Como previ, em artigo publicado neste blog em 27 de julho passado, intitulado Fátima Bezerra e Orestes Quércia: a semelhança é mera coincidência?, o PT não conseguiu levar a disputa pela prefeitura da cidade do Natal para o segundo turno. Também previ que o PT iria ficar de fora da Câmara Municipal. Não sou vidente, apenas tento fazer uma análise política minimamente racional. Tampouco comemoro o que aconteceu. Apenas tento entender esse desastre anunciado.
Só para refrescar a memória, transcrevo abaixo um pequeno trecho do que eu escrevi naquele momento:
“Fátima fez o estilo Geraldo Alkimim (eis aí outro paulista do interior a destronar a finesse paulistana): atropelou internamente os adversários e se impôs aos aliados. Mineiro, Rogério Marinho, Virginia e João Maia foram jogados de escanteio para que ela pudesse ser A CANDIDATA. “Jogou bem”, dizem-me, com indisfarçável orgulho, alguns amigos petistas. Pode até ser. Mas qual o preço que o PT pagará pela candidatura de Fátima? O partido teve que fechar uma aliança para a Câmara Municipal com o PMDB e o PSB. O que isso significa? Nunca nenhum candidato a vereador do PT ultrapassou os seis mil votos em Natal. Ora, esse é o número de votos alcançados pelos eleitos em último lugar nos dois partidos aliados. Assim, para garantir a candidatura de Fátima, o PT teve de entregar o seu histórico e cobiçado voto de legenda para ajudar, dentre outros, candidatos apanhados pela chamada ‘Operação Impacto’”.
Na crônica desse desastre, algumas questões não querem (e não podem) calar. Dentre elas, destaco: por que o PT do RN se curvou tão docilmente à ação de Fátima para ser candidata e aceitou patrocinar mais uma aventura eleitoral de uma candidata com alto índice de rejeição eleitoral? por que a articulaçao caciquista de Fátima, legitimando o discurso posterior do “acordão”, foi aceita passivamente pelo grupo dirigente do PT, a chamada “Articulação”? por que o núcleo dirigente do PT do RN decidiu rifar os seus vereadores para garantir mais uma malfadada aventura eleitoral de Fátima Bezerra?
Importa ressaltar, que, embora a derrota do PT na disputa pela Câmara Municipal seja gravíssima e de conseqüências imprevisíveis, ela é o resultado mais do que esperado da tática eleitoral comprada (ou seria vendida?) pela "Articulação". Com essa tática, o PT se descolou de uma fatia importante do seu eleitorado tradicional. Ora, ora, fazer campanha para Vereador do PT, na eleição que terminou, era, ao fim e ao cabo, carrear votos para uma coligação na qual sobressaiam alguns dos que foram pegos com a mão na botija pela “Operação Impacto”. Nesse quadro, a quem somava dois mais dois e queria garantir a presença de ao menos um vereador progressista na Câmara Municipal de Natal, só restava mesmo optar por um dos candidatos do PC do B. Assim, boas candidaturas, como as de Teresa e Vilma, foram condenadas no nascedouro pela esdrúxula aliança montada pelo PT.
Acovardada e sem vocação para ser dirigente, a Articulação do RN encontrou no mito da “união da base aliada” uma boa justificativa para a sua inação. Agora, no amargo da derrota, deve ser questionada sobre a sua responsabilidade política. Estivessémos em um contexto no qual os partidos funcionassem, esse grupo dirigente, por uma questão de compostura, renunciaria aos seus cargos na burocracia partidária.
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Um comentário:
Caro Edmilson,
cadu me falou hoje a respeito do teu blog. Os seus textos sobre as eleições municipais são legais. É preciso, apenas, ressaltar uma questão importante - a necessidade de renovação dos quadros do partido. Acredito, em minha vã ignorância que, sem isso, o PT vai ser totalmente engolido por aqui. Segue um texo que eu escrevi dois dias depois das eleições. Foi essa a maneira que encontrei de colocar a minha decepção para fora.
As últimas avaliações de membros da cúpula do PT sobre a derrota nas eleições municipais merecem, no mínimo, algumas análises. As teses levantadas são desenvolvidas em torno dos problemas sobre a coligação feita entre o PT / PMDB e PSB, falta de renovação política dos quadros do partido dos trabalhadores, a fraca atuação do marketing criado pelos publicitários da campanha e a imposição do nome da deputada Fátima Bezerra sem a prévia discussão do seu nome em âmbito local. É interessante refletir sobre cada uma delas.
Primeiro, não foi negativa a aliança desenvolvida pelos partidos coligados na “União por Natal”. Apoio foi importante. O problema foi a maneira como esses apoios foram canalizados, discutidos e utilizados no decorrer da campanha. As eleições das demais capitais mostraram que é preciso considerar o cenário local de um ambiente eleitoral. Federalizar uma eleição municipal, apesar de tentador pela simplicidade que apresenta, não resolve o problema. Será que apenas mostrar imagens televisivas dos caciques políticos, defendendo o voto a Fátima Bezerra resolveria a questão? As eleições mostraram, entre outras coisas, que tal medida não é suficiente. O apoio se processou como se Garibaldi e Vilma tivessem, “agora sim”, avalizando a campanha de Fátima Bezerra. Ocorre que Fátima construiu toda sua carreira política contra a necessidade desse aval das “forças políticas mais atrasadas do Estado”, como ela disse em outras campanhas. A estratégia desastrosa, ao invés de potencializar a candidatura da PTista, trouxe uma imagem de incoerência extremamente negativa.
Segundo, a eleição nos traz outras lições importantes. Em alguns momentos, é melhor investir em um candidato desconhecido do que descaracterizar uma imagem de uma política já consolidada. Daí a necessidade de renovação. Fátima Bezerra foi totalmente descaracterizada. Ela foi uma personalidade política que nunca se serviu do discurso de devoção à família ou da sua eficiência para conseguir recursos para Natal enquanto deputada. A imagem da candidata do PT nessas eleições parecia ter sido construída pela escritora inglesa de Frankestein – Mary Shelley.
Terceiro, a estratégia de Marketing desenvolvida pelo PT se apresentou como uma das campanhas publicitárias mais ridículas dos últimos tempos. Acredito que há questões sobre esse tema que só quem pode responder é o “brilhante” publicitário que promoveu a estratégia. Até hoje não entendo por “Agora Sim”? Fátima antes era uma despreparada que foi jogada na disputa eleitoral? Porque não explorar mais a aproximação da candidata do partido verde com os democratas, em especial, com o Senador Jose Agripino. Sua rejeição em Natal é alta. Não adianta tentar entender. Incompetência é incompetência! Ponto!
Quarto, a maneira “pouco” democrática, para não dizer totalitária, como Fátima impôs seu nome ao PT, sem dúvida enfraqueceu a militância e atentou contra uma das questões fundamentais do partido, que é sua democracia interna. Seria interessante que ela deixasse, pelo menos um pouquinho, de pressionar o PT em âmbito local, para assim permitir que novos quadros emirjam dos escombros que sobraram da sua derrota eleitoral.
Enfim, acredito que as explicações são válidas. O problema é que elas são fragmentadas. E são mobilizadas isoladamente por determinados grupos do partido para fazer valer as suas intenções. Todas contribuem para compreender a derrota e o enfraquecimento do PT na esfera estadual. Não dá para fazer política com amadorismo, produzindo, como dizia minha avó, a “papagaiada” que os publicitários e politiqueiras da campanha fizeram. É preciso saber tirar aquilo que os apoios podem proporcionar. Além disso, Fátima precisa deixar o partido “respirar” e renovar seus quadros. Novos nomes com carisma e com ética responsável devem surgir. Caso contrário, ele será engolido e a estrela vermelha irá deixar de brilhar por essas bandas.
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