Para sair do convencional, um pouco de discussão sobre uma temática mais do que importante, especialmente agora que, como diz uma querida amiga, estamos chegando no "pé da China": a energia. Leia abaixo uma entrevista muito da interessante.
'Não vejo o futuro sem energia nuclear'
O Estado de S. Paulo - 09/11/2011
David Cahen defende as usinas nucleares e a taxação de carros poluentes para reduzir as emissões de gases-estufa no mundo. Ele é um dos palestrantes do Fórum Global de Sustentabilidade do festival de música SWU, em Paulínia (SP). A seguir, trechos da entrevista.
O que pode ser feito para reduzir o uso de energia?
Hoje, o melhor é cortar o consumo de energia nos países desenvolvidos e em desenvolvimento. Não há dúvidas de que muitas pessoas de classe média e média alta na China, no Brasil e na Índia podem contribuir para os esforços de conservação, que devem começar primeiro em países como Islândia, Noruega, Finlândia, EUA e Canadá. O consumo de energia em países como a Islândia chega a ser quase dez vezes maior que o do Brasil.
Por causa do frio?
Claramente em parte é por causa do clima. Mas também porque a energia usada no país é muito barata, a geotérmica (obtida a partir do calor proveniente da Terra). A segunda coisa que podemos fazer é tirar das ruas carros a gasolina, promover insolação térmica apropriada nas casas e garantir que elas usem ao máximo a luz natural.
O carro elétrico é a solução?
Pode ser parte da solução. Queremos carros elétricos que possam responder à necessidade de quem precisa dirigir muitos quilômetros sem estação de recarregamento. Podemos também tentar taxar aqueles que consomem muita gasolina e que possuem motores pouco eficientes. E para isso não precisamos de novas tecnologias.
Qual é a dificuldade de aplicar novas tecnologias?
Se eu descobrir algo fantástico hoje, é muito improvável que isso esteja no mercado em menos de 15 ou 20 anos.
O que acha de alguns países, como a Alemanha, abandonarem a energia nuclear depois do acidente de Fukushima?
Eu não vejo como o mundo pode se virar no futuro próximo sem a energia nuclear. Não sou fã de nuclear, e fico feliz que Israel não tenha uma usina nuclear. Mas não vejo como os países em desenvolvimento serão capazes de viver sem ela. Mas o Brasil tem sorte, pode não precisar. Já a China e o Japão não têm escolha.
E a segurança?
Acredito que teremos de desligar os reatores antigos, isso custa, mas deve ser feito. Os reatores modernos são muito mais seguros. Mas existe um elemento-chave para a energia nuclear no futuro que se chama thorium e fica próximo do urânio na tabela periódica. A Índia tem perseguido esse elemento, mas ainda estamos longe disso.
As energias eólica e solar ainda são mais caras que a energia fóssil.
A comparação é injusta, pois não estamos taxando o carvão, o gás e o petróleo de acordo com o peso que eles trazem para a humanidade. Prevejo que o preço da energia eólica continuará a baixar, assim como o da energia solar. Porém, nunca serão tão baixos quanto a energia fóssil porque nós não pagamos o preço real pela energia de uma usina a carvão.
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quarta-feira, 9 de novembro de 2011
quinta-feira, 29 de setembro de 2011
A economia nordestina
Se você se interessa pelo tema, vai querer ler a matéria abaixo, transcrita do jornal VALOR ECONÔMICO.
Novo mapa do leite
Produção de leite deslancha no Nordeste
Autor(es): Por Murillo Camarotto | De Imperatriz e Ribamar Fiquene (MA)
Valor Econômico - 29/09/2011
A produção de leite no Nordeste cresceu 89,5%, muito acima dos 54,8% da média nacional. Depois de aceitar a contragosto 13 vacas leiteiras como pagamento de uma dívida, Renato José Pereira acabou se tornando, dez anos depois, um dos maiores produtores do sudeste do Maranhão
Cansado de um credor que o "enrolava" havia alguns meses, o empresário mineiro Renato José Pereira acabou aceitando, relutante, 13 vacas leiteiras como pagamento da dívida. Na época, 2002, ele ainda era "carne nova" no sudeste do Maranhão, onde começava a criar gado de corte. Quase dez anos depois, Pereira é um dos principais produtores da região que recentemente passou a ser chamada, com um certo exagero, de "nova fronteira do leite no Nordeste". Luminosidade elevada, solo de boa qualidade e período seco curto (entre três e quatro meses no ano) favorecem a pecuária leiteira.
Puxada pelo crescimento do consumo das famílias, a produção de leite nordestina aumentou 89,5% entre 2000 e 2010, bem acima dos 54,8% da média nacional. No período, os Estados da região colocaram 2 bilhões de litros de "leite novo" no mercado brasileiro, quase o mesmo volume acrescentado pelo Sudeste, o maior produtor do país. O cenário positivo tem incentivado investimentos de laticínios regionais.
A principal bacia leiteira do Maranhão está na chamada região tocantina, próxima às divisas com Tocantins e Pará e distante mais de 500 quilômetros da capital, São Luís. A fazenda Medalha Milagrosa fica em Ribamar Fiquene. De lá saem todos os dias, em média, 950 litros de leite, volume que, apesar de não saltar aos olhos, põe Pereira entre os maiores da região. "A produção aqui ainda é muito picada. Tem gente que vende três litros por dia", conta Osmani Ferreira, gerente do laticínio Palate, o mais importante do Maranhão.
Segundo estimativas da Embrapa, o Maranhão produziu quase 362 milhões de litros no ano passado, o quarto maior volume do Nordeste. Nos últimos anos, porém, o Estado vem ampliando sua fatia no bolo da produção regional, assim como Bahia (1,3 bilhão de litros) e Pernambuco (861 milhões de litros), os dois maiores produtores. Já o Ceará, o terceiro, com 445 milhões de litros, perde espaço. Segundo Alexandre Ataíde, presidente do Sindicato das Indústrias de Leite e Derivados do Maranhão (Sindileite), a previsão é de um aumento de 15% no volume beneficiado este ano sobre 2010.
"É importante lembrar que viemos de uma base pequena, o que explica parte desse crescimento elevado. As principais bacias já estavam desenvolvidas nos anos anteriores, enquanto que o Maranhão estava muito aquém", diz. A formalização de muitos produtores, especialmente os menores, também ajuda a engordar os números do Estado.
É o caso de Serafim Araújo, que além de produtor de leite é dono de uma mercearia. Há pouco mais de um ano, ele ainda vendia na porta do estabelecimento os cerca de 250 litros tirados por dia em sua fazenda, em Imperatriz. Com o aperto da fiscalização, passou a entregar o leite à Palate, que chegou à cidade em fevereiro de 2010. "Antes conseguia mais de R$ 1 por litro. Agora não passa de R$ 0,70", queixa-se, carrancudo.
Já para Renato Pereira, a instalação da Palate, controlada pelo grupo paulista CBA, foi o divisor de águas da bacia leiteira local. "A história mudou, passou a ter mais seriedade a produção. Pagamento em dia, preço justo. Antes, o produtor era refém dos laticínios pequenos", recorda o fazendeiro, hoje com um rebanho de 150 animais da raça Girolando. "Até um ano e meio atrás, pagavam R$ 0,30 no litro do leite, o que não compensa nem você dar o que comer à vaca. O produtor não investia", acrescenta ele, que diz ter aplicado R$ 500 mil no negócio de leite.
Com capacidade para beneficiar 130 mil litros por dia, a Palate compra de mais de mil produtores espalhados em 21 cidades da bacia de Imperatriz. A coleta só é feita nas 350 fazendas que têm os tanques de resfriamento fornecidos pela empresa.
Ainda se preparando para sua estreia no setor leiteiro, a Sabe Alimentos, do grupo Albano Franco, de Sergipe, já distribuiu 135 tanques de resfriamento. A empresa investe R$ 80 milhões em uma planta com capacidade para 330 mil litros diários em Muribeca, a 72 quilômetros de Aracaju. Vai produzir leite longa vida, iogurtes, leite condensado, creme de leite e bebidas lácteas.
O diretor-executivo da empresa, Albérgio Lima, acredita que todo o leite para a operação poderá vir de Sergipe, onde a produção cresceu 170% nos últimos 10 anos. "Há um ano e meio estamos desenvolvendo nossos fornecedores com investimentos em infraestrutura, na higiene da ordenha, nos insumos e utensílios e em genética, na qual cada propriedade recebe treinamento para inseminação e botijão com 30 doses iniciais de sêmen", detalhou o executivo, por e-mail.
Segundo maior produtor do Nordeste e oitavo do país, Pernambuco é onde se verificam os maiores índices de crescimento da produção de leite, que triplicou entre 2000 e 2010, especialmente no agreste do Estado. O avanço pode ser explicado em parte pelo elevado consumo de queijo no Estado, o maior do Nordeste. De acordo com o Sebrae, os pernambucanos gastam cerca R$ 25 milhões por mês com queijo. Na Bahia, com população 60% maior, o gasto mensal fica em torno de R$ 16,5 milhões.
Atento ao cenário promissor, o laticínio Faco, instalado em Ribeirão, a 90 quilômetros do Recife, investe no aumento da produção de queijos, entre os quais mussarela, fresco, coalho e minas. O proprietário, Horácio Franca Corrêa, espera dobrar até o início de 2012 a capacidade de beneficiamento, hoje de 15 mil litros/ dia.
Na Bahia, principal produtora de leite do Nordeste, os laticínios mais importantes também investem em expansão, segundo Francisco Benjamin Filho, gerente de programas do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar). O problema no Estado, contudo, é a produtividade do rebanho, a segunda pior do Nordeste. Segundo o IBGE, cada vaca baiana produziu 555 litros de leite em 2009, contra uma média nacional de 1.297 litros.
"Dois terços da área do Estado da Bahia estão no semi-árido, uma região sem recursos e sem clima para a produção de leite. Lá é que a gente encontra a famosa vaca "pé duro", como é conhecido o animal adaptado a esse meio", explica Benjamin.
O período sem chuvas é crítico para a cadeia do leite, pois a pastagem seca não oferece ao animal os nutrientes necessários à produção. Por esse motivo é fundamental que os produtores invistam na estocagem de alimentos, o que ainda é raro no Nordeste. "O produtor tem que fazer sua parte, com genética e alimentação. Sem suplemento alimentar, a produção cai estupidamente no tempo seco", concorda o secretário de Desenvolvimento Econômico de Imperatriz, Sabino Costa.
Sem se preocupar com "essas coisas de nutriente", Serafim Araújo viu cair pela metade o volume de leite produzido por suas vacas no último ano. "Eu tirava bem mais antes. Agora elas tão fraquinhas demais, meu filho", lamenta.
Novo mapa do leite
Produção de leite deslancha no Nordeste
Autor(es): Por Murillo Camarotto | De Imperatriz e Ribamar Fiquene (MA)
Valor Econômico - 29/09/2011
A produção de leite no Nordeste cresceu 89,5%, muito acima dos 54,8% da média nacional. Depois de aceitar a contragosto 13 vacas leiteiras como pagamento de uma dívida, Renato José Pereira acabou se tornando, dez anos depois, um dos maiores produtores do sudeste do Maranhão
Cansado de um credor que o "enrolava" havia alguns meses, o empresário mineiro Renato José Pereira acabou aceitando, relutante, 13 vacas leiteiras como pagamento da dívida. Na época, 2002, ele ainda era "carne nova" no sudeste do Maranhão, onde começava a criar gado de corte. Quase dez anos depois, Pereira é um dos principais produtores da região que recentemente passou a ser chamada, com um certo exagero, de "nova fronteira do leite no Nordeste". Luminosidade elevada, solo de boa qualidade e período seco curto (entre três e quatro meses no ano) favorecem a pecuária leiteira.
Puxada pelo crescimento do consumo das famílias, a produção de leite nordestina aumentou 89,5% entre 2000 e 2010, bem acima dos 54,8% da média nacional. No período, os Estados da região colocaram 2 bilhões de litros de "leite novo" no mercado brasileiro, quase o mesmo volume acrescentado pelo Sudeste, o maior produtor do país. O cenário positivo tem incentivado investimentos de laticínios regionais.
A principal bacia leiteira do Maranhão está na chamada região tocantina, próxima às divisas com Tocantins e Pará e distante mais de 500 quilômetros da capital, São Luís. A fazenda Medalha Milagrosa fica em Ribamar Fiquene. De lá saem todos os dias, em média, 950 litros de leite, volume que, apesar de não saltar aos olhos, põe Pereira entre os maiores da região. "A produção aqui ainda é muito picada. Tem gente que vende três litros por dia", conta Osmani Ferreira, gerente do laticínio Palate, o mais importante do Maranhão.
Segundo estimativas da Embrapa, o Maranhão produziu quase 362 milhões de litros no ano passado, o quarto maior volume do Nordeste. Nos últimos anos, porém, o Estado vem ampliando sua fatia no bolo da produção regional, assim como Bahia (1,3 bilhão de litros) e Pernambuco (861 milhões de litros), os dois maiores produtores. Já o Ceará, o terceiro, com 445 milhões de litros, perde espaço. Segundo Alexandre Ataíde, presidente do Sindicato das Indústrias de Leite e Derivados do Maranhão (Sindileite), a previsão é de um aumento de 15% no volume beneficiado este ano sobre 2010.
"É importante lembrar que viemos de uma base pequena, o que explica parte desse crescimento elevado. As principais bacias já estavam desenvolvidas nos anos anteriores, enquanto que o Maranhão estava muito aquém", diz. A formalização de muitos produtores, especialmente os menores, também ajuda a engordar os números do Estado.
É o caso de Serafim Araújo, que além de produtor de leite é dono de uma mercearia. Há pouco mais de um ano, ele ainda vendia na porta do estabelecimento os cerca de 250 litros tirados por dia em sua fazenda, em Imperatriz. Com o aperto da fiscalização, passou a entregar o leite à Palate, que chegou à cidade em fevereiro de 2010. "Antes conseguia mais de R$ 1 por litro. Agora não passa de R$ 0,70", queixa-se, carrancudo.
Já para Renato Pereira, a instalação da Palate, controlada pelo grupo paulista CBA, foi o divisor de águas da bacia leiteira local. "A história mudou, passou a ter mais seriedade a produção. Pagamento em dia, preço justo. Antes, o produtor era refém dos laticínios pequenos", recorda o fazendeiro, hoje com um rebanho de 150 animais da raça Girolando. "Até um ano e meio atrás, pagavam R$ 0,30 no litro do leite, o que não compensa nem você dar o que comer à vaca. O produtor não investia", acrescenta ele, que diz ter aplicado R$ 500 mil no negócio de leite.
Com capacidade para beneficiar 130 mil litros por dia, a Palate compra de mais de mil produtores espalhados em 21 cidades da bacia de Imperatriz. A coleta só é feita nas 350 fazendas que têm os tanques de resfriamento fornecidos pela empresa.
Ainda se preparando para sua estreia no setor leiteiro, a Sabe Alimentos, do grupo Albano Franco, de Sergipe, já distribuiu 135 tanques de resfriamento. A empresa investe R$ 80 milhões em uma planta com capacidade para 330 mil litros diários em Muribeca, a 72 quilômetros de Aracaju. Vai produzir leite longa vida, iogurtes, leite condensado, creme de leite e bebidas lácteas.
O diretor-executivo da empresa, Albérgio Lima, acredita que todo o leite para a operação poderá vir de Sergipe, onde a produção cresceu 170% nos últimos 10 anos. "Há um ano e meio estamos desenvolvendo nossos fornecedores com investimentos em infraestrutura, na higiene da ordenha, nos insumos e utensílios e em genética, na qual cada propriedade recebe treinamento para inseminação e botijão com 30 doses iniciais de sêmen", detalhou o executivo, por e-mail.
Segundo maior produtor do Nordeste e oitavo do país, Pernambuco é onde se verificam os maiores índices de crescimento da produção de leite, que triplicou entre 2000 e 2010, especialmente no agreste do Estado. O avanço pode ser explicado em parte pelo elevado consumo de queijo no Estado, o maior do Nordeste. De acordo com o Sebrae, os pernambucanos gastam cerca R$ 25 milhões por mês com queijo. Na Bahia, com população 60% maior, o gasto mensal fica em torno de R$ 16,5 milhões.
Atento ao cenário promissor, o laticínio Faco, instalado em Ribeirão, a 90 quilômetros do Recife, investe no aumento da produção de queijos, entre os quais mussarela, fresco, coalho e minas. O proprietário, Horácio Franca Corrêa, espera dobrar até o início de 2012 a capacidade de beneficiamento, hoje de 15 mil litros/ dia.
Na Bahia, principal produtora de leite do Nordeste, os laticínios mais importantes também investem em expansão, segundo Francisco Benjamin Filho, gerente de programas do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar). O problema no Estado, contudo, é a produtividade do rebanho, a segunda pior do Nordeste. Segundo o IBGE, cada vaca baiana produziu 555 litros de leite em 2009, contra uma média nacional de 1.297 litros.
"Dois terços da área do Estado da Bahia estão no semi-árido, uma região sem recursos e sem clima para a produção de leite. Lá é que a gente encontra a famosa vaca "pé duro", como é conhecido o animal adaptado a esse meio", explica Benjamin.
O período sem chuvas é crítico para a cadeia do leite, pois a pastagem seca não oferece ao animal os nutrientes necessários à produção. Por esse motivo é fundamental que os produtores invistam na estocagem de alimentos, o que ainda é raro no Nordeste. "O produtor tem que fazer sua parte, com genética e alimentação. Sem suplemento alimentar, a produção cai estupidamente no tempo seco", concorda o secretário de Desenvolvimento Econômico de Imperatriz, Sabino Costa.
Sem se preocupar com "essas coisas de nutriente", Serafim Araújo viu cair pela metade o volume de leite produzido por suas vacas no último ano. "Eu tirava bem mais antes. Agora elas tão fraquinhas demais, meu filho", lamenta.
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quarta-feira, 22 de junho de 2011
Uma boa análise da conjuntura econômica
Você é daqueles, como eu e mais alguns gatos pingados, que, em não estando em cargos no governo e nem em consultorias para o tal do mercado, preocupa-se com a vida econômica? Bueno, então gostas de quem escreve bem e sem papas na língua, não é? Aproveite e leia o artigo abaixo. Você vai encontrar um conjunto de informações fundamentais para pensar a conjuntura econômica que atravessamos no nosso país.
A taxa de juro natural e a Amazônia
O Brasil está com sinais vitais razoáveis, mas tem de aumentar o emprego e a poupança e gerir melhor o setor público
Antônio Delfim Netto*
A mais óbvia razão pela qual os economistas não foram capazes de antecipar a tragédia que se preparava no mercado financeiro internacional, e que se concretizou em 2008, talvez resida no fato que a Teoria Macroeconômica e a Teoria da Economia Financeira foram separadas, a ponto de se ignorarem, contrariamente ao sugerido por Keynes e Fisher. James Tobin chamou a atenção para isso em meados dos anos 80 do século passado. Uma provocação curiosa a respeito dessa questão. Aquela separação não encontrou eco na conflagrada economia marxista (Hilferding, Luxemburgo, etc.). Marx, aliás, já advertira que “quando há um colapso total do crédito, nada mais conta, só o pagamento em moeda…e que legislações bancárias como a de 1844-45 (na Inglaterra) podem intensificar a crise monetária. Profeticamente, acrescentou, “nenhuma legislação bancária pode eliminar a crise”, como mais um século depois estamos aprendendo…
O Brasil está vivendo um momento interessante depois de ter superado muito bem a crise. Há, entretanto, uma dúvida ampla, geral e irrestrita sobre: 1) a natureza do processo inflacionário que atinge, em grau maior ou menor, todos os países do mundo e 2) as consequências no longo prazo da supervalorização do Real que está destruindo a sofisticada indústria nacional.
Todo processo inflacionário se explica por uma combinação variável de três causas: 1) um desequilíbrio persistente entre a oferta e a demanda global de bens e serviços; 2) uma desancoragem (por múltiplas razões, inclusive a anterior) da “expectativa” inflacionária, e 3) um “choque de oferta” interno ou externo. No caso brasileiro é preciso incluir a indexação ainda generalizada que sobrou como resíduo do bem-sucedido Plano Real e para cuja eliminação se fez muito pouco (de fato, acrescentou-se mais veneno) nos últimos oito anos.
“Temos hoje, praticamente, uma taxa de câmbio fixa. Trata-se de um mecanismo de legítima defesa.”
No regime de câmbio flutuante, quando o choque externo é um grande aumento das relações de troca, ele é “filtrado” por uma valorização da taxa de câmbio. O cabo de guerra estabelecido entre os “falcões” e o governo parece estar amainando, com o reconhecimento que o ajuste dos juros pelo Banco Central (BC) será suficientemente prolongado para promover a convergência da taxa de inflação para o centro da meta de 2012.
Aparentemente isto está sendo conseguido: a taxa de juros real produzida pela Selic (que importa mais para o custo da dívida pública) tem sido elevada moderadamente, mas a taxa de juros real do setor privado que controla o consumo e boa parte dos investimentos (não privilegiado por programas especiais), tem se elevado mais fortemente. Este ano a despesa com juros da dívida pública deve beirar a R$ 180 bilhões, uma respeitável Bolsa-Rentista.
A comunicação do Banco Central deve ser dirigida à sociedade e não apenas ao sistema financeiro. No fundo, os seus clientes são os cidadãos comuns que só podem ser informados por meio da mídia. São eles (e não apenas os analistas financeiros) que lhe conferem credibilidade. É fundamental para o sucesso da política econômica a informação preventiva, rápida, transparente e honesta do Banco Central, para contrarrestar a natural diversidade de opiniões.
Há muitos anos os economistas reconheceram as estreitas relações que existem entre o movimento de capitais, os regimes da taxa de câmbio e a autonomia monetária de cada país. Teorizando sobre situações limites: 1) liberdade absoluta ou controle absoluto dos movimentos de capitais nas relações externas; 2) taxa de câmbio absolutamente flutuante ou taxa de câmbio absolutamente fixa; 3) liberdade absoluta ou constrangimento absoluto para que a política monetária atenda às condições econômicas domésticas e estabilize a economia; e 4) adicionando a hipótese que os agentes são absolutamente racionais e exploram qualquer oportunidade de lucro que possa ser apropriado pela livre arbitragem, demonstra-se, logicamente, que a política econômica de um país não pode satisfazer, simultaneamente, mais do que duas, das três primeiras condições expostas acima. Essa construção lógica constitui o já velho e famoso trilema que condiciona o exercício da política econômica.
“A ascensão social da última década produz um desequilíbrio entre a demanda e a oferta.”
Em outras palavras, ela pode incorporar quatro situações resumidas a seguir:
1) Liberdade de movimento de capitais e câmbio fixo. Nessa circunstância, o país não pode ter uma política monetária que cuide dos seus interesses internos. Para que haja equilíbrio no longo prazo, a sua taxa de inflação deve ser igual à externa e a taxa real de juros deve ser igual à do “resto do mundo”. Se a taxa de juros interna for maior do que a externa, a acumulação de reservas produzida pela entrada de capital precisa ser neutralizada com o aumento crescente da dívida pública (e do seu custo) e, no limite, será monetizada, criando as condições para a emergência de um processo inflacionário;
2) Controle do movimento de capitais e câmbio fixo. Nesse caso há plena liberdade para a política monetária perseguir os interesses internos do país. Nestas circunstâncias, a taxa de câmbio fixo deve ser o preço relativo que equilibra o valor do fluxo dos bens e serviços exportados com os importados. Se a taxa de inflação gerada pela política monetária autônoma for sistematicamente maior do que a do mundo, a taxa real de câmbio sofre uma lenta valorização e, mais dia, menos dia, acumula-se um déficit em conta corrente. Este regime induz a política monetária a perseguir uma taxa de inflação parecida com a do “resto do mundo”. Trata-se do sistema construído originalmente no Acordo de Bretton Woods que foi erodido pela dominança abusiva do dólar como unidade de conta internacional e moeda reserva;
3) Liberdade de movimento de capitais e câmbio flutuante. Nesse caso a política monetária precisa manter a taxa real de juros interna igual à externa para construir o equilíbrio de longo prazo. Para reduzir a volatilidade da taxa de câmbio ele deve manter também sua taxa de inflação parecida com a de seus parceiros internacionais; e
4) Controle do movimento de capitais e taxa de câmbio flutuante. Nesse caso pode-se ter uma política monetária que atenda aos interesses internos do país. A taxa de câmbio flutuante volta a ser o velho preço relativo que equilibra o valor do fluxo de bens e serviços exportados com o valor do fluxo de bens e serviços importados.
A experiência mostra que nenhum país pratica políticas econômicas com a “pureza” suposta na construção lógica do “trilema”. Todos tendem a acomodar (de acordo com as circunstâncias que enfrentam dentro e fora do país e dos interesses do poder incumbente), uma combinação variável da liberdade do movimento de capitais, do regime cambial e da política monetária.
Assistimos isso agora no Brasil. Com três instrumentos de intervenção, o Banco Central transformou o regime cambial. Temos hoje, praticamente, uma taxa de câmbio fixa. Trata-se de um mecanismo de “legítima defesa” justificado pela destruição interna causada pela supervalorização do Real. Ninguém discute que a tendência do Real é de valorizar-se, se não por outras causas, apenas pela velha teoria e empiricamente reconhecida relação da taxa de câmbio real com a elevação do Produto Interno Bruto (PIB) per capita. No momento essa tendência é ajudada pela enorme melhoria das relações de troca (enquanto durarem). O que se discute é a “super” valorização causada pelo imenso diferencial entre as taxas de juros reais interna e externa.
O “trilema” não é apenas uma proposição logicamente deduzida. Pesquisas empíricas que se vão acumulando, mostram sua relevância. É preciso insistir que não importa qual seja a combinação escolhida pela nossa política
econômica: é pouco provável que ela seja exitosa no longo prazo se a taxa de juro real interna continuar 4 vezes maior que a externa!
Há dezenas de explicações para tal “fenômeno” produzidas por sofisticados e tecnicamente bem apetrechados economistas, às vezes apoiados numa econometria de “pé quebrado”. Em algumas de suas “regressões” só não acrescentaram, ainda, como variável “explicativa”, os quilômetros quadrados desmatados na Amazônia. Todo o resto já foi tentado”.
Do nosso ponto de vista a melhor explicação para o fato é a que tem sido trabalhada e promovida há muito tempo, entre outros, pelo ilustre professor Yoshiaki Nakano: continuamos a praticar as regras operacionais que, também em “legítima defesa”, inventamos no período de hiper-inflação e que foram funcionais naquele momento. Para começar a desmontá-las precisamos reduzir o financiamento da dívida pública com títulos remunerados à taxa Selic, exatamente o objetivo perseguido pela Secretaria do Tesouro Nacional (STN). É preciso criar condições e estímulos para que o mercado reduza em seu portfólio os papéis remunerados pela taxa Selic, o que será muito positivo, inclusive, para aumentar a potência da política monetária convencional.
A notícia mais importante do Plano Anual de Financiamento (PAF) da STN para 2011, é que existe tal possibilidade durante o atual mandato da presidente Dilma Rousseff: 80% da dívida remunerada em Selic vence entre 2011 e 2014. Como afirma a STN, o ajustamento será lento, cauteloso e oportunístico, refletindo o “desenvolvimento do mercado financeiro”. O fundamental é saber que a janela está aí e que o seu aproveitamento depende, apenas, de uma forte coordenação entre um seguro esforço fiscal e uma fina política monetária que deem musculatura à STN para fechá-la.
A nossa situação cambial é ainda mais delicada devido à extrema liquidez proporcionada pelo Federal Reserve (Fed, banco central americano) para acelerar a taxa de crescimento dos EUA, sem o que não haverá solução para sua dívida interna. O problema dos EUA é que sua política econômica não conseguiu, até agora, conquistar credibilidade e reduzir o nível de incerteza que continua a cercá-la. O gráfico tenta mostrar nossas dificuldades.
A falta de confiança tem levado a uma recuperação lenta de economia americana (particularmente no nível de emprego). Isso produziu uma política monetária extremamente laxista – o “quantitative easing” 1 e 2 (QE1 e QE2) – que levou a taxa de juro nominal a zero, o que tende a desvalorizar o dólar. Como ele é a unidade de conta no mercado internacional, a sua desvalorização aumenta ainda mais os preços nominais das commodities (petróleo, metais e alimentos), já pressionados por uma aceleração da demanda global dos emergentes (China, Índia etc.). O aumento do petróleo por sua vez, corta a renda dos americanos e diminui o consumo de outros bens, dificultando ainda mais a recuperação. Além do mais, deteriora o saldo comercial dos EUA e exige maior desvalorização do dólar.
Quais os efeitos disso sobre a nossa taxa de câmbio? Primeiro, uma valorização do Real pela melhoria das nossas relações de troca. Paralelamente, os preços externos são internalizados pela taxa de câmbio. Quando o câmbio não pode mais valorizar-se pelo estrago que está produzindo, aumenta a taxa de inflação interna. Isso leva o Banco Central a aumentar a taxa de juro real, o que estimula ainda mais o fluxo de capitais que vem arbitrar a diferença de juros e reforça a valorização do Real. A arbitragem não termina porque o juro real interno não cai devido à política monetária que absorve os reais vendendo papéis do governo à taxa Selic. Estamos presos numa armadilha. Ela se agravará ainda mais se o FED, diante da fraqueza da economia americana, decidir por um terceiro “quantitative easing” (QE3).
Com relação à inflação, a política econômica destina-se a controlar diretamente a demanda global e ajustá-la à oferta global, e, indiretamente (por sua credibilidade), fixar a expectativa de inflação que ancora a formação dos preços e dos salários. Trata-se de um processo não trivial, cheio de armadilhas conceituais e largamente determinado pelas crenças sobre o estado da economia e sobre as respostas dos agentes à própria política (o efeito do déficit fiscal nominal, os efeitos da relação dívida/PIB os efeitos das manobras de juros etc.), de forma que os efeitos diretos e indiretos se auto-estimulam.
Choques internos, rapidamente superados, como é o caso de uma quebra de safra em que os preços têm a tendência de retornar à média, precisam de um tratamento cauteloso porque, se incorporados pela indexação aos salários, elimina-se o papel principal do aumento dos preços que é cortar temporariamente a demanda física para ajustá-la à oferta física. O mesmo acontece quando se trata de desequilíbrios estruturais produzidos por uma redistribuição de renda que altera a demanda de serviços. É exatamente o aumento dos seus preços relativos que estimulará a expansão da oferta para atendê-la. Logo, o ajuste deve ser acompanhado por ações não monetárias (”estruturais”) que ajudem e acelerem o efeito das manobras com a taxa de juros.
Toda mudança de preços relativos exerce uma pressão sobre a inflação devido à rigidez para baixo de todos os preços. Um movimento de ascensão social como vimos vivendo na última década, tende a produzir um desequilíbrio qualitativo entre a demanda e a oferta de serviços e nos preços dos produtos consumidos pelas classes em ascensão. Imagine a destruição de PIB, do emprego e o aumento da pobreza que seriam necessários para desconstruir aquele processo civilizatório apenas com manobra da taxa de juros.
Um problema interessante com relação à escassez de mão de obra refere-se, por exemplo, à engenharia. Devido à pequena demanda e baixos salários da profissão nos anos 90 do século passado, quase 40% do estoque de nossos engenheiros trabalham fora da sua especialidade, principalmente na administração e finanças. Para trazê-los de volta (e estimular a formação de novos) o sistema de preços já está funcionando e os salários deverão ajustar-se relativamente às outras atividades. Isso, entretanto, também não é “prova” de que exista um desajuste sério entre a demanda e a oferta globais de mão de obra, o que exigiria uma redução da taxa de crescimento do PIB. É preciso pensar em outras soluções, inclusive estimular a volta ao trabalho dos engenheiros que se aposentaram e dos que abandonaram o País por falta de oportunidades. E por que não importar profissionais estrangeiros oferecendo-lhes condições adequadas de vida e de trabalho como fazem vários países? Isso fez inteligentemente o Canadá (inclusive conosco).
O Brasil está com sinais vitais bastante razoáveis. Seu problema principal, entretanto, é preparar a nossa estrutura produtiva interna para dar emprego de boa qualidade a 145 milhões de brasileiros – com idade entre 15 e 64 anos – em 2030. Isso não será feito apenas com o nosso modelo agrominerador extremamente eficiente, mas induzido e dependente do crescimento externo. Não tenhamos ilusões. Com tempo suficiente (e que não será coisa muito superior a 4 anos ou 5 anos) a oferta mundial de alimento e petróleo criada pelos próprios países que hoje exercem a pressão de demanda, crescerá estimulada pelo aumento dos preços. Aí tudo mudará.
É hora, portanto, de aproveitar o tamanho e estimular a expansão do nosso mercado interno para ampliar o setor industrial e o de serviços (sem desestimular a agricultura e a mineração) para atender ao crescimento inclusivo que nos impõe a própria Constituição de 1988. Para atender ao aumento da oferta demográfica de mão de obra, o Brasil precisa de um crescimento anual nos próximos 20 anos, da ordem de 5% ao ano, com estabilidade interna e externa.
Para consegui-lo temos de fazer muita coisa. Fundamentalmente, elevar a taxa de poupança interna para qualquer coisa parecida como 24% a 25% do PIB (com um déficit em conta corrente não maior do que 1%), o que exige estímulo à poupança privada e um grande aumento da poupança governamental (sem aumentar a carga tributária), ou seja, cumprir o que foi anunciado pela presidente Dilma: “Fazer um pouco mais com um pouco menos”. Em poucas palavras, gerir mais eficientemente o setor público.
Pode parecer pedestre (e até enganoso), mas todos os nossos problemas (inclusive o cambial) podem ser minorados com tal programa. Ao fim e ao cabo – como insiste em dizer um velho amigo -, tudo se resume em: 1) ter uma rigorosa política fiscal (equilíbrio fiscal cíclico e relação dívida/PIB estritamente controlada; 2) melhorar a qualidade da gestão pública e reduzir o crescimento dos gastos de custeio e transferências abaixo do crescimento do PIB; 3) assegurar a boa regulação concorrencial do mercado e coordenar, com ele, o papel do Estado-Indutor com o uso de estímulos adequados; e 4) resistir à permanente sedução (que costuma cegar o poder incumbente), de tentar violar as identidades da contabilidade nacional.
O resto é creme chantilly para enfeitar a receita…
* Antonio Delfim Netto é professor emérito da FEA-USP, ex-ministro da Fazenda, Agricultura e Planejamento.
A taxa de juro natural e a Amazônia
O Brasil está com sinais vitais razoáveis, mas tem de aumentar o emprego e a poupança e gerir melhor o setor público
Antônio Delfim Netto*
A mais óbvia razão pela qual os economistas não foram capazes de antecipar a tragédia que se preparava no mercado financeiro internacional, e que se concretizou em 2008, talvez resida no fato que a Teoria Macroeconômica e a Teoria da Economia Financeira foram separadas, a ponto de se ignorarem, contrariamente ao sugerido por Keynes e Fisher. James Tobin chamou a atenção para isso em meados dos anos 80 do século passado. Uma provocação curiosa a respeito dessa questão. Aquela separação não encontrou eco na conflagrada economia marxista (Hilferding, Luxemburgo, etc.). Marx, aliás, já advertira que “quando há um colapso total do crédito, nada mais conta, só o pagamento em moeda…e que legislações bancárias como a de 1844-45 (na Inglaterra) podem intensificar a crise monetária. Profeticamente, acrescentou, “nenhuma legislação bancária pode eliminar a crise”, como mais um século depois estamos aprendendo…
O Brasil está vivendo um momento interessante depois de ter superado muito bem a crise. Há, entretanto, uma dúvida ampla, geral e irrestrita sobre: 1) a natureza do processo inflacionário que atinge, em grau maior ou menor, todos os países do mundo e 2) as consequências no longo prazo da supervalorização do Real que está destruindo a sofisticada indústria nacional.
Todo processo inflacionário se explica por uma combinação variável de três causas: 1) um desequilíbrio persistente entre a oferta e a demanda global de bens e serviços; 2) uma desancoragem (por múltiplas razões, inclusive a anterior) da “expectativa” inflacionária, e 3) um “choque de oferta” interno ou externo. No caso brasileiro é preciso incluir a indexação ainda generalizada que sobrou como resíduo do bem-sucedido Plano Real e para cuja eliminação se fez muito pouco (de fato, acrescentou-se mais veneno) nos últimos oito anos.
“Temos hoje, praticamente, uma taxa de câmbio fixa. Trata-se de um mecanismo de legítima defesa.”
No regime de câmbio flutuante, quando o choque externo é um grande aumento das relações de troca, ele é “filtrado” por uma valorização da taxa de câmbio. O cabo de guerra estabelecido entre os “falcões” e o governo parece estar amainando, com o reconhecimento que o ajuste dos juros pelo Banco Central (BC) será suficientemente prolongado para promover a convergência da taxa de inflação para o centro da meta de 2012.
Aparentemente isto está sendo conseguido: a taxa de juros real produzida pela Selic (que importa mais para o custo da dívida pública) tem sido elevada moderadamente, mas a taxa de juros real do setor privado que controla o consumo e boa parte dos investimentos (não privilegiado por programas especiais), tem se elevado mais fortemente. Este ano a despesa com juros da dívida pública deve beirar a R$ 180 bilhões, uma respeitável Bolsa-Rentista.
A comunicação do Banco Central deve ser dirigida à sociedade e não apenas ao sistema financeiro. No fundo, os seus clientes são os cidadãos comuns que só podem ser informados por meio da mídia. São eles (e não apenas os analistas financeiros) que lhe conferem credibilidade. É fundamental para o sucesso da política econômica a informação preventiva, rápida, transparente e honesta do Banco Central, para contrarrestar a natural diversidade de opiniões.
Há muitos anos os economistas reconheceram as estreitas relações que existem entre o movimento de capitais, os regimes da taxa de câmbio e a autonomia monetária de cada país. Teorizando sobre situações limites: 1) liberdade absoluta ou controle absoluto dos movimentos de capitais nas relações externas; 2) taxa de câmbio absolutamente flutuante ou taxa de câmbio absolutamente fixa; 3) liberdade absoluta ou constrangimento absoluto para que a política monetária atenda às condições econômicas domésticas e estabilize a economia; e 4) adicionando a hipótese que os agentes são absolutamente racionais e exploram qualquer oportunidade de lucro que possa ser apropriado pela livre arbitragem, demonstra-se, logicamente, que a política econômica de um país não pode satisfazer, simultaneamente, mais do que duas, das três primeiras condições expostas acima. Essa construção lógica constitui o já velho e famoso trilema que condiciona o exercício da política econômica.
“A ascensão social da última década produz um desequilíbrio entre a demanda e a oferta.”
Em outras palavras, ela pode incorporar quatro situações resumidas a seguir:
1) Liberdade de movimento de capitais e câmbio fixo. Nessa circunstância, o país não pode ter uma política monetária que cuide dos seus interesses internos. Para que haja equilíbrio no longo prazo, a sua taxa de inflação deve ser igual à externa e a taxa real de juros deve ser igual à do “resto do mundo”. Se a taxa de juros interna for maior do que a externa, a acumulação de reservas produzida pela entrada de capital precisa ser neutralizada com o aumento crescente da dívida pública (e do seu custo) e, no limite, será monetizada, criando as condições para a emergência de um processo inflacionário;
2) Controle do movimento de capitais e câmbio fixo. Nesse caso há plena liberdade para a política monetária perseguir os interesses internos do país. Nestas circunstâncias, a taxa de câmbio fixo deve ser o preço relativo que equilibra o valor do fluxo dos bens e serviços exportados com os importados. Se a taxa de inflação gerada pela política monetária autônoma for sistematicamente maior do que a do mundo, a taxa real de câmbio sofre uma lenta valorização e, mais dia, menos dia, acumula-se um déficit em conta corrente. Este regime induz a política monetária a perseguir uma taxa de inflação parecida com a do “resto do mundo”. Trata-se do sistema construído originalmente no Acordo de Bretton Woods que foi erodido pela dominança abusiva do dólar como unidade de conta internacional e moeda reserva;
3) Liberdade de movimento de capitais e câmbio flutuante. Nesse caso a política monetária precisa manter a taxa real de juros interna igual à externa para construir o equilíbrio de longo prazo. Para reduzir a volatilidade da taxa de câmbio ele deve manter também sua taxa de inflação parecida com a de seus parceiros internacionais; e
4) Controle do movimento de capitais e taxa de câmbio flutuante. Nesse caso pode-se ter uma política monetária que atenda aos interesses internos do país. A taxa de câmbio flutuante volta a ser o velho preço relativo que equilibra o valor do fluxo de bens e serviços exportados com o valor do fluxo de bens e serviços importados.
A experiência mostra que nenhum país pratica políticas econômicas com a “pureza” suposta na construção lógica do “trilema”. Todos tendem a acomodar (de acordo com as circunstâncias que enfrentam dentro e fora do país e dos interesses do poder incumbente), uma combinação variável da liberdade do movimento de capitais, do regime cambial e da política monetária.
Assistimos isso agora no Brasil. Com três instrumentos de intervenção, o Banco Central transformou o regime cambial. Temos hoje, praticamente, uma taxa de câmbio fixa. Trata-se de um mecanismo de “legítima defesa” justificado pela destruição interna causada pela supervalorização do Real. Ninguém discute que a tendência do Real é de valorizar-se, se não por outras causas, apenas pela velha teoria e empiricamente reconhecida relação da taxa de câmbio real com a elevação do Produto Interno Bruto (PIB) per capita. No momento essa tendência é ajudada pela enorme melhoria das relações de troca (enquanto durarem). O que se discute é a “super” valorização causada pelo imenso diferencial entre as taxas de juros reais interna e externa.
O “trilema” não é apenas uma proposição logicamente deduzida. Pesquisas empíricas que se vão acumulando, mostram sua relevância. É preciso insistir que não importa qual seja a combinação escolhida pela nossa política
econômica: é pouco provável que ela seja exitosa no longo prazo se a taxa de juro real interna continuar 4 vezes maior que a externa!
Há dezenas de explicações para tal “fenômeno” produzidas por sofisticados e tecnicamente bem apetrechados economistas, às vezes apoiados numa econometria de “pé quebrado”. Em algumas de suas “regressões” só não acrescentaram, ainda, como variável “explicativa”, os quilômetros quadrados desmatados na Amazônia. Todo o resto já foi tentado”.
Do nosso ponto de vista a melhor explicação para o fato é a que tem sido trabalhada e promovida há muito tempo, entre outros, pelo ilustre professor Yoshiaki Nakano: continuamos a praticar as regras operacionais que, também em “legítima defesa”, inventamos no período de hiper-inflação e que foram funcionais naquele momento. Para começar a desmontá-las precisamos reduzir o financiamento da dívida pública com títulos remunerados à taxa Selic, exatamente o objetivo perseguido pela Secretaria do Tesouro Nacional (STN). É preciso criar condições e estímulos para que o mercado reduza em seu portfólio os papéis remunerados pela taxa Selic, o que será muito positivo, inclusive, para aumentar a potência da política monetária convencional.
A notícia mais importante do Plano Anual de Financiamento (PAF) da STN para 2011, é que existe tal possibilidade durante o atual mandato da presidente Dilma Rousseff: 80% da dívida remunerada em Selic vence entre 2011 e 2014. Como afirma a STN, o ajustamento será lento, cauteloso e oportunístico, refletindo o “desenvolvimento do mercado financeiro”. O fundamental é saber que a janela está aí e que o seu aproveitamento depende, apenas, de uma forte coordenação entre um seguro esforço fiscal e uma fina política monetária que deem musculatura à STN para fechá-la.
A nossa situação cambial é ainda mais delicada devido à extrema liquidez proporcionada pelo Federal Reserve (Fed, banco central americano) para acelerar a taxa de crescimento dos EUA, sem o que não haverá solução para sua dívida interna. O problema dos EUA é que sua política econômica não conseguiu, até agora, conquistar credibilidade e reduzir o nível de incerteza que continua a cercá-la. O gráfico tenta mostrar nossas dificuldades.
A falta de confiança tem levado a uma recuperação lenta de economia americana (particularmente no nível de emprego). Isso produziu uma política monetária extremamente laxista – o “quantitative easing” 1 e 2 (QE1 e QE2) – que levou a taxa de juro nominal a zero, o que tende a desvalorizar o dólar. Como ele é a unidade de conta no mercado internacional, a sua desvalorização aumenta ainda mais os preços nominais das commodities (petróleo, metais e alimentos), já pressionados por uma aceleração da demanda global dos emergentes (China, Índia etc.). O aumento do petróleo por sua vez, corta a renda dos americanos e diminui o consumo de outros bens, dificultando ainda mais a recuperação. Além do mais, deteriora o saldo comercial dos EUA e exige maior desvalorização do dólar.
Quais os efeitos disso sobre a nossa taxa de câmbio? Primeiro, uma valorização do Real pela melhoria das nossas relações de troca. Paralelamente, os preços externos são internalizados pela taxa de câmbio. Quando o câmbio não pode mais valorizar-se pelo estrago que está produzindo, aumenta a taxa de inflação interna. Isso leva o Banco Central a aumentar a taxa de juro real, o que estimula ainda mais o fluxo de capitais que vem arbitrar a diferença de juros e reforça a valorização do Real. A arbitragem não termina porque o juro real interno não cai devido à política monetária que absorve os reais vendendo papéis do governo à taxa Selic. Estamos presos numa armadilha. Ela se agravará ainda mais se o FED, diante da fraqueza da economia americana, decidir por um terceiro “quantitative easing” (QE3).
Com relação à inflação, a política econômica destina-se a controlar diretamente a demanda global e ajustá-la à oferta global, e, indiretamente (por sua credibilidade), fixar a expectativa de inflação que ancora a formação dos preços e dos salários. Trata-se de um processo não trivial, cheio de armadilhas conceituais e largamente determinado pelas crenças sobre o estado da economia e sobre as respostas dos agentes à própria política (o efeito do déficit fiscal nominal, os efeitos da relação dívida/PIB os efeitos das manobras de juros etc.), de forma que os efeitos diretos e indiretos se auto-estimulam.
Choques internos, rapidamente superados, como é o caso de uma quebra de safra em que os preços têm a tendência de retornar à média, precisam de um tratamento cauteloso porque, se incorporados pela indexação aos salários, elimina-se o papel principal do aumento dos preços que é cortar temporariamente a demanda física para ajustá-la à oferta física. O mesmo acontece quando se trata de desequilíbrios estruturais produzidos por uma redistribuição de renda que altera a demanda de serviços. É exatamente o aumento dos seus preços relativos que estimulará a expansão da oferta para atendê-la. Logo, o ajuste deve ser acompanhado por ações não monetárias (”estruturais”) que ajudem e acelerem o efeito das manobras com a taxa de juros.
Toda mudança de preços relativos exerce uma pressão sobre a inflação devido à rigidez para baixo de todos os preços. Um movimento de ascensão social como vimos vivendo na última década, tende a produzir um desequilíbrio qualitativo entre a demanda e a oferta de serviços e nos preços dos produtos consumidos pelas classes em ascensão. Imagine a destruição de PIB, do emprego e o aumento da pobreza que seriam necessários para desconstruir aquele processo civilizatório apenas com manobra da taxa de juros.
Um problema interessante com relação à escassez de mão de obra refere-se, por exemplo, à engenharia. Devido à pequena demanda e baixos salários da profissão nos anos 90 do século passado, quase 40% do estoque de nossos engenheiros trabalham fora da sua especialidade, principalmente na administração e finanças. Para trazê-los de volta (e estimular a formação de novos) o sistema de preços já está funcionando e os salários deverão ajustar-se relativamente às outras atividades. Isso, entretanto, também não é “prova” de que exista um desajuste sério entre a demanda e a oferta globais de mão de obra, o que exigiria uma redução da taxa de crescimento do PIB. É preciso pensar em outras soluções, inclusive estimular a volta ao trabalho dos engenheiros que se aposentaram e dos que abandonaram o País por falta de oportunidades. E por que não importar profissionais estrangeiros oferecendo-lhes condições adequadas de vida e de trabalho como fazem vários países? Isso fez inteligentemente o Canadá (inclusive conosco).
O Brasil está com sinais vitais bastante razoáveis. Seu problema principal, entretanto, é preparar a nossa estrutura produtiva interna para dar emprego de boa qualidade a 145 milhões de brasileiros – com idade entre 15 e 64 anos – em 2030. Isso não será feito apenas com o nosso modelo agrominerador extremamente eficiente, mas induzido e dependente do crescimento externo. Não tenhamos ilusões. Com tempo suficiente (e que não será coisa muito superior a 4 anos ou 5 anos) a oferta mundial de alimento e petróleo criada pelos próprios países que hoje exercem a pressão de demanda, crescerá estimulada pelo aumento dos preços. Aí tudo mudará.
É hora, portanto, de aproveitar o tamanho e estimular a expansão do nosso mercado interno para ampliar o setor industrial e o de serviços (sem desestimular a agricultura e a mineração) para atender ao crescimento inclusivo que nos impõe a própria Constituição de 1988. Para atender ao aumento da oferta demográfica de mão de obra, o Brasil precisa de um crescimento anual nos próximos 20 anos, da ordem de 5% ao ano, com estabilidade interna e externa.
Para consegui-lo temos de fazer muita coisa. Fundamentalmente, elevar a taxa de poupança interna para qualquer coisa parecida como 24% a 25% do PIB (com um déficit em conta corrente não maior do que 1%), o que exige estímulo à poupança privada e um grande aumento da poupança governamental (sem aumentar a carga tributária), ou seja, cumprir o que foi anunciado pela presidente Dilma: “Fazer um pouco mais com um pouco menos”. Em poucas palavras, gerir mais eficientemente o setor público.
Pode parecer pedestre (e até enganoso), mas todos os nossos problemas (inclusive o cambial) podem ser minorados com tal programa. Ao fim e ao cabo – como insiste em dizer um velho amigo -, tudo se resume em: 1) ter uma rigorosa política fiscal (equilíbrio fiscal cíclico e relação dívida/PIB estritamente controlada; 2) melhorar a qualidade da gestão pública e reduzir o crescimento dos gastos de custeio e transferências abaixo do crescimento do PIB; 3) assegurar a boa regulação concorrencial do mercado e coordenar, com ele, o papel do Estado-Indutor com o uso de estímulos adequados; e 4) resistir à permanente sedução (que costuma cegar o poder incumbente), de tentar violar as identidades da contabilidade nacional.
O resto é creme chantilly para enfeitar a receita…
* Antonio Delfim Netto é professor emérito da FEA-USP, ex-ministro da Fazenda, Agricultura e Planejamento.
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quarta-feira, 11 de novembro de 2009
O Brasil e as mudanças climáticas
Transcrevo mais abaixo artigo de autoria do jornalista Alon Feuerwerker, disponibilizada no seu blog. Acho que, como quase sempre, o jornalista coloca as coisas no seu devido lugar. Eu também, via de regra, sou muito crítico desse bom-mocismo de certos setores da classe média e da elite nativa. De boas intenções, ensina-nos o vulgo, o inferno está prá lá de cheio.
O Governador José Serra (PSDB), que, não raras vezes, critica, nem sempre com justiça e isenção, a política externa brasileira, agora, para agradar o público verde, quer mais ação do governo brasileiro nessa seara complicada. Seria cômico, não fosse trágico...
A boa cautela de Lula (08/11)
Alon Feurwerker
Se não nos convidaram para o banquete, soa um pouco excessivo que nos intimem a participar de igual para igual na hora de rachar a dolorosa.
É bom que o presidente da República esteja cauteloso nas discussões sobre o papel do Brasil na Conferência do Clima. E é curioso que os críticos do "protagonismo a qualquer custo" sejam agora os primeiros a exigir de Luiz Inácio Lula da Silva que coloque o Brasil na linha de frente das medidas contra o aquecimento global. É a dança da política.
O debate está claro desde o começo. Se o aquecimento global é mesmo um problema grave, e se deve ser enfrentado globalmente, é preciso saber para quem irá a conta. O lógico será repassá-la aos que, até o momento, mais se beneficiaram do progresso humano. Se é mesmo verdade que o mundo não suportaria a globalização dos padrões europeu e americano de consumo, que os americanos e europeus se contenham, para começo de conversa.
Qual é o problema? É que países como a China e o Brasil estão pelo meio do caminho. Não podem ser considerados tecnicamente "subdesenvolvidos", mas ainda têm milhões de pobres para colocar no mercado, alimentar, vestir, educar, divertir. O Brasil não é a Noruega, ou a Suécia, onde tudo está mais ou menos resolvido. Temos um país a construir. Então, ou bem encontra-se um jeito ambientalmente correto de fazê-lo, ou paciência.
Se não nos convidaram para o banquete, soa um pouco excessivo que nos intimem a participar de igual para igual na hora de rachar a dolorosa. Também porque as bolas estão invertidas. Pedem-nos o sacrifício à vista, com a promessa de benefícios no longo prazo. Exigem que renunciemos à expansão da fronteira agrícola, sem a garantia de que o aumento de produtividade será capaz de atender à demanda explosiva por comida numa sociedade em que, finalmente, os pobres começaram a comer direito.
Isso significa que nada temos a ver com o desafio? Ou que não podemos contribuir para resolvê-lo? Negativo. Apenas é preciso cautela. Daí a razoabilidade da posição de Lula e da candidata dele à Presidência, Dilma Rousseff.
Até porque -e infelizmente- as opções a nós propostas são no mínimo nebulosas. A primeira é exatamente congelar a expansão da área plantada, com a premissa de aproveitar melhor a área já desmatada. É um debate bonito de se fazer no carpete e no ar-condicionado, mas enfrenta problemas na vida real. E olhem que Lula deu sorte, ao ver fracassar seu projeto delirante de transformar o etanol em combustível planetário. Tivesse dado certo, a soja e os bois estariam em marcha batida rumo ao norte, e Lula não poderia passar nem na porta do encontro de Copenhague.
Os créditos de carbono, outro ponto da pauta, não parecem ser capazes de dar conta do desafio. É uma conta que não fecha. Europeus e americanos pagam para que preservemos as nossas florestas. Ótimo. Mas ninguém come dinheiro, ou se veste com dinheiro, ou mora em casas de dinheiro. O dinheiro serve para comprar coisas. Que precisam ser produzidas. E que portanto implicam custo ambiental. Com dinheiro na mão, o pobre vai querer consumir. E alguém vai ter que produzir.
É um debate simples? Não. Temos as nossas próprias responsabilidades no assunto? Temos. Mas não implica que precisemos estar na linha de frente a qualquer custo. Os compromissos que vamos assumir precisam estar subordinados, em primeiro lugar, ao nosso projeto de desenvolvimento.
Nosso desafio não é crescer menos, é crescer mais. Os que nos pedem atitudes heroicas no combate ao aquecimento global precisam dizer, também, como fazer isso crescendo aceleradamente e combatendo mais aceleradamente ainda a pobreza. Na prática, não na teoria.
(...)
O Governador José Serra (PSDB), que, não raras vezes, critica, nem sempre com justiça e isenção, a política externa brasileira, agora, para agradar o público verde, quer mais ação do governo brasileiro nessa seara complicada. Seria cômico, não fosse trágico...
A boa cautela de Lula (08/11)
Alon Feurwerker
Se não nos convidaram para o banquete, soa um pouco excessivo que nos intimem a participar de igual para igual na hora de rachar a dolorosa.
É bom que o presidente da República esteja cauteloso nas discussões sobre o papel do Brasil na Conferência do Clima. E é curioso que os críticos do "protagonismo a qualquer custo" sejam agora os primeiros a exigir de Luiz Inácio Lula da Silva que coloque o Brasil na linha de frente das medidas contra o aquecimento global. É a dança da política.
O debate está claro desde o começo. Se o aquecimento global é mesmo um problema grave, e se deve ser enfrentado globalmente, é preciso saber para quem irá a conta. O lógico será repassá-la aos que, até o momento, mais se beneficiaram do progresso humano. Se é mesmo verdade que o mundo não suportaria a globalização dos padrões europeu e americano de consumo, que os americanos e europeus se contenham, para começo de conversa.
Qual é o problema? É que países como a China e o Brasil estão pelo meio do caminho. Não podem ser considerados tecnicamente "subdesenvolvidos", mas ainda têm milhões de pobres para colocar no mercado, alimentar, vestir, educar, divertir. O Brasil não é a Noruega, ou a Suécia, onde tudo está mais ou menos resolvido. Temos um país a construir. Então, ou bem encontra-se um jeito ambientalmente correto de fazê-lo, ou paciência.
Se não nos convidaram para o banquete, soa um pouco excessivo que nos intimem a participar de igual para igual na hora de rachar a dolorosa. Também porque as bolas estão invertidas. Pedem-nos o sacrifício à vista, com a promessa de benefícios no longo prazo. Exigem que renunciemos à expansão da fronteira agrícola, sem a garantia de que o aumento de produtividade será capaz de atender à demanda explosiva por comida numa sociedade em que, finalmente, os pobres começaram a comer direito.
Isso significa que nada temos a ver com o desafio? Ou que não podemos contribuir para resolvê-lo? Negativo. Apenas é preciso cautela. Daí a razoabilidade da posição de Lula e da candidata dele à Presidência, Dilma Rousseff.
Até porque -e infelizmente- as opções a nós propostas são no mínimo nebulosas. A primeira é exatamente congelar a expansão da área plantada, com a premissa de aproveitar melhor a área já desmatada. É um debate bonito de se fazer no carpete e no ar-condicionado, mas enfrenta problemas na vida real. E olhem que Lula deu sorte, ao ver fracassar seu projeto delirante de transformar o etanol em combustível planetário. Tivesse dado certo, a soja e os bois estariam em marcha batida rumo ao norte, e Lula não poderia passar nem na porta do encontro de Copenhague.
Os créditos de carbono, outro ponto da pauta, não parecem ser capazes de dar conta do desafio. É uma conta que não fecha. Europeus e americanos pagam para que preservemos as nossas florestas. Ótimo. Mas ninguém come dinheiro, ou se veste com dinheiro, ou mora em casas de dinheiro. O dinheiro serve para comprar coisas. Que precisam ser produzidas. E que portanto implicam custo ambiental. Com dinheiro na mão, o pobre vai querer consumir. E alguém vai ter que produzir.
É um debate simples? Não. Temos as nossas próprias responsabilidades no assunto? Temos. Mas não implica que precisemos estar na linha de frente a qualquer custo. Os compromissos que vamos assumir precisam estar subordinados, em primeiro lugar, ao nosso projeto de desenvolvimento.
Nosso desafio não é crescer menos, é crescer mais. Os que nos pedem atitudes heroicas no combate ao aquecimento global precisam dizer, também, como fazer isso crescendo aceleradamente e combatendo mais aceleradamente ainda a pobreza. Na prática, não na teoria.
(...)
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terça-feira, 16 de junho de 2009
A direita administra melhor a economia? Apontamentos para a descontrução de um mito.
No artigo abaixo transcrito, apontamentos para a desconstrução desse mito persistente de que a direita gere melhor, na direção dos governos, a vida econômica.
TRIBUNA: Carlos Mulas Granados
Progresistas: una mayoría en minoría
La mayoría de los ciudadanos, en España y en casi todo el mundo, prefiere las políticas progresistas, pero no se moviliza en su defensa. Según el último European Election Survey, un 58% de los europeos se autodefine de centro izquierda, pero en las elecciones del pasado 7-J los partidos conservadores han obtenido un 15% más de escaños que los socialdemócratas. ¿Cómo explicarlo?
La mayoría cree que el Estado debe actuar para proteger a los más débiles y que la religión no debe interferir en la política; defiende la promoción activa de las minorías y acepta nuevas formas de familia; otorga un papel importante al Estado en educación, sanidad, seguridad o dinamización económica, y sospecha de la capacidad de las grandes corporaciones para comportarse como deben sin controles públicos. Pero los partidos progresistas no logran persuadirles de que les voten con un mensaje sólido vinculado a valores ampliamente sentidos. En esta crisis económica es evidente: los progresistas ponen "las políticas" y los conservadores se llevan "la política", es decir, los votos, como Antonio Estella ha escrito aquí mismo recientemente.
Por qué los conservadores sacan la mejor tajada electoral? Pues porque aunque formuladas con franqueza sus políticas no tendrían apoyo general, su relato de "fuerza, seguridad y libertad" suena bien. En general, los conservadores ya no discuten los logros políticos y sociales defendidos y conquistados por sus adversarios a lo largo de la historia (el derecho a votar, a trabajar dignamente, al subsidio de desempleo, a la educación y la sanidad públicas, a la libertad de expresión, etc.), e incluso se han apropiado de algunos de ellos. Ahora se presentan como "centristas" y combinan su histórica defensa de la bandera nacional, la familia tradicional y la política de ley y el orden con un aura, más mítico que real, de gestión eficaz de la economía.
El retrato que haría de sí un neoconservador es el de un centrista compasivo, hombre o mujer de principios claros y moral sólida, buen gestor económico, amante de la libertad individual y riguroso en la defensa de la seguridad. Enfrente estarían los progres: izquierdistas trasnochados, empeñados en defender la salud y la educación públicas de inexistentes enemigos, que llaman a la lucha de clases, la nacionalización, el libertinaje, la desaparición de la religión, el aborto, la subida de impuestos, el despilfarro, la promoción de la pereza, la tolerancia con los criminales y la falta de principios morales.
Esta caricatura ignora la herencia de los pensadores de la Ilustración y de políticos progresistas egregios como Lincoln, Roosevelt, King, González, Brandt, Allende o tantos otros. Y ofende porque la Historia repite siempre lo mismo: los conservadores estuvieron siempre instalados en el"no" a cualquier avance cívico y social. Siempre "no"... hasta que el avance se impone y ya no hay vuelta atrás.
¿Cómo superar esta caricatura grosera e interesada del progre? Tal vez ayudaría la acuñación de un nuevo término que deshiciera tal simplificación y recogiera la esencia del nuevo pensamiento progresista del siglo XXI. De hecho, bajo el término neoprogresista se comienzan a agrupar distintos pensadores y políticos en los foros mundiales.
Un neoprogresista no acepta la contraposición clásica entre libertad e igualdad, porque la verdadera libertad se logra promoviendo la igualdad. Ama la libertad más que los conservadores, pero no sólo la del "dejar hacer, dejar pasar". Porque, ¿cómo puede llegar a ser libre un niño que no accede a la mejor educación posible a causa de la pobreza de sus padres? ¿Cómo puede ser libre una persona con discapacidad si no se garantiza desde el Estado que pueda circular como cualquiera por las calles? ¿Cómo puede una mujer ser libre si no se garantiza su igualdad cuando trabaja? ¿Cómo puede un país ser libre si no se le protege de los abusos del mercado y no se favorece su nivelación?
La búsqueda de esa verdadera libertad es lo que motiva las dos grandes políticas que hoy distinguen un programa progresista de uno conservador: la protección y la capacitación (lo que en inglés se llama empowerment).
Un neoprogresista cree en la necesidad de dar seguridad a los niños, a los mayores, a los débiles, a las minorías, a los pobres... porque no cree que las desigualdades tengan un origen natural, sino un origen social que puede mitigarse. No se trata de proteger a los trabajadores frente a los empresarios, ni a los parias de la tierra y los descamisados contra los terratenientes y los nobles. Se trata de proteger a todos los ciudadanos de los excesos de un mercado sin normas y sin control.
Protección, sí, pero también capacitación, porque con ella se libera el potencial de los individuos y disminuye la necesidad de protección. Así adquiere sentido la regulación frente a una "libertad" mal entendida: para equilibrar las desigualdades, para que el porvenir del planeta no quede hipotecado por la ambición desmedida de unos cuantos, para que la generación de hoy no condene a las siguientes. Bajo los nuevos conceptos de "economía virtuosa", "recuperación verde" y "sociedad sostenible", los neoprogresistas están agrupando las políticas que marcarán el futuro.
Para capacitar hay que invertir y habilitar recursos públicos: es decir, cobrar impuestos. Sin avergonzarse. Reniegan de los tributos quienes no creen en lo público. Pero mucha gente necesita de la acción pública... y máxime en tiempos como los actuales de crisis financiera y económica.
De estos temas y enfoques se debate en los diferentes foros de think-tanks progresistas de todo el mundo celebrados en los dos últimos años en Londres, Washington, Santiago de Chile... o en el que, dentro de unos meses, se celebrará en Madrid. La idea que va emergiendo de tales intercambios de ideas es que una mayoría de ciudadanos firmaría un manifiesto con estos principios y apoyaría las políticas que de ellos se derivan. Ahora el reto está en comunicarlos bien.
Los neocon llevan décadas promoviendo sin pudor ni complejo sus ideas, defendiendo "la libertad, la fuerza y la seguridad", y presentándose como portentosos gestores que acabarían con los funcionarios y las instituciones públicas supuestamente inoperantes. La crisis en que nos encontramos ha demostrado que estaban equivocados, pero su habilidad comunicativa ha conseguido distraer a la ciudadanía de la responsabilidad plena que sus políticas tienen en la actual situación.
Los neoprogresistas deben neutralizar la demagogia conservadora y acertar a comunicar su visión esperanzada de futuro. Si no lo hacen, verán como se imponen de nuevo el miedo, el desprestigio de lo público, la llamada al poder duro más peligroso. Un ambiente en el que los conservadores se mueven como pez en el agua, pero que nos abocará a la asunción resignada de la formación y estallido de burbujas insostenibles, con la consiguiente ampliación de las desigualdades. El desafío es grave y urgente.
Obama, Zapatero, Sócrates, Brown, Rudd, Bachelet, Lula y sus pocos colegas progresistas aún en el poder han de contarnos su relato con claridad: protección y capacitación para la igualdad y para una verdadera libertad. También para la paz, la seguridad y el desarrollo sostenible. Y deben hacerlo con determinación ante cada reto. El más inmediato es el de superar un estereotipo aún vigente, un estereotipo que puede haber pesado en los resultados del 7-J en el conjunto de la Unión Europea: que la derecha gestiona mejor la economía y es más decidida ante las crisis. Los progresistas tienen que demostrar que sus valores son capaces de producir las políticas más eficientes. Esto requiere coraje, y también asumir que las reformas que ganan el futuro no siempre satisfacen a todos en el presente.
La mayoría estaría con ellos si desplegaran un discurso cohesionado, emotivo y movilizador. Como lo hicieron antes cientos de líderes que lucharon para que las mujeres y los hombres fueran libres, para que se sintieran seguros y para que fueran capaces de construirse un futuro mejor. Los neoprogresistas, si decidimos asumir este término, son herederos de una larga y épica historia de libertad, derechos y protección que hoy deben reivindicar más que nunca.
Además de Carlos Mulas Granados, director de la Fundación Ideas, firma este artículo Luis Arroyo, presidente de Asesores de Comunicación Pública.
TRIBUNA: Carlos Mulas Granados
Progresistas: una mayoría en minoría
La mayoría de los ciudadanos, en España y en casi todo el mundo, prefiere las políticas progresistas, pero no se moviliza en su defensa. Según el último European Election Survey, un 58% de los europeos se autodefine de centro izquierda, pero en las elecciones del pasado 7-J los partidos conservadores han obtenido un 15% más de escaños que los socialdemócratas. ¿Cómo explicarlo?
La mayoría cree que el Estado debe actuar para proteger a los más débiles y que la religión no debe interferir en la política; defiende la promoción activa de las minorías y acepta nuevas formas de familia; otorga un papel importante al Estado en educación, sanidad, seguridad o dinamización económica, y sospecha de la capacidad de las grandes corporaciones para comportarse como deben sin controles públicos. Pero los partidos progresistas no logran persuadirles de que les voten con un mensaje sólido vinculado a valores ampliamente sentidos. En esta crisis económica es evidente: los progresistas ponen "las políticas" y los conservadores se llevan "la política", es decir, los votos, como Antonio Estella ha escrito aquí mismo recientemente.
Por qué los conservadores sacan la mejor tajada electoral? Pues porque aunque formuladas con franqueza sus políticas no tendrían apoyo general, su relato de "fuerza, seguridad y libertad" suena bien. En general, los conservadores ya no discuten los logros políticos y sociales defendidos y conquistados por sus adversarios a lo largo de la historia (el derecho a votar, a trabajar dignamente, al subsidio de desempleo, a la educación y la sanidad públicas, a la libertad de expresión, etc.), e incluso se han apropiado de algunos de ellos. Ahora se presentan como "centristas" y combinan su histórica defensa de la bandera nacional, la familia tradicional y la política de ley y el orden con un aura, más mítico que real, de gestión eficaz de la economía.
El retrato que haría de sí un neoconservador es el de un centrista compasivo, hombre o mujer de principios claros y moral sólida, buen gestor económico, amante de la libertad individual y riguroso en la defensa de la seguridad. Enfrente estarían los progres: izquierdistas trasnochados, empeñados en defender la salud y la educación públicas de inexistentes enemigos, que llaman a la lucha de clases, la nacionalización, el libertinaje, la desaparición de la religión, el aborto, la subida de impuestos, el despilfarro, la promoción de la pereza, la tolerancia con los criminales y la falta de principios morales.
Esta caricatura ignora la herencia de los pensadores de la Ilustración y de políticos progresistas egregios como Lincoln, Roosevelt, King, González, Brandt, Allende o tantos otros. Y ofende porque la Historia repite siempre lo mismo: los conservadores estuvieron siempre instalados en el"no" a cualquier avance cívico y social. Siempre "no"... hasta que el avance se impone y ya no hay vuelta atrás.
¿Cómo superar esta caricatura grosera e interesada del progre? Tal vez ayudaría la acuñación de un nuevo término que deshiciera tal simplificación y recogiera la esencia del nuevo pensamiento progresista del siglo XXI. De hecho, bajo el término neoprogresista se comienzan a agrupar distintos pensadores y políticos en los foros mundiales.
Un neoprogresista no acepta la contraposición clásica entre libertad e igualdad, porque la verdadera libertad se logra promoviendo la igualdad. Ama la libertad más que los conservadores, pero no sólo la del "dejar hacer, dejar pasar". Porque, ¿cómo puede llegar a ser libre un niño que no accede a la mejor educación posible a causa de la pobreza de sus padres? ¿Cómo puede ser libre una persona con discapacidad si no se garantiza desde el Estado que pueda circular como cualquiera por las calles? ¿Cómo puede una mujer ser libre si no se garantiza su igualdad cuando trabaja? ¿Cómo puede un país ser libre si no se le protege de los abusos del mercado y no se favorece su nivelación?
La búsqueda de esa verdadera libertad es lo que motiva las dos grandes políticas que hoy distinguen un programa progresista de uno conservador: la protección y la capacitación (lo que en inglés se llama empowerment).
Un neoprogresista cree en la necesidad de dar seguridad a los niños, a los mayores, a los débiles, a las minorías, a los pobres... porque no cree que las desigualdades tengan un origen natural, sino un origen social que puede mitigarse. No se trata de proteger a los trabajadores frente a los empresarios, ni a los parias de la tierra y los descamisados contra los terratenientes y los nobles. Se trata de proteger a todos los ciudadanos de los excesos de un mercado sin normas y sin control.
Protección, sí, pero también capacitación, porque con ella se libera el potencial de los individuos y disminuye la necesidad de protección. Así adquiere sentido la regulación frente a una "libertad" mal entendida: para equilibrar las desigualdades, para que el porvenir del planeta no quede hipotecado por la ambición desmedida de unos cuantos, para que la generación de hoy no condene a las siguientes. Bajo los nuevos conceptos de "economía virtuosa", "recuperación verde" y "sociedad sostenible", los neoprogresistas están agrupando las políticas que marcarán el futuro.
Para capacitar hay que invertir y habilitar recursos públicos: es decir, cobrar impuestos. Sin avergonzarse. Reniegan de los tributos quienes no creen en lo público. Pero mucha gente necesita de la acción pública... y máxime en tiempos como los actuales de crisis financiera y económica.
De estos temas y enfoques se debate en los diferentes foros de think-tanks progresistas de todo el mundo celebrados en los dos últimos años en Londres, Washington, Santiago de Chile... o en el que, dentro de unos meses, se celebrará en Madrid. La idea que va emergiendo de tales intercambios de ideas es que una mayoría de ciudadanos firmaría un manifiesto con estos principios y apoyaría las políticas que de ellos se derivan. Ahora el reto está en comunicarlos bien.
Los neocon llevan décadas promoviendo sin pudor ni complejo sus ideas, defendiendo "la libertad, la fuerza y la seguridad", y presentándose como portentosos gestores que acabarían con los funcionarios y las instituciones públicas supuestamente inoperantes. La crisis en que nos encontramos ha demostrado que estaban equivocados, pero su habilidad comunicativa ha conseguido distraer a la ciudadanía de la responsabilidad plena que sus políticas tienen en la actual situación.
Los neoprogresistas deben neutralizar la demagogia conservadora y acertar a comunicar su visión esperanzada de futuro. Si no lo hacen, verán como se imponen de nuevo el miedo, el desprestigio de lo público, la llamada al poder duro más peligroso. Un ambiente en el que los conservadores se mueven como pez en el agua, pero que nos abocará a la asunción resignada de la formación y estallido de burbujas insostenibles, con la consiguiente ampliación de las desigualdades. El desafío es grave y urgente.
Obama, Zapatero, Sócrates, Brown, Rudd, Bachelet, Lula y sus pocos colegas progresistas aún en el poder han de contarnos su relato con claridad: protección y capacitación para la igualdad y para una verdadera libertad. También para la paz, la seguridad y el desarrollo sostenible. Y deben hacerlo con determinación ante cada reto. El más inmediato es el de superar un estereotipo aún vigente, un estereotipo que puede haber pesado en los resultados del 7-J en el conjunto de la Unión Europea: que la derecha gestiona mejor la economía y es más decidida ante las crisis. Los progresistas tienen que demostrar que sus valores son capaces de producir las políticas más eficientes. Esto requiere coraje, y también asumir que las reformas que ganan el futuro no siempre satisfacen a todos en el presente.
La mayoría estaría con ellos si desplegaran un discurso cohesionado, emotivo y movilizador. Como lo hicieron antes cientos de líderes que lucharon para que las mujeres y los hombres fueran libres, para que se sintieran seguros y para que fueran capaces de construirse un futuro mejor. Los neoprogresistas, si decidimos asumir este término, son herederos de una larga y épica historia de libertad, derechos y protección que hoy deben reivindicar más que nunca.
Además de Carlos Mulas Granados, director de la Fundación Ideas, firma este artículo Luis Arroyo, presidente de Asesores de Comunicación Pública.
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sábado, 6 de junho de 2009
Carlos Minc e a insustentabilidade do ambientalismo petista
O Alon Feuerwecker, com a argúcia de sempre, aponta, no texto abaixo, publicado no jornal Correio Brasiliense, os erros do ambientalismo praticado por alguns setores ditos de esquerda no Brasil. É especialmente crítico em relação ao midiático Ministro Carlos Minc. Toca, ao meu ver, em questões centrais do debate sobre o desenvolvimento brasileiro. Vale a pena conferir!
Peixes ornamentais
O mais recente refúgio de Carlos Minc é bater boca com o agronegócio. Já que não se pode fazer muito, que se fabrique então uma polêmica.
E deu errado. Os produtores de etanol trouxeram ao Brasil o ex-presidente americano Bill Clinton, para ele falar bem do produto. Digamos que o marido de Hillary não chegou a falar mal do nosso álcool, mas deu o recado: os Estados Unidos (e a Europa) acham que uma explosão da demanda mundial pelo combustível de cana brasileiro vai pressionar a fronteira agrícola em direção ao norte, à Amazônia. A pressão virá da cana, do boi e da soja. Ou dos três juntos. Ninguém vai deixar de comer só para andar de carro a álcool.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva gosta de repetir que no Brasil há terra sobrando para plantar cana-de-açúcar. Onde está essa "terra sobrante", ninguém sabe, ninguém viu. Se temos áreas ociosas e improdutivas (os tais "pastos degradados") em grande quantidade, então talvez seja o caso de demitir o ministro do Desenvolvimento Agrário, que deveria estar fazendo as devidas desapropriações, como determina a lei. Mas isso é só um floreio verbal meu. Guilherme Cassel pode dormir tranquilo. Essa terra toda só existe nos discursos de Lula.
São os limites do marketing. Clinton não é político brasileiro, não está mesmerizado pelo "cara". Nem parece interessado nas rentáveis parcerias -inclusive eleitorais- com o nosso setor sucroalcooleiro. Daí que tenha, para tristeza dos anfitriões, repetido o óbvio. As terras agricultáveis aqui são finitas, e ainda está por ser demonstrado que o aumento da produtividade da cana brasileira pode atender o mercado mundial sem elevação significativa da área plantada.
No front ecológico, tem sido inviável para o presidente da República fazer o costumeiro: acender uma vela a Deus, outra ao diabo e seguir em frente na base da conversa. Em 2003, o governo praticamente entregou a área aos movimentos do setor. Para, na sequência, iniciar um sistemático desmonte da agenda ambiental brasileira de matriz global. Em entrevista recente ao jornal Valor Econômico, a ex-ministra e senadora Marina Silva (PT-AC) registrou o fato. Não foi contestada.
Onde está o problema? Como tem sido dito aqui, é impossível a um país com as nossas desigualdades e a nossa demanda por progresso aceitar o cardápio do "nada pode", que nos é servido como a quintessência da responsabilidade ambiental. Hidrelétricas, especialmente na Amazônia? Não pode. Usinas nucleares? Não pode. Estradas? Muito difícil. Hidrovias? Nem pensar. Déficit de casas? A solução depende de licença dos órgãos ambientais. E por aí vai. Nenhuma nação com autoestima e ciosa de sua soberania pode se dobrar diante de uma lógica assim. Muito menos um país com nossa quantidade de pobres. Um governo brasileiro que acolha a pauta do "nada pode" estará condenado à morte política.
Risco que corre o ministro Carlos Minc. Quando substituiu Marina, o perigo estava bem claro. A senadora pediu o boné para não virar um peixinho ornamental no aquário da Esplanada. No caso de Minc, talvez o cálculo de Lula embuta a suposição de que o ministro dá mais valor ao cargo do que à biografia. Verdade que Minc tem procurado lutar no terreno verbal. Seu mais recente refúgio é bater boca com o agronegócio. Já que não se pode fazer muito, que se fabrique então uma polêmica. O que, de quebra, ajuda a segurar um pouco mais a cadeira.
Desde o início de seus já seis anos e meio no terceiro andar do Palácio do Planalto, Lula decidiu a favor do agronegócio todas as disputas internas. Começou lá atrás, com as medidas provisórias da soja transgênica e com a nova Lei de Biossegurança. E a tendência se consolida a cada episódio, a cada divergência.Mas por que Lula segue esse caminho? Talvez porque do outro lado não lhe ofereçam uma agenda factível, compatível com o projeto nacional de desenvolvimento. Ou pelo menos com o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a plataforma eleitoral da candidata dele à sucessão. Lula é obcecado por soluções intermediárias, por consensos, por meios-termos. Mas não tem vocação para o suicídio político.
Coluna (Nas entrelinhas) publicada hoje no Correio Braziliense.
Peixes ornamentais
O mais recente refúgio de Carlos Minc é bater boca com o agronegócio. Já que não se pode fazer muito, que se fabrique então uma polêmica.
E deu errado. Os produtores de etanol trouxeram ao Brasil o ex-presidente americano Bill Clinton, para ele falar bem do produto. Digamos que o marido de Hillary não chegou a falar mal do nosso álcool, mas deu o recado: os Estados Unidos (e a Europa) acham que uma explosão da demanda mundial pelo combustível de cana brasileiro vai pressionar a fronteira agrícola em direção ao norte, à Amazônia. A pressão virá da cana, do boi e da soja. Ou dos três juntos. Ninguém vai deixar de comer só para andar de carro a álcool.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva gosta de repetir que no Brasil há terra sobrando para plantar cana-de-açúcar. Onde está essa "terra sobrante", ninguém sabe, ninguém viu. Se temos áreas ociosas e improdutivas (os tais "pastos degradados") em grande quantidade, então talvez seja o caso de demitir o ministro do Desenvolvimento Agrário, que deveria estar fazendo as devidas desapropriações, como determina a lei. Mas isso é só um floreio verbal meu. Guilherme Cassel pode dormir tranquilo. Essa terra toda só existe nos discursos de Lula.
São os limites do marketing. Clinton não é político brasileiro, não está mesmerizado pelo "cara". Nem parece interessado nas rentáveis parcerias -inclusive eleitorais- com o nosso setor sucroalcooleiro. Daí que tenha, para tristeza dos anfitriões, repetido o óbvio. As terras agricultáveis aqui são finitas, e ainda está por ser demonstrado que o aumento da produtividade da cana brasileira pode atender o mercado mundial sem elevação significativa da área plantada.
No front ecológico, tem sido inviável para o presidente da República fazer o costumeiro: acender uma vela a Deus, outra ao diabo e seguir em frente na base da conversa. Em 2003, o governo praticamente entregou a área aos movimentos do setor. Para, na sequência, iniciar um sistemático desmonte da agenda ambiental brasileira de matriz global. Em entrevista recente ao jornal Valor Econômico, a ex-ministra e senadora Marina Silva (PT-AC) registrou o fato. Não foi contestada.
Onde está o problema? Como tem sido dito aqui, é impossível a um país com as nossas desigualdades e a nossa demanda por progresso aceitar o cardápio do "nada pode", que nos é servido como a quintessência da responsabilidade ambiental. Hidrelétricas, especialmente na Amazônia? Não pode. Usinas nucleares? Não pode. Estradas? Muito difícil. Hidrovias? Nem pensar. Déficit de casas? A solução depende de licença dos órgãos ambientais. E por aí vai. Nenhuma nação com autoestima e ciosa de sua soberania pode se dobrar diante de uma lógica assim. Muito menos um país com nossa quantidade de pobres. Um governo brasileiro que acolha a pauta do "nada pode" estará condenado à morte política.
Risco que corre o ministro Carlos Minc. Quando substituiu Marina, o perigo estava bem claro. A senadora pediu o boné para não virar um peixinho ornamental no aquário da Esplanada. No caso de Minc, talvez o cálculo de Lula embuta a suposição de que o ministro dá mais valor ao cargo do que à biografia. Verdade que Minc tem procurado lutar no terreno verbal. Seu mais recente refúgio é bater boca com o agronegócio. Já que não se pode fazer muito, que se fabrique então uma polêmica. O que, de quebra, ajuda a segurar um pouco mais a cadeira.
Desde o início de seus já seis anos e meio no terceiro andar do Palácio do Planalto, Lula decidiu a favor do agronegócio todas as disputas internas. Começou lá atrás, com as medidas provisórias da soja transgênica e com a nova Lei de Biossegurança. E a tendência se consolida a cada episódio, a cada divergência.Mas por que Lula segue esse caminho? Talvez porque do outro lado não lhe ofereçam uma agenda factível, compatível com o projeto nacional de desenvolvimento. Ou pelo menos com o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a plataforma eleitoral da candidata dele à sucessão. Lula é obcecado por soluções intermediárias, por consensos, por meios-termos. Mas não tem vocação para o suicídio político.
Coluna (Nas entrelinhas) publicada hoje no Correio Braziliense.
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quarta-feira, 12 de novembro de 2008
Entrevista com o Belluzzo
O economista Luiz Gonzaga Belluzzo, professor titular da UNICAMP e um dos mais antenados analistas da vida econômica brasileira, concedeu entrevista ao site Carta Maior sobre a discussão em torno do corte ou não dos gastos públicos. Essa pauta que a grande mídia quer nos empurrar de qualquer maneira. Acesse aqui a entrevista.
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quinta-feira, 2 de outubro de 2008
Um blog sobre questões estratégicas para o desenvolvimento
Se você, como eu, já se cansou daquelas caras e bocas dos trabalhos pseudo-acadêmicas sobre desenvolvimento (e, mais particularmente desenvolvimento sustentável) e quer informações e reflexões sobre questões realmente significativas, dou-lhe uma dica de blog: o logística e transportes. Trata-se de um espaço criado pelo engenheiro José Augusto Valente, um cara com uma carreira de mais de 35 anos dedicada à intervenção e ao estudo na área de transportes. Ele foi titular, até recentemente, da Secretária de Política Nacional de Transportes, do Ministério dos Transportes. Acesse o blog aqui.
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O "pré-sal" do setor elétrico
Fiel à minha preocupação em relaçao ao debate sobre o pré-sal, que está quase parando, devido à crise das bolsas, coloco aqui um link para um interessante artigo sobre um "pré-sal" esquecido: aquele do setor elétrico. Acesse aqui o artigo de autoria de Roberto Pereira d’ Araujo. Ele é engenheiro eletricista e mestre em Sistemas e Controle pela PUC-RJ. Possui pós-Graduação em Operation Planning pela Waterloo University. Foi Chefe de Departamento de Mercado em Furnas Centrais Elétricas. Ex-membro do Conselho Administrativo de Furnas. Consultor na área de energia elétrica.
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quarta-feira, 1 de outubro de 2008
O mundo não vai acabar, sentencia Maria da Conceição Tavares.
Veja, abaixo, matéria publicada no Magazine Terra. Bom, bom, bom, não está não, mas tá bom. Então, se o mundo não vai acabar, vou aceitar convite do meu amigo Beto Hugo, esquecer o repouso pós-cirurgia, e tomar um bom vinho. Ninguém é de ferro, não é mesmo?
Maria da Conceição: "O mundo não vai acabar"
Diego Salmen
Segundo a economista Maria da Conceição Tavares, o mundo não vai acabar após a rejeição do Congresso norte-americano ao pacote de ajuda econômica. Em entrevista exclusiva a Terra Magazine, Maria da Conceição afirma que a crise vivida pelo capitalismo internacional está restrita, por ora, aos vizinhos do norte e ao continente europeu. E que, por isso, o apocalipse está distante.
- O mundo não vai acabar. A crise até agora está centrada nos Estados Unidos e na Europa.
Nesta terça-feira, 30, os mercados financeiros - Brasil incluso - abriram em alta depois de um conturbado início de semana nos mercados financeiros.
Cenário distinto da segunda-feira, 29, quando a Câmara dos Representantes dos Estados Unidos rejeitou por 228 votos a 205 um conjunto de medidas econômicas estimado em US$ 700 bilhões para debelar a crise econômica no país. Reação "totalmente eleitoreira", na análise de Maria da Conceição.
Até mesmo os republicanos, partidários do presidente George W. Bush, foram contrários ao pacote. "Ele (George W. Bush) não é uma pessoa nada qualificada, e o que ele diz ou não diz não tem a menor importância", afirma a economista. "Ele efetivamente acabou como líder".
Maria da Conceição salienta que o poder de intervenção do Estado norte-americano não depende exclusivamente da aprovação do pacote de ajuda econômica.
"Em pânico, os caras se preveniram, antes mesmo de o pacote ser votado e do Wachovia (NR: banco que perdeu quase metade do seu valor de mercado em uma semana) ser comprado pelo Citigroup. Quer dizer, estão agindo rápido", diz. "Mas, evidentemente, isso não tira o pânico.
Leia a seguir a entrevista com Maria da Conceição Tavares:
Terra Magazine - O Congresso norte-americano rejeitou o pacote de ajuda econômica para a crise no país. O que deve acontecer agora?
Maria da Conceição Tavares - O mundo não vai acabar. Ontem já ocorreu uma deflação de ativos global, já perderam trilhões de dólares. Agora o Banco Central dos Estados Unidos e o Tesouro emprestaram mais dinheiro, e empurraram o Wachovia - que estava como um banco sólido, mas não está sólido, evidentemente - para o Citigroup. Aliás, os japoneses também entraram na jogada. Na Ásia o pau não foi o mesmo. A crise até agora está centrada nos Estados Unidos e na Europa.
A crise tem um efeito previsto já pelo próprio Karl Marx, de induzir à monopolização do sistema financeiro...
Está cada vez mais centralizado (o sistema financeiro). O fato, o que é óbvio, é que isso aí é uma coisa geográfica. A Ásia não pegou uma porrada tão grande. E os japoneses estão comprando o diabo. São bancos globais, então quando os EUA ficam de calça curta, o Japão, que tem muitas reservas e já superou sua própria crise bancária, vai às compras. Mas por enquanto está nessa gangorra; o que vai acontecer eu não sei. Objetivamente, o Banco Central americano já pôs US$ 450 bi, mais da metade do pacote. Claro, não iam ficar sem fazer nada, né?
Em pânico, os caras se preveniram, antes mesmo de o pacote ser votado e do Wachovia ser comprado pelo Citigroup. Quer dizer, estão agindo rápido. Mas evidentemente isso não tira o pânico.
E postura do presidente George W. Bush?
Ele não é uma pessoa nada qualificada, e o que ele diz ou não diz não tem a menor importância. Porque ele efetivamente acabou como líder e não tem mais política nos Estados Unidos, porque deram o azar de essa crise surgir no período eleitoral. Então a reação do Congresso é totalmente eleitoreira. Todo mundo está convencido de que o pacote é bom para os bancos, o que é verdade, e não resolve nada. Pode resolver, mas talvez não, enfim. É uma medida de emergência, de maneira que o Bush não tem liderança. Os Estados Unidos estão sem liderança política e as instituições bancárias deles estão muito mal. A crise americana é uma crise de mentira, no meu ponto de vista. (Os EUA) Vão pagar o preço. Da outra vez foi o Japão, agora serão eles.
Mudou o eixo...
Há uma multi-polaridade que está se convertendo numa perda cada vez maior da importância do centro americano.
Essa crise é fruto do processo de desregulamentação financeira iniciado na década de 1980, com o Consenso de Washington?
(risos) Claro, claro. Isso é resultado da política, como diz o candidato Obama. Quando se faz uma política desastrosa, o resultado é esse. Não se trata de um terremoto provocado pela natureza, não. O sistema bancário estava tão desregulado e fazia tais barbaridades, que na verdade já se chamavam de shadow banks, bancos das sombras. Eles alimentaram uma moda cheia de arapucas, e agora as arapucas estão atingindo bancos mais sólidos. O Wachovia era um banco comum, banco de depósito. Mas não agüentou. E aí como o Congresso fica paralisado, o Tesouro e o Banco Central tomam providências na hora. Eles estão o tempo inteiro para ver quem vai quebrar e antes que quebre, eles socorrem, está claro? Tanto o socorro global quanto o socorro caso a caso. Como todo dia tem ou dois casos, ou três, ou quatro...e os mercados mais ativos nessa brincadeira são Nova Iorque e Londres, que são os mais desregulados. Hong Kong, Tóquio, Seul não estão correndo riscos. Não é um sistema tão desregulado.
Uma das arapucas seria essa questão da alavancagem? (NR: grau de utilização de empréstimos em determinadas operações) Os bancos norte-americanos podem alavancar mais de dez vezes seu patrimônio líquido...
Dez vezes coisa nenhuma: 12 vezes é a tolerância para banco comercial, o sistema bancário é de 20 a 40 (vezes).
Isso é dinheiro que não existe.
Pois é. Não existe. O sujeito tomou empréstimo e comprou papéis que não existiam.
Terra Magazine
Maria da Conceição: "O mundo não vai acabar"
Diego Salmen
Segundo a economista Maria da Conceição Tavares, o mundo não vai acabar após a rejeição do Congresso norte-americano ao pacote de ajuda econômica. Em entrevista exclusiva a Terra Magazine, Maria da Conceição afirma que a crise vivida pelo capitalismo internacional está restrita, por ora, aos vizinhos do norte e ao continente europeu. E que, por isso, o apocalipse está distante.
- O mundo não vai acabar. A crise até agora está centrada nos Estados Unidos e na Europa.
Nesta terça-feira, 30, os mercados financeiros - Brasil incluso - abriram em alta depois de um conturbado início de semana nos mercados financeiros.
Cenário distinto da segunda-feira, 29, quando a Câmara dos Representantes dos Estados Unidos rejeitou por 228 votos a 205 um conjunto de medidas econômicas estimado em US$ 700 bilhões para debelar a crise econômica no país. Reação "totalmente eleitoreira", na análise de Maria da Conceição.
Até mesmo os republicanos, partidários do presidente George W. Bush, foram contrários ao pacote. "Ele (George W. Bush) não é uma pessoa nada qualificada, e o que ele diz ou não diz não tem a menor importância", afirma a economista. "Ele efetivamente acabou como líder".
Maria da Conceição salienta que o poder de intervenção do Estado norte-americano não depende exclusivamente da aprovação do pacote de ajuda econômica.
"Em pânico, os caras se preveniram, antes mesmo de o pacote ser votado e do Wachovia (NR: banco que perdeu quase metade do seu valor de mercado em uma semana) ser comprado pelo Citigroup. Quer dizer, estão agindo rápido", diz. "Mas, evidentemente, isso não tira o pânico.
Leia a seguir a entrevista com Maria da Conceição Tavares:
Terra Magazine - O Congresso norte-americano rejeitou o pacote de ajuda econômica para a crise no país. O que deve acontecer agora?
Maria da Conceição Tavares - O mundo não vai acabar. Ontem já ocorreu uma deflação de ativos global, já perderam trilhões de dólares. Agora o Banco Central dos Estados Unidos e o Tesouro emprestaram mais dinheiro, e empurraram o Wachovia - que estava como um banco sólido, mas não está sólido, evidentemente - para o Citigroup. Aliás, os japoneses também entraram na jogada. Na Ásia o pau não foi o mesmo. A crise até agora está centrada nos Estados Unidos e na Europa.
A crise tem um efeito previsto já pelo próprio Karl Marx, de induzir à monopolização do sistema financeiro...
Está cada vez mais centralizado (o sistema financeiro). O fato, o que é óbvio, é que isso aí é uma coisa geográfica. A Ásia não pegou uma porrada tão grande. E os japoneses estão comprando o diabo. São bancos globais, então quando os EUA ficam de calça curta, o Japão, que tem muitas reservas e já superou sua própria crise bancária, vai às compras. Mas por enquanto está nessa gangorra; o que vai acontecer eu não sei. Objetivamente, o Banco Central americano já pôs US$ 450 bi, mais da metade do pacote. Claro, não iam ficar sem fazer nada, né?
Em pânico, os caras se preveniram, antes mesmo de o pacote ser votado e do Wachovia ser comprado pelo Citigroup. Quer dizer, estão agindo rápido. Mas evidentemente isso não tira o pânico.
E postura do presidente George W. Bush?
Ele não é uma pessoa nada qualificada, e o que ele diz ou não diz não tem a menor importância. Porque ele efetivamente acabou como líder e não tem mais política nos Estados Unidos, porque deram o azar de essa crise surgir no período eleitoral. Então a reação do Congresso é totalmente eleitoreira. Todo mundo está convencido de que o pacote é bom para os bancos, o que é verdade, e não resolve nada. Pode resolver, mas talvez não, enfim. É uma medida de emergência, de maneira que o Bush não tem liderança. Os Estados Unidos estão sem liderança política e as instituições bancárias deles estão muito mal. A crise americana é uma crise de mentira, no meu ponto de vista. (Os EUA) Vão pagar o preço. Da outra vez foi o Japão, agora serão eles.
Mudou o eixo...
Há uma multi-polaridade que está se convertendo numa perda cada vez maior da importância do centro americano.
Essa crise é fruto do processo de desregulamentação financeira iniciado na década de 1980, com o Consenso de Washington?
(risos) Claro, claro. Isso é resultado da política, como diz o candidato Obama. Quando se faz uma política desastrosa, o resultado é esse. Não se trata de um terremoto provocado pela natureza, não. O sistema bancário estava tão desregulado e fazia tais barbaridades, que na verdade já se chamavam de shadow banks, bancos das sombras. Eles alimentaram uma moda cheia de arapucas, e agora as arapucas estão atingindo bancos mais sólidos. O Wachovia era um banco comum, banco de depósito. Mas não agüentou. E aí como o Congresso fica paralisado, o Tesouro e o Banco Central tomam providências na hora. Eles estão o tempo inteiro para ver quem vai quebrar e antes que quebre, eles socorrem, está claro? Tanto o socorro global quanto o socorro caso a caso. Como todo dia tem ou dois casos, ou três, ou quatro...e os mercados mais ativos nessa brincadeira são Nova Iorque e Londres, que são os mais desregulados. Hong Kong, Tóquio, Seul não estão correndo riscos. Não é um sistema tão desregulado.
Uma das arapucas seria essa questão da alavancagem? (NR: grau de utilização de empréstimos em determinadas operações) Os bancos norte-americanos podem alavancar mais de dez vezes seu patrimônio líquido...
Dez vezes coisa nenhuma: 12 vezes é a tolerância para banco comercial, o sistema bancário é de 20 a 40 (vezes).
Isso é dinheiro que não existe.
Pois é. Não existe. O sujeito tomou empréstimo e comprou papéis que não existiam.
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quinta-feira, 21 de agosto de 2008
O debate sobre o pré-sal
No Estadão de hoje, Roberto Macedo, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda na gestão FHC, em um artigo intitulado "A Petrosal e o bacalhau da Noruega", entra no debate sobre o que fazer com as descobertas petroliféras. Você sabe que eu acho esse debate importante. Assim, coloco aqui, sempre que possível, links para todas as posições políticas e ideológicas sobre a questão. Leia o artigo aqui.
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domingo, 10 de agosto de 2008
Um artigo de Aluizio Mercadante
O jornal Folha de São Paulo de hoje publica excelente artigo do Senador Aluizio Mercandante. Trata-se de uma análise sobre o significado da exploração do petróleo para a economia interna dos países exportadores do "ouro negro" e a proposição de algumas regras para tratar da exploração das recentes descobertas de reservas de gás e petróleo no nosso litoral. Mercandante chama-nos a atenção para o fato de que, excetuando-se a Noruega, todos os países de petróleo vivem a trágica situação de terem suas economias atreladas a uma única atividade econômica. E, o que mais dramático, como é o exemplo da Guiné Equatorial, se o petróleo faz aumentar o PIB per capita, esse aumento não se traduz em progresso social e em melhor qualidade de vida para a população. Em tempo: a Guiné tem o nono PIB per capita médio do mundo e ocupa a posição 127 no IDH (o indicador que realmente interessa, que mede o desenvolvimento humano). Tendo como referência essa realidade, o senador paulista aponta caminhos para o Brasil aproveitar a descoberta de novas jazidas petroliféras em seu litoral. Vale a pena conferir!
Abaixo, trascrevo partes do artigo, intitulado "O mal do avestruz".
A GUINÉ Equatorial, minúsculo país da África, exporta 400 mil barris de petróleo por dia e tem PIB per capita de cerca de US$ 50 mil, medido pelo poder de compra, o nono maior do mundo. Apesar da riqueza, o país ainda não conseguiu diversificar a sua economia, que continua dependente da exportação de commodities.
(...)
A Guiné Equatorial ocupa a 127ª posição no ranking do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) da ONU.
Embora o exemplo da Guiné Equatorial seja extremo, ele reflete um mal que afeta a maioria dos países exportadores de petróleo: a chamada "doença holandesa". Tal doença levou esses países a desperdiçar sua riqueza em consumo de bens importados e gastos perdulários, a criar gigantescas burocracias e a não construir os fundamentos destinados a promover o desenvolvimento sustentado.
Assim, entre os 15 maiores exportadores mundiais de petróleo, só um tem lugar de destaque no ranking do IDH da ONU: a Noruega, que ocupa a segunda colocação. O resto não figura sequer entre os 30 primeiros -a maioria está abaixo da 50ª posição.
(...)
Felizmente, a doença e a tragédia a ela associada, como demonstra a Noruega, são evitáveis. No caso do Brasil, temos algumas características que podem nos ajudar. O país tem o décimo PIB mundial, economia bastante diversificada, abundância de recursos naturais e mercado interno dinâmico e em crescimento. Esses fatores nos colocam em melhor posição e nos distinguem dos membros da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), embora continuemos a ser sociedade muito desigual.
Mas nosso grande diferencial é a democracia, que nos permite discutir todas as questões relevantes, inclusive a do petróleo. Na Noruega, tal questão foi amplamente debatida, tendo resultado na decisão do Parlamento norueguês de criar fundo soberano para gerir os recursos não-renováveis do petróleo com critérios intergeracionais, que hoje soma US$ 400 bilhões.
(...)
É imprescindível debater a criação de fundo soberano para gerir os novos recursos.
Também é preciso discutir a regulação da exploração, que não pode mais ser feita com base em "contratos de risco", pois é provável que o risco exploratório do pré-sal, jazida quase que certamente contínua, seja zero.
Outro debate que necessita ser enfrentado é relativo à espinhosa questão da hiperconcentração dos royalties do petróleo, que faz com que 62% dos recursos do país sejam apropriados por apenas nove municípios do Rio, Estado com 92 cidades. Essa hiperconcentração, que já é ofensiva ao pacto federativo, transformar-se-á em tragédia com a enxurrada de novos recursos. Será que queremos criar uma Guiné Equatorial no Brasil?
O que proponho não é um debate provinciano para ver que Estado fica com a maior parte dos recursos das novas jazidas, mas sim uma discussão estratégica para o futuro do país.
Não se pretende arranhar o pacto federativo, mas fortalecê-lo mediante distribuição e uso mais racional dos recursos, que poderá revolucionar nossa educação e inovação científica.
(...)
As resistências às novas propostas são intensas. Tais resistências são legítimas e fazem parte do jogo democrático. O que não é legítimo e democrático é a intenção de alguns de não fazer o debate sobre assunto tão relevante para o país. A sociedade brasileira tem o direito de ser informada sobre esse tema. Não se pode ignorar a nova realidade do petróleo e fazer como avestruz, que julga que o desafio desaparece quando enterra a cabeça na terra. Cedo ou tarde, esse é um debate que o Brasil terá de fazer. Melhor cedo, ou o mal do avestruz nos conduzirá à doença holandesa e nos condenará à tragédia do petróleo.
Assinante UOL lê o artigo completo aqui.
Abaixo, trascrevo partes do artigo, intitulado "O mal do avestruz".
A GUINÉ Equatorial, minúsculo país da África, exporta 400 mil barris de petróleo por dia e tem PIB per capita de cerca de US$ 50 mil, medido pelo poder de compra, o nono maior do mundo. Apesar da riqueza, o país ainda não conseguiu diversificar a sua economia, que continua dependente da exportação de commodities.
(...)
A Guiné Equatorial ocupa a 127ª posição no ranking do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) da ONU.
Embora o exemplo da Guiné Equatorial seja extremo, ele reflete um mal que afeta a maioria dos países exportadores de petróleo: a chamada "doença holandesa". Tal doença levou esses países a desperdiçar sua riqueza em consumo de bens importados e gastos perdulários, a criar gigantescas burocracias e a não construir os fundamentos destinados a promover o desenvolvimento sustentado.
Assim, entre os 15 maiores exportadores mundiais de petróleo, só um tem lugar de destaque no ranking do IDH da ONU: a Noruega, que ocupa a segunda colocação. O resto não figura sequer entre os 30 primeiros -a maioria está abaixo da 50ª posição.
(...)
Felizmente, a doença e a tragédia a ela associada, como demonstra a Noruega, são evitáveis. No caso do Brasil, temos algumas características que podem nos ajudar. O país tem o décimo PIB mundial, economia bastante diversificada, abundância de recursos naturais e mercado interno dinâmico e em crescimento. Esses fatores nos colocam em melhor posição e nos distinguem dos membros da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), embora continuemos a ser sociedade muito desigual.
Mas nosso grande diferencial é a democracia, que nos permite discutir todas as questões relevantes, inclusive a do petróleo. Na Noruega, tal questão foi amplamente debatida, tendo resultado na decisão do Parlamento norueguês de criar fundo soberano para gerir os recursos não-renováveis do petróleo com critérios intergeracionais, que hoje soma US$ 400 bilhões.
(...)
É imprescindível debater a criação de fundo soberano para gerir os novos recursos.
Também é preciso discutir a regulação da exploração, que não pode mais ser feita com base em "contratos de risco", pois é provável que o risco exploratório do pré-sal, jazida quase que certamente contínua, seja zero.
Outro debate que necessita ser enfrentado é relativo à espinhosa questão da hiperconcentração dos royalties do petróleo, que faz com que 62% dos recursos do país sejam apropriados por apenas nove municípios do Rio, Estado com 92 cidades. Essa hiperconcentração, que já é ofensiva ao pacto federativo, transformar-se-á em tragédia com a enxurrada de novos recursos. Será que queremos criar uma Guiné Equatorial no Brasil?
O que proponho não é um debate provinciano para ver que Estado fica com a maior parte dos recursos das novas jazidas, mas sim uma discussão estratégica para o futuro do país.
Não se pretende arranhar o pacto federativo, mas fortalecê-lo mediante distribuição e uso mais racional dos recursos, que poderá revolucionar nossa educação e inovação científica.
(...)
As resistências às novas propostas são intensas. Tais resistências são legítimas e fazem parte do jogo democrático. O que não é legítimo e democrático é a intenção de alguns de não fazer o debate sobre assunto tão relevante para o país. A sociedade brasileira tem o direito de ser informada sobre esse tema. Não se pode ignorar a nova realidade do petróleo e fazer como avestruz, que julga que o desafio desaparece quando enterra a cabeça na terra. Cedo ou tarde, esse é um debate que o Brasil terá de fazer. Melhor cedo, ou o mal do avestruz nos conduzirá à doença holandesa e nos condenará à tragédia do petróleo.
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