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quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

A vida política natalense desafia a análise

A Prefeita Micarla de Sousa (PV) consegue a façanha de ter menos de dois pontos percentuais de apoio para as eleições do próximo ano. Os seus patrocinadores, o DEM à frente, fingem que isso não lhes diz respeito e comportam-se como se de oposição tivessem sido sempre.

Carlos Eduardo , último prefeito, surfa na onda da derrocada política da prefeita. Segundo as pesquisas, ganharia de lavada se as eleições fossem realizadas hoje. Bom, mas as eleições não se real(PDT)izarão nem hoje e nem amanhã. E muito água, parte dela bem poluída, ainda vai passar por debaixo da ponte.

Vilma de Faria (PSB) parece que caminha para o seu ocaso. Vive o seu outono político. Cálculos políticos equivocados a levaram para essa situação. E quando político está em queda, os ataques triplicam e se originam dos mais diversos lugares. Abre flancos impensáveis.

Ora, tivesse Vilma sido eleita Senadora, cê sabe bem, alguém aí estaria produzindo denúncias e mais denúncias contra ela? Há quase um ano e meio, depois eu cato o post, escrevi aqui que a sua candidatura ao Senado era um desastre. Teve quem não gostasse de minha análise e visse ali o dedo de algum interesse menor. Nada disso! Bastava juntar dois mais dois para se dar conta de que, a partir do final do ano de 2009, a vida política de Vilma era algo assim como a crônica de um desastre anunciado.

Vilma será logo ultrapassada por um outro postulante à cadeira de alcaide desta cidade do sol. Podem apostar! Acho que será Fernando Mineiro, do PT, o responsável por deslocar a ex-guerreira para um lugar secundário na disputa política local. Vocês verão! Não duvidem! Acompanho eleição desde os tempos em que quem mandava em Apodi era Isauro Camilo, o Véio Isauro, e sempre tive um bom tino para essas coisas.

Minha lição: como a vida política destas plagas desafia a análise tradicional, incorpore mais aportes aos seus diagnósticos.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Mentiras, coisas não tão belas e fantasia organizada: a copa em Natal

Há quem, na disputa eleitoral em curso, apresente-se como patrocinador da proposta vencedora de Natal como sede da Copa do Mundo. É uma beleza... Tudo é divino, tudo é maravilhoso... Mas, por sob a capa da copa, o caos espreita... E este não será coisa de pouca monta, pode acreditar.

Natal ainda tem como principal suporte viário a estrutura legada pela presença norte-americana na década de 1940! Um caminhão bate na traseira de outro, aí pelas 7h00 de qualquer dia da semana na Br-101 na altura de Emaus, e a entrada da cidade fica bloqueada. Ninguem entra e sai.

Aqui temos orgulho de tudo, não é? Afinal, como dizia aquela música que embalava a venda da cidade aos turistas, "viver aqui é sonhar". Pois pode estar começando a virar pesadelo...

Quando as obras do Machadão forem realmente iniciadas, os congestionamentos bloquearão as principais avenidas da cidade. Uma ambulância (deixem-me ser trágico) poderá demorar umas boas duas horas para fazer o percurso Neópolis-Hospital Walfredo Gurgel.

Em uma cidade onde o transporte público é precário, essa situação vai aumentar o estresse cotidiano.

Mas, agora, quem liga prá isso? Comemore-se a Copa, e deixemos o resto prá depois. Essa a mensagem quase explícita que os poderes públicos locais emitem.

Plano de Mobilidade Urbana Sustentável? Quem se preocupa em elaborar um? Improvisando, dá certo... Essa a nossa saída mágica.

Há uma máxima, meio vagabunda, vá lá, mas que tem muita força, de que não existe almoço grátis. A conta para que Natal venha a ser uma das sedes da copa será bem salgada. Mas, como entre nós, dinheiro público parece nascer em árvore, ninguém também está nem aí prá isso. E, quando questionados, os defensores da fantasia, de pronto, saem com essa; "não, mas a parceria com a iniciativa privada..." Piada, não é? Você acha, no fundo, bem no fundinho, que o empresariado local vai meter a mão no bolso e se arriscar nessa aventura? Se o BNDES entrar na jogada, como já está fazendo no Rio, aí, sim, a coisa funcionará. Às mil maravilhas. Afinal, no Brasil, todo mundo adora falar mal do Estado, mas ninguém sobrevive sem uma chupetinha ligada na pobre da viuva...

E quem está preparado para enfrentar o que vem por aí? A Prefeitura de Natal, pelo visto, demitiu-se do planejamento. O governo do Estado, se se confirmar a vitória de Rosalba, terá pelos menos uns dez meses de boa justificativa ("arrumando a casa").

Era necessário que entidades da sociedade civil, pesquisadores, universidades e pessoas que defendem e amam Natal, que são muitas, viabilizassem um espaço para trocar idéias, discutir a situação e municiar com informações rigorosas a cidadania da esquina do Atlântico. Porque, sem querer encarnar o papel de desmancha-prazeres, essa fantasia, dentro em breve, será pesadelo. E, quando isso ocorrer, precisamos de algo mais do que simples exercício de retórica.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Crise na Prefeitura do Natal: a situação dos CMEIs

Sem nenhum ator político que aborde seriamente a crise na Prefeitura da Cidade do Natal, esta vai aparecendo de forma fragmentada. Até porque não dá para se proteger do sol com peneira, não é? Sobre o post anterior, leia abaixo matéria publicada ontem no site da Tribuna do Norte.

Como se pode depreender, a fatura do caos administrativo vai ser debitada na conta dos de sempre: os cidadãos. No caso, pais e alunos.



CMEIs param atividades por falta de funcionários

Os Centros Municipais de Educação Infantil sofrem, desde a última semana, com dificuldades para continuar com as aulas. Alguns CMEIs estão paralisando total ou parcialmente as suas atividades por falta de funcionários. O motivo é o atraso no pagamento de funcionários terceirizados da rede municipal de educação, vinculados à empresa SS Construções, Serviços e Empreendimentos LTDA. Segundo informações de pais e diretores dos Centros, a Prefeitura de Natal não faz o repasse dos recursos para a empresa desde outubro e por isso a SS Construções não tem mais como bancar os seus funcionários.

O problema de pagamento atinge o chamado “pessoal de apoio”, em outras palavras vigias, porteiros, merendeiras, assistentes de secretaria, entre outros. Apesar de atuarem no apoio, esses funcionários são essenciais para o funcionamento das escolas e, por isso, o trabalho está comprometido. Um dos Centros com maior dificuldade de funcionamento é o de Mirassol. Como a maioria dos terceirizados moram longe da escola, a falta de pagamento tanto de salário quanto de vale-transporte impede o deslocamento e a chegada ao trabalho. Lá, não há aula desde quarta-feira da semana passada.

Os pais dos alunos do CMEI de Mirassol estão se articulando para enfrentar o problema. Para que o patrimônio da escola não seja depredado, o Conselho Escolar do CMEI está custeando as passagens de ônibus de dois vigias, um diurno e outro noturno. “Não gosto de usar essa palavra, mas temos uma escola que é referência. Deixar isso aqui abandonado é pedir pra perder o que conquistamos”, diz Jalmira Damasceno, que é avô de uma criança da escola.

O desespero atinge não somente os pais de alunos, mas principalmente os próprios funcionários com salários atrasados. No CMEI Vilma de Faria, localizado no bairro de Morro Branco, o vigia Antônio Santana, vinculado à SS Construções, está revoltado com a situação. “Estamos sem vale-transporte, vale-alimentação e sem salário. Meu aluguel está atrasado e tenho medo das consequências desse atraso. Não posso correr o risco de ser despejado”, afirma. Antônio mora próximo ao CMEI, mas outros funcionários, que preferiram não se identificar, estão pegando dinheiro emprestado para ir trabalhar. Uma merendeira do Vilma de Faria afirmou que, caso o assunto não fosse resolvido, não haveria merenda hoje. O CMEI Vilma de Faria está funcionando somente meio período, apesar da necessidade dos pais, que trabalham o dia inteiro, de um local para deixar suas crianças.

A reportagem da TRIBUNA DO NORTE entrou em contato com a empresa SS Construções, Serviços e Empreendimentos, que pertence ao Grupo Interforte, mas não houve resposta em tempo hábil. A Secretaria Municipal de Educação informou que estaria normalizando a situação até amanhã.

domingo, 27 de dezembro de 2009

A bolada que Padre Fábio recebeu nem é o mais grave...

O cantor Pare Fábio de Melo recebeu, da Prefeitura da cidade do Natal, nada menos que R$ 221.000,00 para um show realizado no dia 25, sexta-feira passada.

O fato passou a merecer críticas da imprensa norte-riograndense. Não é para menos, afinal o valor pago ao padre cantor é, no mínimo, quatro vezes maior do aquele pago a nomes consagrados da música brasileira, como Bibi Ferreira e Zé Ramalho.

Ontem, no RN TV, telejornal noturno da TV Cabugi (Rede Globo), um secretário municipal tentava justificar o injustificável. Em certa altura, comentou que vinte e cinco mil pessoas que estavam participando de uma missa assistiram ao show. Nesse momento, demo-nos conta de que a atividade musical estava incluída no conjunto de atividades de comemoração dos 100 anos da Arquidiocese de Natal. E que o problema é mais grave do que drenar rios de dinheiro público para a conta de um padre cantor...

Muito mais grave do que a quantia paga é o fato de uma prefeitura municipal pegar o meu, o seu, o nosso suado dinheirinho para financiar atividades de uma determinada religião. Mesmo quando essa religião tem, supostamente, a adesão da maioria dos municípes.

O atentado cometido pela gestão da Prefeita Micarla de Sousa foi não apenas contra o erário público, mas, o que é mais grave e prejudicial, contra o princípio republicano de separação entre Igreja e Estado.

Sobre essa questão, em artigo publicado hoje no jornal Folha de São Paulo, Dom Dimas Lira Barbosa, Secretário Geral da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), escreveu:

"A separação entre igreja e Estado, conquistada, no Brasil, com a proclamação da República, significou, para ambos, um ganho enorme em termos de autonomia e liberdade de ação. Nada, hoje, justificaria um retrocesso nesse campo."

Pois, em Natal, Igreja e Estado estão em conúbio e quem paga a conta do matrimônio é o distinto público,

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

A arquitetura do medo: minha entrevista ao jornal O POTI



Ontem, dia 16 de Novembro, o jornal Diário de Natal publicou uma entrevista comigo a respeito de como o medo está modelando as paisagens urbanas. Transcrevo-a abaixo. A entrevista complementa uma matéria sobre a arquitetura do medo na cidade do Natal. Acesse o jornal aqui.
Em tempo: a foto acima, retirado do banco de dados do jornal e, portanto, um tanto antiga (estou melhor hoje!), foi publicada na matéria.


‘‘Há uma visão negativa do futuro das cidades’’

Edmilson Lopes Júnior é professor do Departamento de Ciências Sociais e professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da UFRN. Nesta conversa, ele explica que a cultura do medo tem redefinido significativamente as paisagens urbanas. As classes médias altas e as elites de todas as grandes cidades vão se fechando nos seus enclaves fortificados e os espaços públicos tradicionais, como praças, feiras e parques, vão sendo abandonados e deixados para os que não têm acesso aos lugares do consumo conspícuo dos grupos sociais dominantes. Nesse cenário, a arquitetura do medo vai ascendendo à condição de nova abordagem estética do espaço urbano. Aliada a essa arquitetura, novas tecnologias de controle das pessoas nos espaços públicos e privados.


DIÁRIO DE NATAL - Como se dá esse controle?
Edmilson Lopes - A onipresença do aviso ‘‘Sorria, você está sendo filmado’’ é um dos sinais dessa ampliação dos mecanismos de vigilância. Ou, se preferirmos, de ampliação das ‘‘fronteiras invisíveis’’ que deixam bem claro para os ‘‘intrusos’’ (jovens pobres, especialmente) que eles não apenas estão sendo monitorados, mas, o que é mais importante, que eles não são bem-vindos em determinados lugares.

A proteção vendida pelas empresas de segurança existe ou é uma apenas uma falsa promessa?
A indústria da segurança difunde a idéia de que há uma proteção possível de ser alcançada via mercado. É uma ilusão poderosa, mas é uma ilusão. O seu complemento é uma demanda por punição e exclusão dos indesejáveis. Em lugar nenhum do mundo, esses elementos produzem diminuição real da criminalidade e da violência.

Como fica o direito de ir e vir e as liberdades civis nesta perspectiva da busca por segurança integral?

De um lado a produção de enclaves fortificados, para a habitação e o consumo das classes médias e das elites, e, de outro, o tratamento sádico dos espaços aos quais tem acesso as classes populares. Não por acaso, analisando o mundo urbano contemporâneo, têm-se enveredado pelo que eu denomino de ‘‘distopia urbana’’, uma visão negativa do desenvolvimento futuro das cidades.

Sempre foi assim?

Se levarmos em conta um período histórico maior, iremos perceber que os espaços públicos nunca foram tão públicos. Especialmente em sociedades marcadas pela cidadania incompleta como é o caso da brasileira. As nossas cidades sempre foram marcadas por uma exclusão quase institucionalizada daqueles considerados socialmente ‘‘indesejáveis’’, geralmente negros e pobres. Entretanto, não é raro, nos lamentos sobre o esvaziamento dos espaços públicos no Brasil, que esconda-se um discurso saudosista de um tempo no qual as grandes massas estavam excluídas da vida pública.

O medo está institucionalizado?

Sim. Isso porque tanto as instituições formais - família, escola e órgãos estatais - quanto as mais informais - círculos de amigos, grupos de colegas, galeras, etc - têm suas ações moduladas pelo medo. Ou seja, o medo (do outro, do imprevisível, da ruptura, do fracasso na afirmação de si, da destruição de sua identidade pessoal, etc) é incorporado pelas pessoas nas mais diversas esferas da vida social.

Existe uma face positiva do medo?

O medo não tem apenas impactos negativos. Pode parecer um tanto quanto cínico, mas, de uma perspectiva sociológica, o medo é também um elemento de dinâmica da vida social. A outra face do medo, a busca de segurança, leva à colonização do futuro, faz com que cada um incorpore o planejamento de forma reflexiva. Nessa situação, emerge a idéia da vida como um projeto a ser construído. E isso faz com que se rompa com a atitude natural e o fatalismo.

A paranóia por segurança tornou-se maior que a violência?

Em termos. Os dados que servem de referência para aferir a violência são sempre muito problemáticos. Primeiramente, porque eles não são universais. O que é violento em uma sociedade e em um momento histórico nem sempre o é em outros contextos. Esse é um processo no qual o jogo político e os interesses de classe pesam bastante. Acho que temos, hoje, uma sensibilidade mais aguçada em relação à violência. Coisas antes toleradas, como a violência intra-familiar, agora atingem fortemente a consciência coletiva. Por outro lado, é inegável que o aumento da desconfiança e da emergência de uma sociabilidade violenta (irritadiça, intolerante) tem significado, sim, um aumento da violência. Ele se traduz na percepção coletivamente partilhada de uma maior vulnerabilidade de nosso corpo e até de nossa identidade pessoal. Em certo sentido, a paranóia é alimentada por informações sobre o que ocorre ao redor.

A difusão dos condomínios fechados ou a presença maciça de equipamentos de segurança é sinal de que estamos vivendo num grande Big Brother?

A expansão da modernidade foi sempre uma expansão dos mecanismos de vigilância. Mas essa expansão nunca é unilateral. Não apenas existem resistências, como também existem subversões dentro dos espaços pretensamente controlados. Vivemos o Big Brother? De algum modo, a onipresença desses mecanismos de controle obedece a um anseio de apresentação das pessoas no mundo contemporâneo. De uma busca por uma marca, um registro, um sinal de existência. Os sites de relacionamentos, como o Orkut, são exemplares disso. O medo redefine a apropriação espacial. Mas não é somente ele o responsável pela expansão dos mecanismos de recolhimento de dados e de monitoramento eletrônico dos indivíduos.

E o impacto da tecnologia nas relações pessoais?

Muitas das modificações de nossos contextos de interações foram impulsionadas pelas novas tecnologias de informação e comunicação. O celular, por exemplo, retirou muitas de nossas relações da obrigatoriedade do face a face. Algo que a Internet está aprofundando. Outro elemento: o automóvel. Na medida em que passeamos pela cidade sem sair de dentro de nossos carros, vendo tudo a partir das janelas dos veículos, é o mundo ‘‘real’’ que agora parece uma tela. A fruição da paisagem, que implica em outro ritmo de tempo e uma apropriação sensorial do espaço, é eliminada pela automóvel. Assim, de algum modo, refugiados em nossos automóveis não nos sentimos atraídos por um contato mais duradouro com um mundo ‘‘externo’’ imprevisível (e, por isso mesmo, ameaçador). E as pessoas desse mundo externo, aqueles que estão nas ruas são objetos, senão do medo, ao menos da desconfiança.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

A Articulação e a vaca no brejo



Meus amigos petistas pertencentes à Articulação, em mensagens e telefonemas, comentam que eu peguei pesado com eles. Nada disso! Eu apenas tentei analisar com um cadinho de distanciamento a ida da vaca, no caso a candidatura do PT à prefeitura de Natal, para o brejo. Tá certo, eles não foram os responsáveis sozinhos pelo desastre. Agora, cá entre nós, que os companheiros gostaram da condição de guias espirituais da vaca, ah, disso eu não tenho dúvidas. Como agora a bovina está atolada, eles querem fazer ninho em outras cabeças. Tudo bem, jacaré parado vira bolsa de madame. Importa saber é se o restante da companheirada, com sede de sangue para aplacar as dores da derrota, vai aceitar passivamente esse, digamos, movimento da intrépida corrente petista.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

O PT nas eleições de Natal: crônica de um desastre anunciado

Como previ, em artigo publicado neste blog em 27 de julho passado, intitulado Fátima Bezerra e Orestes Quércia: a semelhança é mera coincidência?, o PT não conseguiu levar a disputa pela prefeitura da cidade do Natal para o segundo turno. Também previ que o PT iria ficar de fora da Câmara Municipal. Não sou vidente, apenas tento fazer uma análise política minimamente racional. Tampouco comemoro o que aconteceu. Apenas tento entender esse desastre anunciado.

Só para refrescar a memória, transcrevo abaixo um pequeno trecho do que eu escrevi naquele momento:

“Fátima fez o estilo Geraldo Alkimim (eis aí outro paulista do interior a destronar a finesse paulistana): atropelou internamente os adversários e se impôs aos aliados. Mineiro, Rogério Marinho, Virginia e João Maia foram jogados de escanteio para que ela pudesse ser A CANDIDATA. “Jogou bem”, dizem-me, com indisfarçável orgulho, alguns amigos petistas. Pode até ser. Mas qual o preço que o PT pagará pela candidatura de Fátima? O partido teve que fechar uma aliança para a Câmara Municipal com o PMDB e o PSB. O que isso significa? Nunca nenhum candidato a vereador do PT ultrapassou os seis mil votos em Natal. Ora, esse é o número de votos alcançados pelos eleitos em último lugar nos dois partidos aliados. Assim, para garantir a candidatura de Fátima, o PT teve de entregar o seu histórico e cobiçado voto de legenda para ajudar, dentre outros, candidatos apanhados pela chamada ‘Operação Impacto’”.

Na crônica desse desastre, algumas questões não querem (e não podem) calar. Dentre elas, destaco: por que o PT do RN se curvou tão docilmente à ação de Fátima para ser candidata e aceitou patrocinar mais uma aventura eleitoral de uma candidata com alto índice de rejeição eleitoral? por que a articulaçao caciquista de Fátima, legitimando o discurso posterior do “acordão”, foi aceita passivamente pelo grupo dirigente do PT, a chamada “Articulação”? por que o núcleo dirigente do PT do RN decidiu rifar os seus vereadores para garantir mais uma malfadada aventura eleitoral de Fátima Bezerra?

Importa ressaltar, que, embora a derrota do PT na disputa pela Câmara Municipal seja gravíssima e de conseqüências imprevisíveis, ela é o resultado mais do que esperado da tática eleitoral comprada (ou seria vendida?) pela "Articulação". Com essa tática, o PT se descolou de uma fatia importante do seu eleitorado tradicional. Ora, ora, fazer campanha para Vereador do PT, na eleição que terminou, era, ao fim e ao cabo, carrear votos para uma coligação na qual sobressaiam alguns dos que foram pegos com a mão na botija pela “Operação Impacto”. Nesse quadro, a quem somava dois mais dois e queria garantir a presença de ao menos um vereador progressista na Câmara Municipal de Natal, só restava mesmo optar por um dos candidatos do PC do B. Assim, boas candidaturas, como as de Teresa e Vilma, foram condenadas no nascedouro pela esdrúxula aliança montada pelo PT.

Acovardada e sem vocação para ser dirigente, a Articulação do RN encontrou no mito da “união da base aliada” uma boa justificativa para a sua inação. Agora, no amargo da derrota, deve ser questionada sobre a sua responsabilidade política. Estivessémos em um contexto no qual os partidos funcionassem, esse grupo dirigente, por uma questão de compostura, renunciaria aos seus cargos na burocracia partidária.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

DEBATE

Hoje tem debate, na INTERTV CABUGI, com os candidatos a prefeitura de Natal. Acompanhe aqui os nossos comentários sobre o desenrolar do confronto

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

O populismo eletrônico: um artigo de Alex Galeno




Alex Galeno, o cara da foto acima, é professor de sociologia da UFRN e um criativo analista do social. Tem diversas obras e artigos publicados (veja aqui o seu curriculum lattes) sobre política, literatura e epistemologia. Nos brinda, agora, com um texto sobre o peso do populismo eletrônico nestas eleições municipais. Leia-o aí abaixo.

Populistas eletrônicos

Vivemos a proliferação de Homo Videns (Sartori). Sujeitos construídos artificialmente por imagens eletrônicas e, em geral, desprovidos de consistência e do lastro do pensamento. Não existem porque pensam, mas existem porque aparecem. São políticos que se assemelham a vedetes televisivas. A conseqüência desse sentimento midiático é transferida para a política. Assistimos na passarela eleitoral, em Natal, diversos homo videns dessa espécie. A começar pela candidata Micarla de Sousa - PV. Uma candidatura forjada (editada?) pela imagem de seu programa diário na emissora da qual é proprietária. Aparece sob os efeitos das lentes do fotógrafo de estrelas da revista Playboy, J.R. Duran. Com cabelos alisados, dentes branqueados, roupas de grifes, fala com sotaque para parecer diferente. Uma espécie de Alice ingênua e imatura politicamente, que diante dos desafios e dificuldades para discernir o caminho certo para o destino de nossa cidade, poderá escolher qualquer um. O mais importante. Sob a chancela da bandeira ecológica se diz defensora do meio-ambiente, embora esteja aliada com aqueles que mais têm destruído o ambiente e representado o capital especulativo na história da cidade do Natal. Refiro-me ao DEM do senador de grife, José Agripino. Sua única tradição em política é sua filiação ao já falecido senador populista Carlos Alberto. Que usou programas na TV e nas rádios para doar cadeiras de rodas. Este fez escola. Basta que olhemos o atual deputado estadual Luis Almir ( PSDB), quando na televisão se transforma num chefe político eletrônico que despacha com seus espectadores. Podemos destacar ainda: Gilson Moura, atual deputado estadual-PV e candidato a prefeito em Parnamirim, Aquino Neto, Salatiel de Sousa e Paulo Wagner, todos concorrendo a uma vaga na câmara municipal de Natal. Este último parece mais um ator que encena cotidianamente, em seu programa, espetáculos da crueldade. Lembrando os espetáculos nos antigos coliseus romanos, quando nobres assistiam aos leões estraçalharem pessoas. Uma espécie de xerife eletrônico destilando moralismo e punições aos mais pobres.

As celebridades midiáticas são eficientes na relação com seus espectadores-eleitores. Caso contrário, não estariam representando seus papéis no teatro político das eleições. A TV e seus programas têm transformado o tradicional líder carismático da política, numa celebridade de auditório. O princípio da liderança das ruas, hoje, parece substituído pelo princípio do programa televisivo. A política virou edição e se apresenta como videoclipe. E aí reside o perigo civilizatório. O Brasil já vivenciou tal vedetismo quando da eleição de Fernando Collor de Melo para a presidência da República. O homem que parecia portar a imagem do justiceiro caçador de marajás, mas quando a população se deu conta que se tratava de um ilusionista ou de uma imagem fake, foi para as ruas pedir seu impeachment. Natal deverá ficar atenta a esta experiência midiática e histórica da política. A cidade não é uma TV com seus programas e apresentadores ávidos por audiências eleitorais. Nem sua administração é uma ilha de edição que transforma seus habitantes em meros espectadores-eleitores.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

A eleição começa a esquentar em Natal

Enfim! A disputa pela prefeitura da cidade do Natal, finalmente, começou a esquentar. E quem faz a festa são os advogados. Com as eleições cada vez mais tuteladas pelo judiciário, os advogados são alçados à condição de atores principais. É mandado judicial para todos os lados. E juízes desperdiçam o seu precioso tempo decidindo se alguém pode dizer que a outra é "dona de televisão" e se fulana "trouxe verbas para Natal". Quanta besteira!

Tratam o eleitor como um demente. Como se ele precisasse, a todo momento, ser protegido para "fazer sua escolha". Ora, o eleitor é um ator reflexivo e faz suas escolhas levando em conta muitos fatores, e não só aqueles que os "bem pensantes" gostariam que ele tomasse como referências.

Pessoalmente, acho que liberdade de expressão politiza mais e produz melhores escolhas. A tutela e o paternalismo tornam as eleições cansativas e modorretas.

Mas, como ia dizendo, a eleição esquentou. As principais candidatas começaram a descer dos tamancos. Isso e bom! Precisamos de mais política e menos marketing. Agora é torcer para que os "operadores do direito" não queiram tomar o centro do palco.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Micarla virou petista? Ou a mágica do marketing.

A campanha de Micarla à prefeitura de Natal realiza algumas mágicas. A mais interessante delas é fazer a candidata "verde" se passar como alguém da base do presidente Lula, sendo patrocinada pelo líder do DEM no senado, o modesto Senador José Agripino. Mas não é só. No CTLC e CTLV, clona a vinheta de entrada da última campanha do Lula.

E, dado que a campanha de Fátima está empenhada em desconstruir Fátima, tentando viabilizá-la como uma caricatura de Vilma Maia ("Sim, Fátima Trabalha"), a campanha de Micarla pode se dar ao luxo de ser agressiva com a candidata petista. E, sejamos sinceros, tem feito isso com competência e utilizando os recursos corretos. A campanha de Micarla tem assestado suas baterias contra a Fátima Vilmizada. E faz isso, especialmente, utilizando o rádio.

A campanha de Fátima, enrolada em fabricar um "produto" que se conjugue e dê substância à Vilma Maia, está se mostrando de uma incompotência sem par em reagir ao ataque "verde". Assim, Micarla parece uma petista. E Fátima, conduzida pelo seu marketing a um dilema hammletiano - ser ou ser (Fátima)? - não é mais ela mesma. Por enquanto, Fátima escolheu ser uma Vilma. Talvez precisa voltar a ser petista para poder pensar em ir para o segundo turno.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

A disputa pela prefeitura de Natal está no ritmo da dança do quadrado

Estou em casa, recuperando-me de uma cirurgia, então, sou obrigado a ouvir uma música, tocada com insistência na vizinhança. É um barulho infame, com uma letra que repete à exaustão: “ado, ado, ado, cada um no seu quadrado...”. Parece que a “proposta” estética da “coisa” é a de uma evolução corporal, um rebolado, vá lá!, em que o dançarino se movimenta apenas em um espaço previamente demarcado (o “seu quadrado”). Pois bem, a eleição para a prefeitura de Natal neste ano está seguindo as regras desse novo ritmo. O resultado é uma coreografia previsível, sem tesão, nem emoção. Até o humor saiu de cena. Talvez, quem sabe, todos estejam de acordo com o Dr. Joanilson e tenham incorporado a sua consigna de que “eleição é coisa séria”. Vejamos, então, o quadro, ou melhor, o quadrado de cada um até o presente momento.

O quadrado de Micarla

Primeiro lugar nas pesquisas eleitorais, Micarla não tem porque sair do seu quadrado. Como era de se esperar, ela tem um bom desempenho na TV. As suas peças publicitárias copiam os truques da última campanha de Lula, e, segundo os experts, também o material publicitário de Barak Obama. Vai no CTRL C+ CTRL+V, mas vai bem. E lança uma densa cortina de fumaça, tão densa que faz todos esquecerem que a sua candidatura é ancorada em forças políticas muito distantes do modelito moderno e verde com que se apresenta.

Assim, bem situada no seu quadrado, pode se dar ao luxo de ser (ou se passar por) propositiva em relação a duas temáticas fundamentais: segurança pública e saneamento básico. Como no Brasil não é de bom tom se fazer aquele tipo de pergunta, tipicamente norte-americano, a respeito de quem vai pagar o almoço (alguns dizem que é coisa de seguidores de Milton Friedman e dos neoliberais fazer tal tipo de questão), pode prometer coisas mirabolantes sem explicar de onde virão os recursos. E dá-lhe promessas!

Com os adversários cometendo tantos erros, como veremos mais abaixo, Micarla só pode temer mesmo as trapalhadas de integrantes de sua inacreditável trupe. Tem que torcer para que o tempo passe rápido e ninguém preste muito atenção no Senador José Agripino, o verdadeiro patrono de sua candidatura. E parece não ser fácil segurar o senador. Ele tem se insinuado no horário eleitoral e, com a sua reconhecida modéstia, tem nos lembrado de sua passagem pela administração da capital potiguar no final dos anos setenta. Convenientemente, esquece de mencionar que foi prefeito biônico, em um tempo em que a legislação da ditadura fazia das Câmaras Municipais legislativos mais figurativos do que reais. Bom, mas o fato é que o Senador, algumas vezes, enfia os pés pelas mãos e dá uma ajudinha involuntária ao PT. Lembremo-nos da sua atuação desastrosa como inquiridor da Ministra Dilma. Se ele continuar a querer aparecer mais do que a candidata pode fazer algum estrago.

O certo é que Micarla, tal qual a Lady Kate do “Zorra Total”, também busca o glamour (no seu caso, a prefeitura) amparada por um senador. E, por falar em José Agripino, a incompetência da campanha petista em explorar negativamente essa companhia da candidata verde está a merecer algum estudo psicanalítico. Sem o questionamento da campanha petista, Micarla pode se dar ao desfrute de confundir as coisas, como fez no horário eleitoral desta semana, chamando a atenção para a sua vinculação com Lula, afirmando que o seu partido faz parte da base aliada. Tivesse um cadinho mais de competência, o marketing petista questionaria: como pode Micarla estar ao lado de Lula se a sua candidatura é patrocinada pelo maior adversário do presidente?


Fátima no seu quadrado

Fátima tenta se vender como a candidata do Presidente Lula. É o que tem à mão. Em outro contexto, o da eleição para governador de 2006, por exemplo, seria um trunfo decisivo, mas, nesta eleição em Natal (ressalve-se o “em Natal”), esse é um dado que tende a não pesar tão significamente. A popularidade de Lula não rende votos? Rende, mas esse é um “rendimento” mediado pelas variáveis locais. Em outras palavras, o apoio de Lula pesa, mas não é decisivo. O candidato ou candidata apoiado por ele tem que saber (ou poder) sair do seu “quadrado” para faturar a proximidade com o grande cabo eleitoral. É o caso de Marta Suplicy, candidata à prefeitura paulistana pelo PT, que cresce colada à imagem do presidente. Mas, e é aí que está o nó da questão, sendo ela mesma, sendo Marta. Não é, como aponto mais abaixo, o caso de Fátima.

Na sua dança, Fátima também tenta se mostrar como a candidata da Governadora Wilma de Faria, do Senador Garibaldi Filho e do Prefeito Carlo Eduardo. Mas esses apoios não estão se traduzindo em crescimento significativo nas intenções de votos na candidata petista. Isso quer dizer que os apoios da Governadora, do Presidente do Senado e do Prefeito não são importantes? Pelo contrário, eles o são, mas, tal qual o apoio de Lula, tais apoios também têm que ser mediados pela vida política local. Em Recife e em Belo Horizonte, só para citar dois casos nestas eleições, verdadeiros “postes” estão sendo alçados aos primeiros lugares das disputas locais. O “poste” de Recife, João Costa (PT), é bancado pelo prefeito João Paulo (PT), que, está a concluir um governo de oito anos com forte reconhecimento e aceitação. Já em Belo Horizonte, o que vitaminou o “poste”, Márcio Lacerda, do PSB, foi a aliança, muito torpedeada pelo petismo paulista, entre o Governador Aécio Neves (PSDB) e o Prefeito Fernando Pimentel (PT). E, então, por que Fátima não se beneficia dos seus apoios? Ora, a minha hipótese é a de que é mais fácil dar vida a um poste do que mudar um perfil identitário fortemente arraigado. E é exatamente esse o caso de Fátima.

No que interessa em uma eleição, isto é, a imagem percebida pela população, Fátima cristalizou, com as três disputas anteriores, um “lugar” político e social: era a política de origem popular que enfrentava todos os “outros”. Não importa a veracidade ou não dessa imagem, mas, sim, a sua força mobilizadora. Ora, é exatamente tal imagem que está sendo desconstruída com a coligação “união por Natal”. Cada vez que Wilma, Carlos Eduardo ou Garibaldi aparecem na TV, com ares compungidos, pronunciando discursos autorizativos sobre Fátima (“nela, eu confio”, “agora, ela está madura”, “Fátima está preparada”, etc.), aquela imagem, que dava vida à personagem perde os seus referentes. E toda uma biografia desmancha-se no ar. Em seu lugar, o que propõem os experts e marqueteiros da campanha petista? A imagem de uma Fátima que traz recursos para a cidade, que é “competente”. Essa, entretanto, não é uma imagem ancorada em coisa mais substantiva do que a tradicional intermediação parlamentar de recursos da União. É pouco, muito pouco.

Por outro lado, e muito ao contrário de um dos mitos que move o PT, as eleições municipais brasileiras apenas em alguns momentos excepcionais (1988, por exemplo) são “federalizadas”. Ora, o eleitor já “sabe” que Fátima é a candidata de Lula. E isso muda muito pouco dado que o que ele, eleitor, precisava era de uma imagem, uma identidade definida, e é exatamente isso que Fátima não conseguiu passar até agora. A sua campanha na TV tem sido um strip-tease político degradante. Os vocábulos dominantes nas suas peças publicitárias - “continuidade”, “competência” e “maturidade” – destroem quaisquer veleidades políticas críticas e progressistas. E pior ainda: desarmam o PT para as disputas políticas futuras, especialmente no período pós-Lula (e pós-governo) que se avizinha.

Pode ser que a situação mude. As tais “máquinas” podem entrar em cena e arrastar a disputa para um imprevisível segundo turno. Não é a hipótese mais provável, penso eu. E por quê? Porque a imagem de Fátima que existia, alimentada em certo sectarismo, reconheçamos, teve que ser desconstruída para dar lugar a uma outra (a da “obreira” e “garantidora de recursos”) que não cola com a história do personagem.

Mas há algo mais encerrando Fátima em seu quadrado. É a história da administração municipal de Natal. Há quase duas décadas, Natal é uma cidade governada por mão única. Com a exceção de um pequeno interregno, durante uma parcela de tempo da gestão de Aldo Tinoco, o wilmismo tem dado as cartas por aqui. E isso cansa, mesmo quando as administrações são boas. Foi o caso do PT em Porto Alegre, em 2004. O que isso significa? Que Fátima comprou uma empresa, a “União por Natal”, com uma fachada vistosa e ações futuras que se anunciavam sedutoras, mas, ao abrir o livro de contas, descobriu um imenso passivo. Daí que vai Fátima vai ficando no seu quadrado...

Miguel Mossoró não dança, mas fica no seu quadrado

Miguel Mossoró, em 2004, foi um fenômeno. O candidato-cacareco que encantou a criançada e foi adotado irreverentemente por uma parcela da juventude natalense, especialmente da zona sul da cidade. Agora, ele tenta repetir o feito. Mas é uma farsa. Perdeu originalidade. E, sem esta, toda a sua graça anterior. Engolido pelo marketing, o personagem divide o seu quadrado com um ator metido a engraçadinho. Empurraram-no um script que não cola com o personagem. Assim, Miguel Mossoró fica no seu quadrado, faz porocotó, mas não dança e o seu espaço só tende a diminuir. Como o horário eleitoral é tudo, menos gratuito, já que é bancado com o seu, o meu, o nosso suado dinheirinho, então, o humor de Miguel Mossoró está ficando caro. Se em 2004, a sua ascensão significou uma crítica da juventude ao esgotamento do sistema político, em 2008, é apenas uma caricatura de si mesmo. A cidade não perderá grande coisa com o ocaso dessa figura.

Vober não tem um quadrado

A performance mais intrigante desta eleição em Natal é, sem dúvidas, a de Vober Jr. De um político com a experiência e trajetória de Vober, esperávamos muito mais. Vereador, deputado e secretário de governo, Vober foi tudo isso e mais um pouco. Foi também militante do movimento estudantil e membro dessa escola de política que foi o PCB. Por tudo isso, a nossa expectativa era a de que ele, no mínimo, se mostrasse um candidato com um quadrado definido para se movimentar.

Sandro Pimentel, se conseguir um quadrado, vira bailarino

Sandro Pimentel alia a condição de metralhadora giratória dos candidatos ditos “nanicos” com uma ousada investida em um campo pouco explorado pela ultra-esquerda: o posicionamento, com alguma desenvoltura, sobre temas como segurança, saneamento, transporte coletivo e saúde. No debate da TV Universitária, por exemplo, conseguiu se mostrar e marcar um espaço próprio. Foi o melhor dentre os candidatos “pequenos”. Só escorrega na maionese quando começa a falar de um certo “governo do sol”. Sandro é sagaz, tem tino, e, se conseguir demarcar um quadrado, com certeza, vira bailarino. Em outras palavras, alcançar uma votação típica do PT nos anos oitenta: 5%.

Dr. Joanilson se diverte no seu quadrado

Para Dr. Joanilson, eu desconfio, tudo não passa de uma grande brincadeira. Eu o vejo na TV e fico com a impressão de que ele está apenas se divertindo. Um advogado de sucesso que, após uma longa carreira, decidiu espairecer um pouco. Dança direitinho no seu quadrado... Não se pode esperar muito mais de um democrata-cristão.

Dário Barbosa

E trotskista dança?

Pedro Quithé

Quem?

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Fátima se sai melhor no segundo bloco

O segundo bloco mostra o quão esdrúxulo é o processo eleitoral eleitoral brasileiro. Por que todos os candidatos precisam participar de todos os debates? A presença de todos, penso eu, mais atrapalha do que ajuda o debate. Miguel Mossoró, nesse bloco, tentou reviver as boutades da última eleição para prefeito. A sua verve de humorista parece que está esgotada. Wolber foi melhor e falou com mais segurança. Micarla também evoluiu, falou de esgotamento sanitário, e, embora genérica, apontou críticas razoáveis à atual administração municipal. Sandro continuou bem. Dário não conseguiu demarcar um espaço próprio. Joanilson falou da cultura... do seridó. E Pedro Quithé? Não dá prá lembrar... Fátima falou com veemência, mostrou que é candidata de continuação e fez menção ao Governo Lula. Foi um movimento objetivo: procurou se vincular à Carlos Eduardo e à Lula. Foi competente! Foi a melhor candidata nesse segundo bloco.

O primeiro bloco: Sandro surpreende.

O apresentador perdeu um precioso tempo com as urnas de vidro nas quais estão colocados papéis com os nomes dos candidatos e os temas para o debate. Fátima iniciou o debate e fez uma pergunta a Wolber Jr. Wolber não foi bem. Sinceramente, esperava mais dele. Fátima, na tréplica, demonstrou segurança. E isso é importante, sabemos bem, na avaliação geral que o telespectador faz do desempenho dos candidatos. Micarla não foi muito longe, mas, como está na frente nas pesquisas, não pode é escorregar em alguma casca de banana (algo que não ocorrerá, devido ao engessamento das regras do debate). E os demais candidatos? Joanilson, Pedro Quithé e Dário corresponderam à expectativa geral: falar como candidatos sem chance e que estão apenas "marcando posição". O tom destoante, nesse primeiro bloco, deveu-se ao desempenho de Sandro Pimentel. De longe, foi o candidato que melhor usou o tempo. Falou sobre segurança pública. E falou bem. Demonstrou conhecimento sobre o tema e até alfinetou os que identificam a solução dos problemas de segurança pública condicionada à resolução da questão social. Soube ainda diferenciar o que é responsabilidade de cada alçada de governo em relação ao tema. No primeiro bloco, foi o candidato que se saiu melhor.

Iniciado o debate com os candidatos à prefeitura de Natal

Iniciado há pouco, na TV Universitária, o debate com os candidatos à prefeitura de Natal. Trata-se de uma promoção do Centro Acadêmico Amaro Cavalcanti, entidade estudantil representativa dos estudantes de Direito da UFRN, e pioneira na promoção de debates públicos eleitorais no Rio Grande do Norte.

O importante é que o debate ocorre um dia antes do início do horário eleitoral. O momento, entretanto, não é o melhor, dado que as atenções ainda estão voltadas para os Jogos Olímpicos de Pequim. Por outro lado, embora em concorrência direta com o Jornal Nacional, da TV Globo, o horário do debate não poderia ser melhor. Acredito que não poucas pessoas, zapeando na TV, acompanharão, nem que seja por alguns minutos, esse primeiro confronto. Daí a sua importância. Daqui em diante, na medida do possível, tecerei alguns comentários sobre o desempenho dos(as) candidatos (as) e sobre a evolução do debate.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Fátima Bezerra e Orestes Quércia: a semelhança é mera coincidência? - republicação.

Atendendo a pedidos, republico um post (que está escondido em meio aos posts de julho) no qual analiso as eleições municipais de Natal (RN).

Setembro de 1986. Vivíamos as primeiras eleições livres para deputados, senadores e governadores de estado, após quase duas décadas de disputas garroteadas pelas legislações eleitorais fabricadas pela engenharia política dos Generais. Na ressaca das diretas, derrotadas por gente que hoje se distribui democraticamente por quase todos os partidos de nosso espectro político, o Colégio Eleitoral, no ano anterior, consagrara Tancredo Neves Presidente. Mas os deuses, brincalhões como sempre, tiraram a vida de Tancredo e nos empurraram Sarney, o vice, egresso da ARENA e do PDS. Naquele momento, o Plano Cruzado, intervenção macro-econômico de peso, que, dentre outras coisas, instituiu um controle de preços, traduzido popularmente nas figuras histéricas dos “fiscais do Sarney”, já começava a ruir. Mesmo assim, o PMDB, partido que encabeçara a Aliança Democrática (a conjunção de forças que levara a melhor sobre Maluf nas eleições indiretas), ainda se beneficiava dos efeitos positivos do Plano, em que pese o desabastecimento já começar a se sentir, especialmente nos setores de carnes e leite e derivados.

O PMDB ia bem em todo o país, menos em São Paulo. Na “locomotiva da federação”, o candidato peemedebista a governador, o então Senador Orestes Quércia, via-se abandonado até mesmo pelas candidaturas ao Senado do seu partido. Mário Covas e Fernando Henrique Cardozo, os candidatos, flertavam abertamente com Antônio Ermírio de Moraes, o nome do PTB na disputa ao governo paulista. Como diria hoje a minha enteada, a candidatura de Antônio Ermírio “bombava”. Para completar, artistas renomados declaravam apoio ao mega-empresário e ninguém menos do que Roberto Carlos era o seu garoto-propaganda na TV. Quércia já era conhecido pelo seu estilo tratorista de fazer política. Entre o seu estilo, desenvolvimentista (mas também demagógico e autoritário), e aquele do então governador paulista, Franco Montoro, mais apegado à idéias que se consagrariam somente duas décadas mais tarde (racionalização e enxugamento do Estado, respeito aos direitos humanos, responsabilidade fiscal, etc.), havia uma distância quilométrica. Não era, por certo, o candidato dos sonhos daquele grupo de peemedebistas que, três anos mais tarde, criariam o PSDB. Quércia era determinado. Impusera sua candidatura. O caipira da pequena Pedregulho derrotara internamente os engalanados doutores da capital. E estes davam o troco, mesmo que de forma velada, apoiando Antônio Ermírio.

As eleições, como todos lembram, ocorreriam no dia 15 de novembro. Em setembro restavam, portanto, menos de dois meses de campanha. E o cenário para Quércia não era nada animador. Lembro-me que o peemedebista aparecia na TV, falando com aquele seu sotaque carregado, tendo como fundo uma parede de tijolos aparentes. Pois bem, refletindo o clima da campanha, um grande jornal (ou revista, não me lembro bem) publicou uma charge na qual membros do partido vinham por trás do candidato e retiravam tijolos dessa parede.

Quércia tinha pouco tempo para a virada. E ele conseguiu. Uma feliz (para ele, obviamente) conjugação de eventos contribuiu para isso. O primeiro deles foi “Suplicy ficar fora do eixo”. O candidato do PT, Eduardo Suplicy, que, no ano anterior, obtivera uma grande votação (para os modestos padrões de voto do PT na primeira metade da década de oitenta) para prefeito de São Paulo, e, indiretamente ajudara a derrotar Fernando Henrique e eleger Jânio Quadros, perdia pontos a cada pesquisa. O petista crescera até o momento em que militantes do partido, ligados ao PCBR, realizaram um tresloucado assalto a uma agência bancária em Salvador (BA). Os paulistas começaram a fugir do então marido da Marta, e, este, com muita honestidade e pouco tino político, declarou-se em “crise existencial”. Para encontrar o seu “eixo”, pegou um livro de Paulo Coelho (“O Alquimista”) e foi se refugiar em alguma tranqüila montanha do interior. Os votos petistas deslizaram para Quércia. Um outro elemento decisivo foi um debate eleitoral ocorrido na televisão. Embora não se comunicasse tão bem quanto Maluf, outro candidato ao governo, pelo então PDS, Quércia era melhor comunicador do que Ermírio de Moraes. Mas o decisivo mesmo foi que, nesse debate, Antônio Ermírio, para mostrar o seu distanciamento de Maluf (isso era fundamental para conquistar a classe média, apoiadora de Covas e FHC), afirmou que jamais procurara Maluf no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista. Maluf, não sei se por coincidência, estava preparado: mostrou fotos de Antônio Ermírio em visitas ao Palácio e em animadas conversas com ele, Maluf. Quércia pegou a deixa e passou a se colocar como um “político sincero”. Tal como Suplicy, Antônio Ermírio perdeu o eixo (embora não tenha explicitado isso em público) e a sua candidatura desinflou de um dia para o outro. O terceiro fator, talvez o mais decisivo, foi a decisão política de Sarney, atendendo ao clamor do PMDB, de dar uma sobrevida ao Plano Cruzado e encenar a “prisão” de bois nos pastos para garantir o abastecimento de carne.

No início de novembro de 1986, covistas e fernandistas, resignados, voltavam ao regaço e declaravam juras de amor ao candidato do partido. Quércia disparou nas pesquisas e, no dia 15, venceu com folga a eleição. Para se vingar, mais aí já é outra história, quando no governo, tratou a pão e água a “quinta-coluna” peemedebista.

Quais as semelhanças entre Fátima Bezerra e Orestes Quércia? Vejamos. Fátima entrou em 2008 derrotada politicamente no PT. Seu agrupamento político perdera as eleições para os diretórios estadual e municipal de Natal. O grupo ligado ao Deputado Fernando Mineiro (a "Articulação") parecia, enfim, ter se livrado do convívio forçado e nada amistoso com o “pessoal da Fátima” no mesmo condomínio político (a direção do partido). E Mineiro pareceu pilotar sua nave política em céu de brigadeiro por alguns dias. Lançou-se pré-candidato e, em que pese a fragilidade estrutural do partido na capital (destroçado financeiramente), tinha alguma chance, se não de ganhar as eleições municipais, ao menos de “fazer o debate político” e deixar claro o que o PT propõe para a capital potiguar. Mas, Fátima, tal qual Quércia, sabe jogar e é persistente. Lançou um balão de ensaio, a candidatura de Vírginia Ferreira, e enquanto Mineiro se preparava para enfrentar a “novidade”, a deputada articulava, “por cima”, a união da base de apoio ao Governo Lula em torno do seu nome. O petismo, refém da balela de que as eleições municipais são decisivas para a governabilidade presidencial e para as eleições seguintes (essa proposição, lembremos, construiu em 2004 o desastre do Mensalão em 2005), deixou-se enredar pelo canto de sereia da união da base aliada. E em seu nome sacrificou tudo. Até a eleição de um representante na Câmara Municipal.

Fátima, como Quércia, foi beneficiada pelos erros de uns (a "Articulaçao" e a maioria dos petistas) e as espertezas de outros. Coloquemos entre os espertos alguns dos grandes jogadores políticos do RN neste momento (a Governadora Wilma de Faria, o Senador Garibaldi Filho e o prefeito de Natal, Carlo Eduardo Alves), os quais têm que jogar e estabelecer parcerias, mas não têm nenhuma confiança um nos outros. A candidatura de Vírginia, por exemplo, seria ideal para Carlos Eduardo, mas era inaceitável para Wilma e Garibaldi. Rogério Marinho, candidato de parte do wilmismo, era inaceitável para Carlos Eduardo. O PMDB, sem um nome forte, poderia até jogar com Micarla, mas aí não ficaria bem com o Palácio do Planalto, e Garibaldi, bom jogador que é, sabe que brigar com Lula é um desastre, especialmente tendo em vista sua ampla base de apoio no interior (que apóia Lula e, ao mesmo tempo, precisa da proximidade de um Presidente do Senado que é parceiro do presidente). Nesse quadro, Fátima surgiu como uma opção razoável. Como estão empenhados em embaralhar as cartas com vistas a 2010, os jogadores não podem se dar ao luxo de jogadas arriscadas. Precisam estar de bem com o Palácio do Planalto, e, ao mesmo tempo, não podem trabalhar com a hipótese do fortalecimento extraordinário de nenhum deles. Com a candidatura de Fátima, eles nem perdem e nem ganham. E, sejamos sinceros, Fátima sendo eleita ou não.

Espertos, os jogadores fizeram o acordo e ficaram esperando para vê no que ia dar. Na esperteza, foram arrogantes. Deixaram de fora nada menos do que o Presidente da Assembléia Legislativa, o deputado Robinson Faria, e João Maia, deputado federal do PR, que conta com uma base política em franco crescimento no interior do estado. E estes decidiram não vir a reboque. O que fazer? Na última hora, encontraram uma solução: Fátima abdicar da postulação em nome de João Maia. Mas aí já era tarde! Estávamos no último dia para as convenções partidárias, e o PT não aceitou mais essa re-arrumação. Fátima teve sangue-frio, manteve-se firme e pagou pra ver. Os outros recuaram e a sua candidatura foi confirmada.

Fátima fez o estilo Geraldo Alkimim (eis aí outro paulista do interior a destronar a finesse paulistana): atropelou internamente os adversários e se impôs aos aliados. Mineiro, Rogério Marinho, Virginia e João Maia foram jogados de escanteio para que ela pudesse ser A CANDIDATA. “Jogou bem”, dizem-me, com indisfarçável orgulho, alguns amigos petistas. Pode até ser. Mas qual o preço que o PT pagará pela candidatura de Fátima? O partido teve que fechar uma aliança para a Câmara Municipal com o PMDB e o PSB. O que isso significa? Nunca nenhum candidato a vereador do PT ultrapassou os seis mil votos em Natal. Ora, esse é o número de votos alcançados pelos eleitos em último lugar nos dois partidos aliados. Assim, para garantir a candidatura de Fátima, o PT teve de entregar o seu histórico e cobiçado voto de legenda para ajudar, dentre outros, candidatos apanhados pela chamada “Operação Impacto”. Teve mais: o PT aceitou o veto imposto por neo-aliados à aliança com o partido de Osório Jácome, vereador que tem tido uma atuação destacada e pontuada pela proposição de debates públicos substantivos. Osório, representante dos evangélicos progressistas, esperou até o último momento por uma aliança com o PT. Excluído, restou-lhe buscar espaço junto à coligação de Wolber Júnior.

Fátima está, neste final de julho, como Quércia estava em setembro de 1986. Com um diferencial positivo: não se conhece (pelo menos até agora!) um petismo quinta-coluna. Mineiro não se comportou como Covas e FHC em 1986. É um homem de partido (ainda existem esses, acredite!). Engoliu em seco a derrota e dedica-se à defesa da candidatura de Fátima com o ardor de um cristão-novo. Nos últimos dias, tal qual o César Maia nas últimas eleições presidenciais, faz cálculos criativos com base em pesquisas eleitorais francamente desfavoráveis para a sua candidata para mostrar à “militância” (sobre a existência dessa “entidade”, sim, tenho dúvidas) que é “possível uma virada”.

Com o que conta, então, a deputada petista para construir a sua virada? Com um “fato novo” em um debate? Micarla, a sua principal adversária e líder disparada nas pesquisas eleitorais no momento, é uma incógnita nesse quesito. À parte isso, o fato é que os próprios debates não têm o mesmo peso político das décadas anteriores. Com a popularidade e o apoio de Lula? As eleições municipais são sempre menos nacionais do que desejam os petistas. A “transferência de votos” do presidente deve ser, portanto, relativizada. Com o tempo na televisão? Fátima terá um horário eleitoral esticado (cerca de dez minutos, três a mais do que Micarla), mas tempo de sobra na TV nem sempre é um fator positivo. Nas eleições presidenciais de 1989, para tomar um exemplo, Aureliano Chaves, do PFL (atual DEM), dispunha do maior tempo no horário eleitoral. Abertas as urnas, tirou menos de dois por cento dos votos e ficou bem atrás de um candidato cujo tempo de TV era suficiente apenas para a verberação de um bordão: “meu nome é Enéas!”.

Por outro lado, a alta “taxa de alheamento do processo eleitoral” (em Natal quase 50% dos eleitores ainda não decidiram em quem votar nas próximas eleições) possibilita a emergência de cenários imprevisíveis. Mas, quem pode contar com o imponderável? Nas últimas eleições para prefeito na capital potiguar, um candidato que propunha a “construção de uma ponte ligando Natal a Ilha de Fernando de Noronha” (sic) obteve 20% dos votos. Os chamados “cacarecos” assomam sempre nesses momentos de indefinições.

Fátima, como Quércia, é persistente. E esse é um traço importante para quem se dispõe a jogar o jogo pesado das disputas eleitorais no Brasil. A sua candidatura atropelou muita gente e isso cria ressentimentos. Mas, como sabemos de há muito, os ressentimentos em política são facilmente superados com a perspectiva de proximidade com o poder. Até o final de agosto, Fátima precisa crescer nas pesquisas para, como Quércia no início de novembro de 1986, começar a contar com o retorno dos descontentes. Só assim poderá criar

domingo, 27 de julho de 2008

Fátima Bezerra e Orestes Quércia: a semelhança é mera coincidência?

Setembro de 1986. Vivíamos as primeiras eleições livres para deputados, senadores e governadores de estado, após quase duas décadas de disputas garroteadas pelas legislações eleitorais fabricadas pela engenharia política dos Generais. Na ressaca das diretas, derrotadas por gente que hoje se distribui democraticamente por quase todos os partidos de nosso espectro político, o Colégio Eleitoral, no ano anterior, consagrara Tancredo Neves Presidente. Mas os deuses, brincalhões como sempre, tiraram a vida de Tancredo e nos empurraram Sarney, o vice, egresso da ARENA e do PDS. Naquele momento, o Plano Cruzado, intervenção macro-econômico de peso, que, dentre outras coisas, instituiu um controle de preços, traduzido popularmente nas figuras histéricas dos “fiscais do Sarney”, já começava a ruir. Mesmo assim, o PMDB, partido que encabeçara a Aliança Democrática (a conjunção de forças que levara a melhor sobre Maluf nas eleições indiretas), ainda se beneficiava dos efeitos positivos do Plano, em que pese o desabastecimento já começar a se sentir, especialmente nos setores de carnes e leite e derivados.

O PMDB ia bem em todo o país, menos em São Paulo. Na “locomotiva da federação”, o candidato peemedebista a governador, o então Senador Orestes Quércia, via-se abandonado até mesmo pelas candidaturas ao Senado do seu partido. Mário Covas e Fernando Henrique Cardozo, os candidatos, flertavam abertamente com Antônio Ermírio de Moraes, o nome do PTB na disputa ao governo paulista. Como diria hoje a minha enteada, a candidatura de Antônio Ermírio “bombava”. Para completar, artistas renomados declaravam apoio ao mega-empresário e ninguém menos do que Roberto Carlos era o seu garoto-propaganda na TV. Quércia já era conhecido pelo seu estilo tratorista de fazer política. Entre o seu estilo, desenvolvimentista (mas também demagógico e autoritário), e aquele do então governador paulista, Franco Montoro, mais apegado à idéias que se consagrariam somente duas décadas mais tarde (racionalização e enxugamento do Estado, respeito aos direitos humanos, responsabilidade fiscal, etc.), havia uma distância quilométrica. Não era, por certo, o candidato dos sonhos daquele grupo de peemedebistas que, três anos mais tarde, criariam o PSDB. Quércia era determinado. Impusera sua candidatura. O caipira da pequena Pedregulho derrotara internamente os engalanados doutores da capital. E estes davam o troco, mesmo que de forma velada, apoiando Antônio Ermírio.

As eleições, como todos lembram, ocorreriam no dia 15 de novembro. Em setembro restavam, portanto, menos de dois meses de campanha. E o cenário para Quércia não era nada animador. Lembro-me que o peemedebista aparecia na TV, falando com aquele seu sotaque carregado, tendo como fundo uma parede de tijolos aparentes. Pois bem, refletindo o clima da campanha, um grande jornal (ou revista, não me lembro bem) publicou uma charge na qual membros do partido vinham por trás do candidato e retiravam tijolos dessa parede.

Quércia tinha pouco tempo para a virada. E ele conseguiu. Uma feliz (para ele, obviamente) conjugação de eventos contribuiu para isso. O primeiro deles foi “Suplicy ficar fora do eixo”. O candidato do PT, Eduardo Suplicy, que, no ano anterior, obtivera uma grande votação (para os modestos padrões de voto do PT na primeira metade da década de oitenta) para prefeito de São Paulo, e, indiretamente ajudara a derrotar Fernando Henrique e eleger Jânio Quadros, perdia pontos a cada pesquisa. O petista crescera até o momento em que militantes do partido, ligados ao PCBR, realizaram um tresloucado assalto a uma agência bancária em Salvador (BA). Os paulistas começaram a fugir do então marido da Marta, e, este, com muita honestidade e pouco tino político, declarou-se em “crise existencial”. Para encontrar o seu “eixo”, pegou um livro de Paulo Coelho (“O Alquimista”) e foi se refugiar em alguma tranqüila montanha do interior. Os votos petistas deslizaram para Quércia. Um outro elemento decisivo foi um debate eleitoral ocorrido na televisão. Embora não se comunicasse tão bem quanto Maluf, outro candidato ao governo, pelo então PDS, Quércia era melhor comunicador do que Ermírio de Moraes. Mas o decisivo mesmo foi que, nesse debate, Antônio Ermírio, para mostrar o seu distanciamento de Maluf (isso era fundamental para conquistar a classe média, apoiadora de Covas e FHC), afirmou que jamais procurara Maluf no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista. Maluf, não sei se por coincidência, estava preparado: mostrou fotos de Antônio Ermírio em visitas ao Palácio e em animadas conversas com ele, Maluf. Quércia pegou a deixa e passou a se colocar como um “político sincero”. Tal como Suplicy, Antônio Ermírio perdeu o eixo (embora não tenha explicitado isso em público) e a sua candidatura desinflou de um dia para o outro. O terceiro fator, talvez o mais decisivo, foi a decisão política de Sarney, atendendo ao clamor do PMDB, de dar uma sobrevida ao Plano Cruzado e encenar a “prisão” de bois nos pastos para garantir o abastecimento de carne.

No início de novembro de 1986, covistas e fernandistas, resignados, voltavam ao regaço e declaravam juras de amor ao candidato do partido. Quércia disparou nas pesquisas e, no dia 15, venceu com folga a eleição. Para se vingar, mais aí já é outra história, quando no governo, tratou a pão e água a “quinta-coluna” peemedebista.

Quais as semelhanças entre Fátima Bezerra e Orestes Quércia? Vejamos. Fátima entrou em 2008 derrotada politicamente no PT. Seu agrupamento político perdera as eleições para os diretórios estadual e municipal de Natal. O grupo ligado ao Deputado Fernando Mineiro (a "Articulação") parecia, enfim, ter se livrado do convívio forçado e nada amistoso com o “pessoal da Fátima” no mesmo condomínio político (a direção do partido). E Mineiro pareceu pilotar sua nave política em céu de brigadeiro por alguns dias. Lançou-se pré-candidato e, em que pese a fragilidade estrutural do partido na capital (destroçado financeiramente), tinha alguma chance, se não de ganhar as eleições municipais, ao menos de “fazer o debate político” e deixar claro o que o PT propõe para a capital potiguar. Mas, Fátima, tal qual Quércia, sabe jogar e é persistente. Lançou um balão de ensaio, a candidatura de Vírginia Ferreira, e enquanto Mineiro se preparava para enfrentar a “novidade”, a deputada articulava, “por cima”, a união da base de apoio ao Governo Lula em torno do seu nome. O petismo, refém da balela de que as eleições municipais são decisivas para a governabilidade presidencial e para as eleições seguintes (essa proposição, lembremos, construiu em 2004 o desastre do Mensalão em 2005), deixou-se enredar pelo canto de sereia da união da base aliada. E em seu nome sacrificou tudo. Até a eleição de um representante na Câmara Municipal.

Fátima, como Quércia, foi beneficiada pelos erros de uns (a "Articulaçao" e a maioria dos petistas) e as espertezas de outros. Coloquemos entre os espertos alguns dos grandes jogadores políticos do RN neste momento (a Governadora Wilma de Faria, o Senador Garibaldi Filho e o prefeito de Natal, Carlo Eduardo Alves), os quais têm que jogar e estabelecer parcerias, mas não têm nenhuma confiança um nos outros. A candidatura de Vírginia, por exemplo, seria ideal para Carlos Eduardo, mas era inaceitável para Wilma e Garibaldi. Rogério Marinho, candidato de parte do wilmismo, era inaceitável para Carlos Eduardo. O PMDB, sem um nome forte, poderia até jogar com Micarla, mas aí não ficaria bem com o Palácio do Planalto, e Garibaldi, bom jogador que é, sabe que brigar com Lula é um desastre, especialmente tendo em vista sua ampla base de apoio no interior (que apóia Lula e, ao mesmo tempo, precisa da proximidade de um Presidente do Senado que é parceiro do presidente). Nesse quadro, Fátima surgiu como uma opção razoável. Como estão empenhados em embaralhar as cartas com vistas a 2010, os jogadores não podem se dar ao luxo de jogadas arriscadas. Precisam estar de bem com o Palácio do Planalto, e, ao mesmo tempo, não podem trabalhar com a hipótese do fortalecimento extraordinário de nenhum deles. Com a candidatura de Fátima, eles nem perdem e nem ganham. E, sejamos sinceros, Fátima sendo eleita ou não.

Espertos, os jogadores fizeram o acordo e ficaram esperando para vê no que ia dar. Na esperteza, foram arrogantes. Deixaram de fora nada menos do que o Presidente da Assembléia Legislativa, o deputado Robinson Faria, e João Maia, deputado federal do PR, que conta com uma base política em franco crescimento no interior do estado. E estes decidiram não vir a reboque. O que fazer? Na última hora, encontraram uma solução: Fátima abdicar da postulação em nome de João Maia. Mas aí já era tarde! Estávamos no último dia para as convenções partidárias, e o PT não aceitou mais essa re-arrumação. Fátima teve sangue-frio, manteve-se firme e pagou pra ver. Os outros recuaram e a sua candidatura foi confirmada.

Fátima fez o estilo Geraldo Alkimim (eis aí outro paulista do interior a destronar a finesse paulistana): atropelou internamente os adversários e se impôs aos aliados. Mineiro, Rogério Marinho, Virginia e João Maia foram jogados de escanteio para que ela pudesse ser A CANDIDATA. “Jogou bem”, dizem-me, com indisfarçável orgulho, alguns amigos petistas. Pode até ser. Mas qual o preço que o PT pagará pela candidatura de Fátima? O partido teve que fechar uma aliança para a Câmara Municipal com o PMDB e o PSB. O que isso significa? Nunca nenhum candidato a vereador do PT ultrapassou os seis mil votos em Natal. Ora, esse é o número de votos alcançados pelos eleitos em último lugar nos dois partidos aliados. Assim, para garantir a candidatura de Fátima, o PT teve de entregar o seu histórico e cobiçado voto de legenda para ajudar, dentre outros, candidatos apanhados pela chamada “Operação Impacto”. Teve mais: o PT aceitou o veto imposto por neo-aliados à aliança com o partido de Osório Jácome, vereador que tem tido uma atuação destacada e pontuada pela proposição de debates públicos substantivos. Osório, representante dos evangélicos progressistas, esperou até o último momento por uma aliança com o PT. Excluído, restou-lhe buscar espaço junto à coligação de Wolber Júnior.

Fátima está, neste final de julho, como Quércia estava em setembro de 1986. Com um diferencial positivo: não se conhece (pelo menos até agora!) um petismo quinta-coluna. Mineiro não se comportou como Covas e FHC em 1986. É um homem de partido (ainda existem esses, acredite!). Engoliu em seco a derrota e dedica-se à defesa da candidatura de Fátima com o ardor de um cristão-novo. Nos últimos dias, tal qual o César Maia nas últimas eleições presidenciais, faz cálculos criativos com base em pesquisas eleitorais francamente desfavoráveis para a sua candidata para mostrar à “militância” (sobre a existência dessa “entidade”, sim, tenho dúvidas) que é “possível uma virada”.

Com o que conta, então, a deputada petista para construir a sua virada? Com um “fato novo” em um debate? Micarla, a sua principal adversária e líder disparada nas pesquisas eleitorais no momento, é uma incógnita nesse quesito. À parte isso, o fato é que os próprios debates não têm o mesmo peso político das décadas anteriores. Com a popularidade e o apoio de Lula? As eleições municipais são sempre menos nacionais do que desejam os petistas. A “transferência de votos” do presidente deve ser, portanto, relativizada. Com o tempo na televisão? Fátima terá um horário eleitoral esticado (cerca de dez minutos, três a mais do que Micarla), mas tempo de sobra na TV nem sempre é um fator positivo. Nas eleições presidenciais de 1989, para tomar um exemplo, Aureliano Chaves, do PFL (atual DEM), dispunha do maior tempo no horário eleitoral. Abertas as urnas, tirou menos de dois por cento dos votos e ficou bem atrás de um candidato cujo tempo de TV era suficiente apenas para a verberação de um bordão: “meu nome é Enéas!”.

Por outro lado, a alta “taxa de alheamento do processo eleitoral” (em Natal quase 50% dos eleitores ainda não decidiram em quem votar nas próximas eleições) possibilita a emergência de cenários imprevisíveis. Mas, quem pode contar com o imponderável? Nas últimas eleições para prefeito na capital potiguar, um candidato que propunha a “construção de uma ponte ligando Natal a Ilha de Fernando de Noronha” (sic) obteve 20% dos votos. Os chamados “cacarecos” assomam sempre nesses momentos de indefinições.

Fátima, como Quércia, é persistente. E esse é um traço importante para quem se dispõe a jogar o jogo pesado das disputas eleitorais no Brasil. A sua candidatura atropelou muita gente e isso cria ressentimentos. Mas, como sabemos de há muito, os ressentimentos em política são facilmente superados com a perspectiva de proximidade com o poder. Até o final de agosto, Fátima precisa crescer nas pesquisas para, como Quércia no início de novembro de 1986, começar a contar com o retorno dos descontentes. Só assim poderá criar condições para vencer a disputa.