Neste domingo, em meio ao processo eleitoral interno que escolherá as novas direções do partido, Lula reclamou dos correligionários:
"Eu não tenho mais ilusão quando se trata de disputas locais, por mais que a gente oriente as pessoas de que deve prevalecer é o projeto nacional, normalmente, o que tem acontecido é que cada um olha para o seu umbigo e prevalece as questões dos Estados. O que é importante é que se houver divergências dentro da base aliada nos Estados, isso não seja impeditivo para a ministra Dilma", disse Lula.
Pois é. O problema, para as cabeças pensantes da direção nacional do PT, é que, como diz um velho sábio acaciano, "a vida é local". As disputas nas quais as pessoas estão cotidianamente envolvidas dizem respeito, na maioria das vezes, aos estados e municípios. E a direção nacional do PT, embalada em projetos nacionais (supostos ou reais) desconsidera (ou atropela autoritariamente) as dinâmicas políticas regionais.
Ora, é claro que o projeto nacional é mais importante. Mas essa é uma "importância" que não é um dado natural, uma coisa dada. Só será importante na medida em que for hegemônica, isto é, ganhar a adesão e o apoio deliberado de todos.
Não é bem isso que vem ocorrendo. Lula, essa é a verdade, impôs a candidatura de Dilma. O PT, que outrora esbravejava e queria escolhas discutidas amplamente, aceitou de pronto. O milagre da unanimidade se fez no partido do conflito! Agora, Lula quer mais. Quer que todos se submetam ao "projeto maior". O problema é que (alguns) petistas podem até aceitar a candidatura de Dilma, mas daí a ir até ao ponto de abandonar os seus projetos e embarcar em uma candidatura com limitações políticas e eleitorais de monta, essa é uma outra história.
Peguemos um exemplo: o ministro Tarso Genro, primeiro lugar nas pesquisas para governador do Rio Grande do Sul, vai abandonar uma disputa com chances de vitória para se aliar ao PMDB local, inimigo histórico do PT gaucho, e apoiar o ex-governador Germano Rigotto? Tarso não tem vocação para kamikase... Mas é nele que Lula mira quando faz o comentário.
Em 2008, aqui no RN, tivemos uma filme com enredo parecido. Para viabilizar o apoio dos partidos da chamada "base aliada" (do Presidente) à sua candidatura à Prefeitura da cidade do Natal, Fátima Bezerra impôs um estupro ao PT municipal: a aliança nas eleições proporcionais com o PMDB e PSB. O resultado: o eleitor, que não é besta, percebeu que votando em um candidato do PT poderia estar elegendo, sei lá!, Dikson Nasser... O resultado todos sabem: o PT perdeu os mandatos que tinha na Câmara Municipal de Natal. Claro, claro, que tudo pode ser justificado em nome dos "grandes projetos"...
A postura de Lula é a tradução da Síndrome de Fátima Bezerra: para ganhar, sacrifiquemo-nos os outros. Para o azar de Lula, nem todos os petistas são tão obedientes quantos os do RN.
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segunda-feira, 23 de novembro de 2009
terça-feira, 18 de agosto de 2009
Fátima Bezerra me fez chorar
Eu estava em Apodi, há alguns dias, visitando familiares. Fui, com alguns deles, conhecer a unidade do IFET do município. Uma estrutura e tanto. Com capacidade para o bom desenvolvimento de atividades de ensino profissionalizante. Algo que, pelo impacto positivo que pode causar na juventude local, pode ser considerado revolucionário.
Lembrei-me, então, que quase uma dezena de unidades iguais aquela estão sendo inauguradas no RN. E, reconheçamos, esse resultado foi possível, em parte, pelo trabalho abnegado da Deputada Fátima Bezerra. A parlamentar tem feito da defesa da expansão dos antigos CEFETs mais do que uma bandeira de luta, muito mais!, tem tomado essa questão o centro de sua atuação nos últimos anos. E os ganhos serão colhidos nos próximos.
Não sou ingênuo - não tenho mais idade para isso! -, essa atuação, em parte, resvala para o que eu definiria como um certo "clientelismo de esquerda" - o parlamentar faz uma "parceria" com determinados setores e/ou instituições e passa a ser o seu "defensor". Em uma situação efetivamente republicana, convenhamos, essa intermediação seria não apenas dispensável, mas condenável do ponto de vista da construção da cidadania. Mas ainda estamos, por aqui, profundamente imersos nas relações de dádivas para que alcancemos aquele estado de coisas. Assim sendo, atuações focadas e "parcerias" como essas são justificadas.
Bom. Voltando ao IFET de Apodi, lembrei-me de um tempo, três décadas atrás, em que eu enfrentava diariamente vinte e quatro quilómetros de estrada de barro (e, em conseqüência, muita lama e atoleiro durante o inverno) e atravessava dois rios para chegar em uma escola que, no ensino médio, iria me formar como "técnico em escritório" (pois é, acredite!, sou técnico em escritório). A escola não possuía uma única máquina de escrever para os alunos treinarem algo que tivesse relação com a sua formação, como direi?, técnica. Três décadas depois, um IFET receberá os alunos do município e da redondeza com toda uma infra-estrutua para dar-lhes uma boa formação técnica. Nem nos meios devaneios, e confesso que os tive (e ainda tenho) muitos, pensei em algo assim.
Há umas duas semanas, recebo a notícia que me levou às lágrimas. Meu irmão mais novo (meu pai é um velho sertanejo que continuou a ter filhos até os setenta anos...), Evanildo, fora aprovado para o curso de Zootecnia do IFET de Apodi. A revolução que Fátima Bezerra ajudou a construir já começou e, para o meu regozijo, atingiu minha família. Chorei, sim. E agradeço a Deputada por isso.
PS: O post acima estava na minha máquina. Deixei-o salvo em word e fui para uma reunião em certo colegiado do qual participo por dever de ofício. Nessa reunião entrou em pauta um assunto que me colocou em choque com alguns "fatimistas". Tudo se passou, então, como se eu fosse um combatente anti-Fátima (coisa que efetivamente não sou, embora seja um crítico velado da sua desastrosa atuação nas eleições de Natal em 2008). Mas o que mais me chamou a atenção foi o comportamento da sua "militância". Nessas horas, para alguns deles, o insustentável torna-se "politicamente defensável". E defender princípios se torna "moralismo". E quem defende valores morais, claro!, vai para a caldeirinha fervente para onde devem ir todos os direitistas e conservadores.
Mas o melhor vem depois: de uma hora para outra, você se torna alvo de gente que mobiliza qualquer argumento para garantir a "vitória". Refiro-me a um questionamento meio velado a respeito de consultorias que eu teria feito para prefeitos corruptos (quem é o prefeito corrupto? Será que é quem eu estou pensando? Bueno, mas não é um aliado dos companheiros?). Em realidade, nunca trabalhei para prefeitura nenhuma. Prestei consultoria, sim, mas para empresas de consultoria que eram contratadas por prefeituras. Pensei em retrucar, mas deixei prá lá... Não estou em nenhuma cruzada e estava apenas questionando algo com que eu tinha minhas discordâncias. Não me moveu nenhuma bandeira, mas apenas uma questão de saúde e bem-estar pessoal: caso não o fizesse, iria ter ânsias de vômito depois...
Bom, o post está aí. E eu, cá no meu canto, ainda acho Fátima uma grande deputada. Com certeza, bem melhor do que a "política" Fátima revelada pelas eleições municipais do ano passado.
Lembrei-me, então, que quase uma dezena de unidades iguais aquela estão sendo inauguradas no RN. E, reconheçamos, esse resultado foi possível, em parte, pelo trabalho abnegado da Deputada Fátima Bezerra. A parlamentar tem feito da defesa da expansão dos antigos CEFETs mais do que uma bandeira de luta, muito mais!, tem tomado essa questão o centro de sua atuação nos últimos anos. E os ganhos serão colhidos nos próximos.
Não sou ingênuo - não tenho mais idade para isso! -, essa atuação, em parte, resvala para o que eu definiria como um certo "clientelismo de esquerda" - o parlamentar faz uma "parceria" com determinados setores e/ou instituições e passa a ser o seu "defensor". Em uma situação efetivamente republicana, convenhamos, essa intermediação seria não apenas dispensável, mas condenável do ponto de vista da construção da cidadania. Mas ainda estamos, por aqui, profundamente imersos nas relações de dádivas para que alcancemos aquele estado de coisas. Assim sendo, atuações focadas e "parcerias" como essas são justificadas.
Bom. Voltando ao IFET de Apodi, lembrei-me de um tempo, três décadas atrás, em que eu enfrentava diariamente vinte e quatro quilómetros de estrada de barro (e, em conseqüência, muita lama e atoleiro durante o inverno) e atravessava dois rios para chegar em uma escola que, no ensino médio, iria me formar como "técnico em escritório" (pois é, acredite!, sou técnico em escritório). A escola não possuía uma única máquina de escrever para os alunos treinarem algo que tivesse relação com a sua formação, como direi?, técnica. Três décadas depois, um IFET receberá os alunos do município e da redondeza com toda uma infra-estrutua para dar-lhes uma boa formação técnica. Nem nos meios devaneios, e confesso que os tive (e ainda tenho) muitos, pensei em algo assim.
Há umas duas semanas, recebo a notícia que me levou às lágrimas. Meu irmão mais novo (meu pai é um velho sertanejo que continuou a ter filhos até os setenta anos...), Evanildo, fora aprovado para o curso de Zootecnia do IFET de Apodi. A revolução que Fátima Bezerra ajudou a construir já começou e, para o meu regozijo, atingiu minha família. Chorei, sim. E agradeço a Deputada por isso.
PS: O post acima estava na minha máquina. Deixei-o salvo em word e fui para uma reunião em certo colegiado do qual participo por dever de ofício. Nessa reunião entrou em pauta um assunto que me colocou em choque com alguns "fatimistas". Tudo se passou, então, como se eu fosse um combatente anti-Fátima (coisa que efetivamente não sou, embora seja um crítico velado da sua desastrosa atuação nas eleições de Natal em 2008). Mas o que mais me chamou a atenção foi o comportamento da sua "militância". Nessas horas, para alguns deles, o insustentável torna-se "politicamente defensável". E defender princípios se torna "moralismo". E quem defende valores morais, claro!, vai para a caldeirinha fervente para onde devem ir todos os direitistas e conservadores.
Mas o melhor vem depois: de uma hora para outra, você se torna alvo de gente que mobiliza qualquer argumento para garantir a "vitória". Refiro-me a um questionamento meio velado a respeito de consultorias que eu teria feito para prefeitos corruptos (quem é o prefeito corrupto? Será que é quem eu estou pensando? Bueno, mas não é um aliado dos companheiros?). Em realidade, nunca trabalhei para prefeitura nenhuma. Prestei consultoria, sim, mas para empresas de consultoria que eram contratadas por prefeituras. Pensei em retrucar, mas deixei prá lá... Não estou em nenhuma cruzada e estava apenas questionando algo com que eu tinha minhas discordâncias. Não me moveu nenhuma bandeira, mas apenas uma questão de saúde e bem-estar pessoal: caso não o fizesse, iria ter ânsias de vômito depois...
Bom, o post está aí. E eu, cá no meu canto, ainda acho Fátima uma grande deputada. Com certeza, bem melhor do que a "política" Fátima revelada pelas eleições municipais do ano passado.
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quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009
Fátima, o PT e as eleições de 2010
Daniel Menezes, mestre em Ciências Sociais pela UFRN, brinda-me com a leitura deste blog. E aqui, quem lê e acompanha, tem todo o direito de participar e fazer as suas provocações. Assim, com prazer, transcrevo abaixo texto que o Daniel me enviou analisando o cenário eleitoral que começa a se desenhar para 2010. As respostas à provocação também terão espaço destacado.
ELA AINDA NÃO APRENDEU A LIÇÃO?
Daniel Menezes
Ao ler as declarações da deputada Fátima Bezerra sobre as eleições 2010, em que estabelece a intrínseca relação da disputa estadual à nacional, fiquei me perguntando se ela acredita mesmo no que fala ou está apenas brincando com a nossa cara. Uma das maiores lideranças do PT no RN defende, novamente, a ridícula simplificação do complexo processo eleitoral, resumindo tudo a uma questão de ligação da eleição estadual à federal. Será que ela ainda não aprendeu a lição?A deputada, quando o negócio é análise eleitoral, parece não ter o olfato político muito aguçado. É sempre bom lembrar que, durante as eleições municipais de 2008, Fátima, juntamente com uma parcela do Partido dos Trabalhadores, foram os responsáveis por uma estratégia de campanha pífia, alianças pessimamente construídas e uma tentativa totalmente descabida de anexar as eleições municipais à esfera federal. Esqueceram, simplesmente, que o contexto municipal segue regras relativamente autônomas de funcionamento. A indicação é relevante. Porém, os “astutos” analistas do PT esqueceram que ninguém é eleito só porque foi apontado por alguém, mesmo que o dedo venha da mão de um presidente com um alto índice de aprovação.As conseqüências do resultado das eleições municipais de 2008, que eram imprevisíveis naquele momento, começam a se consolidar. As bananas de pijama vermelho conseguiram perder todo o espaço na câmara, ficaram totalmente a mercê do vilmismo, que busca se aproximar de grupos conservadores, e destruíram anos de fortalecimento de uma imagem positiva que a esquerda havia construído no Rio Grande do Norte. Além disso, se o futuro da esquerda no RN depender das análises absurdas e das estratégias políticas sem nenhum amparo na realidade de Fátima Bezerra e dos desesperados apelos do deputado estadual Fernando Mineiro (PT) para ter seu partido ouvido na sucessão estadual, apesar do tom empregado por ele não expressar tal intenção, podemos ter a certeza de que o fim do poço ainda está bem longe e que a queda ainda durará um período indeterminado.
ELA AINDA NÃO APRENDEU A LIÇÃO?
Daniel Menezes
Ao ler as declarações da deputada Fátima Bezerra sobre as eleições 2010, em que estabelece a intrínseca relação da disputa estadual à nacional, fiquei me perguntando se ela acredita mesmo no que fala ou está apenas brincando com a nossa cara. Uma das maiores lideranças do PT no RN defende, novamente, a ridícula simplificação do complexo processo eleitoral, resumindo tudo a uma questão de ligação da eleição estadual à federal. Será que ela ainda não aprendeu a lição?A deputada, quando o negócio é análise eleitoral, parece não ter o olfato político muito aguçado. É sempre bom lembrar que, durante as eleições municipais de 2008, Fátima, juntamente com uma parcela do Partido dos Trabalhadores, foram os responsáveis por uma estratégia de campanha pífia, alianças pessimamente construídas e uma tentativa totalmente descabida de anexar as eleições municipais à esfera federal. Esqueceram, simplesmente, que o contexto municipal segue regras relativamente autônomas de funcionamento. A indicação é relevante. Porém, os “astutos” analistas do PT esqueceram que ninguém é eleito só porque foi apontado por alguém, mesmo que o dedo venha da mão de um presidente com um alto índice de aprovação.As conseqüências do resultado das eleições municipais de 2008, que eram imprevisíveis naquele momento, começam a se consolidar. As bananas de pijama vermelho conseguiram perder todo o espaço na câmara, ficaram totalmente a mercê do vilmismo, que busca se aproximar de grupos conservadores, e destruíram anos de fortalecimento de uma imagem positiva que a esquerda havia construído no Rio Grande do Norte. Além disso, se o futuro da esquerda no RN depender das análises absurdas e das estratégias políticas sem nenhum amparo na realidade de Fátima Bezerra e dos desesperados apelos do deputado estadual Fernando Mineiro (PT) para ter seu partido ouvido na sucessão estadual, apesar do tom empregado por ele não expressar tal intenção, podemos ter a certeza de que o fim do poço ainda está bem longe e que a queda ainda durará um período indeterminado.
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segunda-feira, 6 de outubro de 2008
O PT nas eleições de Natal: crônica de um desastre anunciado
Como previ, em artigo publicado neste blog em 27 de julho passado, intitulado Fátima Bezerra e Orestes Quércia: a semelhança é mera coincidência?, o PT não conseguiu levar a disputa pela prefeitura da cidade do Natal para o segundo turno. Também previ que o PT iria ficar de fora da Câmara Municipal. Não sou vidente, apenas tento fazer uma análise política minimamente racional. Tampouco comemoro o que aconteceu. Apenas tento entender esse desastre anunciado.
Só para refrescar a memória, transcrevo abaixo um pequeno trecho do que eu escrevi naquele momento:
“Fátima fez o estilo Geraldo Alkimim (eis aí outro paulista do interior a destronar a finesse paulistana): atropelou internamente os adversários e se impôs aos aliados. Mineiro, Rogério Marinho, Virginia e João Maia foram jogados de escanteio para que ela pudesse ser A CANDIDATA. “Jogou bem”, dizem-me, com indisfarçável orgulho, alguns amigos petistas. Pode até ser. Mas qual o preço que o PT pagará pela candidatura de Fátima? O partido teve que fechar uma aliança para a Câmara Municipal com o PMDB e o PSB. O que isso significa? Nunca nenhum candidato a vereador do PT ultrapassou os seis mil votos em Natal. Ora, esse é o número de votos alcançados pelos eleitos em último lugar nos dois partidos aliados. Assim, para garantir a candidatura de Fátima, o PT teve de entregar o seu histórico e cobiçado voto de legenda para ajudar, dentre outros, candidatos apanhados pela chamada ‘Operação Impacto’”.
Na crônica desse desastre, algumas questões não querem (e não podem) calar. Dentre elas, destaco: por que o PT do RN se curvou tão docilmente à ação de Fátima para ser candidata e aceitou patrocinar mais uma aventura eleitoral de uma candidata com alto índice de rejeição eleitoral? por que a articulaçao caciquista de Fátima, legitimando o discurso posterior do “acordão”, foi aceita passivamente pelo grupo dirigente do PT, a chamada “Articulação”? por que o núcleo dirigente do PT do RN decidiu rifar os seus vereadores para garantir mais uma malfadada aventura eleitoral de Fátima Bezerra?
Importa ressaltar, que, embora a derrota do PT na disputa pela Câmara Municipal seja gravíssima e de conseqüências imprevisíveis, ela é o resultado mais do que esperado da tática eleitoral comprada (ou seria vendida?) pela "Articulação". Com essa tática, o PT se descolou de uma fatia importante do seu eleitorado tradicional. Ora, ora, fazer campanha para Vereador do PT, na eleição que terminou, era, ao fim e ao cabo, carrear votos para uma coligação na qual sobressaiam alguns dos que foram pegos com a mão na botija pela “Operação Impacto”. Nesse quadro, a quem somava dois mais dois e queria garantir a presença de ao menos um vereador progressista na Câmara Municipal de Natal, só restava mesmo optar por um dos candidatos do PC do B. Assim, boas candidaturas, como as de Teresa e Vilma, foram condenadas no nascedouro pela esdrúxula aliança montada pelo PT.
Acovardada e sem vocação para ser dirigente, a Articulação do RN encontrou no mito da “união da base aliada” uma boa justificativa para a sua inação. Agora, no amargo da derrota, deve ser questionada sobre a sua responsabilidade política. Estivessémos em um contexto no qual os partidos funcionassem, esse grupo dirigente, por uma questão de compostura, renunciaria aos seus cargos na burocracia partidária.
Só para refrescar a memória, transcrevo abaixo um pequeno trecho do que eu escrevi naquele momento:
“Fátima fez o estilo Geraldo Alkimim (eis aí outro paulista do interior a destronar a finesse paulistana): atropelou internamente os adversários e se impôs aos aliados. Mineiro, Rogério Marinho, Virginia e João Maia foram jogados de escanteio para que ela pudesse ser A CANDIDATA. “Jogou bem”, dizem-me, com indisfarçável orgulho, alguns amigos petistas. Pode até ser. Mas qual o preço que o PT pagará pela candidatura de Fátima? O partido teve que fechar uma aliança para a Câmara Municipal com o PMDB e o PSB. O que isso significa? Nunca nenhum candidato a vereador do PT ultrapassou os seis mil votos em Natal. Ora, esse é o número de votos alcançados pelos eleitos em último lugar nos dois partidos aliados. Assim, para garantir a candidatura de Fátima, o PT teve de entregar o seu histórico e cobiçado voto de legenda para ajudar, dentre outros, candidatos apanhados pela chamada ‘Operação Impacto’”.
Na crônica desse desastre, algumas questões não querem (e não podem) calar. Dentre elas, destaco: por que o PT do RN se curvou tão docilmente à ação de Fátima para ser candidata e aceitou patrocinar mais uma aventura eleitoral de uma candidata com alto índice de rejeição eleitoral? por que a articulaçao caciquista de Fátima, legitimando o discurso posterior do “acordão”, foi aceita passivamente pelo grupo dirigente do PT, a chamada “Articulação”? por que o núcleo dirigente do PT do RN decidiu rifar os seus vereadores para garantir mais uma malfadada aventura eleitoral de Fátima Bezerra?
Importa ressaltar, que, embora a derrota do PT na disputa pela Câmara Municipal seja gravíssima e de conseqüências imprevisíveis, ela é o resultado mais do que esperado da tática eleitoral comprada (ou seria vendida?) pela "Articulação". Com essa tática, o PT se descolou de uma fatia importante do seu eleitorado tradicional. Ora, ora, fazer campanha para Vereador do PT, na eleição que terminou, era, ao fim e ao cabo, carrear votos para uma coligação na qual sobressaiam alguns dos que foram pegos com a mão na botija pela “Operação Impacto”. Nesse quadro, a quem somava dois mais dois e queria garantir a presença de ao menos um vereador progressista na Câmara Municipal de Natal, só restava mesmo optar por um dos candidatos do PC do B. Assim, boas candidaturas, como as de Teresa e Vilma, foram condenadas no nascedouro pela esdrúxula aliança montada pelo PT.
Acovardada e sem vocação para ser dirigente, a Articulação do RN encontrou no mito da “união da base aliada” uma boa justificativa para a sua inação. Agora, no amargo da derrota, deve ser questionada sobre a sua responsabilidade política. Estivessémos em um contexto no qual os partidos funcionassem, esse grupo dirigente, por uma questão de compostura, renunciaria aos seus cargos na burocracia partidária.
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sexta-feira, 1 de agosto de 2008
Fátima Bezerra e Orestes Quércia: a semelhança é mera coincidência? - republicação.
Atendendo a pedidos, republico um post (que está escondido em meio aos posts de julho) no qual analiso as eleições municipais de Natal (RN).
Setembro de 1986. Vivíamos as primeiras eleições livres para deputados, senadores e governadores de estado, após quase duas décadas de disputas garroteadas pelas legislações eleitorais fabricadas pela engenharia política dos Generais. Na ressaca das diretas, derrotadas por gente que hoje se distribui democraticamente por quase todos os partidos de nosso espectro político, o Colégio Eleitoral, no ano anterior, consagrara Tancredo Neves Presidente. Mas os deuses, brincalhões como sempre, tiraram a vida de Tancredo e nos empurraram Sarney, o vice, egresso da ARENA e do PDS. Naquele momento, o Plano Cruzado, intervenção macro-econômico de peso, que, dentre outras coisas, instituiu um controle de preços, traduzido popularmente nas figuras histéricas dos “fiscais do Sarney”, já começava a ruir. Mesmo assim, o PMDB, partido que encabeçara a Aliança Democrática (a conjunção de forças que levara a melhor sobre Maluf nas eleições indiretas), ainda se beneficiava dos efeitos positivos do Plano, em que pese o desabastecimento já começar a se sentir, especialmente nos setores de carnes e leite e derivados.
O PMDB ia bem em todo o país, menos em São Paulo. Na “locomotiva da federação”, o candidato peemedebista a governador, o então Senador Orestes Quércia, via-se abandonado até mesmo pelas candidaturas ao Senado do seu partido. Mário Covas e Fernando Henrique Cardozo, os candidatos, flertavam abertamente com Antônio Ermírio de Moraes, o nome do PTB na disputa ao governo paulista. Como diria hoje a minha enteada, a candidatura de Antônio Ermírio “bombava”. Para completar, artistas renomados declaravam apoio ao mega-empresário e ninguém menos do que Roberto Carlos era o seu garoto-propaganda na TV. Quércia já era conhecido pelo seu estilo tratorista de fazer política. Entre o seu estilo, desenvolvimentista (mas também demagógico e autoritário), e aquele do então governador paulista, Franco Montoro, mais apegado à idéias que se consagrariam somente duas décadas mais tarde (racionalização e enxugamento do Estado, respeito aos direitos humanos, responsabilidade fiscal, etc.), havia uma distância quilométrica. Não era, por certo, o candidato dos sonhos daquele grupo de peemedebistas que, três anos mais tarde, criariam o PSDB. Quércia era determinado. Impusera sua candidatura. O caipira da pequena Pedregulho derrotara internamente os engalanados doutores da capital. E estes davam o troco, mesmo que de forma velada, apoiando Antônio Ermírio.
As eleições, como todos lembram, ocorreriam no dia 15 de novembro. Em setembro restavam, portanto, menos de dois meses de campanha. E o cenário para Quércia não era nada animador. Lembro-me que o peemedebista aparecia na TV, falando com aquele seu sotaque carregado, tendo como fundo uma parede de tijolos aparentes. Pois bem, refletindo o clima da campanha, um grande jornal (ou revista, não me lembro bem) publicou uma charge na qual membros do partido vinham por trás do candidato e retiravam tijolos dessa parede.
Quércia tinha pouco tempo para a virada. E ele conseguiu. Uma feliz (para ele, obviamente) conjugação de eventos contribuiu para isso. O primeiro deles foi “Suplicy ficar fora do eixo”. O candidato do PT, Eduardo Suplicy, que, no ano anterior, obtivera uma grande votação (para os modestos padrões de voto do PT na primeira metade da década de oitenta) para prefeito de São Paulo, e, indiretamente ajudara a derrotar Fernando Henrique e eleger Jânio Quadros, perdia pontos a cada pesquisa. O petista crescera até o momento em que militantes do partido, ligados ao PCBR, realizaram um tresloucado assalto a uma agência bancária em Salvador (BA). Os paulistas começaram a fugir do então marido da Marta, e, este, com muita honestidade e pouco tino político, declarou-se em “crise existencial”. Para encontrar o seu “eixo”, pegou um livro de Paulo Coelho (“O Alquimista”) e foi se refugiar em alguma tranqüila montanha do interior. Os votos petistas deslizaram para Quércia. Um outro elemento decisivo foi um debate eleitoral ocorrido na televisão. Embora não se comunicasse tão bem quanto Maluf, outro candidato ao governo, pelo então PDS, Quércia era melhor comunicador do que Ermírio de Moraes. Mas o decisivo mesmo foi que, nesse debate, Antônio Ermírio, para mostrar o seu distanciamento de Maluf (isso era fundamental para conquistar a classe média, apoiadora de Covas e FHC), afirmou que jamais procurara Maluf no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista. Maluf, não sei se por coincidência, estava preparado: mostrou fotos de Antônio Ermírio em visitas ao Palácio e em animadas conversas com ele, Maluf. Quércia pegou a deixa e passou a se colocar como um “político sincero”. Tal como Suplicy, Antônio Ermírio perdeu o eixo (embora não tenha explicitado isso em público) e a sua candidatura desinflou de um dia para o outro. O terceiro fator, talvez o mais decisivo, foi a decisão política de Sarney, atendendo ao clamor do PMDB, de dar uma sobrevida ao Plano Cruzado e encenar a “prisão” de bois nos pastos para garantir o abastecimento de carne.
No início de novembro de 1986, covistas e fernandistas, resignados, voltavam ao regaço e declaravam juras de amor ao candidato do partido. Quércia disparou nas pesquisas e, no dia 15, venceu com folga a eleição. Para se vingar, mais aí já é outra história, quando no governo, tratou a pão e água a “quinta-coluna” peemedebista.
Quais as semelhanças entre Fátima Bezerra e Orestes Quércia? Vejamos. Fátima entrou em 2008 derrotada politicamente no PT. Seu agrupamento político perdera as eleições para os diretórios estadual e municipal de Natal. O grupo ligado ao Deputado Fernando Mineiro (a "Articulação") parecia, enfim, ter se livrado do convívio forçado e nada amistoso com o “pessoal da Fátima” no mesmo condomínio político (a direção do partido). E Mineiro pareceu pilotar sua nave política em céu de brigadeiro por alguns dias. Lançou-se pré-candidato e, em que pese a fragilidade estrutural do partido na capital (destroçado financeiramente), tinha alguma chance, se não de ganhar as eleições municipais, ao menos de “fazer o debate político” e deixar claro o que o PT propõe para a capital potiguar. Mas, Fátima, tal qual Quércia, sabe jogar e é persistente. Lançou um balão de ensaio, a candidatura de Vírginia Ferreira, e enquanto Mineiro se preparava para enfrentar a “novidade”, a deputada articulava, “por cima”, a união da base de apoio ao Governo Lula em torno do seu nome. O petismo, refém da balela de que as eleições municipais são decisivas para a governabilidade presidencial e para as eleições seguintes (essa proposição, lembremos, construiu em 2004 o desastre do Mensalão em 2005), deixou-se enredar pelo canto de sereia da união da base aliada. E em seu nome sacrificou tudo. Até a eleição de um representante na Câmara Municipal.
Fátima, como Quércia, foi beneficiada pelos erros de uns (a "Articulaçao" e a maioria dos petistas) e as espertezas de outros. Coloquemos entre os espertos alguns dos grandes jogadores políticos do RN neste momento (a Governadora Wilma de Faria, o Senador Garibaldi Filho e o prefeito de Natal, Carlo Eduardo Alves), os quais têm que jogar e estabelecer parcerias, mas não têm nenhuma confiança um nos outros. A candidatura de Vírginia, por exemplo, seria ideal para Carlos Eduardo, mas era inaceitável para Wilma e Garibaldi. Rogério Marinho, candidato de parte do wilmismo, era inaceitável para Carlos Eduardo. O PMDB, sem um nome forte, poderia até jogar com Micarla, mas aí não ficaria bem com o Palácio do Planalto, e Garibaldi, bom jogador que é, sabe que brigar com Lula é um desastre, especialmente tendo em vista sua ampla base de apoio no interior (que apóia Lula e, ao mesmo tempo, precisa da proximidade de um Presidente do Senado que é parceiro do presidente). Nesse quadro, Fátima surgiu como uma opção razoável. Como estão empenhados em embaralhar as cartas com vistas a 2010, os jogadores não podem se dar ao luxo de jogadas arriscadas. Precisam estar de bem com o Palácio do Planalto, e, ao mesmo tempo, não podem trabalhar com a hipótese do fortalecimento extraordinário de nenhum deles. Com a candidatura de Fátima, eles nem perdem e nem ganham. E, sejamos sinceros, Fátima sendo eleita ou não.
Espertos, os jogadores fizeram o acordo e ficaram esperando para vê no que ia dar. Na esperteza, foram arrogantes. Deixaram de fora nada menos do que o Presidente da Assembléia Legislativa, o deputado Robinson Faria, e João Maia, deputado federal do PR, que conta com uma base política em franco crescimento no interior do estado. E estes decidiram não vir a reboque. O que fazer? Na última hora, encontraram uma solução: Fátima abdicar da postulação em nome de João Maia. Mas aí já era tarde! Estávamos no último dia para as convenções partidárias, e o PT não aceitou mais essa re-arrumação. Fátima teve sangue-frio, manteve-se firme e pagou pra ver. Os outros recuaram e a sua candidatura foi confirmada.
Fátima fez o estilo Geraldo Alkimim (eis aí outro paulista do interior a destronar a finesse paulistana): atropelou internamente os adversários e se impôs aos aliados. Mineiro, Rogério Marinho, Virginia e João Maia foram jogados de escanteio para que ela pudesse ser A CANDIDATA. “Jogou bem”, dizem-me, com indisfarçável orgulho, alguns amigos petistas. Pode até ser. Mas qual o preço que o PT pagará pela candidatura de Fátima? O partido teve que fechar uma aliança para a Câmara Municipal com o PMDB e o PSB. O que isso significa? Nunca nenhum candidato a vereador do PT ultrapassou os seis mil votos em Natal. Ora, esse é o número de votos alcançados pelos eleitos em último lugar nos dois partidos aliados. Assim, para garantir a candidatura de Fátima, o PT teve de entregar o seu histórico e cobiçado voto de legenda para ajudar, dentre outros, candidatos apanhados pela chamada “Operação Impacto”. Teve mais: o PT aceitou o veto imposto por neo-aliados à aliança com o partido de Osório Jácome, vereador que tem tido uma atuação destacada e pontuada pela proposição de debates públicos substantivos. Osório, representante dos evangélicos progressistas, esperou até o último momento por uma aliança com o PT. Excluído, restou-lhe buscar espaço junto à coligação de Wolber Júnior.
Fátima está, neste final de julho, como Quércia estava em setembro de 1986. Com um diferencial positivo: não se conhece (pelo menos até agora!) um petismo quinta-coluna. Mineiro não se comportou como Covas e FHC em 1986. É um homem de partido (ainda existem esses, acredite!). Engoliu em seco a derrota e dedica-se à defesa da candidatura de Fátima com o ardor de um cristão-novo. Nos últimos dias, tal qual o César Maia nas últimas eleições presidenciais, faz cálculos criativos com base em pesquisas eleitorais francamente desfavoráveis para a sua candidata para mostrar à “militância” (sobre a existência dessa “entidade”, sim, tenho dúvidas) que é “possível uma virada”.
Com o que conta, então, a deputada petista para construir a sua virada? Com um “fato novo” em um debate? Micarla, a sua principal adversária e líder disparada nas pesquisas eleitorais no momento, é uma incógnita nesse quesito. À parte isso, o fato é que os próprios debates não têm o mesmo peso político das décadas anteriores. Com a popularidade e o apoio de Lula? As eleições municipais são sempre menos nacionais do que desejam os petistas. A “transferência de votos” do presidente deve ser, portanto, relativizada. Com o tempo na televisão? Fátima terá um horário eleitoral esticado (cerca de dez minutos, três a mais do que Micarla), mas tempo de sobra na TV nem sempre é um fator positivo. Nas eleições presidenciais de 1989, para tomar um exemplo, Aureliano Chaves, do PFL (atual DEM), dispunha do maior tempo no horário eleitoral. Abertas as urnas, tirou menos de dois por cento dos votos e ficou bem atrás de um candidato cujo tempo de TV era suficiente apenas para a verberação de um bordão: “meu nome é Enéas!”.
Por outro lado, a alta “taxa de alheamento do processo eleitoral” (em Natal quase 50% dos eleitores ainda não decidiram em quem votar nas próximas eleições) possibilita a emergência de cenários imprevisíveis. Mas, quem pode contar com o imponderável? Nas últimas eleições para prefeito na capital potiguar, um candidato que propunha a “construção de uma ponte ligando Natal a Ilha de Fernando de Noronha” (sic) obteve 20% dos votos. Os chamados “cacarecos” assomam sempre nesses momentos de indefinições.
Fátima, como Quércia, é persistente. E esse é um traço importante para quem se dispõe a jogar o jogo pesado das disputas eleitorais no Brasil. A sua candidatura atropelou muita gente e isso cria ressentimentos. Mas, como sabemos de há muito, os ressentimentos em política são facilmente superados com a perspectiva de proximidade com o poder. Até o final de agosto, Fátima precisa crescer nas pesquisas para, como Quércia no início de novembro de 1986, começar a contar com o retorno dos descontentes. Só assim poderá criar
Setembro de 1986. Vivíamos as primeiras eleições livres para deputados, senadores e governadores de estado, após quase duas décadas de disputas garroteadas pelas legislações eleitorais fabricadas pela engenharia política dos Generais. Na ressaca das diretas, derrotadas por gente que hoje se distribui democraticamente por quase todos os partidos de nosso espectro político, o Colégio Eleitoral, no ano anterior, consagrara Tancredo Neves Presidente. Mas os deuses, brincalhões como sempre, tiraram a vida de Tancredo e nos empurraram Sarney, o vice, egresso da ARENA e do PDS. Naquele momento, o Plano Cruzado, intervenção macro-econômico de peso, que, dentre outras coisas, instituiu um controle de preços, traduzido popularmente nas figuras histéricas dos “fiscais do Sarney”, já começava a ruir. Mesmo assim, o PMDB, partido que encabeçara a Aliança Democrática (a conjunção de forças que levara a melhor sobre Maluf nas eleições indiretas), ainda se beneficiava dos efeitos positivos do Plano, em que pese o desabastecimento já começar a se sentir, especialmente nos setores de carnes e leite e derivados.
O PMDB ia bem em todo o país, menos em São Paulo. Na “locomotiva da federação”, o candidato peemedebista a governador, o então Senador Orestes Quércia, via-se abandonado até mesmo pelas candidaturas ao Senado do seu partido. Mário Covas e Fernando Henrique Cardozo, os candidatos, flertavam abertamente com Antônio Ermírio de Moraes, o nome do PTB na disputa ao governo paulista. Como diria hoje a minha enteada, a candidatura de Antônio Ermírio “bombava”. Para completar, artistas renomados declaravam apoio ao mega-empresário e ninguém menos do que Roberto Carlos era o seu garoto-propaganda na TV. Quércia já era conhecido pelo seu estilo tratorista de fazer política. Entre o seu estilo, desenvolvimentista (mas também demagógico e autoritário), e aquele do então governador paulista, Franco Montoro, mais apegado à idéias que se consagrariam somente duas décadas mais tarde (racionalização e enxugamento do Estado, respeito aos direitos humanos, responsabilidade fiscal, etc.), havia uma distância quilométrica. Não era, por certo, o candidato dos sonhos daquele grupo de peemedebistas que, três anos mais tarde, criariam o PSDB. Quércia era determinado. Impusera sua candidatura. O caipira da pequena Pedregulho derrotara internamente os engalanados doutores da capital. E estes davam o troco, mesmo que de forma velada, apoiando Antônio Ermírio.
As eleições, como todos lembram, ocorreriam no dia 15 de novembro. Em setembro restavam, portanto, menos de dois meses de campanha. E o cenário para Quércia não era nada animador. Lembro-me que o peemedebista aparecia na TV, falando com aquele seu sotaque carregado, tendo como fundo uma parede de tijolos aparentes. Pois bem, refletindo o clima da campanha, um grande jornal (ou revista, não me lembro bem) publicou uma charge na qual membros do partido vinham por trás do candidato e retiravam tijolos dessa parede.
Quércia tinha pouco tempo para a virada. E ele conseguiu. Uma feliz (para ele, obviamente) conjugação de eventos contribuiu para isso. O primeiro deles foi “Suplicy ficar fora do eixo”. O candidato do PT, Eduardo Suplicy, que, no ano anterior, obtivera uma grande votação (para os modestos padrões de voto do PT na primeira metade da década de oitenta) para prefeito de São Paulo, e, indiretamente ajudara a derrotar Fernando Henrique e eleger Jânio Quadros, perdia pontos a cada pesquisa. O petista crescera até o momento em que militantes do partido, ligados ao PCBR, realizaram um tresloucado assalto a uma agência bancária em Salvador (BA). Os paulistas começaram a fugir do então marido da Marta, e, este, com muita honestidade e pouco tino político, declarou-se em “crise existencial”. Para encontrar o seu “eixo”, pegou um livro de Paulo Coelho (“O Alquimista”) e foi se refugiar em alguma tranqüila montanha do interior. Os votos petistas deslizaram para Quércia. Um outro elemento decisivo foi um debate eleitoral ocorrido na televisão. Embora não se comunicasse tão bem quanto Maluf, outro candidato ao governo, pelo então PDS, Quércia era melhor comunicador do que Ermírio de Moraes. Mas o decisivo mesmo foi que, nesse debate, Antônio Ermírio, para mostrar o seu distanciamento de Maluf (isso era fundamental para conquistar a classe média, apoiadora de Covas e FHC), afirmou que jamais procurara Maluf no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista. Maluf, não sei se por coincidência, estava preparado: mostrou fotos de Antônio Ermírio em visitas ao Palácio e em animadas conversas com ele, Maluf. Quércia pegou a deixa e passou a se colocar como um “político sincero”. Tal como Suplicy, Antônio Ermírio perdeu o eixo (embora não tenha explicitado isso em público) e a sua candidatura desinflou de um dia para o outro. O terceiro fator, talvez o mais decisivo, foi a decisão política de Sarney, atendendo ao clamor do PMDB, de dar uma sobrevida ao Plano Cruzado e encenar a “prisão” de bois nos pastos para garantir o abastecimento de carne.
No início de novembro de 1986, covistas e fernandistas, resignados, voltavam ao regaço e declaravam juras de amor ao candidato do partido. Quércia disparou nas pesquisas e, no dia 15, venceu com folga a eleição. Para se vingar, mais aí já é outra história, quando no governo, tratou a pão e água a “quinta-coluna” peemedebista.
Quais as semelhanças entre Fátima Bezerra e Orestes Quércia? Vejamos. Fátima entrou em 2008 derrotada politicamente no PT. Seu agrupamento político perdera as eleições para os diretórios estadual e municipal de Natal. O grupo ligado ao Deputado Fernando Mineiro (a "Articulação") parecia, enfim, ter se livrado do convívio forçado e nada amistoso com o “pessoal da Fátima” no mesmo condomínio político (a direção do partido). E Mineiro pareceu pilotar sua nave política em céu de brigadeiro por alguns dias. Lançou-se pré-candidato e, em que pese a fragilidade estrutural do partido na capital (destroçado financeiramente), tinha alguma chance, se não de ganhar as eleições municipais, ao menos de “fazer o debate político” e deixar claro o que o PT propõe para a capital potiguar. Mas, Fátima, tal qual Quércia, sabe jogar e é persistente. Lançou um balão de ensaio, a candidatura de Vírginia Ferreira, e enquanto Mineiro se preparava para enfrentar a “novidade”, a deputada articulava, “por cima”, a união da base de apoio ao Governo Lula em torno do seu nome. O petismo, refém da balela de que as eleições municipais são decisivas para a governabilidade presidencial e para as eleições seguintes (essa proposição, lembremos, construiu em 2004 o desastre do Mensalão em 2005), deixou-se enredar pelo canto de sereia da união da base aliada. E em seu nome sacrificou tudo. Até a eleição de um representante na Câmara Municipal.
Fátima, como Quércia, foi beneficiada pelos erros de uns (a "Articulaçao" e a maioria dos petistas) e as espertezas de outros. Coloquemos entre os espertos alguns dos grandes jogadores políticos do RN neste momento (a Governadora Wilma de Faria, o Senador Garibaldi Filho e o prefeito de Natal, Carlo Eduardo Alves), os quais têm que jogar e estabelecer parcerias, mas não têm nenhuma confiança um nos outros. A candidatura de Vírginia, por exemplo, seria ideal para Carlos Eduardo, mas era inaceitável para Wilma e Garibaldi. Rogério Marinho, candidato de parte do wilmismo, era inaceitável para Carlos Eduardo. O PMDB, sem um nome forte, poderia até jogar com Micarla, mas aí não ficaria bem com o Palácio do Planalto, e Garibaldi, bom jogador que é, sabe que brigar com Lula é um desastre, especialmente tendo em vista sua ampla base de apoio no interior (que apóia Lula e, ao mesmo tempo, precisa da proximidade de um Presidente do Senado que é parceiro do presidente). Nesse quadro, Fátima surgiu como uma opção razoável. Como estão empenhados em embaralhar as cartas com vistas a 2010, os jogadores não podem se dar ao luxo de jogadas arriscadas. Precisam estar de bem com o Palácio do Planalto, e, ao mesmo tempo, não podem trabalhar com a hipótese do fortalecimento extraordinário de nenhum deles. Com a candidatura de Fátima, eles nem perdem e nem ganham. E, sejamos sinceros, Fátima sendo eleita ou não.
Espertos, os jogadores fizeram o acordo e ficaram esperando para vê no que ia dar. Na esperteza, foram arrogantes. Deixaram de fora nada menos do que o Presidente da Assembléia Legislativa, o deputado Robinson Faria, e João Maia, deputado federal do PR, que conta com uma base política em franco crescimento no interior do estado. E estes decidiram não vir a reboque. O que fazer? Na última hora, encontraram uma solução: Fátima abdicar da postulação em nome de João Maia. Mas aí já era tarde! Estávamos no último dia para as convenções partidárias, e o PT não aceitou mais essa re-arrumação. Fátima teve sangue-frio, manteve-se firme e pagou pra ver. Os outros recuaram e a sua candidatura foi confirmada.
Fátima fez o estilo Geraldo Alkimim (eis aí outro paulista do interior a destronar a finesse paulistana): atropelou internamente os adversários e se impôs aos aliados. Mineiro, Rogério Marinho, Virginia e João Maia foram jogados de escanteio para que ela pudesse ser A CANDIDATA. “Jogou bem”, dizem-me, com indisfarçável orgulho, alguns amigos petistas. Pode até ser. Mas qual o preço que o PT pagará pela candidatura de Fátima? O partido teve que fechar uma aliança para a Câmara Municipal com o PMDB e o PSB. O que isso significa? Nunca nenhum candidato a vereador do PT ultrapassou os seis mil votos em Natal. Ora, esse é o número de votos alcançados pelos eleitos em último lugar nos dois partidos aliados. Assim, para garantir a candidatura de Fátima, o PT teve de entregar o seu histórico e cobiçado voto de legenda para ajudar, dentre outros, candidatos apanhados pela chamada “Operação Impacto”. Teve mais: o PT aceitou o veto imposto por neo-aliados à aliança com o partido de Osório Jácome, vereador que tem tido uma atuação destacada e pontuada pela proposição de debates públicos substantivos. Osório, representante dos evangélicos progressistas, esperou até o último momento por uma aliança com o PT. Excluído, restou-lhe buscar espaço junto à coligação de Wolber Júnior.
Fátima está, neste final de julho, como Quércia estava em setembro de 1986. Com um diferencial positivo: não se conhece (pelo menos até agora!) um petismo quinta-coluna. Mineiro não se comportou como Covas e FHC em 1986. É um homem de partido (ainda existem esses, acredite!). Engoliu em seco a derrota e dedica-se à defesa da candidatura de Fátima com o ardor de um cristão-novo. Nos últimos dias, tal qual o César Maia nas últimas eleições presidenciais, faz cálculos criativos com base em pesquisas eleitorais francamente desfavoráveis para a sua candidata para mostrar à “militância” (sobre a existência dessa “entidade”, sim, tenho dúvidas) que é “possível uma virada”.
Com o que conta, então, a deputada petista para construir a sua virada? Com um “fato novo” em um debate? Micarla, a sua principal adversária e líder disparada nas pesquisas eleitorais no momento, é uma incógnita nesse quesito. À parte isso, o fato é que os próprios debates não têm o mesmo peso político das décadas anteriores. Com a popularidade e o apoio de Lula? As eleições municipais são sempre menos nacionais do que desejam os petistas. A “transferência de votos” do presidente deve ser, portanto, relativizada. Com o tempo na televisão? Fátima terá um horário eleitoral esticado (cerca de dez minutos, três a mais do que Micarla), mas tempo de sobra na TV nem sempre é um fator positivo. Nas eleições presidenciais de 1989, para tomar um exemplo, Aureliano Chaves, do PFL (atual DEM), dispunha do maior tempo no horário eleitoral. Abertas as urnas, tirou menos de dois por cento dos votos e ficou bem atrás de um candidato cujo tempo de TV era suficiente apenas para a verberação de um bordão: “meu nome é Enéas!”.
Por outro lado, a alta “taxa de alheamento do processo eleitoral” (em Natal quase 50% dos eleitores ainda não decidiram em quem votar nas próximas eleições) possibilita a emergência de cenários imprevisíveis. Mas, quem pode contar com o imponderável? Nas últimas eleições para prefeito na capital potiguar, um candidato que propunha a “construção de uma ponte ligando Natal a Ilha de Fernando de Noronha” (sic) obteve 20% dos votos. Os chamados “cacarecos” assomam sempre nesses momentos de indefinições.
Fátima, como Quércia, é persistente. E esse é um traço importante para quem se dispõe a jogar o jogo pesado das disputas eleitorais no Brasil. A sua candidatura atropelou muita gente e isso cria ressentimentos. Mas, como sabemos de há muito, os ressentimentos em política são facilmente superados com a perspectiva de proximidade com o poder. Até o final de agosto, Fátima precisa crescer nas pesquisas para, como Quércia no início de novembro de 1986, começar a contar com o retorno dos descontentes. Só assim poderá criar
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domingo, 27 de julho de 2008
Fátima Bezerra e Orestes Quércia: a semelhança é mera coincidência?
Setembro de 1986. Vivíamos as primeiras eleições livres para deputados, senadores e governadores de estado, após quase duas décadas de disputas garroteadas pelas legislações eleitorais fabricadas pela engenharia política dos Generais. Na ressaca das diretas, derrotadas por gente que hoje se distribui democraticamente por quase todos os partidos de nosso espectro político, o Colégio Eleitoral, no ano anterior, consagrara Tancredo Neves Presidente. Mas os deuses, brincalhões como sempre, tiraram a vida de Tancredo e nos empurraram Sarney, o vice, egresso da ARENA e do PDS. Naquele momento, o Plano Cruzado, intervenção macro-econômico de peso, que, dentre outras coisas, instituiu um controle de preços, traduzido popularmente nas figuras histéricas dos “fiscais do Sarney”, já começava a ruir. Mesmo assim, o PMDB, partido que encabeçara a Aliança Democrática (a conjunção de forças que levara a melhor sobre Maluf nas eleições indiretas), ainda se beneficiava dos efeitos positivos do Plano, em que pese o desabastecimento já começar a se sentir, especialmente nos setores de carnes e leite e derivados.
O PMDB ia bem em todo o país, menos em São Paulo. Na “locomotiva da federação”, o candidato peemedebista a governador, o então Senador Orestes Quércia, via-se abandonado até mesmo pelas candidaturas ao Senado do seu partido. Mário Covas e Fernando Henrique Cardozo, os candidatos, flertavam abertamente com Antônio Ermírio de Moraes, o nome do PTB na disputa ao governo paulista. Como diria hoje a minha enteada, a candidatura de Antônio Ermírio “bombava”. Para completar, artistas renomados declaravam apoio ao mega-empresário e ninguém menos do que Roberto Carlos era o seu garoto-propaganda na TV. Quércia já era conhecido pelo seu estilo tratorista de fazer política. Entre o seu estilo, desenvolvimentista (mas também demagógico e autoritário), e aquele do então governador paulista, Franco Montoro, mais apegado à idéias que se consagrariam somente duas décadas mais tarde (racionalização e enxugamento do Estado, respeito aos direitos humanos, responsabilidade fiscal, etc.), havia uma distância quilométrica. Não era, por certo, o candidato dos sonhos daquele grupo de peemedebistas que, três anos mais tarde, criariam o PSDB. Quércia era determinado. Impusera sua candidatura. O caipira da pequena Pedregulho derrotara internamente os engalanados doutores da capital. E estes davam o troco, mesmo que de forma velada, apoiando Antônio Ermírio.
As eleições, como todos lembram, ocorreriam no dia 15 de novembro. Em setembro restavam, portanto, menos de dois meses de campanha. E o cenário para Quércia não era nada animador. Lembro-me que o peemedebista aparecia na TV, falando com aquele seu sotaque carregado, tendo como fundo uma parede de tijolos aparentes. Pois bem, refletindo o clima da campanha, um grande jornal (ou revista, não me lembro bem) publicou uma charge na qual membros do partido vinham por trás do candidato e retiravam tijolos dessa parede.
Quércia tinha pouco tempo para a virada. E ele conseguiu. Uma feliz (para ele, obviamente) conjugação de eventos contribuiu para isso. O primeiro deles foi “Suplicy ficar fora do eixo”. O candidato do PT, Eduardo Suplicy, que, no ano anterior, obtivera uma grande votação (para os modestos padrões de voto do PT na primeira metade da década de oitenta) para prefeito de São Paulo, e, indiretamente ajudara a derrotar Fernando Henrique e eleger Jânio Quadros, perdia pontos a cada pesquisa. O petista crescera até o momento em que militantes do partido, ligados ao PCBR, realizaram um tresloucado assalto a uma agência bancária em Salvador (BA). Os paulistas começaram a fugir do então marido da Marta, e, este, com muita honestidade e pouco tino político, declarou-se em “crise existencial”. Para encontrar o seu “eixo”, pegou um livro de Paulo Coelho (“O Alquimista”) e foi se refugiar em alguma tranqüila montanha do interior. Os votos petistas deslizaram para Quércia. Um outro elemento decisivo foi um debate eleitoral ocorrido na televisão. Embora não se comunicasse tão bem quanto Maluf, outro candidato ao governo, pelo então PDS, Quércia era melhor comunicador do que Ermírio de Moraes. Mas o decisivo mesmo foi que, nesse debate, Antônio Ermírio, para mostrar o seu distanciamento de Maluf (isso era fundamental para conquistar a classe média, apoiadora de Covas e FHC), afirmou que jamais procurara Maluf no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista. Maluf, não sei se por coincidência, estava preparado: mostrou fotos de Antônio Ermírio em visitas ao Palácio e em animadas conversas com ele, Maluf. Quércia pegou a deixa e passou a se colocar como um “político sincero”. Tal como Suplicy, Antônio Ermírio perdeu o eixo (embora não tenha explicitado isso em público) e a sua candidatura desinflou de um dia para o outro. O terceiro fator, talvez o mais decisivo, foi a decisão política de Sarney, atendendo ao clamor do PMDB, de dar uma sobrevida ao Plano Cruzado e encenar a “prisão” de bois nos pastos para garantir o abastecimento de carne.
No início de novembro de 1986, covistas e fernandistas, resignados, voltavam ao regaço e declaravam juras de amor ao candidato do partido. Quércia disparou nas pesquisas e, no dia 15, venceu com folga a eleição. Para se vingar, mais aí já é outra história, quando no governo, tratou a pão e água a “quinta-coluna” peemedebista.
Quais as semelhanças entre Fátima Bezerra e Orestes Quércia? Vejamos. Fátima entrou em 2008 derrotada politicamente no PT. Seu agrupamento político perdera as eleições para os diretórios estadual e municipal de Natal. O grupo ligado ao Deputado Fernando Mineiro (a "Articulação") parecia, enfim, ter se livrado do convívio forçado e nada amistoso com o “pessoal da Fátima” no mesmo condomínio político (a direção do partido). E Mineiro pareceu pilotar sua nave política em céu de brigadeiro por alguns dias. Lançou-se pré-candidato e, em que pese a fragilidade estrutural do partido na capital (destroçado financeiramente), tinha alguma chance, se não de ganhar as eleições municipais, ao menos de “fazer o debate político” e deixar claro o que o PT propõe para a capital potiguar. Mas, Fátima, tal qual Quércia, sabe jogar e é persistente. Lançou um balão de ensaio, a candidatura de Vírginia Ferreira, e enquanto Mineiro se preparava para enfrentar a “novidade”, a deputada articulava, “por cima”, a união da base de apoio ao Governo Lula em torno do seu nome. O petismo, refém da balela de que as eleições municipais são decisivas para a governabilidade presidencial e para as eleições seguintes (essa proposição, lembremos, construiu em 2004 o desastre do Mensalão em 2005), deixou-se enredar pelo canto de sereia da união da base aliada. E em seu nome sacrificou tudo. Até a eleição de um representante na Câmara Municipal.
Fátima, como Quércia, foi beneficiada pelos erros de uns (a "Articulaçao" e a maioria dos petistas) e as espertezas de outros. Coloquemos entre os espertos alguns dos grandes jogadores políticos do RN neste momento (a Governadora Wilma de Faria, o Senador Garibaldi Filho e o prefeito de Natal, Carlo Eduardo Alves), os quais têm que jogar e estabelecer parcerias, mas não têm nenhuma confiança um nos outros. A candidatura de Vírginia, por exemplo, seria ideal para Carlos Eduardo, mas era inaceitável para Wilma e Garibaldi. Rogério Marinho, candidato de parte do wilmismo, era inaceitável para Carlos Eduardo. O PMDB, sem um nome forte, poderia até jogar com Micarla, mas aí não ficaria bem com o Palácio do Planalto, e Garibaldi, bom jogador que é, sabe que brigar com Lula é um desastre, especialmente tendo em vista sua ampla base de apoio no interior (que apóia Lula e, ao mesmo tempo, precisa da proximidade de um Presidente do Senado que é parceiro do presidente). Nesse quadro, Fátima surgiu como uma opção razoável. Como estão empenhados em embaralhar as cartas com vistas a 2010, os jogadores não podem se dar ao luxo de jogadas arriscadas. Precisam estar de bem com o Palácio do Planalto, e, ao mesmo tempo, não podem trabalhar com a hipótese do fortalecimento extraordinário de nenhum deles. Com a candidatura de Fátima, eles nem perdem e nem ganham. E, sejamos sinceros, Fátima sendo eleita ou não.
Espertos, os jogadores fizeram o acordo e ficaram esperando para vê no que ia dar. Na esperteza, foram arrogantes. Deixaram de fora nada menos do que o Presidente da Assembléia Legislativa, o deputado Robinson Faria, e João Maia, deputado federal do PR, que conta com uma base política em franco crescimento no interior do estado. E estes decidiram não vir a reboque. O que fazer? Na última hora, encontraram uma solução: Fátima abdicar da postulação em nome de João Maia. Mas aí já era tarde! Estávamos no último dia para as convenções partidárias, e o PT não aceitou mais essa re-arrumação. Fátima teve sangue-frio, manteve-se firme e pagou pra ver. Os outros recuaram e a sua candidatura foi confirmada.
Fátima fez o estilo Geraldo Alkimim (eis aí outro paulista do interior a destronar a finesse paulistana): atropelou internamente os adversários e se impôs aos aliados. Mineiro, Rogério Marinho, Virginia e João Maia foram jogados de escanteio para que ela pudesse ser A CANDIDATA. “Jogou bem”, dizem-me, com indisfarçável orgulho, alguns amigos petistas. Pode até ser. Mas qual o preço que o PT pagará pela candidatura de Fátima? O partido teve que fechar uma aliança para a Câmara Municipal com o PMDB e o PSB. O que isso significa? Nunca nenhum candidato a vereador do PT ultrapassou os seis mil votos em Natal. Ora, esse é o número de votos alcançados pelos eleitos em último lugar nos dois partidos aliados. Assim, para garantir a candidatura de Fátima, o PT teve de entregar o seu histórico e cobiçado voto de legenda para ajudar, dentre outros, candidatos apanhados pela chamada “Operação Impacto”. Teve mais: o PT aceitou o veto imposto por neo-aliados à aliança com o partido de Osório Jácome, vereador que tem tido uma atuação destacada e pontuada pela proposição de debates públicos substantivos. Osório, representante dos evangélicos progressistas, esperou até o último momento por uma aliança com o PT. Excluído, restou-lhe buscar espaço junto à coligação de Wolber Júnior.
Fátima está, neste final de julho, como Quércia estava em setembro de 1986. Com um diferencial positivo: não se conhece (pelo menos até agora!) um petismo quinta-coluna. Mineiro não se comportou como Covas e FHC em 1986. É um homem de partido (ainda existem esses, acredite!). Engoliu em seco a derrota e dedica-se à defesa da candidatura de Fátima com o ardor de um cristão-novo. Nos últimos dias, tal qual o César Maia nas últimas eleições presidenciais, faz cálculos criativos com base em pesquisas eleitorais francamente desfavoráveis para a sua candidata para mostrar à “militância” (sobre a existência dessa “entidade”, sim, tenho dúvidas) que é “possível uma virada”.
Com o que conta, então, a deputada petista para construir a sua virada? Com um “fato novo” em um debate? Micarla, a sua principal adversária e líder disparada nas pesquisas eleitorais no momento, é uma incógnita nesse quesito. À parte isso, o fato é que os próprios debates não têm o mesmo peso político das décadas anteriores. Com a popularidade e o apoio de Lula? As eleições municipais são sempre menos nacionais do que desejam os petistas. A “transferência de votos” do presidente deve ser, portanto, relativizada. Com o tempo na televisão? Fátima terá um horário eleitoral esticado (cerca de dez minutos, três a mais do que Micarla), mas tempo de sobra na TV nem sempre é um fator positivo. Nas eleições presidenciais de 1989, para tomar um exemplo, Aureliano Chaves, do PFL (atual DEM), dispunha do maior tempo no horário eleitoral. Abertas as urnas, tirou menos de dois por cento dos votos e ficou bem atrás de um candidato cujo tempo de TV era suficiente apenas para a verberação de um bordão: “meu nome é Enéas!”.
Por outro lado, a alta “taxa de alheamento do processo eleitoral” (em Natal quase 50% dos eleitores ainda não decidiram em quem votar nas próximas eleições) possibilita a emergência de cenários imprevisíveis. Mas, quem pode contar com o imponderável? Nas últimas eleições para prefeito na capital potiguar, um candidato que propunha a “construção de uma ponte ligando Natal a Ilha de Fernando de Noronha” (sic) obteve 20% dos votos. Os chamados “cacarecos” assomam sempre nesses momentos de indefinições.
Fátima, como Quércia, é persistente. E esse é um traço importante para quem se dispõe a jogar o jogo pesado das disputas eleitorais no Brasil. A sua candidatura atropelou muita gente e isso cria ressentimentos. Mas, como sabemos de há muito, os ressentimentos em política são facilmente superados com a perspectiva de proximidade com o poder. Até o final de agosto, Fátima precisa crescer nas pesquisas para, como Quércia no início de novembro de 1986, começar a contar com o retorno dos descontentes. Só assim poderá criar condições para vencer a disputa.
O PMDB ia bem em todo o país, menos em São Paulo. Na “locomotiva da federação”, o candidato peemedebista a governador, o então Senador Orestes Quércia, via-se abandonado até mesmo pelas candidaturas ao Senado do seu partido. Mário Covas e Fernando Henrique Cardozo, os candidatos, flertavam abertamente com Antônio Ermírio de Moraes, o nome do PTB na disputa ao governo paulista. Como diria hoje a minha enteada, a candidatura de Antônio Ermírio “bombava”. Para completar, artistas renomados declaravam apoio ao mega-empresário e ninguém menos do que Roberto Carlos era o seu garoto-propaganda na TV. Quércia já era conhecido pelo seu estilo tratorista de fazer política. Entre o seu estilo, desenvolvimentista (mas também demagógico e autoritário), e aquele do então governador paulista, Franco Montoro, mais apegado à idéias que se consagrariam somente duas décadas mais tarde (racionalização e enxugamento do Estado, respeito aos direitos humanos, responsabilidade fiscal, etc.), havia uma distância quilométrica. Não era, por certo, o candidato dos sonhos daquele grupo de peemedebistas que, três anos mais tarde, criariam o PSDB. Quércia era determinado. Impusera sua candidatura. O caipira da pequena Pedregulho derrotara internamente os engalanados doutores da capital. E estes davam o troco, mesmo que de forma velada, apoiando Antônio Ermírio.
As eleições, como todos lembram, ocorreriam no dia 15 de novembro. Em setembro restavam, portanto, menos de dois meses de campanha. E o cenário para Quércia não era nada animador. Lembro-me que o peemedebista aparecia na TV, falando com aquele seu sotaque carregado, tendo como fundo uma parede de tijolos aparentes. Pois bem, refletindo o clima da campanha, um grande jornal (ou revista, não me lembro bem) publicou uma charge na qual membros do partido vinham por trás do candidato e retiravam tijolos dessa parede.
Quércia tinha pouco tempo para a virada. E ele conseguiu. Uma feliz (para ele, obviamente) conjugação de eventos contribuiu para isso. O primeiro deles foi “Suplicy ficar fora do eixo”. O candidato do PT, Eduardo Suplicy, que, no ano anterior, obtivera uma grande votação (para os modestos padrões de voto do PT na primeira metade da década de oitenta) para prefeito de São Paulo, e, indiretamente ajudara a derrotar Fernando Henrique e eleger Jânio Quadros, perdia pontos a cada pesquisa. O petista crescera até o momento em que militantes do partido, ligados ao PCBR, realizaram um tresloucado assalto a uma agência bancária em Salvador (BA). Os paulistas começaram a fugir do então marido da Marta, e, este, com muita honestidade e pouco tino político, declarou-se em “crise existencial”. Para encontrar o seu “eixo”, pegou um livro de Paulo Coelho (“O Alquimista”) e foi se refugiar em alguma tranqüila montanha do interior. Os votos petistas deslizaram para Quércia. Um outro elemento decisivo foi um debate eleitoral ocorrido na televisão. Embora não se comunicasse tão bem quanto Maluf, outro candidato ao governo, pelo então PDS, Quércia era melhor comunicador do que Ermírio de Moraes. Mas o decisivo mesmo foi que, nesse debate, Antônio Ermírio, para mostrar o seu distanciamento de Maluf (isso era fundamental para conquistar a classe média, apoiadora de Covas e FHC), afirmou que jamais procurara Maluf no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista. Maluf, não sei se por coincidência, estava preparado: mostrou fotos de Antônio Ermírio em visitas ao Palácio e em animadas conversas com ele, Maluf. Quércia pegou a deixa e passou a se colocar como um “político sincero”. Tal como Suplicy, Antônio Ermírio perdeu o eixo (embora não tenha explicitado isso em público) e a sua candidatura desinflou de um dia para o outro. O terceiro fator, talvez o mais decisivo, foi a decisão política de Sarney, atendendo ao clamor do PMDB, de dar uma sobrevida ao Plano Cruzado e encenar a “prisão” de bois nos pastos para garantir o abastecimento de carne.
No início de novembro de 1986, covistas e fernandistas, resignados, voltavam ao regaço e declaravam juras de amor ao candidato do partido. Quércia disparou nas pesquisas e, no dia 15, venceu com folga a eleição. Para se vingar, mais aí já é outra história, quando no governo, tratou a pão e água a “quinta-coluna” peemedebista.
Quais as semelhanças entre Fátima Bezerra e Orestes Quércia? Vejamos. Fátima entrou em 2008 derrotada politicamente no PT. Seu agrupamento político perdera as eleições para os diretórios estadual e municipal de Natal. O grupo ligado ao Deputado Fernando Mineiro (a "Articulação") parecia, enfim, ter se livrado do convívio forçado e nada amistoso com o “pessoal da Fátima” no mesmo condomínio político (a direção do partido). E Mineiro pareceu pilotar sua nave política em céu de brigadeiro por alguns dias. Lançou-se pré-candidato e, em que pese a fragilidade estrutural do partido na capital (destroçado financeiramente), tinha alguma chance, se não de ganhar as eleições municipais, ao menos de “fazer o debate político” e deixar claro o que o PT propõe para a capital potiguar. Mas, Fátima, tal qual Quércia, sabe jogar e é persistente. Lançou um balão de ensaio, a candidatura de Vírginia Ferreira, e enquanto Mineiro se preparava para enfrentar a “novidade”, a deputada articulava, “por cima”, a união da base de apoio ao Governo Lula em torno do seu nome. O petismo, refém da balela de que as eleições municipais são decisivas para a governabilidade presidencial e para as eleições seguintes (essa proposição, lembremos, construiu em 2004 o desastre do Mensalão em 2005), deixou-se enredar pelo canto de sereia da união da base aliada. E em seu nome sacrificou tudo. Até a eleição de um representante na Câmara Municipal.
Fátima, como Quércia, foi beneficiada pelos erros de uns (a "Articulaçao" e a maioria dos petistas) e as espertezas de outros. Coloquemos entre os espertos alguns dos grandes jogadores políticos do RN neste momento (a Governadora Wilma de Faria, o Senador Garibaldi Filho e o prefeito de Natal, Carlo Eduardo Alves), os quais têm que jogar e estabelecer parcerias, mas não têm nenhuma confiança um nos outros. A candidatura de Vírginia, por exemplo, seria ideal para Carlos Eduardo, mas era inaceitável para Wilma e Garibaldi. Rogério Marinho, candidato de parte do wilmismo, era inaceitável para Carlos Eduardo. O PMDB, sem um nome forte, poderia até jogar com Micarla, mas aí não ficaria bem com o Palácio do Planalto, e Garibaldi, bom jogador que é, sabe que brigar com Lula é um desastre, especialmente tendo em vista sua ampla base de apoio no interior (que apóia Lula e, ao mesmo tempo, precisa da proximidade de um Presidente do Senado que é parceiro do presidente). Nesse quadro, Fátima surgiu como uma opção razoável. Como estão empenhados em embaralhar as cartas com vistas a 2010, os jogadores não podem se dar ao luxo de jogadas arriscadas. Precisam estar de bem com o Palácio do Planalto, e, ao mesmo tempo, não podem trabalhar com a hipótese do fortalecimento extraordinário de nenhum deles. Com a candidatura de Fátima, eles nem perdem e nem ganham. E, sejamos sinceros, Fátima sendo eleita ou não.
Espertos, os jogadores fizeram o acordo e ficaram esperando para vê no que ia dar. Na esperteza, foram arrogantes. Deixaram de fora nada menos do que o Presidente da Assembléia Legislativa, o deputado Robinson Faria, e João Maia, deputado federal do PR, que conta com uma base política em franco crescimento no interior do estado. E estes decidiram não vir a reboque. O que fazer? Na última hora, encontraram uma solução: Fátima abdicar da postulação em nome de João Maia. Mas aí já era tarde! Estávamos no último dia para as convenções partidárias, e o PT não aceitou mais essa re-arrumação. Fátima teve sangue-frio, manteve-se firme e pagou pra ver. Os outros recuaram e a sua candidatura foi confirmada.
Fátima fez o estilo Geraldo Alkimim (eis aí outro paulista do interior a destronar a finesse paulistana): atropelou internamente os adversários e se impôs aos aliados. Mineiro, Rogério Marinho, Virginia e João Maia foram jogados de escanteio para que ela pudesse ser A CANDIDATA. “Jogou bem”, dizem-me, com indisfarçável orgulho, alguns amigos petistas. Pode até ser. Mas qual o preço que o PT pagará pela candidatura de Fátima? O partido teve que fechar uma aliança para a Câmara Municipal com o PMDB e o PSB. O que isso significa? Nunca nenhum candidato a vereador do PT ultrapassou os seis mil votos em Natal. Ora, esse é o número de votos alcançados pelos eleitos em último lugar nos dois partidos aliados. Assim, para garantir a candidatura de Fátima, o PT teve de entregar o seu histórico e cobiçado voto de legenda para ajudar, dentre outros, candidatos apanhados pela chamada “Operação Impacto”. Teve mais: o PT aceitou o veto imposto por neo-aliados à aliança com o partido de Osório Jácome, vereador que tem tido uma atuação destacada e pontuada pela proposição de debates públicos substantivos. Osório, representante dos evangélicos progressistas, esperou até o último momento por uma aliança com o PT. Excluído, restou-lhe buscar espaço junto à coligação de Wolber Júnior.
Fátima está, neste final de julho, como Quércia estava em setembro de 1986. Com um diferencial positivo: não se conhece (pelo menos até agora!) um petismo quinta-coluna. Mineiro não se comportou como Covas e FHC em 1986. É um homem de partido (ainda existem esses, acredite!). Engoliu em seco a derrota e dedica-se à defesa da candidatura de Fátima com o ardor de um cristão-novo. Nos últimos dias, tal qual o César Maia nas últimas eleições presidenciais, faz cálculos criativos com base em pesquisas eleitorais francamente desfavoráveis para a sua candidata para mostrar à “militância” (sobre a existência dessa “entidade”, sim, tenho dúvidas) que é “possível uma virada”.
Com o que conta, então, a deputada petista para construir a sua virada? Com um “fato novo” em um debate? Micarla, a sua principal adversária e líder disparada nas pesquisas eleitorais no momento, é uma incógnita nesse quesito. À parte isso, o fato é que os próprios debates não têm o mesmo peso político das décadas anteriores. Com a popularidade e o apoio de Lula? As eleições municipais são sempre menos nacionais do que desejam os petistas. A “transferência de votos” do presidente deve ser, portanto, relativizada. Com o tempo na televisão? Fátima terá um horário eleitoral esticado (cerca de dez minutos, três a mais do que Micarla), mas tempo de sobra na TV nem sempre é um fator positivo. Nas eleições presidenciais de 1989, para tomar um exemplo, Aureliano Chaves, do PFL (atual DEM), dispunha do maior tempo no horário eleitoral. Abertas as urnas, tirou menos de dois por cento dos votos e ficou bem atrás de um candidato cujo tempo de TV era suficiente apenas para a verberação de um bordão: “meu nome é Enéas!”.
Por outro lado, a alta “taxa de alheamento do processo eleitoral” (em Natal quase 50% dos eleitores ainda não decidiram em quem votar nas próximas eleições) possibilita a emergência de cenários imprevisíveis. Mas, quem pode contar com o imponderável? Nas últimas eleições para prefeito na capital potiguar, um candidato que propunha a “construção de uma ponte ligando Natal a Ilha de Fernando de Noronha” (sic) obteve 20% dos votos. Os chamados “cacarecos” assomam sempre nesses momentos de indefinições.
Fátima, como Quércia, é persistente. E esse é um traço importante para quem se dispõe a jogar o jogo pesado das disputas eleitorais no Brasil. A sua candidatura atropelou muita gente e isso cria ressentimentos. Mas, como sabemos de há muito, os ressentimentos em política são facilmente superados com a perspectiva de proximidade com o poder. Até o final de agosto, Fátima precisa crescer nas pesquisas para, como Quércia no início de novembro de 1986, começar a contar com o retorno dos descontentes. Só assim poderá criar condições para vencer a disputa.
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