impacto do ocorrido no processo eleitoral que então estava de vento em popa? Nada ou quase nada. Assim como tiveram pouco impacto as mortes de jovens ocorridas durante toda a campanha. Falou-se de segurança pública, tá certo. Mas, oh Deus!, como se falou mal! Nada de significativamente distinto. Para além das bravatas demagógicas de sempre, o que restou?
Do lado esquerdo do arco político natalense, parece que o assunto não merece mesmo muita atenção. Nem agora, quando lambem as feridas da batalha perdida, os petistas pensam seriamente sobre uma temática que poderia ter levado a sua candidata a construir um canal de comunicação com a população que sofre o drama da insegurança urbana.
No dia 22 de julho, portanto muito antes da onça ser morta(para usar aqui uma figura mobilizada pelo Deputado Fernando Mineiro), chamei a atenção para a centralidade dessa temática. Quem quiser conferir, por favor acesse o texto Homicídios, tráfico de drogas e crise juvenil em Natal (RN): por que as candidaturas à prefeitura precisam se posicionar sobre essas questões. Destaco um tópico que eu escrevi:
Apoiado nessa perspectiva, entendo que um(a) candidato(a) ao governo municipal da cidade do Natal que realmente queira politizar o próximo processo eleitoral local não deveria temer enfrentar as questões que encimam este post. Até porque, reconheçamos, elas têm sido, pelo menos até aqui, monopólio dos demagogos e da direita tradicional. Talvez assim, quem sabe, teríamos a oportunidade de ouvir uma(o) candidata formulando o seguinte compromisso: “VAMOS DISPUTAR CADA CRIANÇA, ADOLESCENTE E JOVEM DESTA CIDADE QUE ESTEJA SOB INFLUÊNCIA DO TRÁFICO DE DROGAS!”.
Mas, então, por que essa aposta não foi feita? Por que se tratou tal mal da segurança pública. Por que a candidata do PT nãos saiu do lugar-comum? A minha intuição é o de que, além das dificuldades históricas da esquerda em formular algo de substantivo sobre a questão, existe um problema adicional: fincados no universo social da classe média, os políticos de esquerda têm tido dificuldades em entender o quanto a questão da segurança pública é prioritária para a maioria da população. Quem possui carro próprio não consegue muito bem entender o que é o medo de perder o seu pouco salário de auxiliar de pedreiro em um assalto na van que te leva do trabalho no final da sexta-feira. Ou: quem tem clínica particular para levar o filho que consome drogas não sabe o que é o drama de quem tem um ente querido viciado em crack, algumas vezes sem nenhum companheiro para ajudar a lidar com o drama, e só tem como recurso orar em alguma igreja para que os traficantes não o peguem por uma dívida não paga.
A campanha de Fátima tocou alguma vez nessas questões? Acho que não! Então, por favor, façam uma avaliação mais completa da derrota, oh teóricos da onça morta!
sexta-feira, 10 de outubro de 2008
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