quarta-feira, 1 de outubro de 2008

O mundo não vai acabar, sentencia Maria da Conceição Tavares.

Veja, abaixo, matéria publicada no Magazine Terra. Bom, bom, bom, não está não, mas tá bom. Então, se o mundo não vai acabar, vou aceitar convite do meu amigo Beto Hugo, esquecer o repouso pós-cirurgia, e tomar um bom vinho. Ninguém é de ferro, não é mesmo?


Maria da Conceição: "O mundo não vai acabar"
Diego Salmen

Segundo a economista Maria da Conceição Tavares, o mundo não vai acabar após a rejeição do Congresso norte-americano ao pacote de ajuda econômica. Em entrevista exclusiva a Terra Magazine, Maria da Conceição afirma que a crise vivida pelo capitalismo internacional está restrita, por ora, aos vizinhos do norte e ao continente europeu. E que, por isso, o apocalipse está distante.

- O mundo não vai acabar. A crise até agora está centrada nos Estados Unidos e na Europa.

Nesta terça-feira, 30, os mercados financeiros - Brasil incluso - abriram em alta depois de um conturbado início de semana nos mercados financeiros.

Cenário distinto da segunda-feira, 29, quando a Câmara dos Representantes dos Estados Unidos rejeitou por 228 votos a 205 um conjunto de medidas econômicas estimado em US$ 700 bilhões para debelar a crise econômica no país. Reação "totalmente eleitoreira", na análise de Maria da Conceição.

Até mesmo os republicanos, partidários do presidente George W. Bush, foram contrários ao pacote. "Ele (George W. Bush) não é uma pessoa nada qualificada, e o que ele diz ou não diz não tem a menor importância", afirma a economista. "Ele efetivamente acabou como líder".

Maria da Conceição salienta que o poder de intervenção do Estado norte-americano não depende exclusivamente da aprovação do pacote de ajuda econômica.

"Em pânico, os caras se preveniram, antes mesmo de o pacote ser votado e do Wachovia (NR: banco que perdeu quase metade do seu valor de mercado em uma semana) ser comprado pelo Citigroup. Quer dizer, estão agindo rápido", diz. "Mas, evidentemente, isso não tira o pânico.

Leia a seguir a entrevista com Maria da Conceição Tavares:

Terra Magazine - O Congresso norte-americano rejeitou o pacote de ajuda econômica para a crise no país. O que deve acontecer agora?
Maria da Conceição Tavares - O mundo não vai acabar. Ontem já ocorreu uma deflação de ativos global, já perderam trilhões de dólares. Agora o Banco Central dos Estados Unidos e o Tesouro emprestaram mais dinheiro, e empurraram o Wachovia - que estava como um banco sólido, mas não está sólido, evidentemente - para o Citigroup. Aliás, os japoneses também entraram na jogada. Na Ásia o pau não foi o mesmo. A crise até agora está centrada nos Estados Unidos e na Europa.

A crise tem um efeito previsto já pelo próprio Karl Marx, de induzir à monopolização do sistema financeiro...
Está cada vez mais centralizado (o sistema financeiro). O fato, o que é óbvio, é que isso aí é uma coisa geográfica. A Ásia não pegou uma porrada tão grande. E os japoneses estão comprando o diabo. São bancos globais, então quando os EUA ficam de calça curta, o Japão, que tem muitas reservas e já superou sua própria crise bancária, vai às compras. Mas por enquanto está nessa gangorra; o que vai acontecer eu não sei. Objetivamente, o Banco Central americano já pôs US$ 450 bi, mais da metade do pacote. Claro, não iam ficar sem fazer nada, né?

Em pânico, os caras se preveniram, antes mesmo de o pacote ser votado e do Wachovia ser comprado pelo Citigroup. Quer dizer, estão agindo rápido. Mas evidentemente isso não tira o pânico.

E postura do presidente George W. Bush?
Ele não é uma pessoa nada qualificada, e o que ele diz ou não diz não tem a menor importância. Porque ele efetivamente acabou como líder e não tem mais política nos Estados Unidos, porque deram o azar de essa crise surgir no período eleitoral. Então a reação do Congresso é totalmente eleitoreira. Todo mundo está convencido de que o pacote é bom para os bancos, o que é verdade, e não resolve nada. Pode resolver, mas talvez não, enfim. É uma medida de emergência, de maneira que o Bush não tem liderança. Os Estados Unidos estão sem liderança política e as instituições bancárias deles estão muito mal. A crise americana é uma crise de mentira, no meu ponto de vista. (Os EUA) Vão pagar o preço. Da outra vez foi o Japão, agora serão eles.

Mudou o eixo...
Há uma multi-polaridade que está se convertendo numa perda cada vez maior da importância do centro americano.

Essa crise é fruto do processo de desregulamentação financeira iniciado na década de 1980, com o Consenso de Washington?
(risos) Claro, claro. Isso é resultado da política, como diz o candidato Obama. Quando se faz uma política desastrosa, o resultado é esse. Não se trata de um terremoto provocado pela natureza, não. O sistema bancário estava tão desregulado e fazia tais barbaridades, que na verdade já se chamavam de shadow banks, bancos das sombras. Eles alimentaram uma moda cheia de arapucas, e agora as arapucas estão atingindo bancos mais sólidos. O Wachovia era um banco comum, banco de depósito. Mas não agüentou. E aí como o Congresso fica paralisado, o Tesouro e o Banco Central tomam providências na hora. Eles estão o tempo inteiro para ver quem vai quebrar e antes que quebre, eles socorrem, está claro? Tanto o socorro global quanto o socorro caso a caso. Como todo dia tem ou dois casos, ou três, ou quatro...e os mercados mais ativos nessa brincadeira são Nova Iorque e Londres, que são os mais desregulados. Hong Kong, Tóquio, Seul não estão correndo riscos. Não é um sistema tão desregulado.

Uma das arapucas seria essa questão da alavancagem? (NR: grau de utilização de empréstimos em determinadas operações) Os bancos norte-americanos podem alavancar mais de dez vezes seu patrimônio líquido...
Dez vezes coisa nenhuma: 12 vezes é a tolerância para banco comercial, o sistema bancário é de 20 a 40 (vezes).

Isso é dinheiro que não existe.
Pois é. Não existe. O sujeito tomou empréstimo e comprou papéis que não existiam.

Terra Magazine

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