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quarta-feira, 11 de novembro de 2009

O Brasil e as mudanças climáticas

Transcrevo mais abaixo artigo de autoria do jornalista Alon Feuerwerker, disponibilizada no seu blog. Acho que, como quase sempre, o jornalista coloca as coisas no seu devido lugar. Eu também, via de regra, sou muito crítico desse bom-mocismo de certos setores da classe média e da elite nativa. De boas intenções, ensina-nos o vulgo, o inferno está prá lá de cheio.

O Governador José Serra (PSDB), que, não raras vezes, critica, nem sempre com justiça e isenção, a política externa brasileira, agora, para agradar o público verde, quer mais ação do governo brasileiro nessa seara complicada. Seria cômico, não fosse trágico...

A boa cautela de Lula (08/11)
Alon Feurwerker

Se não nos convidaram para o banquete, soa um pouco excessivo que nos intimem a participar de igual para igual na hora de rachar a dolorosa.

É bom que o presidente da República esteja cauteloso nas discussões sobre o papel do Brasil na Conferência do Clima. E é curioso que os críticos do "protagonismo a qualquer custo" sejam agora os primeiros a exigir de Luiz Inácio Lula da Silva que coloque o Brasil na linha de frente das medidas contra o aquecimento global. É a dança da política.

O debate está claro desde o começo. Se o aquecimento global é mesmo um problema grave, e se deve ser enfrentado globalmente, é preciso saber para quem irá a conta. O lógico será repassá-la aos que, até o momento, mais se beneficiaram do progresso humano. Se é mesmo verdade que o mundo não suportaria a globalização dos padrões europeu e americano de consumo, que os americanos e europeus se contenham, para começo de conversa.

Qual é o problema? É que países como a China e o Brasil estão pelo meio do caminho. Não podem ser considerados tecnicamente "subdesenvolvidos", mas ainda têm milhões de pobres para colocar no mercado, alimentar, vestir, educar, divertir. O Brasil não é a Noruega, ou a Suécia, onde tudo está mais ou menos resolvido. Temos um país a construir. Então, ou bem encontra-se um jeito ambientalmente correto de fazê-lo, ou paciência.

Se não nos convidaram para o banquete, soa um pouco excessivo que nos intimem a participar de igual para igual na hora de rachar a dolorosa. Também porque as bolas estão invertidas. Pedem-nos o sacrifício à vista, com a promessa de benefícios no longo prazo. Exigem que renunciemos à expansão da fronteira agrícola, sem a garantia de que o aumento de produtividade será capaz de atender à demanda explosiva por comida numa sociedade em que, finalmente, os pobres começaram a comer direito.

Isso significa que nada temos a ver com o desafio? Ou que não podemos contribuir para resolvê-lo? Negativo. Apenas é preciso cautela. Daí a razoabilidade da posição de Lula e da candidata dele à Presidência, Dilma Rousseff.

Até porque -e infelizmente- as opções a nós propostas são no mínimo nebulosas. A primeira é exatamente congelar a expansão da área plantada, com a premissa de aproveitar melhor a área já desmatada. É um debate bonito de se fazer no carpete e no ar-condicionado, mas enfrenta problemas na vida real. E olhem que Lula deu sorte, ao ver fracassar seu projeto delirante de transformar o etanol em combustível planetário. Tivesse dado certo, a soja e os bois estariam em marcha batida rumo ao norte, e Lula não poderia passar nem na porta do encontro de Copenhague.

Os créditos de carbono, outro ponto da pauta, não parecem ser capazes de dar conta do desafio. É uma conta que não fecha. Europeus e americanos pagam para que preservemos as nossas florestas. Ótimo. Mas ninguém come dinheiro, ou se veste com dinheiro, ou mora em casas de dinheiro. O dinheiro serve para comprar coisas. Que precisam ser produzidas. E que portanto implicam custo ambiental. Com dinheiro na mão, o pobre vai querer consumir. E alguém vai ter que produzir.

É um debate simples? Não. Temos as nossas próprias responsabilidades no assunto? Temos. Mas não implica que precisemos estar na linha de frente a qualquer custo. Os compromissos que vamos assumir precisam estar subordinados, em primeiro lugar, ao nosso projeto de desenvolvimento.

Nosso desafio não é crescer menos, é crescer mais. Os que nos pedem atitudes heroicas no combate ao aquecimento global precisam dizer, também, como fazer isso crescendo aceleradamente e combatendo mais aceleradamente ainda a pobreza. Na prática, não na teoria.

(...)

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

A ascensão política dos verdes no Brasil

Em artigo publicado na Folha de São Paulo de hoje, Ângela Alonso (leia aqui o seu curriculum lattes) analisa a ascensão política dos verdes. Vale a pena a leitura. Transcrevo abaixo alguns trechos do artigo.

Uma nova agenda para o ambientalismo?

ANGELA ALONSO


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O sucesso do PV na eleição do Rio mostra que a via eleitoral pode ser estratégia eficaz para o ativismo verde nos anos 2000
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"FAÇA AMOR , não faça guerra" e "saudações ecolibertárias" eram slogans de que Fernando Gabeira e Carlos Minc usavam e abusavam na virada dos anos 70 para os 80. Essa pegada de crítica cultural à sociedade capitalista alimentava um socialismo que boa parte da esquerda "séria" considerava "festivo". Ninguém decerto imaginava naquela hora que os dois verdes fossem sair das bordas da oposição ao regime militar para ir parar um no ministério, o outro quase na prefeitura de uma das grandes metrópoles do país.
O ano de 2008 trouxe essa surpresa para quem acompanha a trajetória do movimento ambientalista brasileiro.
(...)
A primeira diz respeito à forma de organização preferencial dos ambientalistas entre nós. Em meados dos anos 80, eles brigaram muito tentando decidir qual a melhor estratégia para levar avante seu proselitismo.
(...)
Nessa queda-de-braço entre partidarizar ou não o ativismo ambientalista, o grupo de Gabeira e Minc perdeu. É certo que formaram o Partido Verde, mas não angariaram apoio eleitoral e tiveram de acompanhar o debate do lado de fora do Congresso.
Já os ambientalistas que apostaram em manter suas associações civis elegeram Fabio Feldmann e o alçaram a grande articulador da questão na Assembléia Constituinte -ao final da qual a proteção ambiental foi parar na letra da lei.
(..)
Contudo, e essa é a surpresa a que me refiro, o sucesso do PV na eleição municipal do Rio de Janeiro mostra que a via eleitoral, descartada pela maioria do movimento ambientalista, pode, sim, ser estratégia eficaz para o ativismo verde nos anos 2000.
A campanha de Gabeira e a chegada de Minc ao Ministério do Meio Ambiente também anunciam, e essa é a segunda novidade, uma inflexão de agenda.
Nos anos 70 e 80, os ambientalistas brasileiros se concentraram numa crítica ampla à sociedade capitalista: da poluição ao estilo de vida acoplado à sociedade de consumo, passando pela desigualdade social. Falavam de uma "sociedade alternativa", na qual as tecnologias limpas andavam de mãos dadas com os direitos das minorias e cujo ponto de fuga era uma sonhada revolução cultural e comportamental. Um programa que associava, à maneira européia, questão ambiental e questão urbana.
Essa tônica sumiu na década seguinte, quando a maioria dos verdes brasileiros migrou para a floresta.
Durante a Rio 92, os verdes ganharam a modulação dos "marrons": movimentos sociais de seringueiros, de barragens e os vinculados aos direitos de povos indígenas que se convertiam ao ambientalismo. Com eles, subiu ao primeiro plano o tema dos "povos da floresta", a associação entre meio ambiente e grupos sociais vivendo nele e dele, de que Chico Mendes, primeiro, e Marina Silva, depois, se tornaram emblema.
A nova abordagem atraiu financiamentos internacionais para projetos de "desenvolvimento sustentável" e de proteção à "biodiversidade" e fomentou dezenas de novas associações, algumas altamente profissionalizadas, voltadas para gerir reservas florestais. Com isso, as questões urbanas e o estilo de vida associado à sociedade de consumo foram relegados ao segundo plano no debate público sobre a questão ambiental no Brasil.
A ascensão política de Gabeira e Minc repõe essa agenda. Porém, o apoio que recebem vem justamente da classe média urbana de alta escolaridade -de quem, as pesquisas de opinião mostraram, Gabeira arrancou mais votos-, isto é, do grupo cujo estilo de vida seria potencialmente mais atingido pela implantação do programa do Partido Verde.
A pergunta que fica, então, é: caso continuem alcançando cargos de comando, os verdes terão força para implementar sua agenda ou ficarão no plano das "saudações ecolibertárias"?


ANGELA ALONSO, 39, doutora em sociologia, é professora de sociologia da USP e coordenadora da área de Conflitos Ambientais do Cebrap. É autora, com Sergio Costa e Sergio Tomioka, de "Modernização Negociada: Expansão Viária e Riscos Ambientais no Brasil", entre outros livros.