sexta-feira, 26 de setembro de 2008
O populismo eletrônico: um artigo de Alex Galeno
Alex Galeno, o cara da foto acima, é professor de sociologia da UFRN e um criativo analista do social. Tem diversas obras e artigos publicados (veja aqui o seu curriculum lattes) sobre política, literatura e epistemologia. Nos brinda, agora, com um texto sobre o peso do populismo eletrônico nestas eleições municipais. Leia-o aí abaixo.
Populistas eletrônicos
Vivemos a proliferação de Homo Videns (Sartori). Sujeitos construídos artificialmente por imagens eletrônicas e, em geral, desprovidos de consistência e do lastro do pensamento. Não existem porque pensam, mas existem porque aparecem. São políticos que se assemelham a vedetes televisivas. A conseqüência desse sentimento midiático é transferida para a política. Assistimos na passarela eleitoral, em Natal, diversos homo videns dessa espécie. A começar pela candidata Micarla de Sousa - PV. Uma candidatura forjada (editada?) pela imagem de seu programa diário na emissora da qual é proprietária. Aparece sob os efeitos das lentes do fotógrafo de estrelas da revista Playboy, J.R. Duran. Com cabelos alisados, dentes branqueados, roupas de grifes, fala com sotaque para parecer diferente. Uma espécie de Alice ingênua e imatura politicamente, que diante dos desafios e dificuldades para discernir o caminho certo para o destino de nossa cidade, poderá escolher qualquer um. O mais importante. Sob a chancela da bandeira ecológica se diz defensora do meio-ambiente, embora esteja aliada com aqueles que mais têm destruído o ambiente e representado o capital especulativo na história da cidade do Natal. Refiro-me ao DEM do senador de grife, José Agripino. Sua única tradição em política é sua filiação ao já falecido senador populista Carlos Alberto. Que usou programas na TV e nas rádios para doar cadeiras de rodas. Este fez escola. Basta que olhemos o atual deputado estadual Luis Almir ( PSDB), quando na televisão se transforma num chefe político eletrônico que despacha com seus espectadores. Podemos destacar ainda: Gilson Moura, atual deputado estadual-PV e candidato a prefeito em Parnamirim, Aquino Neto, Salatiel de Sousa e Paulo Wagner, todos concorrendo a uma vaga na câmara municipal de Natal. Este último parece mais um ator que encena cotidianamente, em seu programa, espetáculos da crueldade. Lembrando os espetáculos nos antigos coliseus romanos, quando nobres assistiam aos leões estraçalharem pessoas. Uma espécie de xerife eletrônico destilando moralismo e punições aos mais pobres.
As celebridades midiáticas são eficientes na relação com seus espectadores-eleitores. Caso contrário, não estariam representando seus papéis no teatro político das eleições. A TV e seus programas têm transformado o tradicional líder carismático da política, numa celebridade de auditório. O princípio da liderança das ruas, hoje, parece substituído pelo princípio do programa televisivo. A política virou edição e se apresenta como videoclipe. E aí reside o perigo civilizatório. O Brasil já vivenciou tal vedetismo quando da eleição de Fernando Collor de Melo para a presidência da República. O homem que parecia portar a imagem do justiceiro caçador de marajás, mas quando a população se deu conta que se tratava de um ilusionista ou de uma imagem fake, foi para as ruas pedir seu impeachment. Natal deverá ficar atenta a esta experiência midiática e histórica da política. A cidade não é uma TV com seus programas e apresentadores ávidos por audiências eleitorais. Nem sua administração é uma ilha de edição que transforma seus habitantes em meros espectadores-eleitores.
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